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Distância no Brasil
APRESENTAÇÃO
Ao longo dos anos, diferentes tecnologias foram utilizadas pela sociedade, devido à necessidade
de estabelecer comunicação entre as pessoas, e o mesmo ocorreu na mediação de
conhecimentos. A educação a distância (EaD) é uma modalidade que depende dos aparatos
tecnológicos vigentes em cada época. A evolução dessas tecnologias afetou significativamente o
processo de ensino e aprendizagem a distância. Hoje a EaD se apoia em ambientes virtuais de
aprendizagem colaborativos, participativos e interativos, graças à evolução das tecnologias
digitais.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer mais sobre o impacto da evolução
tecnológica na EaD, as influências exercidas pelas tecnologias nessa modalidade educacional, os
principais marcos no Brasil e como as tecnologias atuais podem combater a visão de
"isolamento" e "ausência" associada à EaD desde os seus primórdios.
Bons estudos.
DESAFIO
Em cada geração da EaD, uma tecnologia foi predominante – televisão, material impresso,
rádio, computador – e agora a tendência é que os aplicativos móveis sejam cada vez mais
utilizados. Cada época de desenvolvimento da educação a distância acompanhou a evolução
tecnológica, permitindo também determinado tipo de processo de ensino e aprendizagem.
Dependendo do uso da tecnologia e das possibilidades interativas de cada época, o processo de
aprendizagem era mais individualizado ou mais colaborativo.
Você foi contratado por uma empresa nova no mercado que pretende inserir cursos de educação
a distância. Pense como atualmente poderia ser viável a proposta de um curso a distância que
reunisse antigas tecnologias, mas em novo contexto: o digital. Afinal, apesar de serem
considerados "velhas tecnologias", o rádio, a televisão e o livro continuam sendo utilizados.
INFOGRÁFICO
A educação a distância passou por diversas fases até chegar no que você conhece hoje. A cada
fase tecnológica, a EaD ganhou novo impulso, se consolidando com a Internet.
Boa leitura.
INTRODUÇÃO À
EDUCAÇÃO A
DISTÂNCIA - EaD
Mariana Pícaro Cerigatto
A evolução tecnológica
e a educação a
distância no Brasil
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Ao longo dos anos, diferentes tecnologias e linguagens sustentaram
modelos de sociedade diversos. A educação a distância (EaD), modalidade
marcada por processos de ensino e aprendizagem realizados por meio das
tecnologias de informação e comunicação (TICs), tem evoluído conforme
progridem as tecnologias vigentes. Atualmente, têm sido priorizadas as
tecnologias digitais, em rede e colaborativas.
Neste capítulo, você vai ver como cada fase da educação a distância se
constituiu conforme as tecnologias “dominantes” de cada época. Também
vai ver como cada tecnologia influenciou o modo de ensinar e aprender.
Além disso, você vai conhecer os principais marcos da consolidação da
EaD no Brasil. Por fim, vai acompanhar uma discussão sobre os sentidos
de distância e presença, verificando como as tecnologias usadas para
mediar o conhecimento podem reforçar alguns desses sentidos.
ensino superior. A EaD passou por fases diferentes, de acordo com as tecno-
logias vigentes em cada época. Além disso, evoluiu conforme as necessidades
de atender a determinado perfil de estudante e as habilidades necessárias para
o ambiente digital, para o ambiente de trabalho, etc.
Hoje, os ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs) utilizados nos sistemas
EaD voltam-se cada vez mais para desencadear a autonomia dos estudantes
no processo de ensino e aprendizagem. A ideia é que os AVAs contribuam
para desenvolver competências voltadas para o atual mercado de trabalho.
Como você sabe, o mercado preza, cada vez mais, por um trabalhador mais
informado, que saiba atuar de forma autônoma, tenha competências múltiplas,
saiba trabalhar em equipe e consiga adaptar-se facilmente a situações novas
(BELLONI, 1999). Com as mudanças socioeconômicas e tecnológicas a todo
vapor, o estudante tende a valorizar uma educação voltada para a sua formação
contínua, tendo a EaD como grande aliada.
