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O GÊNERO DIGITAL E-MAIL NO ENSINO DE ESPANHOL/LE: AMPLIADOR DAS


POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS E FACILITADOR DA INTERAÇÃO PROFESSOR-
ALUNO

Tatiana Lourenço de Carvalho – PosLA/UECE

0 Considerações Iniciais

Com o advento e a popularização da comunicação mediada por computador, passou a ser


freqüente o interesse de estudiosos da área da Lingüística e da Lingüística Aplicada em pesquisar as
potencialidades pedagógicas da Internet e dos gêneros da mídia digital bem como descrever as
particularidades desses gêneros emergentes e das práticas de linguagens na Internet. Como exemplos
podemos citar os trabalhos de: Araújo e Costa (2007) que toma a Internet como um espaço sócio-
discursivo que amplia as possibilidades de interação e incita o surgimento de vários gêneros
discursivos; o de Ribeiro e Araújo (2007) no qual, a partir de situações reais do uso da linguagem,
através de gêneros como chat aberto infantil, e-mails, cartões virtuais, sites infantis e o endereço
eletrônico intenciona estimular às crianças, em processo de letramento, a perceberem as funções
sociais da escrita nesses ambientes virtuais. Sousa (2007), por sua vez, propõe-se a exemplificar
algumas evidências das novas formas de interação na Internet para estabelecer possíveis implicações
pedagógicas para o ensino de língua materna, enquanto Silva (2001) se propõe a analisar a interação
mediada por computador através de uma lista de discussão num curso de ensino a distância via
Internet.
Sobre a utilização do computador no ensino de línguas, Lévy (1997) argumenta que este pode
desempenhar funções explicitamente didáticas, relacionadas, por exemplo, com a veiculação de
diversos exercícios que visem ao desenvolvimento de habilidades comunicativas nos aprendizes.
Humblé (2001), por sua vez, argumenta que as novas tecnologias, em especial o computador,
significam uma verdadeira revolução para o ensino de línguas em geral e das línguas estrangeiras em
particular, uma vez que possibilita acesso imediato a textos autênticos e atuais na língua alvo, o que
antes da Internet não seria tão fácil. O autor ainda argumenta que esse contato é rico e produtivo, pois
gera a troca de experiências culturais distintas e a prática do exercício de línguas estrangeiras. Nesse
sentido, a Internet, com seus cibergêneros, representa um divisor de águas no que se refere ao ensino
de línguas estrangeiras, pois essa possibilidade de contato real e imediato com outras “aldeias” é o que
diferencia o ensino de línguas de hoje do ensino de línguas de nossos antepassados imediatos, pois,
segundo o autor, estes aprendiam a língua estrangeira principalmente como formação, no caso do
latim, ou como uma maneira de obter conhecimento, uma vez que o contato com estrangeiros se dava
de forma esporádica. Nesse sentido, nos últimos trinta anos, a função da língua estrangeira mudou do
contato livresco para o contato vivido, essa transformação foi impulsionada e está sendo nutrida pelo
computador.
Falar, portanto, do ensino de línguas estrangeiras sem fazer menção ao uso da Internet e dos
gêneros digitais como recursos pedagógicos é algo, a nosso ver, fora de cogitação, uma vez que estas
ferramentas já fazem parte das práticas sociais de interação e do cotidiano de nossos alunos, seja como
fonte de pesquisa, seja como mais um meio de se comunicar.
Acreditamos, portanto, que a exploração de atividades pedagógicas envolvendo o computador
e os gêneros digitais, no ensino de língua estrangeira em geral e língua espanhola em particular,
apresenta pelo menos quatro vantagens:
1º) a relativa facilidade de acesso que atualmente os alunos têm ao computador, e
conseqüentemente, aos gêneros discursivos eletrônicos;
2º) a ampliação da possibilidade de interação professor-aluno, já que esta seria mais uma
forma de comunicação entre os principais sujeitos envolvidos na educação;
3º) a possibilidade de estabelecer comunicação síncrona autêntica com falantes estrangeiros
nativos da língua alvo;
4º) a possibilidade de desenvolvimento da habilidade escrita em contextos de comunicação
autêntica, já que, segundo Marcuschi (2005), os principais gêneros digitais da atualidade são
fundamentalmente baseados na escrita.
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Em nossa prática docente como professora de espanhol em escolas e centros de línguas, temos
sentido, no entanto, dificuldades em inserir, no programa de ensino, atividades com os gêneros da
mídia digital, embora tenhamos consciência de que esses gêneros, como afirmamos anteriormente,
apresentem um potencial pedagógico significativo. Acreditamos que essa mesma dificuldade seja
compartilhada por outros professores não só de línguas estrangeiras como também de outras
disciplinas.
Com o intuito de mudar a realidade em nossa prática docente e estimular outros professores a
fazer o mesmo, embora em contextos adversos, decidimos realizar nossa pesquisa, que trata da
utilização e aproveitamento das interações nesses ambientes mais especificamente com o uso do
gênero digital e-mail, para o ensino da língua espanhola. Em nossa investigação pretendemos verificar
se através das trocas de e-mails entre professor e alunos ocorrerá o desenvolvimento da escrita e o
fortalecimento da interação.

