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Daniela Sofia Sousa Santos Direito Constitucional II

Data: 22 de Fevereiro de 2011

Tópicos da matéria a leccionar ao longo do ano:


1. Perspectiva histórico-comparada do Direito Constitucional;
2. Estrutura organizatória dos órgãos de soberania;
3. Exercício de função legislativa;
4. Fiscalização e controlo da constitucionalidade;
5. Direitos fundamentais.

1ª Constituição (1822) - Antes de ser implementado um texto tão


importante como a Constituição, ou seja, antes de 1822, já existia normas
que eram antecedentes históricos da constitucionalidade.

É impossível estudar os textos constitucionais do passado sem se olhar


para a conjuntura geral que o país vivia em simultâneo.

Antes da Constituição/Quadro político do país:


 O poder tinha carácter absolutista, já que era o rei que concentrava
em si todos os poderes do Estado. Este poder absoluto acabou com
a teoria da separação de poderes de Montesquiu.
 Acompanhado da irresponsabilidade política do rei, já que este não
prestava contas de nada, não era responsável politicamente
perante ninguém.
 Estava ainda desvinculado das suas funções perante qualquer
sistema jurídico.

Monarquia – considerado um Estado estamental, Estado pré


constitucional, que se divide em 3 estratos: povo, clero e nobreza.

Havia a existência das cortes tradicionais do rei – das quais faziam parte os
representantes dos estratos sociais acima referidos.

Cortes tradicionais ≠ Parlamentarismo, como podemos comprovar pelas


suas características, nomeadamente:
 Não tinham poderes de vincular;
 Convocação das cortes eram feitas de forma irregular, só quando o
monarca achava necessário é que convocava as cortes;

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 A sua composição era não democrata, uma vez que havia estratos lá
representados, no entanto havia também desigualdades na
intervenção dos diferentes estratos;
 A eleição fazia-se em sistema não democrático;
 As cortes tinham força meramente simbólica.

O quadro político absolutista apresentado tinha algumas excepções,


nomeadamente:

Leis fundamentais do reino – decisões aprovadas em cortes que seriam


vinculativas e limitavam o próprio exercício do rei.

Por exemplo:
Actas das Cortes de Lamego (XVII XIX) – que se descobriram como sendo
falsas. Eram utilizadas como fim político e celebradas durante a 1ª dinastia.
Lá estava consagrado que nenhum estrangeiro podia ser rei de Portugal –
isto tinha o objectivo de se correr com o rei espanhol para se reconhecer
independência

Havia então dois limites ao poder jurídico do rei no período pré-


constitucional:
- Forma monárquica do governo que o soberano não podia alterar;
- Regras de sucessão do trono que também não podia alterar.

Na revolução francesa, o movimento constitucional ganha força.


A luta era da burguesia contra o Estado.
Os dois princípios pilares da revolução eram o democrata e liberal.
Foi posta em prática a teoria de Montesquiu, assim este foi o 1º Estado a
adoptar a separação de poderes.
Depois outros países europeus foram influenciados por este movimento,
nomeadamente Portugal onde os liberais portugueses ficaram fascinados
com os ideais defendidos durante aquela revolução. Estes princípios são
implementados em Portugal em 1822, embora com alguma resistência por
parte da igreja e aristocracia. Portugal é agora um Estado liberal – origem
do Constitucionalismo.

Textos constitucionais:
Constituição de 1822
Carta Constitucional de 1838
Constituição Republicana de 1911

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Constituição de 1933
Constituição de 1976

A sequência de todos estes textos não é cronológica.


Existem 3 características na história destes textos:
1. Não existiu continuidade entre os textos;
2. A transição não foi sempre feita por roturas jurídicas, mas também
sociais e políticas;
3. Houve uma sucessiva tentação de represtinar os textos
constitucionais.
Represtinar: uma norma revogada voltar à sua vigência.

A história dos textos constitucionais:


1822 – aprovação da Constituição até 1823;
1823/26 – regresso do absolutismo – regressam leis fundamentais do
reino;
1826/28 – Carta Constitucional;
1828/1834 – regresso ao absolutismo – período de usurpação egoísta/
guerra civil;
1834 – Carta Constitucional é represtinada, período da sua 2ª vigência;
1836/38 – 2ª vigência da Constituição de 1822;
1838 – Constituição de 1838 até 1842;
1842 – estabilização do quadro constitucional – 3ª vigência da Carta
Constitucional;
1910 – implementação da República;
1911 – Constituição Republicana;
1911/ 26 – golpe de 28 de Maio que implanta regime de ditadura.
Constituição de 1933;
1976 – Constituição de 1976.