Assim, a evolução da EaD resulta de mudanças significativas na própria
concepção da educação e no entendimento de como ela pode e deve ser (re)
organizada. Uma característica fundamental da EaD contemporânea, que
marca seu atual estágio de evolução, é a inclusão cada vez maior de um rol de
mídias, conteúdos e dispositivos em seus processos de ensino e aprendizagem:
games educativos, dispositivos móveis, televisão digital, etc. Tais dispositivos
atribuem novos valores ao ensino e ao aprendizado. Um aspecto importante
desse cenário é que os ambientes virtuais de aprendizagem estão cada vez mais
acessíveis e portáteis, reforçando a importância da EaD para a aprendizagem
contínua ao longo da vida.
É importante você notar que, apesar de essa modalidade estar em bastante
evidência nos dias de hoje, a educação a distância já é uma forma de ensino
e aprendizagem bastante antiga, mas que foi adquirindo características dife-
rentes ao longo do tempo. Belloni (1999) apresenta três gerações de modelos
diferentes de EaD, que você vai ver a seguir.
Primeira geração
Refere-se à educação a distância por correspondência, muito comum no final
do século XIX. Essa modalidade ganhou força com o desenvolvimento dos
serviços postais e a massificação dos suportes impressos. O aluno trocava
material impresso com o docente por meio do correio tradicional. Nessa
fase pioneira, a interação entre o professor e o aluno era lenta e limitada, e
o processo de educação era individual. Você pode tomar como exemplo os
primeiros cursos a distância realizados pelo Instituto Universal Brasileiro por
A evolução tecnológica e a educação a distância no Brasil 3
Segunda geração
Nos anos 1960, junto à expansão dos meios de comunicação audiovisuais,
surge a modalidade EaD que recorre a multimeios a distância. Essa modalidade
integra o uso do impresso aos meios de comunicação audiovisuais (antena
ou cassete) e, em certa medida, aos computadores. Belloni (1999) indica que
esse modelo se baseou em percepções behavioristas e industrialistas típicas
da época, produzindo um esquema de comunicação ainda unidirecional, com
pouca interatividade — limitada à troca de documentos escritos ou a chamadas
telefônicas. O processo de aprendizagem era ainda bastante individual.
A concepção da segunda fase se delimita por “pacotes” de conteúdos
instrucionais e público de massa, integrados às inovações tecnológicas de
comunicação e informação da época. As universidades, a partir da década de
1970, começaram a oferecer seus cursos em materiais impressos, combinando-
-os com meios audiovisuais de massa, como rádio e TV, ou conteúdos gravados
(fitas cassetes de áudio ou vídeo) como materiais de apoio (BELLONI, 1999).
4 A evolução tecnológica e a educação a distância no Brasil
Nessa fase da EaD, marcada por tecnologias como rádio, televisão e fitas
cassetes, os alunos ainda eram vistos como uma grande “massa”. Os conteúdos
eram produzidos de forma massiva e a comunicação era “de cima para baixo”,
com pouca interatividade e escassa participação dos estudantes. Por outro
lado, como você pode imaginar, o ensino ganhou mais dinamicidade com a
linguagem audiovisual. Além disso, os conteúdos se tornaram mais atrativos.
Contudo, a produção ainda era detida por grandes indústrias de informação e
comunicação. Assim, o professor não contribuía na elaboração dos conteúdos.
Terceira geração
Com a disseminação das tecnologias digitais, a EaD ganhou bastante
im-pulso a partir de 1995. A partir daí, aluno e docente passaram a se
conectar especialmente por uma rede de computadores com acesso à
internet. Assim, se inicia a utilização de sistemas de comunicação
bidirecionais, síncronos e assíncronos. Nessa fase, a EaD começa a utilizar a
multimídia interativa, além de algumas ferramentas como correio eletrônico,
fórum e chat. O processo de aprendizagem ganha uma dimensão mais social.
A evolução tecnológica e a educação a distância no Brasil 5
Fase atual
A fase atual — ou a quinta geração, conforme indicam Moore e Kearsley
(2007) — começa nos anos 2000. Nesse período, o uso da internet ganha
cada vez mais relevância na EaD, assim como as atividades em rede. Moore
e Kearsley (2007) destacam ainda a realização das videoconferências.
Os programas e suportes que geram os AVAs se aperfeiçoam e se mul-
tiplicam, assim como as ferramentas e as redes de computadores. Essa
fase se guia por uma perspectiva colaborativista, interativa, que valoriza a
participação dos alunos. Os estudantes constroem de forma colaborativa o
conhecimento, sendo o professor o mediador do processo. Há ainda forte
tendência à utilização dos dispositivos móveis, cada vez mais agregados às
propostas de EaD.
