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É certo que todos buscam racionalizar suas atividades em virtude do tempo. O indivíduo
moderno, cada vez mais dinâmico, prefere a organização máxima das suas tarefas, a fim de
não perder tempo. Este, por sua vez, reclama ainda maior relevância quando falamos da
defesa de direitos alheios. A regra é que a almejada solução de determinados conflitos não
obstáculo àquele que corre para ganhar momentos, acaba indo de encontro à razão, à
baiana. Como tentaremos demonstrar, trata-se de uma prática desnecessária à luz do sistema
dependência, para poder realizar o comando do artigo 253 do CPC. É que, caso não se
observe tal norma, o próprio sistema processual oferece meios para sanar o vício, pois um
juiz não pode decidir uma causa que não esteja dentro de sua competência.
Cada órgão judicial exerce a jurisdição dentro dos limites que a lei (em sentido amplo, no
Seguindo esta linha de pensamento, o juiz deve ser competente para conhecer das ações a ele
distribuídas. Chama-se “distribuição” a tarefa efetuada pelo setor distribuidor para entregar a
demanda a um dentre vários juizes competentes para julgá-la. Se por um equívoco, ou por
fraude, a ação for direcionada ao juízo incompetente, tentando-se burlar as regras de fixação
incompetência absoluta.
Vê-se que toda ação deve ser apresentada, por óbvio, ao juízo competente. Quando há, como
ocorre especificamente na Comarca de Salvador, a divisão dos trabalhos a vários juizes, todos
precedida da chamada distribuição. Vale dizer, reparte-se, tanto aqui como em todas as
mediante sorteio, e na mesma proporção entre os juízes com a mesma competência para
julgar a causa. Tal é a razão contida na norma processual pátria (artigos 251 e 252 CPC).
Assim, a distribuição de uma causa poderá ser independente, autônoma, seguindo um sorteio,
ou poderá ser diretamente remetida a um juiz determinado. Nesta hipótese, não se deve falar
JR., outros).
Naquela primeira situação a que nos referimos, ou seja, em que há o sorteio aleatório e
independente das causas, tem-se a regra da divisão dos trabalhos entre os juízes. Já na
segunda – exceção – é o que ocorre com o que se chama “distribuição por dependência”.
de Justiça – CGJ – chegam a baixar provimentos que visam o aprimoramento da função dos
tem sua importância, pois, de certo, esclarece o funcionamento dos trabalhos do Tribunal de
Pelo Código de Processo Civil, as causas serão distribuídas por dependência quando: a) se
relacionarem por conexão ou por continência, com uma outra causa já anteriormente
pretensão, mesmo que em litisconsórcio com outros autores (esta hipótese é novidade no
Dar-se-á conexão quando for comum o objeto ou a causa de pedir entre ações; trata-se de
continência quando houver identidade das partes e da causa de pedir entre ações e que o
objeto de uma, por ser mais amplo, abranger o da outra ação (artigos 103 e 104 do CPC), ou
No caso da distribuição por dependência a uma ação extinta, em face da desistência (artigo
253, inciso II), criou-se a denominada “prevenção por processo findo” consoante
ensinamento do Prof. Fredie Didier Jr. (A nova reforma processual. São Paulo: Ed. Saraiva,
2003, p.37).
Todavia, o presente ensaio não pretende analisar a reforma ocorrida no CPC em 2002.
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Apenas para informação: Provimento n.º 04/2001-CGJ-SE: “Art. 7º - Exceto nos casos de Embargos,
Cautelares, Habeas Corpus (...) não pode haver distribuição por dependência”; Provimento n.º 06/1999-CGJ-CE:
“Art. 113 – Estão sujeitos à distribuição por dependência, os embargos do devedor, de terceiros, reconvenção, a
ação principal em relação à cautelar...”; Consolidação Normativa da CGJ-RJ: “Art. 9º, § 5º - A distribuição por
dependência, nos casos de conversão de separação em divórcio...”.
Para que se entenda a crítica aqui formulada, cumpre esclarecer, muito brevemente, algumas
órgãos do Poder Judiciário. A partir de tais critérios é que será a causa encaminhada ao órgão
competente.