 Durante este tempo, houve mudança de Constituição consoante a


conjuntura actual do país.

Periodização da história Constitucional

Critério 1 – acordo com o regime político:


existem então constituições monárquicas (22/26/38) e republicanas
(resto).

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Critério 2 – constitucionalismo democrata (actual constituição 1976),


liberal e autoritário (1933, de inspiração autoritária, Estado Novo).

A história política e constituição não podem ser separadas, uma vez que
a segunda provém da primeira.

Características dos textos constitucionais:


1. Constituições são sempre resultado de roturas políticas;
2. Direito constitucional acompanha sempre evolução política do país;
3. As diferentes constituições funcionam como bandeiras políticas de
novos regimes implantados;
4. São de influência estrangeira;
5. Textos muito influenciados politicamente, correspondem a
determinadas ideologias;
6. Instabilidade política constitucional;
7. Textos correspondem a projectos constitucionais muito ambiciosos
e que eram irrealistas;
8. Instituições criadas pelas constituições foram insuficientes e
incapazes de responder aos objectos da constituição.

Análise pormenorizada de cada texto constitucional:

Constituição de 1822:
Guerras napoleónicas, invasão francesa, fuga da família real para o Brasil.
É neste quadro que surge a revolução de 1820 e a criação da constituição
pela convocação das cortes constituintes (diferentes das constitucionais).
Influenciada pela situação de Espanha.
Após a votação da Constituição, impôs-se o regresso do rei e este foi
obrigado a jurar e aceitar a Constituição. A soberania pertencia à nação.
Sistema de governo: doutrinas de Montesquiu.
Legislativo – cortes que aprovavam legislação, a aprovação era de
competência das cortes, que se impunham ao rei.
Executivo – atribuído aos reis mas não automaticamente, em conjunto
com os ministros nomeados.

Carta Constitucional de 1826:


Elaborada em 3/4 dias por D.Pedro IV.
Constituição influenciada pela brasileira e pelo constitucionalismo
britânico, mas também pelas teorias de Benjamim Constante (que juntava
o poder moderador aos outros de Montesquiu).
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Características:
1. Obra pessoal de D.Pedro IV;
2. Concessão de um monarca aos seus súbditos;
3. Muito conservadora;
4. Rejeita soberania popular;
5. Muito aristocrática (cortes divididas em 2 câmaras – a dos pares
(nobres e bispos) e a dos deputados (representantes)).
6. 4º Poder – o rei exercia o poder moderador em função de
distanciamento de política (influência na Bélgica).

Sistema político: quase parlamentarismo puro.


Bicameralismo perfeito – ambas as câmaras tinham o mesmo poder – a
legislação tinha de ser aprovada pelas duas câmaras.

Sanção Facultativa – se o rei recusa-se a aprovar não havia possibilidade


de ultrapassar o veto real, pois era um veto absoluto.

Direitos fundamentais mais abrangentes do que na de 1822:


Direitos individualistas, burgueses liberais;
Direitos sociais surgem aqui (assistência pública, instrução gratuita);
No elenco dos direitos fundamentais, a constituição garantia os direitos da
nobreza hereditária e garantia do pagamento da dívida pública.

Teve 3 períodos de vigência.

A revisão já se faz nos termos comuns, as revisões não são divididas pelo
rei mas sim pelas cortes.
As revisões não se fazem pela modificação mas sim por actos adicionais
crescentes.

Revisões:
52 – Aboliu a eleição indirecta e pena de morte nos crimes políticos.
85 – Suprimiu o pareado hereditário da câmara dos pares, surgindo o
pareado vitalício.
? – Restingiu-se o poder moderador e constitucionalizou-se o direito de
reunião e manifestação.
95/96 – revisão ditatorial/ reforçar poder executivo.

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Data: 3/03/2011

Constituição de 1838

Aprovada por representantes do povo.


Modelo híbrido entre a Constituição de 22 e a Carta Constitucional, ou
seja, tenta combinar os 2 pólos dos diferentes textos constitucionais,
unindo a linha revolucionária/radical e a linha mais conservadora.

Reúne elementos influenciados pela Constituição de 22:


 Consagração da soberania nacional;
 Abolição do pariato (pares) do reino, rejeita a hereditariedade de
funções parlamentares;
 Sufrágio directo.

Reúne elementos influenciados pela Carta Constitucional de 26:


 Engrandecimento do papel do monarca;
 Manutenção do bicameralismo (câmara baixa/câmara dos
deputados);
 Apesar do senado ser eleito pela população, continuou-se a câmara
dos pares, mas sem o critério da hereditariedade.