1. Fundamentação teórica

1.1. O letramento digital

A expressão letramento digital está relacionada à habilidade de usos que se podem fazer das
novas tecnologias de comunicação voltada para as práticas sociais.
Termo relativamente novo, a palavra letramento surgiu no âmbito da pedagogia e nesse
contexto complementa a alfabetização. Enquanto esta é tida como o aprendizado e decodificação das
letras, aquela é a utilização da linguagem aprendida em contextos sociais.
Os usos que se tem feito das novas tecnologias (acesso a Internet, uso de caixas eletrônicos, de
cartões de créditos etc.) tem exigido cada vez mais novas práticas dos cidadãos, a essas novas práticas
chamamos de letramento digital. Em contextos atuais, no qual os jovens estão passando a ter contato
antes mesmo com o letramento digital do que com letramento alfabético ensinado na escola,
fundamentando-se em (KLEIMAN, 1995 e SOARES, 1998), Xavier (2005) argumenta sobre a
relevância desse tema para o ensino:

Esse novo letramento, (...), considera a necessidade dos indivíduos dominarem um


conjunto de informações e habilidades mentais que devem ser trabalhadas com
urgência pelas instituições de ensino, a fim de capacitar o mais rápido possível os
alunos a viverem como verdadeiros cidadãos neste novo milênio cada vez mais
cercado por máquinas eletrônicas e digitais.

Concordamos com esse autor sobre a urgência da escola educar e formar cidadãos para o
convívio e interação na era digital, cabendo a escola, portanto o papel de incluir os aprendizes nesse
contexto no qual está emergindo, rapidamente, nossa sociedade. Eis mais um desafio para os
professores, usando as palavras de Xavier (2005), “letrar digitalmente”.

1.2. Ensino mediado por computador

Como já foi bastante mencionado anteriormente, o computador pode e deve ser visto como
uma ferramenta de auxílio escolar. Amplas são as possibilidades pedagógicas que se podem
desenvolver a partir, não só do computador, mas dos diversos recursos provenientes dessa época
conhecida como digital. Aparelhos de som, TV, DVD, entre outros, já são utilizados como ferramentas
de auxílio didático, desde o início dos anos 90, em maiores ou menores proporções em diversos
estabelecimentos de ensino e com o computador a realidade é semelhante, embora em proporções,
ainda, menores.
As novas tecnologias de comunicação e informação vêm modificando profundamente a forma
de pensar e de agir do cidadão do século XXI. Concordamos, pois com Adell (1997) ao afirmar que
talvez um dos fenômenos mais espetaculares associados a este conjunto de transformações de
introdução das novas tecnologias da informação e da comunicação em todos os âmbitos das nossas
vidas estão mudando nossa maneira de atuar (de trabalhar, de nos divertir, de nos relacionar e também
de aprender). De forma sutil, ainda segundo o autor, estão mudando nossa forma de pensar. Em
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virtude disso, a escola e os professores não devem ficar à margem dessas transformações que já estão
se inserindo no contexto de cada cidadão.
De acordo com essa realidade vigente, de inserção dos recursos digitais em diversos contextos,
não podemos deixar de destacar que a Internet constitui-se numa rica possibilidade de trocas
comunicacionais e assimilação de informações. Nela circula uma infinidade de informações
disponíveis na rede e os diversos gêneros digitais. Com ela os usos das línguas podem e devem ser
explorados de diversas maneiras e proporções.

