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DESAPROPRIAÇÃO - VALOR DA INDENIZAÇÃO

- A valorização do imóvel, resultante de obra pública, não pode


ser compensada com o preço da indenização devida ao expropriado;
o remédio, em tais casos, é a cobrança da contribuição de melhoria,
distribuída entre todos os proprietários.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Espólio de Praxedes Lopes de Menezes versus Estado da Bahia
Recurso extraordinário n.O 72.950 - Relator: Sr. Ministro
LUIz GALLOTII

ACÓRDÃO Há que se considerar, portanto, a área


limpa, como se nela nada houvesse. Mas
Vistos e relatados estes autos de RE ela toda, todo o terreno expropriado, aquele
n.O 72.950, da Bahia, em que é recorrente em que recaiu a imissão provisória (fls. 25),
o Espólio de Praxedes Lopes de Menezes e não somente a parte relativa aos 21 lotes,
e recorrido o estado da Bahia, decide a isto é, 8.095,01m2, abstraídos os I.799,80m2
Primeira Turma do Supremo Tribunal Fe- destinados ao prolongamento da Rua Teo-
deral conhecer do recurso e dar-lhe provi- doro Sampaio, embora seja essa a opinião
mento, unanimemente, de acordo com as do perito do Juízo e do assistente do perito
notas juntas. do expropriante (fls. 47 e 97).
Brasília, 2 de junho de 1972. Luiz Gal/otti, O loteamento da gleba estava longe de
Presidente e Relator. ser executado, quando houve a expropriação,
encontrando-se aprovada apenas a sugestão
RELATÓRlO da respectiva planta (fls. 115), e nos primei-
ros entendimentos a forma como os lotes
o Sr. Ministro Luiz Gal/otti: Trata-se seriam postos à venda através de uma em-
de desapropriação. presa especializada desta capital (fls. 117),
A sentença, de 15.11.69, está assim funda- faltando, o que é importante no caso, o
mentada (fls. 114-7): registro do empreendimento no cartório de
"2. O decreto de desapropriação refere-se imóveis competente.
a um imóvel constituído de uma casa e de Vê-se, pois, que a expropriação ultrapas-
um terreno com área aproximada de sou a área correspondente aos 21 lotes -
10.OOOm2, que, na verdade, mede 9.894,81m2. aquela que o expropriante quer indenizar
Esse terreno iria transformar-se no lotea- - alcançando a outra que seria destinada
mento Jardim Labatu, cujos lotes seriam à abertura de uma via pública, se o lotea-
vendidos para construção de prédios resi- mento se concretizasse.
denciais. Para se demonstrar a sem razão do expro-
Dada a natureza dessa destinação, não se priante, imagine-se, por exemplo, que se
pode levar em conta, para efeito do cálculo ele quisesse abrir uma rua naquele local,
da respectiva indenização, a casa residen- e não erguer um prédio, teria, forçosamente,
cial, estragada, nem as árvores frutíferas ali que pagar ao proprietário um determinado
existentes, pois elas seriam sacrificadas com e justo preço. como legal e comumente o
a divisão da gleba em lotes, com a abertura faz em casos semelhantes.
de uma via pública em prolongamento da Ora, para que a desapropriação abran-
Rua Teodoro Sampaio e com a instalação gesse somente os 21 lotes, necessário seria
dos serviços de água, esgoto, luz elétrica, etc. que estes estivessem expostos à venda, cum-

