Você está na página 1de 12

CONTRIBUIÇÕES DO DESIGN ESTRATÉGICO PARA OS LIVING LABS:

O CASO DO TRANSLAB DE PORTO ALEGRE

RESUMO of social demands. In this regard, the Living Labs


Os Living Labs atuam como agentes da operates as an articulator capable of creating and
promoção da inovação social ao desenvolver disseminating new knowledge with
atividades transformadoras motivadas pelo environmental, cultural and economic
atendimento de demandas sociais. Neste sentido, implications, which are focused on the individual
os Living Labs operam como um articulador capaz and validated in the local social context. Its
de criar e disseminar novos conhecimentos com intervention involves civil society actors that act
implicações ambientais, culturais e econômicas, independently or interact with public, private and
centradas no indivíduo e validadas no contexto academic power by promoting innovative
social local. Sua intervenção envolve atores da solutions in social scope. The TRANSLAB, Living
sociedade civil que agem de forma autônoma ou Lab located in Porto Alegre (RS), was
interagem com o poder público, privado e investigated in order to explore the structure of a
acadêmico, na promoção de soluções inovadoras Living Lab, its dynamic and possibilities for
no âmbito social. Com o propósito de explorar a generating and disseminating new knowledge
estrutura de um Living Lab, sua dinâmica e focused on social innovation. In this context, the
possibilidades de geração e disseminação de present study aims to relate the strategic design
novos conhecimentos voltados à inovação social, in identifying possible contributions focused on
investigou-se, o TRANSLAB, Living Lab localizado architectural design approach used by the Living
em Porto Alegre (RS). Nesse contexto, o presente Lab that is the object of the case study. Strategic
artigo tem como objetivo relacionar o design design has as premises the performance in
estratégico na identificação de possíveis collective environments in the organizational
contribuições voltadas à abordagem projetual context considering interests, common values
utilizada pelo Living Lab, objeto do estudo de and socio-cultural impacts. So, through the case
caso. O design estratégico possui como study, it was possible to identify and understand
premissas a atuação em ambientes coletivos no the elements that constitute the TRANSLAB, its
âmbito organizacional considerando os limitations and verify opportunities for the
interesses, valores comuns e impactos performance of the Strategic Design in guiding
socioculturais resultantes. Desta forma, através projective processes in the search for social
do estudo de caso, foi possível identificar e innovation.
compreender os elementos que constituem o
TRANSLAB, suas limitações e verificar KEYWORDS: Living Labs, Social Innovation,
oportunidades para a atuação do Design Strategic Design.
Estratégico ao orientar processos projetuais na
busca pela inovação social. INTRODUÇÃO
No decorrer do século XX, cresceu na
PALAVRAS CHAVES: Living Labs, Inovação sociedade a percepção do surgimento de um
Social, Design Estratégico. novo mundo, ―um mundo moldado pelas novas
tecnologias, pelas novas estruturas sociais, por
ABSTRACT uma nova economia e uma nova cultura‖ (Capra
The Living Labs act as agents in the [1], p. 141). Para o autor, a nova visão da
promotion of social innovation when developing realidade baseia-se na consciência do estado de
transforming activities motivated by attendance inter-relação e interdependência essencial de

1
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
todos os fenômenos — físicos, biológicos, e econômicas. Para os autores, o processo se dá
psicológicos, sociais e culturais (p. 259). Esta através da interação entre diversos atores,
visão transcende as atuais fronteiras e destaca a transcendendo a esfera individual e aumentando
inexistência de uma estrutura bem estabelecida, substancialmente o impacto sobre a sociedade.
conceitual ou institucional, que acomode a As redes, ao privilegiar o diálogo, trocas e
formulação do novo paradigma. O que há, aponta colaborações, constituem e facilitam os
Capra [1], são as linhas mestras dessa estrutura, ecossistemas de inovação (Jackson [5]). De
sendo formuladas por muitos indivíduos, acordo com a autora, o conceito de ecossistema
comunidades e organizações que desenvolvem de inovação origina-se de uma analogia com o
novas formas de pensamentos, de acordo com ecossistema biológico observado na natureza.
novos princípios. Neste sentido, a autora sugere que o ecossistema
Surge uma nova forma de organização das de inovação seja entendido como um modelo
atividades humanas no âmbito dos negócios, formado pela interação dinâmica entre atores
meios de comunicação, políticas, organizações cujo objetivo principal seja permitir o
não governamentais, a qual Castells [2] chama desenvolvimento da inovação. E é com base
de sociedade em rede. Para o autor, ―as redes nestes conceitos que os Living Labs, ao envolver
constituem a nova morfologia social de nossas atores da sociedade civil unidos por um vínculo
sociedades, e a difusão da lógica de redes local, atuam de forma autônoma ou em interação
modifica de maneira substancial a operação e os com o poder público, privado e acadêmico, a fim
resultados dos processos produtivos e de de contribuir para a resolução de demandas
experiência, poder e cultura‖ (p. 497). sociais.
Ao criar redes em nível comunitário, é Nesse âmbito, ao considerar a necessidade da
possível promover a identidade, solidariedade e ativação das interações dinâmicas entre atores
novas formas de cooperação e interação em com o propósito de oportunizar a inovação social,
conformidade com as particularidades da manifesta-se os estudos e práticas provenientes
sociedade (Castells [2]). O autor destaca que do design estratégico. Através de suas
novas formas de construção social são geradas competências em inter-relacionar diferentes
fundamentalmente no que tange a socialização, atores, técnicas, tecnologias, conhecimentos e
pois os formatos de interação não se apresentam disciplinas, o design estratégico é capaz de
mais dispostos em tempo e espaço determinados. desenvolver novas formas de concepções
Desta forma, cresce o número de iniciativas das projetuais, que partem de um pensamento
mais diversas naturezas com foco na inovação complexo, considerando os sistemas abertos,
em seus variados âmbitos, considerando o interdisciplinares e interdependentes (Zurlo [6]).
relacionamento entre as pessoas e a constante A partir dessa concepção, o designer
troca de informações. estratégico atua no âmbito social, utilizando suas
Neste contexto, surgem os Living Labs, habilidades para imaginar e influenciar
baseados nos princípios de redes de colaboração comportamentos, auxiliando a comunidade em
(Veeckman et al. [3]) como um meio pelo qual que está atuando a conceber produtos, serviços,
iniciativas privadas, setor público, academia e ou uma combinação dessas possibilidades, na
cidadãos podem vir a trabalhar juntos na criação, busca por novas soluções às necessidades
desenvolvimento, validação e testes de novos deflagradas nesse contexto social (Chick [7]).
produtos, serviços e tecnologias voltados a novas Deste modo, o presente artigo analisa o
soluções para necessidades do contexto social. TRANSLAB, Living Lab localizado em Porto Alegre
Edwards-Schachter, Matti e Alcántara [4], ao (RS), e busca explorar sua estrutura, dinâmica e
considerar o aspecto de desenvolvimento de finalidades, e identificar possibilidades de
atividades inovadoras motivadas ao atendimento contribuição do processo projetual do design
de demandas sociais, destacam os Living Labs estratégico em sua ação social. Com o intuito de
como um articulador voltado à inovação social, alcançar este objetivo, foram realizadas
capaz de criar e disseminar novos conhecimentos entrevistas em profundidade semi-estruturadas
com implicações igualmente ambientais, culturais para a identificação e compreensão dos

