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A título introdutório desta reflexão, solicitada pela Professora Doutora Nora Cavaco,

no âmbito da disciplina de ADI, convém reforçar que a CIF veio revolucionar um modelo
puramente médico, para um modelo biopsicossocial e integrado da funcionalidade e
incapacidade humana. Deste modo, sintetiza o modelo médico e o modelo social numa visão
coerente das diferentes perspectivas de saúde, que são: a biológica, a individual e a social,
(CIF-OMS, 2001).
A CIF define a funcionalidade e incapacidade como conceitos multidimensionais e interactivos
que relacionam:
As Funções e Estruturas do Corpo da pessoa;
As actividades e as tarefas que a pessoa faz e as diferentes áreas da vida nas quais participam
(Actividades e Participação);
Os factores do meio-ambiente que influenciam essas experiências (Factores Ambientais).
A CIF operacionaliza o modelo biopsicosocial da incapacidade (disability), enfatizando a
identificação das experiências de vida e das necessidades reais de uma pessoa, assim como, a
identificação das características (físicas, sociais e atitudinais) do seu meio circundante e das
condições que precisam de ser alteradas para que a funcionalidade e participação dessa
pessoa possa ser optimizada.
Substitui, assim, os modelos tradicionais de cariz biomédica baseados em diagnósticos de
deficiências (aspectos biológicos), que ao longo dos anos foram condicionando a definição de
politicas, de medidas e critérios de elegibilidade, as acções de natureza estatística, os
programas e práticas interventivas.
A funcionalidade e incapacidade de uma pessoa são concebidas como uma interacção
dinâmica entre os estados de saúde (doenças, perturbações, lesões, etc.) e os factores
contextuais (factores ambientais e pessoais) (CIF, OMS, 2001). A incapacidade não é um
atributo da pessoa, mas sim um conjunto complexo de condições que resulta da interacção
pessoa-meio.
Por isso, a CIF não propõe uma definição universal do que constitui uma incapacidade
(disability) nem quem deve ser considerado como tendo uma incapacidade […], mas
estabelece uma estrutura multidimensional para definir a população com incapacidades e não
uma definição única e clara (Guidelines and Principles for the Development of Disability
Statistics – United Nations, 2001 ).
Decorrente do modelo biopsicosocial, a CIF tem como princípios orientadores:
a incapacidade não é especifica de um grupo minoritário, mas sim uma experiência humana
universal; a incapacidade não deve ser diferenciada em função da etiologia ou de diagnósticos.
Pessoas com a mesma etiologia e diagnóstico apresentam perfis muito diferentes a nível da
execução das Actividades e da Participação;
os domínios de classificação na CIF são neutros, permitindo expressar tanto os aspectos
positivos como negativos do perfil funcional e de participação de uma pessoa;
os Factores Ambientais assumem um papel crucial, como facilitadores ou barreiras, na
funcionalidade e incapacidade das pessoas.

Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

A CIF permite uma nova conceptualização das noções de saúde e incapacidade.

Para uma correcta compreensão do quadro conceptual e do sistema de classificação e de


codificação da CIF, quer das suas implicações politicas e sociais, importa ter bem presente qual
o significado para a OMS de alguns termos e conceitos-chave, a saber:

Funcionalidade - é o termo genérico ("chapéu") para as funções e estruturas do corpo,


actividades e participação. Corresponde aos aspectos positivos da interacção entre um
indivíduo (com uma condição de saúde) e os seus factores contextuais (ambientais e pessoais).
Incapacidade (disability) - é o termo genérico ("chapéu") para deficiências, limitações da
actividade e restrições na participação. Corresponde aos aspectos negativos da interacção
entre um indivíduo (com uma condição de saúde) e seus factores contextuais (ambientais e
pessoais).
O termo incapacidade introduzido pela CIF passou a ter um significado radicalmente diferente
daquele que tinha na classificação anterior de 1980, reportando-se apenas às limitações no
indivíduo. Enquanto que na ICIDH, incapacidade era definida como: qualquer restrição ou falta
(resultante de uma deficiência) da capacidade para realizar uma actividade dentro dos moldes
e limites considerados normais para um ser humano), com a CIF, incapacidade (disability) não
é jamais vista como uma mera consequência de uma deficiência (impairment, deficiency), mas
sim como o resultado da interacção da pessoa com o meio-ambiente.

