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Introdução

O presente trabalho tem como objectivo resumir a obra de Zygmunt Bauman intitulado o mal-
estar da pós-modernidade, publicada em 1997. Bauman foi um filósofo e sociólogo polonês,
nascido no Reino Unido no ano de 1925 e, veio a morrer em 2017 aos 91 anos. Nascido em uma
família de judeus poloneses não praticantes, foi um entusiasmado militante do partido operário
unificado polaco, o partido comunista da Polónia. Mais tarde trabalhou para a inteligência
militar.

O mal-estar da pós-modernidade, de Bauman, autor que é uma referência nessa área, por colocar
em perspectiva a crise actual nas relações de trabalho, mobilidade social, cultura e espaço
publico, foi inspirado no ensaio de Freud publicado em 1930 denominado o mal-estar na
civilização. Na verdade, Freud preferia o termo cultura ao termo civilização, indicando
características do modernismo a partir de uma troca entre expressões plenas por um esforço na
construção da cultura moderna, que exigia uma dose apreciável de contenção e repressão. Para
Bauman citando Freud, A civilização se constrói sobre uma renúncia ao instinto e impõe grandes
sacrifícios à sexualidade e agressividade do Homem.

Para Bauman, a pós-modernidade se caracteriza, contudo, pela desregulamentação. Segundo o


autor, a pós-modernidade pretende fundir a ordem limpa com o reclamo de prazer, privilegiando
a liberdade individual como o maior predicado na contínua autocriação de um universo humano.
Como enfatiza, os homens e as mulheres pós-modernas trocaram parte de sua segurança por mais
felicidade, e os males-estares da pós-modernidade provem de uma liberdade na procura do prazer
que tolera uma segurança individual pequena.
Bauman: o mal-estar da pós-modernidade

No primeiro capítulo, que Bauman intitula o sonho de pureza, procura dar resposta ao problema
da poluição, poluição essa advinda da presença de pessoas que não se ajustavam, que estavam
fora do lugar, que estragavam o quadro e, quanto ao mais, ofendiam o senso esteticamente
agradável e moralmente tranquilizador da harmonia. Nos primeiros anos da idade moderna,
como Michel Foucault lembra, os loucos eram arrebanhados pelas autoridades citadinas,
amontoados dentro de um naus de loucos e jogados ao mar. Os loucos representavam uma
obscura desordem, um caos movediço, que se opõe à estabilidade adulta e luminosa da mente e,
o mar representava a água, que leva deste mundo, mas faz mais: purifica. A pureza é uma visão
de ordem, isto é, de uma situação em que cada coisa se acha em seu justo lugar e não no outro
diferente. Não há nenhum outro meio de pensar sobre a pureza sem ter uma imagem de ordem,
sem atribuir às coisas seus lugares justos e convenientes. O oposto da pureza, o sujo, o imundo,
os agentes poluidores são as coisas fora do lugar.

No segundo capitulo, intitulado a criação e anulação dos estranhos, o autor afirma que todas as
sociedades criam os estranhos. Mas cada espécie de sociedade produz sua própria espécie de
estranhos, e os produz da sua própria maneira, inimitável. Se consideramos os estranhos como as
pessoas que não se encaixam no mapa cognitivo, moral ou estético do mundo, num desses
mapas, em dois ou em todos três, se eles, por sua simples presença, deixam turvo o que deve ser
transparente, confuso o eu deve ser uma coerente receita para a acção, e impedem a satisfação de
ser totalmente satisfatória, se eles poluem a alegria com a angústia, tendo feito tudo isso, geram a
incerteza, por sua vez dá origem ao mal-estar de se sentir perdido, então cada sociedade produz
esses estranhos. Em que medida cada sociedade anula os estranhos? Segundo o autor, a
sociedade anula os estranhos na medida em que traça suas fronteiras e desenha seus mapas
cognitivos, estéticos e morais, julgados fundamentais para a sua vida ordeira e significativa,
sendo assim acusadas de causar a experiencia do mal-estar como a mais dolorosa e menos
tolerável.

