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DOUTRINA NOVA.

Um dos primeiro atos revisionais de uma pretensa ciência é a refutação


fundamentada, de paradigmas e dogmas que circunscrevem ao “stricto
sensu” sobre os quais essa se acosta.
Tentaremos demonstrar exaustivamente sua inépcia material e formal caso
existam, para os fins a que ela se insinua. Bem como o restabelecimento de
novos paradigmas a partir de novas propostas cognitivas.
Para tal desígnio, longe de desrespeitar os trabalhos e os grandes nomes tais
como Grócio, Kelsen, Ihering, Reale e tantos outros, é necessário também
que não nos intimidemos diante desse paredão aparentemente
intransponível, que são os paradigmas seculares.
A expressão “pretensa ciência”, vincula-se ao fato de ainda haver
discussões sobre o caráter científico do Direito, fato este que não ocorre
com a Física, Química, Biologia etc.
Para o ensaio em tela, escolhemos como tema:

- “ OS PRINCÍPIOS”

Ao nosso sentir, o Direito, encontra-se eivado de sugestões e mecanismos


estruturais a nortearem sua “eficácia” no mundo dos fatos, que são
aclamados como “princípios”.

Destronados os cânones que se chamam de “princípio” e que, a sua


utilização comprime a resultados que afastam em muito do senso de justiça,
afastada estará a injustiça da esfera do Judiciário.

Por corolário, fortalecidos estarão aqueles que detêm em suas aplicações,


convergência com o senso comum de justo.
Restará assim, ainda em fase de um sonho, contemplada a ansiedade
daqueles que sonham com um direito mais justo.

Possivelmente o leitor deste ensaio, ao percorrer as linhas iniciais, pronto


se encontra, ou se armando já está, para refutar possíveis comparações da
Física, Química... (ciências da natureza) com o caráter cientifico do Direito.
Demanda calma ainda. Entendemos e aceitamos as peculiaridades que
diferenciam as ciências da natureza das ciências humanas.
O que não pode, e não é aceito, o caráter científico ou a boa ciência de
forma geral, destituído do estudo formal, sistemático, dos princípios
da inferência válida e do pensamento correto. Já que é pelo pensamento
que se faz a manifestação do conhecimento, e o conhecimento persegue a
verdade.
A verdade deve ser perseguida em nosso labor, com o máximo da nossa
ação e entrega ali empregados. Deve ser fruto de um estoicismo sem
limites em busca de que a ação, se torne pela nossa luta, nossa vontade,
uma verdade irretocável, ou seja, uma verdadeira lei universal da natureza,
um verdadeiro princípio.

Da Verdade:

Nesse ponto nos lembramos de uma passagem bíblica que enseja afetação ,
e insiste em morar em nossos pensamentos/questionamentos por muitos
anos, a saber:

Quando Jesus foi levado a Pilatos, alem de muitas perguntas todas


respondidas por Jesus;
Perguntou-lhe Pilatos: -Logo tu és rei?
Respondeu Jesus: -Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso
vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da
verdade ouve a minha voz.

Pilatos, pergunta: - O que é a verdade, pois?

Embora Jesus tivesse respondido todas as outras perguntas, nessa Jesus se


calou, nada respondeu.

É um acaso? É um simples lapso circunstancial? Será que Jesus perdeu


uma oportunidade de ministrar mais um ensinamento?

-Não. Com toda certeza não.

Sendo Jesus um mestre ( “Vós me chamais mestre e Senhor, e dizeis bem,


porque eu o sou.” João, Cap. 13, vs: 13), devotou sua vida em tempo
integral aos ensinamentos, logo esse silencio de Jesus, soa como uma das
mais eloqüentes e retumbantes falas e ensinamentos, tanto quanto as das
pregações no “Sermão da Montanha”
Por certo Jesus não respondeu por que a verdade é relativa. A verdade não
se trata de um evento material de fato, um objeto concreto a viajar pelo
universo, comum a todos onde cada um pode lançar mão, como à um
chapéu, e acomodar sobre a cabeça a qualquer momento. A verdade, se
vincula indissociavelmente ao constructo mental dos interlocutores que a
debatem.
Tenho visto ao longo dessa surrada vida, muitos autores, de todas as áreas
das ciências da humanidade, asseverarem:- “ A VERDADE É RELATIVA”
e ponto final.
Nenhum se encorajando a debruçar sobre o tema e lançar suas idéias.
Muitos para justificar suas decisões atentatórias contra os menos
favorecidos da sociedade, dizem simplesmente:
- Ah a verdade do vulgo, não é a mesma que a do erudito, depois se
confessa com as paredes e dorme tranqüilo.

É certo que a verdade é relativa, mas acanhado é o raciocínio daquele que


não seja capaz de delimitar o universo de ação de cada “verdade”, e ai,
dentro dos seus limites, estabelecer o seu caráter absoluto.
Existe a verdade entre as crianças de 7 anos em seus pequenos círculos de
interlocução.
Existe a verdade, na resenha dos adolescentes, no círculo médico, no
extrato financista, fórum dos juristas etc. Verdades apenas instrumentais,
que pavimentam as alamedas pelas quais transitam. Mas existem outras
ruas, outras alamedas, outras verdades, fora da caixa sob a qual se
circunscrevem os diferentes grupos.

Estabelecendo-se o espaço amostral para o qual se aplicam algumas


verdades, nesse espaço elas podem assumir um caráter absoluto.
Quando passamos a ampliar esse espaço amostral, tendendo à infinidade
das ações e repercussões dos atos humanos, a existencialidade, o
significado da vida a busca do “ser”, aí sim ela torna-se por demais
relativa, dado a incapacidade de apreensão pela mente humana, no estágio
de evolução intelectual, sócio-cultural que nos encontramos.

Não nos acanhamos, nem nos intimidamos da acusação de “crendice cega”,


em dizer que existem as verdades absolutas universais, as quais não
apreendemos devido ao acanhamento de nosso construto mental.

E, não é um problema do universo, por não contemplar verdades absolutas


pois ele as contempla. Mas antes, e sim, o problema é nosso por não
apreendê-las.

Em síntese apertada vejamos sob o ponto de vista da lógica maior.