Pelo primeiro tipo, a divisão obedece a certos critérios (absolutos) de forma que as causas que
neles se enquadrem devem ser remetidas, necessariamente, aos órgãos competentes para delas
conhecer. Aqui, prevalece o interesse público pela atuação da jurisdição. Já no segundo tipo,
a divisão baseia-se em outros critérios de fixação (critérios relativos), de forma que as ações
que os atendem podem ser encaminhadas a um órgão que, originariamente, não seria o
competente para delas conhecer. Vale dizer, observa-se a prevalência do interesse das partes.
judiciário que normalmente não receberia o processo. Lá, a competência não pode ser
alterada ou transferida para outro órgão (competência fixada por critérios absolutos).
2000, p. 240): “Nos casos de competência determinada segundo o interesse público (...), em
não. Abrimos, no entanto, parênteses para apenas informar que é cediço que existem algumas
situações que podem parecer-se como hipótese de competência relativa – tendo em vista os
critérios fixadores -, mas que, por vontade legal, tratam de competência absoluta e assim,
improrrogável, portanto (exemplos: artigo 95, parte final, CPC; artigo 48 da Lei Federal n.º
6.766/79).
encaminhar os autos ao juízo competente, de forma que os atos decisórios praticados pelo
Incompetência suscitada pela parte (artigo 112, CPC). Por outro lado, quando se tratar de
incompetência absoluta, qualquer interessado, além do próprio juiz, pode (rectius, dever para
pode ser feita em qualquer momento do processo e em qualquer grau de jurisdição, por se
tratar de nulidade absoluta – apesar de o momento mais correto ser o da contestação (artigos
113, § 1º, CPC). Destarte, tanto o juiz deve atuar ex officio, quanto a parte adversária pode
causa que tenha conexão ou continência a uma outra previamente proposta, ou ainda que se
trate de reiterada formulação de pedido objeto de ação que, por desistência, fora extinta,
É que há uma prática que nos parece, no mínimo, sem relevante sentido. Ao se distribuir uma
que se postule seja a ação processada num Juízo determinado, em virtude da dependência a
uma outra ação anteriormente ajuizada (p.ex: situação de conexão ou continência, como
Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, não aceitam a petição inicial sob o fundamento de
que é necessário, para a distribuição por dependência, o despacho do juiz da Vara respectiva,
do Estado do Rio de Janeiro que, no Livro I (Parte Geral), Título I (Corregedoria Geral de
Justiça), Capítulo I (Da Estrutura e Do funcionamento), Seção III (Da distribuição de feitos),
Subseção I (Disposições gerais), assim dispõe no parágrafo 5º, do artigo 9º: Art. 9º omissis.
separação na Certidão de Casamento, que o Juízo prevento tem sede na mesma Comarca. Nos
demais casos, serão exigidos despacho judicial e ofício indicando os autos que motivaram a
despacho prévio, autorizador da distribuição por dependência. Roga-se vênia, portanto, para
O que queremos dizer é o seguinte: trata-se de perda de tempo (tempo tão valioso em muitas
situações) exigir que se interrompa o magistrado para pedir o tal despacho autorizador da
se-ia protocolar a petição inicial da ação no Cartório do juízo ao qual se deseja encaminhar a
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No mesmo sentido: Provimento n.º 06/1999 da Corregedoria Geral de Justiça-CE (Consolidação das normas e
procedimentos vigentes), dispondo no artigo 113 que: “Estão sujeitos à distribuição por dependência, os
embargos do devedor, de terceiros, reconvenção, ação principal em relação à cautelar, e da cautelar incidental
em relação ao processo principal. § 1º. Nos demais casos, a distribuição por dependência somente será realizada
à vista de despacho do juiz competente que a determinar”. Ainda, o Código de Normas da CGJ-PR, através do
Provimento 047 alerta que: “3.1.17 – Independem de despacho judicial para ‘distribuição por dependência’, a
ação principal em relação à cautelar, a cautelar incidental, a impugnação ao valor da causa, a exceção de
suspeição e de impedimento, a impugnação pedido de assistência judiciária gratuita, a oposição e o protesto por
preferência. 3.1.17.1 – Nos demais casos, a distribuição por dependência somente será realizada à vista de
despacho do juiz competente que a determinar”.
momento) para daí autorizar aquela modalidade de distribuição, determinando fosse pelo
Cartório remetida a petição ao setor de distribuição para fazer todo o processo de registro da
ação.
