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INSTITUTO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE MÚSICA
SISTEMAS MODAIS
SISTEMAS MODAIS
SISTEMAS MODAIS
A música produzida pelas mais diversas culturas que deixaram registro
histórico apresenta caráter modal. Isso significa que as práticas musicais de
diversas regiões do globo terrestre têm características comuns, que podem ser
definidas com base em alguns princípios geradores.
Algumas civilizações da Antigüidade iniciaram um processo de
sistematização da organização sonora, segundo preceitos cosmológicos,
relações numéricas, naturais e míticas entre as notas, ou simplesmente a partir
da escuta atenta de sons do ambiente.
Na Mesopotâmia e no Egito, existiram vários gêneros de música
religiosa, cerimonial, lúdica e cortesã. Entretanto, não restou documentação
que ateste qualquer aspecto sobre como ela era praticada. Conhecem-se,
atualmente, apenas alguns instrumentos que permitem deduzir que foram
empregadas escalas pentatônicas e heptatônicas.
O sistema musical mais antigo que chegou aos dias de hoje, é o sistema
pentatônico chinês, que remonta à época dos imperadores lendários, há cerca
de cinco mil anos. O sistema de ragas indiano, com diferentes tipos de escalas
de cinco a dez sons, é o mais detalhadamente conhecido do Oriente, devido à
grande quantidade de escritos preservados e à disseminação atual dessa
música. Entre os sistemas modais do Ocidente, estão o Sistema Diatônico da
Grécia clássica e o Sistema Modal Eclesiástico empregado no canto
gregoriano, na polifonia da Europa medieval e na música renascentista.
Após um período de predomínio do Sistema Tonal, músicos modernistas
europeus, no século XX, retomaram práticas modais antigas, ocidentais e
orientais. Em países com tradições mais recentes, como ocorre na América,
têm sido pesquisados elementos da música folclórica e popular urbana: nos
Estados Unidos, foram incorporados elementos do blues e do jazz a outros
gêneros de música; músicos latino-americanos pesquisaram as raízes
indígenas e africanas, incorporando-as em suas criações. Isso trouxe, à
atualidade, o interesse por diferentes sistemas sonoros e estruturas modais.
Este texto abordará alguns dos métodos modais mais destacados,
desde os sistemas milenares da China e da Índia, até o emprego de estruturas
modais na música brasileira atual.
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A escala pentatônica Kumoi é formada pelas notas ré, mi, fá, lá e si. Os
modos dessa escala são obtidos quando se inicia uma nova escala com cada
uma dessas notas, conforme demonstra o exemplo acima.
O que define a distinção entre os modos de uma escala é a disposição
dos intervalos de cada modo, sendo que os modos são obtidos da seguinte
forma: tomam-se as notas de determinado conjunto sonoro e inicia-se uma
nova escala a partir de cada uma de suas notas. Cada uma dessas escalas
contém diferentes intervalos e é, portanto, um modo particular de organização
dos intervalos, com base nas mesmas notas.
Exceções a esse princípio geral ocorrem quando uma escala é formada
pela repetição do mesmo intervalo, como ocorre na escala de Tons Inteiros,
que é formada por uma seqüência de intervalos de tom, e na escala Cromática,
construída somente por semitons. Essas duas escalas têm apenas um modo.
Na escala de tons inteiros do exemplo abaixo, pode-se iniciar por
qualquer nota e a ordenação dos intervalos permanece sempre a mesma: tom-
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1
Nas escalas simétricas, a quantidade de modos é menor do que o número de notas. A escala
diminuta octatônica (com 8 notas), que é formada por uma seqüência de tons e semitons, há
somente dois modos: 1) tom-semitom-tom-semitom, etc.; 2) semitom-tom-semitom-tom, etc.
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Modo 12 2
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2
A métrica fonética é medida através da acentuação e da duração das palavras, distribuídas
em sílabas tônicas, átonas, longas e breves.
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Sistema Lü Chinês
Uma característica comum a diversas culturas, que está presente em
várias regiões do globo terrestre e em várias épocas, é a organização de
sistemas musicais com base na afinidade do intervalo de quinta justa.