O que poderíamos pincelar o que é a verdade pois?


Quando construímos um juízo, esse juízo indica, aponta, um conteúdo ao
qual se refere. E quando esse juízo se ajusta perfeitamente , como se ajusta
uma luva na mão, ou seja, quando o conteúdo cabe perfeitamente no juízo,
temos uma verdade de fato e uma verdade lógica( nos limites das
possibilidades retro mencionado).

Exemplificando:

Se dissermos: - esse fato é um copo com álcool.

A verdade lógica: É a perfeita correlação dos termos de linguagem ai


utilizados, que, ao interlocutor de mesma língua fica perfeitamente
compreensível.

A verdade de fato é existência real no mundo dos fatos, de um copo


contendo álcool. Tal verdade é apreendida pelos sentidos físicos, pelo fato
de todos verem, tocarem se for o caso e até o cheirarem.

Assim a VERDADE é a perfeita correspondência do fato com nossa


enunciação onde se somam a Verdade lógica + A Verdade de Fato.

Notemos que a verdade lógica contém componentes de elaboração


intelectual, mediação pela inteligência que se manifesta por atos
voluntários, refletidos, premeditados, combinados, segundo a oportunidade
e necessidade das circunstancias.
E são expressas pela linguagem, que por vezes pode errar, visto que essa
operação, enseja o erro. Sem considerar aqui a má fé que por vezes eleva as
equações/enunciações à estatura de falácias àquilo a que se presta.

Vemos, portanto que as verdades lógicas exorbitam os simples sentidos


físicos que se constituem e operam equânimes, tanto nos intelectuais,
“homem médio”, “ignorantes”, iletrados, crianças, jovens, magistrados e
marceneiros.
Já a verdade de fato, entre os seres fisicamente saudáveis, é sempre um
guia seguro que jamais se engana ou enseja divergências entre os
circundantes, quaisquer que sejam os níveis cognitivos.
Mas a verdade lógica, instrumentalizada pela inteligência, pela mediação
intelectiva, simplesmente pelo fato de ser livre, por vezes está sujeita ao
erro, e dela se aproveitam alguns legisladores para instituir a falácia.
Se há que se atribuir as mazelas da humanidade à erros, e
condicionamentos jurídicos, a possibilidade da existência de erros e
tergiversações, pesa sobre os ombros da verdade lógica, mas nunca sobre
a verdade de fato.
Não pesa nunca sobre a faca caída e o sangue escorrido no local do crime,
Mas sim e somente na elaboração intelectiva de como se instrumentaliza
formalmente a tanto na acusação como na defesa sobre a existências dessas
duas verdades de fato.

Na esteira do ensejo à harmonia social, bem da humanidade, essa categoria


de verdade (a de fato), é superior à verdade lógica, primeiramente porque
essa segunda depende da primeira, ou seja, da existência fática do
fenômeno ( o princípio, o “ser” ) bem como da simultaneidade da
apreensão pelos sentidos físicos, dos circundantes, ( também princípios
naturais).

Enquanto que a verdade lógica carrega em si o condão de poder ser


relativizada, estando na dependência dos atores que a enunciam, não só de
suas capacidades intelectuais e de manejo das linguagens, como também
de possíveis vontades circunstanciais, “espírito de corpo”, de
conveniências, e até de má fé.

Abrindo um parêntese aqui.


Dr. João Baptista Herkenhoff , (Ex-Juiz) , que deve ser lido, se esquiva do
cinturão “protetor” de ferro que o Direito Objetivo impele aos aplicadores
do Direito, chegando a prolatar exposição de motivos para sentenças do
tipo que segue abaixo:-

““Madalena (nome fictício), você é muito jovem. Sua vida não acabou. Essa
criança, que estava no seu ventre, não existe mais. Você pode conceber outra criança
que alegre sua vida. Eu vou absolvê-la mas você vai prometer não mais embalar um
berço vazio como se no berço estivesse a criança que permanece no seu coração. Eu
nunca tive um caso igual o seu. Esse gesto de embalar o berço mostra que você tem
uma alma linda, generosa, santa. Você está livre, vá em paz. Que Deus a abençoe.
A decisão nestes termos, em nível de diálogo, foi dada naquele momento.

Embora, para publicar a sentença ele teve que se declinar à técnica que a
linguagem jurídica impõe.

Isso para o meu sentir, é realmente a aplicação do Direito, ai reside a


VERDADE DE FATO.
Esse é o Direito que a humanidade sempre sonhou em existir, e confiou,
quando adotou o modo de vida vigente, “assinando” um contrato com o
Estado, outorgando-o o direito/dever de dizer o Direito.
Mas pela força da instituição e responsabilidade profissional, o Juiz teve
que recair no que expõe ele abaixo.
:-“Depois redigi a sentença no estilo jurídico, que exige técnica e argumentação”.

E, O QUE É O DIREITO
SENÃO UM ARCABOUÇO
COMPLETO DE
VERDADES APENAS
LÓGICAS?

Deixamos aos caros leitores nesse ponto, um hiato imenso para uma
reflexão sobre os institutos do Direito Penal denominados “VERDADE
MATERIAL” e “VERDADE FORMAL”. Tema esse que retomaremos
num outro momento.

DOS PRINCÍPIOS:

Os princípios são supremos e se constituem em verdades axiomáticas.


Afirmam-se pelos seus efeitos e por tudo que lhe são próprios, detêm
constância, e a inexorabilidade intocáveis.
Como o sentir cheiro, por exemplo, pelas pessoas saudáveis.
Não estamos a dizer, do gostar ou não do cheiro, ou interpretar e descrever
corretamente a substância que se cheira, mas sim, pura, e tão somente, o
sentir cheiro.

As substâncias que se cheira, constituem-se na origem, é o “ser”, tendo


como elementos fundamentais os atributos que geram os observáveis
fenomenológicos, ou seja, resulta em efeitos no mundo dos fatos.
Por tais características, o princípio tanto o cheiro como o cheirar ainda não
autorizou o homem, atribuir-lhe uma definição a contento, que ao tentar em
muitos casos, toma-se as propriedades pelo próprio “ser”, o que é
seguramente diverso.

