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Análise sócio-política do homem

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Sumário

1. INTRODUÇÃO........................................................................3
2. SOCIABILIDADE COMO CARACTERÍSTICA
ESSENCIALMENTE HUMANA..................................................3
3. IMPLICAÇÕES DA SOCIABILIDADE E POLITICIDADE.....4
4. CONCEPÇÕES DE SOCIABILIDADE E POLITICIDADE NA
MODERNIDADE.........................................................................5
5. A SOCIABILDADE E O ESTADO MODERNO......................5
6. CONCLUSÃO.........................................................................6
Referências................................................................................7

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1. Introdução
As discussões que permeiam a realidade humana sempre chamaram a atenção de
muitos filósofos durante o caminhar dos anos. Não diferente a este fato, o estudo do
homem inserido em um contexto social e político é alvo de nosso estudo.
Partindo do entendimento lógico do que vem a ser a própria sociabilidade e a
politicidade humana neste trabalho será exposto um breve comentário a respeito
desse tema utilizando como principais artifícios a explicação de diversos filósofos e
ou sociólogos no decorrer dos anos. Assim como uma explanação de como se da à
relação entre estes princípios tão corriqueiros no cotidiano dos homens.
Será abordada, primeiramente, a questão da sociabilidade do homem como
característica essencial da sua própria condição humana enquanto ser plural. Após
essa primeira abordagem, serão apresentados os fatores que propiciaram o
surgimento da esfera política do homem a partir de elementos intrínsecos a ele,
como o fato da própria sociabilidade humana, bem como a concepção das relações
que estas dimensões do homem se desenvolvem na mentalidade que permeiam a
modernidade.

2. Sociabilidade como característica essencialmente


humana.
O homem é um ser essencialmente homo sapiens, devido a isso, possui entre outras
características, a capacidade de conhecer, de reconhecer, capacidade da linguagem
e é dotado de vontade.
Como o homem não vive isolado, essas características acima são devidamente
expressas nas suas relações com seus semelhantes. Portanto, o conhecer coloca-o
em condições de adquirir conhecimento dos outros. A partir daí ele reconhece a
importância de se unir a eles. E para conseguir uma maior interação com essas
pessoas é por meio da linguagem ele consegue estabelecer uma comunicação. A
vontade incita-o a continuar ou não em contato com os outros, a viver junto a eles.
Devido a isso além de homo sapiens, somos também homo socialis.
Essa característica essencialmente sociável do homem se manifesta desde os
primórdios da humanidade, nos quais os seres humanos se dispunham sempre em
grupos sociais, a princípio menores e depois mais complexos.
A necessidade do homem de viver junto com outras pessoas, de se comunicar com
elas, de participar de suas atividades, dividindo emoções e compartilhando
experiências, chama-se sociabilidade.
Atualmente, essa sociabilidade assumiu proporções que pode vir a ser considerada
fenômeno. A dimensão privada praticamente desapareceu. A capacidade do
indivíduo de agir, e até mesmo pensar com certa independência vai se reduzindo
constantemente.
Uma contribuição para que esse isolacionismo diminua ao passar do tempo é
deixada pelos meios modernos de comunicação que puseram cada um de nós em
contato com os acontecimentos que ocorrem em qualquer parte do mundo. A vida de
cada um pode ser abalada de alto a baixo por causa de um fato que acontece em
qualquer parte do mundo, onde talvez nunca puséssemos os pés. É uma espécie de
efeito borboleta.
Por natureza o homem busca uma vida mais adequada a sua sobrevivência
havendo, portando, contato com outros seres de sua espécie. Nesse contato
algumas liberdades são deliberadas de um ser ao outro no intuito de construir uma
sociedade mais igualitária e capaz de promover o desenvolvimento da vida humana.
A essa relação damos o nome de política ou politicidade da vida humana, que
segundo Aristóteles é uma das necessidades fundamentais da espécie.
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3. Implicações da sociabilidade e politicidade
Na Antiguidade Clássica, dois filósofos merecem destaque para a explicação do
contexto social e político do homem, são eles: Aristóteles e Platão citados por
Mondim (2002, p.162). Para Platão o homem em sua essência é um ser mais
individualista e a necessidade de criação de um Estado que organize tal ser é
oriundo de uma punição que este recebeu em sua alma. Platão afirma que na alma
encontra-se a atividade perfeito do ser, que ele denomina de contemplação das
idéias. Contudo, a alma do homem foi punida e presa dentro de um corpo, daí a
necessidade de organização junto a um Estado. Este filósofo divide o corpo humano
em três partes: cabeça (onde se encontra a virtude da sabedoria), peito (onde se
observa à coragem) e o baixo-ventre (onde se tem como virtude principal à
temperança). O Estado, contudo, deveria ser conduzido por aqueles que
possuíssem a virtude da sabedoria mais desenvolvida, portanto, deveria ser
governado pelos filósofos.
Já Aristóteles defende que a alma e o corpo do homem são um só e, portanto, o
homem busca naturalmente o convívio social. A partir disso, esse filósofo afirma que
a felicidade do homem só pode ser atingida na busca pelo bem e este só pode ser
alcançado na polis.
Em relação ao cristianismo, a dimensão social adquire horizonte infinitamente mais
vasto e profundo do que no pensamento grego, ultrapassando o plano natural e se
estendendo ao sobrenatural. Dentre as concepções dos estudiosos a respeito do
assunto, podemos destacar a figura de Santo Agostinho e Santo Tomás, citados por
Mondim (2002, p.163 - 165).
Segundo a interpretação de Santo Agostinho, os princípios cristãos ocasionaram a
tendência de se considerar a sociabilidade natural, institucionalizada na sociedade
civil (o estado) e a sobrenatural, institucionalizada na comunidade religiosa (a igreja),
como duas dimensões opostas, uma devido ao pecado (o estado) e a outra devido à
graça (a igreja).
Segundo ele o que anima a sociedade terrena (o estado) é o amor de si mesma
levada ao ponto de desprezar a deus; o que anima a sociedade divina (a igreja) é o
amor de deus levado ao ponto de desprezar a si mesma.
Santo Agostinho costumava citar como exemplo de sociedade terrena a Torre de
Babel, onde predominava a incompreensão, a confusão e o caos, este que pode ter
como expressão máxima o Império Romano, onde reinava a desordem, as guerras,
a brutalidade, enfim, onde reinava o ódio.
Já Santo Tomás acreditava que o homem é um ser naturalmente sociável, a
sociedade política deriva diretamente das exigências naturais humanas. O estado,
portanto, segundo ele, era uma sociedade perfeita, a partir do momento que possui
finalidade própria, que era caracterizada pela busca do bem comum dos cidadãos, e
possui instrumentos essenciais para a sua realização.
Falta, porém enfrentar o problema das relações entre o estado e a igreja. Pois a
finalidade do estado é o bem-estar dos cidadãos neste mundo. Em contraponto a
isso, a finalidade da igreja é a salvação eterna das almas, entre os instrumentos
para alcance desse fim podemos destacar as pregações e o sacramento; já entre os
meios do estado, temos a educação, a saúde, a moradia etc. Por isso o estado não
pode estar sujeito à igreja, nem a igreja ao estado. Todavia, Tomás afirma que existe
certa dependência do estado em relação à igreja quando se consideram temas
relacionados à finalidade sobrenatural do homem.

