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Lá vamos nós, novamente:

Falar que "ninguém que pede pela descriminalização do aborto acha que é uma prática legal e
deve ser banalizada" é uma generalização muito perigosa. Já fiz e compartilhei vários posts
sobre todo o lobby por trás da legalização/descriminalização do aborto até x semanas, além
dos casos que já não se tem penalização por conta da prática (estupro, risco de vida da mãe e
anencefalia). Esses lobbys envolvem empresas e buscas pelo poder muito profundas, e existem
vídeos e mais vídeos disso. Cabe a reflexão de até que ponto mulheres vulneráveis
emocionalmente e ideologicamente podem ser usadas como massa de manobra para planos
muito maiores, visto que nem de perto o aborto provocado é um problema de saúde pública.

Medir a pressão moralista que cai em cima da mulher ou do homem eu não sei, visto que
muitos problemas que envolvem homens são cada vez mais banalizados e postos de lado. Se o
moralismo cai em cima da mulher porque ela poderia ter sido mais prudente e talvez não da
mesma forma para o homem, daí entra o papel do Estado em condená-lo por abandono de
incapaz ou qualquer outro tipo de enquadramento criminal, vastas opções. Cabe a reflexão de
que qualquer pessoa que condene com raiva e indignação quem faz o aborto já está errado,
quando o problema é a prática em si. Você conhece as casas pró-vida, muitas sustentadas por
igrejas católicas e evangélicas? Tanto as casas como atividades de coleta de leite materno para
crianças sem pai e mãe, quanto o papel da pastoral no acompanhamento das mães em
comunidades carentes. Aqui perto de mim tem a Igreja de Nossa Senhora da Glória que realiza
essas atividades. A Sara Winter e tantas outras pessoas ajudam na mediação dessas casas de
amparo a pessoas que não querem necessariamente um pai para cuidar das crianças, mas
querem o mínimo de segurança para serem mães e dar a criança o direito de viver. Vale a pena
buscar sobre, são trabalhos muito bonitos, infelizmente com pouca visibilidade e acredito que
sem apoio nenhum do governo.

Quanto a pensão, sou prova viva de que o que eu disse acontece. Meu pai até hoje paga
pensão aos filhos do primeiro casamento, mesmo minha irmã tendo 38 anos e meu irmão 40,
com famílias formadas, faculdades pagas e concluídas e vidas bem-sucedidas. Em vários
momentos meu pai pediu a redução do valor sem sucesso, visto que nunca tivemos uma
situação financeira tranquila, e caso ele atrasasse o pagamento, a ex-mulher sempre esteve na
cola dele o ameaçando de mandar o oficial de justiça prendê-lo, várias vezes. E até hoje é
descontada uma porcentagem da aposentadoria ridícula que ele recebe, que não vale a
exposição aqui. Quanto ao pai sumir, existem milhares de formas de literalmente caçá-lo, seja
publicando um edital de busca, seja fazendo uma busca por vestígios em companhias
telefônicas, empresas de cartão de crédito, bancos, familiares etc. Com um advogado que seja,
uma defensoria pública, há possibilidades infinitas de achá-lo. Além do mais, a própria mulher
que sofreu com o abandono pode também denunciar e pedir a busca do indivíduo, tendo
quaisquer informações básicas sobre, seja um nome completo, CPF, RG. A prisão é um último
recurso de coerção para que seja feito o pagamento, e a cobrança continua existindo mesmo
se ele for preso, porque a prisão não quita dívidas, o cara pode ficar com nome sujo no SPC
etc. Estranho isso não ter acontecido com você, porque é a única prisão civil que é mantida por
lei ainda.
Há muitos esforços por parte do Estado e das suas diversas instâncias para que a prática do
abandono paterno não exista. Para discutir sobre a sociedade que supostamente naturaliza a
prática do abandono paterno, nós teríamos que ir muito a fundo em muitas questões da
história da revolução das ideias, da revolução sexual, dos avanços das liberdades individuais,
pelo menos desde os anos 60 até a atualidade e como ocorreu e ocorre cada vez mais a
dissolução e banalização, acima de tudo, do que é família e sua importância para o
desenvolvimento da civilização como um todo. Torno a dizer: uma prática é tão hedionda
contra a outra, mas ainda há a possibilidade de em um dos casos existir o desenvolvimento do
indivíduo e oportunidades de fazer diferente. Já te disse que minha mãe foi abandonada pela
mãe biológica, a mãe que criou a coagia a ser uma dona de casa e enfiava sempre minhocas na
cabeça dela, de que ela não deveria arrumar ninguém porque "homem é cachaceiro e vai bater
em você", como acontecia entre o meu avô e avó maternos. Minha mãe escolheu ser diferente
e estamos numa família hoje, em nada parecida com a qual ela foi criada, graças a Deus. Enfim,
é bom a gente não só refletir como estudar e verificar dados, por vezes dar para trás em
sentimentalismo, o que é muito difícil, mas podemos conversar sobre isso depois, visto que eu
também preciso ainda de muita bagagem intelectual para abarcar isso tudo.

