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Coordenadora Executiva do Idec Edição e revisão

Teresa Liporace Clara Barufi

Coordenador Adjunto do Projeto gráfico


Projeto Xingu do ISA
Coletivo Piu (@coletivopiu)
Paulo Junqueira
Apoio
Coordenador do Programa de Fundação Charles Stewart
Energia e Sustentabilidade do Mott
Idec
Parceria
Clauber Barão Leite
Instituto Socioambiental – ISA
Produção técnica socioambiental.org
Camila Cardoso Publicação
Clauber Barão Leite Instituto Brasileiro de Defesa
Marcelo Silva Martins do Consumidor – Idec

Mayara Mayumi Tamura idec.org.br

Munir Younes Soares


Priscila Morgon Arruda

São Paulo, maio de 2021


Índice
04 Apresentação

06 Sumário executivo

08 1. Introdução: a Amazônia Legal

12 2. Impactos da pandemia de covid-19 na região

17 3. Aspectos energéticos da Amazônia Legal

19 3.1 Os Sistemas Isolados amazônicos

21 3.2 A exclusão do acesso à eletricidade e os desafios


para o desenvolvimento dos povos amazônicos

26 4. O caso do Território Indígena do Xingu: um


exemplo dos desafios a serem enfrentados

30 4.1 Projeto Xingu Solar

36 5. Recomendações do Idec e do ISA

40 6. Referências
Apresentação
O
Instituto Brasileiro A pandemia de covid-19
de Defesa do evidenciou como a carência
Consumidor (Idec) e do acesso à energia elétrica
o Instituto Socioambiental (ISA) fragiliza as condições de vida
são integrantes da Rede Energia em particular das populações
e Comunidades, constituída por indígenas. A disponibilidade
um grupo de organizações que do serviço nas regiões remotas
implementa projetos modelo representa não só uma
de energia limpa em prol do alternativa de melhoria da
desenvolvimento regional qualidade de vida, bem como a
sustentável das populações garantia de condições mínimas
tradicionais e indígenas1. Esses de resiliência frente a questões
projetos visam contribuir para de saúde.
que as comunidades isoladas
Nesse contexto, este relatório
tenham acesso à energia
propõe uma discussão inicial
limpa e sustentável no âmbito
sobre a urgência e os desafios
das políticas públicas de
para o provimento do serviço.
universalização do serviço.
O texto é dividido em quatro

1
. Para mais informações consultar o link:
https://www.energiaecomunidades.com.br/.

4 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


partes. A introdução apresenta pandemia. Por fim, a partir das
as principais características evidências apresentadas, são
da região, os impactos da propostas recomendações para
pandemia nas populações a implementação de políticas
indígenas e as medidas de universalização do acesso à
adotadas, evidenciando a energia elétrica na região nos
relevância dos serviços públicos próximos anos.
de energia elétrica para facilitar
o atendimento de saúde e
prover maior resiliência a esses
povos. Na parte seguinte, é feita
uma caracterização energética
dos sistemas isolados e são
abordados os desafios para seu Teresa Liporace
atendimento. Na terceira parte, é Coordenadora
apresentado o caso do Território Executiva do Idec
Indígena do Xingu (TIX), com
destaque para a mobilização Paulo Junqueira
em favor do acesso à energia de Coordenador Adjunto do
fonte renovável e em relação à Projeto Xingu do ISA

5
Sumário
executivo
A
pandemia de criação do Programa Mais Luz para a
covid-19 evidenciou Amazônia (MLA). Estimativas indicam
a vulnerabilidade dos que existam atualmente cerca de
povos que vivem em localidades 1 milhão de pessoas sem acesso à
remotas da Amazônia Legal. A falta energia elétrica na região.
de acesso a serviços essenciais
Importante observar que boa parte
como a energia elétrica é associada
da Amazônia não está conectada às
a níveis superiores de óbitos pela
linhas de transmissão elétricas do
doença na região em comparação
Sistema Interligado Nacional (SIN).
às demais regiões do país. Esse
O atendimento dos municípios e
cenário indica a urgência de se
localidades onde já existe o serviço é
promover a universalização do
feito, portanto, por meio de sistemas
acesso ao serviço na Amazônia
isolados que, em sua maioria, utilizam
Legal. Afinal, além de melhorar a
geradores a diesel. Esses sistemas
qualidade de vida, a energia elétrica
pode auxiliar no enfrentamento da possuem elevados custos de geração,
crise de saúde pública e favorecer a baixa eficiência e necessidade
resiliência das comunidades. frequente de manutenção, além de
implicarem uma complexa logística de
O Brasil empreendeu um transporte do combustível e emissões
esforço significativo em favor de gases de efeito estufa. Por outro
da universalização elétrica nos
lado, o uso de diesel na região é
últimos anos. O Programa Luz para
amplamente difundido, as cadeias de
Todos (LpT) beneficiou um total
fornecedores estão estruturadas e a
de 16,5 milhões de pessoas entre
comercialização desse combustível
2004 e meados de 2019, segundo
gera receita estadual por meio da
informações da Eletrobras. Mas o
cobrança de impostos.
desafio das comunidades remotas
na Amazônia Legal só começou a Projetos desenvolvidos pelo Instituto
ser enfrentado recentemente, com a Socioambiental (ISA) na região do

