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Flavio Gordon
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Epistocracia: o ataque dos autoproclamados “fact-checkers” à


internet livre
por Flávio Gordon [ 16/05/2018 ] [ 12:21 ] Atualizado em [ 17/05/2018 ] [ 19:24 ]

Foto: Pixabay

 
“Ao futuro ou ao passado, a uma época em que o pensamento seja livre, em
que os homens sejam diferentes uns dos outros e que não vivam sós – a uma
época em que a verdade exista e o que foi feito não possa ser desfeito”
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 (George Orwell, 1984)

Em 7 de novembro de 2016, a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista


com o filósofo americano Jason Brennan, autor do livro Against Democracy
(“Contra a Democracia”), na época recém lançado. Nela, tanto o
entrevistado quanto o entrevistador, em perfeita sintonia, caracterizavam
eventos tais como a ascensão de Donald Trump (que, dali a dois dias, seria
eleito o 45º presidente dos EUA), a vitória do Brexit no Reino Unido e a
[2834]
rejeição do povo colombiano ao acordo de paz com as FARC como sinais
inequívocos de uma “crise da democracia global e dos sistemas de
representação política”. Não, o leitor não leu errado. Pelo fato de as
respectivas decisões soberanas não os haver agradado, o jornalista
brasileiro e o seu especialista particular decidiram tachá-las não apenas de
[0]
“estúpidas” (sic), mas também de moralmente nocivas.

Em seu livro, Brennan é muito claro quanto ao sistema político que, em


[9]
substituição à democracia, considera o ideal: a epistocracia, o governo dos
“bem-informados” (casta superior na qual, evidentemente, ele se inclui). O
autor justifica sua posição da seguinte maneira:

“Quando alguns cidadãos são moralmente irracionais, ignorantes ou


incompetentes em relação à política, isso justifica que não se os permita
exercer autoridade política sobre os outros. E que tenham seu acesso ao
poder vetado ou, ao menos, reduzido, para que pessoas inocentes não
sofram os efeitos de sua incapacidade”.
mais lidas da semana
Para Brennan, é tudo muito simples: assim como motoristas inaptos não
podem ter o direito de dirigir, eleitores politicamente incapazes, segundo o Mallarmé no ABC: a título de
epitáfio
seu juízo, não devem ter direito a voto. A opinião do epistocrata americano
é muito significativa porque diz às claras aquilo que o establishment
Flavio Gordon
midiático, intelectual e político no Ocidente pensa, mas não tem coragem
de dizer em público, preferindo agir discretamente. Como confessou certa
feita à revista alemã Der Spiegel o atual presidente da Comissão Europeia, Os Deuses Devem Estar
Loucos: Jordan Peterson e a
Jean-Claude Juncker: revista "Época"

Flavio Gordon
“Nós primeiro decidimos algo, e então lançamos a ideia, aguardando um
pouco para ver o que acontece. Se não houver grandes rebeliões e gritos de
protesto, porque a maioria das pessoas sequer entendeu o que foi decidido, Mãos à obra
nós vamos em frente — passo a passo, até não haver mais volta”. 

No texto introdutório à entrevista de Brennan, seu alerta sobre o perigo do Flavio Gordon

crescimento eleitoral de Donald Trump (um dos exemplos citados da tal


“crise” da democracia) é corroborado pelo repórter, para quem o então A descida ao Pireu: os
candidato republicano conduzia uma campanha “com pouco apego a fatos intelectuais e o senso comum

reais”. Para sustentar a afirmação de que 71% das declarações de Trump


durante a campanha foram mentirosas, o jornalista da Folha toma como Flavio Gordon

