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ANÁLISE DA PEGADA DE CARBONO COMPARANDO CONCRETO

ARMADO E CONCRETO DE ALTA RESISTÊNCIA


ANALYSIS OF CARBON FOOTPRINT COMPARING REINFORCED CONCRETE
AND HIGH-RESISTANCE CONCRETE

Souza, Vanessa Hadad de (1); Bacelar, Bruno Athaíde (1); Paula, Júnia Nunes (2)

(1) Estudantes de Pós-Graduação, CEFET – MG.


(2) Professora Doutora, Departamento de Engenharia Civil, CEFET - MG
Av. Amazonas, 7675 - Nova Gameleira - Belo Horizonte/MG CEP 30510-000

Resumo
A construção civil é uma das indústrias que mais contribuem na emissão de gases que provocam o efeito
estufa, sendo responsável pela produção de 19% do volume total de gases, de acordo com o Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change ou IPCC,
2010). Assim, a adoção de medidas que busquem uma edificação mais sustentável desde o projeto pode
ser benéfica para o setor. Considerando isso, este trabalho tem como objetivo analisar e comparar
quantativamente a redução do consumo de concreto e de aço, consequentemente a redução da quantidade
da pegada de carbono incorporado na estrutura em edifícios comerciais, adotando o concreto de alta
resistência (CAR) em pilares. O estudo feito utilizou um protótipo de uma planta arquitetônica de uma
edificação comercial de 16 pavimentos. Duas situações foram consideradas, empregando valores de fck de
25 e 50 MPa para pilares. Em relação a vigas e lajes, foi adotado o valor padrão de 25 MPa em todas as
situações. A utilização do CAR ocasionou em um decrescimento em relação quantidade de materiais,
resultando, aproximadamente, 11% de redução do concreto e de 34% que se refere ao aço e 10,2% de
pegada de carbono total. Portanto, a utilização do CAR seria uma solução sustentável no setor de estruturas
de concreto, uma vez que as manutenções necessárias durante a vida útil (durabilidade) seriam menores.

Palavras-Chave: Pegada de carbono; Concreto de alta resistência; Concreto Convencional; Sustentabilidade.

Abstract
Civil construction is one of the industries that most contribute to the emission of greenhouse gases,
accounting for 19% of the total volume of gases, according to the Intergovernmental Panel on Climate
Change (IPCC), 2010). Thus, the adoption of measures that seek a more sustainable building since the
project can be beneficial for the sector. Considering this, this work aims to analyze and quantitatively
compare the reduction of concrete and steel consumption, consequently reducing the amount of carbon
footprint incorporated in the structure in commercial buildings, adopting the high strength concrete (CAR) in
pillars. The study used a prototype of an architectural plan of a commercial building of 16 floors. Two
situations were considered, using fck’s values of 25 and 50 MPa for pillars. In relation to beams and slabs,
the standard value of 25 MPa was adopted in all situations. The use of CAR resulted in a decrease in
quantity of materials, resulting in approximately 11% reduction in concrete and 34% in steel and 10.2% in
total carbon footprint. Therefore, the use of CAR would be a sustainable solution in the concrete structures
sector, since the required maintenance over the life (durability) would be lower.

Keywords: Carbon footprint; High strength concrete; Conventional Concrete; Sustainability.

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1 Introdução
O aquecimento global é um dos maiores problemas enfrentados pela humanidade nesse
século e os impactos causados podem ser devastadores no planeta. Desta forma, torna-
se necessário que a sociedade busque formas de combatê-lo e adote alternativas
sustentáveis em todos os setores. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU),
algumas medidas para combater as mudanças climáticas devem ser tomadas, já que
esse aquecimento está ocorrendo de forma exponencialmente. O crescimento das
concentrações dos gases de efeito estufa tem contribuído ainda mais nas mudanças de
temperatura, uma vez que essas ocorrem, também, devido a processos internos naturais.

Atualmente, os materiais que tem base o cimento, como o concreto na engenharia


estrutural, é amplamente utilizado na construção, estradas, pontes, etc. em todo o mundo,
por apresentar baixo preço, elevada resistência à compressão, estabilidade e
durabilidade.

A construção civil é responsável pela produção de 19% do volume total de gases que
provocam o efeito estufa, conforme o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC,
2010). Segundo Segundo Chen et al. (2010 apud Benhelal, 2012), entre 5 e 7% das
emissões globais de dióxido de carbono (CO2) são causadas por fábricas de cimento. O
setor da construção e de construção é responsável por até 30% das emissões desses
gases, deixando esse setor entre os maiores contribuintes, de acordo com Akbarnezhad e
Xiao (2017). Stachera (2008) apresenta valores de 48,44 kg de CO2 por saca de cimento,
1,45 kg de CO2 por kg de aço e 22,62 kg de CO2 por m³ de areia.

