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COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NECESSÁRIAS AO TUTOR NA


EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

SKILLS AND ABILITIES REQUIRED TO TUTOR IN DISTANCE EDUCATION

Valéria Gomes Barboza1, Márcia Prado Castro2

RESUMO
A Educação à Distância multiplica e expande o papel do professor, atribuindo-lhe diferentes funções
e atribuições, imprescindíveis ao sucesso na aprendizagem do aluno. O presente artigo, por meio
de pesquisa bibliográfica, tem como intento descrever brevemente a história do surgimento da
Educação à Distância no Brasil e realizar concisa reflexão sobre as particularidades da docência na
Educação à Distância, abordando as competências e habilidades imperativas, principalmente, ao
docente que atua como professor-tutor, bem como a importância da tutoria no contexto dos cursos
à distância e as características e responsabilidades inerentes as atividades desenvolvidas.

Palavras-chave: Educação à Distância. Tutor. Competências. Habilidades.

ABSTRACT
The Distance Education multiplies and expands the role of the teacher, giving him different functions
and tasks, essential to success in student learning. This article, by means of literature, is to attempt
briefly describe the history of distance education rising in Brazil and provide concise reflection of the
particularities from teaching in Distance Education, addressing skills and mandatory abilities, mainly to
the teacher who acts as a teacher-tutor, as well as the importance of mentoring in the context of distance
learning courses and the characteristics and responsibilities inherent in their activities.

Keywords: Distance Education. Tutor. Skills. Abilities.

1 Universidade Nove de Julho, E.M.E.F. Estação Jaraguá

2 Faculdades Integradas Campos Salles

Revista Acadêmica Integra/Ação, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 237-250, jan./jun. 2017.


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1. INTRODUÇÃO
A Educação à Distância (EaD) é assinalada por processos de ensino-aprendiza-
gem, que utilizam diferentes mídias como instrumentos na transmissão de conhecimentos. O
ambiente virtual permite a interação entre alunos e educadores e o desenvolvimento intelectu-
al com o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) em benefício da inovação
pedagógica.

O objetivo do presente artigo reside na análise e reflexão sobre a multiplicidade de


papéis atribuídos aos docentes na Educação à Distância, com ênfase na função, competências
e habilidades do tutor. Por meio de pesquisa bibliográfica, apresenta-se a trajetória histórica
sobre a Educação à Distância até seu surgimento no Brasil; as gerações pela qual passou,
desde a educação por correspondências até a era da tecnologia, com acesso à internet, che-
gando à divisão da figura do tutor nesta modalidade de ensino.

De acordo com Belloni (2006, p.79), o “uso mais intenso dos meios de comunica-
ção e informação torna o ensino mais complexo e exige a segmentação do ato de ensinar em
múltiplas tarefas, sendo esta segmentação a característica principal do ensino à distância”.

Belloni (2006, p.84) reúne em três grupos as funções dos docentes: o primeiro
grupo se responsabiliza pela criação do curso e das matérias, o segundo planeja e organiza
a distribuição de materiais e também administra a parte acadêmica (matrícula e avaliação) e
o terceiro grupo é responsável pelo acompanhamento do aluno no processo aprendizagem.

Importante mencionar que a denominação e definição dos diferentes papéis do


professor na Educação à Distância variam de acordo com a instituição que desenvolve o
projeto do curso. “Não há um modelo único de Educação à Distância. Os programas podem
apresentar diferentes desenhos e múltiplas combinações de linguagens e recursos educacio-
nais e tecnológicos”. (BRASIL, 2007).

Pretende-se, por fim, ponderar que para os profissionais que atuam como pro-
fessores e tutores nos cursos de Educação à Distância é necessária a articulação de novos
aportes e fazeres educativos, destacando, neste contexto, quais são as funções atribuídas ao
professor-tutor e sua significativa importância para o desenvolvimento integrado do aluno no
processo de ensino-aprendizagem. Exercer a função de professor-tutor requer competências
e habilidades que vão além do domínio dos conteúdos pedagógicos e dos meios tecnológicos,
implicando saberes específicos para o exercício da função com êxito.

2. SÍNTESE HISTÓRICA DA EAD NO BRASIL


A globalização tem gerado diversas demandas por formação, principalmente de nível técnico
e superior, seja pela ampliação de oportunidades ou pela diversificação de áreas profissionais, e, nes-
te cenário, o advento e desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação trouxeram
novas possibilidades e oportunidades, incluindo a área da educação, com suporte em ambientes
digitais de aprendizagem.