Constituição de 1911
Aprovada na sequência da implementação da República, em 5 de Outubro
de 1910.

Ganha expressão pós ultimato inglês (1891), que ocorreu uma vez que,
Portugal possuía terrenos de África (Angola e Moçambique), e os
britânicos queriam a todos os custos estas duas terras que lhes faltavam
em território de África.

Características:
1. Constituição de ruptura política e social;
2. Forte influência jacobina, anti – clericalismo;
3. Liberalismo democrático;
4. Parlamentarismo exacerbado – instabilidade política governamental.
O parlamento passa a chamar-se congresso da república, o chefe
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passa a ter poder/cargo temporário, é eleito e tem poder


moderador, eleito pelos deputados e senadores, ou seja, pelas duas
câmaras.
5. Prevê existência autónoma de um governo (chamado aqui
ministério);
6. Primeira a prever na própria constituição a existência de um líder de
governo – presidente do ministério;
7. Primeiro texto constitucional português e no mundo que prevê que
tribunais possam fiscalizar constitucionalidade das leis;
8. Catálogo de direitos fundamentais maior – direitos e liberdades
(direitos individuais);
9. Proíbe nobreza hereditária;
10.Baniu a família real;
11.Participação na grande guerra;
12.Estado endémico de crise financeira (dívidas);
13.Período sidonista – inspirava-se nos movimentos de líderes militares
que antecipam movimentos fascistas.

Dá-se assim, em Maio de 1926, um Golpe liderado pelos movimentos


conservadores (católicos, absolutistas), contrário ao regime republicano
que instaurou o governo provisório.

Deu-se início ao período de ditadura militar, em que os militares tomaram


conta do poder político.

Constituição de 1933
Salazar redige esta Constituição que se vem adaptar à nova ditadura
política (Estado Novo).

Características:
1. Procura resolver conflito republicanos/monárquicos;
2. Autoritarismo conservador, anti liberais e anti democratas de
influência europeia;
3. Rejeição do parlamentarismo – não tem poder nem palavra na
condução política do país, já que se rejeitava influência de partidos
políticos;
4. Rejeição do liberalismo – construída uma sociedade que pretende
assentar na base da família e na colectividade de profissão.

Sistema de Governo:

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Órgãos de Soberania:
 Chefe de Estado;
 Assembleia Nacional;
 Governo;
 Tribunais.

Previa catálogo de direitos fundamentais mais sociais:


Direito da família;
Direito das coorporações;
Direito de exercício colectivo.

Revisões:
Competências do governo aumentadas e diminuídas as legislativas do
parlamento;
Supressão da eleição directa do PR por eleição indirecta (eleito agora pelo
parlamento)
Tentativa de resolver o problema colonial, eliminando o nome de colónias
para províncias e depois regiões autónomas.

Data: 15/3/2011

Constituição de 1976

 Origem histórica, teve por base uma importante evolução.


 Origem negociada/pacticia – resulta de um pacto previamente
elaborado entre o MFA e os partidos políticos.
 O conteúdo do pacto: organização e os poderes do governo.

Conselho de Revolução – só militares


Assembleia do MFA
PREC (processo revolucionário em curso) – continuou e a 25/11/75, osde
esquerda foram retirados do poder.
Forças mais proximas que até agora estavam ausents da política, voltam
e exigem revisão do pacto.
Dá-se o 2º pacto do MFA partidos, onde a organização não é tão
militarista e sim mais de tipo ocidental.

Esta constituição é produto da Assembleia Constituinte com bases


militares em relação aos seus princípios.

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Proibia realização de diferendo.

Foi aprovada em 2 de Abril de 76, só com voto contra do CDS.


Entra em vigor em 25 de Abril de 76.

Características da versão orignal:


1 – democracia tutelada pelos militares – Conselho da Revolução;
2 – auto governo castrense/militar – os orgãs governamentais só
governavam situações civís,as questõesmilitares auto-
governamentavam-se. A Constituição impunha período de transição (5
anos) que proíbia a revisão (para que estes orgãos não fossem
revogados);
3 – consagrava projecto economico com base social. No preambulo ainda
se vêm restícios do cariz socialista da Constituição original de 76;
4 – consagração de autonomia regional (Açores e Madeira) e autarquias.
Consagra pela 1ª vez regiões autonomas (com poder administrativo,
executivo e político). Art. º 6 da CRP.

Já houve 7 revisões constitucionais.

Há uma grande descomformidade entre a edição originária da


Constituição de 76 e o lado social, or isso tem sido revista e adaptada.
Art.º 288 – limites materiais das revisões.

