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A Degola - Paula Chagas
A Degola - Paula Chagas
de Paula Chagas
CENA I
(Um homem com cerca de trinta anos e uma mulher com cerca de quarenta estão
em uma sala confortável, repleta de estantes com livros).
(Silêncio).
(Silêncio).
Homem- Responde!
(Silêncio).
Mulher- Tá. Você quer saber porque revólver e inglês são sinônimos?
(Silêncio).
Homem- (Desistindo). Olha, você fala ou não fala o que você quiser, tá bom? Eu
aprendi há muito tempo que não adianta discutir com você. OK?
(Silêncio).
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A DEGOLA
(Homem dá de ombros).
Mulher- É porque hoje em dia para você conseguir alguma coisa de fato tem que
ter um revólver ou saber falar inglês, sem isso não se vai a lugar nenhum nesse mundo
de meu deus.
Mulher- Quais?
Mulher- (Ri a contra gosto). OK. Então, revólver, inglês e seqüestro de aviões são
sinônimos.
Homem- Isso.
(Olham-se).
certeza, tinha!
Homem- Como você pode saber? Eu, naquela época podia seqüestrar aviões.
Afinal, são...
Mulher- Sinônimos...
Homem- É. Exatamente.
Mulher- Difícil...
(Silêncio).
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A DEGOLA
Mulher- Muito bem, muito bem! Com o inglês na ponta da língua é mais fácil
(Silêncio).
Mulher- E aí?
Homem- E aí o que?
(Mulher não responde. Chega perto dele, muito perto, perigosamente perto.
Olham-se, ele está progressivamente mais nervoso. Homem afasta-se e pega um cigarro
Homem- Não. Eu não estou nervoso. Professor. Sabe como é, sala de professor. A
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A DEGOLA
Homem- Maiá...Eu já tenho mais idade do que você tinha quando eu te conheci.
E por aqui não tem nada do que sempre mediou a nossa relação.
Mulher- E daí?
Mulher- Certeza de que aqui não tem nada do que mediava a nossa relação?
Homem- Você não vai começar a querer foder a minha cabeça, certo? Há muito
quanto você gostaria. (Estão novamente perigosamente perto. Ela parece gostar e
Mulher- É?
Homem-É! (Vai até um bar que há em um canto da sala. Traz uma garrafa de
Whisky , cigarros e põe uma música. Vai até ela, lhe dá a garrafa e senta. Fica fumando
seu cigarro e bebendo. Mulher vai até ele. Passa seu corpo por cima dele e pega um
cigarro em cima da mesa. Olham-se muito de perto. Ele levanta e anda pela sala. Ela
passa por ele, tem movimentos lascivos. Vai até o som e troca a música. Ele estremece.
Ela vai até ele. Ele vai até o som e deixa a música alta, muito alta. Ela vai até ele
CENA II
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A DEGOLA
(Homem com vinte e dois anos e mulher com vinte e nove estão em uma sala
fechada, toda preta, onde só há uma mesa, uma cadeira e uma janela totalmente
vedada).
Mulher- Tá bom. OK! Você vai para algum lugar, obviamente, e eu não tenho
nada a ver com isso. Eu também não tenho um revólver e não sei falar inglês, então,
Homem- Que bom que você acha isso. É quase um milagre você não achar que
(Silêncio).
Mulher- Não.
Mulher- Piegas!
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A DEGOLA
(Ela parece se arrepiar toda. Fecha os olhos. Ficam muito perto. Ele se afasta).
Mulher- Você sempre esteve! E para provar que está tudo bem e para comemorar
esse alegre e ma-ra-vi-lho-so dia ensolarado (Olha para a janela que está fechada). Olha
só o que eu trouxe. (Dirige-se para uma sacola que está em um canto da sala. Traz uma
Homem- Uau! (Olha para a porta, parece não acreditar no que vê). E aí? Isso não
vai dar bode, não? (Enquanto ele fala, ela acende dois cigarros. Dá um para ele. Bebe no
gargalo e passa a garrafa para ele também. Faz tudo com gestos lascivos e
propositadamente excessivos).