Pois, quando muito, ao tentar defini-los, recai no limbo do patinar em


círculos, de tal forma que, o que resta, são simples expressões e
declarações de suas propriedades, e nunca o que são.

Vejamos por exemplo o que diz DAVID BOHM Físico teórico, talvez o
mais importante aluno de Einstein a respeito do conhecimento do “ser”:
-“A explicação do “ser”, está muito alem
das fronteiras da ciência, o ser é muito mais
extenso do que imaginamos. O espaço-
tempo que conhecemos é apenas uma parte
do “ser” , por isso acredito na existência de
uma dimensão desconhecida,. Os cientistas
conseguem compreender apenas as
ordenações que aparecem na superfície,
( dimensão que acessamos e conhecemos)
os efeitos que dele decorrem. De certa
forma é possível aprender a compreender as
leis dessa realidade que se tornou visível.
Mas uma vez que essas leis surgem de uma
ordenação oculta, as questões sobre a
origem não faz sentido.
É a mesma coisa que quando ligamos a
televisão no meio de um programa e
ficamos a indagar o que aconteceu antes.
Em todo caso as ordenações que vieram à
superfície estão ao nosso alcance, e para
entendê-la temos que nos perguntar de onde
elas surgiram, mas para isso, temos que
entrar em um campo de existência alem dos
limites do conhecimento cientifico, é por
isso que os cientistas entram num campo de
questionamento filosóficos e religioso”.
Os dados objetivos (ordenações que vieram à superfície) não são captados
por nossa mente tal como é o princípio em si, mas configurados pelo modo
com que os sentidos seguidos de uma síntese mental os apreendem.
Simultaneamente, a configuração e a síntese mental estão restritas ao
construto mental do aprendiz, daí os acertados dizeres:- “quem tem olhos
para ver que veja”
Assim, o princípio em si, o “número”, “o absoluto”, é incognoscível.
“Só apreendemos a regência do “ser”, na medida em que se nos aparecem,
os seus efeitos isto é, enquanto fenômeno.” .
Não conhecemos a realidade essencial, apenas a manifestação
fenomenológica das coisas, adaptando-se estas à nossas faculdades e não o
contrário.
O trovão e os raios, foram por muitos séculos considerados Deuses, ou
seres astronômicos expressando suas raivas.
É dispensável dizer que raios e trovões, não se adaptaram ás mentes do
homem primitivo, e sim o homem através do seu desenvolvimento
intelecto-cultural, submetido que fora às forças titânicas, foi adaptando suas
faculdades a tangenciar e posteriormente apreender o mundo fático.

Os são princípios supremos:


- A gravidade: corpo atrai corpo e ponto final. Ou se quiser caminhar com
Einstein, corpo comprime o espaço em torno de si, deformando-o e os
demais corpos “caem” no buraco da deformação e ficam girando em torno
do corpo de maior massa. Independentemente de corpo atrair corpo, ou
corpo deformar o espaço, para os dois casos não existe a resposta para as
perguntas:- Porque corpo trai corpo?, ou, porque corpo deforma o espaço?.
-A fome e a sede ( ainda princípios supremos) pois, são constrições,
arrastamentos neuro-orgânicas, desencadeadas pelo excesso de algumas
enzimas (moléculas) e a falta de suprimentos por elas requeridos.
Notemos que, tal como gravidade, a fome e a sede, adquirem “status” de
princípios supremos, são fenômenos fáticos no mundo objetivo que
independem de uma elaboração intelectual.

É ponto pacífico em todos os ramos da ciência, e máximas culturais


de todas as épocas, de que a motivação fundamental, e que se constitui em
um verdadeiro princípio supremo é a vida.
Sua geração e manutenção são os efeitos visíveis, materializados, e
instrumentalizados por outro princípio não menos fundamental que é o
instinto nos irracionais, e um misto instintivo/racional nos racionais.
A vida é o princípio causador, propulsor dessas materializações. Embora
ainda não haja consenso na comunidade científica a respeito da origem da
vida o mesmo não acontece a respeito de sua existência.
Atribui-se a William I. Thomas, sociólogo americano, a elaboração
de uma lista na qual ele conceituou quatro desejos, que reputou como
fundamentais e emergentes do princípio supremo para o ser humano normal
(a vida), com base nas motivações primárias ou orgânicas. Hoje vários
psicólogos atribuem ainda outros, mas nenhuma outra corrente afasta os
propostos por Thomas. Assim assevera Thomas:.
“São as motivações” primárias:
- fome
- sede
- sexo
-agressividade

É objeto trivial e de senso comum dentro da sociologia, psicologia


e fisiologia que a fome, a sede, o sexo e a agressividade, se constituem em
instrumentos que supre aos requisitos da sobrevivência ( manutenção da
vida), donde deflui os efeitos externos principiados pelo instinto. Atributo
natural do homem.
Logo, primeira motivação: sobrevivência PRINCÍPIO A VIDA.
Dos princípios naturais, decorrem as leis naturais, às quais o
homem apreendeu em sua caminhada evolutiva, se submetendo e buscando
enunciá-las e catalogá-las.
Dentro das leis, é que observamos os acidentes, por exemplo, no
campo das conceituações o fato de uma cadeira ser ou não verde é puro
acidente, visto que os elementos constitucionais que emolduram o conceito
(a essência) de cadeira são suficientes para defini-la dentro do senso
comum independentemente de sua cor.
Etimologicamente: Definir1 = Dar fine, = Dar
fim, terminar. Vemos que o termo definir,
significa limitar, contornar, não admitir mais
que uma conotação, ou seja, uma definição
com compreensão máxima e a extensão
mínima.

As motivações primárias são leis e se constituem em verdadeiro


arrastamento, verdadeira constrição fisiológica, uma compulsão, um
imperativo, a ser obedecido, hoje demonstrado pela endocrinologia em
termos de substancias enzimáticas (moléculas) e suas atuações em regiões
distintas do cérebro.
Assim, o desencadear das motivações primárias, não resultam
em hipótese alguma, da elaboração de um juízo.
Não se olha para o relógio dizendo: - bem são 13:30 horas, eu levantei as 6
horas e tomei café as 6:30 como já está completando 420 minutos que
tomei café , então agora estou com fome. Não. Ou se sente a fome ou não
se está com fome. O mesmo raciocínio serve saciar a sede.