Revisões:
82 – muito profunda:
 eliminou tutela militar;
 aboliu Conselho da Revolução;
aboliu auto governação dos militares;
 diminuiu poderes do presidente da república, tornando-o menos
interventivo;
 manteve as linhas da economia socialista – marxistas.
89 – centrada em aspectos ecnomicos, com base na entrada de Portugal
na CEE:
 permite-se reprivatização (privatizando-se o que foi nacionalizado);
 aboliu reforma agrária;
 aboliu linha marxista:
92 – adequar texto ao tratado de Marshtricht, para não ser
inconstitucional;

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97 – alterou aspectos do sistema de fontes do direito/actos normativos e


aprofundou autonomia das ilhas.
2005 – visou realização de um referendo para o Tratado da UE, que não
foi celebrado.

Modelos/Sistemas Constitucionais

Britânico – parlamentarismo;
Americano - presidencialismo;
Francês – semi-presidêncial.

Britânico – paradigma do modelo parlamentar

∞ Modelo acente numa evolução sem rupturas ao longo da história;


∞ Não tem Constituição escrita, com sentido moderno, não há texto
constitucional.

Evolução progessiva e paulatina, com continuidade.


Transições graduais e progressivas sem rupturas

O que ajuda a perceber porque não há constituição

Par eles, a Constituição é um conjunto de textos/leis/costumes


constitucionais, tudo com valor constitucional.
Realidade abstata, proveniente de momentos orgânicos diferentes.

No sistema britânico o papel proponderante é executado pelo parlamento.

Entra cedo em conflito pelo rei, de onde resulta:


Mais competências do parlamento, Estrutura
instituição política de direito próprio permanente
e independência do rei.
que reúne
para se auto-
Sec XVII/XIX – parlamento – sede do poder político organizar

Parlamento – legislativo

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Monarca – executivo

Mas o parlamento impôs ao monarca o eu poder executivo.


O governo passa ficar dependente do parlamento, ouseja, são escolhidos,
não pelo rei,mas em função do partido em maioria parlamentar.
[Quem escolhe 1º é o rei, mas com escolha condicionada pelo parlamento.]

Dentro o governo, a figura do 1º Ministro torna-se muito importane –


quem lidera o governo, lidera também a maioria parlamentar.

Governo: funciona como comité da maiori parlamentar

Composto por duas camâras:


Lordes – aristocrata
Comuns – eleitoral
Antes, ambas as camâras tinham poderes legislativo, as leis tinham de ser
arovadas em acordo entre as duas camâras.

Este sistema influênciava as antgas colónias do RU, Índia, países de África...

Americano – presidencialismo

 Texto verdadeiramente constitucional moderno;


 Constituição aprovada por convenção constituinte – convenção de
Philadelfia;
 Origem de aprovação por Assembleia;
 Estados Unidos como Estado Federal – que resultade partilha de
soberanias que se dividem pelos seus Estados (13);
 Estado federal exerce transferência de poderes de soberania feitas
pelos Estados federados, mas os estados federaos continuam com
poderes autónomos.

Texto constitucional que são normas de natureza superior, as normas


criadas pelos orgõs constituidos, devem obdiência à própria constituição.

Sistema de Governo:
Legislativo – Congresso

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Judicial – Supremo tribunal


Executivo – Presidente

Congresso Bicameral:
Camâra dos deputados – de representação dircta pela população
Senado – camâra com representação igualitária dos Estados (2 senadores
por cada Estado)

O que proporciona um
equilíbrio do sistema federal americano.

Presidente – orgão unipessoal – exerce sozinho poder executivo, não é


eleito directamente, mas sim por um colégio eleitoral.
Estados livres de como escolher os seus representantes.
Exerce através dos secretários o poder executivo, que são os seus
auxiliares (ministros +/-).
Não pode nomear secretário sem este ser confirmado pela maioria do
Senado.

Supremo e outros Tribunais – juízes (9) nomeados pelo presidente (a


título vitalício), e confirmado pelo Senado, para assegurar legitimidade na
escoha dos juízes.

Constituição Norte-Americana – das mais antigas do mundo (vigência


contínua), com revisões (aditamenos) adaptados aos novos tempos.

Princípal razão: texto aplicado por interpretação judicial.

Características:
 Presidencialismo;
 Federalismo;
 Aplicação jurisdicional da constituição;
 Constituição escrita;
 Controlo da constitucionalidade as leis. (Influência global)
Francês– híbrido entre parlamentarismo e presidencialismo:

- Reproduto de evolução histórica complexa e ditada por roturas.


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- Surge com Revolução Francesa.