Mulher- Palavras proibidas: porta, fuga, fim, tchau e tudo que for desse mesmo
universo semântico!
Mulher- Lá venho eu com meu universo semântico embalado para festinha! (Fala
isso em seu ouvido. Sempre com os gestos excessivos. Vai até o rádio e coloca uma
Homem- Uau! (Olha para a porta). Eles não vão ouvir isso mesmo?
Homem- Esqueci. Você pode me contar? Vou até sentar para escutar você
Homem- Não, não. É que eu não tinha mais o que fazer por aqui, sabe?
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A DEGOLA
(Silêncio).
Homem- Sabe? Eu não tinha melhor paisagem por essas bandas. Pôster de gostosa
na parede nunca foi meu tesão. Sabe? Nunca gostei de bater uma punhetinha olhando
Mulher- Ah! Não? E porque acharam um monte delas quando fizeram aquela
famosa revista nos (parece pensar na palavra exata a dizer) quartinhos de vocês, hein?
(Silêncio).
Homem- (Retomando o assunto). Bom, sabe como é... Moleque tem que entrar
na onda, né? Aquela coisa toda. Então eu fazia que nem todo mundo. Mas sempre preferi
a coisa ao vivo, saca? (Fala de novo na sua orelha). Então, era melhor ouvir sua lenga
lenga e poder pensar assim em algo mais concreto à noite, entendeu? Apesar da sua
Homem- Aquela que você aguarda a sua vidinha inteira. Aquela que você sonha a
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A DEGOLA
Homem- Não. O príncipe encantado deve ser esse aí que botou essa aliança aí no
seu dedo!
Homem- Não?
Mulher- Não!
Homem- Tá, vou fingir que não vi você tirá-la uma centena de vezes antes das
nossas aulinhas...
(Silêncio).
Homem- Tá. Eu estou indo e não vou mais cair no seu joguinho, não preciso mais
disso! Enfim, se não tem a tal da aliança bem que queria! Queria que eu sei! Queria
Mulher- Aliche!
Homem- Para mim tanto faz. Por essas bandas quando muito tem é televisão e
sem cabo! Você não quer um príncipe encantado. Quer um sapo louco, verde, azul,
vermelho. De qualquer cor. E sabe que sou euzinho aqui. Mas agora não dá mais. Bé!!!!!
Mulher- Quem soa a campainha aqui, sou eu! Quem decide o que você é ou deixa
Homem- É?
Mulher- É!
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A DEGOLA
Homem- Tá. Então vamos lá. Se eu não sou nem príncipe nem sapo o que eu sou,
então?
(Silêncio)
Homem- Essa pendenga louca aqui! Vem cá, vem com o papai aqui, vem. (Bate
em seu próprio colo) senta aqui, senta, que ele resolve suas neuroses acadêmico-
emocionais, vem!
Mulher- Fica?
Homem- Claro. Estou saindo, nem quero levar lá para fora essa encrenca, meu!
Mulher de trinta, sabe como é, casamento, filho, essa parada toda aí!
Mulher- Quem sabe de tudo aqui sou eu! Essa é a minha função aqui!
Homem- Sua função é saber de tudo? Então você me parece bem incompetente!
Homem- Ui! Tudo isso por causa da idade, hein? Desencana, você até que está
com tudo em cima para sua idade, viu? Para mim está mais do que bom! Bom, apesar
que sabe como é que é, né? Eu não sou muito exigente mesmo, vai ver que meus
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A DEGOLA
Homem- O que é?
Homem- Não pode ser. Não fala que é verdade... (Sobe na cadeira e parece
querer vasculhar cada pedacinho do teto). Você está brincando, não tem nada por aqui.
Mulher- Me sol-ta.
Mulher- Hoje?
Homem- Amanhã. Tanto faz. O que importa é que eu estou indo embora daqui e
(Silêncio).