Na CIF, o conceito de deficiência (impairment) apenas nos diz da existência ou não de uma
alteração (biomédica) na estrutura ou função do corpo da pessoa, sem que daí se possa
estabelecer uma relação causal para a sua funcionalidade/incapacidade.
Trata-se de uma profunda mudança conceptual que tem importantes implicações políticas e
sociais e que, por isso, requer que mudemos o sentido como estes termos e conceitos são
usados entre nós, quer no dia a dia quando falamos ou escrevemos, quer na investigação e
estudos científicos, nos serviços, sistemas legislativos e politicas.

Para saber mais veja a Introdução do I Plano de Acção para a Integração das Pessoas com
Deficiências ou Incapacidades (PAIPDI), pág. 13-22 (versão .pdf, 583 kb).

Recorda-se, também, que a OMS define saúde como um estado global de bem-estar físico,
mental e social e não a mera ausência de doença ou de enfermidade . Importa, assim, clarificar
o significado de certas expressões da CIF que incluem o termo saúde:

Condição de saúde – termo genérico ("chapéu") para doenças (agudas ou crónicas),


perturbações, lesões ou traumatismos (pode também incluir outras circunstâncias como
gravidez, envelhecimento, stress, anomalia congénita, ou predisposição genética). As
condições de saúde são codificadas através da CID-10.
Domínios da saúde referem-se às áreas de funcionalidade que são a principal responsabilidade
de um sistema de saúde, (ver, ouvir, recordar, força muscular, etc.). Os estados de saúde são o
nível de funcionalidade num determinado domínio de saúde.
Domínios relacionados com a saúde referem-se às áreas de funcionalidade que, embora
tenham uma relação com uma condição de saúde, não são uma responsabilidade do sistema
de saúde, mas sim de outros sectores (transporte, educação, trabalho, interacções sociais,
etc.). Os estados relacionados com a saúde são o nível de funcionalidade nestas mesmas áreas.

Os objectivos da CIF

A CIF tem como objectivo principal: proporcionar uma linguagem unificada e padronizada que
sirva como quadro de referência para a descrição da saúde e dos estados relacionados com a
saúde.

A CIF é uma ferramenta a utilizar universalmente na abordagem da incapacidade e


funcionalidade humana, proporcionando-nos:

um quadro conceptual de referência universal assente em bases científicas;


uma linguagem comum e padronizada para aplicação universal que uniformiza conceitos e
terminologias, de molde a facilitar a comunicação entre profissionais, investigadores, pessoas
com incapacidades, decisores políticos, etc.
um sistema de classificação multidimensional e de codificação sistemática para documentar as
experiências de vida, o perfil funcional e de participação das pessoas, facilitando a
comparabilidade entre países, entre várias disciplinas, entre serviços e em diferentes
momentos ao longo do tempo.
A CIF não é de forma alguma uma classificação de pessoas. Permite descrever as
características de cada pessoa em diferentes domínios e as características do seu meio físico e
social, seleccionando um conjunto de códigos que possa documentar da melhor forma possível
o seu perfil de funcionalidade e de participação.
A CIF não é um instrumento de avaliação ou de medida e não dispensa que os profissionais,
dentro das suas áreas de especialidade, adoptem procedimentos e utilizem instrumentos de
avaliação normalizados e fidedignos que evidenciem de forma rigorosa os diferentes domínios
em estudo, tomando como referência a CIF.

CIF - Perguntas frequentes


Existe uma versão portuguesa da CIF?

Existe desde 2003, a versão completa da CIF em língua portuguesa realizada pelo Centro
Colaborador da OMS para a Família de Classificações em Saúde da Universidade de S. Paulo no
Brasil, para a qual o Ministério da Saúde de Portugal prestou a sua colaboração.

Esta versão foi reconhecida pela OMS como a versão oficial em língua portuguesa e encontra-
se editada em livro:
“CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde” (Centro
Colaborador da OMS para a Família de Classificações Internacionais, org.; coordenação da
tradução Cassia Maria Buchalla); S. Paulo: Editora da Universidade de S. Paulo, 2003.

Porém, o Ministério da Saúde de Portugal obteve a autorização da OMS para disponibilizar


apenas em formato electrónico uma versão adaptada para Portugal.

A CIF é uma classificação que apenas se aplica ao sector da Saúde?


Não. O quadro conceptual, o sistema de classificação e os códigos da CIF são de aplicação
transversal em diferentes áreas disciplinares e sectores “ [...] saúde, educação, segurança
social, emprego, economia, politica social, desenvolvimento de politicas e de legislação em
geral e alterações ambientais”.

