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Faculdade de Educação
CAMPINAS
2017
GONZALO NICOLÁS GAETE DÍAZ
CAMPINAS
2017
Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): CNPq, 190567/2014-7
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Faculdade de Educação
Rosemary Passos - CRB 8/5751
Título em outro idioma: Contradictions in the market and education : a critical discourse
analysis of the "Escola Social do Varejo"
Palavras-chave em inglês:
Youth insertion
Training for Work
Education for work
Critical Discourse Analysis
Linguistics of Corpus
Área de concentração: Educação
Titulação: Mestre em Educação
Banca examinadora:
Silvio Donizetti de Oliveira Gallo [Orientador]
Silvio Gamboa
Samuel Mendonça
Data de defesa: 29-03-2017
Programa de Pós-Graduação: Educação
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
COMISSÃO JULGADORA:
Samuel Mendonça
A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.
2017
À memoria de Aaron Swartz, ao esforço de Alexandra Elbakyan e de todas as pessoas que
contribuem à liberação do conhecimento e a livre circulação das ideias.
AGRADECIMENTOS
Contradictions in Education and the Market: A Critical Analysis of the Discourse of the
Social School of Varejo
Key words: Youth integration, Job training, Work education, Discourse analysis, Corpus
Linguistics.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Introdução ................................................................................................................. 14
Capítulo I – Liberalismo, neoliberalismo, discurso e crise como governo .......... 27
Do liberalismo ao neoliberalismo............................................................................... 27
A crise do modelo....................................................................................................... 42
Do Governo gerencial ao Estado avaliador ................................................................ 49
O modelo como crise .................................................................................................. 51
Introdução
O estado atual de nosso modelo socioeconômico, quanto à sociedade, pode ser
entendido como uma economia de natureza capitalista e globalizada e que, como se explicará
mais à frente, se encontra em um constante processo de crise. Assim, o sistema econômico
internacional vem experimentando nos últimos 30 anos um desenvolvimento geográfico
desigual, pois a diferença de renda entre o 20% da população mundial que vive nos países
mais ricos e o 20% que vive nos países mais pobres no ano 1960 era na proporção de 30 para
1, no ano 1997 chegou à proporção de 74 para 1, mesmo nos países de maior
desenvolvimento econômico, o sistema capitalista não conseguiu atingir as altas taxas de
crescimento que anteriormente tinham ajudado na imposição internacional do modelo
econômico neoliberal. (HARVEY, 2007)
O sucesso da economia neoliberal nos países desenvolvidos da América do Norte e
Europa inicialmente propiciou a constante carreira para dar alcance ou ‘catching up’ aos
países que lideravam a economia mundial (Bresser-Pereira, 2010). Lembro como no início
dos anos 90, em minha infância, ouvia nos telejornais, em Santiago do Chile, como o nosso
país iria se converter, num prazo menor que 10 anos, em uma economia desenvolvida.
Evidentemente, após a crise dos mercados asiáticos ou ‘la crisis asiática’ do ano 98 a pouca
credibilidade que tinha o discurso de que o Chile iria tornar-se uma economia desenvolvida
no médio prazo sumiu para não voltar.
Hoje, ninguém teria a coragem de propor datas para ver a consolidação de alguma
das economias da região latino-americana se convertendo em uma economia desenvolvida, as
apostas estão orientadas às políticas que permitam manter as condições atuais para não se
converter no próximo estado fracassado do subcontinente. Ainda que o governo do turno, em
parceria com os organismos internacionais derivados da ONU ou promotores do
desenvolvimento econômico em regiões emergentes, trabalhe permanentemente na busca do
pleno emprego, desenvolvendo projetos que consideram a execução e planejamento de
estudos, programas e políticas públicas que ajudem na criação de economias mais fortes e que
permitam o desenvolvimento de sociedades mais equitativas e produtivas.
Seguindo essa diretriz, existe uma serie de organizações de caráter internacional que
estudam e propõem diferentes ações em diferentes áreas para ajudar no sucesso das
economias locais e internacionais. A maioria das quais se encontra vinculada às Nações
Unidas, tais como: a OIT (Organização Internacional do Trabalho) e o CEPAL (Comissão
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Econômica para a América Latina e o Caribe). O trabalho de pesquisa desenvolvido por estas
instituições é de uma grande abrangência, já que consegue trabalhar com dados de diversos
países e regiões, e também é uma boa fonte de informação no momento de se abordar de uma
área de estudo.
Assim, e seguindo os delineamentos propostos nos trabalhos feitos por estas
instituições, surge a ideia amplamente compartilhada de que para o desenvolvimento destas
sociedades equitativas e produtivas a integração social dos jovens é indispensável,
envolvendo dimensões como a educação, saúde, reconhecimento de empregos, trabalho, entre
outros (GONTERO; WELLER, 2015).
O fornecimento de igualdade de oportunidades para que cada jovem possa ter a vida
que ele escolher é um dos principais objetivos dos países, sejam estes desenvolvidos ou não
(GONTERO; WELLER, 2015). E a educação aparece como um dos elementos mais
relevantes para que os jovens sejam um motivo de esperança para a causa da liberdade e
desenvolvimento na América Latina, com o acesso ao trabalho decente e ao desenvolvimento
de uma trajetória laboral e social positiva (OIT, 2010).
Mas, qual é a situação de empregabilidade da juventude latino-americana? A
resposta para esta pergunta pode ser encontrada nos estudos mencionados acima. Segundo
uma publicação da OIT do ano 2010, a realidade é que na América Latina existem 6,7
milhões de jovens à procura de emprego e que não conseguem encontrá-lo. No caso
brasileiro, o desemprego dos jovens entre 18 a 24 anos chegou a 17,21%, três vezes maior que
o desemprego das pessoas entre 25 e 65 anos que chegou aos 4,85%.
Com esta superficial revisão das condições atuais da juventude na região, as contas
não são muito positivas para os jovens que tentam abrir um espaço no competitivo mercado
laboral. Já que, mesmo trabalhando, os jovens têm condições precárias de trabalho, isto é,
com maiores jornadas laborais e menores salários ao serem comparados com trabalhadores de
outras faixas etárias e 55% dos jovens ocupados da região trabalha em empregos informais
(OIT, 2015a)
No intento de dar uma resposta às precárias condições de emprego relacionadas à
população jovem dos países da região, a interrupção no processo educativo tem sido vista
como uma das variáveis que mais intervém na empregabilidade juvenil (OIT, 2015b). A
baixa qualificação da juventude é apresentada como uma das explicações da situação de
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emprego nos jovens, os quais, seguindo a linha argumentativa, não teriam as competências
adequadas para satisfazer as necessidades do mercado de trabalho.
É assim que a problemática do desemprego juvenil e a precariedade de quem
consegue um trabalho torna-se um ponto importante nas agendas políticas dos países em
questão, considerando que as cifras mencionadas podem trazer repercussões sociais,
econômicas e políticas, já podem produzir situações sociais críticas que levantam
questionamentos ao sistema, como a instabilidade e marginalização, e que podem, de fato,
afetar a governabilidade. Além de que o potencial dos jovens não é aproveitado
adequadamente para o desenvolvimento econômico (OIT, 2015a).
Como resultado da crescente preocupação dos governos neste tema, foram
desenvolvidos numerosos programas e projetos com a intenção de reverter a situação. Mesmo
que estes projetos não tenham conseguido mudar a situação dos trabalhadores jovens, os
esforços não têm diminuído, e a OIT preparou um informe no ano 2015 para expor as
experiências que tem se gerado na região. ‘Formalizando la Informalidad Juvenil’ é o nome
do relatório que esta organização fez para falar das experiências inovadoras na América
Latina e o Caribe.
Segundo esse estudo (OIT, 2015a) os enfoques que tem as políticas que buscam
aumentar os índices de emprego e a qualidade dos postos de trabalho atuam especificamente
em três áreas:
sua adaptação às mudanças de eventos e circunstâncias. Porém, a ACD não pode nos dizer
quais textos são significativos em termos dos efeitos constitutivos dos discursos na vida
social, isto requereria análises institucionais e históricas que se materializa nos estudos
baseados na Análise Histórica do Discurso (FAIRCLOUGH, 2001, 2006).
Esta análise (a ACD) entende a linguagem como uma prática social e considera que o
contexto de uso da linguagem é crucial (WODAK; MEYER, 2003), também busca ser uma
abordagem para a análise de discurso que poderia ser usada como um método para investigar
mudanças sociais (FAIRCLOUGH, 2001) e sua natureza crítica vem dada da seguinte
reflexão:
Isto é, a ACD se propõe investigar de forma crítica a desigualdade social tal como é
expressa, sinalada, constituída e legitimada pelos usos da linguagem, no discurso (WODAK;
MEYER, 2003).
Nesse sentido esta dissertação de mestrado pretende, por meio do uso da ACD,
metodologia e teoria que não se pretende neutra em relação ao tema pesquisado, produzir um
estudo sobre o papel que tem o discurso na instauração, manutenção e superação dos
problemas sociais.
Assim, a proposta é estudar, por meio da ACD, os documentos escritos para a
execução da Escola Social do Varejo, tanto os dirigidos aos professores como para os alunos e
assim determinar quais são os pressupostos que existem por trás, quanto à função da educação
para o trabalho, às condições atuais na sociedade e o papel que os jovens têm para se
desenvolver neste cenário.
Para isso a pesquisa pretende guiar-se pelas seguintes perguntas:
Do liberalismo ao neoliberalismo
Ao discutir as formas de exercício de poder sobre a vida da população presentes nos
distintos tipos de governo e como são articulados tais mecanismos, especificamente no plano
legal que vai ser a área que determina ou que pode ou não ser feito, é que se recorre ao
conceito de governamentalidade do filosofo francês Michel Foucault.
A governamentalidade é entendida como o conjunto de técnicas de governamento,
novas formas implementadas na ação administrativa de governo da população. Com a
inclusão deste conceito, Foucault é capaz de analisar a atividade de reger a conduta dos
homens em um contexto por meio do uso dos instrumentos estatais, evitando recorrer ao
conceito de Estado em seu uso mais usual (DUARTE, 2011). Foucault vai definir o Estado
como uma instituição sem entranhas, sem interior, para ele o Estado não é nada mais que o
efeito móvel de um regime de governamentalidades múltiplas (FOUCAULT, 2008).
Com a noção de governamentalidade Foucault procurava referir-se a políticas de
administração, afastando-se da figura do Estado e seu omnipotente e omnipresente poder,
desenvolvendo uma proposta que fala dos poderes exercidos por meio de técnicas difusas e
discretas de governamento dos indivíduos em diferentes domínios. O sistema de
governamento liberal só é possível porque exerce os micropoderes de um modo múltiplo,
ambos os níveis são inseparáveis, entendendo que a teoria dos micropoderes é uma questão de
método, e não de escala (DUARTE, 2011: LAZZARATO, 2013).
Apresentando o conceito de governamentalidade tal como foi feito até agora parece
que fosse um elemento próprio do Estado, próprio do exercício do poder. Nada mais longe da
verdade, Foucault pretende demonstrar que a governamentalidade surge como uma técnica de
governamento desenvolvida ao longo do século XVIII. Então, como é que se constituiu esta
particular forma de governar, este aparelho de controle chamado governamentalidade, que
controla o espaço público e privado, econômico e não econômico? A explicação de Foucault é
bastante extensa, mas visando o desenvolvimento de uma resposta suficientemente explicativa
se começa desde o conceito de “governo frugal”, ou a arte de governar o menos possível
(FOUCAULT, 2008).
Esta diminuição da participação do Estado ou princípio regulador do mesmo
apareceu com o cálculo da razão de Estado na economia política em conjunto ao regime de
verdade que tem por traz. Esta verdade se origina na posição que consegue o mercado no
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[...] na medida em que [os preços] são conformes aos mecanismos naturais do
mercado, vão se constituir um padrão de verdade que vai possibilitar discernir nas
práticas governamentais as que são corretas e as que são erradas. Em outras
palavras, o mecanismo natural do mercado e a formação de um preço natural é que
vão permitir -quando se vê, a partir deles, o que o governo faz, as medidas que ele
toma, as regras que impõe- falsificar ou verificar a prática governamental. Na
medida em que, através da troca, o mercado permite ligar a produção, a necessidade,
a oferta, a demanda, o valor, o preço, etc., ele constitui nesses sentido um lugar de
veridição, quero dizer, um lugar de verificabilidade/falsicabilidade para a prática
governamental. Por conseguinte, o mercado é que vai fazer que um bom governo já
não seja simplesmente um governo que funciona com base na justiça. O mercado é
que vai fazer que o bom governo já não seja somente um governo justo. O mercado
é que vai fazer que o governo, agora, para poder ser um bom governo, funcione com
base na verdade. (FOUCAULT, 2008, p. 45)
Então esta forma de governar vai ter na sua relação com o mercado a referência da
verdade e de como devem ser feitas suas intervenções, dando lugar a uma nova razão
governamental relacionada diretamente com a economia política, dando lugar ao fim do
Estado possuidor de uma governamentalidade integral, emergindo uma governamentalidade
autolimitada. Fazendo uma breve, mas necessária, referência ao conceito de
governamentalidade integral, esta vai se entender como a que existe onde o Estado é um
governo que se confunde com a administração que tem para si o peso integral de uma
governamentalidade (FOUCAULT, 2008).
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Este Estado, com linha de tendência ilimitada, tinha como único contrapeso as
instituições judiciárias as que problematizavam o direito do soberano de exercer seu poder e
em que limites judiciais, a ação do soberano pode se inscrever. A relação que tentava
equilibrar o ‘ilimitado’ poder do Estado é de caráter externo dado com as instituições de
direito (FOUCAULT, 2008).
Foucault (2008) também descreve o relacionamento da governamentalidade
autolimitada com o direito e a problemática das limitações que sofrerá o Estado, e, com isto, a
necessidade de formular juridicamente limitações que não paralisem o acionar do governo,
sem sufocá-lo. A pergunta, ou o problema, dirá Foucault, é como o Direito vai construir as
bases para articular o exercício do poder público, dada a existência de um espaço em que a
não-intervenção governamental é absolutamente necessária, não pelo direito mesmo, mas por
razões de verdade.
A centralidade da problemática anterior, da verdade do mercado e o conseguinte
direito que regula o Estado, vai ser exemplificada por Foucault (2008) no fato de que as
faculdades de Direito na França tenham sido ao mesmo tempo faculdades de Economia
Política. O fato de procurar a liberdade de mercado produz a impossibilidade de separar a
economia política da problemática do direito público, e, com isto, a limitação do poder
público.
Foucault (2008) vai entender este processo de autolimitação da governamentalidade
como um deslocamento do centro de gravidade do direito público, passando da problemática
da fundação da soberania e da legitimidade do soberano, à discussão de como limitar
juridicamente o exercício do poder público.
Ao momento de definir a nova razão de Estado da limitação do poder soberano, se
encontram dois olhares. O primeiro, de caráter revolucionário (da Revolução Francesa), parte
desde o estabelecimento dos direitos do homem para chegar a definir as delimitações da
governamentalidade. E o segundo, o radical, que procura definir o campo de atuação do
Estado desde a própria governamentalidade, isto é, analisando as práticas desde a utilidade
das intervenções governamentais. Assim, por um lado existe a ideia da vontade coletiva em
que os indivíduos têm aceitado ceder certos direitos e outros que preferem reservar, e pelo
outro, uma divisão da lei onde se separa a esfera da intervenção do poder público e a esfera de
independência dos indivíduos (FOUCAULT, 2008).
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No conflito destes dois olhares, destes dois sistemas heterogêneos dirá Foucault
(2008), existe também uma evidente e incessante conexão. E como em muitos casos se
encontra o ideal que se mantém no tempo e se fortalece e, evidentemente, o que regride. O
primeiro sistema apresentado, correspondente à axiomática revolucionaria e do direito público
e do homem, acabará retrocedendo sob a influência crescente do caminho empírico e
utilitário, da independência dos governados em base à necessária limitação do governo. Em
específico esta limitação será entendida como a limitação jurídica do poder público em termos
de utilidade governamental.
A importância desta tendência é tal que não só define a história do liberalismo
europeu, também a história do poder público no Ocidente, e Foucault (2008) adiciona:
Em resumo, a perspectiva desta nova razão governamental que vai ter nos
mecanismos de troca do mercado o principal lugar de veridição, especificamente no relativo à
relação valor/preço, se encontra com a intervenção em base ao princípio de utilidade, isto é,
troca do lado do mercado e utilidade do lado do poder público. Foucault (2008) explica que
tanto a troca no mercado, quanto a utilidade para limitar o poder público encontrarão no
interesse a categoria geral que abrange ambas as práticas, já que o interesse corresponde ao
princípio da troca e o critério da utilidade.
O que dá por resultado, segundo Foucault (2008), um jogo complexo entre os
interesses individuais e coletivos, utilidade e direitos fundamentais do lado do social e o
benefício e independência do lado econômico. Mas o mais relevante se constitui no fato de
que nesta nova razão governamental a tarefa do Estado é a manipulação de interesses.
Assim se obtêm um governo que já não intervém diretamente sobre coisas ou
pessoas, o governo só vai ter legitimidade no direito para agir na medida em que existam
interesses envolvidos, já seja, a nível individual, confrontação de indivíduos ou os interesses
de todos. O que é resumido na seguinte frase de Foucault (2008, p. 62): “O governo só se
interessa pelos interesses”.
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Para explicar a afirmação anterior Foucault (2008) vai utilizar um exemplo, em suas
próprias palavras, notável. A partir do século XVIII com o princípio da suavidade das penas
uma “fina película fenomenal dos interesses” se interpõe na punição soberana, baseado no
fato de que a punição, a razão governamental, só pode agir em função dos interesses da
pessoa lesada, da reparação dos danos, etc. Assim o governo em seu novo regime já não
exerce nos sujeitos ou nas coisas, agora ele vai agir sobre o que poderia ser chamado como a
república fenomenal dos interesses.
Quando se explica que o Estado se encontra limitado na sua razão de governo e que
também é obrigado de respeitar a liberdade dos indivíduos, não quer dizer, diz Foucault
(2008), que o governo se limita pela liberdade dos indivíduos, vai se limitar pela evidência. E
esta evidência vem das análises econômicas que descobrem que há de fato mecanismos
espontâneos (naturais) na economia, e que todo bom governo deve respeitar, então, o governo
tem de conhecer esses mecanismos econômicos para comprometer-se a respeita-los.
Resumindo, serão estas evidências dos mecanismos espontâneos e naturais da economia as
que delimitarão a prática governamental à manutenção das distintas liberdades desejadas.
Esta governamentalidade liberal, não no sentido de deixar mais espaço para a
liberdade, é liberal no sentido de consumir liberdade na medida em que só pode funcionar se
existe efetivamente certo número de liberdades: liberdade do mercado, liberdade do vendedor
e do comprador, livre exercício do direito de propriedade, liberdade de discussão,
eventualmente liberdade de expressão, etc. Assim, o liberalismo não é o que aceita a
liberdade, é o sistema de governamento que procura fabrica-la, produzi-la, a liberdade é algo
que se fabrica a cada instante (FOUCAULT, 2008).
