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RESUMO
O Projeto de Cooperação Técnica BRA/IICA/09/001 celebrado entre o IICA e a
Eletrobras tem a finalidade de criar processos e metodologias para o
desenvolvimento da capacidade da Eletrobras e de seus parceiros na execução de
projetos com foco no atendimento de energia elétrica, com ênfase na utilização de
fontes renováveis de energia. O programa “Luz para Todos” atendeu até inicio de
2014 cerca de 3,0 milhões de famílias rurais, que em sua maioria, foram
beneficiadas com serviços de energia elétrica por meio de extensão de redes de
distribuição. No entanto, há uma significativa parcela de brasileiros em regiões rurais
remotas, onde nem sempre essa extensão é possível, demandando outras soluções
para o seu atendimento. Legislações específicas determinam que as
concessionárias devem atender à totalidade dos seus mercados por meio de
licitação, incluindo os custos diretamente associados à prestação do serviço de
1. INTRODUÇÃO
O Projeto de Cooperação Técnica BRA/IICA/09/001 (Acesso e uso da
energia elétrica como fator de desenvolvimento de comunidades do meio rural
brasileiro), firmado entre o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura
(IICA) e a Eletrobras, tem por finalidade a criação de processos e metodologias para
o desenvolvimento da capacidade da Eletrobras e de seus parceiros na execução de
projetos com foco no atendimento de energia elétrica, com ênfase na utilização de
Fontes Renováveis de Energia (FRE), e no seu uso produtivo como vetor de
desenvolvimento de comunidades rurais.
A Lei nº 10.438, de 26 de abril de 2002, dispõe sobre a universalização do
serviço público de energia elétrica e o Decreto nº 7.520, de 8 de julho de 2011,
institui o Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso de Energia
Elétrica – “LUZ PARA TODOS (LPT)”, para o período de 2011 a 2014.
O Programa LPT completa dez anos de existência no ano de 2014,
atendendo cerca de 3,0 milhões de famílias rurais, que em sua maioria, foram
beneficiadas com serviços de energia elétrica por meio de extensão de redes de
distribuição. No entanto, há uma significativa parcela de brasileiros em regiões rurais
remotas, onde nem sempre essa extensão é possível, demandando outras soluções
para o seu atendimento, como a utilização de Sistemas Individuais de Geração com
Fontes Intermitentes (SIGFI) e Minissistemas Isolados de Geração e Distribuição de
Energia Elétrica (MIGDI).
As publicações da Lei nº 12.111, de 09 de dezembro de 2009, do Decreto nº
7.246, de 28 de julho de 2010, Decreto nº 7.355, de 5 de novembro de 2010,
Portaria MME nº 600, de 30 de junho de 2010 e Portaria MME n° 493, de 23 de
agosto de 2011, que dispõem sobre os serviços de energia elétrica nos Sistemas
Isolados, determinam que as concessionárias devem atender à totalidade dos seus
mercados por meio de licitação, incluindo os custos diretamente associados à
prestação do serviço de energia elétrica em regiões remotas dos Sistemas Isolados,
caracterizadas por grande dispersão de consumidores e ausência de economia de
escala.
Logo, os agentes de distribuição de energia elétrica deverão anualmente
submeter à aprovação do Ministério de Minas e Energia (MME) o planejamento do
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atendimento dos mercados nos Sistemas Isolados, para o horizonte mínimo de cinco
anos.
Com base nesse planejamento, as concessionárias de energia elétrica
devem submeter Projetos de Referência que busquem a redução do custo total da
geração nos Sistemas Isolados, para avaliação e habilitação pela Empresa de
Pesquisa Energética (EPE). E apenas recentemente as concessionárias
apresentaram os primeiros Projetos de Referência.
Diante desse contexto, no qual há ainda uma variável adicional relacionada
a mudanças na legislação pertinente, além do processo todo ser muito recente para
as concessionárias, é oportuno o desenvolvimento de ferramentas de engenharia
econômica que auxiliem a análise dos Projetos de Referência atuais, visando
eventuais correções e melhorias nos próximos Projetos.
O presente artigo demonstra uma metodologia criada e aplicada neste ano na
concessionária Eletrobras Amazonas Energia, possibilitando que se analise o fluxo
de caixa dos futuros Projetos de Referência que vão a Leilão para interessados do
setor privado. A metodologia possibilita analisar ainda a taxa interna de retorno do
investimento, o índice de lucratividade e o payback sob diversas óticas e simulando
cenários distintos até se chegar na melhor relação custo-benefício sob a ótica da
concessionária, mas sem deixar de ser atrativo para um possível investidor. A
metodologia mostra ainda a possibilidade de se comparar, sob a ótica do investidor,
a atratividade de Projetos de Referência em relação às oportunidades
disponibilizadas atualmente pelo mercado financeiro brasileiro.