No terceiro capítulo, intitulado os estranhos da era do consumo: do estado de bem-estar á


prisão, o autor faz um levantamento do crime, número de advogados, número de desempregados
na Grã-Bretanha e país de Gales. Onde nos últimos 25 anos, a população de encarcerados e de
todos que obtêm a sua subsistência da indústria carcerária (a policia, os advogados, os
fornecedores de equipamentos carcerários) tem crescido constantemente. O mesmo ocorreu com
a população de ociosos (exonerados, abandonados e excluídos da vida económica e social), onde
por consequência, aumentou o sentimento popular de insegurança: há 30 anos, eram seguro
caminhar pelas ruas à noite, mas hoje em dia não é seguro. Quanto ao desemprego, actualmente,
racionalizar significa cortar e não criar empregos, e o progresso tecnológico administrativo é
avaliado pelo emagrecimento da força de trabalho, fechamento de divisões e reduções de
funcionários. Modernizar a maneira como a empresa é dirigida consiste em tornar o trabalho
flexível, desfazer-se da mão-de-obra e abandonar linhas e locais de produção de uma hora para
outra. No entanto, como o que cura uns mata outros, as mudanças que significam racionalização
e flexibilidade para o capital repercutem nas extremidades receptoras como catástrofes, como
sendo inexplicáveis, como estando além da capacidade humana e como emperramento de
oportunidades no sólido muro do destino.

No quarto capítulo, intitulado a moralidade começa em casa: ou o íngreme caminho para a


justiça, como mostra uma leitura atenta de autores como Emmanuel Levinas e outros, a justiça e
a preocupação com os direitos humanos são o apelo à humanidade e à caridade gerada pela ética
que o Estado liberal não é capaz de consumar. Hans Jonas pensa na necessidade de um substituto
para o imperativo categórico de Kant em uma forma como: “aja de modo de que os efeitos da sua
acção sejam compatíveis com a permanência da genuína vida humana”. Ao mesmo tempo
precisamos aplicar o princípio da incerteza: “deve-se dar maior atenção á profecia da destruição
do que a profecia da bem-aventurança”. Pode –se também lembrar Jean-Paul Sartre quando
afirma que não existem coisas como desastres naturais, mas apenas consequências de acções
humanas indevidas e culposas.

É difícil pensar que o Estado poderia ser um agente que encampasse essa ética na medida em que
a maioria dos principais atores nos mercados globais é muito maior que a maior parte do
Estados. É difícil dizer sob que condições a própria população pobre percebera a condição
humana como justa e correta desenvolvendo acções que signifiquem redenção, recuperação de
perdas, reparação do dano, compensação pelos males sofridos, corrigindo a injustiça sistemática
como mostra a analise histórica de Barrington Moore Jr. Nesta situação policiam-se e
incriminam-se os pobres globais, isto é, as áreas do mundo vitimas de pobreza endémica através
de operações policiais, expedições militares, pacificação em longo prazo de áreas incómodas,
como uma contrapartida da actividade punitiva e vigilante do sistema carcerário interno. Trata-se
de uma questão ética em que se deve pensar em dar aos Outros o mesmo grau de liberdade real e
positiva que desfrutam os maiores afortunados, transformando a justiça e a tolerância em real
solidariedade.

