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- Byung-Chul Han considera que a sociedade disciplinar de Foucault (hospitais,

presídios, etc)
transicionou para sociedade do desempenho (academias, prédios de escritórios,
aeroportos,
shopping centers) no século XXI.
- A sociedade do desempenho é moldada pelo verbo "poder", e não mais pelo "dever"
da sociedade
da disciplina. O apelo à motivação, à iniciativa, ao projeto, é muito mais efetivo
à exploração
que o chicote ou as ordens.
- O sujeito do desempenho se sente livre, "empreendedor de si mesmo", mesmo que
autoexplorado.
- O poder opera através do estímulo ao desejo e à liberdade: a pessoa cada vez mais
acha que
escolheu "otimizar-se", atingir metas, obter performance por conta própria.
- Um dos grandes imperativos de controle hoje é a tirania do "seja feliz": famílias
harmônicas,
viagens incríveis, fotos cada vez mais perfeitas, corpos mais desejáveis, tudo
perpassado pela
questão digital (positividade).
- A liberdade das habilidades gera até mais coação que o dever disciplinar. A
habilidade é
ilimitada, tem sempre espaço para crescer. O trabalho não tem mais uma delimitação
espaço-temporal,
não termina nunca e gera autocobrança.
- As psicopatologias contemporâneas, enfermidades psíquicas como depressão e
"burnout" são a
expressão de uma profunda crise da liberdade, um sinal patológico de que a
liberdade se transforma
em coação.
- No seu livro "No Enxame - Perspectivas do Digital", o filósofo explica como o
aparato digital
torna o próprio trabalho móvel. Todos carregam o trabalho consigo como um depósito
do trabalho,
é impossível escapar dele. Dos smartphones, que prometem liberdade, parte uma
coação fatal, a
coação da comunicação. A demanda é contínua, e a necessidade de comunicar-se é
compulsiva e
compulsória. Han diz que hoje nos embriagamos da Mídia Digital sem que possamos
avaliar as
consequências disso. Essa cegueira e a estupidez que vem com ela constituem a crise
da atualidade.
O problema não é necessariamente a tecnologia, mas sim como ela se desenvolve de
uma maneira tão
mais rápida que a nossa capacidade de pensar sobre a relação que queremos ter com
ela.

- Isso gera efeitos como o "shitstorm" ("tempestade de indignação"), usado na


internet como campanha
difamatória ou medida disciplinar contra pessoas ou empresas (cultura do
cancelamento). Ele é
facilitado por uma cultura de desrespeito e indiscrição. É um fenômeno genuíno da
comunicação digital
que se relaciona, em última instância, com o estado de exceção pela suspensão de
direitos. O
"assassinato de reputação", a execração pública e, em alguns casos, o ataque à
integridade física,
estão intimamente ligados à suspensão de direitos. Han considera que, depois da
revolução digital,
soberano é aquele que dispõe do Shitstorm da rede.
- A era digital trouxe uma total falta de distância, na qual a intimidade é exposta
publicamente e o
privado se torna público. A exposição da intimidade e da esfera privada é quase
pornográfica. As redes
sociais são espaços de exposição do privado.
- A absolutização do valor expositivo se expressa como tirania da visibilidade, uma
vez que tudo deve
se tornar visível, "se não for postado, não vale, não é real". O imperativo da
transparência exige
visibilidade, exerce poder e violência.
- Não existe mais um "fora do panóptico", ele é total, não há muralha que separe o
interior do
exterior. Google, redes sociais, todos se apresentam como espaços de liberdade, mas
têm adotado formas
panópticas.

- A coerção da hipervigilância também é responsável pelo esgotamento neuronal do


sujeito do desempenho.
A aceleração impede que fechemos os olhos.
- A sociedade paliativa é uma sociedade do curtir, ela degenera em uma mania de
curtição. Tudo é
alisado até que provoque bem-estar. O like é o analgésico do presente. Ele domina
não apenas as mídias
sociais, mas todas as esferas da cultura. Nada deve provocar dor. A própria vida
tem que ser
instagramável, livre de ângulos, de conflitos, de contradições que poderiam
provocar dor.
- A hipocondria digital, a permanente automedição com apps de saúde e fitness,
smartwatches, degradam
a vida a uma função. A vida perde a narrativa promotora de sentido, não é mais
narrável, e sim
mensurável, contável. Desvanecem também todos os rituais que fariam a vida ser mais
que um mero
manter-se vivo.
- A hiperatividade e a aceleração fazem com que desaprendamos a ira. A ira
pressupõe pausa, é nisso que
ela se distingue da irritação. Sem a ira, não há condições de interromper um estado
e fazer com que se
inicie um estado novo. Hoje ela cede lugar à irritação, que não produz nenhuma
mudança decisiva.

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