Com exceção da repetição da própria fundamental em diferentes
oitavas, a nota que forma intervalo de 5ªJ com relação à fundamental é o som
parcial mais presente e mais potente, na série harmônica da maior parte dos
instrumentos musicais. Isso significa que esse intervalo produz a relação de
maior nível de consonância entre duas notas diferentes.
Desde os manuscritos mais antigos conhecidos sobre música,
encontram-se explicações sobre a racionalidade desse intervalo.
Há cerca de cinco mil anos, os chineses desenvolveram um sistema
musical embasado nas afinidades do intervalo de quinta. Segundo a lenda, foi
o Imperador Amarelo, Huang-Ti, quem criou a escrita dos ideogramas chineses
e a música daquele país, que era organizada com base em princípios
numéricos a partir da ressonância de um som fundamental (denominado
huang-kung).
Daí se desenvolveu um sistema pentatônico, amplamente empregado
ainda hoje em vários países asiáticos, em que todas as notas da escala são
obtidas com base no número cinco: cinco sons distribuídos à distância de
intervalos de quinta, entre si.
Por exemplo, a partir da nota dó, têm-se as quintas justas:
Dó Sol Ré Lá Mi
Dó Ré Mi Sol Lá
Cada modo contém uma distribuição particular dos graus, medida pelo
número de lü que os compõem.
Abaixo, está a distribuição dos intervalos de cada modo da escala
pentatônica K’in, em que os intervalos lü indicam a distância entre a nota inicial
do modo (fundamental) e o respectivo grau da escala.
Dó 2 lü 4 lü 7 lü 9 lü
Sol 2 lü 5 lü 7 lü 9 lü
Ré 2 lü 5 lü 7 lü 10 lü
Lá 3 lü 5 lü 7 lü 10 lü
Mi 3 lü 5 lü 8 lü 10 lü
dó ré mi sol lá
ré mi fá# lá si
sol lá si ré mi
lá si dó# mi fá#
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Como cada uma das escalas anteriores pode ser tomada como base,
tem-se um sistema que compreende todas as dozes notas lü, em um círculo de
quintas completo, que inicia e termina em dó.
Dó
Fá . ............... Sol
Sib Ré
Mib Lá
Láb Mi
Réb Si
Fá#
Cada uma das escalas pentatônicas assim obtidas pode ser organizada
em cinco modos diferentes. A escala de sol, por exemplo, tem os seguintes
modos (novamente, a leitura pode ser feita em sentido horizontal ou vertical):
sol lá si ré mi
lá si ré mi sol
si ré mi sol lá
ré mi sol lá si
mi sol lá si ré
Com isso, obtêm-se cinco escalas para cada nota fundamental lü. Como
há doze lü, chega-se a um total de sessenta escalas diferentes (5 x 12 = 60).
Trata-se, portanto, de um sistema extremamente sofisticado que tem
várias semelhanças com alguns sistemas ocidentais, desenvolvidos como
modos, transposições de escalas ou com base no círculo de quintas.
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dó ré mi sol lá dó ré mi sol lá
ré mi fá# lá si ré mi fá# lá si
sol lá si ré mi sol lá si ré mi
dó ré mi sol lá dó ré mi sol lá
ré mi fá# lá si ré mi fá# lá si
sol lá si ré mi sol lá si ré mi
Âdi-tala 8 4+2+2
Jhampa-tala 10 2+5+3
Jhap-tala 10 2+3+2+3
Chautala 12 4+4+2+2
Tisra-eka 12 4+4+4
Tritala 16 4+8+4
Deshadi 16 4+8+4
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A seguir, estão transcrições aproximativas desses talas, por Daniélou .
Âdi-tala Jhampa-tala
Chautala Tisra-eka
Tritala
Deshadi
3
DANIÉLOU, Alain. Anthologie de la musique classique de l’Inde. Paris: Audivis/Unesco.
Encarte CD, p. 34-43.
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4
O vocábulo raga deriva da palavra ranja, que significa ‘cor’, em sânscrito.
