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EDUCAÇÃO E

TECNOLOGIAS

Elisângela Ribas dos


Santos
Revisão técnica:
Marcia Paul Waquil
Graduação em serviço social (PUCRS)
Mestrado em educação (PUCRS)
Doutorado em educação (UFRGS)

S231e Santos, Pricila Kohls dos.


Educação e tecnologias / Pricila Kohls dos Santos,
Elisângela Ribas dos Santos, Hervaldira Barreto de Oliveira ;
[revisão técnica: Marcia Paul Waquil]. – Porto Alegre :
SAGAH, 2017.
160 p. : il. ; 22,5 cm.

ISBN 978-85-9502-108-2


1. Educação - Tecnologia. I. Título.
CDU 37:62

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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Educação a distância:
bases conceituais e
evolução histórica
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Analisar a evolução histórica da educação a distância.


 Identificar as bases conceituais da educação a distância.
 Relacionar as bases conceituais à evolução histórica.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar a história da educação a distância, suas
bases conceituais e sua evolução ao longo do tempo. Essa evolução
está muito relacionada com o avanço das tecnologias da informação
e da comunicação. Poderá refletir sobre características que marcaram
a vida de muitos brasileiros, tais como: o ensino por correspondência
e pela televisão. Após, chegará até os dias atuais, quando encontramos
inúmeros recursos virtuais que incrementam as possibilidades de ensino
e aprendizagem a distância.

Educação a distância: evolução histórica


As primeiras gerações da educação a distância (EaD) abordaram o ensino por
correspondência, rádio e televisão. Ao longo do tempo, elas foram substituídas
pelas possibilidades de educação online, as quais cresceram signifi cativamente
nos últimos anos, especialmente com o aumento de tecnologias colaborativas
da web 2.0, que permitiram a cocriação e a autoria em ambientes digitais. Esses
recursos são utilizados em cursos totalmente a distância ou cursos mistos, os
chamados blended-learning ou semipresenciais.

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A atual geração da EaD vem ganhando força no Brasil nos últimos anos e
explora as possibilidades educacionais dos dispositivos móveis, dos MOOCs,
massive open online courses, e dos recursos educacionais abertos. Um pano-
rama dessas gerações é apresentado na Figura 1, por Aretio (2014).

Figura 1. Gerações da EaD.


Fonte: Aretio (2014).

As gerações da EaD avançaram muito dado ao potencial de interação que


as tecnologias proporcionaram em todas as áreas do conhecimentos. Hoje
essas tecnologias são utilizadas para ampliar as possibilidades de ensino e
aprendizagem presencial e virtual, discutindo-se, contudo, muito sobre os
modelos educacionais para ambas as modalidades.
De acordo com Ribas (2007), as tecnologias na educação são historicamente
recentes, enquanto que a EaD é uma modalidade de ensino e de aprendizagem
que data de muitos anos e teve seu início pelo ensino por correspondência,
mas também utilizou recursos como o rádio e a televisão. O objetivo dessa
modalidade era atingir a um público mais distante dos centros urbanos e das
escolas, por isso era um meio de disseminar o conhecimento sobre cursos
de aperfeiçoamento e de educação profissional. Como exemplos, pode-se
citar a Rádio Educativa, o Instituto Monitor, Instituto Universal Brasileiro,

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a Universidade do Ar e, mais tarde, o Telecurso, esse já exigindo o acesso à


televisão. A Figura 2 ilustra as propagandas divulgadas em revistas e jornais
sobre o Instituto Universal Brasileiro.

Figura 2. Instituto Universal Brasileiro.


Fonte: HIstória da EaD (2012).

Vianney et.al. (2003) e Aretio (2014) informam que a EAD está dividida em
gerações. A primeira geração foi marcada pelo ensino por correspondência,
direcionados a cursos profissionais de formação inicial e continuada e pela
rádio-educação com intuito de massificar a alfabetização. A segunda geração
é caracterizada como a teleducação ou geração multimídia, o que antes era
apresentado por meio do rádio, passa a ser apresentado pela televisão e pelos
seus recursos de gravação de videoaulas, como as fitas VHS, além da formação
inicial e continuada, essa geração abordava conteúdos do Ensino Fundamental
e Médio. Assim, os estudantes poderiam ter acesso aos materiais didáticos e
às aulas e realizar exames supletivos em seus estados e municípios a fim de
concluir as etapas educacionais.