1.3. O Gênero digital: e-mail

O e-mail remonta aos inícios dos anos 70, portanto, é uma forma de comunicação
que tem hoje pouco mais de 30 anos. Populariza-se apenas nos anos 80 para
assumir a feição atual em meados dos anos 90. Surgiu casualmente nos
computadores do Departamento de Defesa dos EUA (ERPANET). (MARCUSCHI,
2005, p. 38)

O gênero emergente e-mail já favorece, sem dúvida, uma das formas de comunicação mais
utilizada no mundo moderno. Em diversos contextos essa forma de interação e comunicação passou a
ser a mais utilizada. Em trabalho realizado por Zanotto (2005) o autor apresenta resultados de uma
pesquisa sobre e-mail em cotejamento com a carta comercial, nele constatou-se que entre as
correspondências mais expedidas por dia no meio empresarial está o e-mail correspondendo a 80,95%
em oposição à carta 19,05%. Poderíamos aqui citar vários exemplos no qual o e-mail cresce e vem
substituindo “antigas” formas de comunicação, porém esse não é o objetivo de nosso trabalho. O que
queremos aqui destacar são as especificidades desse gênero.
Com relação ao termo e-mail, vale ressaltar que serve para designar não só o gênero textual,
mas também, o endereço eletrônico e o sistema de transmissão da mensagem eletrônica. Este último é
o canal transmissor. Como endereço, apresentaremos na tabela abaixo uma adaptação da estrutura
apresentada em Zanotto (2005, p.111):

Ibral @ visão. Com. Br


Nome Arroba Nome do servidor Organização País
Nome ou Símbolo com Identificação da Abreviatura que Abreviatura de
abreviatura do sentido de “em” máquina indica o tipo de duas letras que
nome do (lugar em que); encarregada de organização à qual indica o país a que
proprietário da designa o endereço receber e enviar as pertence o pertence o
caixa do correio. do provedor. mensagens. endereço endereço.
(comercial,
governamental,
organizacional).

Tabela 2: Estrutura do e-mail (endereço eletrônico)

E quanta ao e-mail como gênero, defendemos, ainda corroborando com o autor anterior, que as
características que o individualizam são, entre outras,

além das evidências empíricas, que autorizam a considerar o e-mail como um novo
gênero de texto, agregado à categoria de textos que constituem o discurso
eletrônico, ou discurso virtual. O simples fato de alguém afirmar “recebi um e-
mail”, e não “recebi uma carta eletrônica, um bilhete virtual” revela que o
destinatário da mensagem constatou empiricamente diferenças entre os dois textos.
(ZANOTTO, 2005, p. 110)

