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Curso: Melhoramento genético e controle zootécnico

de rebanhos leiteiros

Módulo 1: Raças leiteiras no Brasil


Na apresentação, você conheceu
um pouco da Embrapa Gado de
Leite, as orientações para esta
capacitação e os autores deste
curso, que podem ajudá-lo em
caso de dúvida.
Este módulo é sobre as raças
leiteiras que, com suas
particularidades, produzem o
leite brasileiro.

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Ambiente: é tudo que rodeia ou envolve um ser e constitui o meio em que vive. Do ponto de vista do melhoramento
genético, ambiente significa tudo aquilo que influencia o desempenho animal.

Correlação genética: trata da medida do quanto duas características estão relacionadas por serem influenciadas por
conjuntos de genes em comum, ou seja, há genes que influenciam várias características ao mesmo tempo. Isto é de
extrema relevância, pois pode-se estar modificando uma dada característica e obtendo resposta favorável também em
outra. Isto acontece com as características: produção de leite, gordura, lactose e proteína.

Fenótipo: aparência externa de um organismo, produto da ação recíproca ou influência dos genes com o meio
ambiente; grupo de indivíduos que apresentam as mesmas características externas, embora possam ter constituição
genética diferente.

Genótipo: constituição genética total de um organismo, que é determinada pela soma de genes agrupados nos
cromossomos.
Interação genótipo-ambiente: significa que a expressão (fenótipo) de um determinado genótipo (conjunto de genes)
observada em um rebanho depende das condições ambientes em que ele se encontra e que podem levar a uma
completa alteração no fenótipo esperado. Assim, conforme o ambiente muda, há mudanças também no fenótipo para
uma determinada característica. Isto quer dizer que se um animal é selecionado para produzir em um determinado
ambiente, ele pode não apresentar o mesmo desempenho produtivo em um ambiente diferente.

Mérito ou valor genético: medida da capacidade do touro ou da vaca transmitir a sua superioridade e deixar
descendência com melhor desempenho em uma característica.

Valor genético: é a carga genética de um animal herdada dos pais.


Objetivos do Módulo 1

Você será capaz de identificar as


principais raças leiteiras existentes
no Brasil, a origem e o potencial
produtivo de cada uma delas,
além das exigências ambientais
para que os animais possam
expressar o potencial genético de
produção de leite. No final você
verá os critérios que devem ser
considerados no momento da
escolha da raça para a formação
de um rebanho leiteiro.
Conteúdo do Módulo 1

Este módulo será apresentado


em quatro tópicos, que
descrevem oito raças leiteiras:

 Raças europeias: Holandês,


Jersey e
Pardo-Suíço

 Raças indianas: Gir,


Guzerá e
Sindi

 Raças sintéticas: Girolando e


Pitangueiras

 Critérios para a escolha da raça


Em que consiste o melhoramento genético de um rebanho leiteiro?

É a substituição dos animais existentes no rebanho por animais geneticamente superiores, que pode ocorrer por:
 Seleção de animais na própria fazenda ou
 Incorporação no rebanho de animais de outros criatórios, por sêmen de animais melhoradores ou por uso de
embriões também geneticamente superiores
Quais as espécies bovinas são boas produtoras de leite?

A escolha da raça pelo


produtor é um importante
passo para aqueles que
querem investir na produção
de leite.

 As raças europeias (Bos taurus) selecionadas para a produção de leite há muito tempo e são denominadas “raças
especializadas”.

 As raças indianas (Bos indicus) com seleção para leite mais recente e adaptadas às diferentes condições do ambiente
tropical.
Os animais das raças europeias mais difundidas no Brasil são:

Holandês Jersey Pardo-Suíço


Os animais da raça A seleção atual dos
Holandesa foram programas de
selecionados melhoramento
inicialmente na genético tem o
Holanda e é a raça foco para a
mais especializada produção de
para a produção de sólidos: gordura e A raça Holandesa
proteína.
leite no mundo. produz leite em
mais de 150
países.
Os animais da raça Holandesa
são exigentes em cuidados,
conforto e clima e dependendo
das condições de criação
podem sofrer com o excesso de
calor do clima tropical.