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A terceira geração apresenta os ambientes interativos e o e-Learning, que


também utiliza os recursos citados anteriormente, porém fazendo uso de
ambientes virtuais de ensino e aprendizagem (AVEAs) pela Web. De acordo
com Aretio (2014), a quarta geração apresenta o blended-learning, ou seja,
a EaD ainda considera que os recursos virtuais e a interação online estejam
presentes nos ambientes virtuais, apresentando a aprendizagem mista. De
acordo com Valente (2015, p. 23),

[...] híbrido significa misturado, mesclado, blended. A educação sempre foi


misturada, híbrida, sempre combinou vários espaços, tempos, atividades,
metodologias, públicos. Esse processo, agora, com a mobilidade e a
conectividade, é muito mais perceptível, amplo e profundo: é um ecos-
sistema mais aberto e criativo. Podemos ensinar e aprender de inúmeras
formas, em todos os momentos, em múltiplos espaços.

A 5ª fase apresenta a Educação 2.0, com a contribuição da Internet, que


passa a trabalhar com inúmeras ferramentas de compartilhamento de infor-
mações por qualquer usuário, uma questão inovadora, pois até então quem
criava e distribuía conteúdos na Internet eram apenas as pessoas com amplos
conhecimentos em computação. Além das ferramentas de compartilhamento,
surgem recursos para interação e comunicação mais acessíveis, como é o
caso de redes sociais, blogues, vídeos e imagens. A sexta fase, de acordo com
Aretio (2014), apresenta a aprendizagem móvel. Ela é oportunizada graças
aos dispositivos móveis, como tablets e celulares, que conectados à Internet
desempenham funções muito similares ao que antes apenas os computadores
desenvolviam.
A sétima fase apresenta os MOOCs (massive open online courses) e os
recursos educacionais abertos (REAs). Por REAs entende-se os “materiais de
ensino, aprendizado e pesquisa, fixados em qualquer suporte ou mídia, que
estejam sob domínio público ou licenciados de maneira aberta, permitindo que
sejam utilizados ou adaptados por terceiros” (RECURSOS EDUCACIONAIS
ABERTOS, [201-?]).

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MOOCS: sigla em inglês para Massive Open Online


Courses, cuja tradução significa Cursos online aber-
tos e massivos. Criados a partir de 2012, fazem parte
da atual geração da EaD. Para saber mais sobre os
MOOCs, acesse o link ou utilize o código a seguir:

https://pt.coursera.org

Bases conceituais da educação a distância


Na EaD, o Brasil utilizou por muitos anos, e ainda utiliza em menor escala, o
modelo pedagógico cuja base está fundamentada na estrutura broadcast. Para
Valente (2005, p. 84), é uma “[...] abordagem em que o professor não interage
com o aluno: não recebe nenhum retorno deste e, portanto, não tem ideia de
como essa informação está sendo compreendida”. Embora muitas pesquisas
afi rmem que esse tipo de abordagem não favorece a aprendizagem, diversas
instituições de educação apostam nesses modelos reativos como forma de
educação online.
Oposta à estrutura de broadcast, encontra-se o “estar junto virtual”, termo
cunhado por Valente (2011, p. 25) que trata do “[...] suporte ao processo de
construção de conhecimento por intermédio das facilidades de comunicação,
que prevê um alto grau de interação entre professores e alunos, que estão em
espaços diferentes, porém interagindo via Internet”. O ponto central da
abordagem está na proposta de atividades que possibilitem que aos alunos
refletir sobre suas construções a partir dos desafios que lhes são apresentados.
Para realizar essas atividades/situações-problemas, os alunos precisam interagir
com seus professores ou com os colegas.
Valente (2011, p. 25) argumenta que o aluno, ao se deparar com uma si-
tuação inovadora, vivencia os “[...] desequilíbrios e conflitos fornecidos pelo
professor e por outros colegas, que têm a função de provocar o aprendiz para
realizar as equilibrações em patamares majorantes, como proposto por Piaget.”
(VALENTE, 2005, p. 86). Nesse ponto, é possível fazer relação com os estudos
de Vigotsky, especialmente quando ele defende a interação entre sujeitos com
níveis de conhecimentos diferentes, para oportunizar o que ele chama de

