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2) Para fazer cumprir a “idade futura” vaticinada por toda uma tradição mítico-profético
que perpassa a história de Portugal, incluso a célebre Batalha de Ourique, cujas
repercussões incidem diretamente na história do Brasil, entronizando a dinastia dos
Bragança.
Após a Batalha de Alcácer Quibir, onde D. Sebastião é pretensamente dado como morto
sem deixar descendentes, a coroa Imperial fechada será mantida nas armas nacionais.
No entanto, os Bragança usam o antigo título de Rei e não de Imperadores. Essa
tradição será rompida com D. Pedro I e D. Pedro II do Brasil que outorgam para si o
título de Imperador passando a usar a coroa Imperial fechada, mas, sem nenhuma
ligação desta com a tradição de Ourique e o mito do Quinto Império.
Diante do acima exposto, evidencia-se que desde D. João IV até D. Manuel II, todos os
Reis da Casa de Bragança não usam Coroa, excetuando-se D. Pedro I (D. Pedro IV em
Portugal) e D. Pedro II (do Brasil) que, além de usarem a coroa Imperial arrogam para si
o título de Imperador, cujo sentido à luz da história de Portugal revela-se somente
dentro do contexto da tradição do Quinto Império.
Destes breves apontamentos, vislumbra-se que a denúncia feita por Tito Lívio Ferreira
acerca das ideias que informam o programa encarnado pelo Iluminismo e aprofundado
na República de se fazer História explicada recolhem um consenso generalizado de
privilegiar a visão do intérprete em detrimento da verdade que os documentos oficiais
dão testemunho. Assim, a historiografia luso-brasileira do século XIX introduziu
palavras e conceitos à revelia do que constam nos documentos oficiais, contemplando a
falsidade das coisas e dos homens, não passando, portanto, de uma literatura de
compromisso que prefere ignorar a interrogar, limitando-se a exaltar fidalgas ou
plebeias virtudes, sem penetrar a alma autêntica da terra e dos homens em busca da sua
vera essência.
Nesta conformidade, a obra de Tito Lívio Ferreira apresenta-se como um espaço- tempo
de reflexão transdisciplinar dos arquétipos luso-brasileiros, à margem de chauvinismos,
constituindo um contraponto indispensável à cultura do efémero tão em voga.