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Cantando
História Fazendo Música
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Música Cantando História
Marco Antonio Gonçalves
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Caminhando
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História Fazendo Música
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Música Cantando História
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“Estou pensando
Nos mistérios das letras de música
Tão frágeis quando escritas
Tão fortes quando cantadas”
Augusto de Campos
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- Sumário
Apresentação...............................................................11
Prefácio........................................................................17
Epílogo.........................................................................155
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Apresentação
A música brasileira já foi tema de vários livros, reportagens,
séries, filmes e documentários nacionais e estrangeiros. Ela
também já serviu como trilha sonora de vários sucessos do
cinema e até Walt Disney a usou em suas animações. É
admirada nos quatro cantos do mundo. Em todo lugar que se vá
alguém vai cantar, pelo menos cantarolar, “Garota de Ipanema”,
“Aquarela do Brasil”, “Tico-Tico no Fubá” ou então, quem
sabe, alguma coisa do Sepultura ou do Cansei de Ser Sexy.
Mas é claro, nem todos gostam de música brasileira, mas
negar que no Brasil surgiram gênios da música como
Pixinguinha, Tom Jobim, João Gilberto e Chico Buarque é
extrema ignorância. Desde o início da bossa nova em 1958 à era
dos Festivais e início da rotulada MPB na década de 1960 até a
explosão do rock Brasil em 1982, a música tupiniquim sempre
contou a história do país em suas letras e melodias.
A canção brasileira nos últimos 50 anos passou por várias
transformações. Participou da luta contra a ditadura e da volta à
democracia. Apesar das chuvas e tempestades, a boa música
nacional continua aí, seja com os cantores antigos que se
reinventam cada vez mais. Seja com aqueles que só com as
músicas que fizeram no passado não precisam fazer mais nada
(pois já estão no inconsciente popular), ou com a nova geração
que surge para dar um sopro de vida nessa tão fascinante forma
de expressão. Gente que sabe que fazer boa música independe
de mídia ou repercussão. Depende de talento, dom, carisma...
Desde a explosão do rock Brasil pouca coisa nova e com
qualidade surgiu no canário musical brasileiro. O saudoso
nordestino Chico Science e seu Mangue Beat é uma delas, o
outro exemplo que me vem à memória é a banda de heavy metal
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Prefácio
- Contexto histórico
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Capítulo 1
- Período pré-
pré-bossa nova
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Capítulo 2
- A Bossa Nova
Tendo tudo isso como pano de fundo, vamos parar de
respeitar a cronologia e voltar um pouco no tempo até 1956. O
cenário é a Avenida Atlântica, 2853, apartamento 303, coluna
Louvre, do edifício Palácio Champs Élysées, no bairro de
Copacabana, no Rio de Janeiro. O imóvel é de propriedade do
advogado Jairo Leão e sua esposa, conhecida como Dona
Tinoca.
Eles têm duas filhas, Danuza, a mais velha, modelo e casada
com Samuel Wainer, diretor do jornal Última Hora, o jornalista
mais amado e odiado do país. A mais nova é Nara, nascida em
19 de janeiro de 1942 em Vitória no Espírito Santo. Com dois
anos viera com a família para a então capital federal. Ela adora
música e tem aulas de violão com Patrício Teixeira, professor
renomado e talentoso músico. Não era comum àquela época,
famílias como a de Nara deixar seus filhos, principalmente
filhas, aprenderem algum instrumento. Mulher ainda era vista
apenas como a rainha do lar e era em casa que deveria ficar. A
mulher daquela época ficaria imortalizada na canção de Mário
Lago e Ataulfo Alves, “Amélia”. Mas a família da menina de
Copacabana era liberal para os padrões.
No livro “Chega de Saudade - A História e as Histórias da
Bossa Nova”, que é considerado uma obra de referência quando
o assunto é bossa nova, o escritor Ruy Castro conta que a
liberdade que Dona Tinoca e Dr. Jairo davam às filhas
impressionava muito a todos que os conheciam. “Danuza saíra
de casa aos 18 anos, tornara-se manequim em Paris, namorara
um galã barra-pesada do cinema francês e, de volta ao Rio, aos
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tudo que se ouvira até ali. Maysa teria ficado tão impressionada
com o rapaz que o levou para participar de seu programa na TV
Record, em São Paulo.”