6 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


Xingu mostram, no entanto, que as
fontes de energia descentralizada,
limpa e de baixo impacto, dentre elas
a fotovoltaica, são as opções de maior
viabilidade para o atendimento das assegurar que o serviço prestado
populações, por conta da facilidade atenda integralmente suas demandas
de apropriação tecnológica pelas e leve em consideração a diversidade
comunidades, pelo fato de a maioria sociocultural existente.
das necessidades se referir a usos A política de universalização também
intermitentes e pelo modelo não deve possibilitar o acesso a serviços
dificultar as atividades cotidianas das de energia seguros, sustentáveis
famílias. Os resultados de experiências e de baixo impacto ambiental,
como essas reforçam a consideração garantindo energia suficiente para as
das fontes renováveis nas novas necessidades domésticas e produtivas
políticas para a região. das comunidades. A implementação
Considerando essas experiências de programas robustos de
e particularidades, bem como a treinamento e capacitação pode
urgência da eletrificação da região, garantir que os próprios moradores
o Instituto Brasileiro de Defesa sejam responsáveis pela gestão dos
do Consumidor (Idec) e o ISA sistemas. Além disso, é preciso haver
apresentam propostas para sua integração com outras políticas
implementação de forma rápida e públicas, pois o desenvolvimento
com qualidade. Essas propostas, em sustentável das comunidades também
particular, são contribuições iniciais depende de ações nas áreas da saúde,
a partir das discussões promovidas educação, moradia, saneamento
pela Rede Energia e Comunidades, básico, comunicação e alimentação.
bem como pelos debates públicos As recomendações contemplam
sobre o assunto ainda que haja total transparência no
As propostas incluem a realização cronograma e critérios de conclusão
de um mapeamento completo das das metas estabelecidas para as
comunidades das áreas remotas sem distribuidoras, com monitoramento e
acesso à energia e a elaboração de prestação de contas frequentes, além
um plano nacional de eletrificação da indicação de uma data para que o
rural atualizado. Esse plano deve ser processo de universalização da região
construído a partir dos protocolos amazônica com energia limpa seja
de consulta às comunidades, para totalmente concluído.

7
8
da Superintendência de

A
região amazônica Desenvolvimento da Amazônia
brasileira é definida (Sudam)2. No total, a região
territorialmente compreende 58,9% do território
como a Amazônia Legal, que brasileiro, conforme apresentado
corresponde à área de atuação na Figura 1 (1).

Figura 1. Caracterização da Amazônia Legal - Fonte: IBGE (2019)

2
. A área de atuação da Sudam é delimitada no Art. 2º da Lei Complementar nº 124,
de 03 de janeiro de 2007. A Sudam tem por finalidade promover a integração
econômica da região constituída por 52 municípios de Rondônia, 22 do Acre, 62
do Amazonas, 15 de Roraima, 144 do Pará, 16 do Amapá, 139 do Tocantins, 141 do
Mato Grosso e 181 do Maranhão situados ao oeste do Meridiano 44º (dos quais 21
deles estão parcialmente integrados à Amazônia Legal). Possui uma superfície de
5.015.067,749 km.

9
A Amazônia apresenta ampla
diversidade sociocultural. Essa
diversidade se dá pela intensa
migração de populações de
outras regiões e, de maneira
mais importante, pela grande
diversidade de povos indígenas
e outras populações tradicionais.
No início desta década, havia
411 Terras Indígenas (TIs) na
acima, equivale a quase 60%
Amazônia Legal, cujas áreas
do território nacional. A renda
correspondiam a 21,7% do seu
e o Índice de Desenvolvimento
território e abrigavam 173 povos,
Humano (IDH) dessa população
uma população total aproximada
são inferiores aos do restante
de 250 mil pessoas (2).
do país, conforme exposto
De modo geral, a região na Tabela 1 (3). De acordo
apresenta baixa densidade com o Programa das Nações
demográfica. A totalidade da Unidas para o Desenvolvimento
sua população corresponde a (PNUD), dentre os dez
praticamente 12% da população municípios com menor IDH,
brasileira distribuída em uma todos estão localizados na
área que, conforme visto região da Amazônia Legal (4).

10 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


Indicador Brasil Amazônia Legal

Área (km2) 8,510,295.91 5,110,862.50

População estimada (milhões) 210,147,125 6,694,432

Densidade Demográfica 24.69 4.83


(hab/km2)

Índice de Desenvolvimento 0.699 0.682


Humano (IDH)

Renda Domiciliar mensal R$ 1,439.00 R$ 1,027.35


per capita (R$/capita)

Tabela 1. Indicadores nacionais e da Amazônia Legal - Fonte: IBGE (Sem data)

O acesso a serviços essenciais é


deficitário. Os estados da Região
Norte possuem o menor nível
de cobertura de saneamento
básico do país. Vale observar
que a questão da infraestrutura
na região sempre foi um dos
desafios mais significativos, tanto
pelas dificuldades de acesso a
determinadas localidades como
pelo foco das políticas públicas
em priorizar a exploração dos
recursos naturais da região e deixar
em segundo plano um modelo de
desenvolvimento que considerasse
as condições e necessidades da
população local (5).

11
12
A
crise desencadeada maior nível de soroprevalência
pela pandemia de do Sars-CoV 2, sendo mais
covid-19 evidenciou acentuada em indígenas e pardos.
a vulnerabilidade dos povos O mesmo estudo mostra que o
da Amazônia Legal. As espalhamento do vírus ocorreu
populações que vivem mais pela via fluvial e atingiu cidades
distantes dos centros urbanos da calha do Rio Amazonas
e, por conseguinte, de leitos como Breves, no Pará, onde foi
hospitalares, estão sujeitas a constatado que 25% da população
maiores riscos (6). A falta de teve contato com o vírus (8).
acesso à energia elétrica limpa e
Análise do Instituto de Energia e
confiável, a serviços básicos de
Meio Ambiente (IEMA), por sua
saúde e saneamento, também
vez, identificou uma correlação
constituem fatores que agravam a
entre as mortes por covid-19
condição desses povos.
e o acesso à energia elétrica
Vale observar que o isolamento (Figura 2) (9). Nas regiões
de boa parte da população com maior vulnerabilidade –
poderia ajudar a evitar o contágio. onde predominam populações
O problema é que o avanço do indígenas, ribeirinhas e
desmatamento e do garimpo quilombolas – o nível de óbitos
ilegal colocam em risco esse por habitantes é mais elevado.
isolamento. Segundo pesquisa
anterior à pandemia, essas
atividades já eram percebidas
pelos indígenas como problemas
de saúde pública (7).
A pandemia está afetando de
maneira significativa a Região
Norte. Estudo indica que há

