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Sandra Turchi

Diretora e fundadora da Digitalents

O m da economia das curtidas


Ao fechar a métrica de likes, Instagram estimula novas formas de interação no marketing
de influência

24 de julho de 2019 - 14h00

(Crédito: Marc Schafer/Unsplash)

“Evitar o clima de competição entre usuários, promover um maior bem-estar àqueles que figuram na plataforma e incentivar a produção
de conteúdo autêntico.” Eis as razões oficiais do Instagram para ocultar a visualização pública de “likes” em fotos e vídeos postados no
feed da mídia social. A medida já estava em discussão desde o primeiro semestre, mas, somente na última quarta-feira, 17, foi aplicada ao
usuários brasileiros.

Segundo a plataforma, a ação é uma continuidade dos testes que tiveram início em maio deste ano no Canadá, e que, paulatinamente,
chegarão a usuários de todos os países. “Não queremos que as pessoas sintam que estão em uma competição dentro do Instagram e nossa
expectativa é entender se uma mudança desse tipo poderia ajudar as pessoas a focar menos nas curtidas e mais em contar suas histórias”
afirmou a empresa em nota oficial.

Altruístico. Até a página cinco.

O fato é que, com o sucesso dos stories, a plataforma se viu forçada a dar um upgrade na sua funcionalidade original: o feed. Eis aí, hoje,
um dos maiores dilemas do Instagram: mais conteúdos nos stories e menos no feed. Outro fator crucial é que a economia das curtidas
beneficiava até pouco tempo uma categoria específica de usuários: os influenciadores digitais, que “monetizavam”, sobretudo os megas-
influencers, verdadeiras fortunas com “likes” e “views.

Ocorre que esse capital não estava migrando para os cofres da Facebook Inc. Foi quando Mark Zuckerberg resolveu abrir (ainda mais) os
olhos para garantir também a sua fatia na receita. Sem as curtidas, a plataforma cria para si mesma a oportunidade de vender algo que o
digital influencers, até então, tinham relativamente de graça: números oficiais de engajamento.

Ou seja: removendo as curtidas, é quase certo que o Instagram faça com que os usuários gastem mais tempo no feed, fornecendo
informações e dados cada vez mais detalhados sobre si mesmos. Por tabela, impõe uma espécie de “pedágio” aos influenciadores digitais
ainda se exime de qualquer responsabilidade pela competição desenfreada por “likes” entre as pessoas. O discurso “abnegado” de
preocupação com o bem-estar dos usuários é perfeito.

O uso do Instagram apenas para lazer, pelos usuários, deve ser pouco alterado pela nova medida. No entanto, para quem utiliza
profissionalmente a plataforma, está em início de carreira, ainda não detém uma robusta base de fãs e vê os “likes” como um recurso par
contabilizar o envolvimento no seu perfil, a mudança será maior.

Falando em influenciadores digitais, sempre vi com certa cautela a “aliança” entre eles e as marcas. Acredito que a relação, sobretudo no
Brasil, ainda precisa amadurecer. Um dos indicativos, por exemplo, é a escolha do influencer a partir do tamanho da sua base de
seguidores, e não da relevância ou do compromisso que possui com o posicionamento da marca. Um mindset oriundo do universo da
mídia offline, onde apenas audiência e market share eram (são) considerados importantes.

Um pensamento, a meu ver, equivocado, em que o influenciador é visto apenas como mídia e não como criador conteúdo genuíno. É uma
crença e uma prática limitadas. E que demonstram a necessidade e a grande oportunidade de desenvolvimento e profissionalização do
mercado brasileiro de marketing de influência.

A ausência da visualização pública das curtidas acarretará mudanças: no comportamento dos usuários, no trabalho dos influenciadores e
na estratégia de divulgação das marcas… tudo será afetado. O “fim das curtidas” vai impactar uma dinâmica até então consolidada. E
novas formas de interação, mais sofisticadas, terão de ser criadas. O poder das marcas e dos influenciadores está no relacionamento. E,
mais do que nunca, será fundamental oferecer o que é relevante para os seguidores.

Aos criadores de conteúdo, fica o meu alerta sobre a importância de serem responsáveis e coerentes com aquilo que produzem, endossam
ou compartilham, pois, afinal, influenciam diretamente o pensamento de milhares ou milhões de pessoas. Têm um poder imenso de
inspirar comportamentos e isso não pode ser usado de forma equivocada.

Que o verdadeiro “like” seja para a autenticidade.

*Crédito da foto no topo: Reprodução 

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