1
Definição: distinção, aquilo que distingue, que diferencia. Dicionário Escolar da Língua
Portuguesa 11ª Ed. FENAME
Vejamos as lições do Livro “ A GÊNESE “ seu capítulo III item 11 e
seguintes:

“Qual a
diferença entre o instinto e a inteligência?
Onde acaba um e o outro começa? Será o
instinto uma inteligência rudimentar, ou
será uma faculdade distinta, um atributo
exclusivo da matéria?

O instinto é a força oculta que solicita os


seres orgânicos a atos espontâneos e
involuntários, tendo em vista a
conservação deles. Nos atos instintivos não
há reflexão, nem combinação, nem
premeditação. É assim que a planta
procura o ar, se volta para a luz, dirige
suas raízes para a água e para a terra
nutriente; que a flor se abre e fecha
alternativamente, conforme se lhe faz
necessário; que as plantas trepadeiras se
enroscam em torno daquilo que lhes serve
de apoio, ou se lhe agarram com as
gavinhas. É pelo instinto que os animais
são avisados do que lhes convém ou
prejudica; que buscam, conforme a
estação, os climas propícios; que
constroem, sem ensino prévio, com mais ou
menos arte, segundo as espécies, leitos
macios e abrigos para as suas progênies,
armadilhas para apanhar a presa de que se
nutrem; que manejam destramente as
armas ofensivas e defensivas de que são
providos; que os sexos se aproximam; que
a mãe choca os filhos e que estes procuram
o seio materno. No homem, só em começo
da vida o instinto domina com
exclusividade; é por instinto que a criança
faz os primeiros movimentos, que toma o
alimento, que grita para exprimir as suas
necessidades, que imita o som da voz, que
tenta falar e andar. No próprio adulto,
certos atos são instintivos, tais como os
movimentos espontâneos para evitar um
risco, para fugir a um perigo, para manter
o equilíbrio do corpo; tais ainda o piscar
das pálpebras para moderar o brilho da
luz, o abrir maquinal da boca para
respirar, etc.

A inteligência se revela por atos


voluntários, refletidos, premeditados,
combinados, de acordo com a
oportunidade das circunstâncias. É
incontestavelmente um atributo exclusivo
da alma.

Todo ato maquinal é instintivo; o ato que


denota reflexão, combinação, deliberação é
inteligente. Um é livre, o outro não o é.”

O instinto é guia seguro, que nunca se


engana; a inteligência, pelo simples fato
de ser livre, está, por vezes, sujeita a errar.
(grifo nosso).

Encontramo-nos muito distantes de sermos considerados do quilate dos


grandes doutrinadores e Juristas. Tampouco como muitos Magistrados,
Advogados, Promotores, que pela larga experiência de vida, trabalho e
estudos, trazem no constructo mental a mecanizada interpretação, e a
vasta erudição que a prática pode proporcionar.
Mas asseveramos que intrigados com os aspectos ora postos, procuramos
reiteradamente, autores de todas as áreas do conhecimento, e não
encontramos nenhum que ousasse refutar a contento, esses ensinamentos
contidos na “GENESE”. E sabemos ser do conhecimento de muitos que se
trata de uma obra de 1868.
Assim, da batuta das motivações primárias, não resultam em hipótese
alguma, a elaborações de um juízo, ai está o acerto garantido, ai está a
verdade.

“O juízo, é o ato pelo qual o espírito afirma alguma


coisa de outra. O juízo comporta então
necessariamente três elementos, a saber: um
sujeito, que é o ser de que se afirma ou nega
alguma coisa;- um atributo ou um predicado: é o
que se afirma ou nega do sujeito;- uma afirmação
ou uma negação.”2

Tente imaginar e desde logo, já atribua um caráter de


absurdo, às premissas inferindo o seguinte juízo:

-Agora são 13 horas;


-As 13 horas eu sinto fome;
Logo, estou com fome.

Ou seja, labor e conjecturas eminentemente racionais. Na esteira do que se


expõe, nos sentimos autorizados a afirmar que, o deslinde dos juízos
lógicos, admitem a tautologia, erros operacionais, tanto na ausência da má
fé, quanto, principalmente, contundentemente quando por essa é motivado.
Não exclui, portanto, a possibilidade de sua presença nos conjuntos
normativos, com e sem a presença da má fé.
Já os impulsos instintivos não. São, esses últimos, atos contínuos com
caráter da instantaneidade irrefletida ou “mecânica”.
Para fins de terminologia, diriam os românticos que são enunciados que
saem do coração.
A justiça nos homens.
Para fins de aproximação sucessiva em busca da “verdade absoluta
considerando o espaço amostral cognição humana possível” entendemos

2
JOLIVET, Régis : Pág. 14, Curso de Filosofia 18ª Ed. Agir. 1982.
que existe um forte componente instintivo, logo inata no ser humano, que a
faz aferição da justiça com acerto.
Acreditando na existência de Deus, ou àqueles que acreditam, na evolução
aleatória da natureza e mente humana. Sob qualquer dos dois sistemas, não
escapa a concepção de que o homem tem a noção inata da justiça.
Vejamos como expõe o Livro dos Espíritos.

L.E. :- 621. Onde está escrita a lei de Deus?


Resp: “Na consciência.”