13
Figura 2. Mapa de óbitos causados por covid-19 - Fonte: IEMA (2020)

A Figura 3 apresenta a evolução detalhamento das informações


do número de óbitos informados da Sesai, não é possível conferir
pela Secretaria de Saúde os casos duplicados entre as duas
Indígena (Sesai) e apurados bases de dados.
pelo Comitê Nacional de Vida
O panorama geral da covid-19
e Memória Indígena (10). É
entre os indígenas é de 52.494
pertinente destacar que no
casos confirmados, com 1.039
contexto da falta de testagem
mortes (10)3. Apesar desse
em massa, muito provavelmente
número de pessoas afetadas não
existe uma disparidade entre o
se limitar somente à Amazônia, é
número de óbitos divulgados
e a quantidade real de óbitos. nesta região que está concentrada
Além disso, conforme informa a a maior parte da população
Articulação dos Povos Indígenas indígena do país (11). Como
do Brasil (APIB), devido à falta exemplo, no Território Indígena do
de transparência e ausência de Xingu (TIX), que será tratado mais

. Última atualização em 19 de abril de 2021.


3

14 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


BRASIL

700

650

600

550

500

450

400
Casos

350

300

250

200

150

100

50

0
Abr/20 Mai/20 Jun/20 Jul/20 Ago/20 Set/20 Out/20 Nov/20 Dez/20 Jan/21 Fev/21 Mar/21 Abr/21

Indígenas mortos pela COVID-19 (Comitê) Indígenas mortos pela COVID-19 (Sesai)

Figura 3. Estimativa e apuração de óbitos da população indígena por


covid-19 - Fonte: Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena (2021)

adiante, os primeiros casos de Primeira Indígena (UAPIs) como


contaminação foram identificados estratégia de ação de saúde
em maio de 2020, somando um (13). As UAPIs são enfermarias
total de 996 casos e 19 mortes até de campanha idealizadas pelos
fevereiro de 2021 (12). Expedicionários da Saúde – uma
Frente à dimensão com que os organização médica humanitária
povos indígenas foram atingidos – junto ao Distrito Sanitário
pela pandemia e às dificuldades Especial Indígena (DSEI) do
de deslocamento para busca Rio Negro, unidade gestora do
de atendimento, foram criadas Subsistema de Atenção à Saúde
as Unidades de Atenção Indígena (SasiSUS).4

4
. Foram criadas UAPIs em locais estratégicos em diversas áreas da Amazônia como
TI do Xingu, TI Rio Negro, TI Yanomami, TI Panará, TI Mekrangoti, TI Baú, Reserva
Extrativista (RESEX) Riozinho do Anfrísio, RESEX Rio Iriri, RESEX Rio Xingu, TI Kaiapó,
TI Capoto/Jarina, TI Juminá, TI Uaça, TI Waiãpi, TI Parque do Tucumaque, TI Zoé, TI
Kaxuyana/Tunayana, TI Trombetas-Mapuera e TI Nhamundá-Mapuera.

15
Essas unidades são capazes para apoiar as ações voltadas à
de atender pacientes de baixa área de saúde no enfrentamento
complexidade, com uso de da covid-19, ao possibilitar o
equipamentos para estabilizar funcionamento de equipamentos,
doentes de covid-19 com a refrigeração e a conservação de
problemas respiratórios. Nesses vacinas (12).
locais o acesso à energia elétrica é
Como será discutido, o acesso à
fundamental para o atendimento
energia elétrica é indispensável
aos pacientes.
para o sucesso de iniciativas
Além disso, surgiram iniciativas desse tipo, na medida em
para viabilizar que as populações que fortalece a resiliência dos
indígenas ficassem em suas povos, favorece sua subsistência
aldeias, como campanhas para e cria condições para que
levantar recursos para adquirir as comunidades possam se
materiais de limpeza e higiene, desenvolver e ter acesso a outros
alimentos e ferramentas de serviços públicos essenciais.
agricultura (14). Cabe ressaltar
que a eletrificação também é
um dos fatores que facilitam que
as pessoas permaneçam em
isolamento social.
Somando-se a essas ações de
controle da pandemia, foi iniciada
a vacinação das populações
indígenas. No TIX, por exemplo,
quase metade da população já
recebeu a primeira dose (12).
Nesse contexto, a disponibilidade
de eletricidade é fundamental

16 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


17
D
iversos levantamentos Com relação às populações
demonstram os efeitos que vivem em áreas isoladas, o
positivos do acesso IEMA identificou que o acesso à
à energia para populações energia elétrica em instalações
anteriormente alijadas do comunitárias entre os indígenas
serviço. Segundo a Organização do TIX ampliou a sensação
das Nações Unidas para a de segurança da comunidade
Alimentação e Agricultura devido à possibilidade de oferta
(FAO), o acesso à energia de atendimento básico de
e combustíveis gera efeitos saúde, expansão do ensino no
multiplicadores importantes como período noturno etc. (19).
segurança alimentar, redução de
Vale destacar que o ideal é que
desnutrição, gestão sustentável
esse acesso seja viabilizado
dos recursos naturais e geração
por meio de energia de origem
local de trabalho (15). Dada essa
renovável, preferida pelos povos
importância do acesso à energia,
porque emite menos gases de
as Nações Unidas estabeleceram
efeito estufa, não depende de
o Objetivo de Desenvolvimento
combustíveis fósseis e elimina
Sustentável 7 (ODS 7) – Energia
ou reduz significativamente a
Acessível e Limpa, para convocar
poluição sonora.
os países à ação em assegurar
o acesso confiável, sustentável, Apesar dessa importância
moderno e a preço acessível à do serviço público de
energia para todos (16). energia elétrica, a realidade
se demonstra ainda mais
Os resultados do Programa Luz
complexa, pois as carências
para Todos (LpT) corroboram que
a eletrificação gera benefícios na sociais e econômicas, a
qualidade de vida reduzindo a dispersão territorial dos
pobreza, facilitando a integração povos, a dificuldade logística
de serviços públicos, melhorando e a condição das empresas de
o abastecimento de água, o distribuição de energia impõem
saneamento básico, o acesso à desafios adicionais para o
educação, entre outros (17, 18). provimento do serviço.5

5
. A maioria das distribuidoras que operam na Região Norte foram privatizadas
recentemente. Apenas a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) continua
sendo estatal.

