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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA PARA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL MÉDIO

Disciplina 4 – A Abordagem Design Thinking como recurso ao trabalho com


situações-problema junto aos alunos.

Unidade 7

A abordagem Design Thinking como recurso ao trabalho


com situações-problema junto aos alunos
Luciana Allan
Se ensinarmos os estudantes de hoje como ensinávamos os de ontem, nós roubaremos deles o amanhã.
John Dewey

1. Os princípios gerais da educação contemporânea

Nas unidades 4 e 5 vimos que os princípios da pedagogia contemporânea têm


início com Rousseau em 1995, e são expressos em seu Livro III de Emílio, ou da
Educação dedicado ao seu Projeto Formativo que, em linhas gerais, nos aponta que é
impossível sabermos tudo. Então, devemos escolher o que ensinar, que são somente
dignos da pesquisa de um homem sábio e que vale a pena serem ensinados, aqueles
conhecimentos que realmente contribuirão para o bem-estar dos alunos, tornando-os
sábios. “Não se trata de saber o que existe, mas o que é útil”, aponta Rousseau. Neste
mesmo livro, Rousseau sugere que tornemos os alunos atentos aos fenômenos da
natureza, e logo, eles se tornarão curiosos. Dewey também foi muito importante neste
momento com o movimento escolanovista. Nascido na Europa e América do Norte, o
ideário maior do movimento era despertar o pensamento crítico e a autonomia dos
estudantes por meio da experimentação e de vivências similares ao método científico.

Entre os brasileiros, tornam-se referência na pedagogia contemporânea Paulo


Freire e Demerval Saviani, com as propostas pedagógicas de caráter crítico-
progressista, em que o conhecimento está intrinsicamente relacionado à vida social e à
transformação da realidade sócio-histórica.

Em resumo, os pressupostos presentes na pedagogia contemporânea valorizam


a aprendizagem por descoberta, investigação e pesquisa, visam a estimular a
construção do conhecimento por meio do diálogo e da interatividade coletiva, do
confronto do indivíduo com seus saberes prévios, da interconexão entre a teoria e a
prática, da problematização da realidade, elaboração de problemas, elegendo temas
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de estudos relacionados com a vida comunitária e social, em uma perspectiva


interdisciplinar.

Para apoiar este processo, valoriza-se estratégias educacionais envolvendo o


trabalho por situações-problema, pois permite que as atividades estejam
intrinsicamente relacionadas à vida, mais especificamente à superação de obstáculos
encontrados na realidade social e individual. Na unidade 5, a autora nos mostra um
trecho do livro de Lino de Macedo, que apresenta resultados na aprendizagem ao se
trabalhar com situações-problema:

“As situações-problemas requerem que os estudantes se relacionem com


contextos complexos; passem a pensar de forma sistêmica; enfrentem situações
inéditas e imprevisíveis; atuem frente a situações diversificadas; desenvolvam a
criatividade, a capacidade de formular problemas, de deliberar soluções e adquiram
autonomia para apropriarem-se de conhecimentos, procedimentos e atitudes exigidos
na solução a ser conquistada.”

Lino de Macedo sugere que o trabalho envolvendo a resolução de situações-


problema envolva três momentos: identificar o problema (PROBLEMA), investigar
(EXPLICAÇÃO) e buscar possíveis soluções (SOLUÇÃO).

Existem muitas estratégias para se trabalhar com situações-problema junto aos


alunos. Uma das mais contemporâneas e que faz parte de uma série de metodologias
ativas que vêm sendo trabalhadas junto aos alunos é a Abordagem Design Thinking
(DT).

2. As etapas para desenvolvimento da abordagem Design Thinking

Sem uma tradução para o português, DT é um novo jeito de pensar e abordar


problemas ou, dito de outra forma, um modelo de pensamento centrado nas pessoas.
É pensar que podemos chegar a uma resposta para um problema de uma forma como
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nunca foi pensada antes, trabalhando de forma colaborativa. Nesse processo, acredita-
se no potencial das pessoas, e que é possível transformar desafios em oportunidades.

O DT nasceu dentro de uma empresa americana de design e inovação chamada


IDEO, em Palo Alto na Califórnia, onde fica o Vale do Silício, que abriga muitas das
empresas de tecnologia mais inovadoras do mundo.

O DT tem como premissas:

 ser centrado no ser humano: começa com uma profunda


empatia e o entendimento das necessidades e motivações;
 ser colaborativo: muitas mentes brilhantes são muito mais fortes
que uma só para resolver desafios;
 ser otimista: é a crença fundamental de que todos podemos
gerar mudanças;
 ser experimental: te dando a oportunidade de errar, receber
feedback de outras pessoas e melhorar seu projeto.

O processo de implementação de um projeto envolvendo a Abordagem Design


Thinking contempla 5 etapas: descoberta, interpretação, ideação, experimentação e
evolução.