2
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
elementos que constituem o objeto de estudo, processo. Sob esta ótica, Veeckman et al. [3],
suas limitações e oportunidades. conceitua os Living Labs como ―realidades físicas
Além desta introdução, o artigo está ou virtuais onde os atores são formados pelos
estruturado em outras cinco partes. A primeira e setores públicos, privados e civis, agências
segunda seção referem-se à revisão da literatura públicas, universidades, institutos e usuários,
onde o referencial teórico é construído a partir de todos colaborando para a criação, prototipação,
conceitos relacionados aos Living Labs e ao validação e teste de novas tecnologias, serviços,
Design Estratégico, ambos relacionados sob a produtos e sistemas em contextos da vida real‖
ótica da Inovação Social. A seção seguinte (p. 7, tradução nossa).
explica a metodologia de pesquisa adotada, a Desta forma, segundo os autores, os Living
condução da coleta e da análise de dados, além Labs são pequenas organizações que atuam na
da descrição do objeto do estudo de caso. A coordenação entre os atores e oferecem uma
quarta seção corresponde à descrição, análise e série de serviços e espaços para que estes
discussão dos sobre o TRANSLAB como objeto de possam colaborar e compartilhar seus trabalhos,
pesquisa. A quinta parte descreve as conhecimentos e experiências na busca de novas
oportunidades encontradas para a contribuição formas de atuação, com ênfase no papel do
do Design Estratégico para o processo projetual cidadão e seu envolvimento no processo de
do Living Lab investigado. Finalmente, são inovação. De acordo com a ENoLL (European
apresentadas as principais conclusões do estudo. Network of Living Labs), mais influente rede de
Living Labs no âmbito mundial com sede em
OS LIVING LABS Bruxelas, o número de Living Labs tem crescido
O conceito de Living Lab foi inicialmente consideravelmente a partir de 2005 (Veeckman
desenvolvido pelo Prof. William Mitchell no MIT et al. [3]).
MediaLab (Massachusetts Institute of Tecnology) A partir deste contexto, os Living Labs
e School of Architecture (Leminen, Westerlund e surgem como uma alternativa facilitadora da
Nyström [8]) na década de 1990. Inicialmente promoção de soluções no âmbito da inovação
conhecido como ―uma metodologia centrada no social, que, neste contexto, pode ser entendida
usuário para o estudo de casas do futuro como ―uma nova ideia voltada ao cumprimento
inteligentes. Seu objetivo era compreender, de metas sociais‖ (Manzini [13], p. 57, tradução
prototipar, validar e refinar casas complexas‖ nossa). Manzini complementa o conceito ao
(Leminen, Westerlund e Nyström [8], p. 8, definir a inovação social como ―um processo de
tradução nossa). Segundo os autores, Mitchell mudança que emerge da recombinação criativa
destaca quatro elementos-chave para os Living de ativos [...] cujo objetivo é atingir metas
Labs: em primeiro lugar a centralidade no usuário sociais de maneira reconhecidamente nova‖ (p.
em todas as fases do processo, em segundo 57, tradução nossa).
constituir uma metodologia de investigação, em A inovação social refere-se principalmente a
terceiro estar orientado a desenvolver novas mudanças de comportamento de indivíduos ou
soluções e, finalmente, acontecer em contextos comunidades no de intuito solucionar problemas
da vida cotidiana. que os afetam, ou mesmo, para a geração de
A partir das mais diversas utilizações, os novas oportunidades (Manzini [14]). O valor
Living Labs obtiveram diferentes definições, criado deve trazer mais benefícios à comunidade
conceituando-se desde um ambiente (Ballon, como um todo, do que para indivíduos em
Pierson e Delaere [9]), uma metodologia ou particular (Freire [15], p.71). Inovação social
abordagem à inovação (Bergvall-Kareborn e envolve também fornecer ferramentas
Stahlbrost [10]), uma rede (Leminen, Westerlund necessárias para empoderar a sociedade (Meroni
e Nyström [8]) ou ainda um sistema (ENoLL e Sangiorgi [16]; Manzini e Staszowski [17]), de
[11]). O presente artigo utilizará a definição de modo que esta consiga agir por conta própria
Westerlund e Leminen [12], uma vez que esta para sanar problemas sociais ou gerar novas
engloba os múltiplos atores, o contexto da vida oportunidades.
real e os vários estágios de desenvolvimento do