Isso significa, a nosso ver, que o e-mail pode até ter características semelhantes ao de gêneros
como a carta, o bilhete e até mesmo a conversa telefônica, porém ele se diferencia desses gêneros, em
especial, devido, entre outros aspectos, à especificidade de seu meio de transmissão.
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Concordamos, também, com Paiva (2005, p. 76) ao afirmar que o e-mail “é uma ferramenta
que facilita a colaboração, discussão de tópicos de trabalho e aprendizagem em grupos grandes,
viabilizando a criação de comunidades discursivas, superando limitações de tempo e de espaço”.
Nesse sentido o e-mail pode ser um instrumento de grande valia para o ensino. Do ponto de vista
educativo esse é um dos gêneros que tem forte aplicabilidade para a educação devido a interação entre
pessoas ou grupo de pessoas. Aplicações que em geral possibilitam ampliar o horizonte informativo e
comunicativo de professores e alunos.
Para finalizar este tópico mostraremos que, segundo Garcias (1996), as principais aplicações
educativas mediante o e-mail talvez seja a possibilidade de comunicação e interação entre os
indivíduos que não se encontram fisicamente no mesmo lugar, porém essa não é uma particularidade
desse gênero. Ainda segundo a autora, há outras vantagens do e-mail sobre outros meios de interação
humana que residem nas seguintes características:
· O e-mail é assincrônico. Quando nos comunicamos por e-mail não necessitamos marcar com
antecedência para que a pessoa esteja no lugar de recepção, como seria o caso do telefone.
· O tempo transcorrido entre a emissão e a recepção da mensagem é praticamente instantânea.
· Os participantes ou interlocutores se encontram em um ciberespaço educativo com poucos
limites para a participação por estatus ou problemas pessoais.
· O e-mail não requer um espaço e tempo concreto para realizar a comunicação, o que acontece
em outras atividades comunicativas freqüentemente.
· A comunicação pode ser entre indivíduos ou entre grupos.
Ante as possibilidades comunicativas que apresenta este meio, decidimos por em prática, em
nossa pesquisa, debates, através do gênero e-mail, que nos permita experimentar novas relações de
ensino-aprendizagem na língua espanhola verificando mais especificamente a questão do
fortalecimento da interação professor e alunos e o desenvolvimento da escrita na língua espanhola.

1.4. A interação facilitada pelo computador

Nesse contexto do advento da comunicação mediada pelo computador muito se tem falado a
respeito do conceito de interação. Tal termo está bastante popular, porém isso não implica
necessariamente que essa interação ocorre de maneira ampla em tudo o que se popularizou dizer
interativo, principalmente com as novas tecnologias da educação.
Para que se haja uma discussão de maneira mais crítica sobre o tema, faz-se necessário saber o
que de fato é interativo no uso do computador e da Internet.
Sobre essa questão, Primo (2007) propõe uma nova abordagem de interação mediada pelo
computador sob orientação da perspectiva sistémico-comunicacional que trata da interação
subdividida em dois tipos (a mútua e a reativa), a partir da observação do relacionamento dos
interagentes (seres vivos ou não). De acordo com ele pode-se considerar interação “tanto (a) clicar em
um link e (b) jogar um videogame quanto (c) uma inflamada discussão através de e-mails e (d) um
bate-papo trivial em um chat.” Primo (2007, p. 56). Nesse sentido, a interação reativa são as
apresentadas em (a) e (b) e a interação mútua está ilustrada e em (c) e (d). Em termos gerais pode-se
inferir que:

A interação mútua é aquela caracterizada por relações interdependentes e processos


de negociação, em que cada interagente participa da construção inventiva e
cooperativa do relacionamento, afetando-se mutuamente; já a interação reativa é
limitada por relações determinísticas de estímulo e resposta. (PRIMO, 2007, p. 57).

É evidente que em nosso trabalho nos deteremos mais profundamente na análise voltada para a
interação tida como mútua, de acordo com esse autor, pois trataremos da relação estabelecida pelo
professor e os alunos através do gênero digital e-mail.

2. Metodologia

2.1. Tipo de pesquisa


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Nosso trabalho recorre a procedimentos experimentais, com o objetivo de “manipular


deliberadamente algum aspecto da realidade, dentro de condições anteriormente definidas, a fim de
observar se produz certos efeitos (RUDIO, 1998, p. 69)”. Trata-se, portanto, de uma pesquisa de
natureza experimental sem necessariamente ser uma pesquisa “genuinamente experimental”, pois
conforme afirma (GIL, 1995 pp. 68-69):

Cabe considerar, também, que há pesquisas que embora não apresentando


distribuição aleatória dos sujeitos nem de grupo controle são desenvolvidas com
bastante rigor metodológico e aproxima-se bastante das pesquisas experimentais,
podendo ser denominadas quase-experimentais.

