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Discente: Mônica Caroline Morais

TRABALHO DE PROCESSO DO TRABALHO

Inversão do ônus da prova

Segundo Nelson Nery Junior, “provas são os meios processuais ou materiais


considerados idôneos pelo ordenamento jurídico para demonstrar a verdade, ou não, da
existência e verificação de um fato jurídico. ” As provas estabelecem a veracidade de
um fato ou de uma afirmação, prova é uma palavra originária do latim probation, que
emana do verbo probare, que significa examinar, persuadir, demonstrar.
A CLT não nos traz um conceito de prova, no entanto, verifica-se no
art. 769 da CLT, determina que nos casos de omissão da CLT deve Processo do Trabalho
amparar-se no Código de Processo Civil. Todavia, o Novo CPC também não traz uma
definição do conceito de prova, meramente em seu artigo 369 assevera que: “As partes
têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos,
ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos, em que se
funda o pedido ou defesa e influir eficazmente na convicção do juiz”.
O objeto da prova indubitavelmente são os fatos, uma vez que o direito deve ser
conhecido pelo Juiz.
Nas palavras de Leone (2013), o objeto da prova são os fatos. Fatos deverão ser
provados, uma vez que é o juiz que conhece o direito (jura novit curia). Os fatos que
estão relacionados a lide e que se mostram controversos, são objeto de prova.
Compartilhando do mesmo entendimento MAURO SCHIAVI (2016) assevera:

“O fato a ser provado deve ser relevante e pertinente ao


esclarecimento do processo, ou seja, que possa influir na convicção
do juiz. Além disso, há a necessidade de que haja controvérsia sobre
sua existência. Vale dizer: que o fato seja afirmado por uma parte e
contestado pela outra. ” (SCHIAVI, 2016, p. 655)

Significa dizer que os fatos não controvertidos, como regra geral, não são objeto
da prova, pois não sendo controversos, são admitidos como verdadeiros no processo.
As provas no direito processual do trabalho, devem ser norteadas segundo os
princípios constitucionais da ampla defesa, do devido processo legal, do contraditório.
Além desses, também devem ser observados os princípios trabalhistas da oralidade, da
busca da verdade real e lealdade processual, porém, existem princípios que são
específicos, que regulam a matéria, são eles:
a) Princípio da Necessidade da Prova: determina que os fatos alegados devem vir
acompanhados de provas que possibilitem o reconhecimento do direito.
b) Princípio da Licitude e Probidade da Prova: as provas ilícitas são vedadas em
nosso ordenamento jurídico, não bastando apenas ser idônea, deve ser obtida por meios
lícitos.
c) Princípio do Livre convencimento Motivado do Juiz: a doutrina o classifica como
o princípio da persuasão racional, de acordo com esse princípio, permite ao juiz formar
seu convencimento, ou seja, a decisão do juiz não está vinculada à prova, desde que
fundamentada, a decisão cabe ao magistrado, que goza de liberdade para analisar a
verossimilhança dos fatos da causa.
d) Princípio da Aquisição Processual da Prova no Processo do Trabalho: as provas
pertencem ao processo, ou seja, a partir do momento que a prova é produzida, passa a
integrar os autos, mesmo que não tenha sido a parte que a apresentou, o juiz tem a
faculdade, de acordo com suas convicções, beneficiá-la, conforme a literalidade do
artigo 371 do CPC que dispõe: “O juiz apreciará livremente a prova,
independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões
da formação de seu convencimento.”
e) Princípio da Aptidão Para a Prova: a prova deve ser produzida por aquele que
apresenta melhor condição.
f) Principio da Oralidade: de acordo com Mauro Shiavi, a oralidade possibilita que o
juiz colha informações relevantes ao seu conhecimento, proporcionando assim a
possibilidade de uma sentença mais justa. Isso por que, o contato direto com as partes,
possibilita ao juiz, uma melhor avaliação, nas provas orais, uma vez que poderá analisar
as expressões corporais nos depoimentos, que são de extrema relevância para a
convicção do juiz.
A CLT é de 1943 e seu principal objetivo, foi a imposição de regras que
regulamentasse as relações de trabalho, em uma época em que a exploração da mão de
obra era feita de forma indiscriminada, não respeitando a dignidade dos trabalhadores.
Talvez esse seja o motivo das várias omissões existentes no texto das leis do trabalho,
uma vez que não se teve um planejamento sistematizado que possibilitasse adentrar nas
diversas celeumas das questões trabalhistas. Dessa forma, é legítima o disposto no
artigo 769, da CLT, ao determinar a aplicação do Código de Processo Civil como fonte
subsidiaria do Direito do Trabalho, para sanar eventuais omissões, naquilo em que houver
compatibilidade, como verifica-se em relação ao ônus da prova.
A CLT é sucinta quanto ao ônus da prova, apenas mencionando que o ônus da
prova incumbe à parte que fizer conforme prevê o artigo 818.
O art. 818 da CLT estabelece que a prova das alegações incumbe à parte que as
fizer. Dessa forma, não bastam as alegações da parte para a formação do convencimento
do magistrado, mas sim deverá prová-las (princípio da necessidade da prova).
Diz o novo CPC em seu Art. 373 que: “O Ônus da prova incumbe: I. Ao autor,
quanto ao fato constitutivo do seu direito; II. Ao réu, quanto à existência de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. ”
Para Mauro Schiavi (2016):