A CIF é um instrumento de avaliação das pessoas?

A CIF não é um instrumento de avaliação. Como sistema de classificação e de codificação, a CIF


é um meio para documentar e organizar a informação que se torna relevante para descrever a
natureza e a severidade das limitações funcionais da pessoa, as suas experiências de vida, bem
como, as características do meio circundante, de acordo com uma perspectiva holistica e
sistémica da pessoa (modelo biopsicosocial).

O uso da CIF pressupõe e não dispensa que cada profissional utilize previamente, numa
perspectiva interdisciplinar, procedimentos e instrumentos de avaliação padronizados e
congruentes com o quadro conceptual da CIF que permitam evidenciar a funcionalidade e
incapacidade da pessoa .

A CIF deverá ser o quadro de referência para a reformulação e construção de novos


instrumentos de avaliação consentâneos com o modelo subjacente e particularmente,
direccionados para a avaliação funcional da pessoa, com especial enfoque nas actividades e
participação. Tem sido também evidenciada a necessidade de construção de instrumentos de
avaliação dos factores ambientais.

A CIF é um sistema que permite a classificação das pessoas?

Não. A CIF não é de forma alguma uma classificação de pessoas, nem estabelece um
diagnóstico. Ela permite descrever os níveis de funcionalidade das pessoas de uma forma
multidimensional e interactiva, com base nas características de cada pessoa e nas
características do seu meio circundante (físico, pessoal e social), seleccionando para o efeito
um conjunto de códigos que possa documentar da melhor forma possível o seu perfil de
funcionalidade e de participação.
A OMS alerta-nos para que “a CIF nunca deve ser utilizada para rotular as pessoas ou
identificá-las apenas em termos de uma ou mais categorias de incapacidade ” (CIF – OMS,
2001).

A CIF-CJ preconiza uma mudança de paradigma na conceção da incapacidade, proporcionando


um sistema de classificação e um quadro de referência teórico alternativo aos modelos
exclusivamente médicos ou sociais – uma abordagem funcional. Esta nova conceção da
incapacidade coaduna-se com as abordagens contextualistas do desenvolvimento humano.
Com o objetivo de proporcionar evidência científica relativamente à aplicabilidade da CIF-CJ no
processo de avaliação-intervenção de crianças com incapacidade em idade pré-escolar, são
apresentados os quatro estudos: (1) a análise de planos educativos individualizados de
crianças com autismo, (2) a ligação de instrumentos de avaliação com a taxonomia da CIF-
CJ;(3) o desenvolvimento de um conjunto de códigos-chave da CIF-CJ para o autismo e (4)
desenvolvimento da Matriz de Avaliação das Atividades e Participação: ênfase na
funcionalidade, para além do diagnóstico.

Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) (clique para ver o


documento), da responsabilidade da Organização Mundial de Saúde (OMS), tal como o nome
indica, permite classificar o desempenho e a (in)capacidade, descrevendo a situação do
indivíduo no contexto dos factores ambientais e pessoais. No âmbito da saúde, define os
componentes da saúde e alguns componentes do bem-estar relacionados com a saúde (como
a educação e o trabalho). Nela, encontramos domínios descritos com base na perspectiva do
corpo, do indivíduo e da sociedade e, na sua qualidade de “classificadora”, ao agrupar
diferentes domínios, descreve o que um indivíduo com uma doença ou perturbação faz ou
pode fazer.

A funcionalidade integra as funções do corpo, actividades e participação. A (in)capacidade


inclui deficiências, limitação de actividades ou restrição na participação. Porém, uma vez que a
CIF relaciona os factores pessoais e ambientais (contextos em que o indivíduo vive), que
interagem com as funções do corpo, as actividades e a participação, é possível descrever perfis
de funcionalidade, (in)capacidade e saúde dos indivíduos em vários domínios e sob uma
perspectiva muito abrangente. Por essa razão, tem vindo a tornar-se um instrumento
organizador, estruturante e integrador da informação.
Contrariamente ao que de forma superficial se pode deduzir, a CIF não define ou descreve as
condições do indivíduo pela negativa, ainda que classifique o seu grau de incapacidade.
Através da análise integrada dos dados recolhidos através da CIF, podemos relacionar o
desempenho de qualquer indivíduo com o nível de envolvimento numa situação da vida real,
as dificuldades que pode ter na execução de uma actividade, os problemas que pode enfrentar
aquando do seu envolvimento em situações da vida real, o ambiente físico, social e atitudinal
em que vive, e as condições gerais de saúde que se podem ou não traduzir por problemas
(deficiências), limitação de actividade ou restrição de participação. Deste modo, tal como
referi antes, o indivíduo é descrito não só relativamente ao que faz mas ao que pode ou é
capaz de fazer.

