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Disciplinas e competências

Aula: Disciplinas e
competências
Professor: Vivian Rio
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Disciplinas e competências

As competências dos educadores do 3


novo milênio: como adequá-las à realidade 3
Definição de Competência 6
Disciplinas X Competências: 10
Esclarecendo o Mal Entendido 10
Desenvolvimento de Competências: 10
Processo de Aprendizagem com foco em Competência 10
Níveis de Aprendizagem 11
Fatores que Influênciam na Aprendizagem 12
SUMÁRIO 1- Conhecimentos Prévios 13
2- Eficácia Pessoal 13
3- Prática reflexiva 13
Tratamento pedagógico do erro: 14
O Papel do Professor / Educador Reflexivo 16
Prática Reflexiva 17
O que Aprendi ao Ensinar 17
Aprender é um Processo Continuo – Mesmo para os professores/Educadores 19
Competências e Reflexividade: O que é ser Professor? 19
Professor, Profissão Estratégica 20
Foco da Aprendizagem por Competências 22
O que significa ser um bom Professor? 23
Funções do Professor/Educador 27
Funções do Professor/Educador 29
e os Tipos de aulas 29

Autoconhecimento e Percepção do Outro: 33


A Bse para o Relacionamento Interpessoal 33
Estilos de Comportamento Comunicativo 33
Estilos de Comportamentos Comunicativos 35
Conflito em Sala de Aula 38
Como administrar Conflitos 41
41

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Disciplinas e competências

AS COMPETÊNCIAS DOS EDUCADORES DO


NOVO MILÊNIO: COMO ADEQUÁ-LAS À REALIDADE
Quando se trata de definir a meta da escola, atualmente, é consenso que se deve focar no ensino de competências
em vez de ensino de conteúdo.

Mas essa é uma questão que tem raízes bastante profundas.

Desde a Grécia Clássica, já existia um currículo básico para formação do cidadão grego, nomeado de Trivium,
composto pelas disciplinas:

O Trivium destinava-se a todos os cidadãos da polis e não visava a qualquer formação específica ou à preparação
para o trabalho.

Depois do Trivium, havia o Quadrivium, currículo para aperfeiçoamento da mente, composto pelas disciplinas:

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Disciplinas e competências

As disciplinas não tinham, conceitualmente, o estatuto A ideia de especialistas em disciplinas e subdisciplinas,


de fim em si mesmas. Na realidade, elas tinham um duplo algo comum nos dias de hoje, é muito mais recente,
papel: mas decorrente desse processo de fragmentação de
conhecimento.

Dessa forma, há algumas décadas, a escola:

• Organiza-se de forma excessiva


na ideia de disciplinas;

• Organiza-se como se os objetos


de educação

Derivassem daqueles que


caracterizam o desenvolvi-
mento das ciências;

“A subversão das funções das disciplinas, Decorrentes da busca do


com a transformação de meio em fim, é uma desenvolvimento das diver-
corrupção moderna da ideia original”. (Machado, sas disciplinas.
2002, p.138)

Na Idade Média, houve a inversão das disciplinas “Estudamos matérias, conteúdos disciplinares,

clássicas e a inclusão de disciplinas da Filosofia Natural: para chegar ao conhecimento científico, que
garantiria uma boa educação formal; a formação
pessoal decorreria daí naturalmente”. (Machado,
2002, p. 138)

Mas essa organização da escola centrada excessivamente


na ideia de disciplinas trouxe as seguintes consequências:

Na segunda metade do século XIX, o entusiasmo pelas


ciências físicas e naturais e pelos seus frutos tecnológicos
fez com que ocorresse um certo deslocamento e
supervalorização entre conhecimento “científico” e o
conhecimento em sentido amplo.

Ocorreu também um processo de fragmentação do


conhecimento, com a crescente subdivisão da própria
ciência em múltiplas disciplinas e a supervalorização do
conhecimento disciplinar. Essa perspectiva parece estar em crise há algum
tempo. Como acredita Machado (2002, p. 139), essa crise

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Disciplinas e competências

pode ter iniciado com a explosão da primeira bomba atômica, “quando a desconfiança na crença na ciência como um
valor em si, independentemente do cenário de valores em que se insere, foi abalada, crescendo consideravelmente a
cada novo passo da física das partículas ou da engenharia genética, por exemplo.”.

Atualmente, parece mais claro que:

Desenvolvimento científico Ciências Organização escolar

• não pode ser conside- • não são um fim em si • deve visar primordial-


rado de forma desvin- mesmas mente ao desenvolvi-
culado do projeto a que mento de competências
• precisam servir às pes-
serve pessoais
soas
• realiza-se em um ce- • reestruturar seus tem-
• precisam ser vistas na
nário de valores social- pos e espaços para
perspectiva de meios e
mente acordados atender esse objeti-
de instrumentos para a
vo.
realização de projetos
pessoais

• não são um obstácu-


lo ao desenvolvimento
das competências pes-
soais

Essas pressuposições ficaram em evidência maior, no Brasil, com a reforma recente do Ensino Médio e com o Exame
Nacional do Ensino Médio. Além disso, a demanda por uma organização alternativa do trabalho escolar em seus diversos
níveis, contemplando o desenvolvimento de competências pessoais, tem crescido.

Para refletir:

Você acha que as competências vêm ganhando espaço na prática docente na escola onde você atua como professor/
educador?

Sua sensação é a de que as competências são muito faladas, discutidas, mas pouco aplicadas na prática docente?

Será que existe alguma barreira para mudar o foco do conteúdo e incorporar o foco em competências? Qual(is)?

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Disciplinas e competências

problema, por exemplo, e pode manifestar-se por


Definição de Competência
intermédio da aptidão para resolvê-los, ou seja, habilidades
que expressam a capacidade que o indivíduo possui para
É comum dizer que uma pessoa é competente. Mas
encontrar uma solução para a questão que se apresenta
definir o que é competência não é tão simples assim. Prova
a ele.
disso é que existem diversas teorias e vários autores que
(tentaram) definiram esse termo.
Dessa forma, segundo Alessandrini (2002), a
competência manifesta-se em um conjunto, por meio da
Comecemos pelos teóricos da área da educação, que
articulação de diversas habilidades. Durante o processo
muito se baseiam nos estudos de Perredoud.
de equilibração majorante, a competência representa
Segundo Ferreira (1999, p. 512), é a capacidade de
o resultado do diálogo entre habilidades e aptidões que
compreender uma determinada situação e reagir
possuímos, as quais acionamos para buscar um novo
adequadamente frente a ela, ou seja, estabelecendo uma
patamar de equilíbrio quando entramos em desequilíbrio,
avaliação dessa situação de forma proporcionalmente justa
pois há uma transformação a ser processada. Esse novo
para com a necessidade que ela sugerir a fim de atuar da
patamar implica uma nova organização dentro do caos
melhor forma possível. É a qualidade de quem é capaz
representado pelo desequilíbrio temporário e fundamental
de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada
para a evolução do sistema. Durante esse processo,
coisa; capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade. [Está
observamos dinamismos, como a capacidade para
relacionada à] oposição, conflito, luta. Note os destaques
estabelecermos relações de semelhança e diferença que
para as palavras compreender, reagir, capaz de apreciar e
explicitam aptidões já adquiridas, expressas por meio de
resolver. Mais adiante retomaremos essa definição.
habilidades para discriminar. E assim, sucessivamente, com
a presença de outras redes de esquemas que dialogam
Para Alessandrini (2002) e Ferreira (1999), a
constante e continuamente para desvendar estratégias
competência relaciona-se ao “saber fazer algo”, que, por
possíveis que criam e constituem novas respostas para
sua vez, envolve uma série de habilidades. Note que a
situações-problemas novas ou antigas.
noção de competência acaba nos remetendo a outro.

É como um novo modo de observar a proporcionalidade


Habilidade, de acordo com Ferreira (1999, p. 395), é
que se manifesta agora com uma nova direção precisa,
o notável desempenho e elevada potencialidade em
porém envolvendo muitas outras habilidades já adquiridas
qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados:
e relacionadas a outras capacidades e aptidões. Logo,
capacidade intelectual geral, aptidão específica,
como afirma Alessandrini (2002), a orquestra que se
pensamento criativo ou produtivo, capacidade de liderança,
impõe nesse momento refere-se à competência evocada
talento especial para artes e capacidade motora.
e única, notadamente ligada à problemática que estiver ali
presente para ser resolvida.
Só que essa definição soa como se o indivíduo nascesse
com certa habilidade (ou talento). Na realidade, quando se
Nessa orquestra, as habilidades dos sujeitos
trata de habilidade, seja qual for, qualquer pessoa pode
representam os instrumentos a serem tocados em
desenvolvê-la. Uns podem ter mais facilidade do que
conjunto. Entretanto, podemos observar também que
outros, mas não se pode dizer que uma pessoa não é
esses mesmos instrumentos solicitaram intenso estudo e
capaz de desenvolver uma habilidade.
exercício de habilidades que possuem uma orquestração
própria –que demandam competências também específicas
Pelas duas definições acima apresentadas, podemos
– até estarem prontos para participar da orquestra maior.
dizer que a competência implica uma certa concorrência
entre diferentes elementos presentes em uma situação-

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Disciplinas e competências

Cabe salientar que os conceitos de habilidade e


competências apresentam especificidades conforme
a ótica pela qual analisamos, de acordo com a posição
relativa que ocupam dentro do sistema. Sendo assim, não
se trata de uma definição linear.

A definição apresentada por Perrenoud e seguida


pelos autores acima apresentados é de uma competência
inserida no contexto de uma visão sistêmica. Esse sistema
permanece em constante movimento e que, por essa razão,
reconhece determinado aspecto ora como habilidade ora
como competência. Essa dinâmica constante da articulação
de tais conceitos, dentro do sistema, envolve um diálogo
entre parte e todo.