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zona de desenvolvimento proximal (ZDP) (Figura 3). A ZDP é conceituada


como: a distância entre o nível de desenvolvimento atual determinado pela
resolução independente de problemas e o nível de desenvolvimento potencial
determinado pela resolução de problemas sob orientação ou em colaboração
com parceiros mais capazes (VYGOTSKY, 2002).

Figura 3. Ciclo de interação entre professores e alunos no modelo “estar junto virtual”.
Fonte: Valente (2005).

Dessa forma, entende-se que o modelo de construção de atividades que


valoriza a reflexão, a cooperação e a resolução de problemas contribui para o
fortalecimento do perfil de um aluno competente para a virtualidade, além de
favorecer o desenvolvimento da ZDP e das desequilibrações, tão importantes
para a construção de conhecimentos. Percebe-se que o modelo de EaD interfere
diretamente na construção dos conhecimentos dos alunos e na construção de
competências para a educação virtual.
Você se lembra do Telecurso 2000? Ele era transmitido por emissoras de
TV aberta e fez parte das manhãs de muitas pessoas. Por meio desses recursos,
os interessados poderiam assistir às videoaulas, adquirir apostilas para se
aprofundar nas temáticas e, caso se sentissem preparados, poderiam realizar os
exames supletivos em seus estados e municípios. Esse é um modelo broadcast,
pois não é possível estabelecer interação entre os envolvidos.

Bases conceituais e evolução histórica


Com a Internet, muitas possibilidades surgiram para construir espaços de
aprendizagem marcados pela interação entre os envolvidos. Isso se deu graças
aos AVEAs, que são espaços destinados ao gerenciamento dos conteúdos
online, das ferramentas de comunicação e dos espaços para construção do

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conhecimento. Desde então, os AVEAs fazem parte de todas as experiências em


EaD no Brasil. Contudo, além dos recursos tecnológicos, muitos profissionais
fazem parte das equipes de educação a distância, pois o professor sozinho não
daria conta de preparar todas as ferramentas e os materiais didáticos e também
acompanhar, interagir e avaliar as aulas. Por isso, muitas equipes de EaD são
formadas por professores coordenadores – aqueles que planejam as disciplinas,
o plano de ensino e a carga horária; professores conteudistas – aqueles que
pensam e desenvolvem os materiais didáticos; professores tutores – aqueles que
interagem com os estudantes, avaliam as atividades e respondem as dúvidas.
Além desses, as equipes contam com profissionais de design, os chamados
designers educacionais – aqueles que preparam o material didático construído
pelo professor conteudista, para que ele se torne mais dinâmico e atrativo
para a virtualidade; profissionais de suporte tecnológico qualificados para
gerenciamento do ambiente virtual e apoio aos estudantes em dúvidas técnicas;
e, na maioria dos casos, as equipes contam com um grupo pedagógico para
orientar questões didáticas e de aprendizagem, afinal de contas, trata-se de um
processo educacional e quanto mais profissionais qualificados para atender
às diferentes demandas, maiores as chances de que o processo de ensino e
aprendizagem virtual obtenha os resultados esperados.

Competências docente e discente


O domínio tecnológico não é importante apenas para que o professor saiba
fazer uso dos recursos, construir materiais educacionais para suas aulas ou
gerir os seus registros escolares, mas também para que possa promover situ-
ações didáticas em que os alunos sejam capazes de utilizar tecnologias para
demonstrar seus conhecimentos e trabalhar coletivamente na construção de
conhecimentos significativos. Para tanto, a atuação na era digital requer um
professor com competência tecnológica. Mauri e Onrubia (2012), defendem que
as tecnologias devem estar a serviço dos alunos para que tenham condições
de recorrer aos conteúdos e construir conhecimentos a partir delas e também
defendem a atuação mediadora do professor.
Além da competência tecnológica, Behar et al. (2013) apresentam ou-
tras competências consideradas importantes para o contexto da Educação a
distância (EAD), mas que também são significativas para a educação com
qualquer tipo de tecnologia, seja exclusivamente para modalidade de EAD,
para educação presencial ou educação ubíqua. Essas competências estão
relacionadas ao domínio tecnológico, sociocultural, cognitivo e de gestão.