Semi presidêncial:
Organização do sistema de governo – 3 orgãos –
Parlamento/Governo/PR e também tribunais – sufrágio universal e
directo.

Governo – executivo – dependente do chefe de Estado e Parlamento.

Poder de escolher e demitir o governo, dissolve-lo

Características deste sistema:


 Retrição dos poderes legislativos e regulamentares para o
Parlamento;
 Existência de fiscalização política da constitucionalidade das leis;
 Fiscalização preventiva – se lei é constitucional ou inconsttucional,
mesmo antes de entrar em vigor (inovação do sistema francês);
 Competência legislativa reduzida.

29/03/2011

Orgãos de soberania

Art. 110 da CRP - presidente da républica, assembleia da república,


governo e tribunais.

Orgãos - centros autónomos institucionalizados de emanação da vontade


relativa a uma pessoa jurídica.

O Estado é uma realidade abstrata, por si só não designa a sua vontade.


Necessita de pessoas singulares que dirijam e executem a sua vontade.

Orgão - necessidade da vontade do Estado concretizada por pessoas


singulares - não é estado que aprova leis por exemplo, mas a lei é do
estado.

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Existência de orgãos - modo através do qual se torna efectivamente uma


instituição.

Característica do conceito de orgãos:


 estruturas estabilizadas na pessoa jurídica - institucionalizada com
caracter de estabilidade - orgãos permanentes e temporários;
 constituidos por pessoas fisicas - individuos;
 essas pessoas fisicas agem em nome da pessoa jurídica ou na
instituição em que se entegram - orgão exprime vontade da
instituição. a actuação do orgão imputa a vontade da instituição -
vontade da instituição corresponde à acção do orgão.

Tipos de órgãos:
Orgãos colegiais:
compostos por mais que um titular - assembleia da república, governo -
tipo especifico de orgão.

Orgãos singulares:
integrado por um único titular - presidente da república.

Orgãos simples:
único titular ou vários titulares - não tem outra característica, pode ser
então um orgão colegial ou simples.

Orgãos complexos:
orgãos que se desdobram em outros orgãos - governo (orgão colegial) -
desdobra-se em outros orgãos - art. 183º - AR (orgão complexo, estrutura
de orgãos) - 230 deputados, no seu seio existem as comissões
parlamentares - art.178 nº1, 180º.

Orgãos electivos:
cuja composição é determinada por via da eleição. Ex: AR - não tem de ser
eleito directamente por cidadãos - TJ - parte de membros eleitos pela AR.
orgão eleito por outro - electivo.

Orgãos não electivos:


titulares designados por outros meios que não os eleitorais. Ex: governo -
orgãos nomeados pelo PR.

Orgãos representativos:

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vinculo de representação política;


verificando-se neste vinculo como representativo.

Orgãos não representativos:


não existe vinculo de representação politica;

Orgão constitucional:
orgãos cuja existência está prevista na Constituição.

Orgão não constitucional:


não está previsto nem imposto na Const. - podem ser de origem infra
constitucional.

Orgãos deliberativos:
dispõem de competências para tomar decisões inovadoras, que
modificam o ordenamento jurídico - AR, PR, Governo...

Orgãos consultivos:
competências para emitir pareceres ou opiniões mas não tem
competência para introduzir modificações no ordenamento jurídico -
Conselho de Estado - 145º

Orgãos princípais:
competentes a título princípal para decidir determinada matéria.

Orgãos auxiliares:
competências instituidas com finalidade de auxiliar orgão princípal -
Conselho de Estado auxilia o PR.

Orgãos centrais:
exercem a sua competência sobre toda a área de actuação da pessoa
jurídica em que estão integrados.

Orgãos periféricos:
exercem a sua competência apenas sobre uma parte da área de actuação
da pessoa jurídica em que estão integrados.

Titulares dos orgãos:


1 - modos de designação que dependem da vontade;

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2 - modos de designaçãoque não dependem da vontade;

1 - eleição - titulares de um orgão designados por outro orgão;


- nomeação - titular de orgão escolhido por outro orgão art. 187º;
- captação - titulares de orgãos escolhem os restantes titulares do orgão
- caso do tribunal constitucional - art. 222º

2 - sucessão hereditária - monarquia;


- camâra dos pares;
designados por sorteio;
designado por rotação - presidente do CEUE;
inerência - titularidade num orgão decorre do facto de já ser titular noutro
orgão -142º

orgãos - centros institucionalizados de definição e vontade das instituições.


necessitam de poderes que lhe são atribuidos por ordenamento jurídico,
ou seja, competências - instrumento através do qual os orgãos exercem as
competências de que estão incumbidos - exprimir vontade de uma pessoa
jurídica.
obdece a 3 princípios:
 princípio da tipicidade ou taxatização - cada orgão apenas pode
exercer a competência de que está incumbida pelo direito
constitucional. a competência que é atribuida a x orgão é taxativa,
quer dizer que nenhum orgão pode exercer uma competência que
não lhe é atribuida, não ten essa liberdade - art. 110 nº2.
 princípio da indisponibilidade - orgão não pode discutir as suas
competências, també não pode renunciar as suas competências e
não pode definir as suas competências - 111º nº2
A própria competência funciona como um pressuposto e limite desse
orgão - pode agir se houver uma competência para agir nesse sentido.

