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Ampliacoes Do Conceito de Patrimonio Edi PDF
Ampliacoes Do Conceito de Patrimonio Edi PDF
Contemporâneas
do Patrimônio
REITORA
Dora Leal Rosa
VICE-REITOR
Luiz Rogério Bastos Leal
DIRETORA
Flávia Goulart Mota Garcia Rosa
CONSELHO EDITORIAL
Alberto Brum Novaes
Ângelo Szaniecki Perret Serpa
Caiuby Alves da Costa
Charbel Niño El-Hani
Cleise Furtado Mendes
Dante Eustachio Lucchesi Ramacciotti
Evelina de Carvalho Sá Hoisel
José Teixeira Cavalcante Filho
Maria Vidal de Negreiros Camargo
C O L E Ç Ã O
ARQUIMEMÓRIA
Salvador
EDUFBA
2011
FOTO DA CAPA
Hirosuke Kitamura
REVISÃO
Cida Ferraz
NORMALIZAÇÃO
Adriana Caxiado
ISBN 978-85-232-0743-4
CDD - 363.69
Editora filiada à:
EDUFBA
Rua Barão de Jeremoabo, s/n Campus de Ondina
Salvador - Bahia CEP 40170 115 Tel/Fax (71) 3283 6164
www.edufba.ufba.br
edufba@ufba.br
Os Organizadores
Prefácio 09
PAULO ORMINDO D. DE AZEVEDO e NIVALDO VIEIRA DE A. JÚNIOR
Apresentação 13
MARCO AURÉLIO A. DE FILGUEIRAS GOMES e ELYANE LINS CORRÊA
Conservação e valores 49
pressupostos teóricos das políticas para o patrimônio
LEONARDO BARCI CASTRIOTA
As últimas ruínas 67
ELYANE LINS CORRÊA
Prefácio
Coleção ArquiMemória
Esse seminário não teria sido possível sem o copatrocínio do Governo do Estado
da Bahia, através da Secretaria de Cultura, por meio do Instituto do Patrimônio
Artístico e Cultural da Bahia – IPAC, da Secretaria de Desenvolvimento Urbano
e da Secretaria de Turismo, bem como do Conselho Regional de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia da Bahia – CREA-BA e da Caixa Econômica Federal, esta
um agente de importantes ações de requalificação dos centros de nossas cidades.
Queremos agradecer, ainda, o apoio dado pelo Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da UFBA, pelo CNPq, pela
Capes e pela FAPESB.
Esta Coleção ArquiMemória, que sai pela Editora da Universidade Federal da
Bahia – EDUFBA, tem o patrocínio da Caixa Econômica Federal, dado o crescente
interesse dessa instituição pela recuperação das áreas centrais de nossas cidades.
Apresentação
Enfim, os percursos reflexivos cujos registros o leitor tem em mãos são, por-
tanto, longos, apontam em diferentes direções, desdobram-se em inflexões,
constroem e desconstroem certezas, semeiam dúvidas, sugerem, enfim, novos
caminhos e desafios. Esperamos que eles contribuam para enriquecer o nosso
olhar sobre as múltiplas heranças que nos cabe proteger, sem que elas percam
aquilo que é próprio da cultura: a sua capacidade de um infindável diálogo com
um sempre renovado presente.
Ampliações do conceito de
patrimônio edificado no Brasil
1. Tendo em vista as diversas denominações que o órgão federal responsável pela preservação do patrimônio
cultural brasileiro teve desde a sua criação, em 1937, como Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (SPHAN), optamos por utilizar a sigla atual IPHAN, independentemente do período abordado.
2. O discurso que apresenta a arquitetura moderna brasileira como uma “evolução” da arquitetura do perí-
odo colonial foi recorrente, não apenas em textos, mas também em imagens, como demonstra a sequên-
cia de esquemas que Lúcio Costa desenhou e publicou em 1937 para ilustrar, no ensaio “Documentação
Necessária”, o processo de ampliação das relações entre a fenestração e o plano cego de fachada na arqui-
tetura residencial brasileira, do século XVII a 1930 (COSTA, 2007, p. 92). Pretensamente mais generalista
ainda é o esquema intitulado “Semelhança entre o partido da arquitetura rural [colonial] e a contempo-
rânea”, desenhado por Sylvio de Vasconcellos e que ilustra o seu artigo “A Arquitetura Colonial Mineira”,
de 1956 (VASCONCELLOS, 1997, p. 358).