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As habilidades ou características mais importantes para cada domínio são


melhores descritas no Quadro 1.

Quadro 1. Diferentes domínios para ações em ambientes virtuais.

Domínio Domínio Domínio Domínio de


tecnológico sociocultural cognitivo gestão

Recursos Aspectos sociais Aprendizagem. Questões


tecnológicos. e culturais. Construção do administrativas
conhecimento. e acadêmicas.
Coordenação Tempo.
das ações. Planejamento.
Organização
pessoal.

Fonte: Behar et al (2013, p. 51).

A partir das definições de Behar et al. (2013), entende-se que ao professor


e ao aluno não basta saber manusear a ferramenta, ou seja, possuir o domínio
tecnológico, é fundamental também saber o que fazer com ela e por isso as
demais características descritas pelas autoras oportunizam um entendimento
sobre todas as potencialidades da ferramenta. O professor ou o aluno poderá
utilizar as tecnologias para se informar, para isso, o domínio tecnológico
é suficiente. Para se relacionar, é necessário domínio sociocultural. Para
aprender, os conhecimentos cognitivos são mobilizados e, para gerenciar a
aprendizagem, é preciso ter domínio de gestão.

Para saber mais sobre as competências para a EaD, leia o livro Competências para
educação virtual (BEHAR, 2013).

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ARETIO, L. G. Bases, mediaciones y futuro de la Educación a distancia en la sociedad


digital. Madrid: Editorial Síntesis, 2014.
BEHAR, P. A. et al. Educação a distância e competências: uma articulação necessária.
In: BEHAR, P. A. (Org.). Competências em educação a distância. Porto Alegre: Penso, 2013.
MAURI, T.; ONRUBIA, Javier. O professor em ambientes virtuais: perfil, condições e
competências. In: COLL, C.; MONEREO, C. (Org.). Psicologia da educação virtual: apren-
der e ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação. Porto Alegre:
Artmed, 2010. p. 118-135.
RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS. O que são REAs. [201-?]. Disponível em: <http://
www.rea.net.br/site/faq/#a2>. Acesso em: 17 jun. 2017.
RIBAS, E. Curso de nivelamento a distância: um estudo de caso sobre a interação nos
ambientes virtuais de aprendizagem. 2007. 102 p. Dissertação (Mestrado)- Faculdade
de Física, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.
VALENTE, J. A. A espiral da espiral de aprendizagem: o processo de compreensão do papel
das tecnologias de informação e comunicação na educação. 2005. 238 p. Tese (Livre-
-docência)- Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.
VALENTE, J. A. Educação a distância: criando abordagens educacionais que possibi-
litam a construção de conhecimento. In: ARANTES, V. A. (Org.). Educação a distância.
São Paulo: Summus, 2011. Coleção Pontos e Contrapontos.
VALENTE, J. A. O ensino híbrido veio para ficar. In: BACICH, L.; TANZI NETO, A.; TREVI-
SANI, F. De M. (Org.). Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto
Alegre: Penso, 2015.
VIANNEY, J. et al. A Universidade virtual no Brasil: o ensino superior a distância no país.
Tubarão, SC: Unisul, 2003.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psi-
cológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

Leituras recomendadas
VALENTE, J. A. Diferentes abordagens de educação a distância. [200-?]. Disponível em:
<http://www.ufjf.br/grupar/files/2014/09/Diferentes-abordagens_EaD_Valente_si-
teMEC.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2017.
VALENTE, J. A. Educação a distância no ensino superior: soluções e flexibilizações.
Interface, Botucatu, SP, v. 7, n. 12, p. 139-148, fev. 2003. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/icse/v7n12/v7n12a09.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2017.

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Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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