3
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
Estas ações têm como resultado, as inovações sociedade, sejam elas de ordem técnica,
sociais que acabam por reforçar a capacidade da processual ou organizacional (Zurlo [6]). Ao
sociedade em agir, incentivando a colaboração, atuar em ambientes complexos, o autor evidencia
bem como o interesse pela busca de soluções a necessidade do designer desenvolver um
para os problemas sociais, desenvolvendo o ―pensamento complexo‖. Teórico desta área,
capital social (Chick [7]), um dos quatro capitais Morin [19] afirma que o pensamento complexo é
tratados por Bourdieu [18]. Capital Social, contrário ao pensamento simplificador, que
segundo o autor, refere-se às relações do possui uma visão mais reduzida do cenário
indivíduo com a família, amigos, comunidade, presente, sendo incapaz de conceber a conjunção
bem como laços formados em instituições e do uno e do múltiplo. ―Ou ele unifica
mesmo em redes sociais das pessoas envolvidas. abstratamente ao anular a diversidade, ou, ao
Ao considerar a capacidade de resolver contrário, justapõe a diversidade sem conceber a
problemas sociais e criar novas oportunidades de unidade‖ (Morin [19]).
forma colaborativa para o empoderamento dos O pensamento complexo, na esfera do design,
cidadãos, os Living Labs surgem como ―uma nova é uma estratégia para atuar em ambientes
forma de criação de competências‖ (Leminen, contemporâneos complexos, que não analisa tudo
Westerlund e Nyström [8], p. 6, tradução nossa). como deve ser, conforme planejado, mas sim
Para Manzini [13], ―em todos os processos de analisa os vários fatores relacionados, para
inovação social [...] diferentes atores participam posteriormente hierarquizar o que é importante
em diferentes momentos e de diferentes ao projeto (Morin [19])
maneiras em uma sequência de diversas e às Neste sentido, ao explorar o pensamento
vezes até mesmo contrastantes eventos‖ (p. 65, complexo, o design estratégico consegue aceitar
tradução nossa). e interpretar a complexidade, capturando dela,
Os Living Labs, então, atuam no estruturas de sentido, a fim de encontrar
desenvolvimento de diferentes redes de atores e caminhos resolutivos, tornando-os visíveis aos
projetos em um processo de envolvimento de atores envolvidos (Zurlo [6]). Ao utilizar esta
seus membros na elaboração, experimentação na perspectiva, design estratégico torna-se capaz de
vida real e no acesso ao conhecimento voltado à resolver problemas complexos ou criar novos
promoção de mudanças sociais locais e inovações sentidos através de um processo projetual crítico
emergentes. e criativo. Deste modo, o design estratégico
Neste contexto, a fim de contribuir para com busca a compreensão profunda sobre o contexto,
o processo projetual e difusão das inovações contemplando o todo para interpretar
sociais desenvolvidas pelo Living Lab, o design informações e assim identificar estruturas de
estratégico mostra-se como uma alternativa sentido, compreendendo as razões que geram os
metodológica para o desenvolvimento projetual e problemas, que talvez muitas vezes não estão
demandas explicitadas. Ao relacionar diferentes claramente visíveis.
disciplinas e técnicas, de modo a conceber, junto Ao buscar as reais questões a serem
à comunidade, produtos, serviços ou produtos- solucionadas, o design estratégico passa a
serviços (Chick [7]), o design estratégico questionar os fatores pré-estabelecidos, atuando
consegue lidar com a complexidade deflagrada de modo crítico em relação aos problemas com o
nos problemas sociais, gerando efeitos de sentido propósito de analisar e compreender as razões
e tornando tangíveis as estratégias criadas que o geraram (Zurlo [6]). Segundo o autor, esta
(ZURLO [6]). atividade, conhecida como contrabriefing, assim
como todo processo de design estratégico, não é
O DESIGN ESTRATÉGICO linear e pode ser aplicada em qualquer momento
O design estratégico apresenta-se como um da projetação.
sistema aberto que permite e propõe pontos de A partir da identificação e reflexão sobre os
vista diversos, modelos interpretativos problemas, o design estratégico incentiva a
articulados e variadas prospectivas disciplinares, participação dos atores envolvidos, de modo que
confrontando-se com as complexidades da atuem ativa e criativamente no projeto, para