Já Macedo (1999, 2000) apresenta a concepção de O C significa conhecimento sobre algo. Diz respeito
competência como uma síntese plena de concorrência. à pessoa dominar um determinado know-how a respeito
Entende-se, nesse caso, que diferentes habilidades de algo que tenha valor para empresa e para ela mesma.
concorrem em uma determinada situação para que a É o saber.
competência possa emergir.
O H significa habilidade para realizar/ produzir
Como já vimos na aula anterior, as teorias são sempre resultados com o conhecimento que se possui. Diz respeito
um modo de ver, uma construção; não são verdades à pessoa conseguir fazer algum uso real do conhecimento
absolutas. E mais: uma boa teoria é aquela que tem que têm, produzindo algo efetivamente. É o saber fazer.
impacto na prática.
O A significa atitude assertiva e pró ativa/ iniciativa.
Então, embora as definições apresentadas acima, com Diz respeito ao indivíduo não ser agressivo nem passivo,
base em Perrenoud, sejam interessantes, há uma definição não esperar algo acontecer ou alguém ter que dar ordens,
de competência muito utilizada na área empresarial, e fazer o que percebe que deve ser feito por conta própria.
especialmente na de gestão de pessoas por competências, É o querer fazer.
que parece ser mais concreta, pragmática e, portanto,
mais aplicável. O grande diferencial dessa abordagem é que, antes,
a noção de competência era associada principalmente ao
Essa definição é conhecida pelo famoso ideograma domínio de um determinado conhecimento. Assim, alguém
“CHA”, que serve para designar Conhecimento, Habilidade que dominava muito bem algum assunto era chamado de
e Atitude, os quais compõem a competência. É uma competente. Então quem saía da escola ou da universidade
maneira de se procurar definir o sentido de competência a “sabendo” muito ou era um aluno “muito estudioso” era
partir de um referencial no qual ela possa ser mensurada considerado muito competente.
- e até mesmo comparada a padrões internacionais. E é
um dos modelos mais atuais com o quais as melhores Segundo a concepção atual, alguém pode ser
empresas trabalham hoje para avaliar seus colaboradores. considerado bastante incompetente mesmo que domine
Vale a pena trazer para a realidade do professor/educador muito bem um assunto, se não tiver a habilidade e a
esse ideograma: atitude para produzir resultados com isso. É o caso daquela

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Disciplinas e competências

pessoa que leu mil livros, fez diversos cursos, mas não Para pensar:
consegue realizar um trabalho sequer. Na escola, diz-se
muito: aquele professor sabe muito do assunto, mas não Em relação ao professor/ educador:
sabe ensinar.

• Saber que é preciso dar aulas di-


Da mesma forma, alguém entusiasmado e cheio
ferenciadas – menos tradicionais
de atitude pode ser incompetente se não dominar os
(conhecimento) não significa que
conhecimentos necessários e a habilidade a um bom
o professor/educador saiba mi-
desempenho de uma atividade. É aquele indivíduo cheio
nistrar aulas com técnicas volta-
de planos e energia, que acaba não obtendo sucesso
das aos alunos, contextualizando
escolar ou profissional por não saber muito bem “o que”
as informações (habilidade).
e “como fazer”.
• Mesmo que o professor/educa-
Note que, diferentemente das definições de Ferreira dor saiba técnicas diferenciadas,
(1999), em que saber e fazer, compreender e ser capaz voltadas aos alunos e motivado-
apareciam, simultaneamente, na definição tanto de ras, pode ser que ele não queira
habilidade quanto de competência, nessa abordagem do aplicá-las, por algum motivo (ati-
CHA o verbo saber refere-se a conhecimento e saber fazer tude).
à habilidade.

Além disso, há um elemento adicional importante: a


atitude. Em relação ao aluno/aprendiz:

A atitude é uma das maiores dificuldade • Saber gramática (conhecimento)


enfrentadas no âmbito escolar e nas organizações. não significa saber escrever de
Isso porque não se pode ensinar alguém a ter acordo com a normal culta (ha-
atitude através da transmissão de informações bilidade).
simplesmente. É preciso criar todo um contexto
• Saber escrever de acordo com a
motivacional que envolva as pessoas e faça com
norma culta (habilidade) não ga-
que realmente se empenhem nas tarefas que
rante que o aluno/ aprendiz redi-
tem a realizar. Sem dúvida, esse é dos principais
ja uma redação conforme orien-
desafios na atualidade.
tação do professor/educador.
Esse aluno pode simplesmente

Competência, portanto, como se pode observar, é um não querer escrever a redação

conceito muito mais “completo”, que envolve saber, saber (atitude).

fazer e querer fazer.

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Disciplinas e competências

Com base no ENEM:


• A compreensão da relevância, do
Vamos analisar a Matriz de Competências do ENEM. significado do ciclo da água para
Tendo em vista a composição dessa matriz, professores de manutenção da vida;
todas as disciplinas ou temas do ensino médio reuniram-se
• A compreensão da importância
e tentaram explicitar o que buscavam desenvolver por meio
da energia em suas diversas
de suas disciplinas e de seus programas, considerando
formas, de suas transformações
a formação pessoal de um aluno, ao final da educação
e de seu uso social;
básica.
• A compreensão do caráter
Um complexo exercício de fusão de horizontes, de sistêmico do planeta,
concessões tópicas com vista a objetivos mais amplos, em reconhecendo a importância
uma perspectiva menos paroquial, mais humana, conduziu da biodiversidade para a
um grupo de cerca de 30 profissionais a um espectro de preservação da vida.
cinco competências fundamentais, enunciadas de forma
sintética:
Um feixe de habilidades, referidas a contextos
mais específicos, caracteriza a competência no
• Capacidade de expressão em
âmbito prefigurado; é como se as habilidades fossem
diferentes linguagens;
microcompetências, ou como se as competências fossem
• Capacidade de compreensão de macro-habilidades. Para desenvolver as habilidades,
fenômenos físicos, naturais e recorre-se às disciplinas, que são apenas meios para isso.
sociais;
Assim o importante é a compreensão do ciclo da água
• Capacidade de referir os conceitos
ou das transformações de energia, e não o fato de tal
disciplinares a contextos
compreensão ter se realizado especificamente nas aulas
específicos, enfrentando
de física, de biologia, de química ou de outra disciplina.
situações-problema;

• Capacidade de argumentar, de As habilidades funcionam como âncoras para referir


negociar significados, buscando as competências aos âmbitos nos quais se realizarão
acordos por meio do discurso; as competências, evitando-se o desvio de ancorá-las
diretamente nos programas das disciplinas, o que conduz
• Capacidade de projetar ações, de
ao risco inerente de transformá-los em fins em si mesmos.
pensar propostas de intervenção
solidária na realidade.
Com base nas suas atividades em sala de aula:

Você já buscou identificar que competências está


Para referir cada uma dessas competências gerais ao desenvolvendo a partir das atividades que propõe aos
âmbito do ensino médio, aproximando-as dos programas alunos?
das diversas disciplinas, buscou-se, então, explicitar suas
formas de manifestação. Assim, as formas de realização Tente definir que conhecimentos e que habilidades são
das competências foram chamadas de habilidades. Por essenciais nas aulas de português.
exemplo, a competência “capacidade de compreensão de
fenômenos” foi traduzida em um feixe de habilidades que Qual é a sua atitude em relação a uma mudança de
inclui: prática em sala de aula?

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Disciplinas e competências

científico disciplinar teria como contrapartida o menosprezo


Disciplinas X Competências:
da noção de competência.
Esclarecendo o Mal Entendido
Lembre-se:
Nenhuma dicotomia parece mais inadequada ou
descabida do que a se refere ao par disciplina/competência.
Organização escolar é e continuará a ser
(Machado, 2002, p. 139)
marcadamente disciplinar.

Desde que o foco se voltou ao desenvolvimento de


Professores são e continuarão a ser professores
competências pessoais, vem sendo disseminado um mal
de disciplinas.
entendido: o de que disciplinas e competências disputam
os mesmos espaços e tempos escolares, contrapondo-se
de forma radical. Ao assumir que a organização escolar deve ser
voltada também ao desenvolvimento de competências,
É como se uma organização visando às competências é necessária uma reorganização do trabalho escolar
pessoais significasse um abandono da ideia de disciplina que:
e, simetricamente, uma valorização do conhecimento

• Reconfigure seus espaços e tempos;


• Revitalize os significados:

dos currículos como mapas do conhecimento que se busca;

da formação pessoal como a constituição de um amplo espectro de competências;

do papel dos professores em um cenário em que a idéias de conhecimento e de valor


encontram-se definitivamente imbricadas.

Para refletir:

• O que é e como é possível reconfigurar os espaços e tempos escolares?

• Como revitalizar esses significados apontados acima?

nos à condição de “experts”. Para isso, são necessárias


Desenvolvimento de Competências:
coragem e força interna para romper o velho, muitas
Processo de Aprendizagem com foco em vezes abrindo mão do já aprendido. Portanto, aprender
Competência pressupõe transformação, mudanças e o desenvolvimento
de uma mente ativa, questionadora e aberta, na busca
Processo de construção do conhecimento, de da compreensão dos novos conteúdos. A aprendizagem
dentro para fora, para que possamos aprimorar nossas fortalece nosso cérebro, aumenta as conexões nervosas
competências e mudar nossos comportamentos, elevando-

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Disciplinas e competências

e mobiliza todo nosso processo psíquico, pois é um fenômeno intelectual e emocional. O conhecimento desprovido de
sentido e de sentimento não se acomoda na memória.
É essencial que, numa aprendizagem com foco em competências, o professor/educador considere as 3 fases do
aprendizado:

• Sensibilização = ao longo da qual o sujeito estabelece uma relação com o mundo, apoiando-
se na percepção do seu eu o dos objetos que o cercam. Essa fase exige atenção, concentração,
pesquisa e organização das impressões. É desencadeada pelo interesse e motivação do
aprendiz.

• Significação = na qual o sujeito integra a novidade percebendo seu interesse, o uso que dela
pode fazer ou o sentido que pode dar a ela. Essa fase exige compreensão e discussão para o
esclarecimento.

• Utilização = o sujeito reinveste o conhecimento, o utiliza para fins pessoais, domina seu uso e o
“possui” realmente. Essa fase exige experimentação, prática, compartilhamento e sedimentação
da nova informação.

Níveis de Aprendizagem

CATEGORIA NÍVEL DEFINIÇÃO

Conhecimento Lembrar Lembrança por repetição, conhecimento de termos comuns, fatos


específicos, métodos e procedimentos, conceitos básicos, princípios.

Compreender Interpretação, compreensão, estimativa de conseqüências futuras,


justificativa de métodos e de procedimentos.

Aplicação Aplicar Uso do conceito em um novo contexto, aplicação da teoria, solução de


problemas, construção de tabelas e gráficos, demonstração de método
e procedimento.

Solução de Analisar Separação das partes para compreender estrutura, a relação entre
problemas as partes, os princípios; reconhecimento de princípios não explícitos,
de erros lógicos, distinção entre fatos e inferências, determinação de
relevância.

Sintetizar Construção de estrutura ou padrões a partir de elementos encontrados


em diferentes fontes; elaboração de um discurso; proposição de
perguntas de pesquisa, desenvolvimento de plano de solução de
problemas, formulação e classificação de um esquema.

Avaliar Julgamento sobre valores e idéias, opinião sobre consistência lógica,


adequação do pensamento, suporte para idéias e conclusões.

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Disciplinas e competências

Observe na tabela acima que aplicação e solução de problemas se referem à habilidade (saber fazer).

