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35,1&Ë3,2'$(17,'$'(
-RVp&DUORV)HUUHLUD)HUQDQGHV
DEFIS/GTRJA
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,QWURGXomR$SUHVHQWDomRH,PSRUWkQFLDGR7HPD
Desse modo, a atual sociedade (e, portanto, o atual mercado financeiro, que
é o objeto especial de nossas atenções) equilibra-se, numa série de cambiantes
delicados, entre a tentação de oportunidades inauditas (e tanto mais inauditas
quanto mais façam dos antigos limites WDEXOD UDVD) e o espectro de riscos jamais
sonhados (e, igualmente, tanto mais ameaçadores quanto mais se afastem dos
padrões até aqui geralmente aceitos). Ainda é cedo para se poder afirmar,
categoricamente, se o atual equilíbrio entre oportunidades e riscos há de ser
superado, a partir da construção de novos limites, ou se o mercado financeiro, a
partir daqui, tenderá a trabalhar comumente dentro desse novo conceito de equilíbrio
dinâmico. Qualquer que seja o futuro, porém, o certo é que, ao menos nos próximos
anos, é sumamente improvável que um novo conjunto de valores, ou de limites, se
erga como consenso e se robusteça a ponto de passar a se constituir num novo
paradigma; dessarte, é perfeitamente razoável supor-se, para o curto prazo ao
menos (e aqui entende-se curto prazo como um período inferior a cinco anos), um
comportamento por assim dizer errático das forças do mercado, tateando numa
infinidade de testes, de tensões, de tentativas e erros, na busca de paradigmas e de
balizadores. Tal atmosfera há de se caracterizar por atuações fortemente
competitivas, pelo desprezo de quaisquer limites na busca de maior lucratividade,
bem como no retorno desordenado a esses mesmos limites por ocasião dos
inevitáveis acidentes de percurso. Nesse ambiente de sucesso potencial e incerteza
sub-reptícia, sem limites claros para balizamentos, é a transparência e a
credibilidade das ações que podem fornecer, ao menos em linhas gerais, pontos de
apoio para a avaliação e a interpretação dos fenômenos.
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%UHYH+LVWyULFRGR&RQFHLWRGH3HUVRQDOLGDGH-XUtGLFD
2/HJDGR5RPDQR
$V$VVRFLDo}HV
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Vê-se, assim, que os FROOHJLD possuíam muitas das características que hoje
são atributos usuais das pessoas jurídicas, mas o passo teórico decisivo jamais foi
dado, quer pelas autoridades romanas, quer pelos juristas; de fato, se a constituição
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das associações era relativamente livre desde a Lei das Doze Tábuas (c. 450 a.C.),
o uso demagógico que os vários competidores pelo poder, a partir dos finais da
República, fizeram delas (que podiam ser econômica ou eleitoralmente
poderosíssimas e influentes, especialmente quando congregavam membros de uma
mesma profissão) fez com que, desde a ditadura de Júlio César, a mão do Estado
caísse poderosamente sobre a organização das associações. De fato, procurou
César cassar o funcionamento de associações por ele consideradas sediciosas; e o
primeiro Imperador romano, o sobrinho e filho adotivo de César, Augusto (reinou de
30 a.C. a 14 d.C.) tomou medidas mais duras, abrangentes e coerentes para regular
o funcionamento das associações; de fato, lê-se na obra do historiador Suetônio,
“Vida dos Césares”, na biografia de Augusto, parágrafo 32:
³(OH FRUULJLX LQ~PHUDV SUiWLFDV QRFLYDV DR LQWHUHVVH H DR EHP S~EOLFRV
TXHU DV TXH KDYLDP VREUHYLYLGR GR SHUtRGR GDV JXHUUDV FLYLV TXHU DV
UHFHQWHPHQWHVXUJLGDVSXOXODYDPLQ~PHUDVRUJDQL]Do}HVIDFLQRURVDV
DOEHUJDQGRVH VRE R PDQWR GH DVVRFLDo}HV H D HVVH SUHWH[WR
SHUSHWUDQGRWRGDDVRUWHGHYLODQLDVHQWmRWRGDVDVDVVLPFKDPDGDV
DVVRFLDo}HV IRUDP GLVVROYLGDV H[FHWR DTXHODV GH DQWLJD WUDGLomR H
DPSDUDGDVSRUOHL´
DIS MANIBVS
COLLEGIO SYMPHONIACORVM
QVI SACRIS PVBLICIS
PRAESTV SVNT QVIBVS
SENATVS CCC PERMISIT E
LEGE IVLIA EX AVCTORITATE
AVG LVDORVM CAVSA
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³$RV GHXVHV 0DQHV [i.e., aos espíritos dos mortos e dos antepassados.
Nota do Autor] HVWH PRQXPHQWR p GHGLFDGR SHOD DVVRFLDomR GRV
P~VLFRVTXHWRFDPHPRUTXHVWUDVHTXHHQFRQWUDPVHGLVSRQtYHLVSDUDRV
VDFULItFLRV S~EOLFRV H SDUD RV HVSHWiFXORV GRV MRJRV DVVRFLDomR HVVD
DXWRUL]DGD SRU GHFUHWR GR 6HQDGR D RUJDQL]DU UHXQL}HV D FRQYRFDU SDUD
DVVHPEOpLDVHDUHDOL]DUWRGRVRVGHPDLVDWRVVRFLDLVGHDFRUGRFRPDOHL
-~OLDSRUDXWRULGDGHGH$XJXVWR´
A segunda, datada do quinto dia antes dos idos de junho, sob o consulado de
Lúcio Ceiônio Cômodo e Sexto Vetuleno Cívica Pompeiano (9 de junho de 136 d.C.),
muito mais extensa, mostra os detalhados estatutos de uma associação funerária
que combinava também o duplo culto de Diana e de Antínoo (favorito do Imperador
Adriano, afogado no Nilo); novamente, lê-se que a associação foi autorizada por um
decreto do Senado.