A emissão de carbono ocorre em todos os diferentes estágios do ciclo de vida de um


edifício, desde a extração do material, processamento, fabricação dos componentes e
transporte, até a construção, montagem, operação, fase de serviço e fase de fim de vida
útil. Para reduzir esse problema, os edifícios precisam ter uma arquitetura e projetos
estruturais inovadores como uma solução para reduzir o consumo de cimento, além das
melhorias na eficiência energética de edifícios durante sua utilização. De acordo com
Hooton e Bickley (2014), a maneira mais eficaz de melhorar a sustentabilidade do
concreto estrutural é fazendo com que dure mais tempo através dos projetos de
durabilidade e pela minimização de defeitos de construção.

Muitos desses impactos podem ser diminuídos ou propostos caso sejam implementadas
medidas de mitigação adicionada com o conceito de desenvolvimento sustentável,
segundo Costa (2012).

Metha (2009) explica que entre os materiais utilizados na fabricação de concreto, a maior
parte da emissão de CO2 é referente, principalmente, à produção de cimento. Dessa
forma, o autor sugere três ferramentas principais das quais podemos reduzir as emissões
de carbono na indústria da construção civil: redução do consumo de concreto, redução do
consumo de cimento na produção do concreto e redução do consumo de clínquer no

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cimento (figura 1). Assim, a adoção de medidas que busquem uma edificação mais
sustentável desde o projeto pode ser benéfica para o setor.

O concreto de alta resistência (CAR) tem sido utilizado, por exemplo, em edifícios com
decorrência da necessidade de diminuir as dimensões dos pilares com carga elevada.
Considerando isso, este trabalho tem como objetivo analisar e comparar quantativamente
a redução do consumo de concreto e de aço, consequentemente a redução da
quantidade da pegada de carbono incorporado na estrutura em edifícios comerciais,
adotando o CAR em pilares, como uma estratégia para minimizar a emissão de carbono
através da diminuição da utilização do concreto e do aço, além da durabilidade que esse
tipo de material pode apresentar.

Figura 1 – Ferramentas para a redução das emissões de carbono (METHA (2009))

2 Metodologia
Para comparar o consumo de concreto utilizado bem como a quantidade de aço na
estrutura e o seu dimensionamento com o concreto convencional e CAR, empregou-se o
software Cypecad. As normas baseadas para o dimensionamento foram a NBR 6118:
2014 - “Projeto de estruturas de concreto - Procedimento” e NBR 6120: 1980- “Cargas
para o cálculo de estruturas de edificações”.

Por se tratar de um estudo comparativo, o estudo feito utilizou um protótipo de uma planta
arquitetônica de uma edificação comercial de 16 pavimentos (figuras 2 e 3). Duas
situações foram consideradas, empregando valores de fck de 25 e 50 MPa para pilares,
com um traço de concreto definido. Em relação a vigas e lajes, foi adotado o valor padrão
de 25 MPa em todas as situações.

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Figura 2 – Protótipo da planta arquitetônica de uma edificação comercial (Elaborada pelos autores (2018))

Figura 3 – Protótipo da planta arquitetônica de uma edificação comercial - vista em corte (Elaborada pelos
autores (2018))

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A etapa que procede ao lançamento da arquitetura no programa Cypecad é o pré-
dimensionamento. A partir da locação dos pilares e definição das lajes e vigas, definiram-
se as distâncias entre os eixos dos elementos estruturais. Para a estimativa das alturas
das vigas, adotou-se 10% de seus vãos no caso de vigas biapoiadas e 10% do maior vão
no caso de vigas contínuas. O pré-dimensionamento das lajes foi definido dividindo-se o
menor vão por 40. A altura foi padrão para todas as lajes da estrutura. Para a definição
das seções transversais dos pilares, levaram-se em consideração as áreas de influência
de cada um.

O cálculo estrutural feito no software teve as etapas de lançamento, análise estrutural,


dimensionamento e cálculo do volume do concreto e quantidade de aço utilizado em
pilares, além da relação da quantidade de cimento. Para isso, considerou-se o cimento
Portland CPIIE40, slump variando de 40 a 60 cm e o aço CA50.

O cálculo da pegada de carbono para cada f ck baseou-se quando multiplicamos o volume


de cimento (m³) e a quantidade em peso (kg) do aço pela quantidade de emissão de
carbono para cada material. Para a emissão total, foi somado a pegada de CO 2 desses
materiais.

3 Resultados e Discussões

As tabelas 1 e 2 ilustram o total de consumo do projeto para cada fck, fornecido pelo
próprio software no dimensionamento final do protótipo da planta do edifíco comercial.