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pridos os requisitos legais indispensáveis ao oferecido e o ora arbitrado, na qual devem
empreendimento, inclusive, como já se disse, incidir juros legais contados da data da
o de sua inscrição no competente cartório imissão até à da avaliação, e correção mone-
do registro de imóveis. tária daí em diante, apenas."
Conseqüentemente, não sendo essa a hipó· Ambas as partes apelaram.
tese dos autos, o que se expropriou foi toda E o acórdão de fls. 16!l deu provimento
a gleba, a que está bem especificada no ao recurso do expropriado, tão só para de.
citado Decreto n.O 20.276, cuja área, descrita terminar que a correção monetária abranja
no pedido de Os. 2 e na pericia judicial. a parcela não levantada do depósito ini.
representa 9.894,81m2. cialmente feito pelo Estado, confirmando no
mais a sentença (li).
!lo Os dois únicos elementos que podem
ser trazidos à consideração para se encon· Recurso extraordinário do expropriado
trar um preço justo se relacionam com a (alíneas a e d) foi indeferido, mas houve
situa~ do imóvel e com o valor venal dos agravo e fiz subir o recurso, para melhor
bens da mesma espécie nos últimos cinco exame.
anos, sendo certo que, no primeiro caso, A Procuradoria-Geral opina que se não
está localizado em zona quase central e de conheça do recurso.
fácil acesso. ~ o relatório.
Com referência ao segundo elemento, é
incorreto fixá-lo. tendo em vista apenas o VOTO
atual mercado imobiliário, também infla-
cionado pelas inúmeras obras públicas ora o Sr. Ministro Luiz Gallotti (Presidente
em execução neste munidpio. ~ preciso que e Relator): A sentença confirmada entendeu
se recue no tempo, até uns dois anos, quan- que não deveria fixar a indenização com
do o valor dos imóveis nesta capital não base no valor atual do mercado imobiliário,
atingia nem a metade do preço hoje cor- inflacionado por inúmeras obras públicas
rente. em execução, e que, assim, era preciso recuar
Dessa forma, o limite mfnimo do valor no tempo, até uns dois anos, quando o
encontrado para o bem expropriado não valor dos imóveis na capital baiana não
pode ser o do laudo de fls. 92 - NCr$ 70,00 atingia nem a metade do preço hoje cor-
o metro quadrado - pois não corresponde rente (Os. 116).
à média do valor nos últimos cinco anos. Por isso, não admitiu o valor mínimo
A média desse cálculo, parece· me, é constante do laudo de fls. 92 (Cr$ 70,00
aquela encontrada pelo perito do juiro, e por metro quadrado), não aceito, aliás, pelo
pelo assistente técnico do expropriante, com expropriado, que pleiteou, no mínimo,
o que concordo, feita a retificação deter- Cr$ 90.00 por metro quadrado (Os. l07v.)
minada no item 2 desta sentença. por não corresponder aquele valor, no en-
Em vista do exposto, fixo a indenização tender da sentença, à média dos últimos
na importância de quinhentos e cinqüenta cinco anos. E adotou o juiz o valor estimado
e quatro mil cento e nove cruzeiros novos pelos peritos seu e do expropriante
e trinta e seis centavos (Cr$ 554.109,!l6), que (Cr$ 56,00 por metro quadrado - Os. 117).
corresponde a 9.8M,81m2 à razão de cin- Ora, não se trata de reexame da prova,
qüenta e seis cruzeiros novos (NCr$ 56.(0), como pareceu à douta Procuradoria·GeraI,
a unidade, e condeno o expropriante a pagar e, sim, do critério legal, e mesmo constitu-
honorários de advogado na base de 15% cional, regulador da indenização devida ao
sobre o valor da diferença entre o preço expropriado.

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o que o recorrente pleiteia (fls. 179v.) Nesse mesmo sentido, já proferi voto, que
é que se reforme o acórdão, na parte em se tomou vencedor, no Tribunal Pleno.
que, confirmando a sentença, lhe endossou Assim, conheço do recurso e lhe deu pro-
erros de direito, seja quando atribuiu ao vimento.
imóvel valor anterior à data da desapropria-
ção, seja quando entendeu que não se po- EXTRATO DA ATA
deria beneficiar o expropriado com valori-
zação decorrente de obras públicas. RE n.O 72.950 - BA - ReI., Ministro Luil
E o recorrente cita, quanto aos dois pon- Gallotti. Recte., Praxedes Lopes Menezes
tos, acórdãos divergentes do Supremo Tri- (Espólio) (Adv., josapha Marinho). Recdo.,
bunal, sendo que, no tocante ao segundo, Estado da Bahia (Adv., Dylson Dória).
este, de que foi relator o eminente Ministro Decisão: Conhecido e provido. Unânime.
Oswaldo Trigueiro (fls. 166v.-167): Falaram, pelo recorrente, o Or. josaphat
Marinho, e, pelo recorrido, o Dr. Pedro
... " a plus valia ... decorrente de obra
Gordilho.
pública .,. não pode ser compensada com
o preço da indenização. O poder desapro- Presidência do Sr. Ministro Luiz Gallotti.
priante, em tal caso, dispõe do recurso à Presentes à sessão os Senhores Amaral San-
contribuição de melhoria, que se distribuirá tos, Djaci Falcão, Oswaldo Trigueiro e o
equitativamente entre todos os proprietá- Dr. Oscar Corrêa Pina, Procurador-Geral da
rios." (RE n.O 24.815 - Rel., Ministro República, substituto. Licenciado, o Sr. Mi-
Oswaldo Trigueiro: RTI, 41/57). nistro Barros Monteiro.

DESAPROPRIAÇÃO - VALOR DA INDENIZAÇÃO

- O processo expropria tório não é meio idôneo para a recupe-


ração de bens litigiosos.
- Não é lícito ao poder público utilizar-se do processo ex pro-
priatório para resolver questões possessórias.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Augusto Vieira e sua mulher versus Prefeitura Municipal de São Paulo


Recurso extraordinário n.O 74.047 - Relator: Sr. Ministro
OswALDO TRIGUEIRO

ACÓRDÃO llELAT61l1o

Vistos, relatados e discutidos estes autos, O Sr. Ministro Oswaldo Trigueiro: O


acordam os Ministros da Primeira Tumla juiz da Terceira Vara da Fazenda Municipal
do Supremo Tribunal Federal, na confor- de São Paulo julgou procedente ação de
midade da ata do julgamento e das notas desapropriação, intentada pela Prefeitura
taquigráficas. por unanimidade de votos, contra Augusto Vieira e sua mulher, fixando
conhecer do recurso e dar-lhe provimento. em Cr$ !l2.257,00 a indenização do terreno
Brasflia, 8 de agosto de 1972. Luiz Gallotti, demandado e das benfeitorias nele existen·
Presidente. Oswaldo Trigueiro, Relator. tes (fls. 78).

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