18 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


Figura 4. Sistema Interligado Nacional: linhas em operação e expansões
previstas até 2024. - Fonte: ONS (Sem data)

3.1 Os Sistemas Isolados amazônicos


Parte expressiva da região da motivos já citados, a ausência
Amazônia Legal não é atendida de escala que justifique os
pelo Sistema Interligado investimentos em novas linhas e
Nacional (SIN), isto é, o sistema as características ambientais da
correspondente ao conjunto de região interferem na extensão
instalações e equipamentos que da rede de transmissão para
possibilitam o abastecimento essas áreas. Atualmente, os
de energia elétrica a partir das investimentos para essa região
redes de transmissão, como têm por objetivo conectar Boa
mostra a Figura 4 (20). Além dos Vista, em Roraima, ao SIN.

19
Figura 1 - Sistemas Isolados - Ciclo 2019
Figura 5. Localização dos Sistemas Isolados. - Fonte: EPE (2019)

De acordo com o Operador Via de regra, os sistemas


Nacional do Sistema Elétrico isolados localizam-se nas sedes
(ONS), qualquer sistema de dos municípios, enquanto as
geração que não esteja conectado regiões remotas dos sistemas
ao SIN é qualificado como um isolados compreendem pequenos
Sistema Isolado (21). Existem agrupamentos distantes
atualmente 235 localidades das sedes dos municípios,
isoladas no Brasil e a maioria caracterizados pela ausência
desses sistemas está situada na
de economias de escala ou de
região amazônica, principalmente
densidade populacional (21).
nos estados de Rondônia, Acre,
Amazonas, Roraima, Amapá e A maioria dos sistemas isolados
Pará (22), conforme evidenciado utiliza geradores movidos a
na Figura 5 (23). diesel para a geração de energia

20 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


elétrica. Esses sistemas possuem é amplamente difundido, as
elevados custos de geração, cadeias de fornecedores estão
baixa eficiência e elevada estruturadas e a comercialização
necessidade de manutenção, desse combustível gera receita
além de implicarem uma estadual por meio da cobrança
complexa logística de transporte de impostos, como o Imposto
do combustível e emissões de sobre Operações relativas à
gases de efeito estufa. Por outro Circulação de Mercadorias e
lado, o uso de diesel na região Prestação de Serviços (ICMS) (5)

3.2 A exclusão do acesso à eletricidade


e os desafios para o desenvolvimento
dos povos amazônicos
A região amazônica é a última redes de distribuição, seguindo
milha da universalização do uma lógica de que quanto
acesso à energia elétrica no maior o número de unidades
país. As razões para esse quadro atendidas, maior o valor
de exclusão são distintas, monetário obtido, ampliando
destacando-se as condições a base de remuneração das
econômico-financeiras das concessionárias. Em termos
distribuidoras, as características nacionais, a importância do
do mercado, os investimentos Programa Luz para Todos é
necessários e a ausência de uma inegável. Realizado entre 2004
política adequada, conforme as e meados de 2019, o programa
especificidades da região para o foi o maior já desenvolvido no
fornecimento de energia. país e viabilizou 3,4 milhões
As políticas de universalização de ligações, beneficiando 16,5
desenvolvidas até hoje milhões de pessoas, segundo
priorizaram os investimentos dados da Eletrobras, responsável
associados à expansão das por sua operacionalização (16).

21
de 2020, o Programa Mais Luz
para a Amazônia (MLA). O foco
do MLA é o atendimento às
Mas, após todos esses anos de
populações remotas da região
políticas para universalização
da Amazônia Legal (24). Esse
do acesso à energia, o desafio
programa, apesar de ser muito
das comunidades remotas na
similar ao LpT, orienta esforços
Amazônia Legal só começou a
para o atendimento dessa região
ser enfrentado recentemente.
a partir de fontes renováveis
Segundo estimativas do IEMA,
de energia. A meta inicial do
há atualmente cerca de 1 milhão
programa é atender 70 mil
de pessoas sem acesso à energia
famílias até 2022 (25).
elétrica na região (9). Desse
total, aproximadamente 500 Algumas constatações indicam
mil pessoas estão localizadas que é preciso definir estratégias
em comunidades remotas, cujo para acelerar e melhorar esse
atendimento depende da adoção processo, tendo em vista que
de sistemas de geração off- o país está alijando uma parte
grid, isto é, sem conexão com significativa da população do
a rede de distribuição. Apesar exercício do seu direito à energia.
das estimativas de exclusão do No atual contexto, é provável
acesso relativamente inferiores que o programa seja adiado,
aos números históricos do Luz pois, segundo informações
para Todos, os desafios não do MME, espera-se que a
serão menores. As dificuldades região da Amazônia Legal seja
de acesso às comunidades, as completamente universalizada em
prioridades de investimentos das 2030 e o programa se estende, a
concessionárias da Região Norte e princípio, até 2022 (26).
a falta de um modelo de negócios As possíveis prorrogações do
que atraia investidores tendem a prazo para universalização estão
impactar o processo. ligadas a dois fatores principais.
Diante desses desafios, o O primeiro é a maneira pela qual
Ministério de Minas e Energia a política de universalização está
(MME) criou, por meio do organizada, em que o prazo dos
Decreto 10.221, de 05 de fevereiro processos se dá muito mais em

22 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


função do ritmo estabelecido Outra preocupação diz respeito
pelas distribuidoras com à necessidade de o fornecimento
autorização da Agência Nacional de energia ser feito em níveis
de Energia Elétrica (Aneel), adequados para que os povos da
do que pelas necessidades Amazônia possam se desenvolver,
das comunidades. A segunda suprindo as demandas
está relacionada aos custos do relacionadas a atividades
programa, cobertos pela Conta produtivas, culturais, educacionais
de Desenvolvimento Energético e serviços de saúde.7
(CDE). Como o orçamento do
encargo é composto por vários
outros itens e pressiona as tarifas
dos consumidores de energia,
pode haver estímulos para que
se limitem os investimentos no
programa de universalização para
se reduzir tal impacto tarifário.
Como o custo do atendimento
das unidades consumidoras
tende a ser superior ao de
programas anteriores,
a implantação dos
projetos se estenderá
por anos, conforme
citado pelo MME.6

6
. Com essa realidade é urgente a revisão dos subsídios que impactam a Conta de
Desenvolvimento Energético, mantendo-se aqueles que são necessários e com alto
retorno social, como é o caso das políticas de universalização.