4
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
gerar inovações que considerem os interesses e estratégias para dar forma, função, sentido e
valores coletivos. valor a suas ações projetuais, conforme Figura 1,
Observar contextos, antecipar mudanças e a seguir.
visualizar cenários são perspectivas do exercício
do design estratégico. Ao trazer seu ponto de
vista profissional e experiência para transformar
o melhor do presente em ―mudança de
paradigma para o futuro‖ (Meroni [16], p.30), o
designer utiliza de suas habilidades para imaginar
e influenciar comportamentos. Meroni [20]
sugere que a forma como um designer
estratégico transforma visões em uma hipótese
plausível é através da construção de cenários.
Segundo Reyes [21], envolver cenários na
concepção projetual é ―projetar futuros
imaginários expressos através de histórias FIGURA 1 - Papel interdisciplinar do Design.
plausíveis nas quais se narram sequências Fonte: Celaschi e Deserti ([23], p. 24).
futuras de ações e de suas consequências‖.
O design estratégico utiliza a construção de
cenários como forma de antever o futuro que Através da Figura 1 é possível perceber que o
está por vir e os fatores que podem influenciá- olhar do design estratégico refere-se à percepção
los. ―A construção de cenários cria um contexto de como retirar proveito destas relações ativadas
no qual se imagina usuários lidando com (Meroni [24]) para a modificação da realidade ao
produtos e serviços potenciais e experimentando- operar em um ambiente tanto interno, quanto
os para fazer emergir novas ideias‖ (Zurlo [6]). externo, de forma a cercar o problema e oferecer
Corroborando, para Morelli [22], os cenários possibilidades de resolução a partir do todo
criados devem ser pertinentes, baseados na (Zurlo [6]). As habilidades do designer também
realidade sistêmica, visando contribuir são voltadas a esta proposta, pois referem-se à
socialmente e considerar os agentes envolvidos, capacidade de relacionar diferentes disciplinas e
o fluxo de eventos e as consequências de cada técnicas, de modo a auxiliar a comunidade a
cenário criado. conceber produtos, serviços, ou uma combinação
Deste modo, as ações provenientes do design dessas possibilidades (Chick [7]).
estratégico são orientadas para o Através de suas competências em inter-
desenvolvimento de soluções que considerem os relacionar diferentes atores, técnicas,
interesses, valores coletivos e a interação com o tecnologias, conhecimentos e disciplinas, o
meio-ambiente, seus atores, bem como, as design estratégico é capaz de desenvolver novas
limitações e as oportunidades (Celaschi e Deserti formas de concepções projetuais. A partir destes
[23], Meroni [24]; Zurlo [6]; Franzato [25]). conceitos, o designer estratégico atua no âmbito
Assim, o design estratégico constitui-se de um social, utilizando suas habilidades para imaginar
processo dialógico entre vários atores, o que e influenciar comportamentos, auxiliando a
requer envolvimento sistemático das partes comunidade em que está atuando a conceber
interessadas, de modo que uma gama de produtos, serviços, ou uma combinação dessas
disciplinas possa interferir e colaborar (Zurlo possibilidades, na busca por novas soluções às
[6]). necessidades deflagradas nesse contexto social
Celaschi [23], que da mesma forma trabalha (Chick [7]).
o design sob a perspectiva estratégica, ratifica Devido às características do design
que para gerar inovação, ou mesmo, aperfeiçoar estratégico em propor diálogos entre vários
determinadas questões, o design atua de forma atores para usufruir das relações ativadas e
interdisciplinar entre o cruzamento de diferentes assim desenvolver inovações que considerem os
áreas do conhecimento, estabelecendo interesses, os valores coletivos, o impacto
sociocultural resultantes, Meroni [24] afirma que
5
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
o design estratégico está vinculado à inovação para nascer, parte de problemas sociais, que
social. Neste ambiente, ao envolver as pessoas necessitam serem resolvidos a partir da mudança
no processo projetual fornecendo ferramentas de comportamento dos próprios cidadãos. Estes
para que os indivíduos participem ativamente, o cidadãos, por sua vez, devem estar aptos e
design estratégico acaba por empoderar estas estimulados a participar criativamente de todo o
pessoas, contribuindo para a convergência aos processo concepção.
conceitos de inovação social exploradas no Em síntese, o design estratégico, ao
presente artigo. Na tabela a seguir demonstra-se contemplar em seu processo a colaboração dos
a compreensão sobre a relação de design membros da comunidade no projeto,
estratégico e inovação social com base nos incentivando-os a participar criativamente,
autores referenciados. efetivando diálogos estratégicos, acaba por
empoderá-los a também responsabilizarem-se
pela resolução projetual. Estas ações repercutem
INOVAÇÃO SOCIAL DESIGN ESTRATÉGICO diretamente no desenvolvimento e difusão de
Visa a solução de Visa resolver problemas relacionamentos sociais entre os cidadãos
problemas sociais. complexos ou gerar
envolvidos. Tais valores salientados do processo
efeitos de sentido, de
modo que as soluções de design estratégico convergem com os
propostas considerem os princípios da inovação social.
interesses, os valores
coletivos, o impacto METODOLOGIA
sociocultural resultantes. A presente investigação caracteriza-se como
Visa fornecer ferramentas Constitui um processo um estudo exploratório no intuito de familiarizar-
para empoderar cidadãos dialógico entre vários se com o fenômeno que está sendo investigado,
a participarem atores, de modo que uma
de modo que o estudo de caso subsequente
coletivamente. gama de disciplinas possa
possa ser concebido com uma maior
interferir e colaborar.
Valor criado deve trazer Desenvolvimento de
compreensão e precisão (Gil [27]). Optou-se pelo
benefícios à sociedade soluções que considerem Estudo de Caso como forma de investigação ao
como um todo. os interesses, valores considerar uma ampla gama de variáveis
coletivos e a interação ambientais inter-relacionados com adequado
com o meio-ambiente, nível de profundidade e de detalhe (Yin [28]).
seus atores, as limitações A coleta de dados foi realizada através de
e as oportunidades. uma revisão da literatura para a construção do
Obtém desenvolvimento É um processo dialógico, referencial teórico, incluindo os conceitos
de capital social e reforço que incentiva a
relacionados à Inovação Social, Design
das capacidades da participação dos atores
sociedade. envolvidos, de modo que
Estratégico e Living Labs. Neste sentido, foram
atuem ativamente e realizadas entrevistas em profundidade com os
criativamente do projeto. responsáveis por cada um dos cinco núcleos de
atuação administrativa e projetuais que compõem
TABELA 1: Relação entre inovação social e o TRANLAB com questionamentos voltados a sua
design. estrutura, dinâmica e processo organizacional.
Fonte: Elaborada pelos autores com base em Além destes informantes, realizou-se também
Morelli [22], Jégou e Manzini [26], Celaschi e uma entrevista em profundidade com um dos
Deserti [23], Manzini [14], Meroni [16] [24], fundadores do Lab, de forma a conhecer suas
Zurlo [6], Franzato [25], Meroni e Sangiorgi [16],
motivações originais e expectativas futuras
Chick [7] e Manzini e Staszowski [17].
quanto ao Living Lab concebido.
As entrevistas foram devidamente gravadas
A partir dos conceitos sintetizados na Tabela
em áudio e vídeo para a adequada análise de
1, percebe-se certa coerência e
dados posterior. As entrevistas foram conduzidas
complementaridade entre os atributos tratados
através de um roteiro semi-estruturado que, de
sobre inovação social e o design estratégico.
maneira geral, mantiveram o objetivo de
Primeiramente, tem-se a inovação social que,

