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CORPO DE CADETES DA AERONÁUTICA

SEÇÃO DE DOUTRINA

PROGRAMA DE FORMAÇÃO COMPLEMENTAR – REVISTA DO RECOLHER

HUMILDADE

Comandar é uma função pública; uma pessoa prepara-se para ela, desembaraçando-se do estreito egoísmo, das
preocupações demasiadamente interesseiras e da presunção que, com frequência, a acompanha.
Evitemos, sobretudo, falar frequentemente de nós mesmos e de nos dar por exemplo. Nada é mais desagradável do
que um homem que se cita a si mesmo a respeito de tudo. O exemplo, só é eficaz, quando se impõe a respeito dos
subordinados.
Um líder só é verdadeiramente grande se for desinteressado de si mesmo. Como afirma Lacordaire, “tudo que se fez
de grande no mundo foi sob o imperativo do dever; tudo que se fez de miserável foi em nome do interesse”.
A missão do líder lhe é confiada essencialmente para o bem comum; nem o capricho, nem o interesse, nem o orgulho
devem ditar ao líder suas decisões.
Sem humildade, a força não é mais que violência; só a humildade permite diminuir os riscos, reduzir os caprichos,
reconhecer e reparar as faltas.
QUANDO ALGUMA COISA NÃO VAI BEM, NOVE DENTRE CADA DEZ HOMENS MOSTRAM
TENDÊNCIA NATURAL DE SE JUSTIFICAR, PROCURANDO ESQUIVAR-SE, MOSTRANDO RAZÕES PARA
PROVAR QUE O VIZINHO É QUE ESTAVA ERRADO.
Pois bem, quando se deseja ser grande na vida, estando à altura daqueles que são exemplo de ética e moral, em
qualquer situação, deve se ter a coragem para amar a verdade! Ser aquele décimo homem, aquele que sabe reconhecer-se
lealmente, francamente, sem falsa vergonha, que se enganou. Todos os indivíduos, sem exceção, erram; o que torna alguém
especial em relação a outrem é a capacidade de assumir sinceramente seu erro. ASSUMIR OS PRÓPRIOS EQUÍVOCOS É
UM DOS INDICATIVOS DA GRANDEZA DE UM HOMEM. Reconhecer que não somos o “sabe tudo” é o sábio
caminho que nós leva à verdade! O bom líder, quando a natureza da situação o permitir, deve ouvir seus camaradas e refletir
em silêncio, buscando compreender em profundidade os motivos e razões que levam sua equipe a pensar e agir dessa ou
daquela maneira.
“Todos se enganam e ninguém, a todo tempo, pode fazer seu trabalho com absoluta perfeição. É necessário estar aberto
às observações e críticas e diante delas buscar melhorar-se ao invés de se entregar ao vitimismo e desculpismo”
Segundo Foerster, “toda autoridade que não é humilde é grotesca”. Dizer “eu sou o chefe” é ridículo; dizer “sou eu
quem tem razão” é pedante; dizer “é comigo que você tem que se haver” é rancoroso e tirânico.
É FUNDAMENTAL, NO TERRENO DAS RELAÇÕES HUMANAS, QUE O LÍDER TENHA PRESTÍGIO.
MAS, DIANTE DA OBRA A REALIZAR, DEVE SER MODESTO. A TODO INSTANTE, O LÍDER DEVE SE
LEMBRAR QUE, POR MAIS IMPORTANTE QUE ELE SEJA, NÃO É ELE A REGRA DE VIDA DO MUNDO.
O grande obstáculo ao espírito de equipe é o orgulho e a vaidade, que, por força de tudo chamar a si, faz com que nos
tornemos incapazes de compreender as necessidades dos outros e, por conseguinte, de colaborar com eles. Ficamos cegos e
distantes da verdade, alimentando uma conduta de tentar convencer a todos, em exaustivos discursos, que o nosso ponto de
vista é o único certo. Cedo ou tarde, o líder que age assim, perderá a motivação de seus homens e mais a frente o próprio
respeito deles.
O VERDADEIRO CHEFE É DESINTERESSADO. ALCANÇA A META, PORQUE É O SEU DEVER; NÃO
O MOVE SEU INTERESSE PESSOAL. Não procura sua vantagem particular nem sua própria glória; ele se lembra de que
não é líder senão para representar ou realizar o bem comum; não é líder para si mesmo, mas para os outros.
O líder não deve aceitar de seus colaboradores a mínima bajulação que seja. Eles não existem para elogiá-lo ou para
elevá-lo; algumas críticas suas são admissíveis, quando apresentadas respeitosamente e constituem a expressão de seu
devotamento à causa comum. Mas o louvor de um subordinado raramente é desinteressado, e esse elogio é tanto mais perigoso
quanto mais sutil o é.
O homem tem necessidade de se apoiar em qualquer coisa que seja maior do que ele. Procura um ser superior que o
conduza e com que possa contar, porque poucos homens suportam a ideia de serem absolutamente sós. O subordinado terá,