7
. De acordo com a International Energy Agency (IEA) (27), nos domicílios o acesso
à eletricidade deve viabilizar, inicialmente, alguns serviços básicos, como iluminação,
recarga de celular, rádio, refrigerador, ventilador e aparelho televisor; e o ideal é que
haja aumento da disponibilidade de energia ao longo do tempo, até atingir os níveis
da média regional. Considerando o uso de equipamentos padrão, o acesso a esses
serviços corresponde a um consumo mensal de 104 kWh, e, no caso de uso de apa-
relhos eficientes, 35 kWh.

23
O Mais Luz para a Amazônia renovável em comunidades
avança no sentido de indicar isoladas da Amazônia, onde
essa prioridade. Porém, seria mais de 8.900 pessoas foram
importante que ela também beneficiadas diretamente. Os
estivesse prevista nos normativos usos finais da energia podem
regulatórios do programa. Isso ser observados no Quadro 1
daria mais clareza tanto às (29). As demandas energéticas
distribuidoras como à Eletrobras e encontram similaridade nos
ao Ministério de Minas e Energia. serviços essenciais, distribuídos
Deve-se considerar que há uma nas atividades produtivas,
demanda reprimida significativa. domésticas e serviços públicos.
Em paralelo ao caso do Xingu,
Além disso, será fundamental que
detalhado a seguir, são comuns as
os processos de implantação dos
demandas por abastecimento de
sistemas de geração distribuída
água, saneamento, comunicação,
considerem protocolos de consulta
iluminação, conservação de
às comunidades e apresentem
alimentos, entre outros serviços.
certo grau de flexibilidade
para adaptações, conforme Mas aspectos culturais e o modo
as necessidades específicas de organização de cada povo
de cada comunidade. Dada a influenciam na sua relação com a
multiplicidade de povos e suas energia elétrica: aldeias maiores,
diferentes reivindicações, os usos por sua população, e os pólos-
de energia elétrica podem variar base, por sua posição estratégica,
de acordo com a forma pela qual a tendem a ter uma demanda
comunidade se organiza (28). maior de energia. Esses fatores
Nesse contexto, o Fundo podem conferir necessidades
Mundial para a Natureza (WWF) específicas, justificando as
compilou os resultados de diferenças na demanda de
diferentes iniciativas de energia energia de cada comunidade.

8
. A Resolução Normativa 493 de 2012 da Aneel, que regulamenta os critérios para
atendimento por meio de Sistema Individual de Geração de Energia Elétrica com
Fonte Intermitente (SIGFI) ou Microssistema Isolado de Geração e Distribuição de
Energia Elétrica (MIGDI), estabelece um limite de 80 kWh de disponibilidade mensal
de energia por unidade consumidora.

24 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


Serviços Atividades Atividades Serviços
energéticos produtivas domésticas públicos

Abastecimento
Irrigação, limpeza
Abastecimento de humano (beber,
e processamento
água, irrigação e tomar banho, lavar Saneamento
de produtos
saneamento louça, lavar roupa
extrativistas
etc.)

Comunicação (TV, Acesso a notícias,


Entretenimento,
rádio, telefone, coordenação com Atividades
acesso à
computador e fornecedores e educativas
informação etc.
internet) distribuidores etc.

Processamento de Trituração, moagem,


alimentos descasque de Uso de pequenos ----
produtos agrícolas eletrodomésticos
in natura (mandioca (liquidificador etc.)
etc.)

Refrigeração e
produção de gelo
Conservação de
para conservação Refrigeração de Refrigeração de
alimentos e outros
de produtos alimentos vacinas
produtos
comercializados
(pescados etc.

Escolas e
Iluminação de
Iluminação estabelecimentos
Iluminação currais, granjas,
residencial comunitários
campos etc.
funcionando à noite

Lazer,
Produção de
Geração de Eletrodomésticos entretenimento
artesanatos, uso de
energia (ventilador etc.) e diversos usos
cerca elétrica etc.
comunitários

Quadro 1. Usos de energia em comunidades isoladas da Amazônia -


Fonte: Adaptado de WWF (2020)

25
26
A
Bacia do Rio Xingu
representa grande
patrimônio da
diversidade socioambiental Queimadas no Corredor Xingu
da Amazônia (30). Possui o de Diversidade Socioambiental
segundo maior corredor de
Terras Indígenas em território
nacional, com um total de
139.517 km2. Quando somadas
às unidades de conservação
(UCs) da bacia, essas terras
formam o maior corredor
contínuo de áreas protegidas do
Brasil, com aproximadamente 27
milhões de hectares localizados
em 40 municípios dos estados
do Pará e Mato Grosso. Nele,
vivem centenas de famílias
ribeirinhas e 26 povos indígenas,
compondo uma população de
mais de 17 mil pessoas.
O corredor se encontra na
fronteira agrícola da Amazônia,
região que está sob intensa
pressão do agronegócio,
mineração e de atividades
ilegais ligadas à grilagem,
exploração madeireira e
desmatamento, conforme se
apresenta na Figura 6.
A maior parte dos povos que
habita o corredor garante sua
subsistência a partir da floresta
com a produção de itens como a Figura 6. Corredor de Terras Indígenas
castanha, borracha, mel, cumaru e e unidades de conservação na Bacia
óleos vegetais. do Rio Xingu - Fonte: ISA.