No quinto capítulo, intitulado arrivistas e párias: os heróis e as vítimas da modernidade,


Bauman afirma que uma característica central da pós-modernidade é o nomadismo social dos
indivíduos incapazes de fixar para si uma identidade e um lugar. O autor distingue entre os
nómades, aqueles que chegam a um lugar mas este nunca pode ser considerado permanente. Os
moradores mais antigos os odeiam e não tem residência segura. Estes são arrivistas, enquanto os
desafortunados são os párias permanentemente desqualificados. Parece-nos que, sob essa forma,
o autor dá conta da falta de identidade numa sociedade muito fluida que condena grande parte
dos seus habitantes a guetos. Só resta aos indivíduos identificar-se com as tribos que buscam
uma tradição e uma comunidade onde se encontrem. Ao mesmo tempo a concentração da riqueza
de forma crescente no topo da pirâmide social deixa intocada uma pequena parte da população
para a qual, na verdade, a sociedade é um habitat permanentemente disponível. Nesta sociedade
viceja, naturalmente, a heterofobia, a xenofobia e o racismo, bem como as práticas de separar,
banir e exilar.

Nesta sociedade, o eixo da estratégia de vida pós-moderna não é fazer a identidade deter-se, mas
evitar que se fixe. Isto porque ninguém pode investir numa realização de vida inteira quando os
valores mudam permanentemente. Ninguém pode se preparar para a vocação da vida quando a
aquisição penosa de habilidades pode deixar de apresentar interesse para o mercado. Assiste-se o
desaparecimento de profissões e empregos e mesmo compromissos pessoas e não profissionais
tendem a se tornar estreitos e breves. Uma vez que não se controla o futuro, é bom não empenha-
lo. Assim a sociedade possui características como turistas que nunca pertencem ao lugar que
estão visitando, guardando sempre uma distância.

[João Joaquim Muianga]


No sexto capitulo deste livro, com titulo dos turistas e vagabundos, ou seja, os heróis e as vitimas
da pós-modernidade autor diz costuma se comumente medir a grandeza dos filósofos por sua
destreza em ligar uma as outras coisas pendente em concluir, em pronunciar veredictos que
resumem um ar de finalidade e no mas levar a filosofia a um fim, o significado de tal grandeza
teve origem na filosofia dirigida para Tanatos, uma filosofia do dasein heideggeriana vivia para a
morte levava sua vida ensaiando a própria extinção, desta eles depois de Aristóteles e Hegel
ouvem se gritos angustiado. Reflectindo sobre as possibilidades de que alguns futuros habitantes
do Saara se apodera sem do espírito do nosso moderno estilo de vida, diz Bauman que Roty
observou que seria útil tornassem Dickens, em vez de Heidegger, como prova material e isso o
facto de Heidegger ter decifrado cm tantas palavras o que significa seremos moderno enquanto
jamais ocorressem que os Dickens o faze-lo. A condição de uma sociedade narrada por Dickens
deve se constantemente indignada e capaz de desaprovar más ou menos tudo o que até então é o
deve provavelmente vir a ser estar para sempre em guerra consigo mesmo, e nunca usar o sim e
nunca a resposta ser amadurecida como Bloch teria dito.

A condição do que é o mundo narrada pelos Dickens é a da sua própria impossibilidade, isto diz
Roty citado por Bauman a modernidade de qualquer outra forma é refinada. Mas o que estamos
fazendo, quando dizemos que a verdade do romancista é melhor do que a verdade do filósofo
está querendo dizer com isto a um fato que escapou nas mãos do filósofos modernos, um fato
que eles poderiam ter visto se não estivesse totalmente desviado os olhos, ou estamos antes
falando de identificar algo novo, que não havia antes, ou algo que se havia era tão literal, e tão
frágil.

Em palavra simples diz o autor que estamos falando de uma mudança na filosofia ou ainda dá
experiência sobre a vida pela qual filosofamos, em seu papel fundamental de purificadores e
legislador do senso comum, segundo Bauman os filósofos devia cortar e separar suas próprias
práticas.