então, facilmente a tendência de atribuir a seu líder qualidades superiores, construindo muitas expectativas. E essa tendência
será mais fácil quanto mais o líder for tentado a favorecê-la, por agradar a seu amor próprio e sua tola vaidade, permitindo que
ele “desempenhe o papel de referência” e construa situações para exibir sua “superioridade”. Mas esse é um jogo perigoso
porque, cercando-se de bajuladores, que só veem os próprios interesses, se priva do auxílio que fornece a crítica sã de pessoas
que podem ver as coisas sob outro aspecto; perde, assim, o contato com o meio em que vive, fica distante da verdade e da
realidade. Sua liderança passa a ocorrer sem conhecimento de causa.
Quaisquer que sejam suas qualidades, o líder não é um super-homem e, cedo ou tarde, o subordinado percebe que
tinha superestimado o superior. Se este é modesto, o subordinado atribuirá a si mesmo o erro de visão e não modificará em
nada a intensidade de seu devotamento. Se, ao contrário, acha que foi enganado por promessas que não foram mantidas,
verifica-se nele uma reação violenta que pode chegar até ao desprezo pelo líder.
Um líder não ilude por muito tempo aqueles que comanda. Após algumas poucas situações, ficará conhecido. Se for
humilde consigo mesmo, o líder se torna mais forte diante dos outros; e tem a força para pedir aos outros que sejam
verdadeiros diante dele.
O verdadeiro líder não fala jamais de si; não diz jamais “eu”. Inclui-se na coletividade e pensa “nós”. Quando o líder
tem por preocupação central alimentar o “eu”, o objetivo final das suas ações acabam por causar a exploração mais ou menos
consciente dos seus subordinados, promovendo o desestimulo e a resitência na tropa.
Não se faça nunca de profeta vitorioso: “Eu não disse... não tinha falado com vocês... mais uma vez tive razão... não
falei que isso ia acontecer...” porque se você efetivamente previu, das duas uma: com base nas previsões você teve pulso e
tomou as medidas necessárias e neste caso não há por que trombetear vitória, ou você não tomou as providências que se
impunham e, neste caso, há todo o interesse em calar-se, pois previu o problema e nada fez. Enfim, TODO LÍDER QUE SE
FAZ DE PROFETA VITORIOSO, AFASTA SEUS COLABORADORES E TORNA-SE ODIOSO PARA SUA
TROPA.
O sinal mais seguro da fecundidade de um líder é ver que trabalha para seu sucessor, conhecido ou desconhecido, pois
esta é a prova de que coloca a duração da obra acima de si mesmo.
Um homem é apenas um homem e deve lembrar-se disso todo dia. AQUELE QUE NÃO OLHA PARA SI
MESMO E ACREDITA QUE É MELHOR DO QUE OS OUTROS; VERÁ SEUS ESFORÇOS TORNAREM-SE
ESTÉREIS, e a sua equipe desestruturará, porque a vaidade e o orgulhoso anulam a preciosa faculdade de escutar.
A virtude principal de um líder, e talvez a mais rara, é a humildade. Se os nossos líderes não estão profundamente
convencidos disso, se não sabem aceitar as autênticas lições que lhe vêm dos homens e das coisas, se persistem em suas
opiniões a ponto de não quererem escutar ninguém, muito rapidamente ficarão desgastados e ultrapassados.
Com toda a certeza, encontrarão imediatamente uma corte de admiradores e parecer-lhes-á que são apreciados por
seus subordinados, senão todos, pelo menos pelos que são inteligentes, compreensivos... Que se previnam. Os mais servis
adoradores se voltarão contra os líderes na primeira oportunidade, quando lhes pareça mais interessante adular outro. E,
enquanto esperam, logo abusarão do líder a que fingem servir quando, inicialmente, dele se servem.
Muitos confundem vontade com teimosia, caráter com mau caráter.
AO CONTRÁRIO DO QUE MUITOS PENSAM, ACEITAR UMA CENSURA, ABRIR MÃO DE SUAS
PRÓPRIAS IDEIAS DOBRANDO A PRÓPRIA VONTADE, NÃO É SINAL DE FRAQUEZA E SIM PROVA DE
GRANDE FORÇA DE CARÁTER E SEGURANÇA ÍNTIMA.
O homem que reconhece lealmente que se enganou ou, mais simplesmente, que não sabe tudo, engrandece-se de um
modo singular. E, ainda mais, conquista, conquistando-se a si mesmo magnífica independência. Somente nisso está a
verdadeira liberdade: ser escravo de um outro homem é duro, mas ser escravo de si mesmo é pior ainda.

(Adaptação de texto pelo Maj Renato do Livro “A Arte de ser Líder”, Gaston Courtois)

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