2&RQWUDWRGH6RFLHGDGH
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³$ PRUWH GH XP GRV VyFLRV GLVVROYH D VRFLHGDGH [no original: morte unius
societas dissolvitur] SRLV VH p QHFHVViULR R FRQVHQVR GH WRGRV SDUD D
IRUPDU D SHUPDQrQFLD GH WDO FRQVHQVR p LQGLVSHQViYHO SDUD VXD
VXEVLVWrQFLD D QmR VHU TXH SDFWXDGR GH RXWUD IRUPD SRU RFDVLmR GD
FRQVWLWXLomR GD VRFLHGDGH [nisi in coeunda societate aliter convenerit] (
QHP PHVPR RV KHUGHLURV GR VyFLR ILQDGR OKH SRGHP VXFHGHU FRPR
VyFLRV´
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³1HQKXPD FRUSRUDomR RX DVVRFLDomR GH TXDOTXHU WLSR SRGH VH FRQVWLWXLU
LQGLVFULPLQDGDPHQWH GHYHQGR REHGHFHU jV H VH FRQIRUPDU FRP DV
SUHVFULo}HVGDVOHLVGRVGHFUHWRVGR6HQDGRHGDVFRQVWLWXLo}HVLPSHULDLV
eHVVDFRQIRUPLGDGHHHVVDREHGLrQFLDTXHOKHVDVVHJXUDDH[LVWrQFLDHD
FRUSRULILFDomR'DPHVPDIRUPDjVVRFLHGDGHVGHSXEOLFDQRVpSHUPLWLGD
D H[LVWrQFLD FRUSRULILFDGD [ut ecce, vectigalium publicanorum sociis
permissum est corpus habere]´
³3DUDWRGRVRVHIHLWRVFRPDPRUWHGRVyFLRGLVVROYHVHDVRFLHGDGH[adeo
morte socii solvitur societas] H QHP PHVPR TXDQGR FRQYHQFLRQDGR
LQLFLDOPHQWHSRGHRKHUGHLURVXFHGHUDRVyFLRIDOHFLGR7DOpFRPHIHLWRR
SURFHGLPHQWR QDV VRFLHGDGHV SULYDGDV 1DV VRFLHGDGHV GH SXEOLFDQRV
FRQWXGRDPRUWHGHXPVyFLRQmRLQWHUURPSHDVXDH[LVWrQFLDHVHDSDUWH
GRVyFLRPRUWRpDGVFULWDDVHXKHUGHLURpOtFLWRTXHHOHDWRPHFRPRVXD
SURSULHGDGH´
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³$ actio pro socio FRPSHWH LJXDOPHQWH DR KHUGHLUR GR VyFLR [in heredem
quoque socii pro socio actio competit] DLQGD TXH HVVH KHUGHLUR QmR VHMD
VyFLRSRLVPHVPR QmRVHQGRVyFLRpVXFHVVRU GRV GLUHLWRV 'R PHVPR
PRGRQDVVRFLHGDGHVGHSXEOLFDQRVQHVWDVDSHVDUGHRKHUGHLURGRVyFLR
QmRVHFRQVWLWXLUHPVyFLRDQmRVHUTXHGLYHUVDPHQWHSDFWXDGRWRGRVRV
JDQKRV H SHUGDV GHFRUUHQWHV GD KHUDQoD OKH VmR DXWRPDWLFDPHQWH
WUDQVPLWLGRVWDQWRDTXHOHVRULJLQDGRVTXDQGRRVyFLRDLQGDYLYLDTXDQWRRV
SRVWHULRUHVjVXDPRUWH´
$,GDGH0pGLDHD(PHUJrQFLDGDV6RFLHGDGHV&RPHUFLDLV
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$0mR(FOHVLiVWLFDD(YROXomRGD$VVRFLDomRHDV³3HVVRDV)LFWtFLDV´
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exemplo, ferreiros, carpinteiros, sapateiros, pisoeiros, etc.), não apenas para fins
beneficentes e religiosos, mas também, e principalmente, objetivando zelar pela
qualidade dos produtos, bem como passar adiante as técnicas do ofício. Seus
membros eram cuidadosamente hierarquizados em mestres, companheiros e
aprendizes. Como os antigos FROOHJLD, tinham existência reconhecida pelo Estado,
podiam ser proprietários e receber legados; possuíam suas bandeiras, distintivos e
sedes próprias, seus santos protetores e seus dias de festa particulares.
Espalharam-se por toda a Europa, sendo particularmente poderosas na Flandres, na
Itália e na Alemanha (isto é, nos países mais fragmentados politicamente). Na
Inglaterra, tomaram a dianteira na luta contra as guildas mercantis, obtendo de
Eduardo III, em 1335, uma lei que permitia a mercadores estrangeiros comerciar
livremente no país.
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2)LVFRHDV6RFLHGDGHVGH&DSLWDO
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privadas dos detentores dos ORFD, sendo sua responsabilidade ante o Banco limitada
à fração do monte representado por seus respectivos ORFD. A dívida estatal, assim,
era metamorfoseada numa sociedade corporificada e privilegiada, e os ORFD
rapidamente adquiriram todas as características das modernas ações,
transformando seus detentores em acionistas e o Banco numa sociedade de capital:
eram comprados, vendidos, dados em garantia e passados em herança. Como se
vê, a Sereníssima República de Veneza por três vezes constituiu tais Montes, que
acabaram se reunindo, pelas leis de 1584 e 1587, num único estabelecimento, o
Banco do Estado (apesar do nome, era de particulares). Em outras ocasiões, ao
invés de constituir mais um Monte, o Estado, se tivesse crédito, podia pedir
emprestado ao próprio Banco, fornecendo como garantias receitas alfandegárias
adicionais ou de impostos, direitos de exploração comercial e privilégios diversos. O
Banco do Estado continuou operando nessas linhas, ininterruptamente, até 1797,
quando desapareceu ao mesmo tempo que a República, no torvelinho das guerras
napoleônicas.
O caso de Gênova foi mais singular. A 6LJQRULD de Veneza era famosa por
sua administração financeira escrupulosa; a austeridade e a estabilidade tanto das
contas públicas quanto do valor intrínseco de sua moeda, o ducado de ouro, eram
proverbiais, e foram mantidas por, pelo menos, seiscentos anos, até 1797, quando a
República foi extinta por Napoleão e seus fundos saqueados pelos franceses. A
sua grande rival, a República de Gênova, por outro lado, embarcou desde o séc. XII
num ambicioso programa de endividamento público, a fim de financiar a construção
do império comercial de sua oligarquia. Tais empréstimos davam aos credores
direito a rendas perpétuas ou vitalícias, sob a forma de títulos transferíveis,
igualmente fracionados (ORFD, como em Veneza), e garantidos por fundos
específicos. As perdas com as Cruzadas e os ataques dos turcos ao comércio
oriental fizeram a situação da dívida pública genovesa deteriorar-se
progressivamente a partir de finais do séc. XIII; nos inícios do séc. XIV, os próprios
credores tomaram a si a incumbência de gerir os fundos garantidores dos títulos
(PRQWHV). Em 1407, enfim, sem ter como pagar as antigas dívidas, e diante da
necessidade urgente de mais dinheiro para financiar outra guerra contra Veneza, o
governo genovês barganhou com os seus credores uma consolidação de todas as
dívidas antigas, bem como de um novo empréstimo destinado à guerra veneziana,
transformando todos os títulos da dívida pública em poder de particulares (ORFD
PRQWL) em títulos, igualmente fracionados, livremente negociáveis e alienáveis (ORFD
FRPSHUDUXP, ou seja, ações) de uma nova sociedade, o assim denominado Banco
de São Jorge (&DVDGL6DQ*LRUJLR, depois %DQFDGL6DQ*LRUJLR), ao qual concedia
privilégios iguais aos gozados pelo Banco do Estado de Veneza, mais o direito de
emitir títulos de crédito, garantidos pelas receitas aduaneiras e de impostos da
República, bem como pela posse da ilha da Córsega. Converteu-se o Banco de São
Jorge em virtual emprestador do Estado, e a um ponto tal que chegou a controlar-lhe
totalmente as finanças, os projetos coloniais e a própria política externa. Funcionou
ininterruptamente até 1799, quando foi fechado, outra vítima das guerras de
Napoleão.