“O Ônus da prova, no nosso sentir, é um dever processual que


incumbe ao autor quanto ao fato constitutivo do seu direito e ao réu
quanto aos fatos modificativos, extintos e impeditivos do direito do
autor, que, uma vez não realizado, gera uma situação desfavorável à
parte que detinha o ônus e favorável à parte contrária, na obtenção
da pretensão posta em juízo. ” (SCHIAVI, 2016, p. 678)

Na doutrina existem alguns posicionamentos que insistem em diferenciar o ônus


e dever, essa diferença funda-se no fato de que tais institutos trazem consequências
diversas, ou seja, sanções distintas no caso de descumprimento.
A diferença está no elemento substancial, isso quer dizer que ao falar-se em ônus
atenta-se para a faculdade que a parte tem para conseguir determinada vantagem, o que
não é o mesmo que o dever, que para ele significa vínculo da vontade e é imposto e não
faculdade. O ônus não pode ser visto como regra, mas o dever é para todos, dever é
geral.
As partes têm o dever de apresentar as provas que sejam necessárias para a
formação do livre convencimento do juiz.
É importante destacar que o Novo CPC trouxe um modelo de cooperação, ou
seja, todas as divergências no tocante ao Código de Processo Civil ser ou não aplicável
ao Processo do Trabalho, estão superadas, visto que o próprio código traz previsão sobre
sua aplicação supletiva e subsidiaria ao Processo do Trabalho.
A inversão do ônus da prova é medida excepcional, de acordo com Leone
(2013), permite que o reclamante apenas alegue os seus direitos, mas sem a necessidade
de trazer a respectiva prova de suas alegações, transferindo assim, o ônus probatório
para a reclamada que terá a obrigação probatória, o ônus de provar os fatos
modificativos ou extintivos do direito do autor.
É medida excepcional, pois como já foi dito, a regra é que o ônus de provar
incumbe a quem alega. Assim MAURO SCHIAVI. (2016) destaca:

“Segundo a regra geral de divisão do ônus da prova, o reclamante


deve provar os fatos constitutivos do seu direito e o reclamado, os
fatos impeditivos, modificativos e extintivos do direito do autor
(art. 818 da CLT e 333 do CPC). No entanto, há a possibilidade, em
determinadas situações, de o juiz inverter esse ônus, ou seja,
transferir o encargo probatório que pertencia a uma parte para a
parte contrária. Desse modo, se ao autor pertence o ônus da prova do
fato constitutivo do seu direito ele se transfere ao réu, ou seja, o réu
deve comprovar a inexistência do fato constitutivo do direito do autor.
” (SCHIAVI, 2016, p. 683)

Ainda que a teoria das provas não seja uma tarefa fácil de ser tratada, a justiça
do trabalho é um dos campos do direito que mais se desenvolveu em relação às
inovações no tocante as provas. Porém, o entendimento de alguns tribunais é a aplicação
da inversão do ônus da prova no processo do trabalho, feita com fundamento no Código
de Defesa do consumidor, que é pautado pela hipossuficiência do consumidor.
Entretanto, para alguns doutrinadores poderia ser aplicado o princípio da maior
aptidão para a prova, ao invés da que aplicação do CDC, isso porque para eles não
estamos tratando de hipossuficiência, mas de distribuição dinâmica do ônus da prova.
Existem algumas situações na justiça do trabalho, como por exemplo em uma
ação de danos morais, onde fica inviável para o empregado provar a culpa do
empregador e, que em razão da dificuldade do empregado, tem-se concedido a inversão
do ônus da prova, transferindo para o empregador, o juiz pode, levando em consideração
a hipossuficiência e a verossimilhança da alegação fazer a inversão.
No entanto a grande questão é que a lei não determina qual seria o momento
adequado para que o juiz conceda a inversão do ônus probatório, contudo, no âmbito
trabalhista as provas são colhidas em audiência e por isso entendemos que este é o local
e momento adequado para que o juiz ao verificar as circunstâncias que levam a inversão,
possa aplica-la, todavia, em razão do princípio da não surpresa, a decisão deve ser
fundamentada para que a parte contrária tome ciência.
O novo CPC no seu artigo 373, § 1º trouxe uma importante inovação, a teoria da
distribuição dinâmica do ônus da prova. De acordo com essa teoria, cabe a quem tem
melhores condições a produção das provas. Vejamos:

Art. 373 [...]


§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa
relacionados à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir
o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da
prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de
modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em
que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que
lhe foi atribuído. (BRAGA, 2016, p.80)

Torna-se relevante salientar que apesar do Novo CPC consagrar tal teoria, o
entendimento já pacificado pelo STJ é de que o momento processual adequado para a
aplicação do ônus da prova é no saneamento do processo. Porém, no processo do
trabalho não há de se falar em uma fase para o saneamento do processo, visto a
unicidade das audiências, onde tudo acontece em um único momento e o processo é
saneado na própria audiência em ato único, salvo a possibilidade de o juiz fraciona-la.
Desse modo, verificamos que o momento adequado para o juiz trabalhista fazer
a distribuição dinâmica deve estar entre a réplica, ou seja, a manifestação sobre a defesa
e a instrução processual.

REFERÊNCIAS BIBlIOGRÁFICAS

https://damianacunha.jusbrasil.com.br/artigos/412005327/o-novo-cpc-e-o-onus-da-
prova-no-processo-do-trabalho

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