Com as tecnologias da web 2.0, a EaD propõe um ensino mais construtivista,
focado na participação do aluno e na construção conjunta do conhecimento.
Esse pensamento é reforçado pelas tecnologias de rede. Ferramentas como
wikis, fóruns e redes sociais ganham cada vez mais força, influenciando essa
perspectiva e incentivando o trabalho em grupo, bem como a participação
do aluno nos cursos com uma postura ativa, de coautoria. O cenário é muito
diferente se comparado com o da primeira geração da EaD. Como você viu,
as tecnologias dominantes na época permitiam um processo de aprendizagem
muito mais restrito e individual.
O professor, com as tecnologias digitais, ganha mais autonomia para
elaborar seus conteúdos e usar as ferramentas que mais favorecem suas
aulas. A rapidez com que se desenvolvem as tecnologias da era digital
contribui para o aperfeiçoamento de AVAs mais personalizados e que
atendam às necessidades dos alunos e docentes. No entanto, essa veloci-
dade cria também demandas de formação de docentes nas universidades.
Afinal, os professores precisam saber utilizar as novas tecnologias para o
ensino e a aprendizagem.
A evolução tecnológica e a educação a distância no Brasil 7
Você deve notar que, apesar de cada estágio da EaD ter suas tecnologias dominantes,
a tendência é que hoje haja a convergência de várias mídias no ensino, como ilustra
a figura a seguir.
Fonte: Elenabsl/Shutterstock.com.
https://goo.gl/aiGH1d
A evolução tecnológica e a educação a distância no Brasil 11
Presença virtual
Conforme Godoy (2009), a presença “virtual” é uma alternativa a outros
modos de presença e de relações entre humanos. Lévy (1999, p. 50) diz que
“[...] ainda que não possamos fixá-lo em nenhuma coordenada espaço-temporal,
o virtual é real. Uma palavra existe de fato. O virtual existe sem estar presente”.
Mesmo com a reformulação de conceitos de presença e distância na modalidade
da EaD, a legislação brasileira exige momentos presenciais (presença física em
sala de aula) nos cursos on-line. O Decreto nº. 5.622 (BRASIL, 2005), pontua a
necessidade de alguns momentos presenciais nos cursos a distância. As avaliações,
por exemplo, são realizadas nos polos presenciais dos cursos. Os estágios obriga-
tórios, as defesas de trabalhos de conclusão de curso e as atividades relacionadas
a laboratórios também devem ser realizadas presencialmente, quando for o caso.
Portanto, mesmo se valendo de ideais construtivistas, a EaD ainda se pauta
pela exigência da presença do aluno. Para Santos e Sabbatini (2013, p. 4), essas
exigências são “[...] resquícios do ensino tecnicista, behaviorista que visavam
ter controle do aluno. A EaD traz certa liberdade, na qual os professores não
sabem como o aluno está estudando, se é ele mesmo que está do outro lado”.
Sobre isso, Godoy (2009, p. 93) também faz suas considerações:
A busca por uma educação a distância de qualidade gira ainda muito em torno
da ausência (não há mais o velho professor, aquele tipo de aluno, aquela sala
de aula) e não em torno do que possa ser sua efetiva presença, uma presença-
-ação, cujos elementos para sua existência são a liberdade, o agir em conjunto
e o pertencimento. Isso sim seria um pressuposto muito mais importante para
enfrentar os inúmeros desafios que se desenvolvem hoje na educação brasileira.
A evolução tecnológica e a educação a distância no Brasil 13
Ainda que exista certa discussão que coloca “em competição” situações
de distância e presença na EaD, Lévy (1999) diz que esse debate está sendo
superado aos poucos e que a diferença entre ensino presencial e a distância não
terá mais tanta importância nos próximos anos. Para Tori (2009), a procura por
cursos a distância tende a aumentar cada vez mais, tendo resultados positivos e
já comprovados. Ainda para o mesmo autor, tanto a educação presencial como
a educação a distância estão se descobrindo complementares — formando os
cursos de caráter híbrido. O sistema blended learning explora tanto o ambiente
virtual quanto o presencial. Ele considera a aplicação de recursos para gerencia-
mento de conteúdos e processos de ensino-aprendizagem na EaD, combinando
essa aplicação com o uso de tecnologias na educação presencial, na perspectiva
de agregar valor às atividades de ensino e aprendizagem tradicionais.