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2&DSLWDOLVPRHD3HUVRQDOLGDGH-XUtGLFD
³ PDV DLQGD TXH VH IDoD VHP OLPLWDomR GH WHPSR (a constituição da
sociedade, nota do Autor) PRUUHQGR TXDOTXHU GRV FRPSDQKHLURV ORJR
DFDEDUi RFRQWUDWRGD&RPSDQKLD HQmR SDVVDUi D VHXV KHUGHLURV SRVWR
TXHQRFRQWUDWRVHGHFODUHTXHSDVVHDHOHVVDOYRVHD&RPSDQKLDIRVVH
GH DOJXPD UHQGD QRVVD RX GD 5HS~EOLFD TXH DOJXPDV SHVVRDV
KRXYHVVHPWRPDGRMXQWDPHQWHSRUTXHQHVWHVFDVRVDLQGDTXHDOJXPGRV
FRPSDQKHLURV QD UHQGD IDOHoD SDVVDUi R WDO DUUHQGDPHQWR D VHXV
KHUGHLURVSHORWHPSRTXHHOHGXUDUVHDVVLPIRLQRGLWRFRQWUDWRGHFODUDGR
H R KHUGHLUR p SHVVRD GLOLJHQWH H LG{QHD SDUD SHUVHYHUDU QD GLWD
&RPSDQKLD´
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'RV%DQFR3~EOLFRVjV6RFLHGDGHV³$Q{QLPDV´
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permitiu que, por simples registro, a responsabilidade dos sócios de uma sociedade
anônima fosse limitada ao valor proporcional do capital social representado por suas
ações, exceto para os bancos e companhias de seguro. A evolução para as
sociedades anônimas modernas estava praticamente concluída.
$V6RFLHGDGHVSRU4XRWDVGH5HVSRQVDELOLGDGH/LPLWDGD
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³$VIRUPDVGHFRQVWLWXLomRGDVVRFLHGDGHVFRPHUFLDLVHPYLJRUQR,PSpULR
QmRPDLVDWHQGHPjVQHFHVVLGDGHVHFRQ{PLFDVpYLWDOTXHQHODVVHLQFOXD
R SULQFtSLR GD UHVSRQVDELOLGDGH OLPLWDGD R TXDO DYDQoD FRP IRUoD
LUUHVLVWtYHOQDYLGDHFRQ{PLFDHQDVVRFLHGDGHVGHEDVHLQGLYLGXDOQHVWDV
RFDSLWDOHDLQWHOLJrQFLDHQWUDPHPFRQWDFWRGLUHWRFRPRYLJRUGRFDSLWDO
DOLDGR jV IRUoDV KXPDQDV DV VRFLHGDGHV GH SHVVRDV WRUQDPVH PHVPR
VXSHULRUHVjVVRFLHGDGHVGHFDSLWDO´
$(YROXomRQR%UDVLO
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³$OHJLWLPLGDGHGHVVDLQWHUYHQomRGDDXWRULGDGHGHULYDQmRGDQDWXUH]DGD
LQG~VWULDTXHVHSUHWHQGHH[HUFHUPDVGDIRUPDGDVRFLHGDGHDQ{QLPDGD
QHFHVVLGDGH TXH WHP R S~EOLFR GH FHUWLILFDUVH VH R ILP GD VRFLHGDGH p
OtFLWRVHRVFDSLWDLVDQXQFLDGRVH[LVWHPUHDOPHQWHVHVmRSURSRUFLRQDLVj
HPSUHVDDTXHVHGHVWLQDPVHRVHVWDWXWRVGHWDLVDVVRFLDo}HVRIHUHFHP
DRV DFLRQLVWDV FXMR &RQFXUVR UHFODPDP JDUDQWLDV PRUDLV H PHLRV
VXILFLHQWHVGHILVFDOL]DomR´
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dos anos 1860, quando faliram os bancos de Antônio José Alves Souto & Ciª, Bahia
& Irmãos e o do próprio Visconde de Mauá. Esse clima retardou sensivelmente a
recepção, no país, da influência da lei francesa de 1867, que liberara a constituição
das sociedades anônimas da prévia autorização do Estado. A posição do governo
tornou-se, mesmo, mais e mais prudente, como se pode confirmar pelo caso (em
1875) da Companhia Mirim, que se constituíra para explorar a navegação a vapor
entre os portos de Rio Grande e Santa Vitória, no Rio Grande do Sul. O Conselho
de Estado do Império opinava pelo indeferimento do pedido de autorização, pelo fato
de a referida sociedade anônima se constituir com apenas cinco acionistas. Os
argumentos do Conselho de Estado, mesmo nos dias de hoje, são de molde a
convidar à reflexão. De fato, asseverava o Conselho que:
³HPERUDDFLWDGDOHJLVODomRQmRIL[DVVHRQ~PHURGHDFLRQLVWDVFRPTXH
GHYHP RUJDQL]DU H IXQFLRQDU DV FRPSDQKLDV RX VRFLHGDGHV DQ{QLPDV
GHSUHHQGHVH GR FRPSOH[R GH VXDV GLVSRVLo}HV H SULQFLSDOPHQWH GD
QHFHVVLGDGHGHVHUHPILVFDOL]DGRVRVDWRVGDJHUrQFLDSHODVDVVHPEOpLDV
JHUDLV TXH HVWH Q~PHUR QmR GHYH VHU WDO TXH HOLPLQDGRV RV DFLRQLVWDV
VHXV DGPLQLVWUDGRUHV RV TXDLV QmR SRGHP MXOJDU RV SUySULRV DWRV WRUQH
LPSRVVtYHODUHXQLmRGDVPHVPDVDVVHPEOpLDV´
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decreto teve vida longa, pois somente cessou de vigir com a nova lei das S.A.’s, a lei
6.404, de 1976.
7pFQLFDV&RQWiEHLVHR3ULQFtSLRGD(QWLGDGH
O autor deste trabalho crê ter podido demonstrar, nos itens anteriores, que o
conceito da personalidade jurídica, tal como entendido modernamente, não se
constituiu nem numa idéia inata, evidente desde o princípio dos tempos, e nem
numa construção jurídica H[QLKLOR, mas sim no resultado final de uma longuíssima
evolução histórica, sempre burilada pelas condições sociais e econômicas vigentes
em cada época. Ou seja, crê-se ter-se podido demonstrar que o conceito de
personalidade jurídica é relativo, subjacente e subserviente ao tecido social, nem
existindo de forma independente e nem (muito menos) se opondo às necessidades
do corpo social. Foram, com efeito, as necessidades sociais que engendraram seu
desenvolvimento, e as inumeráveis inovações em relação ao senso comum que são
implícitas em seu conceito somente podem se sustentar quando são úteis ao
progresso da sociedade.