Além desses níveis apontados na tabela acima, voltados ao conhecimento e à habilidade, há mais dois níveis
importantes no processo de aprendizado:

Observe que, depois de adquirida a habilidade, com a


Fatores que Influênciam na
replicabilidade, adquire-se o “fazer com qualidade”, seguro
de que se está agindo da forma adequada.
Aprendizagem
Quando se passa a buscar o desenvolvimento de
Um próximo nível que influencia a aprendizagem é a
competências, ao fatores que influenciam a aprendizagem
habilidade com geração de conhecimento, resolução de
passam a desempenhar papel central nas ações do
problemas e inovação. Não é apenas a replicabilidade que
educador/professor.
interfere nesse nível, mas também a habilidade de aplicar
um conhecimento e/ou uma habilidade em situações
novas, nunca antes enfrentadas.

Observe que esse fluxo é tão interessante para entender


o processo de aprendizado do aluno quanto o do educador/
professor e sua prática. Isso porque não basta o professor
saber conteúdo (conhecimento). É preciso que ele saiba
ensinar o conteúdo. Com a prática, esse professor passar
a ensinar com qualidade até chegar o momento de gerar
inovar, resolver problemas da própria prática, encontrar
novas soluções para os mesmos conteúdos.

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Disciplinas e competências

1- Conhecimentos Prévios
• conquistas: os sucessos aumentam
Toda aprendizagem nova apóia-se em aprendizagens a eficácia pessoal, enquanto os fra-
anteriores, que servem de ponto de partida e que têm cassos a diminuem, especialmente se
valor cumulativo. eles ocorrem no início do processo de
aprendizagem e se não estiverem re-
O que é determinante em uma aprendizagem é o “já lacionados à falta de esforço,
existente”. Portanto, é necessário identificar os vários tipos • observações de outras pessoas:
de conhecimento que o aprendiz já possui. quando observamos outras pesso-
as realizando bem uma atividade,
sentimo-nos encorajados a fazer o
mesmo,
• gerais: conhecimentos e infor-
mações não ligados diretamente • estímulo verbal: quando alguém

ao conteúdo do treinamento; em quem acreditamos nos persuade


positivamente, tendemos a aumentar
• específicos: conhecimentos e
nossa autoconfiança,
informações diretamente ligados
ao conteúdo do treinamento; • estado fisiológico: quando conse-
guimos controlar nossa ansiedade,
• pré-requisitos: conhecimentos
cansaço e preocupações ficamos
que embasam uma nova apren-
menos vulneráveis e mais tranqüilos
dizagem, sem os quais o apren-
para aprender.
diz não consegue assimilar a
nova informação.

3- Prática reflexiva

2- Eficácia Pessoal
• reflexão durante e após a ação = é
o processo de “voltar os pensamentos”
A percepção pessoal sobre a própria habilidade de lidar
sobre o que está acontecendo durante
com diferentes situações e de aprender novas informações
a aula, o semestre e, em um momento
é essencial para o direcionamento das ações. Tais ações
posterior sobre o que aconteceu. Essa
incluem o que as pessoas escolhem fazer, quanto esforço
elas dedicam para a atividade, quanto tempo elas persistem
frente à adversidade e que nível de estresse é aplicado.

Além desses três fatores que influenciam a


A eficácia pessoal tem origem em 4 fontes principais
aprendizagem, o aprendiz deve estar motivado para
(em ordem decrescente):
aprender. E as motivações podem ser as mais diversas:

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Disciplinas e competências

Vamos discutir esse assunto no nosso próximo chat.


• Interesse pelo assunto

• Vontade de aprender Para refletir:


• Interação social

• Quebra de rotina • Na sua prática como docente,

• Valorização no grupo você considera esses fatores que


influenciam a aprendizagem?
• Autorrealização
• Que ações do professor/
• Desenvolvimento
educador contemplam esses
• Expectativas de tercei- fatores de aprendizagem?
ros
• Você acredita que, se
• Contribuição na comuni- desconsiderar algum desses
dade fatores, haverá algum impacto
na aprendizagem?

O educador deve, por meio de atividades propostas em


sala de aula, de sua interação com os aprendizes no dia a
dia, estimular essas motivações.

Tratamento pedagógico do erro:

O erro faz parte de todo processo de aprendizado, afinal, como diz o ditado “quem não erra não aprende”.

Veja na figura abaixo o ciclo de aprendizado:

Na primeira fase do aprendizado, o aprendiz é incompetente inconsciente, ou seja, “não sabe que
não sabe”. A partir do momento que ele vai sendo exposto e vai trabalhando novas competências, passa

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Disciplinas e competências

a ser incompetente consciente, isto é, “sabe que não sabe”. Esse é um momento desconfortável, pois
ninguém gosta de saber que está errando, que poderia estar fazendo melhor e de forma mais eficaz algo.

Só que é importante persistir nesse estado de desconforto para se chegar ao terceiro momento, de
competência consciente. Nesse estágio, o aprendiz “sabe que sabe” e se monitora o tempo todo para
verificar que está fazendo corretamente algo. Depois, com a repetição e a internalização/ estabilização
daquela competência e das disposições para agir a partir de certo conhecimento (lembra-se de Bourdieu e
sua noção de habitus?), o aprendiz se torna competente inconsciente, em outras palavras, ele já mal sabe
que sabe, pois faz tudo de forma adequada, com qualidade, sem precisar se monitorar o tempo todo.

Uma analogia interessante é lembrar-se de como foi o aprendizado para conseguir a carteira de habilitação.
Antes de começar a tentar, parece muito fácil e que rapidamente o indivíduo saberá dirigir (estágio 1). No
início das aulas práticas, parecia que seria impossível fazer uma baliza ou parar em uma ladeira e sair sem
deixar o carro morrer (estágio 2). Depois de conseguir tirar a carta, realizando todas as tarefas exigidas pelo
examinador de forma muito consciente, o futuro motorista se monitora o tempo todo para não errar, mas
ainda comete algumas falhas. De tanto dirigir, passa a perceber que não comete mais erros (estágio 3). Com
mais experiência ainda, o motorista nem se lembra mais que marcha colocou para passar por uma lombada,
pois internalizou aquele processo (estágio 4).

Mas note que interessante: os motoristas experientes também precisam de cursos de reciclagem, já
que a prática faz com que o indivíduo adquira vícios que nem sempre são aceitos pelas normas de trânsito.
Então, volta-se ao estágio inicial e assim sucessivamente.

Veja que essa é apenas uma analogia. Toda aprendizagem, inclusive a do professor/educador em como
se aprimorar cada dia mais, passa por esses estágios e o ciclo se reinicia de tempos em tempos.

Mas por que as pessoas erram:

• falsa ideia sobre algo: quando o aprendiz já tem um pré-conceito sobre o tópico que não é o
correto, mas que pode considerado pela pessoa como o certo/adequado;

• desconhecimento: por não saber o que é ou como fazer uma certa atividade, sobre um tópico;

• cansaço, falta de atenção

• negligência, descaso: pode ser em relação ao aprendizado em si, ao ambiente escolar, ao


professor, à disciplina.

• falta de comprometimento, de disposição ou de responsabilidade

Por estar presente no processo de aprendizado, deve-se dar um tratamento didático do erro:

• detecção = localização, consciência do erro (pelo professor/educador e/ou pelo aprendiz)

• identificação = descrição da causa do erro, para que o aprendiz saiba o que está errado e
entenda o porquê;

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Disciplinas e competências

• retificação = correção e eliminação;

• acompanhamento = verificação se o erro cometido em uma atividade foi, de fato, eliminado


ou persiste.

Vale ressaltar que o erro do aprendiz deve levar o professor/educador a refletir sobre sua prática
didática.

• Será que foi usada a melhor estratégia para ensinar esse (s) aluno (s)?

• O que será que pode ser feito diferente em uma próxima aula/atividade para que, de fato, o
indivíduo aprenda?

processo de aprendizado, poderá aplicar tal conhecimento


O Papel do Professor / Educador
na compreensão do caminho trilhado por seus alunos.
Reflexivo Deve-se estar consciente que as competências são
formadas passo a passo, segundo um processo de
A questão do desenvolvimento de competências construção contínuo. Esse processo ocorre a partir de um
envolve a construção de esquemas por parte do professor- diálogo interior, representado pelas relações interpessoais,
educador e do aluno-aprendiz. O professor-educador assim como pelas relações intrapessoais, as quais implicam
constrói seus próprios esquemas de conhecimento, fato inserção e responsabilidade social. Isso significa que não
que pode propiciar que seu aluno também os construa. há fórmulas mágicas e rápidas para desenvolver nem
Afinal, se o professor aprender a observar a graduação do mesmo para adquirir competências.

Desse modo, as competências revelam-se em um professor reflexivo, capaz de avaliar e de se autoavaliar de acordo
com uma postura crítica. Consequentemente, as competências refletem-se nas tomadas de decisões, no que diz respeito
à escolha de estratégias adaptadas aos objetivos educacionais e às exigências éticas da profissão. Por isso, focaremos,

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Disciplinas e competências

a partir desse momento da disciplina, nas competências presente para tê-la no futuro. E a infelicidade acaba com a
do professor/educador para que essa reflexão sobre a motivação de poupar.
própria prática possa contribuir para suas decisões em sala
de aula. Refletir sobre a própria prática como educador/ Isso tudo mudou minha forma de atuar e de orientar.
professor é um passo importante para o aprimoramento. Hoje, vejo que é uma vida feliz e segura que garante a
Veja o texto abaixo de um consultor empresarial que atua poupança, e não o contrário. É por isso que, quando me
como educador. consultam sobre a escolha da moradia, proponho antes que
as pessoas me descrevam a verba prevista para os gastos
Prática Reflexiva com qualidade de vida, lazer, prazer e pequenos mimos
pessoais, e também a verba para guardar para um futuro
O que Aprendi ao Ensinar
sólido. Somente após definir essas duas verbas é que trato
Por Gustavo Cerbasi
da verba para a escolha do padrão de moradia. Um imóvel
mais simples oferece menos espaço, mas comporta uma
Em meus primeiros trabalhos de consultoria, eu
felicidade que não caberia em um lugar mais caro. Esse foi
procurava ser racional ao orientar meus clientes, fazendo
o meu maior aprendizado. Se um cafezinho diariamente
contas e provando a eles que um cafezinho por dia seria
compra um carro em 30 anos, a falta do mesmo cafezinho
pode levá-lo a perder o emprego, ao acabar com tardes
produtivas, com o networking e com um pequeno e
motivante prazer pessoal. O futuro é importante, mas
também é a simples continuação de sua vida presente.
Valorize mais seu hoje, sem esquecer o amanhã.
Revista Você S/A. Edição 126. Dezembro de 2008.

Para refletir:

suficiente para comprar um automóvel novo em 30 anos.


