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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO
FACULDADE DE DIREITO

IVA: História e significação econômica frente à tributação internacional

Disciplina: Direito Tributário Internacional

Turma: A

Prof. Dr. Antônio Moura Borges

Alunos Especiais:

 Marco Aurélio Cavalcante,

 Marcos Daniel Colares Barrocas e

 Nathalia Soares Lisboa


1. Histórico

O Imposto sobre o Valor Agregado (IVA) é um projeto que visa à substituição e


unificação de outros impostos cobrados ao consumidor, em um único imposto, a
partir de uma reforma tributária.

Este imposto já é praticado há muitos anos pelo bloco da União Europeia,


devido à criação de uma moeda única na Comunidade, fruto do crescimento do
comércio internacional.

Os países que compõem a União Europeia tiveram que harmonizar as suas


legislações fiscais e tributárias, bem como adotar medidas para impedir a dupla
tributação. A harmonização fiscal é, assim, um instrumento facilitador do processo de
integração.

No ano de 1952 a França adotou o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA),


em substituição ao imposto sobre a produção. Este fato veio a repercutir em muitos
países da Europa, fazendo com que começasse a ganhar corpo a ideia de um imposto
único.

A partir de 1960, o imposto único ganhou força, o objetivo era proporcionar uma
harmonização fiscal dos vários impostos. A Comissão Europeia requisitou um estudo
sobre as alterações que deveriam ser introduzidas nas finanças públicas dos Estados que
fariam parte da União Européia, com o intuito de tornar possível ao Mercado Comum,
mitigar as disparidades fiscais que impediam a formação do verdadeiro mercado interno
(Correia, 1995).

Em 1962 é publicado o relatório do Comité Neumark, que incluiu um pacote de


iniciativas a serem desenvolvidas em três fases: a primeira fase foi concentrada nos
impostos indiretos, o objetivo era centralizar a reforma da aplicação do Imposto sobre o
Valor Acrescentado (IVA), com a harmonização da forma e do nível de imposição dos
impostos sobre os juros e dividendos, e ainda, propor a modificação das convenções
existentes que levavam a dupla tributação entre os Estados-Membros. Na segunda, foi a
harmonização dos impostos sobre as sociedades e finalmente na terceira, a criação de
um serviço comum de informação, semelhante a um registo europeu de renda e riqueza,
a fim de garantir a eficácia dos controlos fiscais (Garcia, Padsdorf, & Mihi-Ramirez,
2013).

O Imposto sobre o Valor acrescentado (IVA) requereu um grau de envolvimento


da União Européia, uma vez que é necessário definir regras comuns para o
funcionamento do IVA.

No que se refere ao crescimento do comércio internacional, este serviu de


argumento para a criação de uma moeda única. Entre 1970 e 1972, a CEE deu o
primeiro passo nesse sentido: os Estados comprometeram-se a limitar as margens de
flutuação do câmbio das suas moedas de modo a garantir a estabilidade monetária
(European Commission, 2000).

A denominação de União Europeia foi determinada no Tratado de Maastricht1,


em 1992, no qual os Estados-Membros se comprometeram a cooperar no que toca à
Política Exterior, Defesa e Justiça e assuntos internos, como imigração e asilo. Além de
serem criados o princípio da subsidiariedade e uma gama de medidas para a
concretização de uma União Econômica e Monetária.

A criação da Zona do Euro ocorreu no ano 2000, quando onze países da União
Europeia adotaram essa moeda nas suas transações comerciais e financeiras. Para a
adoção de uma moeda única, os países que compõem a União Europeia tiveram que
harmonizar as suas legislações fiscais e tributárias, bem como adotar medidas para
impedir a dupla tributação (European Commission, 2000).

As distorções fiscais foi uma grande barreira para a eliminação de disparidades


financeiras e para a integração de políticas tributárias nos Estados-Membros da União
Européia, devido às divergências causadas pelos preços no processo de unificação dos
mercados.

A harmonização fiscal é, assim, um instrumento facilitador do processo de


integração, com o objetivo de eliminar as distorções tributárias que impedem a
construção do mercado interno, aproximando gradualmente os vários sistemas fiscais,
conservando os diferentes países um grau de independência no momento de definir a
sua política fiscal interna (Rodriguez & Garcia, 2002).

2. A DINÂMICA DO IVA FRENTE AOS MERCADOS E AOS ESTADOS


SOBERANOS

Sabe-se dos incentivos que Estados soberanos promovem nos mercados


internacionais no afã da atrair investimentos para sí. Tais políticas são próprias de
Estados competitivos e devem representar polos de atração de investidores ávidos por
custos fiscais mais atraentes e capazes de promover a expansão de seus lucros.