Não nos parece que este seja exatamente o caso da atuação do IPHAN. Aliás,
parece bem mais provável que a negação do valor artístico a todo esse leque de
manifestações culturais se deva efetivamente a preconceitos e à afirmação de
uma arquitetura moderna brasileira apresentada como uma evolução da arqui-
tetura colonial, bem como de um neoclassicismo, ao mesmo tempo, universal e
“abrasileirado”.
Esta afirmação pode ser justificada de diversas formas. Em primeiro lugar,
porque, como vimos, somente a partir do início da década de 1960 a obra ne-
oclássica de Antonio Giuseppe Landi, em Belém, realizada na segunda meta-
de do século XVIII, – portanto, contemporânea ao barroco mineiro, consagra-
do pelo IPHAN como o apogeu da arquitetura brasileira pré-moderna – come-
çou a ter seus valores artísticos reconhecidos pelo órgão federal de preservação.
Em segundo lugar, desde 1947 o IPHAN passou a realizar tombamentos de bens de
arquitetura moderna: naquele ano é tombada a Igreja de São Francisco, na Pampulha,
e no ano seguinte, o Edifício-Sede do Ministério da Educação e Saúde, ambos re-
cém-construídos e ambos inscritos no Livro de Tombo das Belas Artes. Em 1956, por
sua vez, seria inscrito no Livro de Tombo de Belas Artes um outro exemplar da arqui-
tetura moderna da escola carioca: a Estação de Hidroaviões no Rio de Janeiro.
Somente a partir da década de 1960, haverá uma efetiva ampliação do patri-
mônio no Brasil, que passará a abarcar, de forma menos tendenciosa, edificações
ligadas aos mais diversos estilos, tipologias e períodos históricos.
Em 1964 – ano do golpe que instalou a ditadura militar no Brasil – é tombado
o Teatro José de Alencar, em Fortaleza, uma construção da primeira década do sé-
culo XX, executada em estrutura metálica importada da Escócia. Sua inscrição no
Livro de Tombo das Belas Artes incorpora definitivamente a arquitetura do ferro e
o art nouveau ao acervo de bens tombados, e se constitui em um reconhecimento
do valor artístico – e não somente histórico – deste tipo de bem.
Em 1967, dando continuidade a essa incorporação da arquitetura pré-fabrica-
da ao patrimônio nacional, foi inscrito no Livro de Tombo de Belas Artes o Palácio
de Cristal de Petrópolis, pavilhão de exposições montado em 1884 e caracterizado
pela estrutura metálica importada da França e pelos fechamentos em cristal biso-
tado importado da Bélgica.
3. O levantamento realizado por Silvana Rubino (1996) demonstra que a seleção dos bens representativos da
identidade nacional para tombamento pelo IPHAN não era limitada somente em termos estilísticos, tipoló-
gicos ou cronológicos, mas também em termos geográficos. Dos 689 bens tombados pelo IPHAN ao longo
dos 31 anos que correspondem à fase heroica, nada menos que 492 (72,2% do total) estão localizados em
apenas quatro estados: Minas Gerais (165 bens ou 23,9% do total), Rio de Janeiro (140 bens ou 20,3% do
total), Bahia (131 bens ou 19,9% do total) e Pernambuco (56 bens ou 8,1% do total).
4. Cemitério de Nossa Senhora do Pilar (1799) – tombado juntamente à igreja homônima, barroca; Palácio
da Associação Comercial (1814-1816); antiga Alfândega – atual Mercado Modelo (1861); Asilo D. Pedro II
(construção da primeira metade do século XIX, reformada entre 1878 e 1887); e antigo Hotel Colonial, atual
sede da Aliança Francesa (1846).
5. Sobrado azulejado à Praça Cairu (final do século XIX); Casa dos Carvalho (década de 1890); Solar Amado
Bahia (1901); e Igreja de Nossa Senhora da Vitória (reformada em 1910, quando recebeu a atual feição).
6. Na época, estes imóveis ainda não haviam sido tombados pelo IPHAN, o que só ocorre como consequência
da sugestão de tombamento apresentada no IPAC-SIC.
incluindo treze dos 21 membros do Conselho Estadual de Cultura que, dentre ou-
tras atribuições, assessoram o IPAC no julgamento do mérito dos pedidos de tom-
bamentos como o da Fonte Nova, além de intelectuais e artistas do porte de Lelé,
Assis Reis, Luiz Melodia e Emanoel Araújo.