Baseando-se no autor Metha (2009), conseguimos com a utilização do CAR, ter um


decrescimento em relação à pegada de carbono, resultando, aproximadamente, 11% de
redução do concreto e de 34% que se refere ao aço (conforme a tabela 3). Isso resultou
em, aproximadamente, 10,2% a menos de emissão de carbono total.

Tabela 1 – Total de obra para o C25 – Superfície total: 5342.41 m².


Elemento Superfícies Volume Varões
- (m²) (m³) (kg)
Lajes 4659.46 605.73 34514
Vigas 602.07 375.93 28657
Cofragem lateral 2932.70
Pilares (Sup. Cofragem) 2465.33 206.78 51468
Escadas 183.68 22.12 3052
TOTAL 10843.24 1210.56 117691
ÌNDICES (por m²) 2.030 0.227 22.03

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Tabela 2 – Total de obra para o C50 – Superfície total: 5341.20 m².
Elemento Superfícies Volume Varões
- (m²) (m³) (kg)
Lajes 4662.71 606.17 33878
Vigas 607.85 370.18 27963
Cofragem lateral 2900.95
Pilares (Sup. Cofragem) 2324.90 184.16 34085
Escadas 183.68 22.12 3052
TOTAL 10680.09 1182.63 98978
ÌNDICES (por m²) 2.000 0.221 18.53

Tabela 3 – Análise quantitativa de CO2 .


Fck Volume do Peso do Aço Relação Quantidade de CO2 CO2 Aço Total CO2
Concreto a/c cimento no Cimento
concreto
(MPa) (m³) (kg) - (kg) (kg) (kg) (kg)
25 206,78 51468 0,60 67561,70 41212,64 95216 136428
50 184,45 33924 0,37 97998,92 59779,34 62759 122539

Analisando a tabela 3, verificou-se que apesar da quantidade de cimento utilizado para se


produzir o CAR com um fck de 50 MPa ser maior que a do concreto convencional, o
volume final de concreto foi menor, igualmente para a quantidade de aço.
Consequentemente, a pegada de carbono total (somada com a do cimento e do aço) foi
menor, resultando em uma construção mais sustentável. As ilustrações 3 e 4 exemplifica
melhor essa condição.

4 Conclusão
A utilização do concreto de alta resistência (CAR) seria uma solução viável no setor de
estruturas de concreto, uma vez que a diminuição da seção transversal do pilar por causa
do aumento da resistência diminui, também, a quantidade de material empregado, além
da sua durabilidade (ou vida útil) ser maior que o concreto convencional. Portanto, o uso
de CAR, como uma estratégia para minimizar a emissão de carbono através da
diminuição da utilização de materiais como o concreto e o aço, pode ser uma alternativa
para projetos mais sustentáveis.
Evidentemente, não apenas esse setor deve em diminuir a emissão de CO 2, mas em
conjunto com outras indústrias. Além disso, deve-se investir em pesquisas e estudos dos
projetos e de novos materiais numa tentativa ou solução para uma maior redução dessa
emissão, como reduzir o cimento na produção de concreto, de acordo com alguns
autores.

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5 Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 : Projeto de
estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 238p, 2014. (ok)

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6120 : Cargas para o


cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro, 5p, 1980. (ok)

COSTA, B.L.C.. Quantificação das emissões de CO2 geradas na produção de


materiais utilizados na construção civil no Brasil. Dissertação de Mestrado da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012. (ok)

Mehta, P. K.. Global concrete industry sustainability. Concrete international, 31(02),


2009. (ok)

LUCON, O. et al. Buildings. In: IPCC Fifth Assessment Report of the


Intergovernmental Panel. Cambridge, Reuno Unido e Nova York, Estados Unidos:
Cambridge University Press, 2014. (ok)

BENHELAL, E.; ZAHEDI, G.; SHAMSAEI, E.; BAHADORI, A. Global strategies and
potentials to curb CO2 emissions in cement industry. Journal of Cleaner Production,
2012. (ok)

AKBARNEZHAD, A.; XIAO, J.. Estimation and Minimization of Embodied Carbon of


Buildings: A Review. Journal Buildings, 2017. (ok)

HOOTON, R.D.; BICKLEY, J.A.. Design for durability: the key to improving concrete
sustainability. Construction and Building Materials, 2014.

XXI Encontro nacional de Engenharia de Produção. Avaliações de emissões de CO2 na


construção civil: Um estudo de caso da habitação de interesse social no Paraná.
Blumenau, Theodozio Stachera, 2016.

Organizações das Nações Unidas (ONUBR). Disponível em:


<https://nacoesunidas.org/pos2015/ods13/> . Acesso em 10 de Abril de 2018.

DONGHUN, M. A. Y.; POTRA, F. A. Sustainable Design of Reinforced Concrete


Structures. Journal of Structural Engineering, 2013.

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