6
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
identificar e compreender os elementos que se também como OSCIP - Organização da
constituem o objeto de estudo em um Living Lab, Sociedade Civil de Interesse Público.
sua natureza, atores envolvidos, organização, A estrutura atual conta com dezessete
bem como processos e interações com a integrantes ligados ao TRANSLAB de forma direta
sociedade. e permanente, formando uma equipe
A unidade de análise contempla alguns dos multidisciplinar distribuída em cinco diferentes
colaboradores do TRANSLAB, Living Lab em Núcleos de atuação, e que se completam com os
processo de certificação como uma sub-rede da demais colaboradores específicos relacionados
ENoLL, que atua na cidade de Porto Alegre (RS). circunstancialmente com os projetos
As evidências levantadas nas entrevistas e, desenvolvidos.
adicionalmente na análise dos dados secundários Os Núcleos têm por objetivo realizar a gestão
disponíveis em seu website oficial, foram operacional e institucional do espaço e são
interpretadas qualitativamente utilizando como caracterizados por (1) Relações Institucionais que
base o referencial teórico realizado prospectam novas demandas na sociedade,
anteriormente, com o olhar voltado à formam alianças estratégicas e delineiam os
identificação de possibilidades de contribuição do caminhos a serem seguidos pela organização, (2)
Design Estratégico quanto ao objeto de estudo. Curadoria que organiza as atividades e preserva
os princípios institucionais, (3) Difusão ao
Descrição do caso comunicar as atividades de forma transparente,
O TRANSLAB é um Living Lab que busca convidativa e multiplicadora, (4) Infraestrutura
contribuir na geração de inovação social na que preza pelas normas, espaços e
comunidade local de Porto Alegre (RS). Constitui- equipamentos, e, finalmente, (5)
se de uma organização que busca coordenar e Administrativo/Financeiro que responde pela
facilitar as atividades de inovação embasada nas saúde e sustentabilidade do TRANSLAB.
demandas e iniciativas dos usuários, neste A sede do TRANSLAB conta com quatro
contexto denominados cidadãos. empresas residentes que compõem o espaço e
O ―Laboratório Cidadão‖, como se apresenta a fazem parte, eventualmente, dos projetos
organização, tem origens em atividades realizados pelo Living Lab de acordo com suas
profissionais anteriores dos fundadores e atuais áreas de interesse e atuação. Estas empresas são
gestores do Lab, em uma jornada entre trabalhos oportunas de forma estratégica ao agregar valor
empresariais, autônomos e voluntariados, que e ampliar os trabalhos através da atração de
promoveram a conexão entre estes e os demais novas demandas projetuais, além de custear a
atores da rede que viriam, posteriormente, a infraestrutura fixa básica do espaço. A estrutura
formar o TRANSLAB. física auxilia na composição da marca TRANSLAB
O ano de 2013 foi determinante para a além de acomodar os participantes e visitantes
organização a partir do convite da ENoLL de forma convidativa a conhecer o trabalho
(European Network of Living Labs) para fazer realizado, mesmo que alguns deles sejam
parte de sua rede de Living Labs e pela executados em ambientes externos devido a
aprovação no Edital de Redes Colaborativas do necessidades específicas.
Fundo de Apoio à Cultura (FAC), promovido pela Seu funcionamento está diretamente
Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do relacionado à experimentação e co-criação entre
Sul, pois veio a sustentar a viabilidade econômica os atores na busca por novas soluções para
do Lab. Em consequência, a organização está em produtos, serviços e modelos de negócios
processo de credenciamento pela ENoLL, o que voltados à inovação social, especialmente no que
resultará em acesso e troca de conhecimentos e diz respeito à cidade de Porto Alegre. Assim, o
experiências com Living Labs mundiais. No intuito Lab ―visa tornar a cidade um espaço mais
de facilitar as parcerias e convênios com todos os saudável, seguro e criativo para aqueles que nela
níveis de governo e órgãos públicos (federal, vivem‖ (TRANSLAB Website) como um espaço
estadual e municipal), o Lab está estabelecendo- para novas possibilidades de relacionamento
entre o cidadão e a cidade, ao perceber suas

7
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
necessidades e potenciais. A sua atuação é projetos para o TRANSLAB ao promover
orientada por ―três grandes princípios básicos: processos de descoberta da cidade e possíveis
cruzamento de conhecimentos (conectar arte, intervenções que impactem positivamente a
ciência, tecnologia para aprender fazendo); sociedade, solucionar problemas ou abrir novas
capacidade multiplicadora (inclusão social e oportunidades.
código aberto); autogestão (empoderamento e Os projetos norteiam as atividades do Lab,
liderança compartilhada)‖ (TRANSLAB Website). que atua na reunião de pessoas das mais
Neste contexto, o Living Lab está organizado diversas áreas de forma a capacitar os cidadãos e
por uma rede de projetos que nascem de demais atores envolvidos a participar da tomada
iniciativas da sociedade civil, governo, iniciativa de decisão ao articular e estimular o diálogo e
privada e universidades, a partir de demandas cooperação entre estes múltiplos atores em um
sociais. A rede atua através dos colaboradores processo coletivo, participativo e compartilhado
(remunerados ou em regime voluntariado) na de concepção e inovação. Desta forma, o
criação, utilização e disseminação de novos TRANSLAB busca proporcionar um sistema de
conhecimentos que transcendem a esfera mudanças sociais como um esforço colaborativo
individual e passa a ocorrer através da contínua composto de canais de energia humana,
interação entre os atores envolvidos em cada democrática e criativa.
projeto. Para tanto, são ―sugeridos alguns
formatos para acolher as propostas: encontros- ANÁLISE E DISCUSSÃO DO CASO
conversa, oficinas/vivências, percursos, linhas de Com base nas evidências levantadas nas
trabalho. Funcionam independentes e entrevistas e na análise dos dados secundários, o
conectados, podendo nutrir um ao outro, ou agir resultado do estudo de caso demonstra que o
autonomamente‖ (TRANSLAB Website). TRANSLAB, ao apresentar-se como um Living
As linhas de trabalho e os percursos possuem Lab, mostra-se como um catalisador e articulador
um importante papel para a organização ao da inovação social ao desenvolver atividades e
prospectar novas demandas sociais locais. As soluções inovadoras motivadas por necessidades
linhas de trabalho são entendidas como ―um sociais.
dispositivo para o trabalho colaborativo em A comunidade de participantes do TRANSLAB
função de uma necessidade-desejo que tem a é intencionalmente construída através do
intenção de ser aplicada como uma iniciativa, encontro informal entre pessoas que possuem
serviço, ou produto‖ (Website TRANSLAB). Como afinidades individuais e com o objeto de estudo
unidade produtiva de conhecimento, tem a do projeto em questão. É possível perceber o
função de compartilhar seus resultados e buscar forte investimento de tempo e energia no
possibilidades de implementação como aprofundamento das relações entre os membros
empreendimento social. Temas como mobilidade dos núcleos. Esta é uma atividade significativa ao
acessível, design para inclusão e cidades em rede grupo por torná-lo mais forte, alinhado e assim
são as linhas de pesquisa atual. tornar-se um meio de atração positivo para
Já os percursos constituem-se em um outros.
processo de imersão teórico-prático com A rede de atores é concebida pelo Lab através
temáticas variadas divididos em encontros da identificação de pessoas de acordo com suas
sistemáticos. Cada percurso tem seu foco experiências, conhecimentos, preferências,
específico com a proposta de desenvolver, habilidades e competências individuais. Cada
experimentar, planejar e prototipar ideias. O indivíduo, ao estabelecer uma conexão, amplia os
objetivo é fomentar junto com aos participantes a limites da rede. Durante o percurso, deve-se
criação de projetos através de uma abordagem reconhecer a singularidade dos atores e, na
prática e vivencial para construção de novos pluralidade de sujeitos, conhecer o potencial da
projetos e ações que tenham potencial de se cadeia.
transformarem em negócios sociais. O percurso Ao fortalecer o tecido de atores envolvidos, o
denominado Visionários da Cidade tem se Lab é capaz de favorecer a sua continuidade.
mostrado como o maior provedor de novos Portanto, estão em constante busca de novos