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$&RQWDELOLGDGH5RPDQD
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certeza, era o assim denominado /LEHOOXP )DPLOLDH, ou, às vezes, /LEHU 3DWULPRQLL
(“Registro Familiar”, ou “Registro Patrimonial”, que mais não era do que um
inventário, tornado obrigatório pela reforma tributária do ano 67 a.C., utilizado para o
cálculo da incidência dos impostos sobre propriedades); em outros dois podem ser
percebidos claramente os antepassados do Diário e do Razão. Mais uma vez,
recorre-se a Cícero, e a uma de suas arengas, “Em Defesa de Quinto Róscio, o Ator
Cômico” 3UR4XLQWR5RVFLR&RPPRHGR), pronunciada em 77 a.C.; pela sua clareza
e importância no esclarecimento do assunto, citam-se os parágrafos 5º a 7º da
referida obra:
³>@(OHDOHJDHVWDUHXGHPDVLDGRSUHRFXSDGRFRPRVUHJLVWURV>WDEXOLV@H
FRQIHVVD TXH HPERUD WDO VRPD QmR FRQVWH HP VHX OLYUR GH HQWUDGDV H
VDtGDV HOD HVWi UHJLVWUDGD HP VHX GLiULR >QRQ KDEHUH VH KRF QRPHQ LQ
FRGLFHP DFFHSWLHWH[SHQVL UHODWXP FRQILWHWXU VHG LQ DGYHUVDULLV SDWHUH
FRQWHQGLW@ 2UD DFDVR pV WX WmR VHJXUR GH WL RX WHQV GH WL XPD LGpLD WmR
PDJQtILFD D SRQWR GH QRV SHGLUHV GLQKHLUR QmR EDVHDQGRWH HP WHXV
UHJLVWURVPDVDSHQDVHPWXDVDQRWDo}HV"$SHODUDUHJLVWURVDRLQYpVGH
IRUQHFHU WHVWHPXQKDV Mi p DOJR WHPHUiULR EDVHDUVH WmRVRPHQWH HP
PHUDVDQRWDo}HVMi EHLUDDORXFXUD>@ 6H R GLiULR WHP R PHVPR JUDX GH
DXWRULGDGHHpFRQIHFFLRQDGRFRPRPHVPRFXLGDGRTXHRVUHJLVWURVSDUD
TXr PDQWHU XP OLYUR GH HQWUDGDV H VDtGDV" 3DUD TXr FRQIHFFLRQDU
FXLGDGRVDPHQWH OLVWDJHQV" 3DUD TXr PDQWHU QRV HVFULWRV XPD RUGHP
FULWHULRVDRXFRQVHUYDUDUTXLYDGRVRVUHJLVWURVGDVWUDQVDo}HVSDVVDGDV"
6H DGRWDPRV R FRVWXPH GH FRQIHFFLRQDU OLYURV GH HQWUDGDV H VDtGDV p
SRUTXHQmRSRGHPRVQRVILDUWmRVRPHQWHHPUHJLVWURVGLiULRVHVHUiTXH
DTXLORTXHpFRQVLGHUDGRWHPHUiULRSRUVLPSOHVLQGLYtGXRVSRGHVHUOHYDGR
DVpULRSRUMXt]HV">@3RLVTXDODUD]mRGHFRQIHFFLRQDUPRVRVGLiULRVGH
IRUPD TXDVH QHJOLJHQWH DR SDVVR TXH VRPRV WmR ULJRURVRV QRV QRVVRV
OLYURVGHHQWUDGDVHVDtGDV"4XDODUD]mR"$UD]mRpTXHDVDQRWDo}HVGRV
GLiULRV VmR IHLWDV SDUD GXUDU XP PrV DR SDVVR TXH DV GRV OLYURV GH
HQWUDGDV H VDtGDV VmR SDUD WHPSR LQGHWHUPLQDGR DTXHODV VmR
GHVFDUWiYHLVHVWDVVmRSHUPDQHQWHVDTXHODVUHIHUHPVHDFXUWRVSHUtRGRV
GHWHPSRHVWDVDWRGDXPDYLGDKRQHVWDDTXHODVDRILPGHXP SHUtRGR
VmR HOLPLQDGDV HVWDV VmR PDQWLGDV HP RUGHP 3RUWDQWR QmR Ki UD]mR
SDUD VH OHYDU HP FRQWD RV GLiULRV FRPR SURYDV GLDQWH GH XP WULEXQDO
VRPHQWH RV UHJLVWURV FXLGDGRVRV H DV HQWUDGDV QRV OLYURV SRGHP VHU
FRQVLGHUDGRV´
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2V&RQWUDWRV/LWHUDLVQR'LUHLWR5RPDQR
De fato, além das operações reais (QRPLQD DUFDULD) descritas acima, eram
registradas nos livros de entradas e saídas operações de caixa fictícias (QRPLQD
WUDQVFULSWLFLD, literalmente “anotações referentes a transferências escritas”) as quais,
ao contrário das operações reais, davam origem a obrigações. Esses lançamentos
fictícios, verdadeiros jogos contábeis, constituíam os assim denominados contratos
literais (OLWWHUDUXPREOLJDWLRQHV), isto é, contratos que se originavam de um conjunto
de lançamentos escriturais. De acordo com o Direito Romano, uma vez havendo
correspondência entre os lançamentos nos FRGLFHV DFFHSWL HW H[SHQVL das duas
partes envolvidas, estabelecia-se uma relação jurídica de cunho totalmente abstrato,
que podia ser celebrada inclusive entre ausentes (bastava que ambas as partes
registrassem devidamente, em seus livros contábeis, os lançamentos convenientes;
uma podia estar em Roma, outra em Alexandria, e a avença realizava-se, mesmo
assim), susceptível de termo, mas não de condição. Tais características,
principalmente o fato de poderem ser celebradas entre ausentes, tornou interessante
a muitos, principalmente negociantes, transformar uma série de contratos comuns
em obrigações literais; tal metamorfose era efetuada mediante artifícios contábeis,
que podiam ser de dois tipos.
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Deve-se, porém, ter em mente que tal declínio dizia respeito ao aspecto
jurídico do contrato, não às técnicas de registro patrimonial, ou seja, às técnicas
contábeis; as REOLJDWLRQHV OLWWHUDUXP caíram paulatinamente em desuso devido ao
desenvolvimento, inicialmente fora do âmbito do Direito Romano, dos chamados
contratos literais estrangeiros, que podiam ser de dois tipos: as V\QJUDSKDH
( , literalmente “escritos em conjunto”, subentendendo-se “escritos em
várias cópias”) e os FKLURJUDSKD ( , literalmente “escritos a mão”,
subentendendo-se “escritos com a própria mão”). Esses dois tipos de documentos
originaram-se no Oriente helênico, onde o grego era a língua da cultura, do comércio
e das comunicações, como indicam os seus nomes, que os jurisconsultos romanos
nem sequer se deram ao trabalho de traduzir, mas apenas de transliterar. Eram,
como se chamariam hoje, contratos particulares, sem o formalismo que o Direito
Romano exigia na celebração dos contratos, a VWLSXODWLR (pacto solene, com
testemunhas, em presença do magistrado); à luz do Direito Romano, quando se
celebrava um contrato sem as formalidades da VWLSXODWLR, tal avença tinha apenas
valor comprobatório, mas não era gerador de direitos e nem de obrigações. A
questão, contudo, era diferente no que tocava aos estrangeiros, isto é, aos que não
eram cidadãos romanos; os jurisconsultos romanos admitiam que, entre eles, as
simples declarações escritas, sem as formalidades da VWLSXODWLR, podiam revestir-se
não apenas de caráter comprobatório, mas também gerar efetivamente direitos e
obrigações.
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23DSHOGRV%DQTXHLURV$UJHQWDULL
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assim apresentada era chamado HGHUH (Digesto, livro 2º, título 13, fragmento 1º, de
Ulpiano, parágrafo 1º) ou SURIHUUHFRGLFHP (Digesto, livro 2º, título 13, fragmento 6º,
de Ulpiano, parágrafos 7º e 8º).