Em uma de suas últimas entrevistas, Maysa conta em
detalhes esse encontro: “A direção do programa não gostou da
ideia de eu cantar acompanhada apenas por um violonista. Pois
eu tinha uma orquestra inteira só para mim. Mas, mesmo assim,
consegui que ele tocasse em uma das músicas. O rapaz ainda era
completamente desconhecido e, logo percebi, era também muito
estranho. Fomos do Rio de Janeiro a São Paulo de automóvel e
durante os mais de quatrocentos quilômetros da viagem, não deu
uma única palavra.” Lira Neto continua a história: “Na hora de
apresentá-lo a Eduardo Moreira, produtor do programa, Maysa
virou-se para aquele moço franzino, de camisa esporte e um
violão debaixo do braço e indagou: “Escuta, como é mesmo seu
nome?” “João Gilberto”, ele respondeu bem baixinho.”
A bossa nova renovou o estilo de música no Brasil. Ela
trouxe letras mais alegres e que falavam de coisas como
beijinhos, peixinhos, sorriso, flor e mar, enquanto o samba de
morro abordava temas mais profundos e suas letras falavam da
realidade do morro e das favelas cariocas. Um dos maiores
exemplos disso é a música “Chega de Saudade” de Tom e
Vinicius que se imortalizou na voz sussurrada de João Gilberto
no disco de mesmo nome.
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É SÓ TRISTEZA E A MELANCOLIA
QUE NÃO SAI DE MIM, NÃO SAI DE MIM, NÃO SAI
MAS SE ELA VOLTAR, SE ELA VOLTAR
QUE COISA LINDA, QUE COISA LOUCA
POIS HÁ MENOS PEIXINHOS A NADAR NO MAR
DO QUE OS BEIJINHOS QUE EU DAREI
NA SUA BOCA,
DENTRO DOS MEUS BRAÇOS
OS ABRAÇOS HÃO DE SER MILHÕES DE ABRAÇOS
APERTADO ASSIM, COLADO ASSIM, CALADO ASSIM
ABRAÇOS E BEIJINHOS, E CARINHOS SEM TER FIM
QUE É PRA ACABAR COM ESSE NEGÓCIO DE VOCÊ VIVER SEM MIM.
NÃO QUERO MAIS ESSE NEGÓCIO DE VOCÊ LONGE DE MIM...
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- Nasce um rei
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Capítulo 3
- Início da repressão
Em 1964, o governo de João Goulart chegaria ao seu terceiro
ano, mas não o completaria. O golpe de estado há muito vinha
se anunciando: em 1954, na época da morte de Getúlio. Depois
na tentativa de impedir a posse de JK e depois da renúncia de
Jânio, quando tentaram impedir a posse do vice, Jango.
Em 31 de março de 64, os militares finalmente conseguiram
depor Jango do cargo. O golpe era financiado e apoiado pelo
governo americano do presidente Lindon Johnson sucessor do
mítico presidente John Fitzgerald Kennedy que em novembro de
1963, fora morto com um tiro na cabeça, enquanto desfilava em
um carro conversível com sua mulher Jacqueline, em Dallas, no
Texas.
Era conveniente para os norte-americanos que fosse
instalado o estado ditatorial nos países da América Latina e foi o
que aconteceu no Brasil e depois no Chile, Argentina e México.
O governo João Goulart estava se tornando cada vez mais
independente dos Estados Unidos e se aproximando da União
Soviética. O lançamento das Reformas de Base, principal
programa de Jango, foi considerado um primeiro passo para
transformar o Brasil em uma república socialista.
No Brasil, os militares esperavam resistência por parte do
governo, porém Jango, corretamente, optou por não lutar em
uma batalha que fatalmente seria perdida.
Os americanos patrulhavam as fronteiras continentais e
marítimas do Brasil e, seriam, nada menos, que oito submarinos
do exército norte-americano em águas brasileiras, a pedido do
embaixador americano no Brasil Lincoln Gordon. Na mesma
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A Jovem Guarda
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sua voz juvenil e afinada, como se ouve nos seus dois primeiros
discos”.