Já quanto ao projecto especial do que é moderno, a distinção contemporânea do contínuo do


tempo representa a heterogeneidade como factor ascendente do período de tempo, talvez tenha
sido o mais notável mas também possivelmente o mas fecundo aspectos da mentalidade
moderno, mas as metamorfoses transformam ambos os lados, que entram em relação as
metáforas como referi o autor que: O projecto especial sobre o tempo forneceu ao tempo traços
que só espanco possuí naturalmente a época moderna teve direcção do seu itinerário histórico no
espaço o tempo progridem absolutamente para o actualizado e o actualizado foi desde o início
ode uma pessoa era ensinada e empurrada a andar,

a modernidade tinha em sua frente e em sua atrás os turbulência e Auto homenageado anciões
da cidade que construíram o futuro prefeitura de Leeds na metade do século XIX, como
monumento a sua própria milagrosa ascensão do tempo gravaram seus princípios morais para
todos os dias das paredes (Bauman,1997:110).

A estrutura estava em seu lugar antes de qualquer proeza, humana começar o durava o tempo
suficiente, inabalável e inalterada para levar a cabo a proeza ele antedeu toda a realização
possível, e toda realização humana, contudo transformo a vida em cada feito se podia acrescer
outro seguir a estrada passo a passo.

Turistas e Vagabundos: os heróis e as vítimas da pós-modernidade no que tange ao sexto


capítulo sobre os heróis e as vítimas da pós-modernidade compreende (idem: 106) que as teorias
tendem a ser incipientes claros e bem talhados feitos para receber os conteúdos limosos e
lamacentos da experiência. Mas para conservá-los aqui, suas paredes precisam ser duras; tendem
também a ser opaca.

Em seu papel tradicional de purificadores e legisladores do senso comum, os filósofos deviam


cortar e separar suas práticas das práticas do homem comum, de modo que pudessem ser
colocadas umas contra as outras. Dessa operação, as práticas do não-filósofos emergiam, é claro,
como não-filosófica.

apenas sob certas condições as coisas realmente se tornam evidentes. (É evidente para nós, por
exemplo, que já os homens de Cro-Magnon e os de Neanderthais “deviam ter tido uma cultura”,
mas só na segunda metade do século XVIII pode o conceito de cultura ser cunhado, e eles
dificilmente seriam os homens de Cro-Magnon e os Neanderthais que foram, se estivesse
conscientes de que tinham uma cultura. Bauman (Idem: 109).

Os homens e mulheres modernos viveram num tempo-espaço com estrutura, um tempo-espaço


rijo, sólido e durável, mas também um duro recipiente em que os actos humanos podiam achar-se
sensíveis e seguros. Nesse mundo estruturado, uma pessoa podia perder-se, mas também podia
achar seu próprio caminho.

Sob tais circunstâncias, a liberdade era de fato a necessidade conhecida diz que a estrutura estava
em seu lugar antes de qualquer proeza humana começar, e durava o tempo suficiente, inabalável
e inalterada, para levar a cabo a proeza. Ela antecedeu toda realização humana, mas também a
realização possível. O que pensamos que o passado tinha é o que sabemos que não temos e o que
sabemos que não temos é a facilidade de retirar a estrutura do mundo da acção dos seres
humanos; a solidez firme, de pedra, do mundo exterior à flexibilidade da vontade humana. Não
que o mundo se tenha tornado subitamente submisso e obediente ao desejo humano.

A acção humana não se torna menos frágil e errática: é o mundo em que ela tenta inscrever-se e
pelo qual procura orientar-se que se torna mais assim. Como pode alguém investir numa
realização de vida inteira, se hoje os valores são obrigados a se desvaloriza, e a manhã a se
dilatar? O significado da identidade, se refere tanto a pessoas como coisas. O mundo construído
de objectos duráveis foi substituído pelos produtos disponíveis projectados para imediata
obsolescência. Num mundo como esse, as identidades podem ser adoptadas e descartadas como
uma troca de roupa. O horror da nova situação é que todo diligente trabalho de construção pode
mostrar-se inútil.

A determinação de viver um dia de cada vez, e de retractar a vida diária como uma sucessão de
emergências menores, se tornaram os princípios normativos de toda estratégia de vida racional,
manter o jogo curto significa tomar cuidado com os compromissos a longo prazo. Recusar-se a
se “fixar” de uma forma ou de outra. Não se prender a um lugar, por mais agradável que a escala
presente possa parecer.