Com argumentos assim, convenci muitas pessoas a • O que você aprendeu com
começar uma poupança de longo prazo. Alguns clientes, seus alunos ao longo da sua
muito motivados, passaram do ponto de equilíbrio e experiência como educador/
começaram a poupar bem mais do que o sugerido — cerca professor?
de 15% da renda —, sonhando com metas ousadas, como • Esse aprendizado impactou
conquistar o primeiro milhão em poucos anos. na sua prática docente?
Esse impacto foi positivo ou
Aprendi que fazer as pessoas poupar não é difícil, desde negativo?
que haja bons argumentos para isso — normalmente
um grande sonho do interessado. Porém, muitos dos
que orientei naquela época começaram a se desfazer do
patrimônio poupado, tendo inúmeras razões para isso. Mas é preciso também saber ouvir críticas, estar aberto
Em alguns casos, motivados por um problema de saúde; às mudanças e a reformulações e evitar algumas das
em outros, pela perda de uma pessoa querida; muito “desculpas” que, muitas vezes, estão na “ponta da língua”.
comum foi usar a poupança para custear o fim de um É ter uma atitude (lembra-se do CHA?) de receptividade e
casamento. Com o passar dos anos, percebi que fazer não resistência à crítica e a mudanças que eventualmente
poupança significava, para muitos, privar-se da felicidade precisem ser feitas.

17
Disciplinas e competências

Seguem as justificativas mais comuns quando o


Lembra-se dos textos “Mito da Caverna” e
educador/professor se depara com alguma crítica sobre
“Homem ou Urso”?
sua forma de ensinar, sua metodologia, sua aula:

Justificativas Considere

Discussão é diferente de procedimentos de conversa solta, nos quais


se tende a socializar o “discurso de corredor” em vez de reconstruir o
Minha aula é de discussão
conhecimento. Claro que pode haver discussão, mas com planejamento,
pesquisa e elaboração prévia, com um objetivo didático claro.

Atenção ao que se considera “participação”. A aprendizagem demanda


tipos específicos de participação, como pesquisa e elaboração própria,
não apenas envolvimentos alegres, animados, mas esvaziados de
Os alunos participam
conteúdo a ser aprendido. Vale lembrar que há professores que,
pelo seu carisma ou sua habilidade de envolvimento, conseguem a
atenção do aluno, só que isto ainda não garante aprendizagem.

Cuidado para não usar “renovada” no lugar de “enfeitada”.


Minha aula está
Há professores que incluem novas piadas ou até mesmo
sempre renovada
novos conteúdos apenas reproduzindo-os.

Professores que sabem se comunicar bem nem sempre estão comprometidos


Minha aula é comunicativa com a reconstrução do conhecimento, mas tão somente em criar
empatia ou demonstrar o quanto eles mesmos sabem de um assunto.

Werneck (1993) afirma que o professor pode fingir que


ensina, enquanto o aluno finge que aprende. Há alunos que
Os alunos gostam
gostam do professor que não exige nada, enquanto alguns
gostam dos exigentes. Então, “gostar” é muito variável.

Minha aula é bem Há professores organizados e todas as aulas são bem arrumadas, mas esse
arrumadinha cuidado pode ser em vão se a aula não contribuir para o aprendizado.

Os meios eletrônicos são realmente muito importantes nos dias de hoje,


Minha aula é moderna mas vale lembrar que esses são apenas meios e que usar as tecnologias
deve estar associado ao objetivo de aprendizagem, sem banalidades.

Há professores que se orgulham de dominar disciplinarmente


Tenho domínio disciplinar a turma. Mas educar é diferente de disciplinar e o tempo
do domínio disciplinar draconiano passou.

18
Disciplinas e competências

com outras pessoas, buscar respostas em outras fontes


Aprender é um Processo Continuo –
que não só o professor. Esse é o papel do professor/
Mesmo para os professores/Educadores educador e esse deveria ser a forma de se trabalhar
nessas semanas pedagógicas.
Assim como todo profissional que quer se destacar no
mercado de trabalho precisa se atualizar e estar sempre
aprendendo, o professor, mesmo que esteja estabilizado Competências e Reflexividade: O que é
em seu emprego, mesmo que considere sua aula boa, deve ser Professor?
se propor a reciclar conhecimentos, aprimorar habilidades.
Leia as afirmações abaixo:

POR QUE APRENDER? Professor é uma função herdeira da sacristia,


Evolução da aprendizagem do profeta, já que, pela etimologia, professor é
aquele que professa. Estaria embutida, nessa
Executando
função, a expectativa de alguém que tem o
mandato divino de falar e os alunos a obrigação
Aprendendo de escutar.

últimos 70 anos Aula continua sendo muito mais “rito de


“Se quisermos nos manter atualizados, devemos autopromoção” do que real cuidado com a
renovar 50% dos nossos
conhecimentos a cada 4 anos”. aprendizagem do aluno.

Você pode estar se perguntando: mas eu sempre


participo das semanas pedagógicas, isso já não é se • Você concorda com elas?
reciclar?
• Será que essas definições
da função do professor e de
De fato, é cada vez mais comum que os sistema
como é uma aula favorecem o
educacionais promovam algo como “semana pedagógica”,
aprendizado?
todo semestre ou uma vez por ano, na expectativa de que,
aprimorando os professores, os alunos possam aprender • Você acha que existem
melhor. Só que essa ideia não dá resultados palpáveis, professores que acreditam
pelo menos na aprendizagem dos alunos, porque os nas afirmações acima e, com
professores, em vez de estudar, reconstruir conhecimento, base nelas, atuam na sala
elaborar projetos pedagógicos, não fazem mais que ficar de aula como “profetas”, “se
escutando palestras. Reproduz-se nessas semanas autopromovendo”?
pedagógicas exatamente a posição instrucionista que • Você conhece professores
tanto se pretende mudar no ensino-aprendizagem. parecidos com esse da cena do
filme ou isso não existe mais?
Note que, nesta disciplina, a primeira do curso de
Especialização em Metodologia do Ensino da Língua
Portuguesa, muitas perguntas de reflexão foram Agora, leia mais um trecho:
propostas, mas as respostas não foram dadas, prontas –
transmitidas. Reflexão subentende parar para pensar, não É como se o professor resistisse a desfazer de
achar respostas imediatas, ir dormir pensando, discutir seu palco iluminado, apesar de ganhar abaixo do

19
Disciplinas e competências

que se espera (e se deveria ganhar), sentir-se Que tal ler um texto que realmente convida à reflexão
pouco valorizado, ver-se relegado à margem da do que é ser professor neste novo milênio:
sociedade. De qualquer forma, a escola é a sua
“republiqueta” e nela sente-se à vontade: manda, Professor, Profissão Estratégica
reprova, desfila impávido, faz as regras e a elas
não se submete, elege o diretor para confirmar Cresce a expectativa sobre as oportunidades de
a autonomia do espaço e acobertar mazelas aprendizagem neste novo milênio, já que a sociedade
individuais e coletivas, comanda currículos e inteira vai pressionar por ofertas sistemáticas de
alunos, ocupa espaços constitucionais, e nisto aprendizagem durante a vida toda, muito além do
são importantes, quer a sociedade reconheça que chamamos “educação formal”, restrita aos anos
ou não. Ainda por cima, não permite que seja previstos, em parte obrigatórios, de freqüência à escola/
avaliado, por mais que viva de avaliar os alunos. universidade. Aprender confunde-se com a própria vida
porque soube aprender, aprender é razão central da vida.
Esse trecho, adaptado de uma das interessantes Segundo teorias atuais sobre a evolução do universo,
discussões do livro Professor do Futuro e reconstrução vida e inteligência sempre estiveram inscritas na dinâmica
do conhecimento, revela o descaso a que foi relegado o da matéria e são, em algum sentido, a razão de ser da
educador/ professor e suas consequências para o ensino. evolução (Gardner, 2003; Davies, 1999; Wright, 2000).

O educador/ professor foi historicamente encurralado O direito de aprender confunde-se com o direito à vida
nesta condição, seja: e realça o desafio de construção da autonomia do ser
humano. Somos, na verdade, seres muito dependentes,
em todos os sentidos, em particular porque precisamos
• pela visão de que o educador/
dos outros para sobreviver, viver e nos desenvolver.
professor tem uma missão – e
Sociologicamente falando, o “outro” nos constitui (Demo,
não uma profissão (quem nun-
2002): o indivíduo é construído em sociedade e esta é
ca ouviu a intrigante frase “mas
composta de indivíduos (Morin, 2000), de tal sorte que
você só dá aulas ou também tra-
a sociedade não pode descartar os indivíduos, nem
balha?”);
estes podem dispensar a sociedade. Todavia, a vida nos
• pela não valorização de sua dotou da capacidade de conhecer e aprender, facultando
profissão na sociedade brasileira o alargamento da autonomia para níveis que, em nossa
– mas não só; tradicional soberba, os tomamos como ilimitados. (Barrow,

• pela fragilidade de sua forma- 1998; Horgan, 1997; Malone, 2001; Nolte, 2001).

ção;
A saga humana é, em grande parte e talvez
• pela remuneração incompatí-
substancialmente, a saga do conhecimento e da
vel;
aprendizagem (Klein, 2002; Diamond, 1999). Há 40 mil
anos ainda vivíamos em cavernas. Hoje, vivemos em
cidades sofisticadas como Nova York: comparando caverna
Independente de qual seja a explicação, o que ocorreu com Nova York, podemos ter uma ideia do salto que demos
foi uma agressão secular à dignidade profissional do em espaço tão limitado de tempo.
educador/professor e é fato: a sociedade que não valoriza
seus professores não mereceria aprender. Falamos hoje de sociedade “intensiva” de conhecimento,
primeiro para não incidir na ideia comum e imprópria
da “sociedade do conhecimento” (a sociedade humana