Esse caráter quase-experimental se dá pela ocorrência, em nosso trabalho, da


manipulação das variáveis, pela atuação num ambiente com um aspecto experimental (através das
trocas de e-mails) e pela interferência direta na realidade, pois pretendemos incorporar à prática de
ensino-aprendizagem desses alunos a troca de e-mails entre professor e alunos na língua alvo.
Como não trabalharemos com dois grupos: um experimental e um de controle, nossa situação
experimental passa a ser denominada pesquisa “quase-experimental” (GIL, 1995), pois trabalharemos
apenas com um grupo, comparando os resultados através, dentre outros recursos, de pré-teste e pós-
teste. Adotaremos a seguinte orientação:

(...) a comparação entre as condições de tratamento e não tratamento pode ser feita
com grupos não equivalentes ou com os mesmos sujeitos antes do tratamento.
Naturalmente, perde-se a capacidade de controlar rigorosamente o que ocorre, a
quem. É possível, no entanto, observar o que ocorre, quando ocorre, a quem ocorre,
tornando-se possível, de alguma forma, a análise de relações causa-efeito. (GIL,
1995, p. 69).

Sintetizemos melhor as características da pesquisa “quase-experimental” fazendo correlação


com nossa investigação:
· Seleção apenas do grupo experimental;
A escolha desse grupo, uma turma de espanhol do 3º semestre do núcleo de línguas da UECE,
se deu, entre outros fatores, devido à referência de ensino que este centro de línguas representa para
nossa cidade, Fortaleza, tendo, portanto grande procura por aqueles que decidem aprender uma
segunda língua; e a abertura da coordenação em receber-nos para o desenvolvimento de nosso projeto
de pesquisa.
· Aplicação do pré-teste antes de iniciar o experimento e do pós-teste depois;
As questões dos testes aplicados ainda serão elaboradas, em parceria com orientadora, no
entanto queremos levar em consideração aspectos relacionados à escrita em língua espanhola,
avaliando se houve aumento/melhora da fluência de idéias, ampliação do vocabulário, maior
complexidade informativa e complexidade sintática, diversificação dos registros de linguagem,
intertextualidade etc.; obedecendo, evidentemente, aos conteúdos propostos no livro didático adotado
no curso.
· Aplicação do experimento aos sujeitos selecionados;
A aplicação do experimento, as trocas de e-mails entre a professora e os alunos, se dará no
decorrer do semestre. Como as aulas serão ministradas aos sábados, provavelmente as trocas de e-mail
serão, em freqüência, maior que os dias de encontros presenciais, pois acreditamos ser este
procedimento pertinente para a manutenção do contato entre os interagentes, sem necessariamente
estarem num mesmo ambiente real de interação. Nossa proposta é enviar, dependendo da necessidade,
a cada encontro (dia de aula), no mínimo um e-mail, relacionado aos assuntos explorados em sala,
perfazendo um total de 15 e-mails que exigirão ou estimularão, não necessariamente, a mesma
quantidade de respostas por parte dos alunos.
· As análises dos resultados e as informações obtidas poderão indicar que o fator
experimental exerce ou exerceu influência sobre os indivíduos e sobre as modificações
que produz.
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Para alcançarmos nossos objetivos levaremos em consideração, como já foi dito, a análise dos
e-mails trocados, as respostas dos alunos dadas aos dois questionários aplicados e ao pré-teste e pós-
teste, as transcrições das aulas gravadas e as notas do professor.
Ao final de nossa experiência queremos constatar se houve ganhos na produção escrita dos
alunos, se as trocas de e-mails favoreceram esses ganhos e se a interação, o relacionamento professor-
aluno foi fortalecido.
Nesse sentido, trata-se de um experimento de ensino, pois trabalharemos com uma abordagem
na qual a troca de e-mail passará a ser explorada e trabalhada aqui, diferentemente do que ocorre no
contexto específico selecionado, onde não há, pelo menos, até o presente momento, a prática do
desenvolvimento desse tipo de atividade envolvendo as práticas comunicativas nos gêneros digitais em
seus próprios ambientes interativos, ou seja, na Web.