27
Algumas dessas produções
são realizadas há muito
tempo e outras estão
em desenvolvimento por
associações comunitárias
participantes da Rede
Xingu+. Gradualmente, essas
associações têm aderido à
iniciativa Origens Brasil, que visa
a comercialização da produção
da floresta com critérios de
comércio justo que valorizem Trata-se de um território
os serviços socioambientais multiétnico, plurilinguístico e
prestados por esses povos. com sistemas cosmológicos
O sistema proporciona e organização política interna
rendimentos acima da média na distinta. As aldeias estão
região, estimulando iniciativas distribuídas ao longo dos 1.500
sustentáveis de geração de km de rios que atravessam os
renda, a cultura dos povos da municípios mato grossenses de
floresta e o fortalecimento das Canarana, Paranatinga, São Félix
associações locais. do Araguaia, São José do Xingu,
Gaúcha do Norte, Feliz Natal,
Na parte sul do corredor
Querência, União do Sul, Nova
localiza-se o TIX, que é formado
Ubiratã e Marcelândia.
pelo conjunto dos territórios
contíguos do Parque Indígena Os limites geográficos do TIX
do Xingu e das Terras Indígenas com a maior parte desses
Wawi, Batovi e Pequizal municípios impõem um desafio
do Naruvotu, distribuídos de gestão. Os povos indígenas
em uma área de 2.825.470 devem ser capazes de planejar
hectares que compartilha uma e priorizar suas demandas,
mesma estrutura de gestão organizando sua participação
administrativa. Ao todo, são 16 política em cada uma das
povos indígenas em mais de 100 cidades sem perder de vista a
aldeias, com uma população de condição do TIX como unidade
aproximadamente 7 mil pessoas. territorial principal. Isso se

28 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


dá a partir do diálogo das
comunidades e suas associações
com diversas instâncias
administrativas municipais, que,
de necessidades coletivas e
embora sejam responsáveis
dificuldades de obtenção de
por várias ações do poder
diesel e seu elevado custo.
público ligadas aos indígenas,
Somam-se ainda a inconstância
comumente desconhecem a
do fornecimento de combustíveis
política indigenista.
pela Sesai e a disputa entre as
Os desafios relacionados ao próprias aldeias, pois a princípio
acesso à energia acentuam as as cotas de diesel são destinadas
condições de vulnerabilidade aos polos-base, locais com maior
de boa parte da população do demanda, já que concentram os
TIX. Historicamente a demanda centros de serviços de saúde,
de energia no território é logística, educação, sedes de
suprida por geradores a diesel associações étnicas e gestão de
instalados pela Sesai, Fundação atividades produtivas.
Nacional do Índio (FUNAI) e
Diante desse cenário, desde 2009
Instituto Socioambiental (ISA),
o ISA tem buscado alternativas
cuja gestão é realizada pelas
para ampliar o provimento
comunidades. Muitos desses
de energia elétrica para as
sistemas operam de forma
comunidades do TIX. Além
intermitente, tanto pela restrição
de suprir parte da demanda
ao acesso de combustível como
essencial, os objetivos são
pela precariedade de alguns
ampliar o conhecimento técnico
dos equipamentos após muito
local e contribuir na formulação
tempo de uso.9
de políticas públicas apropriadas
A insegurança energética está para os povos indígenas
ligada à demanda crescente excluídos dos sistemas formais de
pelo insumo para o atendimento fornecimento de energia.

9
. Em muitas comunidades o fornecimento de diesel não é suficiente para se manter
um atendimento regular com número de horas definidas ao longo do dia e há sérios
problemas com a manutenção desses sistemas.

29
As iniciativas para fornecimento de gestão territorial, protocolo
de energia elétrica no TIX, como de consulta, associativismo,
o Projeto Xingu Solar, descrito a produtos da floresta, formação
seguir, exemplificam algumas das de técnicos locais em energia e
muitas realidades encontradas estudo com análise de impacto
na Amazônia e desafios a serem do acesso à energia. Por isso,
enfrentados. Essas iniciativas podem auxiliar na proposição
merecem destaque por de ações para ampliar a
incluírem estudos de potencial infraestrutura energética para o
energético, projetos-piloto atendimento das comunidades, o
para o acesso à energia de uso que deve ser feito com diálogo,
comunitário, análise de cenários tecnologias adequadas a cada
de atendimento, assembleias realidade e estímulos à gestão e
de governança interna, plano inovação locais.

4.1 Projeto Xingu Solar


O projeto Xingu Solar foi em arranjos estruturados de
implementado pelo ISA na gestão comunitária.
Terra Indígena do Xingu entre Especificamente, o projeto tinha
dezembro de 2015 e setembro de três componentes:
2019, e teve como organizações
1. Instalar sistemas de energia
parceiras a Associação Terra
solar fora da rede em
Indígena do Xingu (ATIX) e
instalações da comunidade;
o Instituto de Energia e Meio
Ambiente (IEE) da Universidade 2. Treinar um mínimo de 100
de São Paulo (USP)10. Seu eletricistas indígenas locais; e
objetivo era planejar e implantar 3. Construir e promover
um modelo de referência de instalações locais replicáveis
geração de energia solar em e sistemas de gestão para
comunidades isoladas, com base eletricidade limpa fora da rede
nos potenciais locais e apoiado de geração.

10
. O Xingu Solar foi desenvolvido a partir do apoio da Fundação Mott que, dentro
do seu portfólio de Acesso à Energia, visa fornecer subsídio financeiro para o
desenvolvimento de projetos de energia limpa.