Talvez por ironia do destino, um dos maiores compositores
da Bossa Nova comporia a música que marcou o “fim” do
predomínio do gênero e início do que se rotularia de MPB. Em
1965, no Guarujá, acontecia o I Festival de Música Popular
Brasileira, da TV Excelsior. Uma cantora gaúcha, filha de uma
lavadeira, com um nome que poucos pronunciavam
corretamente interpretaria a canção vencedora daquele festival.
A “Pimentinha” (nome pelo qual Elis Regina ficara
conhecida) venceu o festival interpretando a música “Arrastão”
de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. A partir desse festival a
MPB nascia com a função de também protestar contra o regime
militar no Brasil. Talvez os artistas não quisessem realmente
protestar contra regime ou governo algum, mas as circunstâncias
levaram a se acreditar que várias músicas tinham conotação
contra o governo militar, como dezenas de canções de Chico
Buarque que pouco tinha a ver com política, mas que com a
fama de engajado do compositor, foram interpretadas dessa
maneira.
A televisão que chegara 15 anos antes começava a descobrir
o tamanho de seu poder e com a música deu pra se ter a
dimensão exata do poder que esse meio de comunicação tinha
sobre o povo. Os festivais transformaram a música e o povo teve
vontade de reagir contra tudo que estava acontecendo no cenário
político brasileiro. Nessa época começaram a destacar nomes
como o já citado Chico Buarque de Hollanda, Geraldo Vandré,
Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento,
entre outros importantes cantores e compositores.
Arrastão é a música que marca o início de anos gloriosos
para a música brasileira.
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- A grande Batalha
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Por sua vez, Geraldo Vandré, com seu parceiro Théo de Barros,
apresentava “Disparada”. Uma canção sertaneja, com forte tom
de protesto social, desenvolvida na forma de moda de viola.
Vandré e Théo traziam o apresentador do “Fino” Jair Rodrigues
para cantar a canção sertaneja.
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Parecia uma luta de boxe valendo cinturão, não por parte dos
artistas, mas por parte da platéia, que encarnou e muito o
espírito competitivo. “A banda” versus “Disparada” parecia
Atlético e Cruzeiro em final de campeonato e o teatro Record
era o Mineirão.
Nara, com seu fiapo de voz não se faria ouvir diante daquela
ensurdecedora plateia. Manoel Carlos, produtor do festival
sugeriu que Chico também cantasse. “Na reapresentação de "A
Banda" nessa noite da terceira eliminatória houve uma
novidade: a fim de resolver o problema de som que prejudicara
a primeira apresentação, o produtor Manoel Carlos sugeriu que
Chico Buarque, mesmo a contragosto, entrasse no palco com
seu violão para cantar a música inteira, antes de Nara repeti-la
com a bandinha atrás, pouco importando se continuasse sendo
mal ouvida, pois Chico já teria dado o recado. A manobra deu
certo e agradou em cheio, ampliando a torcida de "A Banda",
pois Chico e Nara, além de muito queridos, formavam um par
jovial.”, conta Homem de Mello.
O Brasil estava dividido entre “A banda” e “Disparada”,
nunca se viu nada parecido na música brasileira. A rivalidade
entre as duas músicas era tamanha que se temia pancadaria
quando fosse anunciado o resultado. Vandré, Chico, Nara e Jair
eram amigos e também achavam aquele espetáculo circense
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Ela acabou virando tema de uma peça que foi dirigida por
José Celso Martinez Correa e estreou no Teatro Princesa Isabel,
no Rio de Janeiro, no dia 15 de março de 1968. Com muitos
palavrões e cenas violentas a peça criou polêmica e chocou a
sociedade, como queria o diretor. Ela também serviu para
afastar a fama de bom moço de Chico, exatamente como ele
queria. "Antes que brigassem com o Chico, já briguei com ele",
disse ele mais tarde, numa entrevista do início dos anos 70.
A peça não tinha nada a ver com política. Apenas contava a
história do cantor popular Benedito Silva e sua entrada no
mundo já conhecido pelo autor, sua ascensão como artista e sua
morte, envolvido em um esquema de televisão. A tal roda-viva
nada mais era do que o showbiz.
Fernando de Barros e Silva escreve no livro “Chico
Buarque”: “Com um grão de sal, pode-se afirmar que Roda Viva
é o momento tropicalista na carreira de Chico Buarque.”
Tropicalista porque José Celso mudou cenas e a transformou em
uma peça anarquista, polêmica e que tinha a intenção de
incomodar o público e recebeu a chancela de Chico.