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4. Concepções de sociabilidade e politicidade na
modernidade
Na Modernidade encontramos filósofos que defendiam a idéia individualista de
Platão e outros que defendiam idéia do coletivo de Aristóteles. Dentre os defensores
de Platão, destacam-se Spinosa, Hobbes, Locke, Rousseau e Vico, citados por
Mondim (2002, p. 166). Contudo, é necessário lembrar que a concepção destes
aproxima-se de Platão apenas na defesa do homem como ser mais importante do
que o coletivo, pois logicamente suas explicações diferem-se devido ao próprio
momento histórico-econômico onde esses estão localizados (todos são filósofos
Iluministas, portanto, defendem o capitalismo).
A criação de um Estado, segundo esses estudiosos, é necessária apenas para evitar
o suicídio da humanidade, visto que o homem tem a liberdade de produzir tudo, mas
não pode fazê-lo, sendo por isso a idéia de Estado secundária. Para que esse
Estado apareça e “regularize” a sociedade é firmado entre os homens um contrato
social, onde esses abrem mão de parte de sua liberdade em prol de um bem
comum.
Cabe destacar que esses filósofos por serem Iluministas defendem o capitalismo e a
função reguladora desse Estado é de extrema importância para o crescimento da
atividade comercial burguesa.
Contrário a esses filósofos as concepções de Karl Marx e Comte, citados por
Mondim (2002, p.169) priorizam o coletivo em detrimento do individual. O primeiro
utiliza as palavras de Freurbach para chamar atenção da necessidade da vida em
sociedade, dizendo que o homem não é genérico, portando, não pode viver sozinho.
Marx é ainda mais radical ao afirmar que o homem que não vive na sociedade não
existe e ainda muito extremista em sua concepção ao criticar a Declaração dos
Direitos Humanos. Esse sociólogo afirma que essa declaração é a prova maior do
egoísmo do homem visto que ela se aplica ao individuo e não a sociedade. Aí surge
um questionamento, até que ponto a sociedade não é o próprio indivíduo?
Ainda favoráveis a idéia do coletivo em detrimento do individual, surgem no século
XX dois sociólogos de destaque: Durkheim e Levy-Brull, citados por Mondim (2002,
p. 170). Ambos buscam explicar a sociedade através de analise científica dos fatos.
A moral é vista por eles como consciência do individuo, contudo, por viverem em
sociedade essa é muitas vezes esquecida e a “moral social” é assim aceita.
Durkheim explica que essa aceitação acontece devido a pressão social ao qual o
homem é submetido e diz ainda que a consciência individual é um epifenômeno do
coletivo.
Em suma, todos esses filósofos e/ou sociólogos tentam achar uma explicação para a
necessidade do homem de viver em grupo. O princípio da autotrancendência
humana é uma das principais provas científicas dessa necessidade. Seja pelo
diálogo ou mesmo pelos chat na Internet o ser humano sempre busca o outro para
satisfazer uma necessidade própria do seu eu, que é a vida em sociedade. Como diz
Maritain (1963, p.149): “A pessoa como tal é um todo. Dizer que a sociedade é um
todo composto de pessoas quer dizer que a sociedade é um todo composto de
muitos todos”.