2.2. Contexto da pesquisa

Nossa investigação será realizada no Núcleo de línguas da Universidade Estadual do


Ceará – UECE. Esse centro de línguas faz parte de um programa de extensão da citada universidade.
Atualmente nele estudam cerca de 1800 alunos distribuídos em 06 modalidades de línguas (inglês,
espanhol, francês, italiano, japonês e latim) com semestres de duração de 60 horas/aulas. O Núcleo
oferece à oportunidade para que alunos do curso de letras da UECE adquiram experiência para o
magistério. A escolha dos professores é feita por meio de teste de seleção, formulado pelos
coordenadores de cada língua que são professores/orientadores da graduação da referida Universidade.
Ao serem aprovados, os alunos da graduação assumem as turmas de língua estrangeira em caráter de
bolsa estudantil por um período de dois anos. Nesse estabelecimento de ensino também é dada a
oportunidade para que alunos de pós-graduação desenvolvam suas pesquisas.

Para o desenvolvimento de nosso trabalho assumiremos uma turma de 3º semestre desse


centro de idiomas e acrescentaremos às aulas presenciais a proposta da troca de e-mails entre professor
e alunos na língua que vamos lecionar, a espanhola.
2.3. Sujeitos

Serão sujeitos dessa pesquisa, portanto, os alunos de uma turma de espanhol do terceiro
semestre do núcleo de línguas da Universidade Estadual do Ceará - UECE. A escolha por uma turma
de terceiro semestre está relacionada ao nível básico de conhecimento de espanhol desses alunos, pois
esperamos que as comunicações via e-mails ocorram na língua espanhola e não em nossa língua
materna, o português.

2.4. Coleta de dados

Os dados da pesquisa que serão coletados e analisados surgirão a partir das trocas de e-mails
(professora/alunos), bem como dos testes realizados em sala de aula (pré-teste e pós-teste). Através da
aplicação de um questionário inicial e outro final tentaremos identificar se os alunos perceberam se
houve ou não melhorias na escrita da língua meta, através das trocas de e-mails. Transcrições das aulas
e notas realizadas pelo professor também servirão de dados da nossa pesquisa. Tais procedimentos
ocorrerão a cada encontro (total de 15 distribuídos em 4h/a por dia).

2.5. Amostra

Nosso corpus será formado pelos e-mails trocados entre professora e alunos. Serão enviados,
por parte da professora, no mínimo 15 e-mails, equivalente a quantidade de encontros. Obteremos, não
necessariamente, a mesma quantidade por parte dos alunos.
Com relação ao pré-teste e ao pós-teste, esses serão aplicados no intuito de compararmos a
escrita e detectarmos se houve desenvolvimento da mesma.
As respostas dadas pelos sujeitos da pesquisa nos dois questionários que aplicaremos, um no
início e outro no final de nossa experiência, também constituirão nossa amostra de dados colaborando
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no sentido de detectarmos se os próprios alunos perceberam melhorias na escrita e na interação entre


eles e o professor.
As transcrições das aulas gravadas e as notas feitas pelo professor após cada encontro com os
discentes serão realizadas no intuito de registrarmos, caso acorra, manifestações orais e mudanças de
posturas em sala em virtude da experiência desenvolvida através das trocas de e-mails.