Mulher- Mas não se engane, não, viu, mocinho, você vai me levar para onde for.
Olha só que engraçado, eu vou de contrabando com você para o resto da sua vida!
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A DEGOLA
Homem- Abre a porra dessa porta. Estou de saco cheio de olhar para a sua cara.
De sa-co chei-o!
Mulher- Não!
Homem- E seu eu gritar, espernear! Sei lá... (Parece pensar um minuto). Quebrar
Mulher- Tem certeza? Talvez você não possa beber nunca mais algo desse
quilate!
Homem- É. Você não vale eu quebrar uma jóia rara dessa. (Dá um grande gole). É
como beber ouro. (Senta. Coloca a mesma música que fechou a cena I).
Homem- Hum! (Levanta-se). Vem cá, vem tia, vamos aproveitar esses momentos
finais!
CENA III
(Mulher com vinte e cinco anos e homem com dezoito estão na mesma sala da
(Silêncio).
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A DEGOLA
Mulher-Não e daí?
Homem-(Agradavelmente surpreso). Sei lá, você não é o que chamam de... de...
Mulher-Educadora?
Mulher-Sou.
Homem-E?
Mulher-E? O que?
Homem- (Rindo). Até onde eu sei, eu posso fazer o que eu quiser. Vocês é que
Mulher- Ah! Quer dizer que você acha que é fácil assim?
Homem- Fácil?
Mulher- É!
Homem- (Olha para os lados). Você está vendo alguma coisa fácil por aqui, tia?
Homem- Para você é que não é, né? Está aqui por que quer!
Mulher- Como eu posso ver alguma coisa que não é para mim? Como é que eu
Homem- Você quer me confundir? Vocês também são todas iguais. Por isso a
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A DEGOLA
Homem- O que?
Mulher- Ah! Deve ser bom assim ter alguém para culpar por tudo o que acontece
Mulher- Tirar onda com a cara. Eu adoro anotar essas expressões sem sentido que
vocês proferem! (Pega um caderno de anotações. Ele fica bravo e o arranca da sua
mão).
Homem- Ó! Eu não sou nenhum bicho de laboratório não, viu? Não sou mesmo! E
não vou admitir que você fique me tratando que nem um, viu?
Homem- Sei!
Mulher- Estou!
Mulher- Ué! A privilegiada aqui sou eu, não é isso que você está falando desde a
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A DEGOLA
Mulher- Então, nem conversando a gente está! Eu estou falando sozinha, não é?
Homem- Um o que, ô?
Mulher- Um...
Homem- Um o que?
meu deus que justifica sua vida nas minhas costas, que quer que eu morra. Que me
Mulher- Mas acontece que esse careta aqui que EU estou fumando é meu! E eu
Mulher- Sinceramente? Não estou nem aí com esse papo! Problema seu! Todo
seu! Só que o privilégio de fumar do careta aqui dentro é meu! E eu não quero dividir
meu privilégio com ninguém! Muito menos com você, que eu nem conheço e que já me
odeia!
Mulher- Odeia!
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A DEGOLA
Mulher- E desde quando papo tem que ter pé ou ter cabeça?! Hein ô?!
(Silêncio).
Mulher- Não?
Homem- Não!
Homem- O, mas que saco! Já falei que eu não te odeio, eu nem te conheço!
Homem- É claro. Tem esse monte de teste psicológico nesses lugares hoje em
dia!
Mulher- É?
Mulher- Eu devia é?
Mulher- Porque essa apreciação tão negativa de você mesmo? Eu poderia saber,
seu moço?
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A DEGOLA
Homem- Me disseram que aqui era um lugar bem esquisito, sabe? Que se por um
lado era mais confortável, por outro vocês viviam querendo foder a nossa cabeça!
Mulher- É mesmo?
Homem- É!
Mulher- Então não há com que se preocupar, você já sabe tudo o que vai
Homem- Quer que eu fique com medo para você acalmar, fala a verdade!