Para Bauman no oitavo capitulo (idem:113) a dificuldade já não é descobrir, inventar uma
identidade, mas como impedi-la de ser demasiadamente firme e de aderir depressa demais ao
corpo. O eixo da estratégia de vida pós-moderna não é fazer a identidade deter-se – mas evitar
que se fixe, os turistas se tornam viajantes e colocam os sonhos da nostalgia acima das realidades
da casa. Nem todos os viajantes estão em movimento por preferirem ficar em movimento a estar
em seu lugar. Se estão em movimento, é porque foram impelidos por traz – tendo sido,
primeiramente, desenraizados por uma força demasiadamente poderosa, e muitas vezes
demasiadamente misteriosa.

Para eles, estar livre significa não ter de viajar de um lado para o outro, São esses os vagabundos,
luas escuras que reflectem o brilho de sóis brilhante, os mutantes da evolução pós-moderna, os
vagabundos são o resto do mundo que se dedicaram aos serviços dos turistas

No nono capítulo, Os vagabundos, porem, sabem que se não ficarão por muito tempo, por mais
intensamente que o desejem, uma vez que em lugar nenhum que parem são bem-vindos: se os
turistas se movem porque acham o mundo irresistivelmente atractivo, os vagabundos se movem
porque acham o mundo insuportavelmente inóspito. (idem: 118).

Os turistas viajam porque querem; os vagabundos, porque não têm nenhuma outra escolha. Os
vagabundos, pode-se dizer, são turistas involuntários. Turistas e vagabundos são as metáforas da
vida contemporânea. Uma pessoa pode ser um turista ou um vagabundo sem jamais viajar
fisicamente para muito longe. Em nossa sociedade pós-moderna, estamos todo, em movimento;
nenhum de nós pode estar certo de que adquiriu o direito a algum lugar uma vez por todas, e
ninguém acha que sua permanecia num lugar, para sempre, é uma perspectiva provável. Aqui
termina o que há de comum na nossa situação e começam as diferenças, quanto mais liberdade
de escolha se tem, mais alta a posição alcançada na hierarquia social pós-moderna.

[Agnaldo Paulino Tene]

A cultura como consumidor cooperativo

Entende-se por sociedade de consumo a era contemporânea do capitalismo em que o crescimento


da economia e a geração do lucro encontra-se principalmente na ascensão da actividade
comercial e, por conseguinte, do consumo. A sociedade de consumidores retrata um estilo de
vida totalmente consumista e despreza todas as outras opções. É inviável a dissociação entre
capitalismo e consumo, pois ambos estão organizados com a finalidade de obtenção de lucro.
Para que ocorra um acréscimo do consumo o mercado baseia-se em diversos artefactos tais
quais: publicidade, promoções, propagandas; para que haja uma ascensão de consumo, de modo
que as pessoas comprem imediatamente, dando-lhes uma sensação de pseudo felicidade.
À vista disso, Bauman (2008) confirma tal acção, quando profere que o consumo não é um
sinónimo de felicidade nem uma actividade que promove uma satisfação plena. Dessa forma, a
sociedade de consumo leva-nos a um círculo vicioso de compras. Em Vida para consumo,
Bauman discorre sobre a conversão das pessoas em produtos; afirmando que “na sociedade de
consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria [...]” (1998, p. 20).