Torno a dizer, quando a indignação ocorre é devido ao aborto. Se você nota que existem
discussões que rebaixam a mulher, não deve tomar isso como uma generalização, porque são
pessoas que não sabem o que falam. O "julgamento" que se faz, por pessoas sérias, é
principalmente quem está encabeçando essas discussões e os problemas físicos e psicológicos
que o aborto causa a mulher. Existe, por exemplo, estudos e mais estudos sobre a relação
entre o aumento de chances de câncer de mama e o aborto, intrinsecamente ligados. Os pró-
vida sérios, que buscam escancarar as falácias que as ONGs e demais grupos pró-aborto
disseminam, se preocupam muito com a saúde da mulher e da criança. Convido você a reparar
mais nos posts que eu compartilho, assim que tiver tempo. O julgamento ao qual você se
refere é vindo de gente ignorante e irrelevante para a discussão que se propõe. E como disse
anteriormente, existem casas pró-vida, obscurecidas pelo governo, que dão a oportunidade
das mães terem seus filhos em condições mínimas de higiene, mantidas na sua maioria com
doações de religiosos. Existe uma "revolução" silenciosa acontecendo debaixo dos nossos
narizes, mas as pessoas estão muito confusas para entender isso.

Tem tanto homem postando sobre aborto porque querem se fazer ouvir, porque a
desumanização do indivíduo masculino é tão grande atualmente que aparentemente não se
leva em conta que o pai pode sofrer também com esse tipo de prática. Se existe uma parcela
de "culpa" pelo homem que abandona e não paga pensão ao filho nascido, por que não existe
a mesma parcela de interferência quanto ao nascimento ou não da criança? Até que se prove o
contrário, a fecundação ocorre quando o espermatozoide se encontra com o óvulo, ou seja,
tanto homem quanto mulher tem espaço na discussão. A partir do momento que há a
fecundação, o zigoto se torna um indivíduo com DNA do pai e da mãe, não é propriedade ou
parte do corpo da mulher. Se fosse parte do corpo da mulher, não seria parido e sim
amputado, a mulher já nasceria com um feto. Tanto o é indivíduo apenas alojado e não parte
do corpo da mulher que ele pode ser abortado espontaneamente por ser visto como um corpo
estranho pelo organismo, e o que regula isso é a membrana que o protege durante toda a
gravidez. Não sei em que parte do processo o homem é excluído da discussão sobre um
resultado desse encontro.

Existem mulheres que não escolheram praticar o aborto e ter a criança, apesar dos homens a
obrigarem. Isso se chama dever de mãe, é a consciência de que existe um papel importante na
geração de uma vida que pode fazer a diferença na vida da mãe e no mundo. É a consciência
natural que ainda permanece e tentam a todo custo banalizar e excluir sim, mesmo os dados
apontando que as mulheres negras, periféricas e com baixa escolaridade, que são usadas
como combustível para essas discussões, são maioria esmagadora contra essa prática. Nosso
último reduto de conservação dos valores mais básicos e fundamentais se encontra nessas
mulheres.

Cabe a reflexão.

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