Você está na página 1de 6

Módulo de Introdução à Saúde Indígena

TEMA 1:

Aproximação à Realidade e às
Especificidades Socioculturais dos Povos
Indígenas

Parte 2: Brasil multilingue

Fernanda Roder Martinez


Maria Cristina Troncarelli
Sofia Mendonça
Parte 2: Brasil multilingue

Uma habilidade que precisamos desenvolver ao trabalhar com os povos


indígenas, com outras culturas e outras línguas é a comunicação.

As línguas faladas no Brasil: muito além do português!

Nesta parte você poderá conhecer melhor a realidade étnica e multilíngue


que existe no Brasil, graças aos povos indígenas, africanos e também aos
imigrantes de origem asiática e europeia. Esta é uma maneira de mergulhar e
conhecer mais sobre a nossa própria identidade brasileira.

Os linguistas classificam as línguas observando palavras e expressões que


tenham alguma semelhança entre si, a gramática e como se expressa a estrutura
de pensamento através da língua.

O tronco linguístico é como se fosse uma árvore, da qual muitas línguas se


originaram e trazem pequenas ou grandes semelhanças.

A maioria das línguas indígenas brasileiras fazem parte de dois grandes


troncos linguísticos: o Tupi e o Macro-Jê. Além das línguas pertencentes a esses
troncos existem outras que são muito diferentes e agrupadas em famílias.

Por exemplo:

As línguas Guarani e Wajãpi são do tronco Tupi; as línguas Xavante e


Mebêngôkre são do tronco Jê; as línguas Kuikuro e Tiriyó são da família
Karib; as línguas Waurá e Enawene-nawe são da família Aruak.
SAIBA MAIS

Para saber mais sobre as línguas indígenas no Brasil acesse:

https://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/linguas/troncos-e-familias
http://indigenas.ibge.gov.br/estudos-especiais-3/o-brasil-indigena/lingua-falada

http://tupi.fflch.usp.br/sites/tupi.fflch.usp.br/files/Indios%20no%20Brasil%20gru
pioni.pdf

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias
=646-vol15vias04web-pdf&Itemid=30192

DESTAQUE

A influência das línguas indígenas do tronco Tupi na língua portuguesa

No Brasil a língua portuguesa teve forte influência das línguas


indígenas do tronco Tupi, pois muitos povos falantes destas línguas
habitavam o litoral do Brasil. Como os colonizadores portugueses
desconheciam a fauna, a flora e a realidade existente nesta terra, a língua
portuguesa incorporou muitos nomes de plantas, de objetos, de pessoas e de
lugares das línguas do tronco Tupi. O Museu da Língua Portuguesa, em São
Paulo tem um acervo muito interessante sobre essa história.

Veja alguns exemplos:

• Nomes de animais: jacaré, jacu, mutum, tatu, capivara, jabuti, tracajá,


pacu, tucunaré, piranha, pirarucu…

• Nomes de plantas: amendoim, mandioca, cará, abacaxi, urucum, açaí,


araçá...
• Nomes de pessoas: Ubirajara, Araci, Jurema, Jaci, Yara...
• Nomes de lugares: Ipanema, Jabaquara, Anhangabaú, Pirapora, Tatuí,
Itu…

Por quê conhecer as línguas indígenas é importante para o


profissional de saúde?

A comunicação poderá ser um dos primeiros desafios que o profissional irá


encontrar ao trabalhar nas áreas indígenas.

Hoje em dia, a maioria dos jovens indígenas fala sua língua materna e
também a língua portuguesa. Ao mesmo tempo, podem haver grupos dentro
destas populações, como as mulheres, as crianças e os idosos, que só falam e
entendem sua língua indígena.

Uma outra situação é encontrada, por exemplo, no Distrito Sanitário


Especial Indígena (DSEI) Rio Negro. Neste DSEI o profissional de saúde irá
encontrar 22 etnias, falantes de mais de 20 línguas diferentes, pertencentes a 3
grupos linguísticos (Tukano, Aruak e Maku).

Outros povos indígenas, vítimas de contatos seculares, violentos, foram


obrigados a deixar de falar suas próprias línguas, por isso hoje em dia, têm a
língua portuguesa como primeira língua e, em alguns casos, a língua mãe está em
processo de revitalização, sendo ensinada nas escolas indígenas.
DESTAQUE

O povo Puri

O território do povo Puri se estendia por todo o Vale do Paraíba,


abrangendo São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O povo
Puri falava uma língua do tronco Macro-Jê e seus contatos remontam aos
primeiros colonizadores portugueses.

O povo Puri foi atacado pelos bandeirantes e exércitos coloniais,


escravizado para trabalhar na agricultura da cana e mineração, parte deste
povo foi também viver em aldeamentos dos jesuítas, acabando por perder seu
território ancestral. Outra consequência da história do contato foi a perda da
língua materna, que é semelhante às línguas Maxakali e Pataxó. Atualmente,
os descendentes do povo Puri lutam para reconquistar partes de seu território
e revitalizar sua língua e práticas culturais.

Puri. Johann Moritz Rugendas (1802-1858)

Para entender como o contato interferiu na sobrevivência cultural e


física do povo Puri, ouça o depoimento a seguir:

https://www.youtube.com/watch?v=NdC5DK9zs6w
Para a construção de uma relação de confiança e demonstração de
respeito, os profissionais de saúde que trabalham com povos que falam suas
línguas originárias podem tentar aprender a língua indígena falada pelo povo com
o qual trabalha, ou em contextos multilíngues, aprender algumas palavras para
estabelecer pequenos diálogos nestas línguas.

No caso do trabalho com povos indígenas que falam sua língua materna, é
importante o profissional de saúde aprender alguns diálogos básicos, tanto
relacionado ao convívio cotidiano quanto aos atendimentos, durante a anamnese
e o exame físico. Esse aprendizado pode se dar no dia a dia, ouvindo,
perguntando e falando, ou buscando materiais já existentes sobre essas línguas.
Você pode gravar, anotar e também procurar membros da comunidade dispostos
a lhe ensinar: o agente indígena de saúde (AIS), o agente indígena de
saneamento (AISAN), os professores, as lideranças e amigos que estabelecer na
comunidade.

Você também pode gostar