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A popularização e a visibilidade da Educação à Distância estão relacionadas com o desenvol-


vimento e a expansão da internet e de novas tecnologias (MAIA; MATTAR, 2007), fato que induz à
compreensão equivocada de que a EaD é uma novidade. Tori (2010, p.4) afirma que “a educação à
distância (EaD) não é tão nova como muitos acreditam. O uso das novas tecnologias para essa mo-
dalidade é que trouxe o caráter inovador e atualizado para a EaD”.

Esta modalidade de ensino remonta uma longa história, sendo difícil precisar seu momento de
fundação. A literatura apresenta diferentes situações que podem ser consideradas como experiên-
cias iniciais em EaD. Conforme Nunes (2009) e Landim (1997), provavelmente, o primeiro registro da
utilização do método de ensinar à distância foi o anúncio das aulas por correspondência ministradas
por Caleb Philips em 1728, na Gazette de Boston, EUA, que enviava suas lições, todas as semanas,
para os alunos inscritos.

A trajetória da EaD é dividida por diferentes pesquisadores em fases ou gerações. Embora as


propostas de análises em gerações apresentem diferenças entre os autores, estas consideram o tipo
de tecnologia empregada.

A primeira geração da Educação à Distância ocorreu no período de 1728 até meados de 1970,
com preponderância de estudos por correspondência. Materiais impressos, livros, apostilas, eram o
principal recurso da EaD antes do aparecimento das tecnologias eletrônicas e digitais. Didaticamen-
te, os alunos recebiam o material impresso, por correio, para estudos acompanhados por exercícios
de fixação e a interação entre aluno e instituição produtora acontecia apenas nos momentos desti-
nados aos exames.

Diversos autores creditam à França, Espanha e Inglaterra o início e a propagação da EaD para
o mundo, pois, diferente do Brasil, o sistema educacional dessas nações não era controlado pelo
Governo. Assim, livres de um controle centralizador, esses países puderam inovar e desenvolver es-
tratégias de ensino que pudessem atender às necessidades regionais.

Segundo Alves (2009), a trajetória da EaD no Brasil é marcada por avanços e retrocessos e,
ainda, alguns momentos de estagnação, provocados principalmente pela ausência de políticas pú-
blicas para o setor. De acordo com o autor, existem registros que colocam o Brasil entre os principais
países do mundo no que se referia à EaD até os anos de 1970. Depois dessa época o Brasil estagnou
e outras nações avançaram e somente no fim do milênio é que as ações positivas voltaram gerando
desenvolvimento considerável nesta modalidade educacional.

Na década de 1960 tem-se o início da segunda geração da EaD qualificada, principalmente


pela integração dos meios de comunicação e pelo uso de outros modelos, pela utilização de multi-
meios, adicionados ao material impresso, a TV, o rádio, o correio postal e eletrônico, a telefonia e as
fitas de áudio e vídeo.

A partir da década de 1990, com o avanço da informática e das telecomunicações, assim como
a expansão da internet, fez com que a EaD se revigorasse e compreendesse cursos de níveis superior
e pós-graduação, iniciando a terceira geração da Educação à Distância, a “EaD on-line”, caracterizada
pela atuação conjugada de vários meios de comunicação e tecnologias, favorecidos pelo uso do
e-mail e dos recursos disponíveis na Word Wide Web, MP3, ambientes virtuais de aprendizagem, ví-

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deos, animações, redes sociais, fóruns, entre outros.

Pautadas nestes avanços, inúmeras propostas educacionais à distância surgiram e o Governo


brasileiro criou, em 1996, uma legislação própria para regulamentar a EaD e propiciar o credencia-
mento de instituições públicas e privadas aptas a lançar cursos nessa modalidade.

As bases legais para a EaD no Brasil foram estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), regulamentada pelo Decreto nº 5.622 de
19 de dezembro de 2005, com normatização definida na Portaria Ministerial n.º 4.361, de 2004.

Atualmente a Educação à Distância se institui em uma iniciativa transformadora que vem re-
definindo paradigmas. Tem demonstrado vantagens como flexibilidade no acesso à aprendizagem,
a oportunidade de formação adaptada às exigências atuais do mercado, a possibilidade de uma
aprendizagem mais personalizada respeitando o ritmo e valorizando a autonomia de cada indivíduo.

3. TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO
O avanço tecnológico influencia a economia, os meios de produção, revoluciona as áreas de
conhecimento, e traz novas concepções para a Educação. A “Sociedade da Informação” exige maior
rapidez e maior quantidade de informação, conduzindo a elaboração de outras perspectivas e elei-
ção de novos interesses.

Num mundo onde as relações giram em torno do capital, consumo, competitividade e com-
petência, o avanço das tecnologias conduz à modalidade de ensino à distância a um novo estágio
de desenvolvimento, em decorrência da potencialização de ferramentas e da comunicação dialógica
entre os sujeitos envolvidos no processo educativo, ampliando a interatividade, o compartilhamento
de saberes e a construção coletiva do conhecimento.

Apesar dos desafios experimentados pela Educação à Distância, esta modalidade de ensino é
uma realidade, concretizando-se por meio do processo de ensino-aprendizagem mediado por tec-
nologias, em que professores e alunos, embora separados temporal ou espacialmente, podem estar
conectados por tecnologias.

O ensino virtual, moldado às condições do aluno, passa a ser um instrumento ímpar e rompan-
te aos problemas relacionados às dificuldades de acesso à educação. Villardi afirma que:

a educação à distância se vem apresentando como uma possibilidade concreta de


fazer a educação superior ultrapassar os centros urbanos, permitindo que a for-
mação continuada se faça pelo acesso a novas tecnologias (VILLARDI, 2005, p.45).

Embora existam muitos aspectos a serem superados, no que tange a infraestrutura e prepa-
ro para utilização da Educação à Distância no Brasil, as tecnologias tornaram-se instrumentos para
acesso ao conhecimento. A expansão da Educação à Distância pelo país e a utilização da internet
nas metodologias de ensino, introduziram importantes possibilidades de interação, intercâmbio de
ideias e materiais, entre alunos e professores, dos alunos entre si, e dos professores entre si, no que
se denomina comunidades de aprendizagem em rede (MAIA, 2003).

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O processo educacional à distância faz com que as aulas tenham um novo membro entre o
aluno e o professor, o computador. Atividade que o aluno antes copiava em caderno passa a exigir
acessos ao portfólio, entradas no sistema e averiguações, encaminhamentos de atividades por pos-
tagens, participação em fóruns e chats, exercícios virtuais etc.

Quando se busca adquirir conhecimento nos ambientes virtuais de aprendizagem, os meca-


nismos utilizados para obter a informação são essenciais, mas a tecnologia sozinha não é capaz de
concretizar tal transformação. Os responsáveis pela estruturação dos cursos, pelo desenvolvimento
do projeto pedagógico é que, após a primeira etapa de detalhamento do curso, devem determinar
qual tecnologia será a mais apropriada para dar suporte a toda estrutura do curso (MAIA, 2003).

É incontestável que os recursos tecnológicos trazem muitos benefícios para praticamente to-
dos os setores da vida, incluindo a educação, mas para a superação dos desafios hoje enfrentados
pela Educação à Distância, a formação e a preparação dos professores precisa considerar a realidade
da sociedade na qual estamos inseridos, marcada pela forte e universal presença de tecnologias que
a cada dia se transformam e se aperfeiçoam.

O papel do professor deve ser o de mediador, aquele que auxilia o aluno a alcançar seu poten-
cial máximo, aproveitando os benefícios educativos que os recursos tecnológicos podem oferecer,
e para tanto, é imprescindível que o professor conheça as ferramentas que tem a sua disposição e
apresentem qualidades e experiências imprescindíveis para ensinar à distância. Esta nova forma de
pensar a educação e a formação de professores pressupõe outras perspectivas de mundo para o
processo de construção do conhecimento, onde o uso das tecnologias implica em aliar método e
metodologia na busca de um ensino interativo e de qualidade.

4. PAPÉIS CONFERIDOS AO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA


Na modalidade Educação à Distância a mediação didático-pedagógica dos processos de en-
sino e aprendizagem ocorrem por meio da utilização de tecnologias de informação e comunicação,
com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares e/ou tempos dis-
tintos, resultando num rompimento da relação presencial entre alunos e professores e do espaço/
tempo.