Por mais que o candomblé nagô se legitime pela tradição, ele constante-
mente reelabora esta tradição num processo constante de inovação ritu-
al e iconográfico, [em que se verifica] a constante incorporação de novas
formas arquitetônicas e iconográficas ao longo do tempo e que certa-
mente reflete mudanças internas na configuração da organização social
do terreiro, bem como mudanças no campo das religiões afro-brasilei-
ras e da sociedade como um todo. [...] É evidente que estas construções
e decorações são acrescidas ao patrimônio do terreiro gradativamente,
como outras são destruídas sem deixar traços. Dada esta mutabilidade
arquitetônica e iconográfica, se torna problemático o tombamento total
das construções e suas decorações, mesmo reconhecendo seu alto valor
artístico.
7. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, International Centre for the Study of the
Preservation and Restoration of Cultural Property e International Council on Monuments and Sites, res
pectivamente.
8. A Carta de Veneza, de 1964, é como é mais conhecida a Carta Internacional sobre Conservação e Restauração
de Monumentos e Sítios, resultante do II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos
Históricos promovido pelo Icomos em Veneza, Itália, em maio de 1964.
Para entender o patrimônio cultural hoje é preciso pôr em cheque uma sé-
rie de conceitos arraigados entre os especialistas da área no Brasil. Como obser-
va Salvador Muñoz Viñas (2003, p. 176), citando Erica Avrami, Randall Mason e
Marta De La Torre, “[...] o objetivo final da restauração não é conservar o material
por si mesmo, mas sim manter e conformar os valores contidos no patrimônio”.
Se entendermos restauração como o conjunto de ações empreendidas sobre um
bem cultural voltadas à sua preservação, será necessário concordar com Muñoz
Viñas (2003, p. 176-177, tradução nossa) quando afirma que:
A Restauração se faz para os usuários dos objetos: aqueles para quem esses
objetos significam algo, aqueles para quem esses objetos cumprem uma
função essencialmente simbólica ou documental, porém talvez também
de outros tipos. A validade de um tipo ou outro de Restauração depen-
de de como eles entendam que deve ser realizado este tipo de trabalho.
Esta interpretação pode variar, porém, é o consenso entre os afetados (ou
os seus representantes, ou os sabedores em quem eles confiam)9 o que
em última instância determinará a sua validade. A Restauração objetiva
é a rigor impossível, porque a Restauração se faz para os usuários presen-
tes ou futuros dos objetos (isto é, para os sujeitos) e não para os próprios
objetos. [...] A Restauração correta é aquela que harmoniza, até onde
seja possível, um maior número de teorias – inclusive as que não chega-
ram a ser formuladas [...]. Uma boa Restauração é aquela que fere menos
a um menor número de sensibilidades – ou a que satisfaz mais a mais
gente. [...] O restaurador não pode fazer o que ele decidir, o que ele acha
melhor, o que ele considera mais honesto, o que a ele foi ensinado, [...]
o critério principal que deveria guiar sua atuação é a satisfação do con-
junto de sujeitos a quem seu trabalho afeta e afetará no futuro.
9. E, ao falar em “sabedores em quem eles confiam”, não podemos deixar de pensar no papel de liderança
espiritual e cultural de um babalorixá ou ialorixá em um terreiro de candomblé...
Referências
F I G U RA 1 - Antigo Hotel
Majestic (1916-1933), atual
Casa de Cultura Mario
Quintana, em Porto Alegre,
bem tombado pelo IPHAE
em 1982 (Foto realizada pelo
autor, 24 de outubro 2007).
Foto: Nivaldo Vieira de
Andrade Junior.
F I G U RA 2 - Antiga Casa de
Detenção do Recife (1855),
atual Casa da Cultura, bem
tombado pela FUNDARPE
em 1980.
Foto: Nivaldo Vieira de
Andrade Junior.
F I GU R A 3 - Ruínas da Fábrica São Brás em Plataforma (2ª metade do século XIX), Salvador, bem
tombado pelo IPAC em 2002.
Foto: Nivaldo Vieira de Andrade Junior.
FI GU R A 4 - Ruínas da Estação Férrea São Francisco em Alagoinhas (1876-1880), bem tombado pelo IPAC em 2002.
F I GURA 5 - Praça Juracy Magalhães (1935) e Grande Hotel de Cipó (1941-1952), pertencentes
ao conjunto urbanístico e arquitetônico da Cidade de Cipó tombado provisoriamente pelo
IPAC em 2008.
Fonte: Nivaldo Vieira de Andrade Junior.
Sobre os autores
María Margarita Segarra Lagunes é doutora pela Università di Roma Tre, onde
coordena o Curso de Especialização em História do Projeto Arquitetônico e o
Mestrado Internacional Arquitetura, História e Projeto.
Nestor Goulart Reis Filho é livre docente pela Universidade de São Paulo (USP)
e professor titular aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU).
É membro do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural.
Formato 17 x 24 cm
Tiragem 1.000