Bauman (1998) defende que a sociedade contemporânea reconhece seus membros primeiramente
como consumidores, e alguns, de modo secundário, como produtores. É levantada também a
questão dos pobres: para a sociedade de consumo, quem não obtiver meios para compra, não se
adequa a esta sociedade, portanto são os “não-consumidores”. O paradoxo é que sociedades
como a nossa, que a cada dia tornam-se mais ricas, também têm a cada dia pessoas menos
felizes. A riqueza parece não ser o principal motivo da felicidade, justamente parece ocorrer o
contrário, a correlação entre riqueza e felicidade é inversa. Não se compra no centro comercial
com cartão de crédito, o amor, a amizade, os prazeres da vida doméstica, o companheirismo, a
auto-estima por um bom trabalho, o respeito mútuo etc. Tais bens, intangíveis por natureza, não
podem ser adquiridos no mercado, por isso a felicidade não pode ser comprada. Um dos efeitos
de manter a busca da felicidade atrelada ao consumo de mercadorias é tornar essa busca
interminável e a felicidade sempre inalcançada. Se não se pode chegar a um estado de felicidade
duradouro, então a solução é continuar comprando, com a esperança de que a próxima linha de
produtos super-fáceis de usar ou a nova tendência outono-inverno redima os incansáveis
buscadores de felicidade.

Sobre a distribuição pós-moderna do sexo

Em termos de sexualidade pós-moderna o autor enfatiza na concepção freudiana do sexual a


descoberta de uma indeterminação, de uma imprevisibilidade a priori em seu âmago, e que a
torna irredutível, na singularidade que assume em cada um, a qualquer projecto que busque
ordem e previsibilidade na condição humana, em sua inserção social. O sexual freudiano
encontrado pela psicanálise é, portanto, de saída, refractário a todo projecto racionalista, tanto
científico como político, característicos dos ideais da modernidade. Nas sociedades ocidentais
atuais, a liberalidade e uma certa liberdade em relação aos comportamentos sexuais parecem
levar, paradoxalmente, apesar dos ganhos que representam, a uma sexualidade “domesticada”,
conformista, a um simulacro do sexual como forma contemporânea de sua repressão.
Religião e imortalidade pós-moderna

Para Bauman a religião, na verdade, é a consciência da insuficiência humana, é vivida na


admissão da fraqueza. A mensagem invariável do culto religioso é: ‘do finito ao infinito, a
distância é sempre infinita...’ (...) nós deparamos com dois caminhos inconciliáveis de aceitar o
mundo e a nossa posição nele, nenhum dos quais pode ufanar-se de ser mais racional do que o
outro. Uma vez feita, qualquer escolha impõe critérios de julgamento que, infalivelmente, a
apoiam numa lógica circular: se não há nenhum Deus, só critérios empíricos devem guiar-nos o
pensamento, e critérios empíricos não conduzem a Deus, se Deus existe ele nos dá pistas sobre
como perceber Sua mão no curso dos acontecimentos, e com a ajuda dessas pistas reconhecemos
a razão divina do que quer que aconteça.

Bauman considera o termo “secularização” engloba vários componentes. Geralmente se


compreende como a “vida sem Deus e sem religião”. Isto porque no passado eram esses
componentes a ditar a visão de mundo, a autocompensam e definição humana e a orientação do
agir. A tentativa de estabelecer um binómio ou oposição como Deus-mundo, fé-razão, ciência-
crença, não são verdadeiros deste período. Na verdade, a secularização não quer eliminar Deus e
a religião, mas simplesmente fazer que ocupem o seu novo espaço dentro do novo horizonte de
compreensão. Na visão e compreensão do homem moderno, o centro do universo passa a ser ele
mesmo. Deus e o mundo passam para um segundo ou terceiro plano.

Sobre o comunitarismo e liberdade humana pós-moderna

Os significados atrelados à palavra “comunidade” sempre remetem a alguma coisa boa. Um