Nos programas à distância eleva-se o nível de exigência dos recursos humanos envolvidos e
sua multidisciplinariedade. Por existir uma diversidade de modelos, que resulta em possibilidades
diferenciadas de composição dos recursos humanos necessários à estruturação e funcionamento
de cursos nessa modalidade, além de professores-especialistas nas disciplinas, deve-se contar com
tutores, avaliadores, especialistas em comunicação e no suporte de informação, ou seja, os recursos
humanos devem configurar uma equipe multidisciplinar com funções de planejamento, implemen-
tação e gestão. As divisões e funções dos profissionais que compõem esta equipe multidisciplinar
apresentam estruturações similares nas instituições de ensino, embora a nomenclatura varie, oca-
sionalmente.

Nos cursos à distância, os professores veem suas funções se expandirem, requerendo que se-
jam altamente qualificados. O professor responsável por um determinado conteúdo não precisa ser

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um especialista em tecnologia para operacionalizar propostas inovadoras. A complexidade nas rela-


ções na EaD pode ser exemplificada pela quantidade de pessoal envolvido para ofertar apenas uma
disciplina. Entre autores, revisores, tutores, especialistas de EaD, webdesigners e outros, a formatação
final da disciplina torna-se uma construção coletiva. Nesta construção, surgem definições diferen-
tes para os papéis desenvolvidos pelo professor na Educação à Distância. Com objetivo de abordar
suscintamente as diversas atribuições e funções, serão conceituadas algumas das principais figuras
deste processo:

1. Professor-Autor (ou Conteudista): é o profissional, professor ou especialista, mestre ou


doutor, que possui domínio e experiência nos assuntos e disciplinas de estudo do conteúdo. É
o responsável pela produção do material didático de determinada disciplina ou curso. A esse
profissional é encomendado textos que reflitam seu saber e que expressem as necessidades
do projeto de EaD em que está inserido.

2. Professor-Formador: cabe a este profissional estabelecer uma ponte entre a aprendiza-


gem realizada presencialmente a partir do contato com o Tutor e a aprendizagem alcança-
da através das diferentes mídias propostas. É responsável pela elaboração das provas e das
atividades e orienta os tutores nos objetivos e entraves do conteúdo. O foco deste professor
é superar as dificuldades dos alunos com o conteúdo específico, buscando alternativas para
facilitar o processo de aprendizagem.

3. Coordenador: entre os profissionais do corpo técnico-administrativo, destaca-se o coor-


denador do polo como responsável pelo bom funcionamento dos processos administrativos e
pedagógicos que se desenvolvem na unidade.

4. Tutor Presencial: atende alunos nos polos presenciais. Conhece o projeto do curso e o
material didático, com objetivo de auxiliar os estudantes em suas atividades individuais e em
grupo, fomentando a pesquisa e esclarecendo dúvidas específicas e sobre as tecnologias usa-
das. Essencialmente, participa de encontros presenciais, como avaliações, e promove comuni-
cação com alunos e com a equipe do curso.

5. Tutor à distância: atua a partir da instituição, mediando o processo pedagógico junto a


discentes geograficamente distantes. Entre suas atribuições, esclarece dúvidas por meio de
recursos tecnológicos, promove espaços de construção coletiva de conhecimento e participa
dos processos avaliativos.

O tutor é o agente facilitador do conhecimento e, por essa ação, precisa estar in-
teiramente consciente e integrado quanto aos conteúdos, metodologias, matérias, atividades
e, sobretudo, o contexto em que seu aluno está inserido, sua realidade, suas limitações e seu
potencial, por isso, vários autores atribuem à atuação do tutor ao sucesso ou não da Educa-
ção à Distância.

O trabalho de tutoria, em regra, é assessorado por professores especialistas e co-


ordenadores do curso quanto aos estudos e discussões dos conteúdos abordados nos mate-
riais didáticos. Assim, o tutor, segundo Peters (2001), é uma peça indispensável no processo

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de orientação dos alunos de um curso à distância. É ele quem, aos poucos, deve fazer com
que os alunos percebam o quanto o trabalho colaborativo pode ajudar o processo de ensino
e aprendizagem.

A intervenção na aprendizagem do aluno por diferentes intérpretes, concomitan-


temente, objetiva suscitar a diminuição na margem de erro na abordagem da aprendizagem,
visto que na EaD a ação do professor é socializada, expondo seu trabalho à inúmeras críticas,
assim, a correção ao longo do processo torna-se primordial.

5. TUTOR É PROFESSOR?
Os cursos de Educação à Distância possuem uma equipe multidisciplinar, o professor não é o
detentor do conhecimento, ele passa a mediar o ensino/aprendizagem.