20
Disciplinas e competências

sempre foi sociedade do conhecimento) (Albrow & King, Não só a demanda por professores vai aumentar muito,
1990; Böhme & Stehr, 1986; Aronowitz, 2000), e, segundo, como principalmente os reclamos sobre sua qualidade vão
para conotar fase possivelmente diferenciada através da crescer exponencialmente. Dificilmente o professor será
penetração globalizada do conhecimento em nossas vidas: o que é. Em geral, hoje: alguém que dá aula transmite
organizamo-nos fundamentalmente por parâmetros do conhecimento, instrui e ensina. Mais do que outras
conhecimento (saúde, alimentação, moradia, locomoção, profissões, esta precisa de reconstrução completa, dentro
transporte, educação, urbanização, trabalho). da máxima: ser profissional hoje é, em primeiro lugar,
saber renovar, reconstruir, refazer a profissão. Isto não
Um dos horizontes mais típicos é a demanda infinita por denigre o desafio do domínio dos conteúdos, mas, como
aprendizagem nesse tipo de sociedade, desde o nascimento esses se desatualizam no tempo, é fundamental saber
até a morte de cada um de seus membros, o que, ademais, renová-los de maneira permanente. Para os renovar, não
vai aguçar enormemente a expectativa sobre produção e basta conhecimento transmitido, reproduzido.
uso de tecnologias em educação, em particular modos de
educação a distância (Moraes, 2002; Demo, 2001, 1999). É essencial saber reconstruir conhecimento com
Na economia, a intensividade do conhecimento é marcante mão própria. A definição de professor inclina-se para
(Castells, 1997), correspondendo à expectativa já lançada o desafio de cuidar da aprendizagem, não de dar aula.
por Marx de mais-valia relativa, comandada pela ciência Professor é quem, estando mais adiantado no processo
e tecnologia (Demo, 1998): o sistema capitalista tende de aprendizagem e dispondo de conhecimentos e práticas
a explorar menos os braços, do que a inteligência do sempre renovados sobre aprendizagem, é capaz de cuidar
trabalhador. da aprendizagem na sociedade, garantindo o direito
de aprender. Professor é eterno aprendiz, que faz da
Esta marca revela, por sua vez, o lado ambíguo do aprendizagem sua profissão, como diria Assmann com seu
conhecimento: o conhecimento que esclarece, ilumina e conceito de aprendizagem aprendente (1998), ou como
questiona é o mesmo que imbeciliza, censura, coloniza. diria Becker com sua proposta de sentido piagetiano da
Quando a educação é atrelada à competitividade construção do conhecimento (2001).
globalizada, espera-se dela que cultive o saber pensar
do trabalhador, mas que se evite, ao mesmo tempo, Ao mesmo tempo que a interdisciplinaridade avança,
a formação da consciência crítica (Frigotto & Ciavatta, aparecem cada vez mais novos desafios, de toda ordem. As
2001; Frigotto, 1995), introduzindo típica esquizofrenia áreas das ciências comunicam-se pouco e resistem, muitas
capitalista própria do neoliberalismo atual. Este, colocando vezes, a comunicar-se. Até dentro do mesmo espaço a
o mercado como regulador último da sociedade, não tem comunicação é, frequentemente, pequena ou inexistente.
como privilegiar o bem comum, intensificando sua marca
predatória da sociedade e da natureza (Wilson, 2002; Em nome das autonomias, criam-se feudos, que como
Stiglitz, 2002). Na história do conhecimento humano não todos estão fartos de saber, só prejudicam a inovação.
é difícil constatar: quem sabe pensar, nem sempre aprecia Ainda assim, a discussão avança, porque, colocando a
que outros também saibam pensar (Demo, 2006). realidade como condutora da ciência (não o contrário),
aquela é naturalmente interdisciplinar, dinâmica e fugidia.
A intenção deste texto é discutir a importância do Não cabe em nenhuma teoria. Pode ser vista de mil
professor nesta sociedade intensiva de conhecimento, maneiras, todas parciais.
considerando-o figura estratégica. Por figura estratégica
entendo sua centralidade na constituição e funcionamento O que teria um sociólogo a dizer para outros
desta sociedade, ocupando lugar decisivo e formativo. profissionais é sempre questão intrigante, até porque nem

21
Disciplinas e competências

sempre representam parceiros da mesma jornada. Mais Esse conceito foi ampliado, (numa perspectiva
facilmente apontam para direções opostas, geralmente por construtivista) e definiu-se que não se trata de apenas
vícios e usos históricos já ultrapassados, que se alimentam transmitir, mas também de possibilitar apropriação
de dicotomias metodológicas apressadas ou de aspirações e reconstrução pessoal e coletiva de conhecimentos
pretensamente antagônicas, sem falar nos substratos socialmente valorizados.
ideológicos, que arrebatam a cena, colocando o essencial
na periferia (Passeron, 1995; Bourdieu, 1996). Piaget (1988) redimensionou o papel do professor
Demo, P. Professor do futuro e reconstrução do
ao defender a importância dos chamados métodos ativo
conhecimento. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2009.
no ensino, que pretendem proporcionar à criança e ao
adolescente a possibilidade de conhecimento de modo que
Foco da Aprendizagem por “a verdade a ser adquirida seja reinventada pelo aluno, ou
Competências pelo menos reconstruída e não simplesmente transmitida”.

Ao afirmar o papel do aprendiz como sujeito construtor


“O foco das atividades educacionais de adulto
de seu próprio conhecimento, é preciso que “o professor
deve ser na aprendizagem e não no ensino”.
deixe de ser apenas um conferencista e que estimule a
pesquisa e o esforço, ao invés de se contentar com a
Como vimos até o momento, definia-se um professor,
transmissão de soluções prontas”.
como afirma Tardif (2006), como alguém que “antes de
Dessa forma, não faz mais sentido o ensino centrado
tudo, que sabe alguma coisa e cuja função consiste em
no professor, no quanto ele sabe sobre um assunto, mas
transmitir esse saber a outro”.
sim centrado no aluno:

MÉTODO Adequado para:

• Palestras

• Grupos grandes / heterogêneos

• Tempo curto

• Comunicação unilateral – transmissão de informações com pouco “feedback”

• Demonstrações (modelo)
Centrado no
instrutor • Objetivos educacionais básicos (como, por exemplo, conhecer, em oposição a
aplicar, avaliar)

• Temas de menor complexidade ou esclarecimento de conceitos, princípios e


sistemas.

• Estabelecer a primeira etapa para uma atividade subseqüente

22
Disciplinas e competências

• Objetivos educacionais de maior complexidade

• Objetivos educacionais voltados ao desenvolvimento de competências

• Todas as situações que demandam atuação do aprendiz (realizar, aplicar)


Centrado no
• Envolver e motivar o aprendiz
aprendiz
• Estimular a pesquisa, a descoberta

• Não prover respostas prontas

A partir dessa perspectiva, portanto, ensinar não é transmitir conteúdos, mas sim desenvolver competências. E mais:

É deixar respirar, facilitar a aprendizagem, não inocular idéias. É abrir múltiplas portas a fim de possibilitar
aos aprendizes o livre trânsito de uma secção para outra, com possibilidade de escolha para inúmeras
combinações. Sócrates disse há 25 séculos: “Ensinar é ajudar a pensar”. Conhecimento não se transfere,
constrói-se a partir de estímulos, como a curiosidade, o reforço positivo e de substratos intelectuais, como
os livros. O professor/educador não pode obrigar o aprendiz a ler, mas pode aguçar sua curiosidade, de
tal sorte que a leitura seja a conseqüência natural, óbvia e desejada. Sócrates adorava fazer observações
críticas e a partir delas nasceu o método socrático de ensinar: a maiêutica, palavra que, em grego significa
“a arte de dar à luz”. O método maiêutico pressupõe que o aprendiz deve fazer “nascer a aprendizagem”, a
partir de estímulos que ele recebe do instrutor e do mundo exterior. Sócrates também lançava mão da arte
de perguntar. Ele dificilmente respondia; ele perguntava, o que obrigava seus discípulos a usar a cabeça de
fato, refletir sobre o assunto em questão, criar novas idéias, propor novas visões. Para ele, ensinar é um
estado de espírito.

assim, desenvolver competências que eduquem para a


O que significa ser um bom Professor?
cidadania. Trata-se de pensar em novas estratégias que
favoreçam o desenvolvimento do aluno, em função de
A prática psicopedagógica deve viabilizar a inserção
suas próprias necessidades alinhadas a referências básicas
educacional de todos os alunos, mesmo daqueles que
e estruturantes relativas à ideologia educacional brasileira.
requerem cuidados especiais por parte desse movimento
atual, de inclusão.
A atuação do professor, portanto, deve acontecer
no sentido da construção de uma nova consciência,
Como professores, recebemos alunos com
consolidando uma cidadania ética e solidária. Nessa
características peculiares, com dificuldades específicas
perspectiva, os valores humanos reencontram um espaço
ou com problemas em sua aprendizagem, e precisamos
fundamental no desenvolvimento dessa consciência,
encontrar elementos em comum e focos de interesse que
direcionando a conduta cooperativa a ser construída
permitam o desenvolvimento de todo o grupo em sala de
por cada pessoa, criança, adolescente, jovem ou adulto
aula, inclusive daquela criança com dificuldades.
(Alessandrini, 2000, 2001)

Perrenoud (2001b) propõe a individualização e a


A questão que se levanta está relacionada ao modo como
diversificação dos percursos de formação, de forma que
podemos ajudar nosso aluno a alavancar seu potencial,
a criança seja o centro da ação pedagógica e possa,
construir sua autonomia e desenvolver a auto-regulação

23
Disciplinas e competências

de suas ações por meio de uma atitude interdependente, progressão da aprendizagem e também pode refletir sobre
cooperativa, consciente e afetiva. Portanto, a aprendizagem como isso pode ser feito. Nesse sentido, a competência do
insere-se em um contexto complexo, no qual a necessidade professor pode revelar-se na transformação de uma ação
vai muito além da transmissão de conteúdo para o aluno. educacional previamente estabelecida em uma intervenção
Trata-se de abarcar o desenvolvimento do potencial criativo adaptada, frente a uma necessidade específica emergente
que pode manifestar-se em todos os aspectos de sua vida. no contexto educacional.

Nesse sentido, é preciso que o professor/educador seja Falar no desenvolvimento de competên-


competente, ou seja, tenha desenvolvidas as competências cias no aluno implica dialogarmos sobre as
básicas que cabem ao professor desenvolver. Elas estão competências do próprio professor-educa-
ligadas à organização e à estimulação de situações dor.
de aprendizagem. O professor deve gerar e garantir a

CARACTERÍSTICA O que significa na prática?

CONHECIMENTOS

Conhecimento do assunto, do processo de ensino- O professor/educador deve estar bem preparado em


aprendizagem e conhecimentos gerais relação ao assunto da aula/ disciplina, às questões
relacionadas à educação de adultos e a conhecimentos
gerais, pois isso transmite segurança, credibilidade
e pode ajudá-lo a contextualizar os conceitos ou
relacioná-los a algo do dia a dia dos aprendizes.

Conhecimento do contexto dos aprendizes O professor/educador não pode se limitar às quatro


paredes da sala de aula. Necessita buscar informações
sobre os contextos mais amplos nos quais ele e os
aprendizes estão envolvidos. Só assim será possível
dar exemplos próximos da realidade dos aprendizes,
elaborar atividades e projetos aplicáveis e motivadores

Autoconhecimento O professor/educador deve ter uma imagem construtiva


e positiva de si mesmo, pois, assim, conseguirá transmitir
ao aprendiz uma imagem de satisfação e equilíbrio.

Reflexão sobre a prática A reflexão é uma necessidade na inovação (considerar


que o professor aprende continuamente nesse processo).
É imprescindível reconhecer suas próprias limitações
e fazer uma autocrítica como mecanismo de melhoria,
além de procurar obter feedback de colegas.