Não obstante esta arte liberal de governar precisa de uma formidável extensão dos
procedimentos de controle, coação e coerção para construir a contrapartida e o contrapeso das
liberdades. Para isso, a governamentalidade liberal, vai encontra na vigilância o mecanismo
de ação que só lhe permita intervir quando veja que alguma coisa não acontece como exige a
mecânica geral dos comportamentos, trocas, ou da vida econômica.
Assim conclui uma resumida revisão dos elementos que definem a forma de governo
liberal, seus pressupostos e como criou uma razão governamental que produzia e consumia
liberdade para as trocas de mercado e uma função pública baseada na utilidade e no interesse.
Já revisadas as origens deste liberalismo se apresentarão, também de um modo superficial, as
caraterísticas de um revisionismo liberal, também conhecido como neoliberalismo.
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permanente de todos os agentes que possam participar dentro desses processos econômicos.
Todos os parceiros da economia, agentes como investidores, agentes como operários, e
agentes como empresários, que tal como se explicou antes, na medida em que aceitam o jogo
econômico da liberdade, produzem um consenso de caráter político, produzem o circuito
“instituição econômica-adesão global da população a seu regime e a seu sistema”.
A imposição do mercado econômico como elemento definidor da representatividade
governamental do Estado, a liberdade econômica co-produzida pelo crescimento do bem-estar
produz um sistema económico-político alemão, dirá Foucault (2008), do Estado e do
esquecimento da história. Aos poucos a nova razão de governo foi aceita pelos partidos
políticos alemães, primeiro da Democracia Cristã, os sindicatos, aos fins da década dos anos
40’, e dos socialistas em 1955 com o lançamento do livro Socialismo e concorrência,
propondo a fórmula: “concorrência tanto quanto possível e planificação na medida justa e
necessária”, ou o que é o mesmo: “planificação para manter a concorrência”.
Os liberais de Friburgo, ou os ordoliberais, encontram no Estado nazista a resposta às
críticas que recebia a economia de mercado. Assim, em resumo, os ordoliberais acreditavam
que o nacional-socialismo era causa e efeito de um crescimento infinito do poder do Estado,
ao mesmo tempo em que destruía o tecido da comunidade social. Assim, a defectibilidade e os
efeitos destruidores objetados à economia de mercado, é responsabilidade do Estado, ou em
outras palavras, produto das problemáticas intrínsecas do Estado e da sua racionalidade
(FOUCAULT, 2008).
Segundo Foucault (2008) esta análise feita do nazismo vai permitir uma espécie de
reviravolta na relação da economia de mercado com o Estado. Os ordoliberais assumem que
como não há provas de que a economia de mercado tenha defeitos e que tudo o que lhe
atribuem como defeito é a causa da defectibilidade inerente do Estado, é esta economia de
mercado quem deve se constituir como princípio organizador e regulador do Estado. Um
Estado sob a vigilância do mercado em vez de um mercado sob a vigilância do Estado.
O neoliberalismo não é, de maneira nenhuma, a ressurgência de velhas formas de
economia liberal, já não se trata apenas de deixar a economia livre, o importante é saber até
onde se podem estender os poderes de informação políticos e sociais da economia de
mercado. Se o mercado pode, efetivamente, reformar o Estado e a sociedade (FOUCAULT,
2008).
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respetiva concorrência), em vez de governar por causa do mercado (BILGER, 1964 apud
FOUCAULT, 2008).
Para Foucault (2008), na perspectiva dos ordoliberais, o fato de entender os distintos
elementos essenciais do mercado como fenômenos naturais seria uma ingenuidade naturalista,
e que a concorrência não é um resultado natural, os efeitos benéficos dela se devem a uma
lógica interna e que seus efeitos só se produzem se essa lógica é respeitada. Portanto, a
concorrência pura nunca poderá ser alcançada, só pode ser um objetivo que pressupõe uma
política infinitamente ativa.
Então esta concorrência, que já não é entendida como um fenômeno natural encontra
sua capacidade de regular a economia no fato de ser uma estrutura, uma estrutura formal e são
em base as suas propriedades pode intervir no mecanismo dos preços que pode regular a
economia. Com uma forte estrutura interna e uma fragilidade histórica e real importante, o
problema era organizar de fato o espaço concreto em que a estrutura formal da concorrência
pudesse atuar, e ainda, projetar estes princípios formais da economia de mercado numa arte
geral de governar, numa governamentalidade desde o mercado (FOUCAULT, 2008).
E no processo de constituição do neoliberalismo como o novo liberalismo, Foucault
(2008) faz referência a uma importante reunião, o “Colóquio Walter Lippmann”. Que contou
com a presença de vários ilustres da economia liberal, Röpke, Baudin, Hayek e Von Mises,
entre outros; nesta reunião foram discutidos os elementos que este novo liberalismo devia
possuir além de estabelecer uma comissão permanente de discussão o CIERL (Comissão
Internacional de Estudo para a Renovação do Liberalismo).
No contexto destas reuniões, colóquios e comissões foram estabelecidos uma série de
premissas que iriam definir este renovado liberalismo. Este neoliberalismo devia ser positivo,
um liberalismo intervencionista, intervencionista no sentido de criar políticas vigilantes de
governo, governamentalidades em função do mercado. Neste sentido há três frases muito
reveladoras que diferenciam este neoliberalismo de todos os outros; Eucken dirá: “O Estado é
responsável pelo resultado da atividade económica”; Böhm propõe o Estado como quem tem
que dominar o devir econômico; e Miksch diz que nesta política liberal é provável que o
número das intervenções económicas seja tão grande quanto numa política planificadora, mas
esta planificação é de uma natureza diferente (FOUCAULT, 2008, p. 184).
Foucault (2008) explica, citando a Von Misses, como a questão clássica dos
monopólios é resolvida no neoliberalismo. O problema do monopólio, para os liberais
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clássicos, se entende como um fenómeno próprio das práticas da concorrência, e que atuam
limitando o processo, então, para salvar à concorrência dos seus próprios efeitos é necessário
intervir sobre os mecanismos econômicos. Mas, para o neoliberalismo o monopólio
corresponde a um corpo estranho ao processo económico, e que assim como a concorrência
não é um fenómeno natural o monopólio tampouco.
Então, para os neoliberais, o monopólio é produto da intervenção dos poderes
públicos, seja por meio da concessão de monopólios a indivíduos ou famílias ou práticas de
herança, apresentando ao monopólio como fenómeno do intervencionismo governamental, e
em especifico na forma do protecionismo do Estado. Embora, para os neoliberais seja
inegável a tendência à concentração e ao monopólio numa economia de mercado, existe um
ótimo de concentração em que o regime capitalista é capaz de se equilibrar (FOUCAULT,
2008).
Assim, em sua dinâmica, a economia da concorrência em uma série de variáveis
sempre consegue contrabalançar a tendência à concentração. Um exemplo de como o
monopólio é contrabalançado pela própria dinâmica da economia, é dado por Von Misses no
contexto do Colóquio Walter Lipmann. Deste modo, o monopólio é apresentado como um
fenómeno perturbador já que age sobre os preços, aumentando-os sem que caiam as vendas
nem os lucros, mas impossível de praticá-lo (FOUCAULT, 2008).
Seguindo com o exemplo, Von Misses dirá que a prática deste preço de monopólio
produz o eventual aparecimento de um fenômeno concorrencial que contrabalança o
monopólio. Então, continua no caso de que um monopólio deseje manter sua condição de tal,
deverá aplicar um preço idêntico ao preço de concorrência. Por meio desta “política do como
se”, atuar como se houvesse concorrência, não é necessário intervir no processo econômico
dado sua estrutura reguladora inerente que nunca se desregulará (FOUCAULT, 2008).
Foucault (2008) repara na questão das ações conformes, que são as ações
desenvolvidas nos espaços adequados para manter as condições ‘saudáveis’ da economia, tais
intervenções seriam nas condições do mercado e não nos mecanismos dele. Eucken propõe
duas intervenções: as ações reguladoras e as ações ordenadoras.
As primeiras, as reguladoras, procuram manter a estabilidade dos preços, não como
algo fixo, mas com o controle da inflação, criando taxas de desconto ou redução moderada de
impostos, mas nunca utilizando ferramentas da planificação (tabelamento de preços,
subsídios, ou criação de empregos). A estabilidade do preço possibilitará a manutenção do
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poder aquisitivo, como a existência de um nível de emprego mais elevado, mas o pleno
emprego não é um objetivo.
Enquanto as ações ordenadoras, estas agem sob o seguinte pressuposto: dado que o
processo de regulação econômico-político é o mercado, as bases materiais, culturais, técnicas
e jurídicas devem ser adequadas para o funcionamento da economia de mercado. Isto pode ser
por meio do controle da população, produzindo movimentos migratórios, desenvolvendo
capacidades técnicas e educativas, entre outras. Em resumo, adequar à moldura do sistema
cultural ou social para o funcionamento ‘adequado’ do sistema econômico-político da
economia de mercado (FOUCAULT, 2008).
O anterior se faz visível ao revisar a concepção que os ordoliberais têm de uma
política social. Para eles não é possível a repartição do acesso de cada um aos bens de
consumo, não é possível a regulação econômica, o mecanismo dos preços se obtêm por um
jogo de diferenciações, não de igualizações. O único que pode ser feito é tirar dos
rendimentos mais altos uma parte destinada ao consumo, ou ao sobreconsumo, e transferir
essa parte para os que se encontrem em desvantagem definitiva, tratando de que as pessoas
que estejam no subconsumo possam ter um mínimo vital para assegurar sua própria existência
(FOUCAULT, 2008).
E o instrumento para efetivar estas políticas sociais não será outro que a privatização,
não será a sociedade quem garanta os riscos dos indivíduos, se espera que seja a economia
quem dê o suficiente para que todo indivíduo tenha rendimentos suficientemente elevados
para se garantir em relação aos riscos existentes. “Não se trata de assegurar aos indivíduos
uma cobertura social dos riscos, mas de conceder a cada um uma espécie de espaço
econômico dentro do qual podem assumir e enfrentar os riscos” (FOUCAULT, 2008, p. 198).
Neste momento se apresenta um elemento importante da proposta neoliberal, já que
se entende que é o que quer intervir a governamentalidade e de que forma vai ser feito. O
objetivo é intervir na sociedade para que os mecanismos concorrenciais possam ter o papel de
regulador desejado, não se trata de um governo do econômico, é um governo da sociedade. E
a natureza desta intervenção, a forma, será generalizando a forma da empresa como
enformador da sociedade, não uma sociedade da mercadoria ou da uniformidade da
mercadoria, mas na multiplicidade e na diferenciação das empresas (FOUCAULT, 2008).
Com esta multiplicação das empresas, e conseguinte abertura do espaço de ação,
Foucault (2008) destaca o fato de que aumentam as superfícies de atrito entre cada uma dessas
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consumo, este novo homem consumo, ao momento em que consome ele produz, e não produz
outra coisa que sua própria satisfação.
Então esse homo oeconomicus, empresário de si mesmo e que tem como capital para
obter sua renda-salário a competência-máquina, que vai ser chamada de capital humano, e que
não pode ser dissociado do seu portador humano, vai introduzir elementos na análise
econômica que não pertenciam a seu território de pesquisa. Um novo elemento que entra na
análise econômica é o que corresponde aos elementos que compõem o capital humano e que
são entendidos como elementos inatos e adquiridos.
Foucault (2008) aborda a discussão dos elementos inatos do capital humano desde
uma perspectiva biológica e genética, e a ‘ficção-cientifica’ que traz a possibilidade de
condicionar caraterísticas pessoais em função reconhecer caraterísticas de risco para o
desenvolvimento de doenças, e, portanto, uma diminuição do capital humano, ou o que se
pudesse chamar de capital humano genético.
E do lado dos elementos adquiridos da formação do capital humano é entendido
desde os investimentos educacionais, e que vão ser considerados como muito mais amplos
que o aprendizado escolar ou aprendizado profissional. Acrescentando elementos tais como o
tempo que os pais consagram aos seus filhos, e que se verão em crianças mais adaptáveis aos
contextos laborais que as crianças com menos horas de cuidados paternos, ou o nível de
cultura dos pais. Assim são vários os elementos que passam a serem considerados no processo
de investimento em capital humano, os movimentos migratórios, assuntos de higiene, entre
outros (FOUCAULT, 2008).
Com esta perspectiva do capital humano se faz uma leitura chave para os objetivos
desta pesquisa, como a problemática da economia do terceiro mundo é entendida. A não
decolagem da economia não é entendida desde os mecanismos de bloqueio econômico, mas
em termos de insuficiente investimento do capital humano, ou a insuficiência do capital
humano que possuem os jovens pobres na América Latina.
Com a generalização da forma econômica no neoliberalismo, esse modelo começa a
funcionar como o princípio de inteligibilidade, de decifração das relações sociais e dos
comportamentos individuais. Também se generaliza a forma “empresa” no corpo e no tecido
social, de modo que a vida dos indivíduos esteja inscrita no âmbito de uma multiplicidade de
empresas, bastante limitadas em seu tamanho para que a ação do indivíduo possa ter algum
efeito significativo no seu funcionamento, e bastante numerosas para que ele não fique
42
dependente de uma só. Criando assim um desdobramento do modelo oferta e procura para
fazer o modelo das relações sociais, um modelo da existência, de relação do indivíduo
consigo mesmo (FOUCAULT, 2008).
Esse aumento na abrangência da economia como elemento de decifração dos
processos não-econômicos, acaba na asseveração de que toda conduta que responda de forma
sistemática a modificações nas variáveis do meio, ou que “aceite a realidade” deve poder
resultar de uma análise econômica. Então, temos o homo oeconomicus, como aquele que
aceita a realidade, aquele que vai responder sistematicamente a modificações sistemáticas
modificações artificialmente introduzidas no meio. O homo oeconomicus é aquele que é
eminentemente governável (FOUCAULT, 2008).
Ora, nesse contexto do mercado como elemento de inteligibilidade o Estado deve
construir um novo objeto de governamentalidade, já que conta no tecido social com uma série
de sujeitos de direito, que a sua vez, são sujeitos econômicos. Pelo que devem ser envolvidos
por um novo conjunto, um novo espaço de referência, para uma nova arte de governar que se
constitui na sociedade civil (FOUCAULT, 2008), sociedade civil que não é o espaço de
fabricação de autonomia em função do Estado, mas a correlação das técnicas de governo
(LAZZARATO, 2006).
A crise do modelo
A economia neoliberal, como foi revisada, já existia como proposta econômica no
momento em que começou a Segunda Guerra Mundial, mas não foram até os anos 1970 que
se concretizaram as práticas neoliberais em diferentes economias em escala global. Até então,
e desde o fim da Segunda Guerra, a proposta econômica imperante na Europa, Estados
Unidos e Japão considerava que o Estado devia concentrar-se no pleno emprego, no
crescimento econômico e no bem-estar dos cidadãos, além da intervenção nos processos de
mercado, enfim, uma política entendida comumente como ‘keynesiana’ (HARVEY, 2008).
Essa economia, também chamada de liberalismo embutido, produziu elevadas taxas
de crescimento econômico nos países desenvolvidos durante os anos 1950 e 1960, mas os
intentos de levar o desenvolvimento econômico para os países do Terceiro Mundo
fracassaram, tanto na África quanto na América do Sul. Mas foi no final dos anos 1960 que o
sistema econômico começou a ruir, desencadeando uma crise de ‘estagflação’. As taxas de
câmbio fixo foram abandonadas a causa da crise em 1971, e o ouro não funcionou como a
base metálica da moeda internacional (HARVEY, 2008).
43
trabalhadores e o salário dos CEOs passou de 30 para um em 1970 a quase 500 a um para o
ano 2000.
Nesse mesmo sentido o PNUD (1999, apud. HARVEY, 2008) vai dar conta de que a
diferença de renda entre os 20% da população do mundo que vive nos países mais ricos e os
20% da população que vive nos países mais pobres aumentou de 30 para um em 1960, a 60
para um em 1990. Embora tenha exceções a essa tendência, principalmente em países do
Leste e do Sudeste asiático com limites razoáveis nas desigualdades de renda e a França em
uma situação similar.
Harvey (2008) entende que é possível interpretar a neoliberalização de duas
maneiras, a primeira como um projeto utópico de realizar um plano teórico para reorganizar o
capitalismo internacional, ou, a segunda, como um projeto político de restabelecimento das
condições da acumulação do capital, além de restaurar o poder das elites econômicas. Na tese
de que a segunda ideia foi a que prevaleceu, o autor entende que o neoliberalismo não foi
eficaz ao momento de revitalizar a acumulação do capital global, mas foi ótimo na restauração
ou criação, no caso russo e chinês, de uma nova elite econômica.
Assim, Harvey (2008) entende o argumento utópico neoliberal como uma proposta
para justificar e legitimar as políticas necessárias para alcançar o fim proposto, a restauração
do poder ou a criação de novas elites. Já que considerando os dados, no momento em que os
princípios neoliberais conflitam com a necessidade de restaurar o poder da elite, tais
princípios são abandonados ou distorcidos.
Para explicar a ascensão deste modelo econômico Harvey (2008), faz referência a
uma reunião que depois iria se constituir numa sociedade, a Mont Pelerin Society. Este grupo
corresponde a uma continuação do trabalho teórico e político do já mencionado ‘Colóquio
Walter Lippmann’, e que contava com muitos nomes em comum. Por exemplo, Hayek e
Mises, adicionando personagens como Milton Friedman e temporalmente ao filósofo Karl
Popper.
Na declaração de fundação da sociedade estabeleceram a ameaça do indivíduo e do
grupo autônomo pelo avanço do poder arbitrário, este poder que ameaça a liberdade de
pensamento e reflexão, por um grupo minoritário que busca apenas galgar uma posição de
poder. Esse poder nega os padrões morais absolutos e questiona o caráter desejável do regime
de direito, além de procurar o declínio da crença na propriedade privada e do mercado
competitivo (HARVEY, 2008).
45
anos 1970 caíram para 2,4%, baixaram para uma taxa de crescimento de 1,4% e 1,1% nos
anos 1980 e 1990, e não conseguiram subir do 1% a partir de 2000, ou seja, o neoliberalismo
não conseguiu estimular o crescimento (HARVEY, 2008).
Ao percorrer o globo nos anos 1980 e 1990 é possível encontrar a precária situação
em que se encontraram as economias internacionais a causa de diversas políticas neoliberais.
O caso russo apresenta uma caída na renda per capita a uma taxa anual de 3,5%, levando a
uma grande parcela da população à pobreza diminuindo a expectativa de vida das pessoas de
sexo masculina em cinco anos, na América Latina o neoliberalismo produziu estagnação ou
surtos de crescimentos ou colapso econômico. Isto levou a um aumento da economia informal
em todo o mundo, passando de um 29% nos anos 1980 para 44% na América Latina na
década de 1990, e os indicadores globais de saúde, expectativa de vida, mortalidade infantil
não são mais altos que os existentes nos anos 1960 (HARVEY, 2008).
Demonstrando a importância do controle do discurso, Harvey (2008) expõe como a
mídia propagou que os Estados fracassaram por não serem competitivos. Dado que a
concorrência precisa da desigualdade para estimular empreendedores e inovação, o fracasso
das classes inferiores em obter melhores condições materiais foi explicado em base a razões
pessoais e culturais, devido a uma falida tarefa de aprimorar seu capital humano, já que no
mundo neoliberal darwiniano só os mais aptos devem sobreviver.
