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Em nossa prática docente como professora de espanhol em escolas e centros de línguas, temos
sentido, no entanto, dificuldades em inserir, no programa de ensino, atividades com os gêneros da
mídia digital, embora tenhamos consciência de que esses gêneros, como afirmamos anteriormente,
apresentem um potencial pedagógico significativo. Acreditamos que essa mesma dificuldade seja
compartilhada por outros professores não só de línguas estrangeiras como também de outras
disciplinas.
Com o intuito de mudar a realidade em nossa prática docente e estimular outros professores a
fazer o mesmo, embora em contextos adversos, decidimos realizar nossa pesquisa, que trata da
utilização e aproveitamento das interações nesses ambientes mais especificamente com o uso do
gênero digital e-mail, para o ensino da língua espanhola. Em nossa investigação pretendemos verificar
se através das trocas de e-mails entre professor e alunos ocorrerá o desenvolvimento da escrita e o
fortalecimento da interação.
1. Fundamentação teórica
A expressão letramento digital está relacionada à habilidade de usos que se podem fazer das
novas tecnologias de comunicação voltada para as práticas sociais.
Termo relativamente novo, a palavra letramento surgiu no âmbito da pedagogia e nesse
contexto complementa a alfabetização. Enquanto esta é tida como o aprendizado e decodificação das
letras, aquela é a utilização da linguagem aprendida em contextos sociais.
Os usos que se tem feito das novas tecnologias (acesso a Internet, uso de caixas eletrônicos, de
cartões de créditos etc.) tem exigido cada vez mais novas práticas dos cidadãos, a essas novas práticas
chamamos de letramento digital. Em contextos atuais, no qual os jovens estão passando a ter contato
antes mesmo com o letramento digital do que com letramento alfabético ensinado na escola,
fundamentando-se em (KLEIMAN, 1995 e SOARES, 1998), Xavier (2005) argumenta sobre a
relevância desse tema para o ensino:
Concordamos com esse autor sobre a urgência da escola educar e formar cidadãos para o
convívio e interação na era digital, cabendo a escola, portanto o papel de incluir os aprendizes nesse
contexto no qual está emergindo, rapidamente, nossa sociedade. Eis mais um desafio para os
professores, usando as palavras de Xavier (2005), “letrar digitalmente”.
Como já foi bastante mencionado anteriormente, o computador pode e deve ser visto como
uma ferramenta de auxílio escolar. Amplas são as possibilidades pedagógicas que se podem
desenvolver a partir, não só do computador, mas dos diversos recursos provenientes dessa época
conhecida como digital. Aparelhos de som, TV, DVD, entre outros, já são utilizados como ferramentas
de auxílio didático, desde o início dos anos 90, em maiores ou menores proporções em diversos
estabelecimentos de ensino e com o computador a realidade é semelhante, embora em proporções,
ainda, menores.
As novas tecnologias de comunicação e informação vêm modificando profundamente a forma
de pensar e de agir do cidadão do século XXI. Concordamos, pois com Adell (1997) ao afirmar que
talvez um dos fenômenos mais espetaculares associados a este conjunto de transformações de
introdução das novas tecnologias da informação e da comunicação em todos os âmbitos das nossas
vidas estão mudando nossa maneira de atuar (de trabalhar, de nos divertir, de nos relacionar e também
de aprender). De forma sutil, ainda segundo o autor, estão mudando nossa forma de pensar. Em
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virtude disso, a escola e os professores não devem ficar à margem dessas transformações que já estão
se inserindo no contexto de cada cidadão.
De acordo com essa realidade vigente, de inserção dos recursos digitais em diversos contextos,
não podemos deixar de destacar que a Internet constitui-se numa rica possibilidade de trocas
comunicacionais e assimilação de informações. Nela circula uma infinidade de informações
disponíveis na rede e os diversos gêneros digitais. Com ela os usos das línguas podem e devem ser
explorados de diversas maneiras e proporções.
O e-mail remonta aos inícios dos anos 70, portanto, é uma forma de comunicação
que tem hoje pouco mais de 30 anos. Populariza-se apenas nos anos 80 para
assumir a feição atual em meados dos anos 90. Surgiu casualmente nos
computadores do Departamento de Defesa dos EUA (ERPANET). (MARCUSCHI,
2005, p. 38)
O gênero emergente e-mail já favorece, sem dúvida, uma das formas de comunicação mais
utilizada no mundo moderno. Em diversos contextos essa forma de interação e comunicação passou a
ser a mais utilizada. Em trabalho realizado por Zanotto (2005) o autor apresenta resultados de uma
pesquisa sobre e-mail em cotejamento com a carta comercial, nele constatou-se que entre as
correspondências mais expedidas por dia no meio empresarial está o e-mail correspondendo a 80,95%
em oposição à carta 19,05%. Poderíamos aqui citar vários exemplos no qual o e-mail cresce e vem
substituindo “antigas” formas de comunicação, porém esse não é o objetivo de nosso trabalho. O que
queremos aqui destacar são as especificidades desse gênero.