Competências dos orgãos de soberania:


relação com funções do Estado;

competência constitucional - radicam/têm fundamento na Const. - 133º -


competâncias do PR

competência legais - resultam directamente da lei mas que não têm um


fundamento constitucional. Ex:PR promove militares.

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competência exclusivas/concorrentes/de quadro


competência exclusiva - atribuidas a um orgão com pretenição do seu
exercício por outro orgão. art 164º comp exclusiva da AR.

competência concorrente - podem ser exercidas em simultâneo por mais


que um orgão.

competência de quadro - atribuidas em partilha por 2 orgãos: a um cabe


os princípios gerais, a outro cabe desenvolver esses princípios -
competência legislativa da AR e governo - 164 165º

competência explicita - atribuidas a um orgão de modo não expresso, mas


são indispensáveis para concretização das competências explicitas.

competência implicita - atribuidas a um orgão de modo expresso,


implicito, claro - 134º

Princípios gerais relativamente aos orgãos de soberania:


 princípio da separação e interdependência dos orgãos da soberania;
 principio da maioridade;
 principio da imudificalidade da competência;
 princípio da legetimidade democrática;
 princípio da renovação dos titulares dos cargos públicos;
 princípio da não acumulação de funções;
 princípio da renunciabilidade dos cargos públicos.

Princípio da separação e interdependência dos orgãos


da soberania;
art 111 nº 1 - ligado à ideia da separação de poderes de Montesquieu -
exercicio das funções do Estado têm de estar distribuidos por diferentes
orgãos de soberania;
Diferenciação entre orgãos que são chamados a desempenhar a título
princípal as funçoes do estado;
Princípio da proibição de usurpação de poderes - orgãos que não exercem
funções do estado a título princípal não podem interferir no conteúdo
essêncial dessa questão.
art 111 nº1 - interdependência dos poderes.

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5/4/2011
Princípio da maioridade

Diferentes tipos de maiorias:


1 - maioria simples - faz vencimento a proposta com maioria de votos.
2- maioria absoluta - faz vencimento a proposta com mais votos que as
outras todas somadas;
3- maioria qualificada - faz vencimento a proposta com percentagem de
votação com maioria que a maior absoluta.

A unanimidade (concensso contrário ao p maioria (assembleia)) é a antitse


do princípio da maioriaª (funciona como regra fundamental da
democracia)
ª1º pressuposto - pluralidade de opções variadas por onde se possa
escolher (PR)
2º pressuposto - tomada de decisões
a aplicação comporta riscos, deve ser cautelada para não haver tirania da
maioria.

 Mecanismo de racionalização do processo de decisão;


 Mecanismo de legitimização das decisões políticas, decisão que
reúne aceitação da comunidade.

Só faz sentido se houver tutela das minorias!!
Maioria vs Minoria
(quem ganha) (quem não aceita)

É necessário reconhecer ás minorias um papel político:


 estatuto de oposição democrático (114 nº2)
 função de fiscalização da maioria/ controlando, pedindo
esclarecimentos;
 papel de alternativa, apresenta alternativas para o vigente;
 papel de alternância democrática, “a maioria de hoje é a minoria de
amanhã”;
só com estes pressupostos é que o principio da maioria é
constitucionalmente correcto.

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Princípio da maioria pelo legislador

A nível do quorum de funcionamento, é necessário o minímo de presenças


(nº legal dos membros – os que estão no exercício das suas funções e não
em abstrato) para que um orgão possa deliberar validamente – art. 116*
nº2
*É aplicável a todos os órgãos colegiais? – deve ser articulado com o 116
nº1 – é apenas às assembleias, mas parece não ser esta a melhor
interpretação, é aplicada a todos os órgãos públicos.

Quorum deliberativo / decisório – exprime o patamar (nº votos)


necessário para que uma deliberação seja validamente adoptada;

Nº de membros de entre os efectivos têm de estar presentes – estes


votam e têm de se atingir o mínimo de nº de votos.