Mas nem tudo foi ruim para o neoliberalismo; espetaculares mudanças foram
experimentadas dando a aparência de dinamismo ao processo. Para as finanças e os serviços
financeiros teve um importante aumento na remuneração, e no desenvolvimento de cidades
globais de finanças. Com mercados especulativos de imóveis urbanos, que se converteram nos
principais mecanismos de acumulação do capital. Outro elemento que evidenciou uma
expansão das tecnologias da informação (TICs), com um aumento do investimento que na
década de 1970 não passava dos 20% chegou aos 45% na década do ano 2000, enquanto as
parcelas relativas ao investimento na produção e nas infraestruturas físicas declinaram. Tais
tecnologias, as TIs, se constituíram como as privilegiadas do capitalismo, dada sua facilidade
para ser utilizada em atividades especulativas aumentando o número de contratos, e o sucesso
da indústria cultural relacionada com esta tecnologia permitiu desviar a atenção do fracasso de
investimento em elementos sociais básicos (HARVEY, 2008).
49
Esta reforma do Estado pretende misturar diferentes elementos que a priori parecem
até opostos, mas que Bresser-Pereira (2000) faz parecer totalmente compatíveis, a reforma é
apresentada como uma prática gerencial, social democrática e social liberal. É democrática ao
supor um regime democrático e deixa claro o carácter político da administração pública. É
social democrática porque afirma o papel do Estado de garantir direitos sociais de um modo
eficiente. E, é social-liberal porque acredita no mercado como um ótimo, mas imperfeito
alocador de recursos, limitando a ação do Estado às áreas em que o mercado se encontra
ausente.
Para Bresser-Pereira (2000) o Estado moderno está constituído por três setores; o
primeiro, o setor das atividades exclusivas de Estado, onde o Estado se constitui como o
poder de regulação para os membros da organização e da sociedade toda e que inclui, além
das tradicionais funções do Estado, o controle sobre as agências reguladoras, agências de
fomento e controle dos serviços sociais (educação, saúde e cultura), pesquisa científica e de
seguridade social básica; o segundo, é o setor de serviços não-exclusivos do Estado, são os
que o Estado provê mas que também podem ser oferecidos pelo setor privado e público não-
estatal, compreendendo o os serviços de educação, saúde, cultura e pesquisa científica; e o
terceiro, o setor de produção de bens e serviços, que são oferecidos pelas empresas estatais.
Marcando a importância de que o Estado gerencial não é o único agente para
responder em questões de educação, Bresser-Pereira (2000) entrega o exemplo da Grã-
Bretanha e suas universidades e hospitais deixaram o controle estatal para ser organizações
quase-não-governamentais, que em nenhum sentido é privatizar as instituições, senão levá-las
do controle do Estado para o controle público. O que não é comentado por Bresser-Pereira é o
contexto em que as universidades e hospitais passaram a ser controle do Estado, deixando o
acontecimento como parte do desenvolvimento gerencial do Estado, sendo que foi Margaret
Thatcher quem em sua política de privatização e de parcerias público-privadas criou o
conceito de instituições quase-governamentais (HARVEY, 2008).
Voltando na questão do Estado gerencial, serão três as instituições organizacionais
que emergem com a reforma: agências reguladoras, agências executivas e as organizações
sociais. As agências reguladoras têm autonomia para regulamentar os setores empresariais
que não sejam suficientemente competitivos, e as agências executivas se ocuparam da
execução das leis. Enquanto às organizações sociais, elas estão dirigidas ao campo dos
serviços sociais e cientificas, atividades que o Estado já executa, mas não lhe são exclusivas, e
51
que pertenceriam ao setor público não-estatal e que para receber a dotação orçamentaria
precisam da autorização do parlamento (BRESSER-PEREIRA, 2000).
Para estas organizações públicas não-estatais o Estado gerencial tem estratégias
especificas, a competição administrada ou quase-mercados. Isto é, que os parâmetros
utilizados para avaliar os resultados destas organizações serão comparados com os de outras
agências de similares condições e atividades, ou seja, que ‘competem’ entre si (BRESSER-
PEREIRA, 2000).
O público não-estatal que é também conhecido como “terceiro setor”, é parte da
reforma do Estado gerencial ou social-liberal que pretende se opuser tanto ao Estado Social-
Burocrático, quanto ao Estado Neoliberal. Esse Estado pretende com o financiamento das
organizações públicas não-estatais melhorar a eficiência introduzindo flexibilidade e
competição aos serviços de educação, saúde, cultura e assistência social (BRESSER-
PEREIRA, 1999).
neoliberalismo não era simplesmente uma teoria econômica, mas uma filosofia política, uma
teoria do direito, uma história econômica e uma sociologia histórica compreensiva.
Este grupo de militância política, que a sua vez propõe uma história econômica e
uma sociologia histórica, se constitui como um utopismo teórico neoliberal que visa justificar
e legitimar o que fosse necessário fazer para alcançar um fim, o da restauração do poder da
elite, e que sempre que teve conflito entre os pressupostos teóricos neoliberais e o projeto de
recuperação de poder da elite esses pressupostos foram distorcidos ou simplesmente
abandonados (HARVEY, 2008).
Por exemplo, após a crítica feita por Friederich, o nome de neoliberalismo foi negado
pelo Mont Pelerin Society, negando qualquer que quebre com o liberalismo clássico,
procurando manter uma continuidade com a efetividade da doutrina política do século XVIII.
Outro elemento ‘esquecido’ foi a postura antimonopólios e corporações gigantescas que
propus Henry Simons entendendo a estes elementos a principal ameaça aos preços, e vendo
no monopólio o principal inimigo da democracia. Por outro lado, a Mont Pelerin Society
continuou defendendo a necessidade de uma Economia livre - Estado forte, entendendo que o
princípio de um Estado forte era necessário para promover a liberdade econômica e os
mercados, neutralizando assim as patologias da democracia.
De fato, existem antecedentes da relação direta entre a doutrina neoliberal e os
governos autoritários, em particular se encontra a relação entre a ditadura de Pinochet no
Chile com Hayek e Friedman, até o ponto que numa entrevista com o jornal chileno El
Mercurio, Hayek declarou: “Uma ditadura pode restringir-se e uma ditadura que
deliberadamente se restringe pode ser mais liberal em suas políticas do que uma assembleia
democrática que não tem limites” (HAYEK, 1982, apud. FISHER, 2009, p. 328).
Considerando que o Estado neoliberal é mais bem entendido como um movimento de
militância social e política dirigida a Estados nacionais e aos sistemas reguladores dos
governos de caráter internacional do que como uma forma específica do Estado, é possível
continuar a revisar o relacionamento mutuamente constitutivo que tem o neoliberalismo com
as crises (DEAN, 2014).
Esta relação começa no início do neoliberalismo como movimento, com a crise das
décadas de 1930 e 1940, a traves da qual saiu da periferia das políticas públicas para se
estabelecer como uma importante força para fins da década de 1970. E tem se transformado
de maneira flexível e se adaptado a cada crise que existiu, nesse sentido um dos importantes
54
referentes do neoliberalismo, Milton Friedman, considera que só por meio de uma crise, seja
real o percebido, pode produzir uma mudança verdadeira.
Outro dado da relação da crise com o neoliberalismo surge da análise das causas da
crise financeira de 2008 nos Estados Unidos, onde o US Financial Crisil Inquiry Commision
Report, ou FCIC, determinou que o que causou a crise foram os mais de 30 anos de
desregulamentação e confiança na auto-regulação das instituições chave, onde a economia
tinha se despojado de salvaguardas fundamentais (DEAN, 2014).
Na medida em que a crise seja entendida como parte de um ciclo, um elemento que
pode ser antecipado, e por tanto, administrado da melhor forma possível, a preocupação pelo
que ainda não acontece leva a outro enfoque, à criação de dispositivos de governamentalidade
baseados na iminente catástrofe (DEAN, 2014; ARADAU; VAN MUNSTER, 2011).
Produzindo regulamentações do sistema financeiro ou de outros domínios, as propostas
seguem um arco que vai desde a precaução até a preparação, e do risco até a catástrofe, e não
só para ter a precaução necessária em condições de incerteza, mas para fomentar a resiliência
(DEAN, 2014).
Para entender a construção deste cenário de catástrofe iminente é útil conhecer os
elementos que existem por traz destas mudanças, para Walker e Cooper (2011, apud. DEAN,
2014) atualmente existe um passo de regime de governo baseado na teoria do equilíbrio
clássico para um fundado nos sistemas ecológicos de C.S. Holling e generalizado por Hayek.
Assim existe uma economia que se possui uma energia que vai perturbar qualquer equilíbrio
que possa ser alcançado, junto às crises que podem atacar desde o exterior à economia, em um
contexto em que a narrativa explica aos sistemas ecológicos, econômicos e sociais em um
desenvolvimento a uma maior complexidade e sujeito a catástrofes imprevisíveis, e que são
produzidas externa e internamente.
A seguir se apresenta o que Dean (2014, p. 159-160) entende como a principal
mudança deste novo neoliberalismo:
Junto a esta eterna espera da catástrofe que precisa ser gerenciada, existe outro
movimento dentro do neoliberalismo, uma nova versão do neoliberalismo que visa um
transito interior onde seriam reposicionados os referenciais austríacos, que se encontravam
subordinados ao domínio da versão neoliberal estadunidense. Deixando de lado ao ‘homem
econômico’, os modelos de concorrência perfeita e o equilíbrio pelas noções funcionais e
ajustadas como o empreendimento, a figura do empresário, levando ao deslocamento desde a
concepção do homem econômico até o conceito do empresário/empreendedor (PUELLO-
SOCARRÁS, 2008).
No cenário da crise econômica internacional existiu quase unanimidade no momento
de encontrar os elementos que provocaram o colapso econômico: a desregulação do mercado.
Outrora laissez-faire considerado a condição sine qua non da economia neoliberal, agora era
sindicado como o responsável do fracasso do livre mercado. Assim personagens como Peer
Steinbrück, Ministro de Finanças da Alemanha entre os anos 2005 e 2009 declarou que o fato
de que os mercados deviam ser liberados da regulação tanto como fosse possível são
argumentos errados y perigosos, e que os mercados financeiros globais tinham se tornado
monstros, na mesma linha Horst Köhler, diretor gerente do FMI entre os anos 2000 e 2004
propus civilizar os mercados por meio de uma ação decidida dos governos com uma maior
regulação (PUELLO-SOCARRÁS, 2016).
Para produzir a mudança de neoliberalismo foi necessário entender o que Fukuyama
definiu como o colapso de certa versão do capitalismo, a economia estadunidense é a
responsável com seu mantra de menos governo (PUELLO-SOCARRÁS, 2016). Entendendo
que uma versão do neoliberalismo tinha se esgotado, era importante definir que outro
neoliberalismo ia ocupar esse lugar e as principais respostas, evidentemente, vieram do
interior desse coletivo de pensamento.
As críticas ao modelo neoliberal vieram de todos os cantos, inclusive do interior do
FMI, o antigo credo fundomonetarista entendeu a necessidade de aprender desta crise, para
alguns a mais espetacular da história do capitalismo, revisando pressupostos teóricos e
práticos. A resposta não tinha interesse em trocar o status quo neoliberal, mas propor um
neoliberalismo de novo quadro, isto é, um neoliberalismo regulado pelo Estado (PUELLO-
SOCARRÁS, 2016).
56
Mas que como já foi revisado nesta dissertação desde seu começo o neoliberalismo
tinha uma vertente, que se manteve como heterodoxa, que entendia numa forte participação
do Estado na economia a única forma de manter as condições necessárias e inexistentes no
mundo natural, a versão alemã ou ordoliberalismo, em comparação com a versão ortodoxa
que se encontrava no seu par estadunidense.
Esta volta ao liberalismo austríaco, que vai de mão com o ordoliberalismo, encontra
em Elinor Ostrom, Nobel em economia em 2009, e em Jean Tirole, economista do MIT, dois
entusiastas que propõem ‘novas’ leituras dos espaços públicos e de regulações regenerativas
da dinâmica neoliberal. No caso específico de Ostrom, ela propõe o abandono do livre
mercado, para impor as teorias do empreendimento do empresário de si mesmo (PUELLO-
SOCARRÁS, 2016).
De novo esta ideia tem bem pouco, as propostas da criação de um neoliberalismo
regulado se correspondem à Gesellschaftspolitik de Röpke, de Rüstow, de Müller-Armack que
já tinha proposto isso há muito tempo, mas que é o que implica entender esse Estado
regulador como espaço de promoção do empreendedor? Segundo Foucault (2008, p. 331-332)
implica:
pessoal, com a capacidade de refletir e exercitar a autocrítica, onde todos possam fazer
frutificar seus talentos e suas potencialidades criativas de maneira responsável, para isto
deverão ser revisados os sobrecarregados currículos escolares para preservar os elementos
necessários para o desenvolvimento dos alvos almejados no meio dum contexto mundial que
é entendido como caótico (DELORS, 2010).
Para produzir uma adequada relação entre o mundo da formação e o mundo laboral, a
educação deve construir um sistema mais flexível, diverso em cursos e com a possibilidade de
transferência entre diversas modalidades de ensino, com a expetativa de reduzir o fracasso
escolar que produz um alto desperdício de recursos humanos, e é nesse sentido que se propõe
o conceito de ‘educação para ao longo da vida’ (DELORS, 2010).
Delors (2010) apresenta à educação ao longo da vida como um elemento que supera
a distinção tradicional entre educação inicial e educação permanente para assim dar resposta
ao mundo em rápida transformação e meio da sociedade educativa onde todo pode ser uma
oportunidade para aprender e desenvolver talentos motivo pelo que resulta indispensável
desenvolver a capacidade de aprender a aprender.
A educação ao longo da vida baseia-se em quatro pilares: aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser (DELORS, 2010 p. 31); o primeiro,
aprender a conhecer, pretende no atual contexto de progresso científico e as novas formas de
atividade econômica e social conciliar uma cultura geral com a possibilidade de estudar em
profundidade um número reduzido de assuntos, isto é, aprender a aprender; o segundo,
aprender a fazer, implica a aquisição de competências além da qualificação profissional que
torne o indivíduo apto para enfrentar situações imprevisíveis, no âmbito social e laboral; o
terceiro, aprender a conviver, procura desenvolver o conhecimento a respeito do outro
baseado na interdependência, analisando de forma conjunta os riscos e desafios do futuro e a
gerenciar conflitos de maneira inteligente e apaziguadora; e o quarto, acima de tudo, o
aprender a ser, desenvolvendo, o melhor possível, a personalidade para agir aumentando a
capacidade de autonomia e de discernimento, acompanhado pela exploração dos talentos.
Para Batista (2006) o relatório desenvolvido por Delors para a UNESCO possui uma
evidente relação com o toyotismo, dada à forma em que é entendido o passo da concepção de
qualificação profissional para a de competência profissional, realçando a importância duma
qualificação adquirida pela formação técnico profissional, o comportamento social, a aptidão
62
para o trabalho em equipe, a capacidade de iniciativa, e o gosto pelo risco (DELORS, apud
BATISTA, 2006).
Do mesmo modo Batista (2006) apresenta a influência da perspectiva ideológica
apresentada pelo relatório não só nas políticas de educação básica, superior e profissional nos
documentos oficiais do MEC, mas também se encontra nas políticas de educação profissional
no âmbito do MTE já que na sua proposta se exige à figura do trabalhador a capacidade de
enfrentar o imprevisto e imprevisível, ir além do domínio de tarefas prescritas, em um
contexto em que a bagagem de conhecimentos e habilidades perde importância na medida em
que se valoriza a capacidade de dominar situações imprevistas (BRASIL, 1999 apud
BATISTA, 2006).
Assim o conceito de saber ser acaba se convertendo na mobilização e colocação por
inteiro à disposição do capital, isto é, o trabalhador já não é quem desenvolve uma tarefa, o
trabalhador agora é um sujeito sempre apto para desenvolver múltiplas tarefas, polivalente,
multifuncional e ao serviço da rentabilidade e valorização do capital (BATISTA, 2006). O
anterior pode ser entendido como o controle do elemento subjetivo do processo de produção
capitalista, a captura da subjetividade do trabalho pela produção do capital, dado por um
conjunto amplo de inovações organizacionais, institucionais e relacionais, caraterizados pelos
princípios de ‘automação’, ‘auto-ativação’, a polivalência do trabalhador, o trabalho em
equipe entre outros (ALVES, 2000 apud BATISTA, 2006).
Desse modo a subjetividade do trabalho é coisificada, por enquanto no campo teórico
os apologistas do capitalismo promovem a radicalização do relativismo introduzindo
conceitos do campo artístico em outras áreas. No caso da educação profissional se concretiza
quando nos Pareceres 15/98 e 16/99 se encontram noções como ‘estética da sensibilidade’,
‘ética da identidade’, e ‘princípios de autonomia’ no arcabouço teórico dessas propostas. A
noção de competências consegue mesclar os textos legais até torna-os miscelânea e ecléticos,
visando uma fragmentação do pensamento e radicalizando o julgamento estético fundado no
individualismo (BATISTA, 2006).
pessoas consegue um trabalho. Embora dentro da população adulta na América Latina, 69%
das pessoas que se encontram trabalhando ou procurando ativamente um emprego, o que
corresponde a 15 pontos porcentuais mais do que os jovens. Do mesmo jeito, as estatísticas
apresentam uma importante diferença na PEA baseado no gênero, a quantidade de mulheres a
procura de um emprego ou trabalhando é de 43%, por enquanto os homens têm indicadores
que chegam aos 64%, mais de vinte pontos de diferença.
Ao entrar no detalhe dos jovens que se encontram desempregados, ou seja, que
procuram trabalho, mas não conseguem, o montante chega aos 44% na região, o que equivale
aproximadamente a uns 6,7 milhões de pessoas, tendo uma taxa de desemprego juvenil de
13%. Na revisão das mesmas estatísticas, mostram-se para os adultos as mesmas diferenças
que no parágrafo anterior, onde só 5% dos adultos se encontram na procura de emprego
infrutuosamente (OIT, 2010).
No pressuposto da existência de um mercado laboral permanente, a OIT (2010)
supõe que os primeiros trabalhos deveriam levar os jovens para postos de trabalho com uma
relativa estabilidade. O que, segundo a própria organização, não está acontecendo na América
Latina, seguindo a hipótese de que motivo disto seria a alta disponibilidade de mão de obra, as
políticas de alguns empregadores de reduzir os custos na rotação de trabalhadores, além do
marco legal para as contratações.
Contudo, uma resposta à precarização do emprego jovem é a de apresentar a
problemática como um fato estrutural, segundo a OIT (2007) a taxa de desemprego juvenil é
sempre maior do que a geral, à margem dos ciclos econômicos. A aceitação generalizada
dessa hipótese conduziu a uma série de propostas dos diferentes governos da região, que tem
como eixos os seguintes pontos: incentivos à criação e desenvolvimento de empregos
estáveis, programas que visam aumentar as qualificações dos trabalhadores, formalizar
empregos e estender as coberturas sociais aos trabalhadores informais.