$(PHUJrQFLDGD0RGHUQD&RQWDELOLGDGHHR3ULQFtSLRGD(QWLGDGH
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Também não pode ser simples coincidência o fato de tal processo se dar com
mais rapidez na região que aliava um desenvolvimento comercial e econômico
dinâmico a uma herança profunda da antiga civilização romana, mediatizada pela
Igreja: a Itália do Norte. Lá, principalmente na região da Toscana, da qual Florença
era a mais importante cidade, bem como na Sereníssima República de Veneza, já se
encontram nos governos municipais livros de receitas e despesas organizados, que
permitem inclusive que sejam efetuadas previsões orçamentárias, e, nas
companhias, OLEUL GHOOH UDJJLRQL (“livros de contas”, que registravam os aportes de
capital, os ganhos, as retiradas e os empréstimos; eram livros de interesse exclusivo
dos sócios, e por isso também denominados OLEUL VHJUHWL, “livros secretos”), OLEUL
GHOO¶HQWUDWHHGHOO¶XVFLWD (“livros de entradas e saídas”: a expressão é uma tradução
literal do antigoFRGH[DFFHSWLHWH[SHQVL romano; seria isso mais uma coincidência?)
a partir da segunda metade do séc. XIII, dos quais logo se separaram os OLEULGHOOH
FRPSHUHHYHQGLWH (“livros de compras e vendas”, para controle das mercadorias, ou,
nas indústrias, das matérias-primas).
A partir dos inícios do séc. XIV, aparecem, pela primeira vez, evidências de
registros contábeis que separam os direitos das obrigações, as origens dos recursos
das suas aplicações, enfim, o $WLYR (aquilo que estava ativado, isto é, empregado) e
o 3DVVLYR (aquilo que estava disponível, inerte, passivo, para aplicação); o que se
pode afirmar com alguma certeza é que, por volta de 1300, Rinieri Fini,
representante de uma casa bancária florentina nas feiras da Champanha, bem como
os comerciantes toscanos que operavam através de Nîmes, no sul da França, já
separavam o Ativo e o Passivo; começava a surgir a escrituração por partidas
dobradas. As contas do Ativo eram contas GHYHGRUDV, porque deviam sua existência
a uma origem de recursos; as contas do Passivo eram FUHGRUDV, pois elas
representavam a origem dos recursos, acreditavam em outras contas, por assim
dizer, fornecendo-lhes recursos. Pelos meados do séc. XIV, os algarismos arábicos
passam, cada vez mais, a ser utilizados nos registros contábeis, logo deixando de
lado os números romanos e a escrituração narrativa. Em 1366, os cambistas de
Bruges passaram a dispor o Ativo e o Passivo em colunas paralelas, lado a lado,
disposição essa que, muito provavelmente, copiaram dos italianos, já que, em
Florença, tal método de disposição do Ativo e do Passivo era conhecido como DOOD
YHQH]LDQD (“ao modo de Veneza”). Pelos finais do séc. XIV, a escrituração em
partidas dobradas já era comum na Itália do Norte e na Flandres.
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$1DFLRQDOLGDGHGDV3HVVRDV-XUtGLFDV
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possível que uma pessoa jurídica possua várias nacionalidades, ou nenhuma, tendo
em vista os diferentes critérios que os vários Estados podem utilizar para fixar a
nacionalidade. Igualmente à luz desse princípio, um determinado Estado pode
reconhecer a uma sociedade nacionalidade estrangeira, o que é algo extremamente
interessante, e que não ocorre no caso das pessoas físicas. O Estado “X” pode
definir quem é cidadão desse país, mas não pode atribuir a determinada pessoa
uma outra nacionalidade; ele dirá apenas se alguém é ou não cidadão de “X”; tem
liberdade, tem autoridade, tem soberania, para definir, do modo que julgar mais
conveniente, a quem concederá a cidadania; no caso de uma empresa, contudo,
dependendo das circunstâncias, o Estado “X” pode não apenas decidir se
determinada empresa tem ou não a nacionalidade de “X”, mas, igualmente, TXH
QDFLRQDOLGDGH a empresa possui.
2&ULWpULRGD,QFRUSRUDomRRX&RQVWLWXLomRRX6HGH
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personalidade jurídica, é um ente fictício, que somente existe ao abrigo da lei (teoria
dita “da ficção”, e cujo principal representante foi Friedrich Karl von Savigny,
professor em Berlim e membro do Instituto de França; suas considerações a respeito
da personalidade jurídica encontram-se no 8º e último volume de sua obra 6\VWHP
GHV KHXWLJHQ 5|PLVFKHQ 5HFKWV, “Sistema do Direito Romano Atual”, de 1849).
Sendo um ente fictício, cuja existência liga-se umbilicalmente a um ordenamento
jurídico, a existência de uma empresa prende-se indelevelmente ao local onde se
constituiu, onde foi incorporada (isto é, onde ganhou corpo, onde passou a existir
dentro do ordenamento jurídico). O Reino Unido e os Estados Unidos, com seus
respectivos matizes, seguem, em linhas gerais, esse critério.
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³,W LV YHU\ WUXH WKDW D FRUSRUDWLRQ FDQ KDYH QR OHJDO H[LVWHQFH RXW RI WKH
ERXQGDULHV RI WKH VRYHUHLJQW\ E\ ZKLFK LW LV FUHDWHG ,W H[LVWV RQO\ LQ
FRQWHPSODWLRQRIODZDQGE\IRUFHRIWKHODZDQGZKHQWKDWODZFHDVHVWR
RSHUDWHDQGLVQRORQJHUREOLJDWRU\WKHFRUSRUDWLRQFDQKDYHQRH[LVWHQFH
,W PXVW GZHOO LQ WKH SODFH RI LWV FUHDWLRQ DQG FDQQRW PLJUDWH WR DQRWKHU
VRYHUHLJQW\´
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³$ FRUSRUDWLRQ FUHDWHG E\ ,QGLDQD FDQ WUDQVDFW EXVLQHVV LQ 2KLR RQO\ ZLWK
WKH FRQVHQW H[SUHVV RU LPSOLHG RI WKH ODWWHU 6WDWH 7KLV FRQVHQW PD\ EH
DFFRPSDQLHGE\VXFKFRQGLWLRQVDV2KLRPD\WKLQNILWWRLPSRVHDQGWKHVH
FRQGLWLRQVPXVWEHGHHPHGYDOLGDQGHIIHFWXDOE\RWKHU6WDWHVDQGE\WKLV
FRXUW SURYLGHG WKH\ DUH QRW UHSXJQDQW WR WKH FRQVWLWXWLRQ RU ODZV RI WKH
8QLWHG 6WDWHV RU LQFRQVLVWHQW ZLWK WKRVH UXOHV RI SXEOLF ODZ ZKLFK VHFXUH
WKHMXULVGLFWLRQDQGDXWKRULW\RIHDFK6WDWHIURPHQFURDFKPHQWE\DOORWKHUV
RU WKDW SULQFLSOH RI QDWXUDO MXVWLFH ZKLFK IRUELGV FRQGHPQDWLRQ ZLWKRXW
RSSRUWXQLW\IRUGHIHQVH´
³$FRUSRUDWLRQFDQQRWFKDQJHLWVUHVLGHQFHRULWVFLWL]HQVKLS,WFDQKDYHLWV
OHJDOKRPHRQO\DWWKHSODFHZKHUHLWLVORFDWHGE\RUXQGHUWKHDXWKRULW\RI
LWV FKDUWHU EXW LW PD\ E\ LWV DJHQWV WUDQVDFW EXVLQHVV DQ\ZKHUH XQOHVV
SURKLELWHG E\ LWV FKDUWHU RU H[FOXGHG E\ ORFDO ODZV 8QGHU VXFK
FLUFXPVWDQFHV LW VHHPV FOHDU WKDW LW PD\ IRU WKH SXUSRVH RI VHFXULQJ
EXVLQHVVFRQVHQWWREHµIRXQG¶DZD\IURPKRPHIRUWKHSXUSRVHRIVXLWDV
WRPDWWHUVJURZLQJRXWRILWVWUDQVDFWLRQV´
Uma empresa que tenha sido incorporada (constituída) fora dos Estados
Unidos é denominada DOLHQFRUSRUDWLRQ; ela é considerada FLGDGmdo país onde foi
constituída; a ela se aplicam todos os princípios discriminados anteriormente, com o
detalhe adicional de que é considerada residente, para fins processuais, em
qualquer Estado da federação norte-americana no qual possua escritório ou realize
negócios.