Com relação ao termo e-mail, vale ressaltar que serve para designar não só o gênero textual,
mas também, o endereço eletrônico e o sistema de transmissão da mensagem eletrônica. Este último é
o canal transmissor. Como endereço, apresentaremos na tabela abaixo uma adaptação da estrutura
apresentada em Zanotto (2005, p.111):
E quanta ao e-mail como gênero, defendemos, ainda corroborando com o autor anterior, que as
características que o individualizam são, entre outras,
além das evidências empíricas, que autorizam a considerar o e-mail como um novo
gênero de texto, agregado à categoria de textos que constituem o discurso
eletrônico, ou discurso virtual. O simples fato de alguém afirmar “recebi um e-
mail”, e não “recebi uma carta eletrônica, um bilhete virtual” revela que o
destinatário da mensagem constatou empiricamente diferenças entre os dois textos.
(ZANOTTO, 2005, p. 110)
Isso significa, a nosso ver, que o e-mail pode até ter características semelhantes ao de gêneros
como a carta, o bilhete e até mesmo a conversa telefônica, porém ele se diferencia desses gêneros, em
especial, devido, entre outros aspectos, à especificidade de seu meio de transmissão.
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Concordamos, também, com Paiva (2005, p. 76) ao afirmar que o e-mail “é uma ferramenta
que facilita a colaboração, discussão de tópicos de trabalho e aprendizagem em grupos grandes,
viabilizando a criação de comunidades discursivas, superando limitações de tempo e de espaço”.
Nesse sentido o e-mail pode ser um instrumento de grande valia para o ensino. Do ponto de vista
educativo esse é um dos gêneros que tem forte aplicabilidade para a educação devido a interação entre
pessoas ou grupo de pessoas. Aplicações que em geral possibilitam ampliar o horizonte informativo e
comunicativo de professores e alunos.
Para finalizar este tópico mostraremos que, segundo Garcias (1996), as principais aplicações
educativas mediante o e-mail talvez seja a possibilidade de comunicação e interação entre os
indivíduos que não se encontram fisicamente no mesmo lugar, porém essa não é uma particularidade
desse gênero. Ainda segundo a autora, há outras vantagens do e-mail sobre outros meios de interação
humana que residem nas seguintes características:
· O e-mail é assincrônico. Quando nos comunicamos por e-mail não necessitamos marcar com
antecedência para que a pessoa esteja no lugar de recepção, como seria o caso do telefone.
· O tempo transcorrido entre a emissão e a recepção da mensagem é praticamente instantânea.
· Os participantes ou interlocutores se encontram em um ciberespaço educativo com poucos
limites para a participação por estatus ou problemas pessoais.
· O e-mail não requer um espaço e tempo concreto para realizar a comunicação, o que acontece
em outras atividades comunicativas freqüentemente.
· A comunicação pode ser entre indivíduos ou entre grupos.
Ante as possibilidades comunicativas que apresenta este meio, decidimos por em prática, em
nossa pesquisa, debates, através do gênero e-mail, que nos permita experimentar novas relações de
ensino-aprendizagem na língua espanhola verificando mais especificamente a questão do
fortalecimento da interação professor e alunos e o desenvolvimento da escrita na língua espanhola.
Nesse contexto do advento da comunicação mediada pelo computador muito se tem falado a
respeito do conceito de interação. Tal termo está bastante popular, porém isso não implica
necessariamente que essa interação ocorre de maneira ampla em tudo o que se popularizou dizer
interativo, principalmente com as novas tecnologias da educação.
Para que se haja uma discussão de maneira mais crítica sobre o tema, faz-se necessário saber o
que de fato é interativo no uso do computador e da Internet.
Sobre essa questão, Primo (2007) propõe uma nova abordagem de interação mediada pelo
computador sob orientação da perspectiva sistémico-comunicacional que trata da interação
subdividida em dois tipos (a mútua e a reativa), a partir da observação do relacionamento dos
interagentes (seres vivos ou não). De acordo com ele pode-se considerar interação “tanto (a) clicar em
um link e (b) jogar um videogame quanto (c) uma inflamada discussão através de e-mails e (d) um
bate-papo trivial em um chat.” Primo (2007, p. 56). Nesse sentido, a interação reativa são as
apresentadas em (a) e (b) e a interação mútua está ilustrada e em (c) e (d). Em termos gerais pode-se
inferir que:
É evidente que em nosso trabalho nos deteremos mais profundamente na análise voltada para a
interação tida como mútua, de acordo com esse autor, pois trataremos da relação estabelecida pelo
professor e os alunos através do gênero digital e-mail.