Declarado o foco da dissertação nas experiências ocorridas tanto no Brasil, quanto no
Chile, é necessário reconhecer mais em detalhe os contextos particulares de cada país na
questão da ‘crise do emprego jovem’, já que este contexto se refletirá nas políticas que os
governos desenvolverão para resolver à problemática.
No contexto brasileiro existem dados bastante recentes dão conta da situação,
segundo os dados obtidos no informe do IPEA (2014), o desemprego dos jovens entre 18 a 24
anos entre os anos 2003 e 2010 chegou aos 17,21%, enquanto na faixa etária entre os 25 e 65
65
anos o desemprego chegou aos 4,85%. Isto é, o desemprego dos jovens é o triplo do
desemprego dos adultos, além da problemática da rotatividade no emprego, pois segundo as
conclusões do estudo, as taxas de separação alcançam 72,4%. Sete em cada dez trabalhadores,
em média, desligam-se de seus postos de trabalho ao longo de um ano. A taxa de separação
dos trabalhadores mais velhos, por sua vez, situa-se em torno de 41,3% (OIT, 2015b, p. 6).
O mesmo informe apresenta outros dados que confirmam a precariedade da situação
laboral dos jovens no Brasil (OIT, 2015b): quanto às horas de trabalho um terço dos
trabalhadores tem jornadas superiores a 44 horas semanais; desigualdade de gênero,
sobreposição do trabalho reprodutivo em mulheres jovens às ocupações no mercado de
trabalho; baixa remuneração, 16,2% dos jovens ganha menos que um salário mínimo, a
situação torna-se crítica ao revisar os dados dos menores de 20 anos, 50,9% dos jovens entre
15 e 17 anos ganha menos de um salário mínimo e 23,1% dos jovens entre 18 a 19 anos não
supera o mínimo estabelecido.
Quanto à situação de empregabilidade dos jovens chilenos, os dados mostram
diferenças e similitudes com a situação brasileira. Segundo os dados fornecidos pela OECD
(2016), do total de jovens que se encontram procurando emprego entre os 18 e os 24 anos
chegam a 15,5%, enquanto para os adultos na mesma situação de procura de emprego a cifra
só alcança 6,4%. A diferença do Brasil, onde o desemprego jovem é três vezes maior do que o
adulto, no Chile apenas é o dobro. Como em todos os casos anteriores, as diferenças por
gêneros continuam, nos jovens a diferença de 5 pontos percentuais, com 13,8% para os
homens e 18,2% para as mulheres, diferenças que se atenuam ao falar da população adulta,
onde a diferença é apenas de um ponto porcentual, 6% para homens e 7% para as mulheres.
Assim os Estados oferecem políticas compensatórias para que os jovens e mulheres
das camadas baixas da sociedade possam encontrar emprego, e que seja de qualidade. Com as
altas taxas de desemprego jovem, nos momentos em que as políticas de trabalho conseguem
que estas taxas diminuam é difícil falar contra estas práticas. Certamente a abertura de novas
oportunidades de trabalho e que levem a uma melhoria na qualidade de vida dos jovens
desempregados ou pobres é um fim desejável, mas é importante estabelecer claramente quem
são os beneficiários do dinheiro público que vai ser gasto (para esta discussão conferir o
capítulo 3).
Como a crise do trabalho jovem não é só o desemprego, a informalidade em que
trabalham os jovens que conseguem um posto de trabalho é mais uma aresta do problema.
66
um total de 300.000 mulheres e 150.000 jovens das camadas mais populares (ESPINOZA,
2007).
A rotação feita há trinta anos pela economia chilena em direção de um mercado
aberto e à privatização de empresas públicas e a reforma na saúde pública e a previdência
social, no âmbito da educação profissional a reforma foi feita em todos os níveis procurando a
descentralização e aumentar a autonomia das instituições de ensino. Criando um contexto de
um ‘quase mercado’ entendido como o motor do sistema e tendo ao Estado como a entidade
subsidiaria da participação dos privados; por meio de incentivos tributários; aumentando a
concorrência entre os provedores privados; gestão de escolas por municípios, administrados
por privados e corporações empresariais; a criação de institutos privados de ensino técnico; e
mecanismo de apoio a programas de educação técnica e formação profissional com custos
compartilhados (ESPINOZA, 2007).
O programa conta com cinco componentes; capacitação laboral, que é constituído
por cursos de capacitação que têm entre 180 e 300 horas de duração, desenvolvendo
competências técnicas e transversais com horas práticas e teóricas; intermediação laboral, que
almeja oferecer práticas laborais em trabalhos diretamente relacionados com a capacitação e
orientados à obtenção de empregos formais; certificação de competências laborais, avaliação
das competências laborais após uma experiência laboral na área; subsídios e aportes, bolsas de
mobilização e alimentação, seguro de acidentes e cuidado de filhos menores de seis anos;
apoio sociolaboral pessoalizado, auxílio para a permanência no programa e segurar as
condições para participar do mercado laboral; e ensino de recuperação e continuação de
estudos, para as pessoas que não tenham finalizado o ensino meio e a continuação de estudos
técnicos superiores (ESPINOZA, 2007).
Evidentemente para que seja possível criar novas vagas de trabalho os governantes
deverão conversar com os encarregados de criá-las, motivo pelo que as colaborações público-
privadas são apresentadas como a solução para este problema, para ajudar no
desenvolvimento de empregos decentes para os jovens através de parcerias com todos os
interessados, sejam públicos ou privados, a disseminação de políticas baseadas em evidências,
a ampliação da eficácia e a inovação (OIT, 2016).
Com o fim de conhecer o estado atual das colaborações público-privadas na
educação técnico profissional e a posterior inserção dos alunos no mundo laboral é que se
revisaram brevemente exemplos das experiências no caso chileno e brasileiro: no caso chileno
68
aparece uma parceria público-privada entre o estado chileno, representado pelo Ministério de
Educación e o Ministério de Hacienda, junto às associações gremiais da produção,
representado pela CPC e a SOFOFA, que geraram a agenda “pro-desenvolvimento”, onde
procuram responder às limitações educativas dos jovens mais necessitados, promovendo a
formação dual como um modelo que permite a aproximação dos estudantes com o mundo
laboral enquanto finalizam seus estudos de aula (OEA, sf).
Quanto à situação brasileira, a relação entre o estado e as empresas que participam na
educação de jovens da educação técnico profissional aparece o Projeto de Escola de Fábrica
que surge no ano de 2004 para esguelhar a distância existente entre a formação dos futuros
empregados e as necessidades das fábricas. De modo que inicia um projeto misto de formação
onde os alunos alternam suas aulas com a formação na empresa, a qual é supervisionada por
um funcionário-maestro. (MAUES; GOMEZ; MENDONÇA, 2008).
Instituto Aliança
O seguinte apartado procura entender a origem do projeto da Escola Social do Varejo
é que se começa com a descrição dos processos de convocatória, institucionais e
organizacionais, que deram como resultado a constituição do Instituto Aliança. Para, logo
após, entender como dentro das práticas desenvolvidas pelo instituto acabou surgindo o
projeto ESV, sua propagação pelo Brasil e finalmente sua internacionalização.
Enquanto à primeira parte considerada para este capítulo foi achada na pesquisa de
material bibliográfico uma dissertação de mestrado em administração elaborada por Cruz
(2013) que coincidentemente desenvolve as origens do Instituto Aliança, e que tem por nome:
“Processos de desenvolvimento local: uma análise da implementação do projeto aliança com
o adolescente”.
A dissertação, levada a cabo na Escola de Administração da Universidade Federal da
Bahia, faz uma descrição exaustiva da história do IA, os referenciais conceituais, estratégicos,
organizacionais e primeiras intervenções efeituadas na região Nordeste do Brasil. Embora a
dissertação não considere uma análise crítica dos elementos expostos, é entendida como uma
boa fonte de informação dos elementos pertencentes à fundação do IA, sobre todo quando os
textos referenciados nela são parte de coleções privadas, ou bem, textos protegidos pelo
direito autoral e de baixa circulação nos espaços acadêmicos.
Assim inicia-se a revisão dos momentos fundacionais desta instituição com o resumo
dos elementos que foram considerados como relevantes para os alvos pretendidos por esta
69
Logo após da exposição dos interesses que as diferentes instituições que participam
da criação deste novo projeto Cruz (2003) fazem uma detalhada explicação das distintas fases
que foram propostas para acompanhar o desenvolvimento deste novo Instituto Aliança que
abrangeu desde setembro de 1998 até junho de 2004, a aplicação dos primeiros projetos e sua
posterior avaliação, assim as fases propostas são as seguintes:
Fase II – Dos conceitos para a prática: a identificação das microrregiões e dos empresários
parceiros
Cruz (2013) comenta que por enquanto eram definidas as referências conceituais,
estratégicas e organizacionais começou a pesquisa das microrregiões e empresários parceiros
que iriam participar da fase piloto do projeto, para a escolha destes espaços foram tidos em
consideração critérios que almejavam encontrar microrregiões em que existissem
empresários, terceiro setor e poder político dispostos a participarem do processo próprio das
políticas da Aliança, um sistema educacional básico minimamente desenvolvido e baixo
índice de condições de vida.
Assim foram escolhidas três microrregiões, localizadas em estados diferentes,
totalizando dezoito municípios: Bahia (nove municípios), Pernambuco (quatro municípios) e
75
Ceará (cinco municípios), somando um total de quinhentas mil pessoas, e com um 25% da
população pertencente à faixa entre doze e dezenove anos (CRUZ, 2003).
No caso da Bahia, especificamente no baixo sul, a escolha do parceiro foi imediata, o
IDES (Instituto de Desenvolvimento Sustentável no Baixo Sul na Bahia) já era conhecido da
Fundação Odebrecht. O IDES, fundado em 1997, com a missão de promover atividades nas
áreas de educação, cultura meio ambiente, agricultura e turismo, centradas na participação
comunitária.
Em Pernambuco só foi possível encontrar uma instituição parceira por meio da
Secretaria de Planejamento do Governo do Estado de Pernambuco, quem na ausência de uma
instituição que satisfizesse os requerimentos do Projeto Aliança na microrregião propôs o
SERTA (Serviço de Tecnologia Alternativa), que atuando em outras regiões do Estado tinha
logrado um importante trabalho. Uma vez conseguido o contato entra o Projeto Aliança e o
SERTA, a adesão da instituição foi total, até o ponto de mudar seu escritório para um
município pertencente à microrregião em questão e finalizar todos os outros projetos em
desenvolvimento para-se dedicar exclusivamente ao Projeto Aliança (CRUZ, 2003).
E na região do Médio Jaguaribe em Ceará, depois de muitos intuitos foi identificada
a SEBRAE-CE (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará), como
seu nome apresenta esta é uma instituição que pretende promover a criação de pequenos
negócios contribuindo ao desenvolvimento sustentável através de consultorias gerenciais e
tecnológicas, sem fins lucrativos e mantida pela iniciativa privada. Com base na avaliação
feita pelo Projeto Aliança foi determinado que a instituição parceira não possuísse os
elementos técnicos e gerenciais para completar as tarefas necessárias para o alcance dos
objetivos, razão pela qual foi criado o Instituto Elo Amigo (IEA), que a diferencia dos outros
empresários parceiros à vez de adequar as necessidades do Projeto Aliança, esta instituição foi
criada em base aos elementos técnicos desenvolvidos para este fim, principalmente a TESA.
Dessa forma as três entidades parceiras obtiveram o título de “Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público” (CRUZ, 2003).
período de 150 dias visando a construção das iniciativas nas microrregiões tendo por resultado
os programas de ação dos respectivos empresários-parceiros e um programa de ação tendo
como perspectiva os próximos três anos (PLANO DE AÇÃO, 1999 apud CRUZ, 2003, p.
134).
Nesse momento já existia o entendimento de que os recursos dos instituidores não
seriam suficientes para viabilizar as diferentes ações a serem desenvolvidas em cada
microrregião, razão pela qual existia a orientação para as entidades parceiras a necessidade de
encontrar outros parceiros a nível local, estadual, nacional e internacional que permitisse o
alcance das metas estabelecidas. Do lado das instituições que conformam a Aliança, foi
marcado um acordo enquanto à destinação de recursos onde se determinou que tanto a
Fundação Kellogs quanto o Instituto Ayrton Senna repassariam os recursos para a Fundação
Odebrecht e daí seriam distribuídos para os empresários-parceiros, outra responsabilidade da
Fundação Odebrecht foi a de arcar com os custos do gerenciamento do Projeto e repassar, em
menor proporção, recursos para as entidades parceiras, enquanto ao BNDES iria encaminhar
recursos diretamente para as entidades parceiras em função dos projetos específicos. Todas
estas ações só seriam efetivadas após a aprovação do Conselho Diretor da Aliança (CRUZ,
2003).
Este programa surge no contexto da rede internacional ‘entra21’ para América Latina
e o Caribe, desenvolvido pela International Youth Foundation em conjunto com o Fundo
Multilateral de Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento e USAID. Com
um orçamento, entre os anos 2001 e 2007, de US$ 29 milhões o programa atingiu a 12.000
jovens, entre os 16 e 29 anos e que pertenceram aos grupos “menos favorecidos” da
sociedade, tendo como meta conseguir um 40% de inserção laboral. O objetivo do programa
era, por meio da capacitação nas tecnologias de informação e comunicação mais o
desenvolvimento de habilidades para a vida e de ferramentas para o mundo do trabalho,
ajudar aos jovens mais pobres a obter empregos decentes (THE INTERNATIONAL YOUTH
FOUNDATION, 2009).
Na prática do programa entra21, a construção do curriculum de ensino deve ser
desde os dados vindos do mercado laboral, para atingir a meta dos 40% de empregabilidade é
considerada como necessária a informação de que é buscado pelos empregadores, no caso
particular do Instituto Aliança seu equipo manteve reuniões com distintos departamentos de
Recursos Humanos das empresas que tinham em vista para que os jovens formados
trabalhassem, para entender quais são as caraterísticas desejadas nas novas contratações (THE
INTERNATIONAL YOUTH FOUNDATION, 2009).
Assim segundo a International Youth Foundation (2009), o Instituto Aliança além de
seguir os conceitos desenvolvidos pela UNESCO para a educação no século XXI e seus
quatro pilares da educação, fiz uma nova mudança curricular para considerar os elementos a
serem trabalhados no contexto do programa entra21, incluindo módulos de ensino sobre
planejamento de carreira, direitos trabalhistas e práticas de exercícios relacionados com o
lugar de trabalho.
Deste modo a metodologia do programa CDD fica constituída principalmente pelos
seguintes elementos; pedagogia por projetos se busca organizar de ações em forma de
projetos, por meio do inter-relacionamento das competências para ajudar aos jovens a
desenvolver processos de planejamento, ação e reflexão; educação pelo trabalho busca-se
ampliar no jovem a sua concepção do que é o trabalho, levando-o a experimentar a realização
pessoal a partir daquilo que é capaz de produzir; protagonismo juvenil procura dar aos jovens
um novo significado dos conceitos de participação social e construir uma atitude autônoma e
solidária; ritos de passagem, se pretende conduzir ao jovem a uma interiorização das
diferentes etapas que ele vivencia, dando consciência da sua passagem a outros níveis – tanto
80
a que no ano 2008 o IWM aprovara a expansão do projeto CDD a outros sete estados
(HENRIQUEZ, 2011).
No ano 2009 já com a parceria entre o IWM e o IA consolidada, e segundo
Henriquez (2011) numa visita dos diretores da Walmart a um núcleo do CDD, eles ficaram
maravilhados com os jovens que participavam do projeto, manifestando que queriam esses
jovens trabalhando na sua empresa. Assim, o diretor, Paulo Mindlim, propôs para o IA
integrar um módulo de vendas ao currículo do CDD, para isso foi realizada uma reunião de
um comitê integrado por técnicos do IA e funcionários do IWM, transformaram o modelo
original do CDD criando um modelo de educação profissional com ênfase em vendas,
constituído por 500 horas de ensino teórico-prático dividido em: 200 horas de
desenvolvimento pessoal e social, 100 horas de tecnologia da informação, 100 horas de
módulo de vendas, 100 horas de prática e participação do voluntariado corporativo do
Walmart (HENRIQUEZ, 2011), desse modo foi desenvolvido um novo produto denominado:
“Escola Social do Varejo (ESV)”.
processo formativo e uma preparação mais sólida para o mundo do trabalho. Se estabelecem
marcos fundamentais para incentivar a produção e valorizar as conquistas pessoais e coletivas,
tais como: participação, responsabilidade, autonomia, solidariedade, crescimento pessoal,
familiar, social e produtivo (INSTITUTO WALMART, 2014).
O terceiro elemento é a interdimensionalidade, proposta que procura desenvolver um
sujeito integral, capaz de se relacionar com ele mesmo e com os outros, a natureza, o meio
ambiente, e com o transcendente. Visando superar a divisão entre a razão e o cognitivo com
outras dimensões da vida, entendendo que a educação é um processo de desenvolvimento
global da consciência e a comunicação (INSTITUTO WALMART, 2014).
Um quarto elemento é constituído pela interdisciplinaridade e transdisciplinaridade,
visando a integração das diversas áreas do conhecimento, assim o conhecimento integrado é
usado na construção de projetos e na apresentação de produtos associados aos temas
estudados, assim o educando pode apresentar para o grupo um produto desenvolvido
utilizando conhecimentos de informática, português, historia o do mundo do trabalho, junto a
competências pessoais, relacionais, da comunicação e suas experiências com o transcendente
(INSTITUTO WALMART, 2014).
O último pressuposto metodológico corresponde ao texto-sentido, uma escritura que
pode dar o gerar sentido, fazer sentir, e também dirigir e emocionar, em que os jovens
comunicam a compreensão dos novos conhecimentos e aprendizados, mobilizando além da
sua capacidade cognitiva a capacidade de expressar suas emoções, sintetizar suas percepções,
simbolizar os nexos aprendidos e criar significantes (INSTITUTO WALMART, 2014).
O programa ESV tem como modelo de avaliação um seguimento do processo do
desenvolvimento do jovem usando como referência as competências pessoais, sociais,
produtivas e cognitivas. Assim em três momentos do curso as equipes utilizam um sistema de
monitoração e avaliação, para medir as competências relacionadas à aprendizagem de fatos,
conceitos, procedimentos e atitudes. Desde o começo do processo os jovens são informados
dos resultados procurados, isto é, o ‘perfil final’ e para sua obtenção os resultados parciais são
observados pela equipe e são compartilhados individualmente com os jovens para uma
avaliação conjunta (INSTITUTO WALMART, 2014).
Assim são feitas três avaliações; a primeira, no princípio da formação, de caráter
diagnóstico, que visa avaliar os conhecimentos prévios de cada educando e são consideradas
as três áreas: desenvolvimento pessoal e social, relações no mundo do trabalho e tecnologia da
84
tem trabalho no setor de vendas e 45% trabalham para o próprio Walmart; a maior captação
de jovens pela empresa norte-americana foi em um estado brasileiro, não especificado, onde
79% dos jovens formados trabalha no Walmart (HENRIQUEZ, 2011; INSTITUTO
WALMART, 2012).