Na composição da equipe da EaD, surge a figura do tutor - profissional que atua diretamente
com os alunos e cuja função, para algumas instituições de ensino, é orientar, esclarecer dúvidas e
acompanhar o estudo do aluno, enquanto para outras o tutor é o professor, responsável pela media-
ção de todo o processo de ensino e aprendizagem.

Em seus estudos, Peters (2003) defende que tutores não são docentes, mas sim conselheiros,
companheiros dos estudantes no sentido mais restrito, cuja função é o assessoramento aos alunos
em questões gerais, a quem não compete responsabilidades de ensino.

Ante aos desafios presentes no trabalho de mediação desenvolvido pelo tutor em EaD, tem-se
que uma de suas mais importantes atribuições é a de atuar como agente facilitador, desafiador e
motivador do aluno na busca de respostas adequadas às atividades propostas, criando um ambiente
que possibilite a construção do conhecimento por parte dos estudantes, envolvendo-os ativamente
no processo de aprendizagem.

6. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES IMPERATIVAS AO TUTOR


Segundo o Referencial de Qualidade para a Educação Superior à Distância, a tutoria desempe-
nha papel fundamental no processo educacional dos cursos superiores à distância, uma vez que as
atividades desenvolvidas à distância e/ou presencialmente contribuem para o desenvolvimento dos
processos de ensino e de aprendizagem, e para o acompanhamento e avaliação do projeto pedagó-
gico. Portanto, a tutoria deve ser compreendida como um dos sujeitos que participa ativamente da
prática pedagógica. (BRASIL, 2007)

Martins apud Torres (2007, p. 33), mostra que a tutoria é uma peça chave na EaD, pois é res-
ponsável por “garantir a inter-relação personalizada e contínua dos estudantes com o sistema. Essa
ação viabiliza a articulação necessária entre os elementos do processo e a consecução dos objetivos
propostos”.

Genericamente, os conhecimentos necessários ao tutor não diferem daqueles necessários ao


bom docente, no entanto, este profissional precisa somar outras competências e habilidades, como

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saber utilizar as tecnologias de informação e comunicação, saber trabalhar em equipe e sua forma-
ção teórica, além de atualizada, precisa abranger a prática de espaços tutoriais. Em regra, o Tutor,
dentre outras capacidades, precisa ter formação acadêmica na área da disciplina a ser ministrada; co-
nhecimento sobre metodologia da Educação à Distância e habilidades na utilização das tecnologias
da informação e da comunicação. Devem redobrar cuidados com linguagem, aprender a maximizar
o uso dos momentos presenciais e melhorar sua interlocução por diferentes canais de comunicação.

Para Niskier (1999), o tutor precisa reunir qualidades de um planejador, pedagogo, comunica-
dor, e técnico de informática. Participar na produção dos materiais, selecionar os meios mais adequa-
dos para sua multiplicação, e manter uma avaliação permanente a fim de aperfeiçoar sua atuação.
Arnaiz apud Silva (2008), aponta três dimensões de qualidades que o “ser tutor” precisa apresentar:

1. qualidades humanas: ter empatia, maturidade intelectual e afetiva, sociabilidade, respon-


sabilidade e capacidade de aceitação;

2. qualidades científicas: conhecimento de elementos pedagógicos e didáticos que o auxilia-


rão no convívio com seu aluno e no trato com cada um individualmente, e

3. qualidades técnicas do “saber fazer tutoria”: trabalhar com eficácia e em equipe, envolven-
do-se nos projetos e programas criados em prol da formação de seus alunos.

Pereira apud Silva (2008) aponta aspectos que contribuem significativamente para a organiza-
ção e o desenvolvimento do trabalho de tutoria:

1) o ambiente de ensino e aprendizagem proposto define o campo de atuação, a


modalidade de tutoria a ser adotada e a natureza de sua atuação;

2) o material didático do curso deve ser utilizado a partir de uma concepção peda-
gógica que orienta a tutoria, de modo que se possa, ao longo do processo, detectar
suas limitações e possibilidades;

3) a organização do tempo e do percurso para o trabalho de tutoria;

4) o reconhecimento do contexto institucional em que os alunos estão inseridos, e

5) o acompanhamento do processo de aprendizagem baseado na intervenção e


auxílio aos alunos em dificuldades de aprendizagem. (PEREIRA apud SILVA, 2008,
p. 43)