Observe-se, contudo, que a prática é diferente. Procura-se “feito louco” uma oportunidade de,
muito oportunos (audiências, p.ex.), ou de estudo de uma causa complexa, ou de análise dos
requisitos para a concessão de uma tutela antecipada, urgentemente etc.; ou seja, atrapalha-se
o labor do magistrado para uma prática desnecessária. Outrossim, esclareça-se que tais
momentos tão preciosos do juiz nem sempre estão à disposição do advogado. Pior, é quando
quando aquelas oportunidades demoram bem mais a surgir, fazendo o neófito profissional
Bastante demorado, também, será todo este trâmite quando a ação à qual se pede dependência
petição juntamente com o processo ora desarquivado. Como sempre, em qualquer hipótese, o
juiz deveria analisar o processo para poder autorizar a distribuição por dependência (agora,
direito), são capazes de perceber, se quisermos piorar a situação, que se o juiz não autorizar a
distribuição por dependência, estarão diante de situação não menos complicada. Bela
Percebemos, ainda, que quanto mais extenso for o “rol” das ações que independem do
Justiça, como vimos, atender-se-ia com mais praticidade a economia processual e o instituto
Nada obstante, não defendemos tal enumeração porque achamos descabida a exigência do
despacho prévio, numa petição inicial, para poder ou não distribuir a ação por dependência,
inicialmente, acerca da existência ou não das hipóteses previstas no CPC para a distribuição
por dependência. É o que acontece com a decisão que defere o requerimento para a
concessão da gratuidade da justiça, por exemplo. Ora, o pensamento, tanto lógico quanto
absurdo, deve ser o mesmo. Note-se que ao apresentar a demanda junto ao setor distribuidor,
inicial, distribui-se a causa sem o recolhimento das custas. A análise pelo magistrado será
num momento posterior. Assim, ninguém defende a exigência de uma decisão prévia que
defira ou não a concessão da gratuidade de justiça sob o fundamento de que não será possível
distribuir a ação, porque o setor distribuidor (como deve) exige o pagamento das custas
Respeitosamente indagamos: onde está a economia processual? Por que não seguir o
comando do CPC? Por que a perda de tempo, se a parte adversária sempre contará com a
possibilidade de impugnar a falta de competência, bem como o juiz deverá fazê-lo ex officio?
Posição mais sensata é, por exemplo, o Provimento n.º 07/2002 da Corregedoria Geral da
Justiça do Estado de São Paulo, resolvendo, no artigo 1º, que deu nova redação aos itens 9.1 e
Paraná, dispõe no item 3.1.17.3 que “na área de família também poderão ser distribuídas por
devendo o oficial certificar o fato na própria petição e obter o visto do juiz de direito
Alguns poderiam até argumentar que se faria a economia processual e a boa organização dos
para o fato de que o advogado quando elaborou a ação já analisou a existência dos requisitos
da distribuição por dependência para poder encaminhar a ação ao juiz determinado. Ademais,
o principio do juiz natural impede seja escolhido o juiz processante. E contra o desrespeito a
tal principio, têm a parte adversária e o juiz (ex officio) a garantia de alegar o vicio, como
vimos. Por outro aspecto, já manifestamos em linhas anteriores, a perda de tempo é absurda
Realmente, toda ação deve ser proposta ao juízo competente. Se assim não acontecer, deve-se
absoluta. Ainda, não podemos esquecer do dever do juiz atuar ex officio nestas situações de
Neste sentido, diante do que modestamente foi exposto, entendemos que se deve seguir o que
dispõe o CPC quanto à distribuição por dependência (artigo 253), atendendo, assim, o
principio da economia processual para não mais se perder o tempo valioso na defesa de
direitos.
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