24
Disciplinas e competências

HABILIDADES

Saber contextualizar Como já vimos, a aprendizagem só ocorre quando é


contextualizada. Por isso, o professor/educador precisa
sempre voltar-se para a realidade dos aprendizes e deixar
de lado o que ele mesmo acha importante “passar”.

Saber reconhecer e aplicar conceitos de aprendizagem Não basta saber a diferença entre conhecimento,
habilidade e atitude. É preciso aplicá-las
no plano de aula, no projeto pedagógico,
reconhecê-las em cada atividade proposta.

Percepção É preciso ter sensibilidade e prática para perceber


as características individuais dos aprendizes e suas
reações e comportamentos durante o treinamento.

Comunicação verbal O professor/educador deve aprimorar suas


habilidades de expressão verbal (intensidade
e entonação da voz, pronúncia e velocidade
de fala, escolha de palavras adequadas).

Saber escutar O professor/ educador demonstra valorização e


respeito para com o aprendiz quando o escuta
com atenção, procurando não interrompê-
lo a todo o momento, permitindo, assim, que
o aprendiz expresse suas dúvidas e ideias.

Habilidade de perguntar Ao fazer perguntas adequadas, o professor/


educador leva o aprendiz a refletir e encontrar
as melhores respostas para suas dúvidas.

Comunicação não verbal O professor/educador deve estar atento ao seu


olhar, sua postura, seus gestos, sua movimentação
e suas expressões faciais, elementos não verbais
imprescindíveis para a comunicação eficaz.

Lidar com conflitos Sempre haverá um (ou mais) aprendiz que tem aversão
à disciplina, que não tem simpatia pelo professor/
educador, que enfrenta o professor/educador por
esporte. Há também o aprendiz que acha que sabe
tudo daquela matéria e acaba criando problemas
em sala. Enfim, a sala de aula é um ambiente com
conflitos em potencial Cabe ao professor/educador
saber lidar com eles de modo a minimizá-los e não
maximizá-los – o que, nesse último caso, pode
comprometer o processo de ensino-aprendizado.

25
Disciplinas e competências

ATITUDES

Flexibilidade O professor/educador deve estar predisposto


a assumir a mudança como uma constante de sua
atuação, ter iniciativa e saber tomar decisões.

Disposição para valorizar o O professor/educador deve ser crítico, porém construtivo.


positivo das pessoas Ele deve estar preparado para ouvir o aprendiz e dar feedback
adequado sobre sua atuação e progresso, de modo que o
aprendiz se sinta seguro para demonstrar suas limitações e
dificuldades, sem receio de ser ridicularizado por tal iniciativa.

Compromisso ético-profissional O professor/educador deve servir como um modelo


de profissionalismo, engajado em atitudes éticas.

Para pensar:

Segundo FREIRE (1996: 96), “o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a
intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar.
Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento,
surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas”.

Ainda segundo o autor, “o professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o
professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado,
sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos
sem deixar sua marca”.

Apesar da importância da existência de afetividade, confiança, empatia e respeito entre professores


e alunos para que se desenvolva a leitura, a escrita, a reflexão, a aprendizagem e a pesquisa autônoma;
por outro, SIQUEIRA (2005: 01), afirma que os educadores não podem permitir que tais sentimentos
interfiram no cumprimento ético de seu dever de professor. Assim, situações diferenciadas adotadas com
um determinado aluno (como melhorar a nota deste, para que ele não fique de recuperação), apenas
norteadas pelo fator amizade ou empatia, não deveriam fazer parte das atitudes de um “formador de
opiniões”.

Logo, a relação entre professor e aluno depende, fundamentalmente, do clima estabelecido pelo
professor, da relação empática com seus alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir e discutir o nível de
compreensão dos alunos e da criação das pontes entre o seu conhecimento e o deles. Indica também, que
o professor, educador da era industrial com raras exceções, deve buscar educar para as mudanças, para a
autonomia, para a liberdade possível numa abordagem global, trabalhando o lado positivo dos alunos e para
a formação de um cidadão consciente de seus deveres e de suas responsabilidades sociais.

26
Disciplinas e competências

pensar, pesquisar, elaborar, fundamentar, argumentar, ler


Funções do Professor/Educador
pelo aluno. Está na biologia humana que as novas gerações
precisam de todo cuidado da geração anterior, muito
“Nosso sistema acadêmico se desenvolveu
embora este cuidado não possa desandar em tutelas, mas
numa ordem inversa: assuntos e professores
eclodir em procedimentos emancipatórios.”
são os pontos de partida, e os alunos são
Demo, P. Professor do futuro e reconstrução do
secundários ... O aluno é solicitado a se ajustar conhecimento. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2009.
a um currículo pré-estabelecido. ... Grande parte
do aprendizado consiste na transferência passiva
Lembre-se:
para o estudante da experiência e conhecimento
“nós aprendemos aquilo que nós fazemos. A experiência
de outrem “.
é o livro-texto vivo do adulto aprendiz”.
Linderman, E.C, em 1926

O professor/ educador pode exercer diferentes papéis


“Professor não é quem dá aula. “Dar aula” tornou-se
para que os aprendizes desenvolvam determinada
expressão vulgar para mera reprodução de conhecimento,
competência e/ou habilidade.
reduzindo-se o procedimento transmissivo de caráter
instrucionista. Embora “aula” não precise ser rebaixada a
Provedor = proporciona aos aprendizes informações,
só isso, carrega o estigma secular de repasse reprodutivo
fatos e dados. É o multiplicador que tem as respostas
de conhecimento alheio. Se for para apenas reproduzir
de que o aprendiz necessita; está ancorado na teoria
conhecimento, temos hoje meios mais interessantes
e cria pouca oportunidade de interação. É um instrutor
disponíveis, como a parafernália eletrônica, que tem a
“tradicional”, que utiliza primordialmente a técnica de
vantagem de poder ser ao vivo e em cores, com efeitos
exposição, centrado mais em si do que no aprendiz. Essa
especiais, conduzida por gente bonita e jovem. Por isso,
função pode ser eficaz para grupos numerosos e para
é fundamental redefinir o professor como quem cuida da
aprendizes que possuam pouco conhecimento do assunto
aprendizagem dos alunos, tomando o termo cuidar em
em questão.
seu sentido forte, como propõe Boff (1999). Saber cuidar
significa dedicação envolvente e contagiante, compromisso
Modelo = é o espelho em que os aprendizes olham
ético e técnico, habilidade sensível e sempre renovada de
para saber o que têm que fazer (modos de comportamento,
suporte do aluno, incluindo-se aí a rota de construção da
conhecimentos ou habilidades). O facilitador é uma das
autonomia. Assim procede toda mãe: cuida intensamente
variáveis mais poderosas no ambiente educacional. As
de seu filho, exerce sobre ele influência decisiva, mas
ações do instrutor, suas atitudes (evidenciadas pelo tom
investe tudo na sua emancipação. Trata-se do cuidado
de voz, pelos comentários feitos, pelas reações durante
que não abafa, afoga, tutela, mas liberta, colocando o
uma situação difícil), seu entusiasmo e seu interesse
professor não como dono ou capataz do processo, mas
no assunto irão afetar a aprendizagem. A força das
como mentos socrático ou maiêutico”. Recupera-se com
mensagens implícitas é enorme, portanto, todo instrutor
esta ideia algo que é tão antido quanto a humanidade:
deve procurar ser um bom modelo para os aprendizes.
educar é processo de dentro para fora, como assevera
Ao atuar apenas como modelo, o instrutor não permite
Sócrates, quando insistia na instigação do professor para
que o aprendiz “arrisque”, crie e, portanto, dificulta seu
promover a emancipação dos alunos. O professor não se
crescimento e sua autonomia.
torna descartável. Muito ao contrário, assim como os pais
jamais são descartáveis, o professor é figura decisiva do
Treinador = papel complementar ao de provedor. O
processo de aprendizagem, ocupando, entretanto, lugar
instrutor nessa função fixa em detalhe o que os aprendizes
de apoio e motivação, orientação e avaliação, não o centro
devem fazer, quando, como e quanto. Estabelece um
do cenário. Este centro é do aluno: o professor não pode
programa de atividades que o aprendiz deve seguir e

27
Disciplinas e competências

depois supervisiona seu cumprimento fiel, corrigindo de ter fixado claramente as metas e os meios para alcançá-
todo erro ou desvio. Ao atuar como treinador, o instrutor los. Pergunta aos aprendizes em vez de lhes dar respostas.
começa a delegar a responsabilidade da aprendizagem Assessor = deixa que os aprendizes fixem seus
para o próprio aprendiz, mas ainda detém grande controle próprios objetivos e planejem sua aprendizagem. Essa
do processo de ensino-aprendizagem. função é verdadeiramente a função de um facilitador,
pois considera o aprendiz como um agente de sua própria
Orientador = deixa que os aprendizes assumam parte aprendizagem.
da responsabilidade de sua aprendizagem, mas só depois

No entanto, para que o assessor seja eficaz, é necessário que os aprendizes tenham maturidade, responsabilidade e
um alto nível de conhecimento do assunto em questão.

Note que nenhuma das funções acima:

• é melhor do que outra: é necessário que o educador saiba diferenciá-las e aplicá-las no dia
a dia de acordo com as necessidades da aprendizagem e das características dos aprendizes;

• ocorre independente de outra: o educador pode combinar as diferentes funções para que os
aprendizes desenvolvam as competências e habilidades. Em uma aula, ele pode atuar mais como
provedor, em outra, mais como orientador.

Mas uma informação que pode ser muito valiosa para que o educador decida que função é mais adequada é em
relação ao estágio do aprendiz:

28
Disciplinas e competências

Note que, à medida que o aprendiz vai se tornando autônomo, mais o professor vai atuando como um orientador, um
assessor. Quanto mais o aprendiz é dependente do professor para o aprendizado, mais ele deve atuar como provedor.

O interessante é sempre variar as funções que o educador pode exercer em vez de apenas centra-se na função
provedor do conhecimento.

Funções do Professor/Educador
e os Tipos de aulas
Depois de avaliar que função (ou quais funções combinadas) é a mais apropriada para desenvolver certa habilidade
do aluno, o professor/educador precisa decidir que tipo de aula ministrará.

Cuidado com a ideia de que aula é apenas aquela instrucionista, em que ao aluno cabe escutar, tomar
nota, um contexto extremamente reprodutivo. E mais: é comum a pretensão – do aluno e do professor – de
que, escutando uma aula sobre algum conteúdo, já saberá essa conteúdo.

Lembre-se que aula não é a centralidade didática e pode não ter nada a ver com aprendizagem.

