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Ideologia
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As eleições municipais
de 2016 no Brasil
sinalizaram um evidente
enfraquecimento da
esquerda. Significativo
quanto a isso foi o
colapso eleitoral do PT,
que, no segundo turno,
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foi derrotado em todas as capitais onde
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disputava prefeitura, inclusive na região que foi o berço
Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum
Diante da perda de poder, e quebrada a hegemonia com a qual se acostumara desde os anos 1960
(como já assinalara à época Roberto Schwarz), a esquerda brasileira, com notável capacidade de
resposta, já se articula como no passado em torno de seu esporte predileto: a auto-crítica. Mas
que o leitor não se deixe confundir por homonímias. No vocabulário esquerdista, a expressão tem
um significado bem específico, distinto daquele, habitual e senso-comum, que envolve noções
como arrependimento moral, culpa, peso na consciência etc.
Desprezando aquele conjunto de idéias, expressões do que Trotsky ridicularizou como “catecismo
burguês” – enfatizando suas origens cristãs –, a esquerda entrega-se à auto-crítica num único e
exclusivo sentido, um sentido, por assim dizer, metodológico, jamais ético. Tudo o que busca
avaliar são as razões de sua perda de poder.
Eis o critério orientador da auto-crítica de esquerda: o poder. Ter o seu poder político limitado é
a única coisa capaz de revolver o espírito do esquerdista a ponto de nele suscitar um simulacro de
indignação moral sincera, ainda que pervertida. Nada poderia exemplificá-lo melhor que as
maquiavélicas palavras de Gramsci acerca do moderno príncipe, isto é, o partido de esquerda:
É nesse contexto que surgem agora dois movimentos simultâneos e complementares no seio do
esquerdismo brasileiro, ambos os quais buscando juntar os cacos com vistas a uma futura
retomada do poder.
É, em suma, a tese do golpe de 2016, veiculada numa série de novos livros conjunta e
emergencialmente editados – o que revela ainda a força da extrema-esquerda no campo da
circulação de idéias – com o fito exclusivo de emplacar a delirante narrativa dos vencidos.
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O segundo, que poderíamos chamar
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de reformismo pós-PT, é usualmente representado por
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apóstatas do petismo (figuras como César Benjamin, Luiz Eduardo Soares, José de Souza
Martins, entre outros), e seu argumento central, mais sorrateiro, consiste na afirmação de que o
PT nunca foi de esquerda. Segundo essa perspectiva – reforçada recentemente pelo marxista
italiano Antonio Negri (ver aqui
(http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/30/politica/1477859011_064165.html?
id_externo_rsoc=FB_BR_CM)) –, nunca se é de esquerda o bastante.
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para dar certo, por conta do mau usoDeturparam
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que, emMarx:
geral, a classe falante brasileira faz dos conceitos de
milésima edição – Senso Incomum
“esquerda” e “direita”.
Que o governo do PT não tenha sido de esquerda foi sugerido até mesmo pela experiente
jornalista Dora Kramer (ver aqui (http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,onda-
furada,10000085950)). E não teria como ser de outro modo: quando se parte de um conceito
meramente idealizado de esquerda – e num país como o nosso, carente de
embasamento conservador, esse conceito é adotado inclusive por anti-esquerdistas –, torna-se
obviamente impossível apreender essa esquerda na realidade política.
De resto, devo dizer que concordo parcialmente com o diagnóstico geral do autor, por sinal
muito bem exposto. E também, é claro, com o remédio então sugerido: impeachment da Dilma
(já concretizado) e prisão de Lula (estamos todos no aguardo!). Mas, por partir de uma
perspectiva intelectual e política diversa, eu não posso endossar a sua razão pragmática, que é
fazer com que a esquerda reassuma, como se nada houvera acontecido, o controle das ruas e o
monopólio sobre a interpretação dos acontecimentos, que ela recentemente perdeu – e, graças à
internet, perdeu feio.
Reinaldo Gonçalves foi filiado ao PT durante 20 anos, tendo rompido com o partido em 2005,
dizendo-se cada vez mais arrependido e envergonhado por essa longa filiação. Hoje, apesar de
anti-petista, segue sendo um homem de esquerda (um social-democrata tendendo ao socialismo,
parece-me).
Eu, que já fui de esquerda (de vertente mais soixante-huitardista que marxista), já há muito deixei
de sê-lo. Poderia dizer-me de direita, mas com a condição de ressalvar: uma direita ainda
politicamente inexpressiva no Brasil, e que, nos últimos anos apenas, começou a ganhar terreno
na esfera cultural, posto que de maneira incipiente. Logo, a distância enunciativa, por assim dizer,
entre mim e o autor, deve fatalmente produzir curtos-circuitos classificatórios e enganosas
homonímias.