2. Metodologia
(...) a comparação entre as condições de tratamento e não tratamento pode ser feita
com grupos não equivalentes ou com os mesmos sujeitos antes do tratamento.
Naturalmente, perde-se a capacidade de controlar rigorosamente o que ocorre, a
quem. É possível, no entanto, observar o que ocorre, quando ocorre, a quem ocorre,
tornando-se possível, de alguma forma, a análise de relações causa-efeito. (GIL,
1995, p. 69).
Para alcançarmos nossos objetivos levaremos em consideração, como já foi dito, a análise dos
e-mails trocados, as respostas dos alunos dadas aos dois questionários aplicados e ao pré-teste e pós-
teste, as transcrições das aulas gravadas e as notas do professor.
Ao final de nossa experiência queremos constatar se houve ganhos na produção escrita dos
alunos, se as trocas de e-mails favoreceram esses ganhos e se a interação, o relacionamento professor-
aluno foi fortalecido.
Nesse sentido, trata-se de um experimento de ensino, pois trabalharemos com uma abordagem
na qual a troca de e-mail passará a ser explorada e trabalhada aqui, diferentemente do que ocorre no
contexto específico selecionado, onde não há, pelo menos, até o presente momento, a prática do
desenvolvimento desse tipo de atividade envolvendo as práticas comunicativas nos gêneros digitais em
seus próprios ambientes interativos, ou seja, na Web.
Serão sujeitos dessa pesquisa, portanto, os alunos de uma turma de espanhol do terceiro
semestre do núcleo de línguas da Universidade Estadual do Ceará - UECE. A escolha por uma turma
de terceiro semestre está relacionada ao nível básico de conhecimento de espanhol desses alunos, pois
esperamos que as comunicações via e-mails ocorram na língua espanhola e não em nossa língua
materna, o português.
Os dados da pesquisa que serão coletados e analisados surgirão a partir das trocas de e-mails
(professora/alunos), bem como dos testes realizados em sala de aula (pré-teste e pós-teste). Através da
aplicação de um questionário inicial e outro final tentaremos identificar se os alunos perceberam se
houve ou não melhorias na escrita da língua meta, através das trocas de e-mails. Transcrições das aulas
e notas realizadas pelo professor também servirão de dados da nossa pesquisa. Tais procedimentos
ocorrerão a cada encontro (total de 15 distribuídos em 4h/a por dia).
2.5. Amostra
Nosso corpus será formado pelos e-mails trocados entre professora e alunos. Serão enviados,
por parte da professora, no mínimo 15 e-mails, equivalente a quantidade de encontros. Obteremos, não
necessariamente, a mesma quantidade por parte dos alunos.
Com relação ao pré-teste e ao pós-teste, esses serão aplicados no intuito de compararmos a
escrita e detectarmos se houve desenvolvimento da mesma.
As respostas dadas pelos sujeitos da pesquisa nos dois questionários que aplicaremos, um no
início e outro no final de nossa experiência, também constituirão nossa amostra de dados colaborando
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2.6. Instrumentos
2.7. Procedimentos
lingüísticos na escrita dos discentes. Já os questionários, as transcrições das aulas e as notas de classe,
serão analisadas no intuito de identificar, além do desenvolvimento da escrita dos alunos o
fortalecimento da interação professor-aluno que será medido, entre outros aspectos, devido à
quantidade de e-mails trocados, a liberdade dos alunos em tirar dúvidas sobre determinados assuntos
das aulas etc.
Os questionários aplicados, tanto no início como no final dessa pesquisa, também nos ajudará
nesse sentido. Quanto à interação professor-aluno essa será medida, entre outras formas, através da
diversidade de assuntos propagados pelos interagentes.
3 Considerações finais
Referências
XAVIER, Antonio Carlos dos Santos . Letramento Digital e Ensino. In: Carmi Ferraz Santos e Márcia
Mendonça. (Org.). Alfabetização e Letramento: conceitos e relações. 1 ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2005, v. 1, p. 133-148.
ZANOTTO, Normelio. E-mail e carta comercial: estudo contrastivo de gênero textual. Rio de
Janeiro, RJ: Lucerna, 2005.