Evite definir-se como professor/educador pela sua aula. Ela é a apenas um suporte.

A aula deve fazer aprender; deve ser elaborada, estudada, reconstruída; deve ser de orientação,
envolvente; deve lançar dúvidas e levar à pesquisa.

Tipo de aula Descrição

O professor introduz um assunto que será, em seguida, pesquisado e elaborado


pelos alunos; acena com horizontes possíveis da matéria, o raio de abrangência da
Aula de introdução
discussão, as exigências teóricas e conceituais; apresenta a visão geral, familiariza
com a temática, permite o primeiro contato, aproxima das discussões em jogo.

O professor dá uma pausa para explicar algum conceito, alguma teoria, algum autor, com o
Aula de explicação intuito de disponibilizar referências relevantes para o trabalho; isto não dispensa a análise
aprofundada do aluno; por meio da aula apenas há a referência para orientar os trabalhos.

Em meio ao tumulto possível de qualquer discussão ou trabalho pode ocorrer


a necessidade de colocar ordem na casa, retomar o fio da meada, relembrar a
Aula de arrumação hipótese de trabalho, ecoar os objetivos acordados; embora a criatividade seja,
de si, indisciplinada, não se produz bem sem alguma disciplina; este tipo de
aula busca ordenar procedimentos, com o objetivo de produzir melhor.

Havendo pesquisa disponível, novos dados, obra nova, cabe informar o público;
Aula de informação
aparecendo novas polêmicas, convém tomar conhecimento e informar.

29
Disciplinas e competências

De teor informativo, com algum palestrante convidado, pode funcionar como instigação,
Aula conferência
comunicação, compartilhamento de idéias e horizontes de conhecimento.

E o protótipo da aula útil, condição de mediação do conhecimento, desde que


Aula expositiva não passe a ser simples reprodução; expor não precisa, porém, ser atividade
subalterna, porque pode incluir esforço reconstrutivo, por parte do professor.

Pode-se usar uma aula para instigar as pessoas a se confrontarem com certo
Aula de motivação tema ou área do conhecimento, acenar com horizontes atraentes, divisar linhas de
indagação que possam demover pessoas e reestabelecer a vontade de estudar.

A finalidade de apresentar essa lista é sugerir que


existem aulas apropriadas e diversificadas, ainda que
sejam um dos possíveis meios para o aprendizado.
Aula com interação

Reconhecidamente há uma cultura de aprender


(por parte dos alunos/aprendizes e também dos pais e
responsáveis) e uma cultura de ensinar (por parte dos
educadores/professores) que tem a aula expositiva como
“o” tipo de aula para aprender. É como se o professor
estivesse “matando aula” se ele sugerisse uma atividade
que demandasse pesquisa, investigação, discussão entre
os alunos; é como se esse professor tivesse que falar
durante o tempo todo (como se os alunos ouvissem e
assimilassem tudo...). Mas é preciso mudar essa cultura
e investir em aulas diferenciadas, variadas e usar a aula
expositiva e a função provedora nos momentos em que
realmente são necessárias – e não o tempo todo.
Note que as trocas são muito mais interessantes quando
Algo que é essencial, independente do tipo de aula que há interatividade em sala de aula. Além disso, observe no
será ministrada pelo professor/educador, é a criação de gráfico abaixo o papel da interatividade no aumento da
interatividade. Observe os esquemas abaixo. retenção da informação:

Aula expositiva, sem interação:

30
Disciplinas e competências

Veja que, após 20 a 30 minutos, se não houver algum Sem dúvida, o maior desafio do educador não é
tipo de interação entre professor/educador e aluno/ somente desenvolver suas próprias competências e
aprendiz, a retenção da informação cai drasticamente, ao habilidades – o que requer muita atitude e autorreflexão,
passo que a curva de retenção é modificada para cima mas também lidar com os aprendizes, que têm trajetórias
quando há algum tipo de interatividade. de vida, características, motivações, formas de aprender
tão variadas.
Lembre-se:
Veja só a tirinha do Calvin e compare com a
Diga-me, e eu esqueço. poesia de Paulo Freire:

Mostre-me, e eu me lembro.

Envolva-me, e eu entendo.

Provérbio Chinês

Por isso, invista em novos tipos de aula, teste as


diversas funções que você, professor/educador pode
colocar em prática.

As técnicas didáticas que podem ser usadas em cada


uma dessas aulas serão apresentadas em outra disciplina
desse curso.

Mas já fica o convite para reflexão: que exercícios ou


dinâmicas podem ser realizados em cada uma dessas
aulas acima?

Relacionamento Professor - Aluno ESCOLA


Paulo Freire

“Escola é...
o lugar onde se faz amigos
não se trata só de prédios, salas, quadros,
programas, horários, conceitos...
Escola é, sobretudo, gente,
gente que trabalha, que estuda,
que se alegra, se conhece, se estima.
O diretor é gente,
O coordenador é gente, o professor é gente,
Existe um bordão bem conhecido no mundo empresarial o aluno é gente,
que é: gerenciar processos não é tão complexo quanto cada funcionário é gente.
gerenciar pessoas. E a escola será cada vez melhor

31
Disciplinas e competências

na medida em que cada um Ora , é lógico...


se comporte como colega, amigo, irmão. numa escola assim vai ser fácil
Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’. estudar, trabalhar, crescer,
Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir fazer amigos, educar-se,
que não tem amizade a ninguém ser feliz.»
nada de ser como o tijolo que forma a parede,
indiferente, frio, só. Observe que há uma visão bem romântica da escola
Importante na escola não é só estudar, não é só no poema atribuído a Paulo Freire, ao passo que Calvin
trabalhar, já revela algo mais próximo do dia a dia: o aprendiz que
é também criar laços de amizade, preferia estar em outro lugar que não a escola.
é criar ambiente de camaradagem,
é conviver, é se ‘amarrar nela’!

Muitas vezes, esse desinteresse em estar na escola e aproveitar o momento de aprendizado pode estar relacionado
ao fato de que, nas aulas, não se abordam os temas que interessam a esse aprendiz.

Veja novamente o que pensa Calvin:

Por isso, abordamos tanto a importância da aprendizagem contextualizada, os fatores de influência para o aprendizado.
Mas também o tipo de relacionamento que se estabelece entre professor/educador e aluno/aprendiz pode interferir
positiva ou negativamente no aprendizado.

QUE RELAÇ
RELAÇÃO VOCÊ DESEJA?

(Martin Buber)

EU-
EU-TU = constituem-se reciprocamente
como pessoas diálogo ocorre entre seres =
expressar, confirmar, respeitar subjetividade

EU - ISSO = objetivação - coisificação do outro


distanciamento entre o EU e o OUTRO =

paralisaç
paralisação no mundo do ISSO =
homem perde de vista sua humanidade
46

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Disciplinas e competências

Leia o texto abaixo e veja como vivemos em uma outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da manhã e ouvi
sociedade marcada pela relação eu-isso música em tua casa. Aqui estou”. E o outro respondesse:
“Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho.
Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos
Recado ao Senhor 903
que a vida é curta e a lua é bela”.

Rubem Braga
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem
Vizinho,
entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções
para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia,
da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre
consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta
os humanos, e o amor e a paz.
em que o senhor reclamava contra o barulho em meu
apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal
- devia ser meia-noite - e a sua veemente reclamação AUTOCONHECIMENTO E PERCEPÇÃO
verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e DO OUTRO:
lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito A BSE PARA O RELACIONAMENTO
e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a INTERPESSOAL
Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso
noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, Estilos de Comportamento Comunicativo
passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903
dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu A Psicologia tem estudado o comportamento humano e
nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser tentado compreendê-lo para auxiliar o autoconhecimento.
dois números, dois números empilhados entre dezenas de
outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo Assim como na aprendizagem, muitas teorias,
1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao complementares ou não, têm se sucedido. Na maioria
alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 - que é o senhor. Todos delas, já se aceita o conceito de que há uma parte da
esses números são comportados e silenciosos; apenas eu personalidade humana que é genética, ou seja, já nasce
e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos conosco, e outra parte é influenciada/ incorporada a partir
fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e de nossa interação com o meio em que vivemos, por
bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo meio de nossas experiências de vida, relacionamentos,
sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em atividades diárias e profissionais e traumas.
diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo.
Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será Na teoria dos estilos de comportamento comunicativo,
convidado a se retirar às 21 :45, e explicarei: o 903 precisa define-se que os seres humanos podem ter um dos 4
repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para estilos mais predominante e que interfere na maneira de
tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde agir, reagir e interagir nos seus relacionamentos de um
ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda modo geral.
numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável
quando um número não incomoda outro número, mas o Conhecer nosso próprio estilo é fundamental para que
respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. possamos buscar uma canalização positiva de nossas
Peço-lhe desculpas - e prometo silêncio. atitudes advindas do temperamento e o fortalecimento
das nossas qualidades.
...Mas que me seja permitido sonhar com outra vida
e outro mundo, em que um homem batesse à porta do

33
Disciplinas e competências

A intenção aqui é abordar algumas características a fim de nortear alguns aspectos dos temperamentos, para facilitar
o entendimento e, conseqüentemente, a abordagem mais apropriada de comunicação para com as demais pessoas, em
se tratando de educação, que tem um forte componente de liderança.

Obviamente, não existe estilo melhor ou pior, mas sim diferentes. O que vale salientar é a habilidade de saber
identificar essas características nas pessoas (e em si próprio). Longe de querer “enquadrar” as pessoas em determinadas
denominações, o objetivo aqui é explicar esses estilos.

Segue um esquema com as principais variáveis que determinam os estilos comunicativos:

Questionário – Perfil - Estilos de Comportamentos Comunicativos


Dê uma nota a cada uma das características dos 2 eixos abaixo, de forma que a soma das linhas gere um resultado
igual a 10.

Eixo Horizontal

Eixo Vertical

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Disciplinas e competências

Estilos de Comportamentos Comunicativos


Matriz Questionário - Estilo Predominante

Some as respostas das colunas B e C. Na página seguinte, insira o resultado da coluna B no eixo horizontal e o
resultado da coluna C no eixo vertical. No encontro desses dois pontos, está seu o estilo comunicativo graduado.

Reconhecer o estilo de comportamento comunicativo das pessoas pode fazer a diferença no relacionamento com
elas. O estilo de comportamento comunicativo não define obrigatoriamente a personalidade da pessoa. Um indivíduo
pode mudar de acordo com a situação em que se encontra, embora haja a tendência de um estilo predominar sobre
os outros.