8
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
modelos de negócios, não somente para a analisados. Desta forma, a gestão do
captação de novas fontes de sustentabilidade conhecimento, necessária para o
financeira, através de fontes de financiamento e compartilhamento de conhecimentos internos e
receita híbridas, mas no desenho de estratégias externos, mostram-se ainda esquecidos pelo Lab,
que possibilitam o prosseguimento das atividades o que atinge um dos princípios do próprio
de forma fluida e contínua. Neste contexto, a TRANSLAB ao restringir o ―cruzamento do
experimentação figura como fator importante no conhecimento‖ ao aspecto interpessoal.
DNA do Lab, seja na proposição de novas Em suma, é possível perceber que o
soluções para questões sociais através de seus TRANSLAB utiliza em sua constituição atual
projetos, seja em sua própria estrutura. diversos instrumentos fomentadores da produção
Neste sentido, os Núcleos que suportam do conhecimento e buscam experimentar novas
atualmente o Living Lab, assumem uma posição formas de atuação social, que culminam na
de intermediários e organizadores entre os aprendizagem através das próprias experiências.
diversos atores. Desta forma, o Lab cria Assim, como um ecossistema de inovação social,
constantemente oportunidades para compor o o Lab sofre adaptações ao longo do percurso
sistema de rede de projetos de forma visível para baseados na percepção de uma mudança
todos, além de auxiliá-lo da melhor forma. Ações permanente, que pode ser aprendida somente de
como a reestruturação gerencial através de forma contínua, procedendo conforme sua
Núcleos, estratégias de compartilhamento das marcha.
atividades e conhecimentos, e a busca por novas
fontes de recursos, sugerem a preocupação dos Oportunidades para o design estratégico
Núcleos com a consolidação de uma estrutura A análise do caso possibilita perceber que o
cada vez mais descentralizada, sustentável e TRANSLAB possui um processo projetual
auto-gerenciável. desenvolvido, aplicado e validado diretamente na
No intuito de manter a multiplicidade dos comunidade local, uma premissa dos Living Labs.
projetos, aspectos visuais e funcionais são Como comunidade, desenvolve seu próprio
considerados para um maior entrosamento entre entendimento sobre si e suas práticas, de forma
as pessoas e projetos que o compõem, buscando natural e fluida, proporcionando assim o
a colaboração e a flexibilidade através de espaços aprendizado e conhecimento necessário para a
abertos que são constantemente repensados elaboração do projeto.
ecossistemicamente. A elaboração, introdução e avaliação dos
Os projetos, além de nortear as atividades do métodos, instrumentos e orientações utilizados
TRANSLAB, são entendidos como oportunidades durante a ação projetual do Lab são
em um espaço de problema, que pode ser encaminhadas para além da exploração e solução
definido de diversas formas, com diferentes do problema. O design estratégico atua na
níveis de impacto social, buscando novas formas mesma linha e ao constituir-se de um processo
de propagar, replicar e difundir o conhecimento projetual que atua em ambientes organizacionais,
gerado. busca resolver problemas complexos ou gerar
A fim de evitar dificuldades de interpretação e efeitos de sentido, resultando em produtos-
proporcionar o maior comprometimento dentre os serviços, que tornam visíveis as estratégias
atores, os objetivos e resultados a serem criadas (Zurlo [6]).
alcançados, prazos e necessidades e expectativas Ao analisar o contexto organizacional do
dos participantes do projeto, são discutidos desde TRANSLAB, é possível perceber uma
o início do projeto. Entretanto, não contam com oportunidade de contribuição do design
um método perceptível de compartilhamento e estratégico na proposição de uma lógica do fazer,
acompanhamento das atividades para fins de aplicando um olhar do todo e conduzindo o
aprimoramento. Tampouco o processo de processo (design driven) até as etapas mais
percepção de descobertas e novas teorias, assim tangíveis da execução dos projetos (Zurlo, [6]).
como metodologias e métricas, utilizadas no O design estratégico se propõe a oferecer
desenvolvimento dos projetos são propriamente transformações necessárias a partir da