2. A METODOLOGIA
A metodologia nasceu de uma consultoria realizada dentro da
concessionária Eletrobras Amazonas Energia, em Manaus, sendo financiada pelo
Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). A demanda, que
deu origem à metodologia e a uma ferramenta em planilha eletrônica, veio da
necessidade de se avaliar 74 Projetos de Referência, usados como base para as
futuras licitações da concessionária, para eletrificação com energia solar fotovoltaica
de comunidades isoladas nas cidades de Carauari e Barcelos no Amazonas.
A metodologia parte dos dados dos Projetos de Referência dos MIGDIs e
SIGFIs das 74 comunidades, e permite análise do fluxo de caixa dos projetos dentro
do horizonte previsto para os futuros contratos de licitação, analisar indicadores
destes projetos (taxa interna de retorno, lucratividade e payback), além de comparar
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o retorno financeiro de se investir em Leilões de energia com as aplicações
financeiras comuns do mercado, visando comparar atratividade e garantir
interessados nos Leilões. Passos usados para se chegar à metodologia:
Obtenção de dados dos Projetos de Referência para as comunidades-alvo
Levantamento bibliográfico com relação a custos e fluxo de caixa
o Custos fixos e custos variáveis
o Balanço patrimonial real de empresas do setor elétrico
o Manual de Contabilidade do Serviço Público de Energia Elétrica
o Depreciação de equipamentos
Levantamento de informações sobre impostos e taxas incidentes em
empresas com a característica de PIE – Produtor Independente de Energia
Definição e coleta de série histórica de cinco aplicações financeiras mais
usadas no mercado para comparação
Montagem do fluxo de caixa para cada uma das comunidades estudadas
Cálculo de critérios de investimento para os empreendimentos analisados
(taxa interna de retorno, índice de lucratividade, payback)
Criação de opções para se realizar simulações com o fluxo de caixa
(obtenção de empréstimo em banco, atuação no percentual da carga de
custos para avaliar redução dos mesmos e o impacto nos indicadores)
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Os custos de instalação são dependentes do tipo de energia usada na
eletrificação. Para o caso de energia solar fotovoltaica, são necessários para cada
comunidade: o custo total dos painéis fotovoltaicos, o custo do banco de baterias,
custo de controladores, custo dos inversores, custo da minirrede (para os MIGDIs),
custo do padrão de entrada e do kit de instalação interna, o custo da automatização
da minirrede (caso seja automatizada), custo do sistema de monitoramento (se a
planta for monitorada via satélite), custo da rede inteligente (se aplicável), os custos
acessórios, custo de transporte de equipamentos, custo de pessoal e custo de
transporte de pessoal.
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produtiva, e o custo da gerência e administração da unidade produtiva.
Também conhecido pela sigla (MSO) conforme tratamento adotado pela
ANEEL no Plano de Contas (ANEEL, 1997).
E os custos variáveis de produção são os custos diretos de produção que
variam diretamente, ou quase diretamente, com o volume de produção, tais
como materiais indiretos e mão-de-obra indireta.
Na maior parte da literatura são considerados como partes que compõem os
custos de geração:
𝐸(𝑐) = 𝐶𝑇 = 𝐶𝐹 + 𝐶𝑉
Ou seja, o custo total (CT) é igual a soma do custo fixo (CF) com o custo
variável (CV). O Gráfico 01 ilustra essa composição.
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Quadro 01 – Estrutura do Fluxo de Caixa usado no artigo
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Fonte:
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Apoio_Financeiro/Produtos/FINEM/energia
_geracao_renovavel.html
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Na parte inferior do DRE, para efeito de análise comparativa e avaliação de
investimentos, foram escolhidos e calculados alguns indicadores importantes.
No que diz respeito aos indicadores associados à rentabilidade dos projetos
foram considerados:
Valor Presente Líquido (VPL): calcula, em termos de valor presente, o
impacto dos eventos futuros associados a uma alternativa de
investimento. A regra decisória é investir se o VPL for positivo.
Taxa Interna de Retorno (TIR): compreende determinar a taxa intrínseca
de rendimento do investimento. Matematicamente, a TIR é uma taxa
hipotética que anula o VPL. De forma prática, se a TIR for maior ou igual
que a TMA dos Projetos de Referência, então o investimento tem um
rendimento ótimo.