O Imposto sobre Valor Agregado (IVA) carreia a ideia central de redução da


carga tributária, haja vista, que, por incidir sobre cada etapa do processo produtivo, mas
considerando as etapas anteriores, sob a perspectiva dos valores debitados e creditados
no processo, incentiva os mercados devido seu viés não-cumulativo, conforme nos
ensina MOREIRA (2009), verbis:
Assim, apesar de a apuração ser um tanto mais complexa (em
comparação com a tributação plurifásica cumulativa, que era o
padrão então vigente) e de as alíquotas dos IVAs serem
necessariamente mais elevadas que as dos tributos à cascade, as
vantagens superam os defeitos, tanto sob a ótica dos agentes
produtores como sob a do Estado-arrecadador. Afinal: (a) o
mecanismo de abatimento do tributo pago na etapa anterior gera uma
fiscalização cruzada entre os próprios contribuintes; (b) a dedução
em cada etapa do tributo pago na anterior, de forma a permitir que o
ônus tributário seja equivalente à aplicação da alíquota sobre o
preço final, faz com que o número de estádios de circulação da
mercadoria ou prestação do serviço não influa no quantum devido.
Por isso, o IVA é considerado neutro (seu ônus independe do número
de operações tributadas); (c) com a neutralidade fiscal, ganham os
agentes econômicos, que não têm que se verticalizar para reduzir
os custos tributários, podendo concentrar-se na atividade em que
tenham maior aptidão (produção, distribuição ou venda a varejo);
(d) para o comércio internacional, as vantagens são expressivas: a
exportação pode ser efetivamente desonerada (o método de apuração
em comento permite a devolução ao exportador do imposto que
gravou os insumos utilizados na produção das mercadorias vendidas
para o exterior – o que não é passível de ser feito em tributos
plurifásicos cumulativos, nos quais é bastante difícil determinar o
montante exato do gravame que incidiu no processo produtivo).
Modernamente, sabe-se que o IVA não repercute sobre o valor acrescido, mas
sobre o valor integral da operação. O quantum debeatur do imposto que retorna como
credito é obtido após o abatimento concedido nas etapas anteriores, conhecido como
método subtrativo indireto, que prevaleceu por ter se revelado operacionalmente
mais viável, pois é destacado em nota fiscal.

Não se pode negar que há evidente estimulo a circulação de bens no mercado


sobre os quais incide tal tributo, mas sua dinâmica de incidência e envolvimento com o
contribuinte reflete seu caráter sui generis.

Sua conformação pelo mundo estabelece-se sob a perspectiva do IVA-Bruto,


incidente sob ativos que se relacionam sobre o processo produtivo ou o IVA-Liquido,
diferenciando-se o IVA-Consumo e o IVA-Renda.

No Brasil, o IVA-Consumo é fenômeno que reside sob o viés do ICMS, imposto


de traço fortemente regressivo e sobre o qual gera disputas concorrenciais entre estados-
membros determinados a conceder incentivos legais sobre sua incidência e que acabam
por enfraquecer o sistema federativo e a comprometer a arrecadação, renda e patrimônio
dos entes estaduais com a acentuação deste fenômeno nacional.

A modernização na seara do sistema tributário dos estados nacionais é


fundamental no fomento de seu mercado e na interação deste com mercados
internacionais, mais competitivos e com encargos fiscais mais amenos.

A suavização da carga tributária com impostos mais dinâmicos e que


acompanhem o movimento dos fluxos econômicos internacionais é fundamental para o
aquecimento de processos produtivos ou de mercancia de estados ou de grandes polos
produtores internacionais.

O Estado nacional deve estar atento aos ganhos na engenharia tributaria, olhando
outros ordenamentos jurídicos, comparando a eficiência de seu sistema com os demais
sistemas eficientes pelo mundo e buscando, ainda, valorar a equidade na aplicação de
seus tributos, fator bastante marcante na seara dos tributos sobre o consumo gerando a
regressividade danosa aos direitos humanos dos mais carentes e afastando-se da justiça
fiscal, fator fundante em qualquer estado democrático de direito.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a possibilidade de adoção do IVA NO Brasil, o país se tornará mais


competitivo em relação ao mercado e pode contribuir de forma mais justa diminuindo a
massiva carga tributaria do nosso sistema, pois o IVA é eficiente por não ser
cumulativo, não afetando a produção, não onera a exportação, tem a capacidade de
aumentar a competitividade, e por ser um tributo produtivo, pode ainda aumentar a
receita.

Por se tratar do único país do MERCOSUL a não o possuir, o projeto de


inserção no mercado brasileiro e aplicação do IVA, como pode ser observado por
diversos estudos e PEC, infelizmente, ainda, não consta nenhuma data ou resquício de
que poderá ser implementado em nosso país.