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Em uma comparação com o Sistema Temperado da música ocidental, em que todos os
intervalos (2ªm, 2ªM, 3ªm, 3ªM, etc.) são formados com base em dois intervalos básicos –
semitons e tons –, percebe-se que a constituição dos intervalos indianos a partir de três tipos
básicos permite a composição de melodias com maior gradação e improvisações mais
sutis,através do acréscimo de ornamentos microtonais.
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Os nomes das sete notas básicas da escala heptatônica indiana são: sa,
ri, ga, ma, pa, dha, ni. Na tradição indiana, essas notas são associadas a
cores, sons produzidos por animais e a elementos humanos (a alma, diferentes
partes do corpo e os centros de energia denominados chakras), conforme pode
ser percebido no quadro abaixo.
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Assim, sa-grāma significa “escala de sa" (como “escala de dó”, por exemplo).
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A escala sa-grāma equivale, aproximadamente, ao modo Dórico eclesiástico (Frígio grego),
cujo movimento ascendente é formado por: tom-semitom-tom-tom-tom-semitom-tom.
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A escala ma-grāma equivale ao modo Mixolídio medieval, que é formado por tom-tom-
semitom-tom-tom-semitomtom-tom.
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9
Note-se que, na transcrição, a nota pa (lá) contém uma seta para baixo, na escala ma-grāma,
e não contém esta seta, na escala sa-grāma. Isso significa que esta nota é um shruti mais
grave naquela escala.
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Bilaval
Kalyan
Khamaj
Bhairav
Purvi
Marwa
Kafi
10
MARSICANO, Alberto. A música clássica da Índia. São Paulo: Perspectiva, 2006, p. 53.
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Nestes exemplos, as escalas que têm 5sh (3ªm) são derivadas de sa-grāma e aquelas que
têm 7sh (3ªM) são derivadas de ma-grāma.
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Asavari
Bhairavi
Todi
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YOGANANDA, Paramahansa. Autobiografia de um iogue. Rio de Janeiro: GMT, 2006, p.
173.
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Marsicano explica que as escalas pentatônicas do Sistema Hindustani,
proveniente da Índia do Norte, estão relacionadas aos cinco elementos: água,
14
terra, fogo, ar e éter . Nas escalas pentatônicas, cada uma das notas tem a
capacidade de evocar um desses elementos, quando o raga é tocado na
estação apropriada do ano e no período adequado do dia.
Durga
Bhupali
Malkauns
Megh
Hamsa-Dwani
Shivranjani
Bibhas
13
MARSICANO, Alberto. A música clássica da Índia. São Paulo: Perspectiva, 2006, p. 54.
14
É interessante lembrar que, para os chineses, os elementos também são cinco, porém dois
deles são diferentes: em vez de éter e ar, estão madeira e metal. Nas tradições ocidentais, os
elementos são quatro: água, terra, fogo e ar.
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A seguir, estão alguns dos ragas praticados atualmente , segundo
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transcrições de Daniélou .
Bhairavi – “é similar ao modo Dórico dos gregos [modo Frígio medieval].
O modo indiano acrescenta uma segunda maior em algumas passagens. Este
modo é geralmente tocado pela manhã; reflete sentimentos de plenitude,
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calma, satisfação e ternura”.
Bhairavi do Sul
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Como os ragas são a combinação de modelos melódicos e padrões de escala, nem sempre
se pode transcrever um raga na forma de uma simples escala. Em alguns casos, a transcrição
é o resultado da combinação de uma escala com modelos melódicos próprios daquele raga.
Todas estas escalas estão transpostas para iniciar na nota dó. Com isso, pode-se perceber
com maior precisão as diferenças de intervalos, existentes entre elas.
16
DANIÉLOU, Alain. Anthologie de la musique classique de l’Inde. Paris: Audivis/Unesco.
Encarte CD, p. 34-43.
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As citações entre aspas são comentários de Daniélou sobre as características de cada raga.
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Todi do Sul – é uma variante sulista do modo Todi, com a quarta justa e
a sétima menor.