No Brasil, o maior número de animais


da raça Holandesa está na Região Sul e
Sudeste.
É a raça mais utilizada
nos cruzamentos e na
formação de raça
sintética, com
predominância do
O cruzamento do
acasalamento com as
Holandês com o
raças zebuínas, como o Gir resulta no
Girolando e, com
Gir e Guzerá.
o Guzerá, produz o
Guzolando.
Características produtivas e reprodutivas da Raça
Holandesa
Característica Média

Produção de leite em 305 dias 6.712 ± 1.935 kg

Produção diária 29,6 kg

Teor de gordura 3,5%

Teor de proteína 3,2%

Idade ao primeiro parto 24 a 25 meses

Intervalo de partos 12 a 13 meses


Fonte: Embrapa Gado de Leite
Os pontos positivos e negativos da raça Holandesa são:

Pontos positivos:
 Alta produção de leite
 Animais dóceis

Pontos negativos:
 Sensíveis a altas temperaturas e umidade
elevada
 Susceptíveis aos carrapatos e à mastite
 Alta exigência nutricional
A raça Jersey foi
No Brasil está em
selecionada na ilha Os animais são de
maior número
de Jersey na médio porte,
nas regiões Sul e
Inglaterra (Canal da dóceis, precoce e
Sudeste.
Mancha), e o leite possui alto
considerada a teor de sólidos.
segunda raça leiteira
mais utilizada no
mundo.
Características produtivas e reprodutivas da raça Jersey
Produtores têm
Característica Média
optado pelo
Produção de leite em 305 dias 4.500 kg cruzamento de
Produção diária 15 kg Holandês com
5,3% Jersey para obter
Teor de gordura
animais com alta
Teor de proteína 3,8% produção e
Idade ao primeiro parto 28 a 30 meses elevado teor de
sólidos. É
Intervalo de partos 13,8 meses chamado de
Fonte: Embrapa Gado de Leite Jersolando.
Os pontos positivos e negativos da raça Jersey são:

Pontos positivos
 Alta produção de leite
 Alto teor de sólidos no leite
 Animais férteis, precoce, com facilidade
de parto e longevos

Ponto negativo
 Susceptível à mastite, cetose e febre do
leite

A raça Jersey produz mais quilos de leite em relação ao seu peso corporal do que qualquer outra raça.
O Pardo-Suíço é considerado
a raça leiteira mais antiga do
mundo, musculatura forte,
pernas, pés e cascos
resistentes. É reconhecida por
sua capacidade de adaptação,
principalmente ao clima
tropical. A pele pigmentada
tolera a fotossensibilidade.
No Brasil, o Pardo-
Suíço é utilizado
em cruzamentos
com o Girolando,
Gir e Guzerá.

As regiões sudeste e nordeste concentram aproximadamente 60% dos rebanhos


Características reprodutivas e
produtivas da raça Pardo-Suíço
Característica Média

Produção de leite em 305 dias 7.125 kg

Produção diária 25,7 kg


Teor de gordura 3,8%
Teor de proteína 3,6%
Idade ao primeiro parto 30 meses
Intervalo de partos 15 meses
Fonte: Embrapa Gado de Leite
Pontos Positivos
- Alta produção de leite
- Teor de sólidos no leite maior que da raça
Holandesa
- Tolerância ao clima tropical (temperatura e
umidade)
- Dupla aptidão (carne e leite)

Pontos Negativos
- Animais de grande porte
- Maior necessidade de requerimentos
nutricionais para a mantença
As principais características das raças
indianas são:

 Maior tolerância ao calor e a umidade do ar

 Capacidade de utilizar alimentos fibrosos


considerados de baixa digestibilidade

 Hábito de pastejo noturno Grande parte das


fazendas leiteiras
 Boa resistência a ecto e endoparasitos no Brasil possuem
rebanhos com
animais puros ou
cruzados com
raças indianas.
A diferença mais evidente entre os animais europeus e os indianos é a presença da giba (cupim) bem
desenvolvida na região da cernelha. No Brasil, as principais raças criadas são:

Gir Guzerá Sindi


A raça Gir é originária da Índia, da região de
Kathiavar.

As principais características são:


 Animais de grande porte e musculosos
 Boa adaptação às condições ambientais do
trópico
O melhoramento genético da raça Gir para
a produção de leite começou na década de
30 dentro de rebanhos.

O teste de progênie e a seleção dos


melhores touros para produção de leite
começou em 1985.

As fêmeas desta raça apresentam boa


habilidade materna.
Características reprodutivas e produtivas da Raça Gir

Característica Média
Produção de leite em 305 dias 3.065 ± 1.815 kg
Produção diária 25,7 kg
Teor de gordura 4,0%
Teor de proteína 3,17%
Idade ao primeiro parto 42 meses
Intervalo de partos 16 meses
Duração da lactação 280 dias
Fonte: Embrapa Gado de Leite
A raça Guzerá tem sua origem na
Índia, da região de Gujarat.