Esses chamamentos e respostas, são os fundamentos havidos como


decorrentes da natureza das coisas, independentemente de convenção ou
legislação, e que seriam declaradores informativos ou condicionantes às
primeiras leis positivas no curso do desenvolvimento da humanidade.
Vejamos, pois, o instituto da legítima defesa.
Sem dúvida este instituto se confunde com a história do próprio homem.
Não há registros de que algum chefe de tribos ou patriarca, tenha erigido
uma lei, um documento, contemplando a legitima defesa como o é hoje,
antes que tivesse ocorrido e constatado algum tipo de contenda, em que
vidas foram ceifadas.
Mas sem dúvidas, houve o evento real ( situação fática homicídio), seguido
da censura, que passou de usos e costumes (censurar) à instituição
consuetudinária nos primórdios da humanidade.
Para só posteriormente, com o desenvolvimento cultural, da escrita, e
outros aparatos da evolução, vir a tomar lugar nas leis positivas.
Embora sejam hoje leis positivas, não são, no entanto, mais disciplinadoras
para fins práticos e harmoniosos da sociedade que outrora, quando da
vigência dos usos e costumes.
Pelo contrário, o que foi introduzido pelo homem moderno, foram
fatores complicadores, que repousam na existência de bons
advogados ou não, em ter-se dinheiro e bom sobrenome ou não
para se tipificar ou não um fato como legítima defesa ante ao
Animus necandi.
Todos complicadores, frutos da elaboração, premeditação e combinação
intelectual, que dão tutelas de conveniências.
Ademais, o aspecto consuetudinário, se arraiga na formação cultural, faz
parte dos elementos de formação em família, se constituindo em códigos
didáticos, formadores e educacionais dos filhos em família (base positiva
da sociedade).
É fato de que a formação cultural e a educação em seu seio consolidam
mais o ajustamento moral do indivíduo que todas as leis disciplinares. Visto
que estas freiam, algumas vezes, mas não transformam o homem.
Logo, em sede do que se expõe e sob o ponto de vista em curso, as leis
jurídicas positivadas podem receber o “ Status” de acidente na vida social.
Nunca “status” de princípios. Pois o essencial, o advindo da verdade de
fato é a aceitabilidade da reação de legitima defesa, e essa aceitabilidade
está gravada na consciência do homem médio.
Essa aceitabilidade que é sabidamente consensual, desde o homem
primitivo, até o mais culto e atual.
Há que se observar que dissemos que a lei pode receber um “status” de
acidente, e não o consenso sobre legítima defesa.
Pois, esse último, decorre de um princípio que é o instinto de
sobrevivência.
Assim vemos que a reação de legitima defesa, está ajustada, em
consonância, e se constituindo em um corolário do princípio supremo de
manutenção “a vida”.
Ao afirmarmos que a lei pode receber um “status” de acidente na esteira
social, o fazemos sem medo de errar, pois por incrível que possa parecer
-O PARADOXO ESTÁ INSTALADO NA SOCIEDADE HODIERNA
existem leis que se prestam, e disciplinam a aniquilação do bem supremo
que é a vida.
Vide os Estados que ainda mantêm em vigor as penas de morte.
São regras humanas que emergem da faculdade de raciocinar e escolher. É
a liberdade do arbítrio, escolhendo o aniquilamento da vida, em afronta a
princípios fundamentais, fundamentais por ser naturais.
E não adianta o alinhamento de um calhamaço de palavras e teses na busca
de justificar em termos de proteção à sociedade, harmonia social etc.
Pois sem muito esforço esse instituto se reduz à apenas um termo que
constitui em instrumento de fuga pela tergiversação, mas o termo é:
-Vingança.
Atenta conta o mais exíguo raciocínio, condenar à morte alguém por ter
tirado de outrem a vida.
Oras o que é condenar à morte senão tirar a vida?
Ou seja, cometer o mesmo crime, pelo qual se quer condenar. Ou extinguir
o bem maior “a vida” o qual se presume tutelar.
O cidadão pode cometer crimes, pode tirar vidas, mas o Estado não. Senão,
em que difere o Estado do cidadão e porque outorgamos ao Estado o direito
de dizer o Direito?
Vejamos ainda, como se manifesta o homem socializado ante a iminência
da privação que ameace a manutenção de sua vida.
Seguramente, nesse caso, podemos estabelecer como parâmetros comuns a
fala a seguir, ao grunhido do homem da caverna ao ver um predador maior
atacar seu “acampamento” e arrastar a presa que acabara de abater para seu
sustento. Grunhindo, diz o selvagem, e hoje o homem civilizado:
“Todas as formas de governo caem diante da
necessidade por pão. Para o homem com sua
família faminta, o pão passa em primeiro lugar
– antes de seu sindicato, de sua pátria, de sua
religião” John L. Lewis, líder trabalhista dos
EUA 3

Vemos que a ameaça à vida, e a iminência da fome sem solução de


continuidade, tem o poder de pulverizar e jogar por terra todos os sentidos
de instituição.
Sem dúvida, são manifestações que emergem de verdadeiros princípios
( fome iminente) eis ai a força dos princípios.
Enquanto que leis que disciplinam a “vida” institucional emergem de
“princípios” secundários ou derivados, que longe de serem princípios ,
assim foram nomeados.
Portanto, pelo simples fato nomeá-los, não lhes confere força suficiente
para que a vida não se manifeste conforme a exortação de John L. Lewis.

Da linguagem:

Sendo a linguagem o instrumento analítico de todos os campos de


conhecimento da vida, impossível se faz, perscrutar o Direito sem adentrar
nos questionamentos necessários sobre seu instrumento estrutural.
Pois, compreender as nuances e vertentes do Direito, é antes de qualquer
coisa, compreender a linguagem e seus atributos.

Como ensina PAULO NADER 4 , “A


dependência do Direito positivo à
linguagem tão grande que se pode dizer que
o seu aperfeiçoamento é também um
problema de aperfeiçoamento de sua
estrutura lingüística”.

E disso não resta dúvidas para o operador do Direito pois:-


-a lei é linguagem;
-o que diz o acusado é linguagem;
-o que declara a vítima é linguagem;
-o que depõe a testemunha é linguagem;
-a sentença que o juiz profere é linguagem;
3
Disponível em: http://pt.wikiquote.org/wiki/John_L._Lewis
4
1000 Perguntas Introdução ao Direito, HERKENHOFF, João Baptista,P 190, Op cit. NADER, Paulo:
Introdução de Estudo ao Direito, Rio de Janeiro, Forense, 1982.
-a exortação verbal que faça um juiz é linguagem.

