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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

15/08/2019

Número: 1017082-80.2019.4.01.3400
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 9ª Vara Federal Cível da SJDF
Última distribuição : 25/06/2019
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Anulação
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
DISTRITO FEDERAL (AUTOR) GUSTAVO ASSIS DE OLIVEIRA (ADVOGADO)
UNIAO FEDERAL (RÉU)
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF (RÉU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
75055 14/08/2019 17:54 Decisão Decisão
595
Seção Judiciária do Distrito Federal
9ª Vara Federal Cível da SJDF

PROCESSO: 1017082-80.2019.4.01.3400
CLASSE: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7)
AUTOR: DISTRITO FEDERAL
Advogado do(a) AUTOR: GUSTAVO ASSIS DE OLIVEIRA - DF18489
RÉU: UNIAO FEDERAL, CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF

DECISÃO

O Distrito Federal e a União, representada pela mandatária Caixa Econômica


Federal, celebraram no dia 29 de dezembro de 2016 o Contrato de Repasse nº 1036.547-
88/2016, com o intuito de viabilizar recursos financeiros para a construção do Hospital de
Especialidades Cirúrgicas e Centro Oncológico de Brasília, sob a condição suspensiva de
entrega, por parte do Distrito Federal, de toda a documentação referente à área de intervenção,
técnica de engenharia e licença ambiental, no prazo de 8 (oito) meses a contar da assinatura do
instrumento administrativo.

Assim dispõe a referida cláusula contratual:

CONDIÇÃO SUSPENSIVA

Documentação: Área de Intervenção, Técnica de Engenharia e Licença Ambiental.

Prazo para entrega da documentação pelo CONTRATADO: 08 (OITO) meses.

Prazo para análise pela CAIXA após apresentação da documentação: 01 mês.

O respaldo normativo à condição suspensiva prevista no contrato está no art. 24 da


Portaria Interministerial nº 424, de 30 de dezembro de 2016, segundo o qual poderá ser realizada
a celebração de instrumentos com previsão de condição a ser cumprida pelo convenente, (...), e
enquanto a condição não se verificar não terá efeito a celebração pactuada, com possibilidade de
prorrogação do prazo pactuado para cumprimento da condição, quando celebrado o instrumento
administrativo pelo Ministério da Saúde, por até 24 (vinte e quatro) meses, após o que, caso não
cumprida a obrigação, deverá o instrumento ser extinto.

Como se nota, o dispositivo regulamentar é bastante claro: o prazo para


cumprimento da condição deve sempre ser considerado em relação aos atos que competem ao
convenente, o que significa dizer que a contagem do prazo somente corre enquanto a obrigação

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estiver sob a exclusiva e inteira responsabilidade do contratado.

Nesse raciocínio, uma vez entregue a documentação técnica pelo convenente com
a convicção de que cumpriu fielmente a condição, o período de tempo que o concedente ou a
mandatária leva para analisar e aceitar a condição não pode ser computado no prazo atribuído
exclusivamente ao convenente, isso porque, durante aquele lapso temporal, há uma suspensão
do prazo para que o concedente ou a mandatária aprove o cumprimento da condição ou aponte
irregularidades sanáveis, voltando a transcorrer, nessa última hipótese, o prazo do convenente
para corrigir os vícios.

Logo, a melhor interpretação ao art. 24 da Portaria Interministerial nº 424/2016 é no


sentido de que o prazo fixado no instrumento para o cumprimento da condição não flui durante o
interstício de tempo em que o concedente ou a mandatária analisa o adimplemento ou a
frustração da condição, pois, caso contrário, o prazo concedido ao convenente será, na prática,
bem inferior ao estabelecido no instrumento, já que será descontado todo o período relativo aos
atos realizados pela outra parte, afrontando, com isso, o princípio geral de direito
consubstanciado na boa-fé objetiva, aplicável no âmbito da Administração Pública.

No caso concreto, o prazo para o Distrito Federal (convenente) cumprir a condição


imposta no contrato de repasse teve início no dia 29/12/2016 (data da assinatura) e termo final no
dia 29/12/2018, em razão da prorrogação concedida com base no art. 24, § 2º, da Portaria
Interministerial nº 424/2016.

No referido período, o Distrito Federal entregou os projetos executivos e as


documentações, entendendo satisfeita a obrigação suspensiva, mas a mandatária Caixa
Econômica Federal, por diversas vezes, solicitou complementação de informações e retificação
dos projetos, de modo que, entre as várias idas e vindas das respectivas áreas técnicas, o prazo
para cumprimento da condição terminou sem a solução das pendências e a aprovação definitiva
da documentação, ficando a mandatária (Caixa Econômica Federal) e o concedente (Ministério
da Saúde) autorizados a promover a extinção do contrato de repasse e o cancelamento da nota
de empenho.

Todavia, a mandatária Caixa Econômica Federal não descontou do prazo de 24


(vinte e quatro) meses concedidos ao convenente para cumprir a condição o tempo que sua área
técnica levou para avaliar a documentação apresentada pelo Distrito Federal, que, segundo a
inicial (fls. 142/143), totalizou 191 (cento e noventa e um) dias, ou seja, aproximadamente 6 (seis)
meses, tempo que foi indevidamente suprimido do Distrito Federal para solucionar as pendências
técnicas detectadas, visto que, nesse período, o órgão distrital deveria aguardar a manifestação
da Caixa Econômica Federal.

Note-se, portanto, que a interpretação da mandatária resultou na violação da


cláusula contratual, uma vez que o prazo de 24 (vinte e quatro) meses concedidos ao convenente
para cumprir a condição acabou reduzido, na prática, para 18 (dezoito) meses, frustrando os
princípios da confiança e da boa-fé objetiva.

Assim, o Distrito Federal tem o direito de cumprir a condição pelo prazo adicional de
6 (seis) meses para que se complete o prazo real de 24 (vinte e quatro) meses garantidos ao
convenente no contrato de repasse, porquanto não se pode adicionar na sua contagem o prazo
despendido pela mandatária para analisar a documentação.

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Por todo o exposto, presentes os requisitos da probabilidade do direito e do risco de
dano irreparável, DEFIRO A TUTELA DE URGÊNCIA para manter a validade do Contrato de
Repasse nº 1036.547-88/2016 (SICONV 840756/2016), restabelecendo à Secretaria de Estado
de Saúde do Distrito Federal (convenente) o prazo adicional de 6 (seis) meses, a contar da
ciência desta decisão, para cumprir todas as exigências impostas pela mandatária em relação à
cláusula de condição suspensiva, ficando a Caixa Econômica Federal e a União (Ministério da
Saúde) impedidas de cancelar a Nota de Empenho nº 2016NE800849 e extinguir o referido
contrato até que se conclua a análise da documentação apresentada no prazo ora concedido.

Intimem-se.

Citem-se.

Brasília/DF, 14 de agosto de 2019.

assinado digitalmente

MÁRCIO DE FRANÇA MOREIRA

Juiz Federal Substituto da 8ª Vara/DF

em acúmulo de jurisdição na 9ª Vara/DF

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