Sem querer pregar apenas para convertidos, dirijo-me também a uma eventual esquerda
republicana sobrevivente ao colapso do lulo-petismo, uma esquerda imaginária, livre do ranço
totalitário e patrimonialista daquele modelo. De boa vontade, tomo o economista Reinaldo
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Gonçalves por representante metonímico
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dessa nova
Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum
Os principais marcadores utilizados pelo autor são o mercado e o Estado. Essas instituições, diz
ele, “são fundamentais para se configurar os campos da esquerda e da direita”. Digo eu, no
entanto, que essa é uma meia-verdade.
Sim. É fato que a oposição mercado versus Estado define basicamente a divergência entre liberais
e esquerdistas (social-democratas e/ou socialistas). O problema começa quando o autor opta por
tratar liberais e conservadores como um bloco homogêneo (“direita”), incorrendo num equívoco
teórico típico da esquerda, que, de partida, distorce consideravelmente o debate político. O ponto
é que a oposição “Estado vs. mercado” não contempla exatamente o campo conservador, para o
qual seria preciso inserir aí, no mínimo, dois outros marcadores fundamentais: a família e a
comunidade (moral e/ou religiosa).
E então teríamos os conservadores abrindo duas frentes de divergência, uma com a esquerda
(Estado vs. família ou comunidade), outra com os liberais (mercado vs. família ou comunidade).
É um erro conceitual equacionar conservadorismo com mercado auto-regulado, como propõe o
quadro 1 do artigo de Gonçalves:
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(http://sensoincomum.org/wp-content/uploads/2016/11/Tabela-Gonçalves.png)
22/08/2019 Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum
E sim, a família aqui é a família monogâmica tradicional. Embora o conservador possa reconhecer
a legitimidade (civil, legal, afetiva) dos novos arranjos familiares surgidos nas sociedades
contemporâneas, ele repudia o combate ideológico (revolucionário) contra o conceito de família
tradicional, que resulta em aberrações politicamente corretas tais como, entre outras, a abolição
do Dia dos Pais e do Dia das Mães em algumas escolas contemporâneas. O conservador tem
apego à realidade acima das idéias, e repugna-lhe a hipótese de supressão de porções da realidade
e de tradições histórico-culturais na base da canetada de algum engenheiro social auto-
proclamado progressista.
Uma das grandes brigas entre conservadores e ultra-liberais (por vezes chamados “libertários”) é
que, para os primeiros, nem tudo tem preço e nem tudo passa pela liberdade individual de
escolha. As escolhas dos indivíduos devem basear-se num senso de responsabilidade para com o
próximo, sendo inseparáveis de um correto discernimento moral.
Acerca da divergência entre a defesa liberal da “liberdade” e o apreço conservador pela “ordem”
(condição, segundo essa filosofia, tanto das liberdades concretas quanto da propriedade privada),
recomendo o primeiro capítulo de O Que é Conservadorismo?
(https://www.amazon.com.br/gp/product/858033196X/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=858033196X&linkCode=as2&tag=flavmorgpa
20&linkId=4C3VKJEXNHCBWGIE), do filósofo britânico Roger Scruton, recentemente
lançado no Brasil pela É Realizações. O filósofo Olavo de Carvalho
(https://www.amazon.com.br/gp/product/B00EPFVY1U/ref=as_li_tl?
28 ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=B00EPFVY1U&linkCode=as2&tag=flavmorgp
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20&linkId=NJ24GHG7QSUFDZSE)
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também escreveu pelo menos três artigos muito
Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum
Penso que qualquer conservador endossaria a caracterização jocosa de Gonçalves acerca dos
“meninos afoitos da ortodoxia”, isto é, os liberais. Os conservadores, se são fundamentalmente
anti-coletivistas, tampouco endossam aquele individualismo de cunho utilitarista quase sempre
subjacente ao pensamento liberal. Para o conservador, a liberdade não pode ser um princípio
auto-fundante, caso em que degenerar-se-ia no seu exato contrário: a liberdade de escravizar, por
exemplo, incluindo a auto-escravização por apetites irrefreados.
