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17 - Nº33 - 2015
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Professora associada do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de
Londrina, na área de Geografia Humana. Contato: eliane.tomiasi@uel.br.
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Introdução
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com a lógica do capital, razão pela qual a crítica está focada mais nas
formas de controle exercidas sobre as técnicas do que nelas em si.
Entre os estudiosos da agricultura, desde os clássicos prevalece uma
leitura na qual o progresso técnico convencional assume a condição
redentora, sendo que os parâmetros de eficiência são os mesmos aplicáveis
à indústria, daí ser o tamanho da exploração uma condição prévia para que
isso aconteça. Embora não seja suficiente para explicar o profundo e
duradouro desdém para com as estratégias econômicas empreendidas em
pequenas parcelas de solo, e tampouco para com seus agentes por
excelência, o fato é que daí também provém o respaldo teórico para a
legitimação de um modelo de agricultura socialmente excludente e
ambientalmente insustentável.
A descrença daquele que por quase duas décadas fora o editor de um
dos mais prestigiados periódicos dedicados aos estudos do campesinato, o
Journal of Peasant Studies, pode ser tomada como um indicativo disso:
¿qué tan plausibles son las afirmaciones de los contra-
movimientos agrarios y sus defensores, en el sentido de que
un retorno a los cultivos familiares de pequeña escala de
bajos insumos (re-campesinización) pueden alimentar una
población mundial varias veces mayor, y tanto más urbana,
que aquella de la época en que los campesinos eran los
principales productores de los alimentos mundiales?
(BERNSTEIN, 2012, p. 171, grifos do autor).
Por ocasião do lançamento da edição em língua espanhola, da qual
foi extraído este fragmento 1 , o autor foi contundente quando indagado
sobre a potencialidade da agroecologia no contexto das lutas camponesas
capitaneadas pela Via Campesina e que, em síntese, trazem para a cena
política o projeto da soberania alimentar aqui debatido. Para ele trata-se de
uma proposição romântica e inócua ante o desafio de alimentar a
humanidade, tarefa que acredita ser possível mediante o concurso da
biotecnologia com especial destaque para os Organismos Geneticamente
Modificados (OGMs), desde que, o controle sobre estes saia das mãos das
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Conferência proferida na Universidad Autónoma de Zacatecas, México, em 08 de março
de 2012.
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liberdade - essa que é o cerne da utopia que confere sentido e mantém atual
a obra de Marx, malgrado a necessidade de se atentar aos contextos e as
releituras que ela impõe.
É por isso que Bartra (2008) considera imperioso o desapego das
amarras da ortodoxia, condição para desarmar aquilo que para ele seria
uma armadilha: o determinismo econômico embalado pelo ideário do
progresso técnico, o qual seria prenhe de uma leitura legitimadora da
conversão tanto dos seres humanos quanto da natureza em mercadoria. E a
dinâmica das mudanças técnicas ante o paradigma da biotecnologia melhor
o expressa: a racionalidade que lhe é inerente é incompatível com a
perpetuação da vida segundo seus próprios ciclos porque fundada em
princípios que se são imprescindíveis à reprodução do capital, violam a
natureza em todas as suas expressões.
Bartra vai além ao correlacionar a crença na potência transformadora
do progresso técnico aos recuos políticos da contemporaneidade, pois
atribui a isso a falência do socialismo de Estado e com ele a perda de
parâmetros para o projeto emancipatório há muito acalentado pela
humanidade. Não que Bartra faça a crítica com base na lógica formal, a
qual nos levaria a crer que o fim dessa experiência é uma evidência de que
as forças livres do mercado são o caminho natural da sociedade. No
entanto, a apresenta a partir da lógica dialética porque vislumbra na
capacidade de mobilização que culmina em diferentes formas de
enfrentamento da ordem capitalista a evidência de que o desejo de
emancipação não morreu. Em sua latência estão dadas as possibilidades de
transformação.
É precisamente no elemento mais desdenhado pelo marxismo
ortodoxo que seguem vivas as potencialidades de construção de outro
projeto civilizatório: a lógica de produção econômica e reprodução social
dos camponeses, depositária respectivamente da parcimônia ambiental e da
cooperação, que são estruturantes do conceito de soberania alimentar. Por
isso sentenciou Shanin (2008) que temos mais a aprender do que a ensinar
a eles.
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Considerações finais
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Bibliografia
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