fonte o site americano PolitiFact, que, segundo ele, “checa discursos


políticos”. Chegamos aí ao cerne da questão. PUBLICIDADE

No dia 17 de novembro daquele mesmo ano, dez dias após a publicação


da entrevista de Brennan, e já em reação à vitória eleitoral de Trump, duas
dezenas de agências de fact-checking (“checagem de fatos”) de vários
países enviam uma carta aberta a Mark Zuckerberg, presidente-executivo
do Facebook, propondo uma parceria para “encontrar e desmontar
informações falsas” na internet – as assim chamadas fake news – e, sem
qualquer legitimidade para tanto, apresentando-se como guardiões do
“debate público sadio”. Dentre as agências signatárias da carta,
constavam, além da já mencionada PolitiFact, as brasileiras Lupa, Aos
Fatos e Agência Pública-Truco.
Todas essas agências integram a Rede Internacional de Fact-Checking
(“The International Fact-Checking Network”), sediada no Poynter Institute,
entidade sem fins lucrativos dedicada formalmente a aprimorar (e,
informalmente, a homogeneizar) a prática jornalística ao redor do mundo.
O Poynter Institute é financiado basicamente por duas grandes fundações
“filantrópicas”: a Omidyar Network, de Pierre Omidyar, idealizador do
eBay, e a Open Society, do megainvestidor George Soros. Em junho de
2017, as duas juntas doaram um total de 1,3 milhões de dólares ao
[2834]
Poynter, com o fim específico e declarado de incrementar as ações da Rede
Internacional de Fact-Checking.

Portanto, ao tomar por fonte fidedigna a agência PolitiFact, descrevendo-a


como entidade neutra de checagem de discursos políticos, o repórter da
[0]
Folha omite do público uma informação jornalística crucial, a saber: que
seus financiadores são, assumidamente, dois dos maiores inimigos
[9] políticos do presidente americano, que tudo fizeram para impedi-lo de se
eleger, e agora fazem para impedi-lo de governar (ver aqui e aqui). Essa
omissão jornalística poderia ser perfeitamente enquadrada na prática de
fake news, que, em tese, deveria atrair a atenção dos “checadores” caso o
seu interesse fosse realmente a qualidade do debate público e não, como é
o caso, dispor de um pretexto para censurar desafetos políticos.

A essa altura já deve ter ficado claro para o leitor que essas agências de
fact-checking, longe de instituições ideologicamente neutras, são, ao
contrário, agentes políticos de destaque no cenário global
contemporâneo. Junto aos conglomerados tradicionais de mídia, elas
integram uma grande reação epistocrata à livre circulação de ideias em
seus respectivos países, que, nos últimos anos, graças à internet, pôs em
xeque o monopólio de informação exercido pela grande imprensa, cada
vez menos diversa em termos de visão de mundo. Composta por
portadores daquilo que o economista americano Thomas Sowell chamou
de “a visão dos ungidos”, essa grande rede de organizações procura uma
solução urgente para o seguinte problema: o que fazer quando, a despeito
de todas as nossas estratégias de manipulação do debate público, o povo
não nos obedece e vota contrariamente aos nossos interesses, como
ocorreu no Brexit e na eleição de Trump?

No Brasil, todo o processo que vamos descrevendo culminou em duas das


três signatárias da carta supracitada, Lupa e Aos Fatos, firmando
oficialmente acordo com o Facebook, uma plataforma que, originalmente
anunciada como neutra, revela-se cada vez mais engajada politicamente,
como ficou claro na sabatina de Zuckerberg no Congresso Americano
ocorrida no mês passado. No último dia 10, a rede social lançou o seu
programa de “verificação de notícias”, que consiste em reduzir o alcance
de notícias e postagens as quais, de maneira autocrática, as referidas
agências de checagem – ou, dando nome aos bois, de censura – definam
como falsas. Quanto à terceira signatária, a Agência Pública-Truco, também
integrante da Rede Internacional de Fact-Checking, coube-lhe a missão de
ministrar cursos de formação de censores, tendo como público-alvo jovens
profissionais da imprensa, novos pretendentes a um cargo nesse
Ministério da Verdade versão século 21.