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Disciplinas e competências

Entusiasta Impulsionador Afável Analítico

Visão positiva dinâmico decidido prestativo


entusiasmado rápido bom ouvinte
persuasivo produtivo agradável
criativo determinado compreensivo
otimista direto cordial
charmoso vencedor sensível
social contribuidor confiável
verbal foco próprio empático / “tato”

Visão negativa agitado dominador submisso


impaciente pressionador evita conflito
dispersivo teimoso não diz não
superficial apressado hesitante
não gosta de ser não gosta de ser muda de humor
questionado contrariado rapidamente

Valoriza envolvimento eficiência aceitação


soluções criativas aplicabilidade bem estar
projeções liberdade de ação conversar
rapidez na decisão emoções
dar toque pessoal opiniões
dados e fatos

Sob pressão agita-se ameaça fica calado


explode impõe finge concordar
fala alta e rápido fala alto e firme fala baixo e devagar

Busca reconhecimento resultados relacionamento


confraternização autorrealização ganhar apoio
chamar atenção precisão aceitação
ser especial atualização receber atenção

Aspectos a não interromper humildade determinação


desenvolver autocontrole paciência fixar metas
saber ouvir agir com moderação ser sucinto
concentração trabalhar em equipe administrar tempo
análise

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Disciplinas e competências

O que se Isso me fascina? Ganho dinheiro ou Eu gosto disso? A situação me


pergunta ou avalia Estimula minha tempo com isso? Sinto-me bem ajuda a economizar
em uma situação criatividade? O que isso com isso? (tempo ou
Isso me ajuda a me rende? Qual o efeito dinheiro)?
organizar minha Quais são os sobre os outros A qualidade é boa?
vida de forma números e à minha volta? Assegura meu
interessante e fatos exatos? O que os outros padrão de vida?
emocionante? Isso me ajuda dizem a respeito? Passo uma imagem
Posso me destacar? a atingir meus Isso me torna agradável?
Como sou visto? objetivos? mais atraente? Reduz meus riscos?
Posso descobrir É boa relação preço/ Torna minha Mantenho o
coisas novas? desempenho? vida melhor? controle?
Isso tem futuro? Isso traz que tipo Isso me traz Está tudo correndo
de avanço? solidariedade conforme planejado?
Como obtenho e amor? Quais são os
mais eficiência? Eu posso ajudar os mecanismos de
Em que isso outros com isso? segurança?
me ajuda a ser Isso é agradável O que acontece se
diferente, inovador? e fácil? não funcionar?
Está de acordo Já foi testado
com os meus e aprovado?
valores éticos? Já foi experimentado
Está de acordo com por muitas pessoas?
as minhas emoções? É fácil e prático?
Melhora minha
convivência?
Gera alegrias e
satisfação?

Sugestões:

• Faça esse questionário com os aprendizes e aproveite os resultados para conscientizá-los sobre a
importância da flexibilização e/ou

• Procure identificar os estilos comunicativos pelos comportamentos e ações verbais e não verbais
dos aprendizes.

• Verifique, por exemplo, o que aquele chamado “aluno-problema” valoriza e passe a trabalhar esse
aspecto nele; já com o aluno aplicado, analítico, por exemplo, procure verificar se não é preciso
valorizar o relacionamento.

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Disciplinas e competências

Conflito em Sala de Aula Emocional Racional

Como já vimos nesta aula, o bom professor deve saber • sensação • diferenças
que a sala de aula é um ambiente de conflitos em potencial, de perda ou de opiniões,
afinal, cada ser humano é único, tem sua trajetória de desvanta- percepções e
vida específica, suas expectativas e motivações para (não) gem objetivos
aprender, sua forma de se relacionar com os demais. • ataque à au- • jogo do po-
toestima ou der (hierár-
Saber reconhecer os estilos comunicativos dos à imagem quico, co-
aprendizes pode ser uma boa arma para entender melhor pessoal nhecimento,
por que aquele aprendiz age ou fala de certa forma experiência,
agressiva ou nunca participa da aula. circunstan-
cial)
Mas é preciso também entender por que os conflitos
surgem

As possíveis causas podem ser: Então, um primeiro passo ao se deparar com um


conflito em sala de aula é identificar qual será a causa
para surgir essa divergência.
• Divergências de opiniões e
O segundo passo é saber que mesmo sendo um
percepções
conflito emocional ou racional, ele pode ser construtivo ou
• Disputa por recurso: destrutivo.

Note: nem todo conflito é destrutivo

38
Disciplinas e competências

Como o conflito destrutivo é o mais prejudicial para a relação interpessoal e, consequentemente, para o aprendizado.
Por isso, vale a pena o professor/educador saber reconhecer os sinais de conflitos destrutivos:

Um terceiro passo é saber que, dentre os diversos comportamentos em situações de conflito, há os mais adequados
para o professor/ educador assumir:

39
Disciplinas e competências

Note que, quanto mais o professor/educador maximizar as diferenças hierárquicas, dizendo frases como “quem
manda aqui sou eu”, “eu que sou o professor e você tem que me obedecer”, ou ridicularizar e/ou contrariar o outro, mais
haverá o distanciamento entre professor e aluno. E lembre-se: com esse tipo de comportamento do professor/educador,
os aprendizes vão se solidarizar com aquele que é de seu grupo e não com o professor/educador. Por isso, deve-
se tentar a aproximação, evidenciando mais as semelhanças de pensamento, de opinião, valorizando a participação
do aluno, mas passando o conceito correto, dizendo algo que o faça pensar em como sua ação não foi adequada.
Com isso, há mais chances de os aprendizes pensarem “puxa, o professor se saiu bem nessa situação”. Por que, cá
entre nós, os aprendizes estão sempre prontos para criar um conflito e testar até onde vai a paciência do professor
(independentemente da idade dos aprendizes).

Por isso, procure escolher o comportamento mais adequado para lidar com o conflito de forma a minimizá-lo. Por
mais que seja sua vontade “voar no pescoço” do aluno, respire e pense o quanto você e os aprendizes tem a perder ao
longo do ano de trabalho com aquela turma.

O ideal é que o professor/educador procure ser o mais cooperativo e assertivo possível. Isso significa colaborar para
que o conflito seja minimizado. Apaziguar e fazer concessões também são comportamentos adequados, dependendo
do tipo de conflito instaurado.

Competir com o aprendiz ou evitar o conflito são comportamentos bastante inadequados – embora comuns – já que
não resolvem o conflito, apenas contribuem para que novos conflitos surjam.

Dependendo do tipo de comportamento assumido pelo professor/educador, o conflito pode ser eliminado ou pode
evoluir, da seguinte forma:

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Disciplinas e competências

Essa evolução pode ocorrer em questão de minutos, em um semestre ou no decorrer de um ano. Claro que pode
também haver uma quebra nessa sequência, minimizando ou eliminando o conflito instaurado inicialmente. Tudo depende
das ações dos envolvidos no conflito e, no caso da sala de aula, especialmente das ações do professor/educador.
Como administrar Conflitos
• Criar uma atmosfera colaborativa

• Esclarecer e sintonizar as percepções, entendo por que realmente o aprendiz está querendo discutir/
criar conflitos

• Deixar o aprendiz expor suas opiniões, mas aproveitá-las para você, educador, emitir as suas e
encerrar o conflito

• Fazer concessões quando julgar necessário

• Evitar postura de superioridade e de autoritarismo

• Proporcionar uma saída honrosa para todos os envolvidos – sem ridicularizar

• Adotar comportamentos não verbais assertivos

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Disciplinas e competências

Claro que, em geral, os conflitos surgem na interação Só que, antes de chegar a esse ponto de ter que
com aprendizes “difíceis”. Para melhorar o relacionamento lidar com o aprendiz difícil, tome ações para prevenir a
com esse tipo de aprendiz, vale a pena: maximização desse tipo de aprendiz:

• analisar causas da má conduta = • negociar “regras” e dizê-las como


desmotivação, personalidade, conflito “acordos”;
com colegas, valores pessoais, falta
• planejar e adequar atividades ao
de perspectiva, dificuldades;
contexto dos aprendizes, o que
• usar reforços positivos ou reparações, favorece o clima na sala;
para estimulá-lo a aprender;
• demonstrar respeito, saber ouvir;
• aumentar a consciência do aprendiz,
• aceitar divergências e diferenças de
de como ele está se portando
comportamentos;
inadequadamente ou como ele pode
estar prejudicando o andamento da • mostrar atitude positiva diante de

aprendizagem de outros colegas. problemas e conflitos;

Vale dizer: isso deve ser feito • mostrar interesse para responder as
individualmente, sem expor o perguntas;
aprendiz perante os colegas;
• assegurar participação ativa,
• usar colegas como apoio – gerar envolver;
clima favorável;
• variar técnicas didáticas e evitar
• comunicar-se abertamente (no grupo apenas aulas expositivas
ou em particular);
• dar feedback positivo, sempre
• solicitar apoio específico da direção que possível, para estimular a
da escola, de um pedagogo. aprendizagem

Para pensar:

Leia as situações abaixo e pense na melhor maneira para reagir. Tente diferenciar como você agiria e como deveria
se agir. Verifique se há muita diferença.

1- Durante a aula, você está construindo os argumentos para reforçar um conceito. No fundo da sala um aluno
fecha os olhos e começa a dormir. Um colega ao lado bate forte na cadeira dele e se inicia uma discussão. Os ânimos
se exaltam. O que fazer?

2- Enquanto você fala, dois alunos conversam baixinho, sem prestar atenção no que você está dizendo. O sussurro
desvia a atenção dos demais. Você faz várias tentativas para contornar a situação, dirige o olhar a eles, se aproxima,
faz algumas perguntas, mas a conversa continua. Até que você decide ser mais direto e pedir a colaboração deles.
Nesse momento, um deles responde que tudo o que está sendo dito ele já sabe, por essa razão, não tem sentido ficar
prestando atenção. Como você reage?

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Disciplinas e competências

3- O celular toca bem alto uma música sertaneja. O aluno atende e, enquanto ele fala, os colegas caçoam da
campainha do aparelho: “Essa campainha só poderia ser do celular desse caipira!”. O dono do celular, irritado, responde
agressivamente. O clima fica pesado. Como você conduz a situação?

4- Um aluno pede para que você explique determinado conceito novamente, pois não o entendeu. Você explica. Ele
diz que ainda não entendeu. A turma vaia o colega. Como reagir?

5 - Você conta uma anedota cuja personagem principal é uma loira pouco inteligente. No final da piada, todos riem,
exceto um aluno que demonstra ter ficado irritado. Como você conduz a situação? Tal situação poderia ter sido evitada?

6- Um participante faz uma pergunta sem sentido e os colegas começam a debochar dele. Ele reage com agressividade.
Como você conduz a situação?

7- Dois alunos começam a discordar em relação a um conceito ou uma opinião. Seus ânimos ficam acirrados, eles
levantam a voz e parecem irritados. Como você conduz a situação?

8- Você faz uma afirmação sobre um conceito e um aluno diz que você não está falando a verdade. Como reagir?

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