Homem- Fica aí com esse joguinho como se fosse me seduzir com esse jeitinho
de quem não quer nada! Não falam aí que tem um tal de psicólogo, o cara que inventou
essa baboseira toda e que na verdade era um puta dum sacana que só dizia que tudo era
sexo!
Mulher- Olha só! Você estudava psicologia antes de vir para cá, hein?
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A DEGOLA
Homem- Ih! Lá vem você de novo com papo furado! É verdade ou não?
(Silêncio).
(Silêncio).
Mulher- A gente vai estudar junto várias coisas. É para isso que eu estou aqui.
Você vai ter que ficar comigo um bom tempo, então é bom a gente saber mais o que
(Silêncio).
(Silêncio).
Mulher- OK! A hora que você quiser falar, você fala. Enquanto isso eu que não
vou ficar aqui perdendo o meu tempo, falando sozinha! (Pega mais um cigarro, acende,
tira uma garrafa de whisky e um walk man de dentro da sua bolsa. Ele fica com cara de
curioso, mas nada diz. Passa um tempo em que eles alternam olhares com evasivas dela,
que parece entretida com a música que escuta, com a bebida e com o cigarro. Uma hora
Homem- Vem cá, você está mesmo bebendo isso aí, hein?
(Silêncio).
Homem- Os cara não falam nada? Isso é tipo uma pegadinha? Caralho! É só
comigo que essas paradas esquisita acontecem! (Grita para ela). Oh! O que que você ta
ouvindo aí?
Mulher- O que?
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A DEGOLA
Mulher- (Tirando um dos fones do ouvido). Quer ver o que é? (Fala isso
oferecendo um dos fones para ele. Ele fica com cara de quem não está ligando e anda
pela sala. Ela fica ouvindo a música, pega um livro para ler e continua fumando o
cigarro).
Homem- (Parecendo não acreditar no que vê). E essa aí ainda ganha para fazer
isso! Vê se pode!
Homem- Ah! Ficou com medo, é? Quer dizer que tem uma câmera por aqui?
Mulher- Não quer dizer nada. Não me enche! (Volta à pose anterior, mas com um
traço de preocupação).
Homem- Nem disfarçar você sabe direito! (Continua procurando a tal da câmera,
mas não acha nada. Senta-se novamente. Ficam um momento em silêncio. Ele a cutuca).
Mulher- O que é?
Homem- (Pondo fone no ouvido). Pô. Você é esquisita mesmo, hein? Você engana
os caras aí que é psicóloga, sei lá, socióloga, sei lá essas chatice aí, hein?
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A DEGOLA
Homem- (Rindo). Estou falando que você é esquisita. Os cara aí sabe que você
Mulher- (Rindo). Você acha que alguém contrata alguém sem saber o nome desse
alguém, ô Mané?
Mulher- OK. Vamos deixar isso para lá. Pega o fone aí, eu sei que você gosta
dessa música!
(A música é a mesma que fechou as cenas anteriores. Ela vai subindo de volume
CENA IV
(Os dois atores das cenas anteriores começam a falar ainda no escuro).
Homem- Ué, o que tem de absurdo por aqui? Agora é que está tudo no seu lugar
novamente.
Mulher- Marceley!
Homem- Não fala meu nome. Não fa-la esse nome ridículo!
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A DEGOLA
Homem- Não sei. Foi você que veio até aqui. É você quem tem que me dizer para
(Silêncio).
Homem- Então, aqui não tem teatrinho, não! Vamos de verdade ao ponto. A
(Silêncio).
Mulher- É! Você sabia muito bem que eu vinha! A culpa por eu estar aqui é sua e
você sabe disso! Desse jeito você só piora as coisas para você mesmo!
Homem- (Ele finge não escutar o que ela diz). Tem um escritor aí, pode deixar
que eu não vou citar o nome. Eu lembro de uma professora minha, será que era você?