9
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
interpretação da complexidade da realidade com consequência deste percurso é a construção de
base em sua capacidade de ver (interpretar o novos cenários de atuação e a identificação de
contexto), prever (desenvolver cenários) e fazer novas trajetórias de inovação (Manzini e Jégou
ver (tornar o conceito concreto) (Zurlo [6]). Sob [30]; Cautela [29], p. 115-121).
esta ótica, a habilidade de prever se relaciona O uso dos cenários e do contrabriefing
com a interpretação dos contextos e a auxiliam a organização na visualização do futuro
antecipação de cenários futuros. de forma desafiadora e criativa, promovendo uma
A construção de cenários, na perspectiva do mudança no modelo mental dos envolvidos,
design estratégico, objetiva inicialmente ampliando a capacidade de percepção necessária
contrapor os diferentes caminhos do projeto, e, para reconhecer os eventos inesperados e tomar
posteriormente, orquestrar os fluxos de atitudes proativas.
conhecimento na rede de projetos. Ou seja, os A participação dos indivíduos é indispensável
cenários caracterizam o desenvolvimento de uma para a realização de cenários sustentáveis, que
proposta com base em alternativas que são passam a influenciar o discurso do Living Lab
organizadas para dar apoio à discussão e decisão sobre o futuro da comunidade local através de
do melhor caminho projetual a ser seguido. questionamentos sobre o propósito, os contextos,
Os cenários oportunizam a antecipação de os atores envolvidos e as relações de poder entre
riscos inerentes ao projeto ao avaliar os impactos esses atores. Esses caminhos podem ser
das ações futuras, sintetizando o projeto e os considerados diferentes olhares estratégicos que
valores intangíveis que dele resultam (Cautela podem influenciar, de forma positiva, o projeto
[29]). Desse modo, pode-se afirmar que os em si e o próprio futuro da Living Lab.
cenários são instrumentos que dão suporte para
a tomada de decisões em ambientes com grandes CONSIDERAÇÕES FINAIS
incertezas (Manzini e Jégou [30]), característicos A investigação realizada através do estudo de
dos contextos sociais. caso embasado no TRANSLAB retrata a
Além disso, os cenários possuem ainda a capacidade de um Living Lab de favorecer a
capacidade de facilitar o entendimento e o reunião e interação de recursos e competências
compartilhamento de conhecimentos, pois, complementares entre diferentes atores de forma
segundo o autor, estes prefiguram um mundo de a conceber uma maior quantidade de
referências possíveis em termos de contexto, de conhecimento voltado à inovação social. Por meio
significados e de efeitos de sentido. Desta forma, da colaboração e dos projetos em rede,
a projeção de cenários pode auxiliar na agilidade desenvolve processos criativos e colaborativos no
necessária à compreensão das intenções sentido da elaboração, distribuição e intervenções
projetuais do TRANSLAB. voltadas às mudanças sociais locais.
Ao considerar a construção de cenários em Neste contexto, o projeto pode ser
sua prática projetual, o design estratégico sugere considerado um elemento constituidor de
em suas premissas a revisita ao problema de abertura ao possível ao propor possibilidades
forma contínua, durante todo o processo de como eventos abertos a uma nova ordem de
projeto, ou seja, a utilização da perspectiva do conexões entre os atores. Deste modo, cada
contrabriefing. Para Meroni [24], a estratégia do indivíduo tem a oportunidade de presenciar,
design estratégico está impreterivelmente experimentar e avaliar novas formas de elaborar
relacionada ao problematizar e soluções viáveis, de novas oportunidades.
concomitantemente questionar seu percurso. Ao relacionar os conceitos e atividades
O contrabriefing proporciona um espaço desenvolvidas pelos Living Labs com os princípios
reflexivo para a discussão do briefing e sua apresentados sobre o design estratégico e a
confrontação os resultados do projeto até o inovação social, é possível verificar uma
momento. No caso do TRANSLAB, estes convergência conceitual e empírica. A partir
resultados seriam analisados e reinterpretados, desta consonância, foi possível identificar e as
revisitados e repensados continuamente pela possibilidades de contribuição do design
comunidade através da rede do projeto. A

10
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
estratégico para com os processos projetuais do [3] Veeckman, Carina; Schuurman, Dimitri;
TRANSLAB. Leminen, Seppo; Westerlund, Mika, 2013, Linking
O design estratégico apresenta premissas Living Lab Characteristics and Their Outcomes:
possivelmente relevantes ao Lab ao buscar as Towards a Conceptual Framework. Technology
reais questões a serem solucionadas, envolvendo Innovation Management Review. December, p. 6–
os membros da comunidade no processo de 15.
elaboração de cenários solutivos, promovendo o [4] Edwards-Schachter, M. E.; Matti, C. E.;
senso crítico em relação ao projeto. Alcántara, E, 2012, Fostering Quality of Life
Através da perspectiva de interpretação through Social Innovation: A Living Lab
contínua da ação, o Living Lab torna-se apto a Methodology Study Case. Special Issue:
operar em contextos que sofrem mudanças Innovation, Innovation Policy, and Social
frequentes e imprevisíveis, o que possibilita o Inclusion in Developing Countries. Volume
reposicionamento do problema mesmo durante 29, Issue 6, pages 672–692, November.
seu processo de implementação. Aliada ao Disponível em:
contrabriefing, a construção de cenários busca, <http://digital.csic.es/bitstream/10261/108408/1
neste sentido, obter a visão do todo, através de /life%20through%20social%20innovation.pdf>.
alternativas que apresentem as melhores Acesso em 07 jan. 2015.
condições para a tomada de decisão quanto ao [5] Jackson, Deborah J, 2013, What is an
projeto em andamento. Innovation Ecosystem? National Science
A construção de cenários e o contrabriefing, a Foundation: Arlington, VA. Disponível em:
partir da proposta apresentada, trabalham na <http://erc-
promoção de diálogos estratégicos entre os assoc.org/sites/default/files/download-
indivíduos, pois permitem desenvolver uma visão files/DJackson_Innovation-Ecosystem-2013.pdf>.
compartilhada e motivada, comum aos atores Acesso em 07 jan. 2015.
envolvidos. Assim, ao promoverem uma série de [6] Zurlo, Francesco, 2010, Design Strategico.
atividades e espaços para colaboração e In: XXI Secolo, vol. IV, Gli spazi e le arti. Roma:
compartilhamento de conhecimentos, valorizando Enciclopedia Treccani.
o papel do cidadão, empoderando-o a participar [7] Chick, Anne, 2015, Design for social
do processo de inovação, os Living Labs acabam innovation: Emerging principles and approaches.
por ratificar os princípios referenciados sobre Disponível em: < http://iridescent.icograda.org
inovação social. >. Acesso em: 20 jan. 2014.
Como ampliação da investigação do presente [8] Leminen, S.; Westerlund, M.; Nyström, A.
artigo, sugere-se a averiguação de uma maior Living Labs as Open-Innovation Networks, 2014,
quantidade de Living Labs a fim de obter Technology Innovation Management Review
evidências do mesmo fenômeno a partir de (September), p. 6–11, Disponível em:
diferentes fontes. Caso seja pertinente, sugere-se <http://timreview.ca/article/602>. Acesso em 22
ainda realizar a aplicação e validação das dez. 2014.
possíveis contribuições do design estratégico [9] Ballon, P., Pierson, J; Delaere, S, 2005,
conforme apontadas neste artigo, a fim de avaliar Test and experimentation platforms for
o efetivo impacto organizacional e social broadband innovation: examining european
promovidos pelas inovações propostas à practice. Conference Proceedings of 16th
comunidade local. European Regional Conference by the
International Telecommunications Society (ITS),
REFERÊNCIAS Porto, Portugal, 4-6 September. Disponível em:
[1] Capra, F, 2002, As conexões ocultas – <http://userpage.fu-
ciência para uma vida sustentável. São Paulo: berlin.de/~jmueller/its/conf/porto05/papers/Ballo
Cultrix. n_Pierson_Delaere.pdf>. Acesso em 22 dez.
[2] Castells, M, 2009, A sociedade em rede. 2014.
2º vol. 12ª ed. São Paulo: Paz e Terra. [10] Bergvall-Kareborn, Brigida; Stahlbrost,
Anna, 2014, Living Lab: an open and citizen-