Chenchurutti
Punnâga-Varali
Nâda-nâmakriyâ
Sindhu-Bhairavi
Dó
Fá . ............... Sol
Sib Ré
Mib Lá
Láb Mi
Réb Si
Fá#
Primeiro tetracorde: mi – ré – dó – si
1t 1t ½ t
Distância entre os tetracordes: si – lá
1t
Segundo tetracorde: lá – sol – fá – mi
1t 1t ½ t
Modo Dórico
O nome provém da Dória, na ilha de Creta (v. mapa, abaixo). Considera-
se que foi o reino dórico que deu origem aos diversos povos gregos.
A escala (tonos) dórica inicia com nota Nete (mi agudo) e se movimenta,
descendentemente, até a Hypate (mi, na oitava inferior), com divisão em dois
tetracordes iguais tom↘tom↘semitom, separados por um tom.
Esta é a escala que os gregos consideravam que deu origem a todas as
outras.
Primeiro tetracorde: mi – ré – dó – si
1t 1t ½ t
Distância entre os tetracordes: si – lá
1t
Segundo tetracorde: lá – sol – fá – mi
1t 1t ½ t
Modo Frígio
O nome do modo provém da Frígia, reino da região da Anatólia.
Segundo o historiador latino Plínio, o nome deste povo deriva do rio Phryx, que
banha a região.
A escala frigia inicia na Paranete e desce uma oitava, dividida em dois
tetracordes iguais: tom↘meio-tom↘tom. Os tetracordes são separados por um
tom inteiro.
Primeiro tetracorde: ré – dó – si – lá
1t ½ t 1t
Distância entre os tetracordes: lá – sol
1t
Segundo tetracorde: sol – fá – mi – ré
1t ½ t 1t
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Modo Lídio
O nome do modo provém da Lídia, reino da Anatólia.
A escala segue, descendentemente, desde a nota Parhypate Hypaton
até Trite Diezeugmenon, em dois tetracordes iguais (meio-tom↘tom↘tom)
separados por um tom.
Primeiro tetracorde: dó – si – lá – sol
½ t 1t 1t
Distância entre os tetracordes: sol – fá
1t
Segundo tetracorde: fá – mi – ré – dó
½ t 1t 1t
Modo Mixolídio
O nome provém da combinação de escalas criada pela poetisa Safo de
Lesbos, no séc. VII a.C. O termo grego é Miksolúdios, que significa “tom musical
misturado” ou “combinação de instrumentos musicais”.
Trata-se de uma escala descendente, desde a Paramese até a Hypate
Hypaton, iniciando com um semitom da Paramese à Mese. Chama-se Mixolídio
(tonos misturado) porque não segue o mesmo padrão nos dois tetracordes. O
primeiro tetracorde é formado pelos intervalos: meio-tom↘tom↘tom; o
segundo tetracorde segue o padrão: tom↘tom↘meio-tom.
Outra característica que diferencia o modo Mixolídio dos outros três tonoi
básicos da música grega é o fato de que os tetracordes são separados por um
semitom (e não por um tom).
Primeiro tetracorde: si – lá – sol – fá
½ t 1t 1t
Distância entre os tetracordes: fá – mi
½t
Segundo tetracorde: mi – ré – dó – si
1t 1t ½ t
Além das quatro escalas básicas, são obtidas outras escalas pelo
princípio da expansão dos modos através do deslocamento da escala pelo
acréscimo de notas no registro superior ou inferior.
Para isso, basta tomar um o primeiro tetracorde e deslocá-lo à oitava
superior para obter os modos “hiper” (do grego hyper, que significa acima) e à
oitava inferior para obter os modos “hipo” (do grego hypo, que significa abaixo).
As escalas com notas acrescentadas no registro superior são chamadas
de “hiper” e as escalas com notas mais graves são chamadas de “hipo”. A nota
fundamental da escala, isto é, aquela em que as melodias iniciam e terminam
(equivalentes à finalis ou à tônica) sempre se encontram no meio das escalas
“hipo” e “hiper”, sendo que a nota mais aguda ou mais grave está disposta à
distância de quinta justa da nota central, devido ao deslocamento dos
tetracordes da escala original.