2.6. Instrumentos

Os instrumentos de coletas de dados serão, portanto:


· As mensagens das trocas de e-mails entre professora e alunos;
Pretendemos analisar todos os e-mails trocados entre os pares. É evidente que nossa análise
recairá sobre os textos dos alunos. Não temos, portanto, como definir com exatidão a quantidade de e-
mails trocados.
· Os questionários aplicados no início e no final do semestre;
Tais questionários serão aplicados com o intuito de perceber a familiaridade dos alunos com a
Internet, suas atividades mais freqüentes desenvolvidas na Web, de saber com que finalidade utilizam
e-mails, como está a prática de escrita desses alunos em espanhol, não só através do computador, mas
também por outros meios.
· O pré-teste e o pós-teste;
O objetivo principal da aplicação do pré-teste e do pós-teste é perceber o nível da escrita dos
alunos. Se ao final do semestre eles obtiveram ganhos na escrita em língua espanhola.
· Transcrições das gravações orais das aulas;
Realizaremos apenas as transcrições das aulas nas quais os alunos manifestarem impressões,
opiniões, comentários, críticas etc. sobre as interações ocorridas nas trocas dos e-mails.
· Notas tomadas pelo professor;
As notas servirão como mais uma forma de controle da experiência.

2.7. Procedimentos

Descreveremos nossos procedimentos de análise a partir das etapas da pesquisa:


1. Revisão da bibliografia e conclusão do projeto;
2. Planejar as aulas juntamente com a equipe de professores do Núcleo sob orientação da
coordenadora do curso e da orientadora do projeto;
3. Elaborar o pré-teste;
4. Elaborar o questionário;
5. Aplicar o pré-teste;
6. Aplicar o primeiro questionário;
7. Dar início às aulas;
8. Gravar as aulas;
9. Fazer as transcrições;
10. Fazer notas das aulas;
11. Arquivar as trocas de e-mails;
12. Aplicar o pós-teste;
13. Aplicar o questionário final;
14. Iniciar a análise do material coletado: gravações das aulas, transcrições, respostas dadas aos
questionários, pré-teste e pós-teste; os e-mails arquivados;
15. Redigir a dissertação;
16. Defender a dissertação;
17. Divulgar os resultados da pesquisa.

2.8. Análise dos dados

Nesse ponto, de análise de dados, pretendemos cruzar os dados referentes ao pré-teste e ao


pós-teste para comparar e ver se os alunos obtiveram ganhos lingüísticos em seus textos escritos em
espanhol. A análise da seqüência de e-mails trocados também nos ajudará a perceber se houve ganhos
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lingüísticos na escrita dos discentes. Já os questionários, as transcrições das aulas e as notas de classe,
serão analisadas no intuito de identificar, além do desenvolvimento da escrita dos alunos o
fortalecimento da interação professor-aluno que será medido, entre outros aspectos, devido à
quantidade de e-mails trocados, a liberdade dos alunos em tirar dúvidas sobre determinados assuntos
das aulas etc.
Os questionários aplicados, tanto no início como no final dessa pesquisa, também nos ajudará
nesse sentido. Quanto à interação professor-aluno essa será medida, entre outras formas, através da
diversidade de assuntos propagados pelos interagentes.

3 Considerações finais

Esperamos ao final do desenvolvimento dessa pesquisa perceber se o relacionamento


professor-aluno foi fortalecido e se houve desenvolvimento da escrita em língua espanhola, em virtude
da freqüência nas trocas de e-mails ocorridos no decorrer do semestre 2009.1 de uma turma de 3º
semestre do Núcleo de Línguas da UECE.
Almejamos, ainda, que nossa pesquisa possa estimular a complementação das aulas em LE, no
tocante a utilização dessa nova e eficiente ferramenta de ensino que é o computador, pois sabemos que
cabe a nós, enquanto professores, incorporar recursos que favoreçam o aperfeiçoamento de nossa
prática docente, bem como acompanhar as mudanças de posturas impulsionadas pelo desenvolvimento
digital, já tão presente em nossa sociedade.
Esperamos, por fim, que este nosso estudo possa contribuir para futuras pesquisas em torno de
propostas didáticas que auxiliem aos professores na utilização da Internet e dos gêneros digitais em
suas aulas.

Referências

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