11
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
centric approach for innovation. International [20] Meroni, Anna, 2008, Strategic design:
Journal of Innovation and Regional Development, where are we now? Reflection around the
356-370. Disponível em: foundations of a recent discipline. Strategic
<https://pure.ltu.se/portal/files/42742740/Living Design Research Journal, v.1, n.1, Dec 1, p.31-
_Lab_An_Open_and_CitizenCentric_Approach_for 38.
_Innovation_preprint.pdf>. Acesso em 22 dez. [21] Reyes, P, 2011, Processo de Projeto em
2014. Design: uma proposição crítica. In: Metodologias
[11] ENoLL. Recommendations on em Design: Interseções. Bauru: UNESP.
networked systems for open user-driven [22] Morelli, Nicola, 2002, Designing
research, development and innovation, 2007, Product/Service Systems: A Methodological
Living Labs Roadmap 2007-2010. Disponível em: Exploration. In: Design Issues, v.18, n.3, p.3-17.
<http://www.scribd.com/doc/38953413/Living- Disponível em:
Labs-Roadmap-2007-2010>. Acesso em: 22 dez. <http://www.jstor.org/stable/1512062>. Acesso
2014. em 11 out. 2014.
[12] Westerlund, Mika; Leminen, Seppo, [23] Celaschi, F, 2007, Dentro al progetto:
2011, Managing the Challenges of Becoming an appunti di merceologia contenporanea. in:
Open Innovation Company: Experiences from Celaschi, F.; Deserti A. Design e innovazione:
Living Labs. October. Disponível em: strumenti e pratiche per la ricercaapplicata.
<http://timreview.ca/article/489>. Acesso em 07 Roma: Carocci.
jan. 2015. [24] Meroni, Anna, 2008, Strategic Design to
[13] Manzini, Ezio, 2014, Making Things take care of the territory. Networking Creative
Happen: Social Innovation and Design. Design Communities to link people and places in a
Issues 2014 30:1, 57-66. Disponível em: scenario of sustainable development. In: P&D
<http://www.mitpressjournals.org/doi/abs/10.11 Design 2008, 8º Congresso Brasileiro de Pesquisa
62/DESI_a_00248?journalCode=desi#.VLv3ekfF- e Desenvolvimento em Design. São Paulo.
Qk>. Acesso em: 22 dez. 2014. [25] Franzato, Carlo, 2011, O processo de
[14] Manzini, Ezio, 2008, Design para inovação dirigida pelo design: um modelo teórico.
inovação social e sustentabilidade: comunidades REDIGE, Rio de Janeiro, v.2, n.2, Abril. Disponível
criativas, organizações colaborativas e novas em: <http://www.cetiqt.senai.br/ead/redige>.
redes projetuais. Rio de Janeiro: E-Papers. Acesso em 19 set. 2014.
[15] Freire, Karine de Mello, 2011, Design de [26] Jégou, F; Manzini, E,, 2006, Collaborative
Serviços, Comunicação e Inovação Social: um services: social innovation and design for
estudo sobre serviços de atenção primária à sustainability. Milano: Edizioni Poli.design.
saúde. Dissertação de Mestrado –Pontifícia [27] Gil, Antonio Carlos, 1999, Métodos e
Universidade Católica do Rio de Janeiro. técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo:
[16] Meroni, A.; Sangiorgi, D, 2011, Design Atlas.
for Services. From Service Design to Designing [28] Yin, Robert K, 2001, Estudo de caso –
for Services as a ‗mean‘ for society planejamento e métodos. (2Ed.). Porto Alegre:
transformation. Gower Publishing. Bookman.
[17] Manzini, E; Staszowski, E, 2013, DESIS [29] Cautela, Cabirio, 2007, Strumenti di
Network, Public and Collaborative: Exploring the design management. Milao: FrancoAngeli.
intersection of design, social innovation and [30] Manzini, E.; Jégou, F, 2004, Design degli
public polity. The New School. scenari. In: MANZINI, E.; BERTOLA, P.
[18] Bourdieu, Pierre, 1987, Choses dites. DesignMultiverso. Milano: Edizioni POLI.design.
Paris: Minuit.
[19] Morin, Edgar, 2006, Introdução ao
pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina.

12
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

Você também pode gostar