No dia 17 de julho, em São Paulo, a organização de extrema-
direita CCC (Comando de Caça aos Comunistas) invadiu o
teatro Galpão, onde a peça estava sendo encenada, depredou o
prédio, destruiu os cenários e espancou violentamente o elenco.
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EM CARAS DE PRESIDENTE,
EM GRANDES BEIJOS DE AMOR,
EM DENTES, PERNAS, BANDEIRAS,
BOMBA E BRIGITTE BARDOT.
EU VOU
POR ENTRE FOTOS E NOMES
OS OLHOS CHEIOS DE CORES
O PEITO CHEIO DE AMORES VÃOS.
EU VOU
POR QUE NÃO? E POR QUE NÃO?
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EU VOU
SEM LENÇO, SEM DOCUMENTO
NADA NO BOLSO OU NAS MÃOS
EU QUERO SEGUIR VIVENDO AMOR.
EU VOU
POR QUE NÃO? E POR QUE NÃO?
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E EU DIGO SIM
E EU DIGO NÃO AO NÃO
E EU DIGO: É!
PROIBIDO PROIBIR
É PROIBIDO PROIBIR
É PROIBIDO PROIBIR
É PROIBIDO PROIBIR
É PROIBIDO PROIBIR...
CAMINHANDO E CANTANDO
E SEGUINDO A CANÇÃO
SOMOS TODOS IGUAIS
BRAÇOS DADOS OU NÃO
NAS ESCOLAS, NAS RUAS
CAMPOS, CONSTRUÇÕES
CAMINHANDO E CANTANDO
E SEGUINDO A CANÇÃO
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OS AMORES NA MENTE
AS FLORES NO CHÃO
A CERTEZA NA FRENTE
A HISTÓRIA NA MÃO
CAMINHANDO E CANTANDO
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E SEGUINDO A CANÇÃO
APRENDENDO E ENSINANDO
UMA NOVA LIÇÃO
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- Clube da Esquina
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Capítulo 4
- Afirmação e renovação
AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA
HOJE VOCÊ É QUEM MANDA
FALOU, TÁ FALADO
NÃO TEM DISCUSSÃO, NÃO
A MINHA GENTE HOJE ANDA
FALANDO DE LADO E OLHANDO PRO CHÃO
VIU?
APESAR DE VOCÊ
AMANHÃ HÁ DE SER OUTRO DIA
EU PERGUNTO A VOCÊ ONDE VAI SE ESCONDER
DA ENORME EUFORIA?
COMO VAI PROIBIR
QUANDO O GALO INSISTIR EM CANTAR?
ÁGUA NOVA BROTANDO
E A GENTE SE AMANDO SEM PARAR
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APESAR DE VOCÊ
AMANHÃ HÁ DE SER OUTRO DIA
AINDA PAGO PRA VER
O JARDIM FLORESCER
QUAL VOCÊ NÃO QUERIA
VOCÊ VAI SE AMARGAR
VENDO O DIA RAIAR
SEM LHE PEDIR LICENÇA
E EU VOU MORRER DE RIR
E ESSE DIA HÁ DE VIR
ANTES DO QUE VOCÊ PENSA
APESAR DE VOCÊ
APESAR DE VOCÊ
AMANHÃ HÁ DE SER OUTRO DIA
VOCÊ VAI TER QUE VER
A MANHÃ RENASCER
E ESBANJAR POESIA
COMO VAI SE EXPLICAR
VENDO O CÉU CLAREAR, DE REPENTE
IMPUNEMENTE?
COMO VAI ABAFAR
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APESAR DE VOCÊ
APESAR DE VOCÊ
AMANHÃ HÁ DE SER OUTRO DIA
VOCÊ VAI SE DAR MAL, ETC E TAL
LA, LAIÁ, LA LAIÁ, LA LAIÁ
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AS LUZES E O COLORIDO
QUE VOCÊ VÊ AGORA
NAS RUAS POR ONDE ANDA
NA CASA ONDE MORA
VOCÊ OLHA TUDO E NADA
LHE FAZ FICAR CONTENTE
VOCÊ SÓ DESEJA AGORA
VOLTAR PRA SUA GENTE
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Roberto Carlos disse certa vez: "Eu sou o que sou e acho que
tenho o direito de ser assim. Existem aqueles que se propõem a
ser líderes, a fazer uma série de coisas, a tomar um monte de
atitudes; eu resolvi exatamente tomar um outro tipo de atitude e
que talvez conduza a resultados que esses críticos não
conseguiram apreender em meu trabalho."