A linguagem é para o universo jurídico o que os números são para a


matemática.
Se fossemos escolher dentre os vários temas que se constituem em
preocupações filosóficas, a linguagem é o tema mais recente e, portanto o
último deles.
Ainda os aspectos da linguagem que são tipicamente tratados pelos
filósofos constituem uma coleção pouco conexa, para a qual é difícil
encontrar qualquer critério nítido que a distinga dos problemas de
linguagem, não estando ainda bem delineados e distantes de se encontrarem
um consenso de unidade.
Não distinguindo, portanto das mesmas preocupações de que se ocupam os
antropólogos, gramáticos e psicólogos.

Mas de forma geral, é aceito que a riqueza de uma linguagem está


diretamente relacionada com o número de conceitos que constituem sua
base.
A linguagem é fundamentalmente dependente dos conceitos, e quanto mais
conceitos existirem na origem de uma linguagem, mais rica esta será.

E pode ser definida como sistema de sinais vocais, sendo o mais


importante sistema de sinais da sociedade humana. A vida cotidiana é,
sobretudo a vida com linguagem, é por meio dela que participamos com
nossos semelhantes.

A compreensão da linguagem é por isso essencial para nossa compreensão


da realidade da vida cotidiana. A linguagem tem origem na situação face a
face, mas pode ser facilmente destacada desta.
Pois, podemos falar ao telefone e hoje por muitos meios de comunicação a
distancia. Ou então transmitir um significado lingüístico por meio da
escrita.
A escrita se constitui num sistema de sinais, portanto linguagem de
terceiro grau.
Esse aspecto é decisivamente importante, quando se tem em tela a busca da
análise do conhecimento em geral, e principalmente de um sistema
normativo, por exemplo.

Pois a escrita, guarda uma distância remota do elemento subjetivo a ser


objetivado, quando comparada com os sinais vocais ( até por isso, se
utilizar do instituto da acareação).
Aprumamos assim, um “índice” hierárquico dos instrumentos dos quais o
homem se utiliza na construção social da realidade, bem como por eles
próprios ele é moldado.
Partindo dos princípios supremos desencadeando nos derivados,
secundários, que pela sua natureza são instrumentos menos hábeis para
ensejar a harmonia, e justiça social.
A saber:
1º. As expressões, e movimentos emergentes das motivações primárias,
fome, sede, sentimento do justo ou injusto que se constituem em
verdadeiros princípios supremos, destituídos da premeditação do cálculo,
isentos das falácias, hipocrisias e má fé ocultas.

2º. Na experiência face a face, todas as nossas expressões orientam-se na


direção do interlocutor, e vice-versa e esta continua reciprocidade de atos
expressivos é simultaneamente acessível a ambos colocando ambos mais
próximos da verdade de cada um.
Pois na situação face a face a subjetividade do outro nos é acessível,
mediante o máximo de sintomas e suas expressões.

É possível que nós interpretemos mal as intenções do outro mesmo na


situação face a face assim como é possível que ele hipocritamente consiga
esconder suas intenções.

De qualquer forma a interpretação errônea e a hipocrisia são mais difíceis


de sustentar na interação face a face ( relembrando: princípio do qual se
serve as acareações) do que em formas menos próximas ( 2ª ordem
telefones e instrumentos de voz, e 3ª ordem a escrita ) de relações sociais.

Essa forma, ( 2ª e 3ª ordens) do homem produzir e receber o produto


social, é mais distante das expressões emergentes das motivações
primárias, portanto hierarquicamente inferiores para fundamentar
“verdades” mesmo que relativas.

3º. A escrita se constitui num sistema de sinais, portanto uma linguagem.


O destacamento da linguagem consiste muito mais fundamentalmente em
sua capacidade de comunicar significados, que não são expressões diretas
da subjetividade “aqui e agora” admitindo falsear sentimentos, e elaborar
estruturas capciosas, ardilosas com o fito de beneficiar tipos e grupos em
detrimento de outros.
E é a escrita o instrumento estruturador do Direito Positivo.
Logo os “princípios” do Direito ao nosso sentir estão muito distantes de se
constituírem em verdadeiros princípios visto que as motivações que
impelem a forma com que se institui e se estrutura um texto, se constituem
em ordenamentos ocultos que por vezes se mantém escondidos, nunca
vindo à superfície.
São verdadeiras exposições de motivos camufladas.
Assim é possível com isso, serem formalizados, verdades e “princípios”
que nada tem a ver com a realidade do mundo dos fatos, que são as
verdades materiais fundamentais para uma harmonia social.

Pois, podemos falar de inumeráveis assuntos que não estão presentes na


situação face a face tão pouco na situação fática de um evento qualquer.

Podemos falar de fatos futuros, passados, possibilidades futuras,


reinterpretarmos fatos passados, discursarmos de forma eloqüente e
convincente sobre tema diverso dos nossos sentimentos, falamos e
apreendermos assuntos que não estão de modo algum presentes, inclusive
assuntos dos quais nunca tivemos e nem teremos experiência direta, como
por exemplo: qual a sensação de caminhar sobre a lua.

Devido esta capacidade, de transcender o “aqui agora”, a linguagem


estabelece pontes entre diferentes zonas dentro da realidade da vida
cotidiana e as integra em uma totalidade difusa, mas dotada de sentido ou
melhor, de entendimento.

Essa é a alma da sociedade.

E, as transcendências têm suas dimensões espaciais, temporais e sociais.

Qualquer tema significativo que abrange assim esferas da realidade


cognitiva pode ser definido como um símbolo e a maneira lingüística pela
qual se realiza esta transcendência podem ser chamados de linguagem
simbólica.

A significação lingüística alcança o máximo do desprendimento, da


dependência do “aqui agora” da vida cotidiana e eleva-se a regiões que são
inacessíveis, não somente aos fatos, mas também a priori à experiência
cotidiana.

O entrar em contato, e ser produtor em sociedade, se constituem em


verdadeira aquisição e distribuição social do conhecimento.

Encontramos o conhecimento da vida cotidiana socialmente distribuído


mais intensamente entre os tipos de indivíduos.
Por exemplo: não partilho meus conhecimentos igualmente com todos os
meus semelhantes, podendo até haver algum conhecimento que não
compartilho com ninguém.
Compartilho minhas elucubrações jurídicas com meus amigos, mas não
com minha família.
E não posso compartilhar com ninguém meu conhecimento do modo de
trapacear no jogo da vida.
Como já dissemos a permissividade da linguagem, enseja tautologia
retórica, o engodo, e a falácia enquanto que os impulsos instintivos não.