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que comercializasse com inimigos, passaria a ser considerada como inimiga. Essa
legislação permaneceu em vigor mesmo depois da guerra.
2&ULWpULRGD6HGH6RFLDORX5HDO
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2&ULWpULRGR&RQWUROHRXGD1DFLRQDOLGDGHGRV6yFLRVHRX$GPLQLVWUDGRUHV
Deve-se notar que, até à Primeira Guerra Mundial, o critério do controle foi
muito pouco utilizado; esse conflito bélico, e, mais especialmente, a Segunda Guerra
Mundial, com os seus imperativos de segurança nacional e a necessidade real de se
identificarem as sociedades controladas por potências inimigas, as quais podiam
atuar como “quintas colunas” e comprometer o esforço de guerra, em muito
contribuíram para a emergência desse critério, o qual manteve influência mesmo
após cessadas as hostilidades. Assim, por exemplo, o art. 297 do Tratado de
Versalhes (1919) autorizou as potências aliadas a liqüidar e a dispor dos bens das
sociedades que, domiciliadas em qualquer uma delas, estivessem controladas por
capitais alemães; mesmo no Brasil, as empresas de súditos das potências do Eixo
foram expropriadas, sendo sua direção entregue a brasileiros. Analisar-se-á, a partir
de agora, a influência do critério do controle na França, no Reino Unido e nos
Estados Unidos, a partir das duas conflagrações mundiais, e em que grau
permaneceram ou influenciaram seus ordenamentos jurídicos após a cessação das
hostilidades.
Na França, logo após o início das hostilidades, foi baixado um decreto pelo
Executivo, aos 27 de setembro de 1914, que: D proibia o comércio com súditos ou
residentes da Alemanha e da Monarquia Dual Austro-Húngara, proibindo igualmente
que súditos ou residentes desses Estados comerciassem em território sujeito à
autoridade francesa, mesmo que por pessoa interposta (art. 1º); E considerava nulo
qualquer contrato concluído após o início das hostilidades com súditos ou residentes
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desses países, até ao fim da guerra (art. 2º); F considerava nula, até ao fim das
hostilidades, a execução de qualquer obrigação derivada de contratos concluídos
com o inimigo, mesmo que tivessem sido celebrados antes do início das hostilidades
(art. 3º). Apesar desse decreto referir-se apenas a pessoas físicas (súditos ou
residentes), foi logo interpretado pelos tribunais franceses como referente também a
pessoas jurídicas. Indo além, os juristas utilizaram a figura da “pessoa interposta”
presente no decreto para aplicar as suas disposições às sociedades que, não
obstante fossem consideradas francesas, por possuírem sede social na França,
exibiam, quer entre os sócios, quer entre os administradores, súditos dos, ou
residentes nos, Estados com os quais a França se encontrava em beligerância.
Desse modo, as sociedades eram consideradas como formalmente francesas (por
possuírem sede social na França), mas, sendo controladas e/ou administradas por
inimigos, tenderiam fatalmente a favorecer os interesses inimigos, não mais se
constituindo, em realidade, do que em meras pessoas interpostas, servindo apenas
para que súditos inimigos comerciassem na França, burlando o espírito da lei.
Com efeito, foi sendo elaborada toda uma construção doutrinária e, mesmo,
jurisprudencial, a qual assevera cindir-se a nacionalidade em dois aspectos: o
primeiro deles define qual a lei aplicável para o funcionamento da sociedade (critério
da sede social, definindo a nacionalidade da empresa e o ordenamento jurídico ao
qual teria de se submeter), ao passo que o segundo disciplina determinados
aspectos do funcionamento da sociedade, tendo em vista a existência de atividades
vedadas aos estrangeiros, no interesse nacional (critério do controle, definindo o
escopo possível das atividades da companhia, tendo em vista o resguardo dos
interesses nacionais). Na prática, essa tendência vem tendo ocmo resultado dividir
as sociedades consideradas de nacionalidade francesa em dois grupos: um de
sociedades plenamente francesas, e outro de sociedades que não gozam de todos
os privilégios concedidos às primeiras, em razão do controle.
45
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³)RUWKHSXUSRVHRIWKLV$FWDSHUVRQVKDOOEHGHHPHGWR KDYHWUDGHGZLWK
WKHHQHP\LIKHKDVHQWHUHGLQWRDQ\WUDQVDFWLRQRUGRQHDQ\DFWZKLFKZDV
DW WKH WLPH RI VXFK WUDQVDFWLRQ RU DFW SURKLELWHG E\ RU XQGHU DQ\
SURFODPDWLRQLVVXHGE\+LV0DMHVW\GHDOLQJZLWKWUDGLQJZLWKWKHHQHP\IRU
WKHWLPHEHLQJLQIRUFHRUZKLFKDWFRPPRQODZRUE\VWDWXWHFRQVWLWXWHVQD
RIIHQFH RI WUDGLQJ ZLWK WKH HQHP\ SURYLGHG WKDW DQ\ WUDQVDFWLRQ RU DFW
SHUPLWWHG E\ RU XQGHU DQ\ VXFK SURFODPDWLRQ VKDOO QRW EH GHHPHG WR EH
WUDGLQJZLWKWKHHQHP\´
46
6HPDQDGH&RQWDELOLGDGHGR%DQFR&HQWUDOGR%UDVLO 47
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2&DVR%UDVLOHLUR
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novembro de 1917, chegou mesmo a ser draconiana: estatuía em seu art. 6º que “os
estabelecimentos comerciais ou industriais, associações, sociedades, inclusive as
anônimas, bancos, usinas ou armazéns, serão considerados de propriedade inimiga
sempre que a totalidade do respectivo capital, ou a sua maior parte, pertencer a
súditos inimigos, qualquer que seja a respectiva sede, no Brasil ou no estrangeiro”.