Possui boa adaptação às condições


adversas de ambiente, variando de
clima ameno a quente e seco.

Os animais são de grande porte,


adaptados ao clima tropical e
resistentes ao carrapato.
Duas características
da raça Guzerá são:
Possuem boa capacidade de utilização
 Alta rusticidade
de forrageiras de baixa digestibilidade.  Dupla aptidão
Os primeiros animais foram introduzidos
no Brasil no final do século 19.

A seleção em rebanhos iniciou na década


de 30 e em 1992 iniciou o controle
leiteiro oficial da raça.

Em 1994, iniciou o Programa Nacional de


Melhoramento do Guzerá.

As fêmeas “Guzolando” são precoces, Pele bem pigmentada e


férteis, rústicas e longevas. membros bem desenvolvidos
contribuem para a rusticidade
da Guzerá.
Características reprodutivas e produtivas
da raça Guzerá

Característica Média
Produção de leite em 305 dias 2.276 ± 1.163 kg
Produção diária 25,7 kg
Teor de gordura 4,5%
Teor de proteína 3,3%
Idade ao primeiro parto 44 meses
Intervalo de partos 16 meses
Duração da lactação
Fonte: Embrapa Gado de Leite
278 dias
A raça Sindi é originária do Paquistão da
Região de Kohistan.

Os animais são de porte médio,


apresentam pelo vermelho e pele
pigmentada.

Possuem boa adaptação às condições


tropicais, principalmente do semiárido no
nordeste brasileiro, onde se encontra o
maior número de animais da raça.
 Os animais são dóceis

 Dentre as raças indianas, a Sindi é a


mais precoce e apresenta boa
fertilidade O animal da raça Sindi é
bem adaptado para a
região nordeste do Brasil
ou regiões de climas
 Possuem alta rusticidade, similares pelo mundo,
principalmente para o com boa conversão para
produção de carne e
aproveitamento de alimentos de
leite, mesmo em
baixa digestibilidade condições adversas de
temperatura e umidade.
Características produtivas e reprodutivas
da raça Sindi

Característica Média
Produção de leite em 305 dias 2.267 kg

Produção diária 7,0 kg


Teor de gordura 3,3%
Teor de proteína 3,2%
Idade ao primeiro parto 31,3 meses
Intervalo de partos 13 meses
Duração da lactação 250 dias
Fonte: Embrapa Gado de Leite
As raças sintéticas são aquelas oriundas de cruzamentos dirigidos, entre duas ou mais raças, e selecionadas
para padronização morfológica e fixação de genótipos semelhantes e desejados.
A principal raça sintética (ou mestiça) no Brasil é:

Girolando
A raça Girolando é o produto do
cruzamento do Holandês com o Gir e
direcionado para fixação do padrão racial
em 5/8 Holandês + 3/8 Gir.

Surgiu na década de 1950 no Vale do


Paraíba - Estado de São Paulo.

Possui alta rusticidade, boa precocidade


e excelente potencial para a produção de
Estima-se que 80% do leite brasileiro é produzido com vacas
leite. Girolando ou mestiças de Holandês x Gir.
Características produtivas e reprodutivas da raça
Girolando

Característica Média
Produção de leite em 305 dias 4.931 ± 2.281 kg
Produção diária 7,0 kg
Teor de gordura 3,9%
Teor de proteína 3,3%
Idade ao primeiro parto 35 ± 7 meses
Intervalo de partos 14 ± 3 meses
Duração da lactação 284 dias

Fonte: Embrapa Gado de Leite


Na escolha da raça para a formação de um rebanho com objetivo de produção de leite, deve-se observar:

Qualidade do solo e Mercado existente para


Condições ambientais Nível tecnológico
disponibilidade de escoamento da
de clima e de relevo adotado
alimentos produção

Definição da raça mais Acessibilidade a


Sistema de produção a Definição das práticas
adequada ao sistema reprodutores, sêmen
ser adotado de manejo
de produção ou embriões
Não existe uma raça melhor que a outra; existem raças mais adequadas para determinados sistemas de produção,
em função de condições de ambiente e manejo, que podem atender aos objetivosdo produtor.

Em qualquer região é possível a criação de uma raça


especializada para leite, desde que o produtor proporcione
aos animais conforto e bem-estar.