Godoy (2009) faz considerações sobre a concepção da autora Hannah Arent (1987) a
respeito da liberdade, do agir em conjunto e do pertencimento, três aspectos principais
que caracterizam o modo de presença-ação do sujeito na EaD. A liberdade se refere ao
fato de o aluno não desenvolver um comportamento estereotipado e já esperado; ele é
livre para criar o novo. O agir em conjunto se refere a agir e ter uma ação em um grupo;
e o pertencimento se refere ao fato de sentir-se parte de um grupo. Estar em rede — no
caso, no ciberespaço — produz um sentimento de pertencimento a um grupo.
A autora ainda fala da presença social nas aulas on-line, que se dá mediante a parti-
cipação do tutor ou mediador, que transmite um feedback para os alunos sobre o que
aprenderam, por exemplo. Enquanto a presença-ação está relacionada diretamente à
ação dos sujeitos no ambiente virtual, a presença social é voltada para a comunicação,
a troca e a interação entre os membros desse ambiente.
Leituras recomendadas
BELLONI, M. L. A televisão como ferramenta pedagógica na formação de professores.
Educação e Pesquisa, v. 29, n. 2, p. 287-301, jul./dez. 2003. Disponível em: <www.scielo.
br/pdf/ep/v29n2/a07v29n2>. Acesso em: 2 set. 2018.
BRASIL. Resolução CNE/CP nº. 1, de 15 de maio de 2006. Institui diretrizes curriculares
nacionais para o curso de graduação em pedagogia, licenciatura. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf>. Acesso em: 2 set. 2018.
FARIA, A. A.; SALVADORI, Â. A educação a distância e seu movimento histórico no
Brasil. Revista das Faculdades Santa Cruz, v. 8, n. 1, p. 15-22, jan./jun. 2010. Disponível em:
<http://santacruz.br/v4/download/revistaacademica/14/08-educacao-a-distancia-e-
-seu-movimento-historico-no-brasil.pdf>. Acesso em: 2 set. 2018.
PRETTO, N. de L.; BONILLA, M. H. S.; SARDEIRO, C. Rádio web na educação: possibilidades
e desafios. In: PRETTO, N. de L.; TOSTA , S. P. (Org.). Do MEB à WEB: o rádio na educação.
Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
RÁDIO EM REVISTA. Documentário da série educadores da tv escola sobre Edgar
Roquette Pinto. Youtube, 2 set. 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=43kklhFtuLQ>. Acesso em: 2 set. 2018.
DICA DO PROFESSOR
A televisão já foi uma tecnologia muito utilizada para promover a educação a distância,
principalmente em uma época em que a Internet e os computadores pessoais ainda não eram tão
acessíveis. Com recursos digitais, a TV ganha nova importância para a educação on-line.
No entanto, mesmo fora do contexto educativo, será que a televisão não está educando?
Reflita sobre essa questão assistindo ao vídeo a seguir.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
EXERCÍCIOS
B) tecnologias digitais, sendo que a ferramenta wiki é o único recurso dos AVAs para
atividades colaborativas.
C) tecnologias digitais, sendo que os dispositivos móveis são cada vez mais utilizados na
modalidade.
B) não existe mais, sendo que os cursos de EaD no Brasil não têm mais necessidade de
momentos presenciais, já que é possível fazer tudo on-line.
deve ser levado em consideração, já que nada supera a interação proporcionada pelo
C)
ensino presencial.
D) justifica a queda dessa modalidade de ensino e a busca pela modalidade presencial, cuja
interação é insubstituível.
A) um anúncio em jornal do Telecurso 2000, que seria veiculado pela TV Globo na década de
90.
B) a educação infantil, já que o rádio estimulava a imaginação e podia facilmente ser utilizado
para contação de histórias.
C) a complementação das aulas do ensino presencial, para reforço de atividades que os alunos
levavam para casa.
D) a educação religiosa, já que vários de seus programas educativos tiveram apoio da Igreja
Católica.
Neste Na Prática, confira como a EaD se adapta às características dos jovens da geração
millenium.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:
Fases da EaD
Confira no link a seguir um vídeo curto sobre as características da EaD em até 6 fases de
desenvolvimento.
Acesse a reportagem a seguir, que trata de pontos importantes da história da EaD no Brasil.
Mercado se questiona se o conhecimento aprendido pelos alunos do EAD pode ser aplicado de
maneira efetiva na sociedade