No caso ocorreria a substituição dos tributos sobre bens e serviços (ICMS, IPI,
PIS, COFINS, CIDE-Combustíveis) por dois impostos, sobre o valor adicionado: um
estadual (IVA-E) e um federal (IVA-F).

Com a aplicação do IVA é analisado também que a facilidade com que se apura
este imposto deve melhorar a dinâmica de arrecadação, facilitar investimentos e
diminuir a sonegação fiscal. A implementação do IVA será de gestão compartilhada,
com legislação nacional e fiscalização estadual, de forma que cada Estado, possa
praticar uma alíquota e também com a transição do imposto conterá um longo período
para a mudança do regime tributário.

A União Europeia, o bloco econômico que obteve melhor experiência de forma


conhecida com o sistema do IVA, teve a preocupação de realizar sua harmonização
tributária nos impostos sobre o incidente do consumo.
Este sistema consiste em aplicar aos bens e serviços, um imposto geral sobre o
consumo exatamente proporcional ao preço oferecido, independente qual seja o número
de transações ocorridas no processo de produção e de distribuição anterior à fase de
tributação, dessa forma, o valor é calculado sobre o bem ou serviço, e a taxa é aplicada
com prévia dedução do montante do IVA que incide sobre o custo dos diversos
elementos constitutivos do preço.

Este sistema será aplicado até o estado de varejo, que nada mais é, que a
atividade de compra e venda de mercadorias, cujo comprador é o consumidor final.
Assim, o IVA tem como objetivo incidir sobre fases do processo de produção, desde o
produtor até o vendedor, através do método subtrativo indireto, das faturas, do crédito
de imposto ou sistema dos pagamentos fracionados.

Mesmo que em apertada síntese, é imperioso ressaltar que o sistema comum de


IVA tem como objetivo suprimir os controles fiscais nas fronteiras internas
relativamente a todas as operações efetuadas entres os Estados-membros, aproximar as
taxas de IVA dos Estados-membros e estabelecer um período transitório, com uma
duração limitada, a fim de facilitar a passagem para o regime definitivo de tributação
das trocas comerciais entre Estados-membros. Esses são alguns dos principais pontos do
sistema comum do imposto sobre o valor agregado na União Europeia.

E atualmente é adotado pelos países membros da União Europeia, pelos países


integrantes do Mercosul, exceto o Brasil, que ainda está estudando sua implementação e
lembrando que dentre os países ricos, os Estados Unidos não adotam esse sistema.

Com a apresentação da proposta do IVA há a possibilidade de benefícios para


uma implantação do imposto sobre o valor agregado com a tão defendida e pouco
realizada reforma do sistema tributário brasileiro, a qual se encontra por complexo mais
ainda pela existência de inúmeros tributos que integram o preço dos produtos de forma
que encarecem e dificultam o cumprimento das obrigações tributária pelos
contribuintes.

Assim, toda e qualquer medida que possa considerar e causar um impacto


produtivo e significativo, enquanto na qualidade de arrecadação, de modo que possa
criar mais arrecadação para o Estado Brasileiro é medida necessária e fundamental.
Dessa forma, a possibilidade de maiores ganhos enquanto carga tributária no Estado
Democrático de Direito será ainda mais eficiente quando da implementação do Imposto
sobre valor Agregado - IVA.
REFERÊNCIAS

Correia, A. O IVA na União Européia: as dificuldades do processo de harmonização.


Estudos Jurídicos e Políticos: 1995.

European Commission. Reforming the Commission: <A White Paper - Part II - Action
plan COM/2000/0200 final. Obtido em 24 de Fevereiro de 2014, de EUR-Lex:
http://eur- lex.europa.eu/legalcontent/EN/TXT/HTML/?uri= CELEX:52000DC0200(02
)&qid=1413045121453&from=EM. > Acesso em: 02 Dez. 2018.

Garcia, E. C., Padsdorf, M. N., & Mihi-Ramirez, A. Fiscal Harmonization and


Economic Integration in the European Union. Inzinerine Ekonomika-Engineering
Economics, 2013.

MOREIRA, André Mendes. Não-cumulatividade tributária no Brasil e no mundo:


origens, conceito e pressupostos. In: Sistema Tributário Brasileiro e a Crise Atual –
VI Congresso Nacional de Estudos Tributários. CARVALHO, Paulo de Barros e
SOUZA, Priscila de.São Paulo: Noeses/IBET, 2009, pp. 47-88.

Rodriguez, E. F., & Garcia, S. A. Evolucion de la Armonizacion Comunitária del


Impuesto Sobre Sociedades en Materia Contable y Fiscal, DOC. nº 17/02 . Instituto
de Estudios Fiscales y Universidad de Oviedo, 2002.

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