O escritor Paulo César de Araújo, biógrafo proibido do
cantor afirma: “Roberto Carlos surgiu em um tempo de guerra e
em que todos tinham de tomar posições claras sobre todos os
assuntos: da política à arte, da cibernética à chegada do homem
na Lua, de Roberto Campos a Marshall. Os cantores de
formação universitária como Caetano Veloso, Gilberto Gil e
Chico Buarque tiravam isso de letra. Já os cantores suburbanos,
de pouca escolaridade e sem hábito de leitura, como Roberto, o
que iam dizer sobre esses temas?”
Caetano escreve em seu livro: “Nós sentíamos nele a
presença simbólica do Brasil. Como um rei de fato, ele
claramente falava e agia em nome do Brasil com mais
autoridade e propriedade do que os milicos que nos tinham
expulsado, do que a embaixada brasileira em Londres que me
considerava persona non grata, e muito mais do que os
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ACORDA AMOR
EU TIVE UM PESADELO AGORA
SONHEI QUE TINHA GENTE LÁ FORA
BATENDO NO PORTÃO, QUE AFLIÇÃO
ERA A DURA, NUMA MUITO ESCURA VIATURA
MINHA NOSSA SANTA CRIATURA
CHAME, CHAME, CHAME LÁ
CHAME, CHAME O LADRÃO, CHAME O LADRÃO
ACORDA AMOR
NÃO É MAIS PESADELO NADA
TEM GENTE JÁ NO VÃO DE ESCADA
FAZENDO CONFUSÃO, QUE AFLIÇÃO
SÃO OS HOMENS
E EU AQUI PARADO DE PIJAMA
EU NÃO GOSTO DE PASSAR VEXAME
CHAME, CHAME, CHAME
CHAME O LADRÃO, CHAME O LADRÃO
SE EU DEMORAR UNS MESES
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CADÊ O MEU?
CADÊ O MEU, Ó MEU?
DIZEM QUE VOCÊ SE DEFENDEU
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É O MILAGRE BRASILEIRO
QUANTO MAIS TRABALHO
MENOS VEJO DINHEIRO
É O VERDADEIRO BOOM
TU TÁ NO BEM BOM
MAS EU VIVO SEM NENHUM
CADÊ O MEU?
CADÊ O MEU, Ó MEU?
EU NÃO FALO POR DESPEITO
MAS, TAMBÉM, SE EU FOSSE EU
QUEBRAVA O TEU
COBRAVA O MEU
DIREITO
- O Rock Setentista
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E TODOS OS MENINOS
VÃO DESEMBESTAR
E TODOS OS DESTINOS
IRÃO SE ENCONTRAR
E MESMO PADRE ETERNO
QUE NUNCA FOI LÁ
OLHANDO AQUELE INFERNO
VAI ABENÇOAR!
O QUE NÃO TEM GOVERNO
NEM NUNCA TERÁ!
O QUE NÃO TEM VERGONHA
NEM NUNCA TERÁ!
O QUE NÃO TEM JUÍZO...
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A LUA
TAL QUAL A DONA DO BORDEL
PEDIA A CADA ESTRELA FRIA
UM BRILHO DE ALUGUEL
E NUVENS!
LÁ NO MATA-BORRÃO DO CÉU
CHUPAVAM MANCHAS TORTURADAS
QUE SUFOCO!
LOUCO!
O BÊBADO COM CHAPÉU-COCO
FAZIA IRREVERÊNCIAS MIL
PRÁ NOITE DO BRASIL.
MEU BRASIL!...
QUE SONHA COM A VOLTA
DO IRMÃO DO HENFIL.
COM TANTA GENTE QUE PARTIU
NUM RABO DE FOGUETE
CHORA!
A NOSSA PÁTRIA
MÃE GENTIL
CHORAM MARIAS
E CLARISSES
NO SOLO DO BRASIL...
MAS SEI, QUE UMA DOR
ASSIM PUNGENTE
NÃO HÁ DE SER INUTILMENTE
A ESPERANÇA...