Art. 116 nº3 – pluralidade de votos – maior nº de votos – maioria simples


dos membros presentes.
Regra geral: abstenções não contam para apuramento.

Excepções:
CRP exige maioria absoluta no 168 nº5 – leis orgânicas;
192 nº4 – rejeição do programa de governo – maioria absoluta dos
membros efectivos nas suas funções
126º - maioria absoluta;
136 n º2 – maioria absoluta;
256 nº1 –instituição ds regiões administrtivas – maioria absoluta;
286º - maioria qualificada (2/3);
163º h) – eleição dos titulares de x órgõs, maioria qualificada (2/3 dos
presentes não inferior à maioria dos efectivos);
284º - maioria superior a 4/5 dos deputados – super qualificada (184 no
caso da AR).

Princípio da imudificabilidade da competência

O órgão não dispõe da sua própria competência;


Princíio organizatório da organização do Estado.

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Por um lado, a CRP é fonte normativa da competência dos orgãos


funciona como limite da competência dos órgãos.
os orgãos não podem agir fora da competência que lhes foi imposta pela
CRP.

A que está definida na Constituição – 110 º– excepção – competências


legais, sem raíz na Constituição (fonte normativa), ma sim na lei ordinária.

A própria Constituição recebe possibilidade de a lei aplicar competência


aos órgãos de soberania:
161º o) – competência política da AR – funções também atribuidas pela lei.
163º - competência da AR relativas a outros órgãos;
h) – recepção de competências legais;
197º - governo competências legais – j);
214 nº1 d) – tribunal de contas;
223 nº3 – tribunal constitucional;

111 nº2 – princípio da alienabilidade da competência


(órgãos não pode transmitir competência a outro órgão, salvo artigos que
o permitampela lei ou CRP, mas com requisitos a preencher: 1- princípio
da separação de órgãos de soberania, 2- não pode defraudar CRP nem
retirar sentdo a este príncipio, 3- respeita normas de reserva do exrecício
de funções de soberania...202 nº1 – tribunais- reserva do exercício de
funções jurisdicionais... 4- só é possivel haver lugar de sentido de
competência quando a CRP e a lei (11 nº2) prevejam expressamente a
possibilidade de delegação a outros órgãos – norma habilitante, como por
exemplo: 165 nº1 e 2, 227 nº1, 200 nº2, 229 nº4, substiuição de um órgão
constitucioal – vacaturadeum órgão constitucional – vaga de 1 órgão const
que não seja preenchido não tenha titulares/impedimento de um membro
(pode estar doente).

Vactura do PR – 132 nº1


Ausência – 185 nº1 – ausência ou impedimento do PM, se este morrer o
governo cai.
185 nº2 – substituição de ministros pelo secretário de estado ou membro
de governo.
230 nº3 – substituição dos representantes da república – nas regiões
autónomas pelo PAL.

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Princípio da legitimidade democrática


109º participaçãodirecta e activa dos cidadãos base do
nosso sistema político
-art 2º
113 nº1 – orgão electivo – por eleição.

O povo é titular do poder político – representdo ea pessoa chamada a


voto do povo.

Só tem legitimidade de exercer pepel político quem está em legitimidade


democrática.

Grau de legitimidade democráica:

1- imediata – titulares designados pelo povo directamente (PR -121º, AR –


149º, legislativas das regiõs autónomas – 231 nº2, autarquias locais – 239
nº2).
Excepção: os orgãos executivos – 239 nº3 – pode não ser por directo mas
pela correspondente assembleia, pode-se optar por um dos sistemas.

2- mediata – órgãos cujos titulares são eleitos de legitimidade


democrática mediata – não por sufrágio directo e universal.
(orgãos nomeados pelo PR como pela AR, estes dotados de imediata) –
por exemplo, o PR nomeia todos os membros do governo – 133 g),
representantes da república, presidente do tribunal de contas, procurador
geral da república, comandantes militares. A AR nomeia 163º - vogais de
estado, juízes do tribunal constitucional...

O governo está numa situação muito particular, não é nomeado por


sufrágio directo e universal, tem modo de nomeação que depende do PR e
da AR – dupla nomeação, ou seja,não tem legitimidade democrática
imediata, mas acaba por ser quase imediata, porque acaba por ser o PM o
“cabeça de partido”

3 – secundária – caso de órgãos cujos titulares são nomeados pelos


orgãos de legitimidade mediata.

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Os juízes têm legitimidade democrática? – os tribunais administram justiça


em nome do povo e quem exerce soberania e quem exerce soberania em
noe do povo – 202º/108º

215º - a lei determina ... nº2/nº3/nº4 – a Const estabelece procedimento


nem eleitoral nem democrático, mas por mérito e concurso.