No que diz respeito à sua aplicação na educação, a CIF permite, melhor do que nunca, uma
descrição do aluno numa perspectiva transversal às suas condições de saúde (deficiências), de
actividade, participação e socioeconómicas. A junção dos factores físicos e/ou fisiológicos, com
os factores pessoais e ambientais, possibilita uma avaliação através de uma abordagem
ecológica e integrada no percurso de vida do aluno.

A utilização da CIF em contexto escolar permite perceber a importância de utilizarmos os


qualificadores adequados para uma representação tanto quanto possível fiel, do aluno em
avaliação. Por exemplo, as funções do corpo são codificadas com um qualificador que classifica
a gravidade da deficiência ou dos problemas, mas se alargarmos às estruturas do corpo,
poderemos utilizar até três qualificadores (da extensão, da natureza e da localização da
deficiência).

No caso da actividade e participação, são utilizados qualificadores de desempenho e de


capacidade na matriz de informação padrão, ainda que se possam utilizar, opcionalmente,
mais dois qualificadores que permitem codificar a capacidade com auxílio e desempenho sem
auxílio. Através da utilização dos qualificadores de forma tão discriminada é possível obter um
registo de avaliação mais fino e claro do perfil de funcionalidade e (in)capacidade de um
indivíduo, neste caso, do aluno.

Finalmente, devo referir que a utilização da CIF deverá ser feita, especialmente no âmbito da
educação, em conjunto com a CIF-CJ, uma vez
que esta desmembra, de acordo com as necessidades dos mais jovens, os componentes
descritos no 'documento-mãe'.
Mais uma vez refiro, este é um documento de trabalho e deverá ser utilizado como tal, ficando
sujeito a melhoramentos que derivam da reflexão conjunta de todos os técnicos envolvidos,
sejam da área da saúde, da educação ou da política social, e que se traduzirão numa cada vez
melhor descrição dos componentes de funcionalidade (desempenho e capacidade), de
incapacidade e das implicações que os diferentes contextos têm sobre os indivíduos.

Mas que relação encontramos entre a CIF e Inclusão? Parece-me que através da descrição da
situação dos alunos, nos contextos ambientais e pessoais, analisando e avaliando a implicação
que estes têm sobre aqueles, estaremos em melhores condições quer para os incluir quer para
os fazer sentirem-se incluídos.

Considerações finais

A CIF é um sistema classificativo que permite ser aplicado transectorialmente, tendo um


potencial e utilidade epidemiológica orientados para a decisão em Saúde Pública. Oferece a
possibilidade de se realizarem recolhas de informação sistematizadas, graças à sua taxonomia
universal, que se estende a todos os indivíduos, facilitando a comunicação e a tomada de
decisão. Finalmente, mas não menos importante, estabelece um paradigma que focaliza a
funcionalidade como um sistema de múltiplos sistemas que se cruzam e interagem em
constante mutação, num modelo biopsicossocial, que se centra na saúde, privilegiando a
capacidade e o desempenho, ao invés de se centrar nas deficiências, limitações ou restrições.

A CIF não é uma classificação de pessoas. Permite descrever as características do indivíduo em


diferentes domínios e as características do seu meio físico e social, seleccionando um conjunto
de códigos que documenta, o seu perfil de funcionalidade e de participação.

A CIF não é um instrumento de avaliação ou de medida e por isso não dispensa a adopção de
procedimentos e a utilização de instrumentos de avaliação normalizados e fidedignos que
evidenciem de forma rigorosa os diferentes domínios em estudo, tomando como referência os
seus constructos e os seus domínios da funcionalidade. Esta conceptualização, oferece a
criatividade e a orientação científica para o estudo e a criação de modelos do binómio
funcionalidade/incapacidade, mas oferece sobretudo a possibilidade de ultrapassarmos a sua
base classificativa, para estruturarmos uma base instrumental de medida e resultados.
Desta forma, o modelo da CIF merece ser investigado nas suas dimensões sociais, políticas e
culturais, constituindo um desafio para todos, no sentido de explorar a sua aceitabilidade,
validade e impacto nos diferentes sistemas, mas sobretudo explorando o seu potencial na
renovação de políticas mais inclusivas e equitativas.