E a sociedade racional, se vale desse estágio de desenvolvimento humano


para uma vida de permissividade e perversão haurindo de uma arquitetura
muito bem elaborada ( por racional que se constitui) permitindo que a
hipocrisia seja o veículo em transito da arquitetura social ( grupos,
institutos, leis), para vida em sociedade.

Ai se acosta de forma decisiva, que muito do que se chama de princípio na


esfera jurídica, longe está de merecer esse “status” visto que é engendrado
pela linguagem que admite essa imensa gama de tergiversação, ou
dicotomias puramente técnicas, ( não de má fé) pela forma e contexto em
que são instituídos.
Vejamos por exemplo:

“PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE”
De imediato, constatamos que ao introduzir tal tema não há unanimidade
entre as correntes doutrinárias na forma de encorpá-lo, a saber:
“- O Princípio da Anterioridade pode e tem significados diversos a
depender do ramo do Direito até então evocado”.
Oras, como pode um “princípio” ter dois significados diferentes, e como
tal, ser o causador de dois efeitos diferentes no mundo jurídico?

Vamos então, caro leitor, imaginar em qual situação o princípio


gravitacional provoca dois efeitos diferentes em que momento que o
princípio gravitacional decide que a caneta solta das mãos não cairá?
Se esse princípio não vale, então vamos proceder o mesmo experimento
teórico com a sede.
Princípio fundamental que elencamos em nosso exemplo no curso desse
ensaio.
Pois a privação da água para saciar a sede, jamais estará dissociada de
repercussões jurídicas admitindo os mais variados matizes desse universo
tais como:-

“É direito da AUTARQUIA MUNICIPAL interromper o abastecimento por


falta de pagamento” (alguns julgados).

Ou a proibição do fornecimento de água em caso de hospitais (outros


julgados) etc. No entanto, a privação da água sempre significa sede.

Assim no nosso sentir, princípios do mundo jurídicos podem ser assim


denominados, mas jamais causadores inexoráveis de uma unidade de
efeitos.

Logo podem ser chamados pelos operadores do direito, de regras,


convenções, ajuste entre partes, pactos e até “alguns costumes”.

Mas sem a força irresistível, dos verdadeiros princípios que se constituem


no “ser” dentro do Universo genérico.
Caso o leitor queira argumentar que a existência da linguagem é um
princípio fundamental com “status” de “ser” , logo o que deriva dela
também o é.
Concordamos com a primeira parte, mas refutamos com veemência a
segunda, pois nasce antes da linguagem, o livre arbítrio do ser.
A liberdade elaborar um texto que expressa de modo diverso dos seus
entendimentos e sentimentos. Como ensina a “Gênese” : A inteligência se
revela por atos voluntários, refletidos, premeditados, combinados, de
acordo com a oportunidade das circunstâncias.
Reside no “ de acordo com a oportunidade das circunstancias” o que já
dissemos no corpo do ensaio, se constituírem em ordenamentos ocultos que
se mantém escondidos, nunca vindo à superfície. São verdadeiras
exposições de motivos camufladas.
Logo não implica que qualquer produto que advenha da linguagem, e que
venha repercutir em sociedade, é um princípio fundamental. Pois a sede
não tem o poder de negar-se a si própria, a gravidade não tem o arbítrio
para escolher que nesse ou naquele caso ela não vai produzir seus efeitos,
mas o operador da linguagem pode e deve negar-se a produzir alguns
conceitos e definições quando esses não sublevam a vida em sociedade em
todos os seus aspectos, mas ao contrário disso, eles tem tecido redes e
armadilhas nefastas dentro das quais prosperam homens, grupos de homens
e classes sociais, as expensas e esmagamento de outros.

Das Leis
Pesquisas bibliográficas mostram que intelectuais tais como Descartes
Locke, Spencer e outros tantos, até praticamente no curso do século XIX,
tinham seus trabalhos custeados por membros das elites, príncipes,
monarcas e reis.
E hoje, sabemos que os legisladores quase que do planeta todo, tem suas
atividades “custeadas” por grandes grupos do poder econômico de nosso
planeta, a instrumentalizarem seus intentos com extensa gama dos
chamados “Lobistas” que possuem cama e cozinha nos congressos.

Já alertava Allan Kardec, nos meados do sec. XIX a respeito das leis e
elites:

(...) Para a conservação desses privilégios,


era preciso lhes dar o prestígio da
legalidade, e ela fez as leis em seu
proveito, o que lhe era fácil, uma vez que
só ela as fazia. Isso não era sempre
suficiente; deu-se o prestígio do direito
divino, para torná-las respeitáveis e
invioláveis. Para assegurar o respeito da
parte da classe submissa que se tornava
mais numerosa, e mais difícil de contentar,
mesmo pela força, não havia senão um
meio impedi-la de ver claro, quer dizer,
mantê-la na ignorância.

(...) A classe submissa, portanto, viu claro;


viu a pouca consistência do prestígio que se
lhe opunha e, sentindo-se forte pelo
número, aboliu os privilégios e proclamou a
igualdade diante da lei. “Esse princípio
marcou, em certos povos, o fim do reino da
aristocracia de nascimento, que não é mais
do que nominal e honorífica, uma vez que
ela não confere mais direitos legais”. (grifo
nosso)

( AS ARISTOCRACIAS-Obras Póstumas)

E ainda o Livro dos Espíritos ensina sobre as leis:

P. 781 a O que pensar dos homens que


tentam deter essa marcha e fazer
retroceder a humanidade?
– Pobres seres que serão punidos por suas
próprias ações. Serão arrastados pela
torrente que querem deter.