DANÇA NA CORDA BAMBA
DE SOMBRINHA
E EM CADA PASSO
DESSA LINHA
PODE SE MACHUCAR...
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AZAR!
A ESPERANÇA EQUILIBRISTA
SABE QUE O SHOW
DE TODO ARTISTA
TEM QUE CONTINUAR...
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Capítulo 5
- A década do rock
A penúltima década do século começa com o Brasil
acreditando que a democracia não demoraria a retornar. O
general João Batista Figueiredo que assumiu o poder em 1979,
prometia manter a “distenção lenta, gradual e segura”, iniciada
pelo seu antecessor. Os anistiados estavam de volta. O irmão do
Henfil já estava no Brasil, a censura era mais branda. A
juventude que cresceu dentro da ditadura começaria a dar seus
gritos em busca de liberdade. Partidos políticos nasciam. As
greves no ABC paulista lideradas por Lula e o surgimento de
partidos políticos como o PT, o PDT e o PMDB, demonstravam
que o povo já tinha opção. Que a ditadura não tardaria a ser
vencida.
No mundo, o socialismo também dava sinais de fraqueza. A
União Soviética não era mais tão poderosa quanto nas décadas
anteriores e os Estados Unidos cada vez mais iam tomando seu
lugar como única superpotência do planeta.
O mundo da música vivia agitado com as transformações,
afirmações e revoluções que os anos 70 mostraram. Os jovens
buscavam algo novo. Aquela velha música de festival já parecia
algo distante. Os adolescentes e os jovens adultos brasileiros não
queriam muito saber de Chico Buarque e sua turma. Queriam
fazer algo novo, muito inspirado pelo punk rock inglês ou pelo
new wave americano. Queriam mostrar que no Brasil também se
podia fazer esse tipo de rock, um rock diferente daquele feito
por Celly Campelo e depois por Roberto, Erasmo e toda a turma
da Jovem Guarda. Também não queriam imitar Rita Lee e os
Mutantes ou Raul Seixas e Os Secos & Molhados. Aos poucos,
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INÚTIL
A GENTE SOMOS INÚTIL
INÚTIL
A GENTE SOMOS INÚTIL
INÚTIL
A GENTE SOMOS INÚTIL
INÚTIL
A GENTE SOMOS INÚTIL
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Esta música tinha tudo para virar o hino de uma época e foi o
que aconteceu. André Midani conta: “O Washington (Olivetto)
me pediu uma cópia e entregou ao radialista Osmar Santos, que
dirigia o comício das Diretas Já, em 1984. Osmar entregou a fita
ao Ulysses Guimarães (deputado do PMDB) e ele percebeu a
importância do discurso de Roger. Ulysses tocou a fita em pleno
congresso nacional e fez dela um de seus mais virulentos
discursos contra a dos políticos e do sistema. Afinal, todos
entenderam”.
- Diretas já
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CORAÇÃO DE ESTUDANTE
HÁ QUE SE CUIDAR DA VIDA
HÁ QUE SE CUIDAR DO MUNDO
TOMAR CONTA DA AMIZADE
ALEGRIA E MUITO SONHO
ESPALHADOS NO CAMINHO
VERDES, PLANTAS, SENTIMENTO
FOLHA, CORAÇÃO, JUVENTUDE E FÉ
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GERAÇÃO COCA-COLA
GERAÇÃO COCA-COLA
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A BURGUESIA FEDE
A BURGUESIA QUER FICAR RICA
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(...)
QUE AQUELE GAROTO
QUE IA MUDAR O MUNDO
MUDAR O MUNDO
FREQUENTA AGORA
AS FESTAS DO "GRAND MONDE"...
MEUS HERÓIS
MORRERAM DE OVERDOSE
MEUS INIMIGOS
ESTÃO NO PODER
IDEOLOGIA!
EU QUERO UMA PRA VIVER
IDEOLOGIA!
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O MEU PRAZER
AGORA É RISCO DE VIDA
MEU SEX AND DRUGS
NÃO TEM NENHUM ROCK 'N' ROLL
EU VOU PAGAR
A CONTA DO ANALISTA
PRA NUNCA MAIS
TER QUE SABER
QUEM EU SOU
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Epílogo
- Século XXI
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Letras de músicas
músicas citadas neste livro:
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Marco Antonio Gonçalves
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-Bibliografia
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