Medicalização da vida: por que os diagnósticos de TDA/H e Dislexia cresceram
tanto?
O crescimento exacerbado de
diagnósticos está diretamente ligado
com o fenômeno que chamamos por
medicalização. Este termo foi
preconizado em meados de 1970, por
Ivan Illich (1975), que chamava a
atenção para uma maior dificuldade das
pessoas em enfrentar o sofrimento da
própria vida, transformando eventos do
cotidiano em situações patológicas, ou
seja, em doenças, usando medicamentos
para amenizar tais incômodos.
De forma mais sucinta,
medicalizar não é fazer o uso abusivo
de medicamentos, mas sim, utilizá-los
sem que haja um diagnóstico ou uma
doença propriamente dita. A palavra
medicalização, por vezes, é confundida
com o termo medicação. Este último,
por sua vez, é uma prática muito
importante na área da saúde quando se
diagnostica corretamente uma doença
orgânica, para a qual não haveria outra
forma de tratamento.
Vê-se hoje um “boom” de
diagnósticos, principalmente
relacionado aos processos de
escolarização: Transtorno de Déficit de
Atenção com/sem Hiperatividade
(TDA/H) e Dislexia. De forma geral, de
acordo com o Manual Diagnóstico e
Estatístico dos Transtornos Mentais
(DSM V) (2014), reconhece-se estes
dois transtornos, respectivamente, pela
expressão de sintomas de desatenção,
hiperatividade e impulsividade e;
dificuldades na fluência e na
compreensão da leitura.
Existem, inclusive, testes
espalhados pela internet que,
erroneamente, diagnosticam estes e
outros tantos transtornos. Mediante este
cenário, deve-se ter bastante cautela
para a compreensão mais aprofundada
destas enfermidades, atentando-se à
banalização do diagnóstico, em que
qualquer situação de desatenção,
dificuldade no processo de ensino
aprendizagem, ou comportamento que
fuja ao padrão esperado, seja
considerada uma doença, sem que haja
uma contextualização.
Para fechar um diagnóstico esta
contextualização é muito importante,
uma vez que necessita considerar
aspectos relacionais daquela criança
com sua escola, família, amigos e, não
só, observá-la individualmente.
Um dos tratamentos mais
recorrentes para o TDA/H é por via
medicamentosa. Neste sentido,
retornamos ao termo medicalização para
problematizar e alertar sobre a
quantidade de crianças que está sendo
diagnosticada com TDA/H, de forma
descontextualizada e,
consequentemente, utilizando remédios
desnecessariamente.
O composto Cloridato de
Metilfenidato, comercialmente
conhecido por Ritalina®, Concerta® ou
Venvanse®, é o fármaco utilizado no
tratamento do TDA/H, o qual tem sido
dispensado de forma abrupta. Este
psicofármaco atua no aumento da
noradrenalina e dopamina, dois
neurotransmissores do sistema nervoso
central, culminando na potencialização
da atenção.
De forma geral, tratando-se de
medicamentos, sabe-se que estes vêm
associados com efeitos colaterais e, em
relação à Ritalina®, alguns deles são:
taquicardia, diminuição do apetite,
insônia, aumento da pressão arterial,
entre tantos outros que podem ser
encontrados na própria bula.
Por isso, é imprescindível
refletirmos sobre o aumento de
diagnósticos, principalmente do
TDA/H, e sobre os riscos associados a
este. Na dúvida, procure atendimento
especializado e pesquise em bases
confiáveis. Evite riscos desnecessários à
sua saúde e de sua família.

Thais de Sousa
Rodrigues

Mestre em Psicologia pela

Universidade Federal de Uberlândia