Diante do sucesso obtido pelos programas CDD e ESV demonstrando capacidade de
replicação e expansão, tal como foi planejado desde o começo, baseado nos altos índices de
inserção laboral dos participantes (Instituto Walmart, 2014) com o apoio dado pelo IWM ao
desenvolvimento destas iniciativas, é que a NEO (Novas Oportunidades de Emprego), um
programa desenvolvido pelo BID, em particular o FOMIN, e a IYF para melhorar as
oportunidades de emprego de um milhão de jovens na América Latina e no Caribe até o ano
2022, considera a internacionalização do programa ESV (NEO, 2012; INSTITUTO
WALMART, 2012).
Foi nesse contexto que em 2013 uma equipe brasileira viajou para Santiago,
Chile, participando de um encontro com as organizações responsáveis pela adaptação da ESV
nos países, principalmente tradução e acomodação a legislações vigentes, e apresentando em
profundidade as bases teóricas e metodológicas do projeto. A mesma atividade foi replicada
posteriormente em Buenos Aires, Argentina, com o intuito de iniciar, em breve, turmas
pilotos nestes países (INSTITUTO WALMART, 2013).
Em 2014 se deu início ao projeto piloto da ‘Escuela Social del Retail’, nome
original do projeto em Chile que depois passaria a se chamar ‘Escuela Social de Ventas’ até
chegar a seu nome atual ‘Escuela Social de Empleo’ ou ‘ESE’, em parceria com o Instituto
DUOCUC a OTIC do Comercio e a consultora Acento, do lado dos privados, e com o apoio
do SENCE no marco do programa +Capaz (OTIC DEL COMERCIO, 2015).
No processo de adaptação à realidade chilena, o programa sofreu diversas
modificações, a primeira é em referência à quantidade de horas de duração do programa,
enquanto que no Brasil a ESV tem uma extensão de 500 horas em oito meses a ESE, dada a
regulamentação própria do programa +Capaz que permite programas que tenham um máximo
de 300 horas de duração, no Chile o programa foi reduzido ao limite estabelecido e as aulas
passaram a ter uma extensão de quatro meses. Uma segunda diferença é dada na redução dos
ritos de passagem do processo da ESV, enquanto a ESV (igual ao CDD) conta com sete ritos:
de acolhida, do projeto de vida, de imersão no mundo do trabalho, de cidadania, de despedida,
86
(BAKHTIN, 2006). Razão pela qual vão se encontrar uma polivalência de palavras e
discursos; para Brandão (2004) a palavra é o lugar privilegiado para manifestações
ideológicas, vai retratar a realidade segundo as vozes e pontos de vista de aqueles que as
empregam.
Segundo Resende e Ramalho (2014), com a mobilidade do foco de interesse dos
aspectos formais da linguística para o funcionamento em representação de eventos,
construção de relações sociais e as reafirmações e contestações das hegemonias no discurso,
somente o conceito funcionalista é aplicável para os analistas de discurso.
Destas e outras discussões, vão se produzir mudanças nos estudos linguísticos, a
consideração das diversas origens e realidades dos discursos, é a necessária análise das
condições de produção da linguagem (BRANDÃO, 2004). O anterior, gerado pela
proximidade da linguística com as ciências sociais, que vai encontrar como resultado final os
estudos críticos do discurso (FONSECA, 2014).
A primeira referência que se tem do uso do termo “Análise do Discurso Crítica”, foi
realizada pelo linguista britânico Norman Fairclough num artigo publicado em 1985
(RESENDE; RAMALHO, 2006). Esta nova análise, segundo seu autor, busca gerar uma
abordagem para a análise de discurso que poderia ser usada como um método para investigar
mudanças sociais, e para isso teria que preencher algumas condições; primeiro,
multidimensionalidade, para avaliar relações entre mudança discursiva e social e relacionar as
propriedades de textos a eventos discursivos como instâncias de prática social; segundo,
consideração de um método de análise multifuncional, que considere as relações entre
conhecimento, as relações sociais e as identidades sociais, para isto Fairclough (2001) vai
partir da teoria sistêmica da linguagem proposta por Halliday apresentando-a como um ótimo
ponto de partida; terceiro, análise histórica, focalizada na estruturação da construção dos
textos e na constituição a longo prazo de ordens do discurso; e quarto, um método crítico,
crítico enquanto apresenta conexões e causas que estão ocultas, além de fazer uma
intervenção. (FAIRCLOUGH, 2001)
É assim que Fairclough (2001) vai entender o discurso como uma prática social, se
diferenciando da concepção clássica (sausurriana) de parole, o discurso é um modo de ação,
como os indivíduos atuam no mundo e atuam uns sobre os outros. Além de implicar uma
relação dialética entre discurso e estruturas sociais, relação entre prática social e a estrutura
social: a última é tanto uma condição como um efeito da primeira. O discurso, segundo as
90
palavras de Santos (2011), aparece como uma prática de representação do mundo, e também
como uma prática de significação do mundo.
Nessa representação Fairclough (2001) apresenta três aspectos dos efeitos
construtivos do discurso: o primeiro é a colaboração para a construção de identidades sociais
e posições de sujeito, entendida pelo autor como a função identitária da linguagem; a segunda
entende o discurso como colaborador nas relações sociais entre as pessoas, a função relacional
da linguagem, e o discurso contribuindo na construção de sistemas de conhecimento e crença,
a função ideacional da linguagem.
Fairclough (2001) vai compreender a prática discursiva como constitutiva em dois
níveis: convencional, que contribui para reproduzir a sociedade em suas diferentes áreas
(identidades sociais, relações sociais, sistemas de conhecimento e crença) como é, e uma
outra criativa que vai contribuir para transformá-la. É neste ponto que vai se gerar a relação
dialética entre linguagem e sociedade, apresentada com anterioridade.
A Teoria Social do Discurso, o modelo desenvolvido por Fairclough (2001), é uma
forma de analisar a prática social e o texto como dimensões do evento discursivo, mediados
pela prática discursiva, que focaliza os processos sociocognitivos de produção, distribuição e
consumo do texto e consideram as três dimensões apresentadas diagramaticamente na
seguinte figura (RESENDE E RAMALHO, 2009):
logo, entendendo a dependência do sentido, pode usar o ‘sentido’ tanto para potenciais formas
das formas como para os sentidos atribuídos na interpretação.
A seguir, se apresenta um quadro que sintetiza as categorias de análise propostas por
Fairclough (2001), de acordo com as práticas específicas, seja o texto, a prática discursiva ou
a prática social. Como foi detalhada com anterioridade, esta divisão é feita para seu estudo, já
que na prática é impossível de separar. O prático quadro foi preparado por Resende e
Ramalho (2009).
A análise textual pode se organizar sob quatro títulos: vocabulário, trata das palavras
individuais; gramática, da conta das palavras combinadas em orações e frases; a coesão
aborda a ligação entre orações e frases e a estrutura textual trata das propriedades
organizacionais de larga escala dos textos.
Analisando o ‘vocabulário’, Fairclough (2001) explicita a diferença existente entre
língua e dicionário. Ele dá conta de uma variedade de vocabulários se sobrepondo pela
dominação de domínios, instituições, práticas, valores e perspectivas (FAIRCLOUGH, 2001,
p.105).
93
realiza os sons ou marcas no papel; ‘autor(a)’ quem reúne as palavras e é responsável pelo
texto; e ‘principal’ a pessoa que cuja posição é representada pelas palavras.
Do mesmo jeito, os textos são distribuídos de diferentes formas, e vai depender da
natureza do texto, que pode ser entendida como simples ou complexa. Pode ser uma
distribuição simples, como uma conversa casual, que verá sua distribuição só no contexto
imediato da própria situação em que acontece. No ponto oposto do contínuo, se encontra a
distribuição complexa, como uma organização governamental em que, no processo de
produção se antecipa a distribuição, transformação e consumo, e neles constroem leitores
múltiplos (FAIRCLOUGH, 2001, p. 108).
O autor apresenta as dimensões sociocognitivas da produção e da interpretação dos
textos, desde as inter-relações dos recursos dos membros do discurso, interiorizado por eles e
levado até o processamento textual e o próprio texto, geralmente de maneira não consciente.
Neste ponto, o autor vai dar ênfase na importância ideológica deste processo. Estes processos
de produção e interpretação se encontram socialmente restringidos pelos recursos dos
membros, em forma de estruturas sociais, normas e convenções interiorizadas. Também se
encontram restringidos pela natureza específica da prática social da qual fazem parte, que
determina os elementos dos recursos dos membros a que se recorre e como se recorre
(FAIRCLOUGH, 2001, p. 109).
Aqui o autor refere-se a três elementos que são abordados na análise da prática
discursiva, mas envolvem aspectos formais dos textos: força, contexto e coesão. Enquanto a
‘força’ de parte de um texto é seu componente acional, parte de seu significado interpessoal,
isto é, a ação social que realiza (FAIRCLOUGH, 2001). Algumas análises de atos de fala
distinguem força direta e indireta, mas os atos de fala podem ser às vezes ambivalentes. O
‘contexto’, vai ser um elemento importante da redução da ambivalência da força,
especificamente no contexto de situação, a natureza geral do contexto social. Finalmente a
‘coerência’, espaço onde o autor situa o foco da coerência naquele que vê o sentido do texto, a
pessoa que é capaz de inferir essas relações de sentido na ausência de marcadores explícitos.
Intertextualidade
Mas, para dar continuidade à apresentação do modelo teórico do quadro anterior, é que se
apresenta na seguinte ordem.
A noção de intertextualidade foi desenvolvida por Bakhtin, só que sob o nome de
‘translinguística’, e faz referência à condição dos textos de serem constituídos por pedaços de
enunciados de outros, mais ou menos explícitos. Segundo Bakhtin, a fala é preenchida com
palavras dos outros, variáveis graus de alteridade, variáveis graus daquilo que é de nós
próprios, variáveis graus de consciência e de afastamento. As palavras de outras pessoas têm
seu próprio tom avaliativo, e nós podemos assimilá-lo, retrabalhá-lo ou reacentuá-lo
(BAKHTIN, 1986 p.89 apud FAIRCLOUGH, 2001, p.134).
A partir disto, Fairclough vai falar que os textos são inerentemente intertextuais,
constituídos por elementos de outros textos e que pressupõem uma cadeia dialógica de textos
que constituem o texto, em termos de sua produção, distribuição e consumo. Quanto à
produção, se acentua a historicidade dos textos, como eles são constituídos por outros textos
anteriores. Em termos da distribuição, os textos vão se transformar ao passar de um tipo de
texto a outro, e em termos de consumo, a importância que tem na interpretação do texto, além
dos textos que o constituem intertextualmente, os textos que são trazidos pelos intérpretes no
momento da interpretação (FAIRCLOUGH, 2001).
Logo, o autor vai entender a intertextualidade desde dois pontos de vista; o primeiro,
‘a intertextualidade manifesta’, vai se referir ao momento em que os outros textos estão
explicitamente presentes no texto, e são marcados por meio de indicações (aspas). E o
segundo, a ‘intertextualidade constitutiva’, e aqui o autor vai introduzir o conceito de
‘interdiscursividade’, para enfatizar que o foco está nas convenções discursivas e não em
outros textos (FAIRCLOUGH, 2001).
No marco da historicidade na intertextualidade e o contemporâneo, fenômeno das
rápidas transformações e reestruturações de tradições textuais, é importante pôr o foco nele, e
desde aí pôr o foco na relação entre intertextualidade e hegemonia. Já que a intertextualidade
dá conta da produtividade dos textos ao oferecer espaços para que os textos se possam
transformar, e assim reestruturar convenções existentes, na prática esses espaços se encontram
socialmente limitados em função das relações de poder. Daí a importância de considerar a
hegemonia na análise, para explicar como as relações de poder podem moldar, ao mesmo
tempo em que são moldadas, por estruturas e práticas sociais (FAIRCLOUGH, 2001).
96
Neste ponto chegamos à terceira dimensão do modelo proposto pelo autor, o discurso
como prática social, donde se encontram os conceitos de ideologia e de hegemonia, em uma
concepção da evolução das relações de poder como luta hegemônica.
Ideologia
A perspectiva de Fairclough vai se originar desde o que ele define com três
importantes asserções sobre ideologia. A primeira vai apresentar a existência material da
ideologia nas práticas das instituições, o que abre a possibilidade de investigar as práticas
discursivas como formas materiais de ideologia; a segunda, afirma que a ideologia ‘interpela
aos sujeitos’, levando a um dos efeitos ideológicos por excelência, a constituição dos sujeitos;
terceira, que os ‘aparelhos ideológicos do Estado’ atuam como locais e marcos que delimitam
a luta de classes e que apontam o foco para uma análise de discurso orientada
ideologicamente.
Após a apresentação das influências na sua concepção da ideologia, o autor vai
defini-la como:
Desde este ponto, Resende e Ramalho (2009) vão propor que certos discursos podem
ser considerados como ideológicos ao incluir presunções acerca do que existe, do que é
possível, necessário, desejável. E as autoras vão considerar que tão ideológica pode ser uma
representação:
[...] por meio da análise do efeito causal dessa representação em áreas particulares
da vida social, ou seja, por meio da análise de como as legitimações decorrentes
dessa representação contribuem na sustentação ou na transformação de relações de
dominação.
da determinação estrutural sobre os sujeitos, sendo considerada como determinista. Por outro
lado, aparece à possibilidade de sobre valorar a liberdade de ação, ao apresentar a ideologia
como um processo que transcorre no interior dos eventos, ainda mostrando a possibilidade de
mudança social, procura-se uma liberdade que não pode ser apagada, mas é relativa
(RESENDE E RAMALHO, 2003).
Assim se apresenta a ideia de que a ideologia está localizada tanto nas
estruturas que constituem o resultado de eventos passados como nas condições para os
eventos atuais e nos próprios eventos quando reproduzem e transformam as estruturas
condicionadoras (FAIRCLOUGH, p. 119, 2001).
Já na ideologia, Fairclough (2001) levanta uma questão relacionada com os aspectos
ou níveis dos textos e discurso que podem ser investidos ideologicamente. A resposta, afirma
o autor, tem distintas orientações, propondo: os ‘sentidos’ ou ‘conteúdo’, ‘pressuposições’,
metáforas e a coerência, como espaço em que a ideologia se posiciona no discurso. Mas, a
impossibilidade de considerar estas variáveis como elementos isolados, leva a considerar a
relação entre os elementos de ‘conteúdo’, ‘sentido’ e ‘forma’. Considerando que os aspectos
formais dos textos em vários níveis podem ser investidos ideologicamente. O autor vai
apresentar o seguinte exemplo:
Outra linha da ideologia vai vir do trabalho feito por Thomson, e na sua linha de
teoria social crítica, o conceito é inerentemente negativo. Contrário às concepções neutras,
que pretendem caracterizar os fenômenos ideológicos sem implicar que esses fenômenos
estejam ligados com interesses de grupos particulares, e no caso da concepção crítica vai se
postular que a ideologia é inerentemente hegemônica (RESENDE E RAMALHO, p.49,
2003). Estando interessada em como as formas simbólicas se entrecruzam com relações de
poder, portanto, ‘estudar a ideologia é estudar as maneiras como o sentido serve para
estabelecer e sustentar relações de dominação’ (Thompson, 1995, p. 76).
Thompson (1995) distingue cinco modos de operação da ideologia, ao mesmo tempo
em que faz três esclarecimentos, que não são as únicas maneiras em que opera a ideologia,
98
que não sempre operam independente uma da outra – eles podem sobrepor-se e reforçar-se
mutuamente - e pode, particularmente, operar de outras maneiras.
Assim, esta abordagem pode ser trabalhada conjuntamente com o arcabouço da
ADC, fornecendo ferramentas para se analisar, linguisticamente, construções discursivas
revestidas de ideologia. Para isso se apresenta o seguinte quadro:
Hegemonia
de Carvalho (2014) da USP chamada ‘Análise Crítica do Discurso de relatos de parto normal
após cesárea de mulheres brasileiras e estadunidenses à luz da Linguística de Corpus’ que no
seu recorte teórico metodológico propõe o uso da Linguística de Corpus em conjunto com a
Análise Crítica do Discurso, chegando à Análise Crítica do Discurso Baseada em Corpus, que
e por outro o livro de Pardo (2013) ‘Cómo hacer análisis del crítico del discurso’, da
Universidad Nacional de Colombia, quem trabalha com as técnicas de Análise de Dados
Textuais de linha francesa e a Análise Crítica de Discurso.
Resulta importante destacar a natureza dos estudos referenciados e como existem
diferencias com a pesquisa aqui exposta. Em primeiro lugar a tese desenvolvida por Carvalho
(2014) baseia em relatos de parto, motivo pelo qual os elementos discursivos analisados são
de caráter subjetivo, de uma extensão considerável e conformam um corpus também bastante
abrangente, enquanto ao trabalho desenvolvido por Pardo (2013) considera 10 anos de
manchetes e artigos jornalísticos sobre as negociações de paz na Colômbia, o que dá por
resultado um corpus bastante extenso e com documentos a serem analisados que possuem
amplo conteúdo.
Do aprofundamento nas referências metodológicas obtidas de ambos os documentos,
foi possível estabelecer bastantes similitudes entre as metodologias utilizadas, tanto nos
pressupostos teóricos, quanto nos softwares propostos para a revisão quantitativa – descritiva.
Enquanto aos pressupostos teóricos a Análise Crítica do Discurso, evidentemente, apresenta-
se como o eixo das propostas, encontrando na Abordagem Histórica do Discurso (WODAK,
2003) uma linha específica de investigação que entrega importantes ferramentas na confecção
do recorte metodológico e fazer uma triangulação na obtenção dos resultados da pesquisa.
Enquanto aos softwares que se utilizam no processamento da linguagem natural, existem
diferencias, mas que não são impedimento para o uso de ambos referentes teórico –
metodológicos.
Assim, a Linguística de Corpus ou ‘LC’ se apresenta como o estudo da língua feito
em base de exemplos autênticos da língua em uso, ocupando-se da coleta e da exploração do
corpus, ou conjunto de dados linguísticos textuais coletados criteriosamente, com o propósito
de que servirem para a pesquisa de uma língua, assim dedica-se à exploração da linguagem
por meio de evidências empíricas, extraídas por computador (SARDINHA, 2004: MCENERY
& WILSON, 2001). Nesta abordagem podem-se destacar três pontos: coleta criteriosa de
101
textos, exploração da linguagem por meio de evidências empíricas e a pesquisa dos dados
com a ajuda de um computador.
Mesmo que o critério de representatividade em um texto seja variável, a ‘coleta
criteriosa’ é importante já que almeja a ‘criteriosa’ constituição de um texto no sentido da
seleção, composição e balanceamento do corpus, e entendendo que um corpus pode ser
constituído por uma considerável quantidade, milhares ou milhões, de palavras que sejam
representativas de um determinado tipo de linguagem.