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Se essa escala for deslocada de modo a começar por uma nota que se
encontra à 5ªJ superior da nota mi, isto é, em que o primeiro tetracorde passa a
ser o segundo do novo tonos, tem-se uma escala que se estende de si a si.
Este é o modo Hiperdórico.
Se, ao contrário, a escala for deslocada para o registro grave e sua nota
inferior se encontrar uma 5ªJ abaixo da nota central mi, fazendo com que o
segundo tetracorde do Modo Dórico passe a ser o primeiro da nova escala,
tem-se o modo Hipodórico, que se estende de lá a lá.
Gêneros melódicos
As notas extremas de cada um dos tetracordes de determinado modo
são fixas, porém as notas intermediárias do modo podem ser alteradas. Isso
significa que, as notas fixas do Modo Dórico são as notas mi e si, no primeiro
tetracorde, e lá e mi, no segundo tetracorde.
No exemplo abaixo, as notas fixas estão indicadas por setas.
apenas de seu emprego adequado, pois cada modo e cada nuança melódica
está apto a imitar as paixões humanas. Seu discípulo Aristóxeno de Tarento
desenvolveu suas teorias com base nesses princípios e se tornou um dos
teóricos da música mais influentes da Antigüidade. Aristóxeno escreveu o
primeiro Tratado de Harmonia da história ocidental (é importante lembrar que
“harmonia” para os gregos significava o estudo das relações melódicas
existentes entre as notas de determinado modo).
Abaixo, está uma canção conhecida como Canto de Seikilos, que foi
encontrada em um túmulo grego do século I a.C.
O Canto Gregoriano
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Modos Eclesiásticos
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Para cada modo, há dois nomes: 1. em latim – Protus authentus (primeiro autêntico), Protus
plagalis (primeiro plagal), etc. – primeiras referências datam do séc. IX; 2. em grego – Dórico,
em textos dos séculos IX e X, a partir de interpretações errôneas de textos de Boécio (524) .
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modo são usadas para ornamentação da nota mais grave ou da nota mais
aguda.
No exemplo abaixo, a melodia inicia e termina na finalis (nota ré), sendo
que se movimenta em torno da confinalis: a nota lá é bordada com os
movimentos lá-si-lá e lá-sol-lá, indicados com colchetes, no exemplo abaixo.
Essas características indicam que esta melodia está no Modo Dórico, cuja nota
mais grave da escala é o ré. Entretanto, para finalizar a frase, esse ré é
bordado pelo dó (indicado com uma seta). Essa é uma nota que está fora da
extensão do modo, pois este se estende de ré a ré. Isso significa que a nota dó
foi utilizada, nesta melodia, como uma bordadura do ré, ou seja, sua função é
ornamentar a finalis, preparando o final da frase.
Musica Ficta
Modos Frígio/Hipofrígio:
Não há alterações.
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Modos Lídio/Hipolídio:
• alteração da nota si para si bemol, para evitar o trítono com relação à finalis
do modo.
Lá Si Dó Ré Mi Fá Sol
A B C D E F G
Modos Mixolídio/Hipomixolídio:
• alteração ascendente do VII grau, para gerar a sensível fá#.
Modos Eólio/Hipoeólio
Modos Jônio/Hipojônio
Não há alterações.
• alteração de mi para mib, para evitar o trítono mi-sib; isso ocorre em todos
os modos em que a nota sib se tornou característica.
• alteração ascendente do III grau dos modos menores (aqueles que têm a
3ªm a partir da finalis: Dórico, Frígio e Eólio, autênticos e plagais). O
resultado chama-se terça de picardia ou cadência de picardia.
A. Willaert, Ricercar.
• o Modo Jônio, que não tem alteração, é considerado como a ‘escala natural’
do Sistema Tonal, a partir da qual todas as outras escalas maiores são
derivadas.
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• o Modo Frígio, por não sofrer alterações, foi o último modo a ser convertido
em tonalidade, dando origem à cadência frígia e perdurando até a época de
Bach e Haendel.