Se o leitor tiver curiosidade de dar uma breve pesquisada no perfil das


agências brasileiras de censura na internet (por exemplo, aqui, aqui e
aqui), não tardará a perceber o óbvio: suas equipes são compostas
exclusivamente por indivíduos de esquerda ou extrema-esquerda,
eleitores ou simpatizantes de partidos como PSol, PC do B e PT, e cujo
objetivo é intervir ostensivamente no processo eleitoral vindouro. É o caso,
por exemplo, da Agência Pública-Truco, da qual fazem parte, além de
jovens millenials e justiceiros sociais desconhecidos do público, notórios
radicais de esquerda tais como Leonardo Sakamoto, Eliane Brum, Eugênio
Bucci e Ricardo Kotscho (este último ex-assessor do corrupto preso Luís
Inácio Lula da Silva).

Os efeitos dessa vasta articulação política em prol de uma internet


policiada e partidarizada já se fazem sentir de maneira dramática. Páginas
e perfis de indivíduos e grupos posicionados no campo não-esquerdista do
BLOGS
espectro político têm tido o seu alcance reduzido, quando não são
ENTRAR
  
 
[2834] sumariamente banidos em processos verdadeiramente kafkianos, nos
quais não se concede ao acusado direito de defesa, nem sequer
informações claras sobre o crime de pensamento cometido. Postagens
politicamente indesejáveis têm desaparecido misteriosamente, mediante
aquilo que se convencionou chamar de ghost banning (“banimento
[0] fantasma”), o bloqueio do conteúdo postado por um usuário que, sem se
dar conta de ter sido bloqueado, não entende por que, de um dia para o
outro, as curtidas em seus posts despencam da casa dos milhares para a
[9]
das dezenas.

Estamos diante de um verdadeiro ataque à democracia perpetrado justo


por aqueles que, em recorrentes campanhas de autopromoção, mais
professam defendê-la. Trata-se de uma gente arrogante, elitista e
autoritária, investida de um senso auto-hipnótico de superioridade moral,
pelo qual se arvoram o papel de polícia do debate público. Crendo-se
imunes ao erro, e provincianamente instalados em seus safe spaces,
querem porque querem refazer a sociedade à sua imagem e semelhança,
sem a presença inconveniente, na rede e nas seções de comentários dos
jornais, do “bando de deploráveis” que insiste em não os reverenciar. A
guerra por uma internet livre está apenas começando, e dela deverá fazer
parte todo aquele que, ademais de zelar pela própria, zela também pela
liberdade de consciência alheia. É hora de somar forças contra o
totalitarismo dos epistocratas.

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COMENTÁRIOS [8] COMUNIDADE

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[2834]

Alexandre Tcaciuc Luccas ± 1 dia


A Ótimo artigo, Flávio Gordon. Esclarecedor!!!

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[0]

Iury Salvador Lima 2 dias


Flávio, eu gosto muito livro do Jonanthan Haidt, Righteous Mind (http://righteousmind.com/), que destrinchou o problema do viés de
[9]
confirmação, nos casos virtuosos em que as pessoas acham que estão sendo corretas, mas de fato estão sendo enviesadas no seu
julgamento. Ele trata inclusive do meio acadêmico, onde a bolha de humanas acabou alimentando um comportamento autoritário e
excludente de qualquer opinião fora da esquerda. Ele é uma referência hoje em dia, e uma pessoa bastante aguerrida. Uma das
iniciativas é o Heterodox Academy, para formentar uma plataforma de diversidade do debate, saindo do bloqueio de cada feudo
acadêmico. https://heterodoxacademy.org/

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1 Resposta

Luiz Paulo de Souza Vianna 2 dias


L E como a gente consegue combater isso

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André Brito 2 dias


A Perfeito!

3 RESPONDER COMPARTILHAR DENUNCIAR

Luciano cesar 2 dias


L Ótimo! parabéns, vamos compartilhar muito agora esse ataque à liberdade de expressão da extrema esquerda internacional.

4 RESPONDER COMPARTILHAR DENUNCIAR

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