 Descoberta: é o momento em que os alunos descobrem que têm


um desafio, e começam a pensar em como abordá-lo;
 Interpretação: é o momento seguinte, em que os alunos
pesquisam sobre o tema, conhecem situações similares e, com base nestas
informações, interpretam o problema;
 Ideação: é um dos momentos mais ricos do projeto, em que os
alunos têm que se despir de seus preconceitos e, por meio de um
brainstorming (chuva de ideias) – saiba mais sobre Brainstorming clicando aqui
–, pensar em ideias criativas e inovadoras para solucionar o problema. Neste
momento vale toda e qualquer ideia!
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 Experimentação: é chegado o momento de colocar o pé no chão,


olhar para todas as ideias e ver qual realmente é possível de ser implementada.
Para esta, deve-se desenhar um plano de trabalho envolvendo todas as etapas
para execução do projeto.
 Evolução: como etapa final deste processo, os alunos
compartilham o plano do projeto com outras pessoas (colegas de curso,
professores, familiares, especialistas etc.) para avaliar sua relevância,
efetividade, exequibilidade etc. A opinião de todos é muito importante! O
resultado desta avaliação é insumo para melhoria do plano de trabalho. Esta é
a evolução!
3. Os principais momentos da resolução de situações-problemas na
abordagem Design Thinking

Em cada um destes momentos, o professor deve conduzir as atividades


estimulando o pensamento crítico, a participação e reflexão de todos. O problema tem
que ser algo do mundo real, e que faça sentido para os alunos.

Na educação profissional, quanto mais este tema estiver próximo da área que
estão se formando, mais significativo se tornará o processo de aprendizagem. As
tecnologias digitais entram como apoio em diferentes momentos do processo.

Na Ideação, pode ser utilizada para trazer o problema à tona por meio da
apresentação de um vídeo ou de dados estatísticos, por exemplo.

Durante a Interpretação os alunos podem utilizar a tecnologia para pesquisa


em base de dados on-line, para comunicação com especialistas no tema e para fazer
pesquisa de mercado utilizando questionários on-line, dentre muitas outras
possibilidades que colaborem com o processo investigativo.

Já na etapa de Ideação, o ideal é que o processo aconteça com auxílio de


cartolinas, post-its e canetas coloridas, para que os alunos rabisquem, desenhem,
escrevam palavras ou frases, façam diagramas ou fluxos, enfim, que utilizem de
diferentes recursos para apresentar suas ideias mais criativas e inovadoras.
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O mesmo processo pode ser aplicado ao momento inicial da Interpretação, em


que os alunos têm que olhar para todas as ideias e selecionar aquela que é a mais
interessante e factível de ser implementada. O ideal é que eles estejam em grupos de
trabalho ao redor de uma mesa, onde possam olhar para todo o material que foi
produzido. A partir deste momento, as tecnologias digitais voltam a ser importantes, e
podem colaborar no planejamento e na validação do projeto que ocorrerá na próxima
etapa, a qual chamamos de Evolução.

Ainda na etapa de Interpretação, os alunos devem preparar um plano de


trabalho que pode ser feito em uma planilha eletrônica, onde é possível criar tabelas
com papeis, responsabilidades, prazos e recursos ou, caso os alunos estejam mais
preparados, podem utilizar ferramentas mais sofisticadas, como ferramentas digitais
para gerenciamento de projetos. Vale a pena colocar este desafio a eles! Há muitas
ferramentas gratuitas, tais como o Asana (https://asana.com) ou Trello
(https://trello.com), que são muito interessantes e simples de se utilizar. Havendo
interesse, os alunos podem buscar tutoriais on-line que ajudam a explorar o passo a
passo para a utilização de cada uma delas.

Na última etapa deste processo, a Evolução, as tecnologias digitais podem


entrar como apoio às atividades de pesquisa de opinião ou para criar uma comunidade
virtual, onde pessoas podem deixar sua opinião sobre a proposta apresentada por
cada grupo e, com isso, ajudá-los a ter insumos para aprimorá-las.

Ou seja, como é possível ver, o trabalho com situações-problema utilizando a


Abordagem Design Thinking é muito interessante e colabora para promover
aprendizagem significativa junto aos alunos. O resultado contempla muitas das
premissas apontadas por Lino de Macedo na unidade anterior, como, por exemplo,
levar à aprendizagem de como:

 observar, interrogar, relacionar informações e elaborar


perguntas;
 reconhecer necessidades coletivas;
 tomar consciência do que sabe;
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 buscar informações em diferentes fontes, e selecioná-las;


 organizar documentos de pesquisa;
 trabalhar de forma coletiva e colaborativa;
 deliberar e tomar decisões;
 ser criativo e inovador;
 ter uma escuta ativa, e estar aberto para receber críticas.

São muitas as competências desenvolvidas em um projeto como este. Mais do


que tudo isso, é extremamente desafiador, o que motiva os alunos a se envolverem
com a proposta. Sendo assim, que tal colocar em prática um projeto com os alunos,
utilizando a Abordagem Design Thinking? Vamos lá? Mãos à obra!

Referências bibliográficas

COMENIUS, Jan Amós (2001). Didática Magna ou tratado da Arte Universal de


Ensinar tudo a todos. Versão para eBook eBooksBrasil.com. FUNDAÇÃO
CALOUSTE GULBENKIAN.

ROUSSEAU, Jean-Jacques (1995). Emílio, ou da Educação. Rio de Janeiro:


Bertrand Brasil.

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