Sendo o progresso uma condição da


natureza humana, ninguém tem o poder de
se opor a ele. É uma força viva que as más
leis podem retardar, mas não sufocar.
Quando essas leis se tornam incompatíveis
com a sua marcha, ele as destrói e a todos
que tentam mantê-las. Será assim até que o
homem coloque suas leis em
concordância com a justiça e com o bem
de todos, e não leis feitas pelo forte em
prejuízo do fraco. (Grifo nosso)

As Leis injustas, não geram o orgulho e o egoísmo nos homens, pois essas
doenças da alma são inerentes ao ser humano, mas servem de amparo, de
proteção e os autoriza dar curso em sociedade essas doenças da alma.
Em JOÃO BATISTA HERKENHOFF5, vemos:

“Assiste razão a Carl J. Friedrich, quando


defende a necessidade de um padrão válido,
fora e além do Direito, para proteger o
Direito; seja o direito supralegal
( Radbruch), seja uma referência crítica
para a legislação vigente ( Hermes Lima),
seja a tentativa de humanização da Justiça
( Flóscolo da Nóbrega), sejam Direitos
Humanos proclamados em foros
internacionais, ou trazidos à prática efetiva,
através de convenções e tribunais
supranacionais.
Em qualquer hipótese, um valor que se
afirme mais na práxis do que nas definições
teóricas.
A única coisa intolerável é que, ante o
esmagamento de homens, de grupos de
homens, de classes, ou de povos, sob o
aparo de sistemas legais, não possa o jurista

5
HERKENHOFF, João Batista: 1000 Perguntas INTRODUÇÃO AO DIREITO, Thex Editora, 1996, Rio
de Janeiro
dizer, como o profeta, ao déspota, à corte de
opressores, à classe dominante: “ Não te é
lícito!” (grifo nosso)

Por não ter definido um instrumento analítico hábil para fazer frente ao
Direito posto, vigente, e sim tendo elencado um conjunto, de instrumentos
de forma exemplificativa, indicando que um deles poderia ser um padrão
válido para proteger o Direito, Carl J. Friedrich, não adentra os aspectos
epistemológicos dos possíveis padrões por ele elencado.

Aquilo que Carl J. Friedrich designa como padrão válido, denominaremos


de instrumento analítico.
Já, de chofre, asseveramos que qualquer dos instrumentos analíticos
sugeridos acima, deve se constituir de um arcabouço estrutural totalmente
destituído dos pilares que sustentam o Direito vigente.

Visto que se estruturado com os elementos que emolduram os vocábulos


específicos, as fórmulas, os aforismos e até o estilo jurídico, já nascem
viciados não se constituindo em instrumento analítico hábil para a
proteção-denúncia da eficácia do Direito em sua “busca constante” de se
aproximar do justo.

Pois um instrumento erigido com todos os elementos extraídos do próprio


Direito, só restará ser autoconsistente e declarar que em seu percurso
dentro da sociedade tem sido plenamente eficaz, o que não é.

Seria como pegar veneno de uma cobra, e aplicá-lo diretamente no paciente


que tenha sido picado pela cobra com a intenção de curá-lo. O que se faz é
simplesmente duplicar a quantidade da substancia letal.

Antes porem é necessário que se desestruture todos os elementos pilares, e


muitos chamados de princípios, que de princípio nada tem, diluindo-os em
amplos conteúdos de corpos do conhecimento sócio-humanistas, revisões
filosófico-espiritualistas, para ai sim, reagrupá-los novamente
estabelecendo os nexos causais lógicos entre esses elementos remodelados.

Ai sim teremos instrumentos analíticos mais hábeis, eficazes, para a


proteção-denúncia da eficácia de um Direito sob o prisma da justiça.

Dos Juristas Espíritualistas

Aos juristas que ombreiam a empreitada, na busca do que há de mais


lídimo propósito para o norte da vida em sociedade.
Há que esperar as críticas dos tutores-mantenedores desse estado de coisas
que perpassa a injustiça corrosiva na sociedade.

Sem dúvida, novas visões e sistemas mais justos serão os alvos a serem
atingidos.

Primeiramente, lançarão mão da tentativa de desqualificá-los tecnicamente,


espezinhando suas capacidades intelectuais, para justificarem à sociedade a
inépcia dos novos propósitos.

Em não conseguindo, vencidos nos debates lógicos, partirão para


perseguições, pessoais na busca de atingi-los em suas performances de
pessoais, seus dia-a-dia e resultados em sua produtividade. E ainda em um
terceiro momento, não temos dúvidas que as formas de apelação serão
ainda piores.
Visto o que nos previne o E.S.E. Cap. XX. Item 4:

(...) Pregareis o desinteresse aos


avaros, a abstinência aos dissolutos, a
mansidão aos tiranos domésticos,
como aos déspotas! Palavras
perdidas, eu o sei; mas não importa.
Faz-se mister regueis com os vossos
suores o terreno onde tendes de
semear, porquanto ele não frutificará
e não produzirá senão sob os
reiterados golpes da enxada e da
charrua evangélicas(...).

E ainda o cap. XXIII, item 12, do E.S.E; elege argumentos extremamente


fortes e absolutamente irrefutáveis quando apregoa:

“(...) Toda idéia nova forçosamente


encontra oposição e nenhuma há que
se implante sem lutas. Ora, nesses
casos, a resistência é sempre
proporcional à importância dos
resultados previstos, porque, quanto
maior ela é, tanto mais numerosos
são os interesses que fere. Se for
notoriamente falsa, se a julgam isenta
de conseqüências, ninguém se
alarma; deixam-na todos passar,
certos de que lhe falta vitalidade. Se,
porém, é verdadeira, se assenta em
sólida base, se lhe prevêem futuro,
um secreto pressentimento adverte os
seus antagonistas de que constitui um
perigo para eles e para a ordem de
coisas em cuja manutenção se
empenham. Atiram-se, então, contra
ela e contra os seus adeptos.

Assim, pois, a medida da importância


e dos resultados de uma idéia nova se
encontra na emoção que o seu
aparecimento causa, na violência da
oposição que provoca, bem como no
grau e na persistência da ira de seus
adversários(...)”.

Ítens a serem desenvolvidos na esteira desse ensaio:


-O Estado de Direito: deturpação no curso de seu implemento
-Monarquias absolutistas- “Direito Divino”
-Separação dos poderes, e direitos fundamentais

João Luiz
29/06/15

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