Isso significaria uma aceitação total do critério do controle, mas o entendimento
posterior foi o de que a citada lei tratava não da nacionalidade das companhias, mas
simplesmente da definição de seu caráter de inimiga.
$UW$VVRFLHGDGHVDQ{QLPDVHVWUDQJHLUDVDXWRUL]DGDVDIXQFLRQDUVmR
REULJDGDV D WHU SHUPDQHQWHPHQWH UHSUHVHQWDQWHV QR %UDVLO FRP SOHQRV
SRGHUHV SDUD WUDWDU GH TXDLVTXHU TXHVW}HV H UHVROYrODV GHILQLWLYDPHQWH
SRGHQGR VHU GHPDQGDGR H UHFHEHU FLWDomR LQLFLDO SHOD VRFLHGDGH
3DUiJUDIR ÒQLFR 6y GHSRLV GH DUTXLYDGR QR 5HJLVWUR GR &RPpUFLR R
LQVWUXPHQWR GH VXD QRPHDomR SRGHUi R UHSUHVHQWDQWH HQWUDU HP UHODomR
FRPWHUFHLURV
48
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$UW$VRFLHGDGHDQ{QLPDHVWUDQJHLUDDXWRUL]DGDDIXQFLRQDUQRSDtV
SRGH PHGLDQWH DXWRUL]DomR GR *RYHUQR )HGHUDO QDFLRQDOL]DUVH
WUDQVIHULQGRDVXDVHGHSDUDR%UDVLO
49
6HPDQDGH&RQWDELOLGDGHGR%DQFR&HQWUDOGR%UDVLO 50
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$1DFLRQDOLGDGHFRPR3HUFHSomRGR0HUFDGR
50
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Tal “ente” (e trata-se de um ente, já que existe, embora não se tenha ainda
corporificado – eis aí mais uma entidade sem personalidade...) opera por consenso,
mas é dotado de uma percepção da realidade que, de longe, ultrapassa a de
qualquer instituição, ou mesmo governo, mercê da estupenda interligação dos
mercados e do espantoso desenvolvimento das tecnologias de informação e de
previsão. Lida corriqueira e quotidianamente com uma imensidade de dados, os
quais rápida e rotineiramente organiza numa enorme quantidade de informações. É,
assim, perfeitamente capaz de atribuir, se quiser, nacionalidade às pessoas
jurídicas; e há de querer, porque, mesmo sendo supra e transnacional, a percepção
da maioria das pessoas que o compõem ainda é moldada por ordenamentos
jurídico-político-ideológicos de índole nacional; de tal herança não se escapa
facilmente, como as guerras e os preconceitos dos dias atuais tão tristemente
confirmam.
2V/LPLWHVj3HUVRQDOLGDGH-XUtGLFD
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/LPLWHV,QWUtQVHFRVj3HUVRQDOLGDGH-XUtGLFD
³6HPSUH TXH XPD RX PDLV HPSUHVDV WHQGR HPERUD FDGD XPD GHODV
SHUVRQDOLGDGH MXUtGLFD SUySULD HVWLYHUHP VRE D GLUHomR FRQWUROH RX
DGPLQLVWUDomR GH RXWUD FRQVWLWXLQGR JUXSR LQGXVWULDO FRPHUFLDO RX GH
TXDOTXHU RXWUD DWLYLGDGH HFRQ{PLFD VHUmR SDUD RV HIHLWRV GD UHODomR GH
52
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HPSUHJRVROLGDULDPHQWHUHVSRQViYHLVDHPSUHVDSULQFLSDOHFDGDXPDGDV
VXERUGLQDGDV´
$UW (VWD /HL GLVS}H VREUH D SUHYHQomR H D UHSUHVVmR DV LQIUDo}HV
FRQWUD D RUGHP HFRQ{PLFD RULHQWDGD SHORV GLWDPHV FRQVWLWXFLRQDLV GH
OLEHUGDGHGHLQLFLDWLYDOLYUHFRQFRUUrQFLDIXQomRVRFLDOGDSURSULHGDGH
GHIHVD GRV FRQVXPLGRUHV H UHSUHVVmR DR DEXVR GR SRGHU HFRQ{PLFR
3DUiJUDIRÒQLFR$FROHWLYLGDGHpDWLWXODUGRVEHQVMXUtGLFRVSURWHJLGRV
SRUHVWD/HL
$UW $SOLFDVH HVWD /HL VHP SUHMXt]R GH FRQYHQo}HV H WUDWDGRV GH
TXHVHMDVLJQDWiULRR%UDVLOjVSUDWLFDVFRPHWLGDVQRWRGRRXHPSDUWH
QRWHUULWyULRQDFLRQDORXTXHQHOHSURGX]DPRXSRVVDPSURGX]LUHIHLWRV
3DUiJUDIR ÒQLFR 5HSXWDVH VLWXDGD QR 7HUULWyULR 1DFLRQDO D HPSUHVD
HVWUDQJHLUD TXH RSHUH RX WHQKD QR %UDVLO ILOLDO DJHQFLD VXFXUVDO
HVFULWyULRHVWDEHOHFLPHQWRDJHQWHRXUHSUHVHQWDQWH
$UW (VWD /HL DSOLFDVH jV SHVVRDV ItVLFDV RX MXUtGLFDV GH GLUHLWR
S~EOLFRRXSULYDGREHPFRPRDTXDLVTXHUDVVRFLDo}HVGHHQWLGDGHVRX
SHVVRDVFRQVWLWXtGDVGHIDWRRXGHGLUHLWRDLQGDTXHWHPSRUDULDPHQWH
FRPRXVHPSHUVRQDOLGDGHMXUtGLFDPHVPRTXH H[HUoDPDWLYLGDGHVRE
UHJLPHGHPRQRSyOLROHJDO
53
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$UW$VGLYHUVDVIRUPDVGHLQIUDomRGDRUGHPHFRQ{PLFDLPSOLFDPD
UHVSRQVDELOLGDGH GD HPSUHVD H D UHVSRQVDELOLGDGH LQGLYLGXDO GH VHXV
GLULJHQWHVRXDGPLQLVWUDGRUHVVROLGDULDPHQWH
$UW$SHUVRQDOLGDGHMXUtGLFDGRUHVSRQViYHOSRULQIUDomRGDRUGHP
HFRQ{PLFD SRGHUi VHU GHVFRQVLGHUDGD TXDQGR KRXYHU GD SDUWH GHVWH
DEXVRGHGLUHLWRH[FHVVRGHSRGHULQIUDomRGDOHLIDWRRXDWRLOtFLWRRX
YLRODomR GRV HVWDWXWRV RX FRQWUDWR VRFLDO $ GHVFRQVLGHUDomR WDPEpP
VHUi HIHWLYDGD TXDQGR KRXYHU IDOrQFLD HVWDGR GH LQVROYrQFLD
HQFHUUDPHQWR RX LQDWLYLGDGH GD SHVVRD MXUtGLFD SURYRFDGRV SRU PD
DGPLQLVWUDomR
$'LVVRFLDomRHQWUH$FLRQLVWDVH$GPLQLVWUDGRUHVQDV6RFLHGDGHVGH&DSLWDO
54
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sua responsabilidade ao montante das ações por eles adquiridas (art. 1º da lei
6.404/76). É, aliás, essa característica que lhe justifica o nome “anônima”. Numa
sociedade anônima, muito mais importantes para a condução dos negócios são os
administradores e fiscais, e suas responsabilidades são, assim, proporcionalmente
elevadas. Deve-se notar, contudo, que a distinção entre acionistas e
administradores, embora a razão de ser da sociedade anônima, não impede que
acionistas sejam membros da administração; nesse caso, suas responsabilidades
serão as dos administradores.