30 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


Demandas básicas Demandas adicionais

• Abastecimento de água • Comunicação por


internet
• Rádio comunicação
• Centros de produção
• Salas de tratamento dentário
de audiovisual
• Conservação de vacinas, soros
• Equipamentos para
e medicamentos
manutenção de
• Aparelhos médicos veículos
• Carregamento de aparelhos • Unidades de produção
portáteis
• Impressoras
• Carregamento de lanternas
• Computadores
• Iluminação dos prédios de
• Espaços para reuniões
uso público como escolas e
e eventos
unidades de saúde
• Acionamento de
equipamentos de saúde
(principalmente inaladores)
• Iluminação das casas
• Comunicação e telefonia
• Conservação de alimentos
• Televisores, receptores de
satélite e equipamentos de som
• Ferramentas que facilitam a
construção de casas
• Ferramentas que facilitam a
confecção de artesanato
• Ralador de mandioca

Quadro 2. Demandas por energia nas aldeias

31
A experiência acumulada pelo
ISA em 25 anos de trabalho e
diálogo permanente com as
comunidades locais possibilitou
a identificação das principais
necessidades por energia nas
aldeias e polos do território,
conforme exibido no Quadro
2. Enquanto as demandas
Para cumprir essas disposições, básicas são comuns às aldeias,
foram instaladas energia solar independentemente do número
e mini redes, com linhas de de habitantes, as demandas
transmissão elétrica enterradas. adicionais geralmente são
O projeto forneceu eletricidade requeridas em aldeias mais
no TIX para abastecer 4 escolas populosas – denominadas
e 52 salas de aula anexas; 37 centrais ou principais –, e
instalações de saúde; internet também nos pólos-base.
em 14 locais; 12 escritórios
Dentre as alternativas para
comunitários; 7 casas para
auxiliar no suprimento de
produção de mel e 4 casas para
energia elétrica para atender
processamento de sementes.
essas demandas, a opção de
Além disso, técnicos indígenas
maior viabilidade foi a energia
foram treinados na instalação e
fotovoltaica, por conta da
gestão dos sistemas solares.
facilidade de apropriação
Portanto, de maneira mais tecnológica pelas comunidades,
ampla, a iniciativa contribui pelo fato de a maioria das
na formulação de políticas necessidades se referir a usos
públicas que atendam a intermitentes e por não dificultar
demanda por energia elétrica as atividades cotidianas das
das comunidades isoladas famílias. Em contrapartida,
considerando as especificidades possui limitações e restrições
culturais desses povos. quanto a fornecer grandes

32 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


quantidades de energia. Além
do investimento na aquisição de
sistemas para o acionamento de
equipamentos de maior porte,
são necessários dispositivos
para armazenamento da energia.
Nesse sentido, as baterias têm
tido avanços tecnológicos dentro do território, acesso à
significativos nos últimos anos comunicação e à telemedicina”
que refletem em redução de (32). Com o acesso à energia
custos, mas ainda exigem elétrica e a incorporação
investimentos elevados. tecnológica, o quadro de
atenção à saúde indígena pode
A percepção geral entre os
melhorar (33).
moradores das aldeias que
receberam os sistemas solares Na percepção dos indígenas, os
é positiva (31). Considerando serviços de saúde são essenciais
que foram instalados em prédios para a manutenção de seu modo
comunitários, os maiores de vida: “sem a saúde não tem a
benefícios observados pelos cultura, né? Você tendo a saúde
habitantes e por participantes de você tem como praticar sua
outros projetos no Xingu recaem cultura, dançar, caçar, pescar,
na área da saúde. os dois estão ligados, uma com
a outra (sic)", afirma Kamatxi
De acordo com Evelin Plácido,
Ikpeng, cineasta indígena do polo
que é enfermeira do Projeto
Pavuru (32).
Xingu da Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp), “a Outro aspecto destacado, ainda
energia elétrica possibilita na questão da saúde, é a maior
acesso à água potável, ao segurança na disponibilidade de
atendimento odontológico e à energia elétrica em comparação
esterilização dos materiais, além com os geradores movidos
de possibilitar a imunização a diesel, o que garante a

33
semelhantes. Elas recaem sobre
os usos não comunitários da
energia elétrica – principalmente
pelos jovens –, a necessidade
de mais capacitação técnica
para manutenção dos sistemas,
a ausência de recursos
conservação adequada dos soros
para reposição de peças e
antiofídicos e vacinas, segundo
a insuficiência de potência
Marité Txicao, agente indígena de
de energia elétrica para os
saúde (32).11
equipamentos das aldeias.
Os indígenas também
Segundo Paulo Junqueira,
reconhecem que os painéis
coordenador adjunto do
solares causam menor impacto
Projeto Xingu Solar, como a
ambiental em relação aos
organização dessas comunidades
geradores a diesel. Dentre os
é baseada em grande medida
motivos, destacam-se a ausência
no atendimento aos interesses
de barulhos, ausência ou menor
coletivos, as questões referentes
emissão de gases de efeito
à disponibilidade de energia
estufa e a não dependência de
elétrica, seus usos e a operação
combustível fóssil para a geração
do sistema são discutidas em
de energia (31).
grupo, levando-os a encontrar
As preocupações sobre a soluções mais adequadas ao seu
energia elétrica dos grupos que modo de vida, isto é, soluções
receberam sistemas e os que xinguanas que são muito mais
não os receberam são muito eficazes para os problemas (32).

. Existe estrutura nos pólos para armazenamento dos soros antiofídicos, mas os
11

mesmos ainda não estão disponíveis, pois os protocolos de saúde exigem a presença
de médico no local de atendimento.

34 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


O Programa de Desenvolvimento Energético dos Estados
e Municípios (Prodeem), uma das primeiras iniciativas do
governo federal para viabilizar a instalação de sistemas
energéticos em comunidades isoladas, previa o treinamento
de pessoal da comunidade para realizar a manutenção
preventiva e corretiva dos equipamentos (34). Mas, pela
falta de acompanhamento e de avaliação, os sistemas
foram sendo desativados (35). Já no Programa Luz para
Todos, a dinâmica foi outra: a instalação e a realização da
manutenção dos sistemas de geração de energia ficou sob
responsabilidade da distribuidora.

Frente a essas duas experiências, exemplos como o


Projeto Xingu Solar demonstram a importância da
capacitação técnica, do envolvimento comunitário e da
apropriação tecnológica como caminhos para assegurar
a sustentabilidade das iniciativas. O contexto do MLA,
que reforça a necessidade de ações descentralizadas, a
gestão dos sistemas de geração de energia pela própria
comunidade pode também fortalecer a autonomia dos
povos e ampliar o senso de pertencimento.