Aprovada pelos órgãos democráticamente eleitos

217º - conselho superior de magistratura – composição hibrida composta


por membros votados pelo PR e AR.

12 de Abril

Outra das faces da legitimidade democrática:

Responsabilidade - acesso legítimo a cargos públicos (quem as exerce está


vinculado pela responsabilidade e pelo modo que a exerce).

Art. 127 nº1 - princípio da responsabilização - advém da legitimidade


democrática.

Mecanismo de responsabilidade:

Responsabilidade política - tem que ver com o exercício da função,


associada à não recondução do cargo político/ quem se desvia do seu
papel é responsabilizado por isso mesmo.

 Quem se desvia da sua função pode ser por exemplo demitido (195º,
articulado com 133ºalínea g)) pelo PR.
 A censura da AR dirigida ao governo - art. 194º - mecanismo
utilizado com frequência.
 Dissolução da AR pelo PR - art. 172º (articular com 133º e)). Aqui o
PR tem de ouvir os partidos políticos e o conselho de estado.

Acto dirigido à AR, e são convocadas novas eleições, o


governo tem de ser demitido (195º nº1 a)).

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Responsabilidade criminal:

177 nº3 - conjunto de crimes específicos criados para titulares de cargos


políticos. Têm duas características: prevê penas mais agravadas e regime
processual mais célere - a acusação desta natureza é grave e deve ser
julgado mais rapidamente.

Responsabilidade penal: do PR 130º e doa membros do governo 196º.

Responsabilidade financeira: art. 214º nº1 c) - atribui ao tribunal de


contas a responsabilidade por acções financeiras (autorizar despesas que
são impróprias, proibir dividas, salários mais altos)…

Responsabilidade civil: dever de indemnizar por danos causados a


terceiros.

Temos de ter presente que os titulares de cargos públicos, além de


responsabilidade possuem imunidade

Parlamentar - 157º nº1 (os deputados não são responsáveis


pelas suas palavras)

Dos juízes - 216º (não são responsáveis pelas suas decisões)

Princípio da renovação dos órgãos de soberania -


associado à ideia republicana - 288º b)
Renovação dos cargos públicos - PR não pode desempenhar mais de dois
mandatos consecutivos - núcleo fundador republicano.

Estende-se a todos os titulares de cargos públicos 118º 1/2

- Tem como objectivo fomentar participação activa dos cidadãos. Renovar


projectos, ideias, filosofias, para evitar envelhecimento da política.

288 b) - Limites à revisão constitucional - às matérias que não podem ser


modificadas.

188 nº2 - a lei pode estabelecer limites aos mandatos.

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Excepções:
O exercício da função de juiz não está sujeito a limitação temporal - 216
nº1- os juízes são inamovíveis. Excepção - os juízes do tribunal
constitucional exercem função por nove anos e não é renovável - 223 nº3;

Os vogais do conselho de estado 142º f) - os antigos membros da


republica são membros vitalícios do conselho de estado, apesar de não
terem poderes reais.

Princípio da proibição de acumulação de funções - art.


269 nº 4
Não apenas aplicado aos funcionários públicos, mas a todos os que
exercem cargos políticos - 117 nº2

Incompatibilidades do 117 nº2 - proibição de cargos políticos - ex: ser


vereador de camara e deputado da AR; proibição de acumulação de
cargos políticos com exercício de funções privadas.

269 nº4 - prevê também excepções.


Outros tipos de incompatibilidade: 154 nº1
132 nº2 - PR não pode ser deputado ao mesmo tempo - anti separação de
poderes.
216 nº2 - o juiz não pode exercer outro cargo público nem privado.

Princípio da renunciabilidade de cargos políticos


Liberdade de renúncia de cargos políticos dos quais se é titular. Não há
obrigatoriedade de cargos políticos. Não é obrigatório levar o mandato até
ao fim.

131º- liberdade de renuncia do cargo de PR

160 nº2 deputados

195 nº1 b) - PM

132º - o PAR exerce funções de presidente interino, não pode manter-se


PAR.

142º f) - impossibilidade de renuncia dos membros do conselho de estado

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Principio da proibição do abandonamento das funções consagrado em


129 nº1 - PR (não pode sair do país, tem de pedir autorização) - associada
à fuga da corte e rei para o Brasil, quem sair sem autorização perde o
cargo - 129 nº3;

160 nº1 b) perdem mandato os deputados que nunca tomam assento na


AR, ou que excede faltas;

185º - regime de continuidade do governo - 186 nº5;

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