Quanto mais exigente a raça em alimentação e conforto,


Para
maior o cada raça existem
investimento cuidados
em insumos com o ambiente e práticas de manejo que
e infraestrutura.
possibilitam aos animais expressarem seu potencial genético.
Raças e Temperaturas
A zona de conforto térmico é de:
 -1 °C a 21 °C para os animais das raças europeias
 10 °C a 32 °C para os animais das raças indianas

As temperaturas críticas que reduzem o consumo de


alimentos e a produção de leite são:
 Acima de 26 °C para o Holandês
 Acima de 28 °C para o Jersey e
 Acima de 29 °C para o Pardo-Suíço

Nas raças indianas, o estresse calórico ocorre com


temperaturas abaixo de 0 °C e acima de 33 °C.
Raças e clima regional
Holandês
Produzem melhor em regiões de clima temperado, com média mensal inferior a 20 °C e umidade relativa do ar entre
50% e 80%.

Gir, Guzerá e Sindi


Os animais se adaptam a todas as regiões brasileiras, principalmente nas regiões do semiárido.

As raças Gir, Guzerá e Sindi produzem melhor em regiões de clima tropical,


com média anual acima de 10°C e inferior a 32°C.
A influência do clima nos animais pode ser:
Direta:
Indireta:
Relacionada ao gasto de energia para manter o
 Redução do consumo
equilíbrio das funções corporais (Homeostasia)
 Pré dispondo a baixa imunidade levando a doenças
infectocontagiosas e maior ocorrência de ecto e
endoparasitas
 Redução das atividades reprodutivas
 Redução da produção de leite

Para cada raça existem cuidados com o ambiente e práticas de manejo que
possibilitam aos animais expressarem seu potencial genético.
Para uma vaca leiteira, as principais características morfológicas a serem observadas são:

Abertura peitoral Profundidade Ângulo de garupa Aprumos Cascos com bom


indicando boa corporal com boa para facilidade no Pernas paralelas e ângulo para não
capacidade capacidade parto bem posicionadas ter problemas de
cardiorrespiratória digestiva para movimentar- aprumos
se e apreender o
alimento

As características morfológicas estão relacionadas à longevidade do animal no rebanho.


As principais características desejáveis do úbere de uma vaca são:

Piso do úbere Inserção firme Ligamentos Tetos Tetos no centro Úbere largo
alto para evitar no abdômen e fortes para uniformes, do quarto com boa
lesões nos tetos boa distribuição garantir a cilíndricos e de mamário para capacidade de
e contato com dos quartos longevidade da comprimento permitir o armazenamento
microrganismos mamários vida produtiva médio para escoamento do de leite
facilitar a leite
ordenha
Raças e sistemas de produção
Todas as raças que fazem melhoramento genético tem potencial produtivo e se adaptam a diferentes
sistemas de produção.

Em média 30% da
produção de leite
depende do
potencial genético,
o restante é
determinado pelos
fatores ambientais
(alimentação, clima
e manejo).
Raça e alimentação

Nenhuma raça leiteira


consegue expressar
seu potencial genético
sem uma boa
alimentação.

O produtor deve estar atento e ser consciente, pois a escolha certa da raça e do sistema de criação garante a sustentabilidade
da atividade leiteira. Portanto, a produção de alimentos na propriedade ou de lotação das pastagens é o primeiro passo no
planejamento do negócio, por influenciar diretamente os custos de produção.
1. As principais raças leiteiras no Brasil são as europeias: Holandês, Jersey e Pardo-Suíço; as indianas: Gir, Guzerá e Sindi
e a sintética: Girolando

2. A escolha da raça pelo produtor depende de vários fatores, como: condições de ambiente e relevo, qualidade do
solo, disponibilidade de alimentos e mercado existente para escoamento da produção

3. As características morfológicas da vaca como abertura e profundidade peitoral, ângulo de garupa, aprumos e cascos
do úbere estão relacionadas à longevidade do animal no rebanho

4. Na escolha das vacas leiteiras procure por características que determinam uma boa longevidade e vida produtiva,
como largura, altura do piso, inserção e projeção do úbere, ligamentos fortes e posicionamento e forma dos tetos

5. Não existe uma raça melhor que a outra; existem raças mais adequadas para determinados sistemas de produção,
ambientes e manejo, que podem atender aos objetivos do produtor
Você aprendeu sobre as principais raças
leiteiras usadas no Brasil, a capacidade
de produção e o desempenho
reprodutivo de cada uma delas.
Aprendeu também sobre os critérios
importantes para a escolha de uma raça
leiteira.

No próximo módulo você vai aprender a


coletar dados para a escrituração
zootécnica do rebanho, que é uma
atividade importante para o bom
gerenciamento da propriedade.

Mas antes, leia o material didático,


assista aos vídeos que estão na
biblioteca e faça os exercícios de fixação
e avaliação.

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