lugar seguro, quente e aconchegante. A sociedade pode ser má, mas a comunidade não. Viver em
comunidade possibilita a experimentação de prazeres que não se encontram mais acessíveis.
Todos estão seguros e têm a certeza de que estão livres de perigos ocultos. Todos se entendem
bem, não há a preocupação decorrente da falta de confiança ou da surpresa. Na comunidade
pode-se contar com a ajuda alheia sempre que for necessário. A única obrigação na vida
comunitária é ajudar uns aos outros. Por fim, a comunidade é o tipo de mundo altamente
desejável, mas que não se encontra mais ao alcance, “paraíso perdido ou paraíso ainda esperado”
(BAUMAN, 1998:09).
Não é só a dura realidade declaradamente “não comunitária” ou até mesmo hostil à comunidade,
que difere daquela comunidade imaginária que produz uma “sensação de aconchego”. Essa
diferença apenas estimula a nossa imaginação a andar mais rápido e torna a comunidade
imaginada ainda mais atraente. A comunidade imaginada (postulada, sonhada) se alimenta dessa
diferença e nela viceja. O que cria um problema para essa clara imagem é outra diferença: a
diferença que existe entre a comunidade de nossos sonhos e a “comunidade realmente existente”:
uma colectividade que pretende ser a comunidade encarnada, o sonho realizado, e (em nome de
todo o bem que se supõe que essa comunidade oferece) exige lealdade como um ato de
imperdoável traição (BAUMAN, 1998: 09).

O preço a ser pago, portanto, para a vida em comunidade é a liberdade individual. Se desejares
segurança (comunitária) abdica de tua liberdade (identidade) e seja fiel. Essa é a regra primeira
de toda comunidade imaginada que se transformou em realmente existente. Para sobreviver à
comunidade deve-se requerer a lealdade de seus membros, mas fazendo isso se sacrifica a
própria liberdade e autonomia de construção da vida. A contemporaneidade líquida promove e
incentiva, mais do que nunca, a liberdade individual. E, os neoindivíduos, por se fecharem
acriticamente na sua hiper-individualidade egoísta, misturaram-se, como engrenagens, nessa
ideologia totalitária, e acabam contribuindo com a situação opressora, encontrando-se longe de
se libertarem pela razão e pela crítica.

(Núrate Afune Correia)


Considerações Finais

Em jeito de conclusão ou considerações finais, numa primeira estância Bauman afirma que,
passados sessenta e cinco anos da publicação de o mal-estar na civilização, de Freud, a liberdade
individual é o valor pelo qual todos os outros valores vieram a ser avaliados e a referência pela
qual todas as normas e resoluções acima do individuo devem ser julgadas. Os ideais de beleza,
pureza e ordem da modernidade devem agora ser buscados através da espontaneidade, do desejo
e do esforço individuais. Esse livro mostra o quanto essa liberdade individual é contida por
fenómenos como a desestruturação do mercado de trabalho, a criminalização da pobreza, a
mercantilização de importantes espaços culturais e emocionais como a arte e o amor. Nesse
sentido, sua história é de uma ordem que não pode ser construída, na medida em que a maior
parte dos actos da vida e de suas motivações foi desregulamentada, depois de ter sido
concentrado, centralizado, globalizado e liberalizado o capitalismo global.

Este livro não trata especificamente da questão do Estado e da esfera pública nem tampouco da
Economia Política e esses aspectos fazem falta para compreender melhor seus comentários sobre
a fluidez da vida contemporânea e seu desemparo. Se o fizesse, talvez pudesse caracterizar a
cultura pós-moderna como uma cultura paradoxalmente entrópica, que longe de produzir
consensos e solidariedade, fragmenta ambos e gera um simulacro de civilização.

É por isso importante, pensar se a pós-modernidade não é um neoconservadorismo, ou se há


diferença entre essa cultura e o neoliberalismo, se ainda se pode falar e em que extensão de
humanidade e direitos humanos ou de prerrogativas exclusivas do grande capital. O livro é da
década de noventa e não apanha a crise económica actual, cuja profundidade ainda não
conhecemos. Talvez seja tempo de repensar os nexos materiais que unem os seres humanos e os
separam, e o grande mérito do livro de Bauman é, apesar de seus rodeios e de sua prolixidade,
colocar alguma luz sobre esses nexos ou sobre o mal-estar que eles produzem.
Bibliografia

BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Trad. Mauro Gama, Cláudia Martinelli


Gama. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998.

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