Portanto, replicar essa experiência no âmbito do Mais Luz


para a Amazônia pode reduzir os custos de instalação,
operação e manutenção – diminuindo a pressão sobre a
Conta de Desenvolvimento Energético –, e possibilitar a
geração de empregos a nível local. Dessa forma, parcela
dos beneficiários seriam consumidores responsáveis e
mantenedores dos sistemas.

Box 1. Lições aprendidas e o papel das comunidades na gestão dos


sistemas de geração de energia em regiões remotas

35
36
C
omo descrito
anteriormente, este
documento consiste
em uma contribuição do IDEC
e do ISA para as discussões da
Rede Energia e Comunidades
e da sociedade em geral sobre
as políticas de universalização
do acesso à energia elétrica na
Nesse contexto, cabe avaliar
Amazônia Legal.
estratégias que poderiam
A pandemia de covid-19 acelerar esse processo, pois,
evidenciou a situação de no ritmo previsto, uma parte
vulnerabilidade dos povos que significativa da população do país
vivem em localidades remotas da continuará alijada do exercício
região devido à falta de acesso a de seu direito por muito tempo.
serviços essenciais. Como visto, Essa avaliação deve estabelecer
o acesso à energia elétrica, além uma agenda comum a partir da
de melhorar a qualidade de vida, articulação entre os diferentes
pode auxiliar no enfrentamento da atores – sociedade civil, MME,
crise de saúde pública e favorecer concessionárias e Aneel –,
a resiliência das comunidades. em regime de colaboração
com as lideranças indígenas e
De acordo com o MME, a
comunitárias.
universalização do acesso à
energia elétrica no país está Para isso, o ponto de partida é a
prevista para ocorrer em um prazo realização de um mapeamento
de seis a dez anos. Na forma completo das comunidades das
como está organizada, o prazo áreas remotas sem acesso à
dos processos se dá muito mais energia, para a elaboração de um
em função do ritmo e tempo plano nacional de eletrificação
estabelecido pelas distribuidoras, rural atualizado. Esse plano
do que pelas necessidades das deve ser construído a partir
comunidades. dos protocolos de consulta

37
às comunidades, de forma
a assegurar o atendimento
integral das demandas familiares
e produtivas de cada povo,
tendo em vista a diversidade
sociocultural existente.
Assim, poderá incentivar o
desenvolvimento sustentável
a partir do fomento às cadeias
produtivas ligadas à economia
florestal de baixo impacto,
deve prever a implementação
conservação da natureza e
de um programa robusto de
proteção do território.
treinamento e capacitação
Além disso, é preciso haver para a gestão dos sistemas. O
integração com outras políticas mapeamento de iniciativas bem-
e programas do governo, pois o sucedidas mostra que a operação
desenvolvimento sustentável das e manutenção dos sistemas pelas
comunidades também depende próprias comunidades ou suas
de ações nas áreas da saúde, associações contribuem para a
educação, moradia, saneamento maior autonomia desses povos.
básico e alimentação. Isso
Por fim, considerando essas
pode contribuir com a melhoria
recomendações e os pontos
da sua qualidade de vida e a
levantados ao longo deste
manutenção de sua cultura.
documento, as duas organizações
Ainda, além da implantação indicam os seguintes aspectos
dos sistemas de geração a serem considerados para a
distribuída em regiões remotas implementação e a aceleração
para expansão do atendimento, das políticas de universalização
a política de universalização nos próximos anos:

38 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


Priorizar instalações Buscar alternativas que
emergenciais que permitam facilitem a implantação
o acesso a serviços básicos dos sistemas.
de saúde e água tratada.
Verificar em que medida
Utilizar tecnologias que a gestão dos sistemas
facilitem o planejamento, a geração de energia pode
implantação e a operação dos ser realizada pela própria
projetos. comunidade.
Auxiliar na articulação de Dar transparência ao
diferentes atores para acelerar cronograma e aos
o acesso à energia elétrica e critérios para definição
superar a exclusão energética das metas estabelecidas
na Amazônia Legal. para as distribuidoras,
com monitoramento
Permitir o acesso das
e prestação de contas
comunidades a serviços de
frequentes.
energia seguros, sustentáveis
e de baixo impacto ambiental, Estabelecer data limite
com o fornecimento de para que o processo
energia em níveis suficientes de universalização da
para garantir o atendimento região amazônica seja
das suas necessidades totalmente concluído.
domésticas e produtivas.

39
6. Referências

40 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


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(16) PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO


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42 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


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htm#:~:text=Decreto%20n%C2%BA%207246&amp;text=DECRETO%20
N%C2%BA%207.246,%20DE%2028,SIN,%20e%20d%C3%A1%20outras%20
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(22) OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA (ONS). Sistemas Isolados. [Sem


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isolados>.

43
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Disponível em: <https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/
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(24) BRASIL. Decreto n° 10.221, de 5 de fevereiro de 2020. Institui o Programa


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[2020]. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
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(26) HAJE, L. Governo prevê prazo de 7 a 10 anos para que luz chegue a 72
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www.camara.leg.br/noticias/617876-governo-preve-prazo-de-7-a-10-anos-para-
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(27) INTERNATIONAL ENERGY AGENCY (IEA). Defining energy access: 2020


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Amazônica, 2017.

44 Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal


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socioambiental.org/acervo/publicacoes-isa/de-olho-na-bacia-do-xingu>.

(31) INSTITUTO DE ENERGIA E MEIO AMBIENTE (IEMA). Aprendizados e


desafios da inserção de tecnologia solar fotovoltaica no Território Indígena
do Xingu. São Paulo: Instituto de Energia e Meio Ambiente, 2019.

(32) Floresta Iluminada: energia limpa para os povos da Amazônia. Direção:


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(33) REDE XINGU+. Monitoramento covid-19 na bacia do Xingu. 6 nov. 2020.


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(34) BRASIL. Decreto de 27 de dezembro de 1994. Cria o Programa de


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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/dnn/anterior_a_2000/1994/Dnn2793.
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