Ora, ora, devia ser, eu nunca tive outra! Então, ela me dizia sempre: sem citação, se
não a fala soa pedante! Então, sem nomes... Ele dizia que uma relação quando se
estabelece não consegue mais fugir da forma como se originou. A nossa, então, só
funciona com a prisão no meio. Já que você veio até aqui, alguém precisa estar preso.
Como era sempre eu e nunca funcionou direito, quem sabe agora com você presa, as
Homem- (Rindo). Tia, você não sabe, não faz a mais vaga idéia do que combina
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A DEGOLA
Homem- Você quer que agradeça o tratamento privilegiado que você me deu
Mulher- Não.
Homem- Pára de inverter tudo. EU te pus aí, porque eu quis. Eu te tiro daí se eu
Mulher- É?
Homem- É!
Homem- Tenho!
Mulher- Porque não cala você? Sou eu que estou aqui amarrada!
(Silêncio).
Homem- A forma como você passa incólume pela vida. Pula para o lado de lá e
volta para o lado de cá. Experimenta tudo, não se vicia em nada. Engravida, aborta com
toda a assepsia que o dinheiro pode comprar. Bebe, tem ressaca, passa, volta à tona.
Entra na cadeia e sai pela porta da frente. Entra na favela por anos e nunca vê sangue.
Você é uma falácia. Fa-lá-ci-a como essas palavras sem sentido que você tanto preza!
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A DEGOLA
Mulher- Bom tiro, bem na mosca. Essa sou eu. Euzinha da silva. A falácia do ano!
E você?
Homem- Eu? Eu não saio por aí querendo ensinar coisas para os desvalidos de
meu deus.
confortável, não? Nem precisa agir. Nem precisa fazer nada. É só ser!
(Silêncio).
Mulher- Nada interessa, nada. Você não pode se salvar, não pode se soltar, nunca
Homem- Era essa a idéia do grande e inovador sistema prisional juvenil que o
(Mulher não fala nada, mas olha para si mesma, amarrada à cadeira).
Homem- Mas se foi exatamente para isso que você veio até aqui!
(Silêncio).
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A DEGOLA
(Homem começa a vasculhar a bolsa dela. Joga coisas no chão. Olha para o teto.
Vasculha a sala. Vai até ela, passa por seu corpo, como se procurasse algo).
Homem- Onde?
Sempre se insurgindo contra tudo. Olha no que deu! Eu aqui depois de tantos anos graças
Mulher- O que?
Homem- Nossas!
(Silêncio. Vai até ela, e a desamarra, lentamente, o tempo todo parece querer
Mulher- E agora?
Homem- Vai.
Homem- Sei, que você vai continuar aqui, sei que você, de algum jeito filmou
tudo isso. Aliás, tenho a nítida sensação de que sempre, esses anos todos, sou filmado,
vigiado e catalogado 24 horas por dia. Tenho certeza de que como grande prodígio do
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A DEGOLA
sistema inovador de vocês serei para sempre sua cobaia! E assim eu não quero e não vou
continuar vivendo. Vai, a deixa é sua agora! Vamos acabar logo com essa lenga lenga!
(Mulher vai até o som, coloca a mesma música que fechou as outras cenas e o
chama).
Mulher- Vem!
Homem- Chega!
Mulher- Quem determina a hora de parar ou de continuar tudo por aqui sou!
Homem- Amém.
Mulher- (Insinuando-se para ele).Você sabe que ainda tem uma chance...
Homem- (Passando a mão nela, ficando muito próximo. Dando a idéia de que vai
Mulher- (Levantando com ódio no olhar). Quem diz chega agora sou eu!
Homem- Vai! Agora quem age segundo minha vontade é você. Vai!
Mulher- Seu grande idiota! (Abraça-o. Beija-o na boca. Ele não corresponde.
Solta-o. Vai até a o centro do palco e faz um gesto como para degolar alguém no seu
próprio pescoço. Imediatamente entram quatro homens fortes vestidos de preto. Pegam
cruzam. Ele sorri com escárnio. Ela fica, olha-se no espelho. Deixa uma lágrima escorrer.
Apruma-se e sai).
FIM
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