No que diz respeito a indicadores associados ao risco dos projetos, foi
considerado:
Período de Recuperação do Investimento (payback): compreende a
indicação do tempo, em anos, de recuperação de um investimento. Em
outras palavras indica quantos anos serão necessários para que o valor
presente dos fluxos de caixa previstos se iguale ao investimento inicial.
Índice de Lucratividade (IL): estabelece a relação entre o valor presente
das entradas líquidas consideradas no fluxo de caixa e o investimento
inicial. O investimento será rentável sempre que o valor presente das
entradas for superior ao investimento inicial realizado, ou seja, sempre
que o índice de lucratividade apurado for superior a unidade.
A depreciação anual dos equipamentos deve também ser considerada é a
função direta da vida útil dos mesmos. É um custo presente no fluxo de caixa.
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geração da energia. Neste caso, o fluxo de caixa deve prever, a cada ano, essa
expansão. A ferramenta de cálculo deve estar adequada a essa situação.
3. USANDO A METODOLOGIA
A metodologia deu origem a uma ferramenta em planilha eletrônica, onde se
consolidou os conceitos e as demandas impostas para a consultoria. Todos os
dados de custos detalhados dos Projetos de Referência das 74 comunidades
isoladas dos municípios de Carauari e Barcelos foram empregados e os resultados,
apresentados de forma resumida na seção de CONCLUSÕES, serviram para que a
concessionária refletisse sobre as premissas adotadas nos projetos e para avaliar o
quão atrativo os projetos de tornaram para um investidor. A ferramenta calcula o
fluxo de caixa do empreendimento, em seguida o Demonstrativo de Resultado de
Exercício, onde os indicadores financeiros puderam ser calculados para cada
comunidade-alvo (valor presente líquido, taxa interna de retorno, índice de
lucratividade e payback). Em seguida, o retorno alcançado com o empreendimento é
comparado com opções disponíveis no mercado financeiro.
4. CONCLUSÕES
De uma forma geral, partindo de dados reais dos Projetos de Referência da
Concessionária Eletrobras Amazonas Energia, e do modelo de negócio adotado por
ela para os futuros Leilões de energia para as comunidades isoladas de Carauari e
Barcelos, mais de um cenário foi avaliado. Indo desde o mais modesto ao mais
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rentável, o único cenário que apresentou fluxo de caixa negativo ou prejuízo foi
quando se simulou 100% do valor de investimento por empréstimo.
Toda a questão esteve centrada em apresentar um cenário onde a
rentabilidade do investimento estivesse acima da TMA estabelecida e que fosse do
mesmo patamar dos índices mais rentáveis disponíveis no mercado financeiro.
À luz do fluxo de caixa, da rentabilidade, do índice de lucratividade e do
payback, chega-se à conclusão de que existem várias situações nas quais investir
nos Projetos de Referência é bem atrativo, por exemplo, financiando-se 50% do
investimento, baixando os investimentos em 10% por negociação durante a fase de
compra dos equipamentos e “enxugando” os custos em 5% por meio de uma
melhora na gestão da empresa ou de se cortar os custos. A lucratividade, nesta
situação, é de cerca de 11%. No cenário de uso de 100% de capital próprio, o
retorno chega a 19%.
A escolha de uma TMA em torno de 12% traz o desafio que os projetos
tenham um retorno tão bom quanto os melhores ativos disponíveis no mercado
financeiro. Isto foi mostrado neste trabalho ao se apresentar os índices da seção 2.5
e ao se apresentar os cenários descritos no parágrafo acima.
A conclusão final que se pode chegar, com relação ao modelo de negócio
proposto para os Projetos de Referência pela concessionária Eletrobras Amazonas
Energia, ao se utilizar a ferramenta deste artigo, é que os cálculos com TMA de 12%
e período de contrato de 20 anos são adequados. Talvez, à partir do momento que
os primeiros Leilões ocorrerem e os projetos passarem pra fase de execução, com
informações dos primeiros anos de funcionamento dos MIGDIs e SIGFIs, o modelo
possa ser reavaliado.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEEL. “Manual de Contabilidade do Serviço Público de Energia Elétrica”.
Disponível em: http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/leitura_arquivo/arquivos/Manual-
01-2009-despacho-4815-de-2008.pdf. Visitado em: 09/05/2014.
ANEEL. Resolução nº 001 de 24 de dezembro de 1997.
AWERBUCH, S.; BERGER, M. “Applying Portfolio Theory to EU Electricity Planning
and Policy-Making”, Working Paper EET/2003/03, International Energy Agency,
Paris, feb. 2003.
LEONE, G. “Curso de contabilidade de custos”. São Paulo: Atlas, 1997.
SÁ, A. L. “Custo de qualidade total”, Boletim, São Paulo, n.2, 1995.
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