No dia 22 de Fevereiro de 2014 tive a oportunidade de assistir a uma aula aberta


subordinada ao tema: As Necessidades Educativas Especiais numa Abordagem à CIF, no âmbito
do Curso de Pós-Graduação/Especialização em Educação Especial: Domínio Cognitivo e Motor,
particularmente dirigida aos profissionais e técnicos de psicologia e de educação, promovidas
pelo CICEF.
A palestrante, Doutora Sandra Correia, doutorada em Necessidades Educativas
Especiais e especialista na interpretação e aplicação de um recurso essencial a nível educativo:
CIF partilhou connosco a sua vasta experiência nesta matéria.
Na minha opinião, foi uma manhã muito proveitosa, pois desconhecia vários aspetos
relacionados com a CIF-CJ (Classificação Internacional da Funcionalidade: Crianças e Jovens),
da responsabilidade da Organização Mundial de Saúde (OMS). A OMS debruçou-se sobre a
especificidade dos períodos da infância e da adolescência e propôs a elaboração de uma
versão da CIF para crianças e jovens (CIF-CJ), que aborda as caraterísticas dos diferentes
grupos etários e dos contextos mais significativos das crianças e jovens. A Classificação
Internacional de Funcionalidade Incapacidade e Saúde – versão para crianças e jovens (CIF-CJ)
foi lançada pela OMS em Outubro de 2007. Convém referir que ainda não está totalmente
traduzida em Língua Portuguesa.
A CIF-CJ permite-nos uma abordagem sistémica, ecológica e interdisciplinar que
permite descrever o nível de funcionalidade e incapacidade dos alunos, bem como identificar
os factores ambientais que constituem barreiras ou facilitadores. Pude constatar que é um
óptimo instrumento de trabalho, que nos permite planificar e organizar ideias e decisões
tendo em conta critérios de classificação internacionais. Na CIF-CJ é utilizada uma linguagem
quase universal, que permite uma compreensão e interpretação uniformes, para que a equipa
multidisciplinar trabalhe como um todo e de forma a atingir, de forma consensual, os
objectivos a que se propõe. Compreendi que esta classificação deve ter como objectivo a
detetar o desenvolvimento do potencial biopsicossocial das crianças e jovens com o intuito de
os poder ajudar na sua integração na família, na escola e na sociedade.
Pela abordagem feira pela Doutora Sandra Correia, compreendi que a utilização deste
quadro de referência permite uma avaliação abrangente e dinâmica da funcionalidade e,
consequentemente, a introdução das necessárias adequações no processo de ensino e de
aprendizagem direccionadas quer para o desenvolvimento das capacidades do aluno, quer
para a introdução de alterações nos seus contextos de vida incluindo o contexto escolar, o que
se torna extremamente importante.
Ao deparar-me com checklist da CIF-CJ, confesso que fiquei um pouco «assustada»,
contudo apercebi-me que é apenas um instrumento de trabalho que nos permite organizar os
dados de avaliação e cruzar os contributos dos vários intervenientes, não sendo, de todo, um
somatório de informações caracterizado pela rigidez de letras e de números, ou seja, não se
resume a um resultado meramente informativo. Assim sendo, a sua utilização apenas fará
sentido se for construída e utilizada no âmbito de um trabalho interdisciplinar, em que os
vários profissionais pertencentes à mesma equipa possam partilhar opiniões e chegar a
conclusões direcionadas para no mesmo fim. Só com a existência de um trabalho
interdisciplinar é que faz sentido a utilização da checklist. Nesta perspetiva, concluo que a
supracitada checklist não deve ser utilizada para recolher dados isolados e tão pouco deve ser
enviada para serviços de saúde, para profissionais ou encarregados de educação com o
objectivo de ser preenchida. Durante a palestra, ficou claro que a decisão da seleção dos
alunos para a educação especial e das medidas de apoio definidas no Programa Educativo
Individual é da responsabilidade da direcção da escola, à qual os alunos pertencem e não dos
serviços ou profissionais de saúde.
É importante referir que de início fiquei com a ideia que a CIF-CF, no âmbito das
necessidas educativas especiais, baseava-se em grande parte num modelo médico. No
entanto, após ter ouvido a Doutora Sandra Correia, percebi que contrariamente a outras
classificações da OMS, destinadas a ser utilizadas apenas pelo sector da saúde, a CIF é uma
classificação passível de ser utilizada em diferentes domínios, directa ou indirectamente
relacionados com a funcionalidade e a incapacidade das crianças e jovens. Ficou claro que a