5. A sociabildade e o Estado moderno.


Entre os animais de uma mesma espécie existe o instinto de associar-se em grupos
e de colaborar para a concretização de determinados objetivos. A grande diferença
entre as sociedades animais e as sociedades humanas é que, nas primeiras, o
indivíduo é governado exclusivamente por seu interior, pelos instintos, enquanto as
sociedades humanas apresentam modos de agir que são impostos, ou pelo menos
propostos ao indivíduo por seu exterior e unem-se a sua natureza.
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Em vez de contribuir para a realização da própria personalidade, o exercício da
sociabilidade pode transformar o homem em robô que executa apenas o que a
sociedade o programa a fazer, ou até pode reduzi-lo a macaco, que imita todos os
modos de pensar, de agir do outros. Em tal caso a sociabilidade não é mais
instrumento de personalização, mas sim instrumento de massificação.
Para buscar uma não inclusão nesse processo de massificação, o homem deve
buscar certa individualidade, que é sua por direito. Para o Estado fica a missão de
buscar a igualdade entre os cidadãos; e para atingir essa finalidade, o Estado deve
intervir na ordem, no sentido de preocupação com o bem comum, com o interesse
público. Isto não significa que os direitos individuais vão deixar de ser reconhecidos
e protegidos; pelo contrário, estenderam o seu campo, de modo a abranger direitos
sociais e econômicos.
O Estado, na forma como se organiza tendo em vista uma cidadania melhor, acaba
por propor e criar políticas sociais que não levam em conta o cotidiano e a
construção de uma cidadania crítica, participativa e de qualidade.
Sabe-se que o problema da desigualdade é um componente histórico-estrutural, que
perfaz a própria dinâmica da resistência e da mudança, pois, o capitalismo
representa uma sociedade de discriminação. O que se quer são formas mais
democráticas, políticas sociais que reduzam o espectro da desigualdade e da
desconcentração de renda e poder. O Estado pode ser um eqüalizador de
oportunidades, desde que defina não o seu tamanho ou presença, mas a quem
serve.
A concepção de cidadania persistida pelo Estado, ainda baseia-se nos princípios da
liberdade, igualdade e fraternidade, onde a própria organização política, histórica e
social brasileira torna-a impossível, pelas grandes desigualdades e mazelas sociais
existentes.
As políticas sociais, embora tenham objetivo de proporcionar uma harmonia entre os
três princípios, têm se mostrado insuficientes para resolver as contradições entre a
proposta de cidadania e a sua realização efetiva.

6. Conclusão
Constatou-se que o homem sente exigência imprescindível de encontrar-se em
constante relação com outros e sente sentimento particular de satisfação quando
consegue realizar essa sua disposição, estabelecendo-se de fato como homo
socialis.
A sociedade não constitui em si uma realidade superior aos indivíduos, à qual
seriam subordinados como as partes de edifício ao inteiro conjunto. A sociedade é
organismo que está essencialmente ao serviço dos indivíduos, para permitir a cada
um realizar plenamente a si mesmo. A política surge como resultado natural da
manifestação dos seres humanos
Sociabilidade e politicidade são, portanto, duas dimensões fundamentais do homem.
Isso pode ser perfeitamente justificado através de sua evolução histórica e social, a
sociedade e a política encontram-se intimamente relacionados à época e a situação
econômica a qual as pessoas estão submetidas.

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Referências
CHAUI, Marilena. Filosofia. São Paulo: Ática, 2002. Série Novo Ensino Médio.

GAARDER, Jostein. Ética. In: GAARDER, Jostein. Mundo de Sofia: o romance da


história da filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 106-109.

_______. Os epicuristas. In: GAARDER, Jostein. Mundo de Sofia: o romance da


história da filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 121-124.

MADJAROF, Rosana. O ser humano e a sociedade: individualidade ou


sociabilidade? Disponível em: <www.mundodosfilosofos.com.br/rosana6.htm>.
Acesso em: 20 nov. 2006.

MARITAIN, J., La persona e il bene comune. Morcelliana. Bréscia, 1963, p. 149.

MONDIM, Batista. Fenomenologia do homem. São Paulo: Ed. Paulus, 2002. p. 162
– 170.

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