Por exemplo, se o Modo Jônio for transposto para iniciar com a nota fá,
é necessário:
1. iniciar a escala com fá:
Digamos que seja necessário transpor essa melodia para que a nota
mais aguda seja o ré, por exemplo. Como a nota mais aguda da melodia é o fá
do primeiro compasso (quarta nota da melodia), para que a nota mais aguda
seja ré, é necessário realizar a transposição dessa melodia à terça menor
inferior, pois esse é o intervalo entre fá e ré.
O primeiro passo seria analisar o modo em que a melodia está
composta, o qual é o Modo Mixolídio, que tem estas características:
A transposição à terça menor inferior deve iniciar com a nota mi, cuja
escala tem estes intervalos e posições dos semitons:
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Assim, a melodia Galo Preto transposta para mi deve ter estas notas
alteradas:
Isso significa que se pode tornar a leitura mais fácil se for aplicado um
princípio do Sistema Tonal à música modal, isto é, se for tomada a armadura
da tonalidade que coincide com o modo desejado.
Essa é uma prática comum na escrita da música modal contemporânea.
Entendido dessa forma, tem-se um método que facilita o reconhecimento
do modo de determinada melodia, pois pode ser realizado com base na
armadura de clave, que se encontra no início da partitura.
Para aplicar o método citado, é necessário saber que cada um dos
modos naturais inicia em determinado grau da escala de Dó Maior.
Se for tomada como base a escala de Dó Maior, sabe-se que
• o Modo Jônio inicia o 1º grau, nota: dó;
• o Modo Dórico inicia o 2º grau, nota: ré;
• o Modo Frígio inicia o 3º grau, nota: mi;
• o Modo Lídio inicia o 4º grau, nota: fá;
• o Modo Mixolídio inicia o 5º grau, nota: sol;
• o Modo Eólio inicia o 6º grau, nota: lá;
• o Modo Lócrio inicia o 7º grau, nota: si;
Conclusão
A abordagem sobre os diferentes sistemas modais, apresentada neste
ensaio, demonstra a amplitude de possibilidades de organização da música em
modos. Sendo possível construir escalas de cinco a vinte e dois sons, como
demonstra o sistema de ragas da música clássica indiana, os métodos de
estruturação modal demonstram uma infinidade de possibilidades para a
organização das alturas.
Cada sistema modal tem suas características peculiares, que o
diferenciam dos outros. Isso se deve a vários fatores, tais como a comunidade
a partir da qual o sistema originou-se, as necessidades dessa comunidade
quanto à sobrevivência, aos conflitos internos e à sua convivência com outras
comunidades, seus valores sociais e religiosos, seus anseios espirituais e
interesses especificamente musicais.
Assim, entende-se porque um dos sistemas musicais mais antigos está
embasado em relações de cinco notas que se inter-relacionam com base no
intervalo de quinta justa, pois isso está diretamente ligado aos cinco elementos
que regem a natureza, na tradição chinesa. O mesmo pode ser dito sobre a
música clássica indiana, cujas escalas heptatônicas estão relacionadas aos
sete chakras, que são os principais centros de energia psíquica do corpo
humano e podem ser ativados através das cores ou dos sons – estes
entendidos como diferentes manifestações daquelas.
Na Grécia clássica, que certamente sofreu influências da Índia através
da Pérsia e das invasões de Alexandre, os modos eram entendidos como
tendo qualidades que poderiam provocar diferentes paixões e estas,
produziriam diferentes tipos de ação dos homens no mundo. Por essa razão,
Platão ensinava a evitar os modos que podiam provocar lassidão e incentivava
a prática dos modos que instigavam a coragem e a bravura.
No mundo cristão medieval europeu, os modos gregos foram retomados,
porém com nomes e características distintas. Isso permaneceu até o século
XVII, quando o Sistema Modal Eclesiástico foi suplantado pelo Sistema Tonal,
que predominou durante cerca de duzentos anos. No final do século XIX, a
pesquisa dos modos antigos e o estudo de culturas orientais, deu novo impulso
ao uso de escalas modais. A partir de então, escalas modais e organizações
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Bibliografia