CIF-CJ não classifica pessoas, nem tão pouco pretende diagnosticar doenças ou perturbações,
mas tem por objectivo cimeiro a descrição da situação de cada pessoa dentro de um conjunto
de domínios, permitindo identificar o seu perfil de funcionalidade. A CIF baseia-se num modelo
biopsicossocial, o qual preconiza uma abordagem generalizada, ecológica e interdisciplinar
relativa à compreensão do funcionamento humano, permitindo descrever o nível de
funcionalidade e incapacidade dos alunos, assim como identificar os fatores ambientais que
constituem barreiras ou facilitadores à funcionalidade. Poderei até arriscar dizer que a CIF
representa uma evolução quer em relação aos modelos que se focalizam apenas em aspectos
individuais e nas incapacidades quer em relação aos modelos sociais que colocam todo o foco
no funcionamento das estruturas e instituições sociais. Percebi que a CIF-CJ tem
simultaneamente em consideração as incapacidades e potencialidades das crianças e jovens e
as barreiras existentes no meio, integrando estratégias e intervenção destinadas a desenvolver
as capacidades das pessoas e a acessibilidade as recursos, de forma a promover a participação
e autonomia.
Ficou bastante claro que a utilização da CIF-CJ permite uma avaliação abrangente dos
alunos e direcciona-se para a introdução de adequações necessárias ao processo de ensino-
aprendizagem, orientadas para o desenvolvimento das capacidades do aluno e permite
introduzir alterações nos seus contextos de vida. É um sistema de classificação que permite
enquadrar o levantamento de informação importante para a descrição da natureza e extensão
das limitações funcionais da criança/ jovem, bem como das características do meio que a
envolve. Permite ainda organizar essa informação de forma integrada e facilmente acessível.
Daquilo que depreendi desta abordagem, a CIF deverá ser o quadro de referência para a
reformulação e construção de novos instrumentos de avaliação, direcionados para a parte
funcional da pessoa. Evidenciou-se igualmente a necessidade de construção de instrumentos
de avaliação relacionados com os factores ambientais, que na minha opinião são também
muito importantes.
No quadro de referência para a avaliação de NEE, a CIF-CJ leva à utilização de
instrumentos de avaliação que vão ao encontro de uma avaliação funcional dos alunos, dando-
se extrema importância às atividades propostas, à participação e aos fatores ambientais.
Considero importante focar a questão de formar equipas pluridisciplinares que
funcionem a cem por cento, ou seja, o processo de avaliação no âmbito da educação especial
pressupõe um trabalho colaborativo entre diferentes intervenientes. Quanto a mim,, só uma
estreita colaboração entre profissionais e famílias permite compreender globalmente o aluno
e consequentemente planificar a intervenção nos diferentes contextos. É sabido que para
efeitos do processo de avaliação especializada, o órgão de gestão da escola é que deverá
preparar a constituição da equipa pluridisciplinar, cuja estrutura deverá ter sempre em conta
as características específicas de cada aluno. Sugere-se, e muito bem, que estas equipas
deverão ser compostas por profissionais que fazem parte da escola (professor titular de turma
ou de alguma disciplina, director de turma, professor de educação especial, psicólogo, entre
outros técnicos), encarregados de educação e, sempre que necessário, por outros profissionais
de serviços da comunidade.
Que medidas estão a ser implementadas em Portugal para a aplicação da CIF-CJ?

Criação e implementação dos Centros de Recursos TIC;


Estabelecimento de parcerias a nível institucional;
Inclusão das crianças e jovens na sociedade.
Todos estão de acordo que é necessário fazer uma correcta avaliação dos utentes, no entanto
o processo não está totalmente claro para os docentes e os profissionais do sector (médicos,
terapeutas, professores de apoio, etc.). Por um lado é necessária uma formação sobre a CIF-CJ
para que todos possam falar a mesma linguagem, por outro, é necessário que os profissionais
envolvidos no processo de avaliação do utente possam estar disponíveis para trabalhar em
equipa. Isto revela-se quase impraticável devido à falta de pessoal especializado, à falta de
disponibilidade de horário para fazer o acompanhamento do utente, bem como à falta de
equipamento e recursos adequados.

Estas são algumas das barreiras operacionais que precisam de ser limadas para que o processo
de inclusão se torne verdadeiramente efectivo.

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