Ponderando as várias teorias sobre o perfil do tutor e as caracterizações da sua


função na Educação à Distância, notamos semelhanças que aproximam esse ator às funções
desempenhadas por um professor-orientador. Silva ressalta que:

O tutor é um facilitador, que ajuda o estudante a compreender os objetivos do


curso. O tutor torna-se um observador que reflete constantemente junto ao aluno
a sua possível trajetória acadêmica, é um conselheiro e também um psicólogo, ca-
paz de compreender as questões e as dificuldades do aprendiz e de ajudá-lo a res-
ponder de maneira adequada. É também um especialista em avaliação formativa e
administrador para dar conta de certas exigências da instituição (SILVA 2008, p. 47).

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A Educação à Distância, vem se desenvolvendo em ritmo crescente no mundo e a


medida em que prospera, seus contornos vão se delineando de acordo com a multiplicidade
de propósitos que assume na sua trajetória, mudando e se adequando continuamente em fun-
ção das demandas sociais e da superveniência das tecnologias, com repercussões de ordem
qualitativa da maior relevância, razão pela qual, não basta ao tutor ter experiência com cursos
presenciais para assegurar a qualidade e atingimento dos objetivos propostos na Educação
à Distância.

Por todo exposto, a prática de tutoria deve estar pautada numa perspectiva de
construção do conhecimento, razão pela qual é função bastante complexa e demanda expe-
riência, formação e conhecimentos além daqueles necessários aos cursos presenciais, pois
sua finalidade é a articulação de todo o sistema de ensino e aprendizagem na modalidade de
Ensino à distância.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do presente artigo, buscou-se abordar o surgimento da EaD no Brasil e
propor sucinta reflexão sobre particularidades da docência na Educação à Distância, e, pau-
tado em fundamentações teóricas, as competências e habilidades cogentes ao docente que
atua como tutor, bem como a importância da tutoria no contexto dos cursos à distância.

Depreende-se que a Educação à Distância multiplica e expande o papel do pro-


fessor, conferindo-lhe diferentes atribuições, imprescindíveis ao sucesso na aprendizagem
do aluno, e, que o tutor é professor que desempenha papel bastante complexo e de suma
importância nesta modalidade de ensino, pois, além de possuir formação e conhecimentos
inerentes ao exercício da docência presencial, precisa somar outras competências e habilida-
des de aspectos metodológicos, técnicos e teóricos, imperativas para a qualidade do curso à
distância.

Por fim, apreende-se a complexidade do tema, referente a conceituação e carac-


terizações das diversas funções do tutor e das responsabilidades atinentes à tutoria e sua
importância no processo ensino-aprendizagem na modalidade à distância.

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cação, UFRGS, Porto Alegre, 2008.

TORI, R. Educação sem distância: as tecnologias interativas na redução de distâncias em ensino e


aprendizagem. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2010.

TORRES, C. C. A Educação à Distância e o Papel do Tutor: Contribuição da Ergonomia. 2007. 198


f. Tese (Doutorado em Psicologia) - Universidade de Brasília, 2007. Disponível em: <http://bdtd.bce.
unb.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2319>. Acesso em: 08 nov. 2016.

VILLARDI, R. Tecnologia na educação: uma perspectiva sócio- interacionista/ Raquel Villardi e


Eloiza Gomes de Oliveira. Rio de Janeiro: Dunya, 2005.

INFORMAÇÕES DOS AUTORES


Valéria Gomes Barboza é professora de Ensino Fundamental l, formada em Pedagogia na

Revista Acadêmica Integra/Ação, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 237-250, jan./jun. 2017.


ISSN 2594-4878| e-ISSN 2594-4878| doi: 10.22287/raia.v1i1.523
BARBOZA, V. G., CASTRO, M. P.: COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NECESSÁRIAS AO TUTOR NA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
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Universidade Nove de Julho em 2013, trabalha na E.M.E.F. Estação Jaraguá. pedagogia.valeria@


ymail.com

Márcia Prado Castro é mestre Profissional em Ensino da Matemática, pós-graduada em Informática


Aplicada à Educação e Planejamento, Implementação e Gestão de Educação à Distância, graduada
em Matemática e professora das Faculdades Integradas Campos Salles. marcia.prado@superig.
com.br

Revista Acadêmica Integra/Ação, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 237-250, jan./jun. 2017.


ISSN 2594-4878| e-ISSN 2594-4878| doi: 10.22287/raia.v1i1.523

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