55
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$5HVSRQVDELOLGDGH/LPLWDGDGRV6yFLRVFRPR&RQFHVVmR(VSHFLDOGR(VWDGR
QDV6RFLHGDGHVGH3HVVRDV
$EXVRVGD3HUVRQDOLGDGH-XUtGLFD
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suas características operacionais do que por qualquer maldade intrínseca, podem vir
a se utilizar do instituto da personalidade jurídica para fins não previstos no
ordenamento jurídico. Quanto a isso, os abusos a serem analisados são,
usualmente, de três tipos.
3ULPHLUR7LSRGH$EXVRRX$EXVR,QWUtQVHFR
D)RUPD&RQVWLWXWLYDFRPR,UUHDOLGDGH
57
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6HJXQGR7LSRGH$EXVRRX$EXVR2SHUDFLRQDO&RQJORPHUDGRVH
3DUWLFLSDo}HVFRPR/DELULQWRVVHP6DtGDV
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6HPDQDGH&RQWDELOLGDGHGR%DQFR&HQWUDOGR%UDVLO 59
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mais de 10% (dez por cento) elas mesmas, ou quaisquer dos diretores ou
administradores da própria instituição financeira, bem como seus cônjuges e
respectivos parentes, até ao segundo grau. O art. 17 da lei 7.492/86 define como
um dos crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (com pena de reclusão de dois
a seis anos, e multa) tomar ou receber, qualquer das pessoas mencionadas no art.
25 daquela lei, direta ou indiretamente, empréstimo ou adiantamento, ou deferi-lo a
controlador, a administrador, a membro de conselho estatutário, aos respectivos
cônjuges, aos ascendentes ou descendentes, a parentes na linha colateral até ao
segundo grau, consangüíneos ou afins, ou a sociedade cujo controle seja por ela
exercido, direta ou indiretamente, ou por qualquer dessas pessoas; o art. 25,
adicionalmente, assevera que são penalmente responsáveis o controlador e os
administradores de instituição financeira, assim considerados os diretores e
gerentes, e que se equiparam aos administradores de instituição financeira o
interventor, o liqüidante ou o síndico.
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Tal definição é por demais clara, tendo sido, inclusive, objeto de estudo de
trabalho anterior. Deve-se notar que os contornos de atuação dados à supervisão
bancária pelo COSIF 1.21, no que se refere a Conglomerados, são abrangentes
tanto no tipo de instituição (conforme se depreende da definição acima) quanto na
área geográfica; de fato, o COSIF 1.21.1.4, reportando-se ao art. 8º da Circular
2.397/93 e ao art. 2º da Circular 2.571/95, estabelece que “... as demonstrações do
consolidado operacional devem ser elaboradas incluindo dependências e
participações societárias em instituições financeiras, subsidiárias e controladas, no
país e no exterior”. Como principal fonte de informações a esse respeito, dispõe a
supervisão bancária do item 17 do Anexo II da Circular 2.502/94. Tal item obriga,
para os casos de permissão de funcionamento de nova instituição financeira,
transferência de controle acionário, fusão, cisão ou incorporação, que seja informada
à autoridade monetária a existência de participação societária do(s) controlador(es)
e/ou administradores em outras empresas, quando superior a 10% (dez por cento)
do capital votante. A abrangência de tal item é geral, ou seja, compreende, para
cada controlador ou administrador, as participações tanto no país quanto no exterior.
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complexas estruturas com o fito de fraude à lei. Quanto a isso, a situação torna-se
mais complexa, mas, ao mesmo tempo, infinitamente mais fascinante e digna de
aprofundados estudos, quando partes do Conglomerado encontram-se no
estrangeiro, isto é, potencialmente fora do alcance das medidas profiláticas da
autoridade monetária brasileira e beneficiando-se, muitas vezes, de concessão de
nacionalidade alienígena pelo critério da incorporação; tal situação será analisada no
item a seguir.
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Tal tipo de abuso vem se tornando mais freqüente, devido à dificuldade que
as supervisões bancárias possuem, no mundo todo, de detectá-lo e, detectando-o,
suprimi-lo. De fato, não se estendendo a autoridade do Estado além de suas
fronteiras, sua mão não poderia alcançar empresas constituintes de Conglomerados
que se situassem no exterior. Se uma dessas empresas pudesse estabelecer-se
num país cujo critério para determinação da nacionalidade fosse a incorporação, e
se as leis desse país proibissem a abertura, para quaisquer autoridades
estrangeiras, das informações referentes às suas captações e aplicações, ter-se-ia
ela transformado, legalmente, numa inacessível “caixa preta”. Países que registram
empresas nesses termos são usualmente conhecidos como “paraísos fiscais”.
Note-se que, no exemplo acima citado, há, teoricamente, duas empresas, “A”
e “B”, de nacionalidades distintas e de distintas personalidades jurídicas, regidas
inclusive por leis distintas. Na prática, o que existe é um mero braço de “A”
incorporado em “X”, mas sequer aí presente (usualmente sua presença em “X”
restringe-se a uma caixa-postal e a um procurador local), cuja única função, além de
se beneficiar de eventuais incentivos fiscais, é acobertar uma série de operações
ilícitas à luz da legislação brasileira, ou lesivas ao interesse nacional. Um outro
aspecto, mais terrível, dessa situação diz respeito à proveniência dos recursos de
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“B”: não sendo objeto de investigação por parte da autoridade monetária brasileira,
não há sequer como validar a sua proveniência.
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ou outros ilícitos praticados em nome da instituição. Tal instituto não anula, nem
extingue, uma pessoa jurídica, mas apenas trata-a como se não existisse, e isso
apenas no limite necessário para que sejam extintas fraudes, ou remediadas
injustiças.
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01. O instituto da pessoa jurídica não é uma criação teórica H[QLKLOR, mas
o resultado de uma lenta evolução, na qual sempre estiveram presentes as
necessidades do bem comum; pode ser considerado, com muito mais acerto, como
uma concessão do Estado que objetiva incentivar o crescimento econômico e
promover o bem-estar da sociedade.
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tem a possibilidade de atribuir nacionalidade a uma empresa que nele atue, devendo
guiar-se, quanto a isso, por critérios de racionalidade econômica, atribuindo uma
única nacionalidade a cada empresa. As recentes crises, em que o governo
brasileiro sofreu descrédito por causa de empresas financeiras que, tecnicamente,
pelo critério da incorporação, não gozariam da nacionalidade pátria, fez ver que o
critério comumente utilizado pelo consenso do mercado é o da sede social,
mesclado com o do lugar da principal atividade econômica e com o do controle; mas
QXQFD o da incorporação.
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%LEOLRJUDILD
JONES, A. H. M., The Later Roman Empire, vol I e II, The Johns Hopkins
University Press, Baltimore, 1986
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