Enquanto à ‘exploração da linguagem por meio de evidências empíricas’ ela depende
da interpretação da frequência e da distribuição dos dados, os dados estatísticos permitem que
o pesquisador extraia evidências empíricas capazes de permitir a descrição tanto de
agrupamentos lexicais que formam padrões como de combinações consideradas aleatórias
(STUBBS, 1993 apud CARVALHO, 2014). Seguindo a linha da linguagem como uma
prática social, e concebendo a possibilidade de extrair do discurso o que é significativamente
estável e permanente para uma cultura em um momento histórico particular, aparece o
conceito do ‘cognitivamente consensual’. Definindo o consenso em um intento superficial
pode se entender como o grau de acordo que existe sobre diversos temas entre os indivíduos
que compõem um grupo (PARDO, 2013).
Entendendo que no discurso se cristalizam de maneira privilegiada as expressões de
consensualidade caraterísticos de um grupo o de uma cultura, é importante reconhecer a
saliência quantitativa, a que é determinada pelo grau de acordo/desacordo entre as pessoas
sobre o fato de que um significado social esteja associado com uma forma de conceber a
realidade. A ‘saliência quantitativa’ está relacionada com a hipótese de que a regularidade
conceitual pode ser interpretada como uma maneira de representação da realidade, visível nas
frequências de palavras, as suas concordâncias e as associações. O suposto de que as unidades
lexicais ou palavras com altas associações, expressões reiterativas, as figuras retoricas,
estruturas sintáticas, entre outras unidades discursivas, articuladas por relações associativas,
se correspondem com unidades conceituais que podem chegar a constituir modelos, isto é,
configurar, manter, ou transformar conhecimento coletivo, como formas de dizer e fazer
caraterísticas de uma sociedade (PARDO, 2013)
A proposta do LC considera o processamento por computador como ferramenta para
análise de dados vindos do corpus. A ajuda dada pelo uso de software de computador tem
possibilitado a análise de grandes quantidades de dados, que até pouco tempo não eram
102
indireta em onde e produzido um discurso análogo ao emitido por um ator discursivo, aqui
subjaze o suposto de conservação do significado original marcado por uma expressão
introdutória que subordina a cita. E a terceira corresponde à citação mista, que vai se
constituir como a citação que mistura as duas propostas anteriores.
O segundo passo proposto por Pardo (2013) neste processo de análise linguístico,
corresponde à transformação discursiva, a transformação entende-se como o fenômeno sócio-
discursivo ao uso de diferentes recursos linguísticos que permitem construir ou eliminar um
ator social ou discursivo especifico. Os atores discursivos podem excluir ou incluir atores
sociais para representar de um modo particular uma realidade orientada a interesses ou
condicionamentos particulares, assim a presença dos atores sociais no discurso torna-se um
continuo que vai desde sua eliminação sem rasto nenhum, até ser o agente da ação e do
discurso. Deste modo, as formas de nominação constituem-se como o principal recurso na
análise da transformação discursiva (VAN LEEUWEN, 1996 apud PARDO, 2013).
A transformação discursiva também considera através das formas de nominação três
estratégias discursivas: a elisão/supressão, o reordenamento e a substituição. A
elisão/supressão consiste na eliminação estratégica de um ator social em sua função de agente
ou de paciente, a eliminação pode ser de caráter total ou parcial. Enquanto aos processos
linguísticos pertencentes a esta estratégia discursiva, segundo o modelo oferecido por Pardo
(2013), apresentam-se dois deles; o primeiro é corresponde à supressão total, processo em que
qualquer pegada do ator no discurso é apagada; e o segundo, é a supressão parcial que se
refere ao processo em que o ator social excluído é removido em relação com certas ações,
assim o contexto apresenta-se como o elemento pelo qual pode-se apreender o ator social
excluído do discurso.
Voltando nas estratégias discursivas, o reordenamento consiste na representação dos
atores sociais transformando seu papel discursivo o social através de distintos processos
linguísticos, este processo também é desenvolvido no continuo exclusão-inclusão por meio de
ativar ou passivar aos atores sociais envolvidos. Para Pardo (2013) o estudo desta estratégia
em particular aporta elementos significativos no desentranhamento do modo em que é
conceitualizado o fenômeno social, constituindo a delimitação dos papeis dos atores no
discurso tanto agentes, quanto pacientes convertendo-se no eixo fundamental da construção
das representações, especialmente quando aqueles lugares são atribuídos pelos produtores do
discurso que, evidentemente, respondem a propósitos pontuais.
111
Capítulo IV - Resultados
língua em questão, enquanto esta pesquisa procura dar conta de um estudo específico sem
intenções generalizadoras.
No terceiro nível, da linguagem que vai representar o corpus, pode-se começar pela
representatividade do corpus, este elemento vai dar conta da possibilidade de generalizar os
resultados obtidos da pesquisa (JABLONKAI, 2010), e dada a natureza do corpus em
questão, corpus especializado, este se caracteriza por ter uma representatividade
restringida ao domínio do estudo especifico para o que foi criado (PEREZ, 2002). Outro
ponto neste nível é o referente aos critérios externos e internos; o primeiro é dos
elementos não linguísticos, isto é, gênero, modalidade, origem e finalidade dos textos; o
segundo refere-se aos diferentes tipos de textos, baseado em caraterísticas linguísticas.
Também se faz referência à temporalidade e tipo dos textos (PEREZ, 2002).
Uma vez revisados os primeiros três níveis da construção do corpus, e dadas às
condições da pesquisa, resulta necessário contrastar os níveis metodológicos apresentados
para a construção do corpus e os dados disponíveis para a análise. Para isto resulta de
bastante ajuda constituir uma síntese do que já foi revisado como a metodologia de
construção de corpus.
Por enquanto tem se definido um corpus de caráter discursivo e especializado,
com uma representatividade restringida ao domínio da pesquisa. Dado que o estudo é
referente a uma instituição educativa brasileira, a ESV, os documentos a estudar serão:
livros de texto de duas naturezas, de comunicação entre especialistas e de comunicação
professor- aluno, produzidos no Brasil, e nos últimos dez anos (tempo que o instituto que
desenvolveu o programa ESV tem de existência).
Agora, qual é a disponibilidade factual do material próprio do trabalho da ESV
disponível para ser estudado? Será possível encontrar material adequado para estes
critérios de seleção?
Logo após de uma exaustiva pesquisa, que tinha como principal problema a
disponibilidade dos documentos, seja por condições geográficas (os escritórios do
Instituto Aliança se encontram na cidade de Salvador - Bahia) ou condições de direito
autoral. Assim só foi possível encontrar material do predecessor do programa ESV, o
programa Com.Dominio Digital:
A divisão dos textos em três subcorpora não corresponde a uma decisão arbitraria,
porém foi feita dadas as caraterísticas deles, isto é, para quem são dirigidos, o formato da
escrita, e a articulação com outros textos produzidos pela mesma instituição. A seguir serão
apresentados cada subcorpus com sua correspondente descrição.
Corpus Guias
Este corpus foi constituído considerando a relação que apresentavam os textos com
as práticas do Instituto Aliança (IA), as três guias do corpus foram desenvolvidas como
produto das intervenções do IA, por meio do programa Com.Dominio Digital, em parceria
com a Secretaria de Educação do Estado do Ceará (SEDUC) nas escolas da rede estadual de
Escolas de Educação Profissional.
A primeira destas parcerias data do ano 2008, visando integrar nos currículos das
Escolas Estaduais de Educação Profissional (EEEPs) as temáticas de projeto de vida e mundo
do trabalho, devido à demanda destes tópicos no mundo sócio-produtivo. Este programa é
focado na capacitação de professores nas dimensões já propostas, além das linhas
desenvolvidas pela UNESCO no informe Delors (os Quatro Pilares da Educação) e na
Educação para o desenvolvimento humano desenvolvido pelo Instituto Aírton Senna e a
117
UNESCO, e que segundo o próprio texto já no ano 2014 o total de unidades curriculares
inseridas no programa chega a 101 escolas, com um total de 42.000 jovens participantes do
programa (Instituto Aliança, [201?]). Assim o primeiro documento que constitui o corpus é a
Guia de Monitoramento EEEPs’, texto que evidentemente procura dar uma serie de
ferramentas para a avaliação e monitoramento das práticas do programa CDD.
Enquanto ao segundo texto este se refere ao projeto que desenvolveu no ano 2011 o
IA com a SEDUC, que buscava implantar uma ‘tecnologia social’ desenvolvida pelo IA,
chamada Núcleo de Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais, com o objetivo de reorganizar
curricularmente as escolas de ensino médio, fundamentado no programa CDD, o projeto
começou em 12 escolas-piloto de ensino médio e para o ano 2014 já participavam 89 escolas
e com a cobertura de 30.000 jovens. Neste projeto, mesmo que no anterior, o foco encontra-se
na capacitação dos professores para que eles consigam aplicar os conteúdos, baseados no
informe Delors (os Quatro Pilares da Educação) e na Educação para o desenvolvimento
humano (Instituto Aliança, [201?]).
Em ambos os documentos os conteúdos são basicamente os mesmos, as guias
encontram-se constituídas por: detalhamento das rutinas da EEEP/NTPPS, o significado do
monitoramento, a importância de avaliar a pertinência da proposta teórico-metodológica, os
procedimentos utilizados no monitoramento e avaliação, e a orientação para a preparação das
capacitações e para a aplicação de instrumentos de monitoramento. Do mesmo modo, as guias
são estruturadas em três partes; uma inicial/operacional que pretende em um passo a passo
contemplar as rotinas das equipes de coordenação; uma segunda parte que trata os
fundamentos conceituais dos processos de capacitação e de monitoramento, indicadores
incluso; e uma parte final, voltada para a construção de uma matriz fundada nos componentes
e indicadores (Instituto Aliança, [201?]).
O terceiro texto deste subcorpus Guia de Inserção, apresenta-se a proposta
desenvolvida pelo IA para ‘facilitar o ingresso, a permanência e a ascensão dos jovens no
mundo corporativo’ (Instituto Aliança, 2015, p. 15), dividido em quatro eixos: organizações
empregadoras, jovens, orientação de atores estratégicos para a inserção de jovens no mercado
de trabalho e gestão do componente – equipe, planejamento e acompanhamento. Também é
feita uma descrição da situação atual do emprego jovem, e quais tem sido as políticas públicas
desenvolvidas para atender esta problemática.
118
Oficina: cada uma das distintas oficinas é composta por; (a) tema, (b) objetivos, (c)
tempo e (d) atividades, (d) materiais necessários e (e) orientações.
Anexo: materiais, documentos e informação própria de cada uma das oficinas a serem
desenvolvidas.
AntConc
O AntConc, é um software gratuito disponível nos sistemas operativos de Windows,
Mac OS e Linux, autoria de Laurence Anthony (2012), versão 3.4.4 para Windows e 3.4.3
para Linux, já que foram utilizadas, devido a motivos técnicos, ambos sistemas operacionais.
Desenvolvido no Center for English Language Education in Science and Engineering da
Universidade de Waseda no Japão. Este software reúne as mais comuns ferramentas usadas
nas pesquisas em Linguística de Corpus, sendo uma ferramenta a utilizar nas diferentes
pesquisas que possuam grandes quantidades de texto. Ao mesmo tempo é uma das melhores
ferramentas para análises de texto e corpus de amplo uso em LC, além de ser regularmente
atualizada e com melhorias na velocidade e qualidade da análise (FRIGINAL & HARDY,
2014 apud CARVALHO, 2015).
Este software pode ser usado para analisar textos em qualquer idioma (padrão
Unicode) e funciona com textos simples ou etiquetados. Além disto, o programa consta de
sete ferramentas (Anthony, 2012), coincidentes com as próprias da pesquisa em LC: Linhas
de concordância (Concordance Tool), Gráfico de distribuição de elementos de busca
(Concordance Plot Tool), Visualização de arquivo (File View Tool), Agrupamentos ou n-
gramas (Cluster/N-Grams Tool), Colocação (Collocates Tool), Lista de palavras (Wordlist) e
Lista de palavras-chave (Keyword list) (CARVALHO, 2015).
Pré-Análise do Corpus
O corpus em que se fundamenta o trabalho desta dissertação se encontra constituído
por três subcorpora, e a seguinte tabela apresenta algumas informações que permitem
caracterizara-os considerando seu tamanho e riqueza de palavras.
dos alunos’. Enquanto a coluna formas entrega a informação relativa ao número de palavras
diferentes, neste caso o corpus cadernos dos alunos também é o que apresenta a maior
variedade de palavras.
Lista de palavras
Com o uso da ferramenta Wordlist do AntConc foi possível produzir as distintas
listas de palavras mais frequentes para cada subcorpus. As listas, em ordem de frequência,
permitem perceber que as palavras mais comuns correspondem às palavras gramaticais
(pronomes, artigos, conjunções e preposições) (Carvalho, 2015). A continuação se apresentam
as 25 palavras de maior frequência para cada subcorpus.
Mesmo tendo palavras com uma alta frequência não é possível que o pesquisador
revele os discursos em um determinado corpus utilizando este meio, já que comumente as
palavras mais frequentes são também as mais esperadas (Baker, 2013).
122
Lista de palavras-chave
Já revisada a lista de palavras mais frequentes, a lista de palavras-chave vai entregar
informação acerca da relevância de determinadas palavras no corpus, esta relevância será
determinada, no caso do AntConc, em base à prova estatística de verossimilhança logarítmica
(loog-likelihood test) por sobre à outra possibilidade oferecida pelo AntConc, a prova de Chi
Quadrado.
A lista de palavras-chave é construída com base na comparação entre a lista de
palavras do corpus com uma lista de palavras de um corpus de referência. No caso desta
pesquisa foi selecionado o Corpus Laecio-Ref, corpus aberto e disponível no site do projeto
Laecio-Web, composto de textos divididos por áreas do conhecimento e que para esta
pesquisa foi selecionado o corpus Ciências Sociais Aplicadas.
Do cruzamento das listas de frequência, do corpus de referência e do corpus de
estudo, resultará a lista de palavras-chave ordenadas em base ao índice de chavicidade. Para
isto se considera a significância estatística das palavras dado pelo índice de chavicidade como
se explica nos seguintes valores (ANTHONY, 2016):
95 percentil; 5% nível; p < 0.05; valor crítico = 3.84
99 percentil; 1% nível; p < 0.01; valor crítico = 6.63
99.9 percentil; 0.1% nível; p < 0.001; valor crítico = 10.83
99.99 percentil; 0.01% nível; p < 0.0001; valor crítico = 15.13
Segundo explica Carvalho (2015) para o valor p < 0.05, por exemplo, se indica que
existe um 95% de chance de que a palavra não ocorra no corpus por acaso. O valor p < 0.01,
que há 99% de chance de as palavras não ocorrerem por acaso e assim por diante. Do mesmo
modo, quanto menor seja o valor de p, maior será a probabilidade de a palavra não ocorrer no
corpus de pesquisa por mero acaso, mas de resultar de uma escolha consciente ou
inconsciente do autor em empregá-la reiteradamente (BAKER, 2013). Assim nas tabelas a
continuação, a terceira coluna (Chavicidade) indica que todas as palavras-chave apresentadas
possuem 99,99% de chance de não ocorrerem por acaso no corpus.
123
Subcorpus Guias
R Frequência Chavicidade Palavra
1 247 1.519.743 inserção
2 205 1.261.325 é
3 243 1.169.037 jovens
4 127 781.406 avaliação
5 143 706.690 monitoramento
6 114 701.420 ações
7 105 646.045 formação
8 103 633.739 à
9 95 584.517 capacitação
10 92 566.058 apresentação
11 1698 546.484 e
12 87 535.294 não
13 262 510.997 trabalho
14 82 504.530 são
15 75 461.461 informações
16 73 449.155 domínio
17 73 449.155 ntpps
18 172 433.174 professores
19 69 424.544 realização
20 157 407.794 escola
21 82 402.331 educadores
22 65 399.932 às
23 64 393.780 comunicação
24 100 388.217 material
25 70 379.866 guia
Fonte: Elaborado pelo autor (2016).
124
Subcorpus Educadores
R Frequência Chavicidade Palavra
1 1549 6.071.062 é
2 1086 4.256.406 não
3 525 2.057.655 você
4 971 1.637.396 trabalho
5 406 1.591.253 comunicação
6 365 1.430.560 são
7 360 1.410.963 à
8 409 1.368.644 anexo
9 347 1.360.012 relações
10 361 1.355.441 oficina
11 422 1.272.696 jovens
12 362 869.318 pessoal
13 198 776.030 também
14 196 768.191 já
15 286 758.128 contexto
16 189 740.756 está
17 473 727.649 desenvolvimento
18 362 694.496 grupo
19 170 666.288 ética
20 3757 634.811 que
21 160 627.095 até
22 146 572.224 será
23 144 564.385 informação
24 4522 548.630 e
25 134 525.192 continuação
Fonte: Elaborado pelo autor (2016).
125
Subcorpus Alunos
R Frequência Chavicidade Palavra
1 1791 6.933.387 é
2 1069 4.138.353 não
3 656 2.539.532 você
4 460 1.780.769 são
5 413 1.598.821 clique
6 316 1.223.311 à
7 265 1.025.878 também
8 250 967.809 comunicação
9 707 923.277 trabalho
10 388 898.712 texto
11 207 801.346 botão
12 202 781.990 está
13 187 723.921 menu
14 183 708.436 até
15 182 704.565 integração
16 181 700.694 já
17 181 700.694 ética
18 180 696.823 opção
19 177 685.209 tic
20 192 672.583 arquivo
21 161 623.269 será
22 168 613.619 barra
23 217 607.399 identidade
24 146 565.201 usuário
25 137 530.360 área
Fonte: Elaborado pelo autor (2016).
Subcorpus Guias
R Frequência Chavicidade Palavra
1 247
1.519.743 inserção
3 243
1.169.037 jovens
7 105
646.045 formação
13 262
510.997 trabalho
33 52
319.946 educação
Fonte: Elaborado pelo autor (2016).
Corpus Educador
R Frequência Chavicidade Palavra
4 971 1.637.396 trabalho
5 406 1.591.253 comunicação
11 422 1.272.696 jovens
12 362 869.318 pessoal
Fonte: Elaborado pelo autor (2016).
Corpus Alunos
R Frequência Chavicidade Palavra
8 250 967.809 comunicação
9 707 923.277 trabalho
Fonte: Elaborado pelo autor (2016).
127
Finalmente é possível começar com a análise dos corpora, e que no caso dos dois
primeiros, corpus guias e corpus professores, começaram pelo principal ator social da
pesquisa: a palavra-chave ‘jovens’, à vez de começar pela primeira palavra-chave coloca na
lista.
Palavra-chave ‘Jovens’
Ao tematizar o conceito ‘jovens’ no contexto do corpus apresentam esta palavra-
chave como a vigésima segunda colocada na lista de palavras e como a terceira colocada na
lista de palavras-chave, com uma frequência de 243 aparições. Usando as ferramentas de
linhas de concordância e a de cluster/n-gramas foi possível tematizar os seguintes discursos:
• Discurso de beneficiário (apoio aos jovens, direcionadas aos jovens, destinadas aos jovens):
O preenchimento do formulário é acompanhado pelo educador e/ou membro da
equipe de inserção, que dá apoio aos jovens na interpretação dos feedbacks, na busca
pelas oportunidades de trabalho, na reflexão sobre as demandas de mercado e desafios a
serem enfrentados, sempre visando orientar, de forma positiva, a criação de estratégias
de superação.
(guia_de_inserção_2015)
Esse programa também inova por ser fruto de uma articulação com uma
organização que contribui com a parceria na inserção e com a co-realização de ações
direcionadas aos jovens participantes. (guia_de_inserção_2015)
Em cada estado onde o CDD está presente, a equipe de inserção conta com uma
coordenação local, que tem como funções a realização das oficinas de formação
complementares relativas ao componente junto aos jovens; a participação na formação
de educadores, orientando-os quanto aos assuntos relacionados ao tema [...]
(guia_de_inserção_2015)
129
• Discurso dos espaços de participação (no mundo corporativo, no seu local de trabalho, no
mercado de trabalho):
130
com a construção e percurso, que os jovens farão, dos projetos de vida que considera tanto a
vida social quanto a laboral. Em síntese, o jovem é proposto como protagonista só em
contextos relacionados com seu desenvolvimento enquanto empregado, ou candidato a um
emprego, e as caraterísticas desejáveis pelo atual mercado laboral para aumentar seu potencial
de empregabilidade.
Do outro lado da ambivalência se encontram os discursos que se referem ao jovem
como beneficiário e instrumentalizado; no primeiro caso, beneficiário, se apresenta nos
contextos de ações desenvolvidas no ambiente do programa onde o jovem recebe apoio e
ações que são direcionadas especificamente para ele; no segundo discurso, instrumentalizado,
o jovem é formado, mobilizado e instrumentalizado para participar da sociedade civil
enquanto cidadão, é dirigido em função dos interesses específicos dos objetivos propostos no
programa CDD. Onde é entendido como um instrumento que deve se conduzir
adequadamente no mundo do trabalho, e como um objeto a ser inserido no mercado de
trabalho fazendo-se participe das diferentes atividades propostas. Assim o jovem é levado e
dirigido para se converter em um bom cidadão e em um trabalhador que será inserido nos
postos de emprego obtidos pelo programa CDD.
Voltando aos processos linguísticos que se correspondem ao fenômeno sócio-
discursivo da Consistência-Coerência só resta revisar a focalização ou topicalização e a
análise da citação ou vozes implicadas. Resulta importante a revisão da topicalização na
medida em que entrega informação do relacionamento que se produz entre o tema e o tópico,
identificando as unidades conceituais mais relevantes e cognitivamente mais valiosas que à
sua vez desenvolvem um papel mnemotécnico é que dará coerência ao texto.
O anterior permitiria reconhecer o conjunto de unidades conceituais que dão forma
às unidades comuns referentes a um fenómeno ou realidade especifica e estável no discurso,
também o modo em que são posicionadas certas unidades no discurso informam dos
elementos cognitivos que entregam estabilidade ao longo alcance na memória de certos
referentes discursivos. Assim o reconhecimento das formas de topicalização e tematização
garantem o desentranhamento dos dispositivos de controle nos fluxos de informação do
discurso (PARDO, 2013)
Assim neste parágrafo destaca a relevância dada para o discurso do ‘protagonismo
juvenil’ conceito transversal nos referentes teóricos e práticos do Instituto Aliança e os
distintos projetos de inserção laboral que desenvolve Com.Dominio Digital e a Escola Social
132
do Varejo, que no marco desta análise pode-se considerar como o principal tópico em relação
ao discurso explicito sobre a juventude.
Para isto é necessário apelar à intertextualidade proposta pela ACD ou qualquer
estudo crítico do discurso, que se refere ao fato de que todos os textos estão por sua vez
compostos de outros textos que podem, ou não, compartilhar o mesmo sentido que tem no seu
uso original, deste modo são revisados diferentes documentos pertencentes ao próprio IA ou a
outros referenciais teóricos que fazem parte do marco teórico-metodológico de suas ações.
Este discurso do ‘protagonismo juvenil’ é desenvolvido conjuntamente com a
proposta da Formação de Jovens Protagonistas para o Mundo do Trabalho, subtítulo do
projeto e presente em todos os documentos que compõem o corpus. Este conceito foi
desenvolvido no Brasil por Gomes da Costa, e faz referência à criação de espaços e condições
que possibilitem o envolvimento dos jovens em atividades direcionadas a soluções de
problemas reais, atuando com iniciativa, liberdade e compromisso (COSTA, 2001).
Já destacada a transversalidade deste discurso nas propostas desenvolvidas pelo IA é
que no site oficial se destaca o “[...] trabalho com metodologias participativas que estimulam
o protagonismo e a autonomia dos jovens [...]” (Instituto Aliança, [201-]) como um dos
pressupostos metodológicos das suas práticas, ao mesmo tempo em que nos documentos
relativos à formação de educadores se apresenta a importância do protagonismo juvenil como
a “[...] tomada de decisões coletivas, planejamento, execução de ações e avaliação do
realizado são passos importantes para gerar autonomia, empoderamento e responsabilidade
[...]” (Instituto Aliança, 2013).
Após a exibição dos discursos expostos com a tematização da palavra-chave ‘jovens’
e a topicalização do conceito de ‘protagonismo juvenil’ emergem dois elementos
interessantes. O primeiro é a consistência do discurso de jovem protagonista tanto na
tematização quanto na topicalização dado o caráter explicito deste conceito em ambos
processos de análise, embora a proposta topicalizada seja muito mais abrangente que a
tematizada, entendendo que o conceito de juventude protagonista propõe uma formação e
participação nas distintas áreas de participação do jovem com o intuito de desenvolver uma
pessoa autónoma e empoderada, mas ao contrastá-la com os discursos obtidos da tematização
o jovem protagonista se encontra limitado a ações e espaços exclusivamente dedicados ao
espaço de trabalho ou à ideia de empregabilidade.
133
O segundo ponto a destacar são os discursos que emergem da tematização, mas que
não é possível acha-los na topicalização, já que ao revisar as distintas formas em que os
jovens são referidos ao longo das propostas do IA em nenhum caso se apresenta ao jovem
como um ‘objeto’ ou um ‘beneficiário’, mas ao momento de tematizar a palavra-chave a
aparição de estes discursos evidencia inconsistência e incoerência da proposta educativa do
IA na lógica interna dos discursos propostos.
Para finalizar com o primeiro passo da fase analítica se considera a citação ou vozes,
assim se pretende identificar aos atores discursivos e os modos em que se expressam. Dadas
as particularidades dos corpora utilizados no estudo, composto em sua totalidade por
documentos de ensino tanto para alunos e professores e guias de monitoramento e inserção,
todos os elementos contextuais que dão forma aos discursos tematizados são ditos por uma
voz só: a do narrador dos textos.
Neste sentido os discursos se constituem homogeneamente sim contar com outras
vozes ou citações ao interior do corpus, enquanto à análise intertextual a citação direta e
indireta se apresenta ao momento de trabalhar com o conceito de protagonismo juvenil e ao
referir-se à figura de Gomes da Costa.
Concluída a primeira fase de análise é que se dá curso ao segundo fenómeno sócio-
discursivo: a transformação. Em função dos discursos tematizados foram detectadas duas
estratégias discursivas; o reordenamento e a substituição a continuação serão explicadas tais
estratégias e seus respetivos processos linguísticos.
O reordenamento se dá em base ao continuo ativação-passivação, neste caso se
repetem os resultados obtidos no passo anterior ao analisar a ambivalência das tematizações
referentes aos discursos de jovem, enquanto aos discursos de jovem como protagonista e
como beneficiário. Ao falar de ativação-passivação é a participação um dos sub-processos que
dará conta de como foi ativado ou passivado o ator discursivo ao ser considerado como agente
ou paciente que faz parte de uma ação coletiva.
Assim os discursos tematizados na palavra-chave ‘jovens’ podem ser localizados em
ambos os polos do contínuo ativação-passivação, o ator discursivo jovem é ativado com
capacidade de ação no caso do discurso de jovem protagonista à vez que é passivado, ao ser o
ente em que a ação pesa, no caso do discurso de jovem beneficiário e instrumentalizado tal
como foi descrito com anterioridade.
134
No caso em que o ator discursivo passa pela ativação é considerado como quem
produz, fala ou age, no caso do discurso de jovem protagonista aparecem os seguintes
exemplos: a serem aprimoradas pelos jovens, percorrida pelos jovens, construção de projetos
de vida pelos jovens. Em todos estes casos é o jovem é o responsável de executar estas ações.
Ao falar da passivação, nos discursos de jovem beneficiário e de jovem
instrumentalizado, o ator discursivo é visto como paciente ou beneficiário, enquanto no
discurso de espaços de participação o jovem é entendido como objeto. Por exemplo, no
discurso de jovem instrumentalizado o ator é formado, mobilizado ou instrumentalizado, além
de serem considerados como os “jovens a serem inseridos”.
Passando à ultima estratégia discursiva do segundo passo, aparece a substituição com
o polo personalização-impersonalização como processo linguístico. No caso do discurso dos
espaços de participação, o jovem aparece como objeto já que a definição do ator discursivo se
encontra dada na espacialização, que corresponde ao processo em que os atores são
representados em relação aos espaços em que se localizam. Por exemplo, a localização da
participação dos jovens no corpus: no mercado de trabalho, no mundo corporativo, no seu
local de trabalho.
Ao mesmo tempo este processo discursivo da impersonalização se encontra no
discurso de jovem protagonista na forma de instrumentalização, isto é, quando os atores
discursivos são representados em relação com suas ferramentas de trabalho. Por exemplo, [...]
reconheça as principais competências a serem aprimoradas pelos jovens [...]
(guia_inserção_2015).
Palavra-chave ‘Inserção’
O primeiro passo da tematização corresponde aos dados quantitativos obtidos do uso
de AntConc para a palavra-chave ‘inserção’, aparecendo como a palavra com maior índice de
chavicidade no listado de palavras-chave e se constitui como a vigésima mais frequente na
lista de palavras produzindo 247 linhas de concordância na respetiva ferramenta do software.
Na revisão detalhada das linhas de concordância em conjunto com os resultados da
ferramenta clusters/n-gramas foi possível tematizar os seguintes discursos:
A escolha das organizações e das vagas que são por elas ofertadas obedece a
critérios pautados no conceito de inserção qualificada. (guia_de_insercao_2015)
137
Palavra-chave ‘Formação’
Do mesmo modo que com as outras palavras-chave se começa entregando os
resultados obtidos do uso do software em questão, assim temos a palavra ‘formação’ na
sétima colocação do listado de palavras-chave e a quadragésima quarta colocada na lista de
palavras, com um total de 105 aparições no corpus, ou seja, linhas de concordância. Deste
modo e baseado nos resultados obtidos das linhas de concordância é possível reconhecer os
seguintes discursos produto da tematização da palavra-chave:
As ligações para os jovens podem ser geradas pela equipe do programa, bem
como diretamente das organizações empregadoras, razão pela qual, desde o início
da formação, os jovens devem ser orientados a atualizar os números de seus
telefones móveis e fixos. (guia_de_insercao_2015)
Palavra-chave ‘trabalho’
140
Orientada por esses princípios, a equipe de inserção deve promover, junto aos
jovens, e ao longo de todo o programa, ações que facilitem e fortaleçam o seu
percurso de entrada e permanência no mercado de trabalho. Essas atividades são
apresentadas nos itens que seguem. (guia_de_insercao_2015)
Além disso, por ter uma ligação direta ou indireta com a desigualdade social
presente no Brasil, o enfrentamento à inserção precária dos jovens e a garantia do
trabalho decente não tem efetividade de forma isolada, mas em conjunto com
políticas de outras áreas, como saúde, proteção social, educação e combate à
pobreza. (guia_de_insercao_2015)
Palavra-chave ‘educação’
142
Além disso, por ter uma ligação direta ou indireta com a desigualdade social
presente no Brasil, o enfrentamento à inserção precária dos jovens e a garantia do
trabalho decente não tem efetividade de forma isolada, mas em conjunto com
políticas de outras áreas, como saúde, proteção social, educação e combate à
pobreza. Também necessita ter um foco prioritário em questões cruciais como a
melhoria do acesso e da qualidade da educação e das oportunidades de formação
profissional, a promoção da igualdade de gênero e raça, o combate à informalidade,
a geração de mais e melhores empregos e a democratização do crédito.
(guia_de_inserção_2015)
143
Palavra-chave ‘Jovens’
Novamente se começa entregando os resultados respetivos à palavra-chave ‘jovens’,
e que na sua fase quantitativa do processo de tematização se apresenta como a trigésima
segunda palavra colocada na lista de palavras e no décimo primeiro lugar da lista de palavras-
chave, com uma frequência de 422 aparições. Desde o uso das ferramentas de linhas de
concordância e a de cluster/n-gramas foi possível reconhecer a construção dos seguintes
discursos:
OBJETIVOS:
■ Possibilitar a identificação de barreiras no processo de Comunicação.
■ Ampliar o vocabulário dos jovens, para que sejam evitadas falhas durante
entrevistas de emprego. (caderno_do_educador_DPS)
ENCERRAMENTO
Solicitar aos jovens que fiquem em pé. Colocar uma música bem suave e
solicitar aos jovens que reflitam nesse momento sobre toda a sua caminhada no
projeto; lembrando agora uma a uma todas as etapas que passaram; os temas;
atividades; dinâmicas; textos; desafios; dificuldades; conquistas; tristezas; alegria.
Falar cada aspecto supracitado pausadamente para que os jovens reflitam.
Perguntar, então, como cada um está se sentindo, que impactos as vivências e
apresentações trouxeram e as perspectivas para sua participação cidadã em sua
comunidade, em sua cidade. (caderno_do_educador_DPS)
DESENVOLVIMENTO 2
Indagar a turma:
■ Quem leva uma vida sustentável ou pelo menos desenvolve ações
sustentáveis em suas ações diárias?
Pedir para que os trios formados no momento anterior, formem um sexteto.
■ Pedir aos jovens que se projetem para o mercado de trabalho e pesquisem
como seria exercer, dentro de suas organizações, um papel sustentável; como
podemos obter hábitos de consumo consciente?
■ Tempo destinado à pesquisa: 20 minutos
■ Cada equipe terá três minutos para apresentar os resultados pesquisados.
(caderno_do_educador_CRT)
INTRODUÇÃO
Convidar a turma para a atividade “O Corpo Fala”. Ao entrar na sala, jovem
recebe um papel com alguns sentimentos escritos: tristeza, alegria, paixão, estresse,
desânimo, força, vontade, felicidade, vitória etc. Mas, o educador deve pedir que o
jovem mantenha em segredo o que está escrito no papel. Após a leitura, os jovens
devem representar os sentimentos através de gestos faciais e corporais para que os
outros adivinhem. (caderno_do_educador_DPS)
ORIENTAÇÕES
■ Estudar sobre os diversos meios de comunicação e os destaques
profissionais na área de tecnologia;
■ Estudar sobre BLOG, como criar e principais cuidados. Blogspot, webnode,
wix, wordpress;
■ Alinhar com um Educador de qualquer outro núcleo para uma vídeo
conferência que deverá acontecer na oficina 5.
■ Os jovens deverão guardar as pesquisas para serem utilizadas em um outro
momento;
145
Palavra-chave ‘Trabalho’
Analisando a palavra-chave ‘trabalho’, os elementos quantitativos revelam que ocupa o
vigésimo lugar da lista de palavras e o quarto lugar na lista de palavras-chave, com uma
frequência de 971 aparições no corpus e se encontra presente nos três documentos que o
constituem. E ao tematizar o conceito por meio dos métodos já utilizados, ferramenta de
linhas de concordância e de cluster/n-gramas foi possível obter os seguintes discursos:
• Discursos dos aspectos formais do trabalho:
Caso não possa dar sequência em curto espaço de tempo, anote o nome,
telefone, empresa e o assunto para dar um retorno o mais breve possível.
Reduza ao mínimo as ligações pessoais e íntimas. Nos escritórios modernos,
em que há divisórias a meia altura, a privacidade é inexistente. Local de trabalho
não é para ficar namorando! (caderno_educador_CRT)
No livro Os 5 desafios das equipes, o autor Patrick Lencioni traz uma fábula
sobre liderança que mostra quais os ingredientes necessários para as equipes
trabalharem de forma efetiva. Segundo ele, "O trabalho em equipe nada mais é do
que o ato de praticar um pequeno conjunto de princípios durante um longo período
de tempo. (caderno_educador_TIC)
Por mais informal que seja a sua empresa, há uma expressãozinha chamada
etiqueta corporativa que pode acabar derrubando a mais competente das
148
Quanto mais direta, clara e concisa for a mensagem, mais eficaz ela será,
encurtando a distância entre emissor e receptor.
No mundo do trabalho, esses atributos - concisão e clareza - são ainda mais
importantes. (caderno_educador_CRT)
[...] No entanto, existem algumas normas legais que exigem uma dada conduta
ou proíbem a prática de determinados atos que também estão relacionadas à ética
no mundo do trabalho. (caderno_educador_CRT)
Palavra-chave ‘Comunicação’
A palavra-chave ‘comunicação’ se apresenta como a quinta colocada na lista de
palavras-chave e a trigésima quinta colocada na lista de palavras, com uma frequência de 406
aparições. Encontra-se nos três textos que compõem o corpus, tendo uma maior concentração
nos textos de DPS e TIC.
Segundo os discursos tematizados com o uso das ferramentas do software AntConc a
palavra-chave ‘comunicação’ pode ser entendido tanto como processo, quanto ferramenta,
que se dá no mundo do trabalho e ao nível empresarial precisando ser uma boa comunicação.
149
PROCESSO DE COMUNICAÇÃO
Cada período de comunicação é diferente de qualquer outra. O processo de
comunicação é composto de três etapas subdivididas:
1 - Emissor: é a pessoa que pretende comunicar uma mensagem, pode ser
chamada de fonte ou de origem.
2 - Mensagem: é a ideia em que o emissor deseja comunicar.
3 - Receptor: é a etapa que recebe a mensagem, a quem é destinada.
(caderno_do_educador_DPS)
COMUNICAÇÃO NA EMPRESA
Na chamada sociedade da informação em que vivemos, as empresas
necessitam dominar a comunicação. Eis alguns aspectos cruciais para melhor
funcionamento interno:
> Prioridade à comunicação: mensagens claras e precisas devem
permear o cotidiano da direção e dos empregados em seu relacionamento;
> Abertura da direção: disposição de tornar acessíveis informações
essenciais, garantindo insumos básicos aos colaboradores;
> Processo de busca: empenho de cada colaborador em buscar as
informações de que precisa para realizar bem o seu trabalho;
> Autenticidade: ênfase na transparência da execução de todas as
tarefas;
> Foco em aprendizagem: garantia de efetiva aprendizagem do que é
comunicado, otimizando o processo de comunicação;
> Individualização: consideração às diferenças individuais evitando
estereótipos e generalizações para assegurar sintonia e qualidade de
relacionamento na empresa;
> Competências de base: desenvolvimento de competências essenciais em
comunicação (saber se expressar oralmente e por escrito);
> Velocidade: rapidez na comunicação dentro da empresa,
potencializando suas qualidades e contribuindo para o alcance dos objetivos
maiores;
> Adequação tecnológica: equilíbrio entre tecnologia e contato humano
para assegurar a qualidade da comunicação e aumentar a força do grupo.
(caderno_do_educador_DPS)
DESENVOLVIMENTO
Leitura, discussão e interpretação do texto: “Linguagem Corporal:
ferramenta de comunicação”. Chamar atenção dos jovens para os processos de
seleção, momentos em que a linguagem corporal e postura serão muito analisadas.
(caderno_do_educador_DPS)
Palavra-chave ‘Pessoal’
A palavra-chave pessoal é a décima segunda colocada na lista de palavras-chave e a
quadragésima colocada na lista de palavras, com um total de 362 aparições. Ao considerar as
linhas de concordância e os clusters mais recorrentes foi possível tematizar os seguintes
discursos:
ouvido ou sentido). Construir uma imagem é uma ação, ou uma sequencia delas. Ser
visto, ouvido e percebido é outra. No mercado de trabalho atual, imagem,
visibilidade e principalmente credibilidade são determinantes.
(caderno_do_educador_CRT)
(caderno_do_educador_DPS)
Quando se trabalha ou estuda demais, sua vida pessoal fica empobrecida, suas
relações se desgastam e os conflitos aumentam. Quando se vive somente para a vida
pessoal, você estagna, não evolui, não se desenvolve e torna-se facilmente
substituível e defasado. Encontre o equilíbrio. Quando bem organizado, há tempo
suficiente para executar todas as suas tarefas profissionais com qualidade e manter
uma relação amistosa com seus entes queridos. (caderno_do_educador_CRT)
No Trabalho E Na Vida
OBJETIVOS
■ Apresentar o programa 5s, sua história, significado, bem como refletir sobre
os benefícios da metodologia no ambiente de trabalho.
■ Ressaltar a importância desses conceitos aplicados à vida pessoal e no
exercício do trabalho. (caderno_do_educador_CRT)
Pessoal e profissional:
Ao nascer, cada um de nós traz consigo características individuais. Junto dessas
características, trazemos outras que são herdadas de nossos pais, que herdaram de
nossos avós e por aí vai... A soma de nossas características, o que herdamos e o
que aprendemos com nossas experiências pessoais forma nossa personalidade.
Entender nossa personalidade direcionando-a para um projeto estratégico
capaz de aproveitar nossas vocações pode ser a chave da transformação da vida
pessoal e profissional. Não é uma tarefa rápida nem simples. É necessário preparar
o terreno fértil para semear e desenvolver nosso futuro.
Como uma árvore que depende das condições do solo para crescer saudável e
dar frutos, dependemos das condições onde crescemos. Desde o início da nossa vida,
nos primeiros meses, essas condições começam a atuar em nossa formação. Nossos
pais poderiam ser considerados os primeiros jardineiros. Além dos pais, os parentes,
os professores, os amigos, as companhias, a mídia, a internet, etc. Todos contribuem
como jardineiros dessa nossa árvore interior. (caderno_do_educador_DPS)
Palavra-chave ‘Comunicação’
A palavra-chave comunicação aparece na lista de palavras-chave na oitava colocação
da lista de palavras-chave, e na lista de palavras na quadragésima quinta colocação com uma
frequência de 250 aparições. Comunicação na empresa e no mundo do trabalho, e
comunicação como competência a ser desenvolvida.
• Discurso da comunicação na empresa:
Comunicação na empresa
Na chamada sociedade da informação em que vivemos, as empresas necessitam
dominar a comunicação. Eís alguns aspectos cruciais para melhor funcionamento
interno. (comunicacao_2015)
Palavra-chave ‘Trabalho’
O seguinte conceito é o nono colocado na lista de palavras-chave e o vigésimo
terceiro colocado na lista de palavras com uma frequência de 707 aparições, após a
tematização são identificados os seguintes discursos:
As redes sociais podem ser um atalho para uma vaga no mercado de trabalho,
mas é preciso cuidado com o que se publica.
Todo mundo sabe que as redes sociais são populares. Elas reúnem amigos,
colegas de trabalho e contatos profissionais. O que a maioria das pessoas não se dá
conta é que o modo como se comporta nas redes sociais pode aumentar as chances
155
Segundo o modelo proposto por Pardo (2013) na construção da realidade existe uma
relação indissolúvel, bidirecional, e interdependente entre o ser humano como produtor do
mundo social e o mundo social produzido, essa relação que existe entre os diversos níveis de
abstração dos significados apresentado anteriormente é esquematizada na noção de esquema.
O esquema é entendido como a estrutura que inclui conceptualizações das expetativas gerais
das pessoas os role sociais, os eventos e as maneiras de se comportar em determinadas
situações, no processo de esquematização são elaboradas abstrações de alto nível a partir de
representações menos abstratas e preexistentes que se constituem na fonte no novo processo
de abstração.
A esquematização é apresentada como um elemento fundamental para entender
como são construídos os distintos níveis de representação, a estruturação de conceitos, em
157
formas que vão desde a esquematização do corpo e do e as coisas até a formação de conceitos
e o estabelecimento de nexos entre eles e bagagens conceituais preexistentes (PARDO, 2013).
O primeiro passo das estratégias interpretativas consiste no exame da regularidade e
a estabilidade conceitual, onde é possível obter frequências, associações e classificações
obtidas por meio da saliência quantitativa e o reconhecimento dos sentidos inscritos e
extraídos por meio da necessidade qualitativa, dando por resultado um conjunto de redes
conceituais que dá conta do modo em que é organizado o conhecimento sobe um objeto em
particular em função da experiência com o mundo físico-biológico e social. Processo que dá
como resultado os conceptos derivados do uso das estratégias discursivas e os processos
linguísticos com os que são elaborados os discursos, dando por resultado a gama de categorias
que formam as redes conceituais, processo já explicitado nas análises deste capitulo (PARDO,
2013).
Seguindo a Pardo (2013) com as unidades lexicais, conceitos, relações reiterativas,
relevantes e generativas, se desenvolve a formulação sintética do conjunto de formas em que é
organizado o conhecimento experiencial, isto é, as redes conceituais. A continuação, e
respondendo às perguntas guias desta pesquisa se apresentam as redes conceituais
correspondentes ao conceito de ‘jovem’ e à relação existente entre os conceitos de ‘educação’,
‘formação’, ‘inserção’ e ‘trabalho’.
Da leitura da figura 4, se extrai uma ampla gama de formas de conceituar a maneira
em que o ‘jovem’ é entendido enquanto ator discursivo no corpus do CDD. Assim, estas
conceptualizações são apresentadas em termos do eixo ativo – passivo, respondendo aos
resultados obtidos da análise do corpus, especificamente do uso do fenômeno discursivo de
consistência – coerência e a respetiva estratégia discursiva da ambivalência, e o fenômeno
discursivo da transformação e o respetivo processo linguístico de ativação – passivação.
Como foi apresentada anteriormente a ambivalência da conta de ideias em conflito
em contextos de proximidade conceitual, isto em conjunto com o processo de ativar ou
passivar o ator discursivo ao ser considerado como agente o paciente numa ação coletiva.
Lembrado o anterior, se encontram do lado ativo do eixo as conceptualizações de: jovem
protagonista, em que se destacam os conceitos de ‘projeto de vida’ e ‘competências’, o
primeiro da conta do ‘jovem’ como o sujeito que constrói seu projeto de vida em base ao seu
futuro laboral, e o segundo se refere ao ‘jovem’ como o sujeito que desenvolve as
competências desejadas pelo mundo laboral; enquanto ao ‘jovem’ como colaborador ele
158
participa de forma colaborativa dos processos de inserções laborais. Do outro lado do eixo, do
lado passivo, as conceptualizações do jovem são mais complexas, onde ‘jovem’ é entendido
como: beneficiário, onde ‘jovem’ é entendido como o sujeito discursivo que age de maneira
paciente nas ações que são desenvolvidas pelo programa CDD; educando, nesta
conceptualização o ‘jovem’ é entendido como o agente passivo do seu processo educativo; e,
instrumento, onde o ‘jovem’ é instrumentalizado com o intuito de servir para distintas
instituições ou espaços: para sociedade civil (formação de jovens para a cidadania), para o
projeto CDD (mobilizado em função de objetivos), e o mundo do trabalho (sujeito a ser
inserido e instrumentalizado para o trabalho).
Figura 4 – Rede
conceitual de ‘jovem é’.
159
Figura 5 – Rede conceitual Fonte: Elaborado pelo autor (2016). da relação Educação –
Trabalho.
Aqui são propostos alguns modelos culturais de caráter linguístico, os que recuperam
distintas formas de como é descrito prototipicamente o ator discursivo ‘jovem’. Segundo
165
Pardo (2013) é desde a análise, interpretação e reflexão crítica em base aos modelos culturais
encontrados no discurso, é que se faz possível introduzir-se nas formas em que operam as
distintas estratégias de controle social e de orientação comportamental, pelo que os sentidos e
diretrizes são recuperados em forma ilustrativa no conjunto de modelos.
Assim as expressões sublinhadas em cada uma das células correspondem às formas
do discurso que dão conta de um modelo cultural, o primeiro modelo ‘o jovem é um
instrumento da sua inserção social’ é construido em base ao desenterramento dos sentidos que
possuem as expressões: ‘formação de jovens para cidadania’; ‘instrumentalização dos jovens’;
‘mobilização dos jovens’; ‘jovens a serem inseridos’; ‘ampliar o vocabulário dos jovens’. A
noção de instrumento é suportada nas seguintes ideias: para a cidadania, instrumentalização,
mobilização, a serem inseridos, e ampliar o vocabulário, que são utilizadas para qualificar ao
ator, as suas ações e metas, o que implica supor que o ‘jovem’ é dirigido por terceiros para a
obtenção de metas que não são definidas pelo ator, razão pela que deve se adaptar a novas
situações.
Neste contexto o ator ‘jovem’ é objetivado, transformado em instrumento para ser
significado como o elemento constitutivo da sua própria inserção social, deste modo o
‘jovem’ segue um contraditório percurso em que deve seguir as diretrizes do programa CDD,
o que o converte num instrumento da sua própria inserção social, processo em que é formado
para a sociedade civil e para a inserção no mundo laboral.
Seguindo a lógica exposta na interpretação dos resultados o ator ‘jovem’
desenvolveria o processo de inserção social seguindo a proposta dada pelo programa do CDD
sem ir além do que se ofereça neste contexto, e não seguindo os interesses pessoais que cada
um dos jovens que compõem o ator discursivo ‘jovem’ possa ter e procurar.
Enquanto ao segundo modelo ‘o jovem participa é protagonista da sua formação para
o trabalho’ surge desde a aparição de expressões como: ‘a serem aprimoradas pelos jovens’; a
construção de projetos de vida pelos jovens’; ‘junto com os jovens’; e ‘os jovens apresentam’.
Aqui é possível ver um modelo que, a diferencia do anterior, apresenta um ator que
protagoniza as atividades relacionadas com sua formação para entrar no mundo do trabalho,
principalmente nas áreas relacionadas com o desenvolvimento de competências e a construção
de projetos de vida.
Este segundo modelo possui uma importante relação com o anteriormente proposto,
especificamente no sentido da continuidade, uma relação que ao mesmo tempo aparece como
166
Considerações Finais
Nesta parte final da dissertação são revisados os resultados da análise crítica do
discurso desde as perguntas de pesquisa: Qual é a ideia de jovem/juventude subjacente na
ESV/ESE?; quais são os espaços de participação para a juventude que propõe a ESV/ESE?; e,
qual é a relação educação-trabalho subjacente na ESV/ESE? Em conjunto com as respostas
para as mesmas perguntas desde as propostas que dão forma ao marco do programa CDD e o
discurso do Instituto Walmart em base aos documentos citados no marco teórico com o intuito
de realizar um contraste final entre ambas as respostas.
Ao revisar as respostas obtidas dos resultados das análises serão considerados além
dos resultados mesmos, serão considerados os elementos que conformam as estratégias
interpretativas: redes conceituais, esquemas fundacionais, e modelos culturais que foram
desenvolvidos em base às próprias perguntas guias.
Para responder a primeira pergunta, referente à ideia de juventude subjacente na
proposta da EVE/ESE, e seu predecessor o CDD e que se começa da síntese dos resultados e
análises interpretativas referentes à primeira pergunta de pesquisa será percorrido um caminho
que começa com as últimas interpretações realizadas retrocedendo até os resultados, isto é,
dando início nos modelos culturais até chegar aos resultados da análise dos respetivos corpus.
Assim, como já foi exposto, foram construídos três modelos culturais de como é entendido o
jovem em distintos espaços e funções ao interior da concepção de: ‘O jovem é protagonista da
sua formação para o trabalho’, ‘O jovem é um instrumento da sua inserção social’, e ‘O jovem
recebe instruções na sua formação, e benefícios oferecidos pelo programa’.
Entre estes três modelos culturais se apresenta uma relação em quanto a que cada
modelo entrega uma informação oposto às concepções que são apresentadas no primeiro
modelo cultural. Por exemplo, no primeiro modelo o jovem é entendido como o protagonista
da sua formação para o trabalho, mas ao revisar o segundo modelo, este da conta da
instrumentalização do jovem no processo que vivência ao interior do programa CDD, e o
terceiro modelo oferece uma conceptualização do jovem como um aluno passivo das práticas
pedagógicas e um beneficiário das práticas do programa CDD. Ou seja, que na própria análise
dos documentos se apresentam concepções contraditórias, o mesmo jovem apresentado como
ator protagónico da sua formação para o primeiro emprego formal aparece como um
instrumento no seu processo de inserção social e passivo tanto pedagogicamente quanto
participe das distintas instâncias do programa.
168
democrática; perspectiva do trabalhador; cidadão que participa no destino da sua vida, sua
comunidade e seu país; entre outros.
O conceito de ‘protagonismo juvenil’ segundo Ferreti, Zibas e Tartuce (2004) se
apresenta tanto nos textos especializados, quanto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio. Na revisão bibliográfica apresentada por estes autores o conceito de
‘protagonismo juvenil’ é passível de ser interpretado de diferentes formas, imbricado com
outros conceitos igualmente híbridos, como “participação”, “identidade”, “autonomia” e
“cidadania”, entre outros. O conceito de protagonismo se encontra também vinculado aos
programas de formação para a cidadania, dado o fato de que estas propostas de protagonismo
almejam participar institucionalmente e nas práticas escolares, especificamente por meio da
‘educação por projetos’, conceito que será aprofundado na pergunta de pesquisa referente à
relação educação-trabalho.
Ferreti, Zibas e Tartuce (2004) destacam que as diversas facetas que contém o
conceito de ‘protagonismo juvenil’ acabam remetendo à noção de hibridismo no discurso,
explicado na descontextualização dos textos e posteriores recontextualizações, de modo que
acabam sendo apropriados por contextos diferentes dos que foram produzidos. Pelo que
acabam sendo aplicados em práticas e relações distintas daquelas em que se originam o que
produz um processo que permite embaralhar os campos políticos-ideológicos.
Neste caso particular se encontram duas perspectivas em conflito; de um lado a que
propõe a necessidade de desenvolvimento do ser humano completo, para além das
necessidades da produção, por meio de práticas educativas que considerem métodos ativos
com conteúdos contextualizados e integrados; e do outro lado se mencionam as irreversíveis
mudanças da sociedade pós-industrial, despolitizando aos jovens e propondo uma política de
adaptabilidade ao contexto e superação do segmento individual, perspectiva que para diversos
analistas corresponde à que prevalece nas diretrizes curriculares (FERRETI; ZIBAS;
TARTUCE, 2004).
Assim ao contrastar ambas perspectivas o primeiro ponto a destacar é o relativo ao
conceito de ‘jovem protagonista’, já que junto com ‘jovem colaborador’ são os únicos que se
apresentam em ambas as respostas, as propostas do CDD e os resultados do ACD. Se nos
documentos que conformam a metodologia de trabalho do programa CDD se propõe a ideia
de ‘protagonismo juvenil’ em áreas como o espaço educativo, a comunidade e a nação, os
resultados da análise crítica destes textos também amostram um jovem protagonista, com a
170
plantaram uma ideia aos começos dos anos 1990 para depois colher um projeto amadurecido e
provado nos mediados da década do 2010.
Tal como é apresentada no cenário internacional a precária situação da juventude na
atualidade esta é indicada como responsabilidade do falido do Estado do bem-estar social e do
irracional e monetário Estado Neoliberal, pelo que a alternativa de desenvolvimento humano
ou sustentável ou localmente inserido é apresentado como a única opção de sobreviver na
atualidade.
Mas considerando os conceitos em que foi construída a perspectiva Neoliberal no
começo desta pesquisa é possível entender a orientação do movimento neoliberal (não
ideologia) desde o capitalismo selvagem para o desenvolvimento humano desde outra
perspectiva. Por trás deste giro a um novo desenvolvimento não existe uma nova definição de
jovem, ou cidadão, ou de qualquer outro ator social, existe uma volta ao que os ordoliberais
chamaram de vitalpolitik, a política onde não é o mercado que regula o Estado, mas é o
Estado que regulará as vidas das pessoas para que estas funcionem como elementos do
mercado.
Neste contexto aparece a figura do empreendedor, do gerente da própria existência,
onde o desenvolvimento de competências não é outra coisa que o desenvolvimento de
qualidades desejadas pelo mercado laboral. Um mercado que agora solicita trabalhadores
flexíveis e emocionalmente sensíveis, que possam comunicar assertivamente o que pensam ou
desejam, mas este mercado não se é de estar de braços cruzados esperando por estes
trabalhadores, este mercado cria estratégias educativas, programas curriculares e projetos
educativos que formam os trabalhadores que necessitam.
Para apoiar um programa que oferece possibilidades de formação qualificada e
emprego formal aos jovens é necessário que as regras sejam claras, além de saber quais são os
objetivos dessa formação, quem financia essa formação e onde vão trabalhar os jovens
qualificados. Mas quando é construída toda uma parafernália teórico, ética e metodológica
que repete constantemente que forma pessoas ‘integrais e integradas’, por meio de ‘textos-
sentidos’ para serem protagonistas de sua vida, comunidade e pais que na prática do total de
jovens formados pela ESV o 80% deles acaba trabalhando em Walmart, ou seja, por meio de
um discurso eclético, miscelâneo e híbrido constrói uma prática educativa de caráter
filantrópica, parcialmente financiada com dinheiro público, para formar a baixos custos
empregados totalmente adequados a suas necessidades, com alta orientação ao serviço e uma
174
forte vinculação com a empresa o que pode ser resumido na seguinte expressão em espanhol
‘negócio redondo’.
Mas este modelo de trabalho, de desenvolver as práticas educativas e sociais úteis ao
mundo privado não é uma exclusividade nem da Walmart nem do Brasil, seguindo o
superficialmente exposto nesta pesquisa onde foram apresentados antecedentes que
demonstram a participação de agências estadunidenses (como a USAID) na promoção de
elementos curriculares e de projetos de ensino orientadas as camadas populares, acabaram
impondo em toda a região da América Latina uma série de práticas baseadas em elementos
como: a participação, a formação cidadã, os projetos de vida, a formação por competências,
entre outros. Práticas que ultrapassaram as práticas privadas e que acabaram atingindo os
programas públicos e as distintas reformas educativas da região, orientando as novas práticas
académicas que visavam reformar a educação a dar um giro que continuou tendo a formação
para o trabalho como o principal alvo.
175
Referências
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