Portanto, a liberdade deve vir temperada com a ordem, não apenas civil e estatal, mas, sobretudo,
a ordem interna da alma, conceito tradicional da antropologia filosófica clássica e judaico-cristã,
que depois caiu em desuso com a emergência da antropologia filosófica moderna (iluminista,
materialista, secularista e imanentista). “A pólis é o homem escrito em letras maiúsculas”, ensina
Platão na República (https://www.amazon.com.br/gp/product/8527307677/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8527307677&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=KD5SDGQTQKISWG3O)(368 c-d), lição que Eric Voegelin
(https://www.amazon.com.br/gp/product/8515036835/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8515036835&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=IQJPOMJPDVWKZ5TI), expoente do conservadorismo no século XX, chamou de
princípio antropológico. Esse me parece um axioma da filosofia conservadora.
John Adams, segundo presidente americano, e o mais conservador dos “Founding Fathers”,
ilustrou-o bem, ao escrever em 1798 sobre a Constituição Americana:
“Não há governos capazes de lidar com paixões humanas desenfreadas, imunes à moralidade
e à religião. A avareza, a ambição, o desejo de vingança ou a luxúria poderiam romper as
sólidas amarras de nossa Constituição qual uma baleia através de uma rede de pesca. A nossa
Constituição foi feita exclusivamente para um povo moral e religioso. Ela é totalmente
inadequada para qualquer outro”.
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Trocando em miúdos, Adams está dizendo
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que governos e códigos de leis não são formas puras e
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autônomas, aplicáveis sobre qualquer “substância” social. O mesmo vale para sistemas
econômicos, acrescento eu. Nessa perspectiva, uma comunidade moralmente sã e ordenada,
formada por homens maduros e responsáveis (spoudaios, na terminologia de Aristóteles
(https://www.amazon.com.br/gp/product/8572836128/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8572836128&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=GD5AR6FPQWIUQMGL)), é a precondição essencial para o bom funcionamento
de sistemas políticos e econômicos. Há aí a intuição fundamental de que, aquém da política e do
progresso tecnocientífico, existe uma ordem moral permanente e eterna que preside as mudanças
sociais.
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22/08/2019 Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum
A tradição conservadora, por outro lado, vê nestas antropologia e filosofia da história bases
nocivas para a vida política. (O leitor encontrará uma boa exposição crítica da antropologia
filosófica secularista, do ponto de vista conservador, no livro O Drama do Humanismo Ateísta
(https://www.amazon.com.br/gp/product/8569098065/ref=as_li_tl?
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20&linkId=7UEN6OOHMOMWPBFE), do filósofo jesuíta Henri de Lubac).
Com tudo isso, não pretendo dizer que todo conservador seja, necessariamente, religioso. Há
conservadores agnósticos e ateus tanto quanto religiosos. O britânico Theodore Dalrymple
(https://www.amazon.com.br/gp/product/8580332753/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8580332753&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=LITEG7BRNW4S2HHE), por exemplo, que esteve recentemente no Brasil, é um
bom representante do conservadorismo secular. Mas é difícil encontrar conservadores que não
atentem para a importância do resgate dos valores clássicos e judaico-cristãos como força cultural
e civilizacional. Não só judaico-cristãos, a bem da verdade.
É importante enfatizar que, ao contrário dos liberais e dos esquerdistas, o conservador entende a
religião, não como questão meramente privada, mas como uma conquista cultural que deve
influir na esfera pública. Isso não se confunde, em hipótese alguma, com negar a laicidade do
Estado. Trata-se precisamente do contrário. O conservador crê na separação essencial entre Estado
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22/08/2019
e sociedade civil, e rejeita qualquer mistura entre
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Enfim, depois dessa resumida (muitos dirão grosseira) apresentação da direita conservadora, que
a análise de Gonçalves, restrita à problemática econômica, não teria como contemplar, gostaria de
analisar alguns trechos pontuais de seu artigo que me parecem substancialmente equivocados.
Vou numerá-los e comentá-los pontualmente.
1) “A direita rotula o governo do PT como sendo de esquerda porque adota o programa Bolsa
Família”.
Não é verdade. Qualquer direitista minimamente letrado sabe aquilo que o próprio autor informa
no texto: que programas do tipo “Bolsa-Família” são uma invenção liberal, tendo brotado da
cachola de homens como Milton Friedman. Portanto, não é isso que faz com que o PT seja de
esquerda. Políticas assistencialistas podem ser – e são – utilizadas por governos de direita, de
esquerda e de centro, de maneira mais ou menos eleitoreira, mais ou menos viciosa.
(http://cvpravc.com.br/?
ref=sensoincomum&utm_source=afiliadosensoincomum)
Logo, ninguém diz que o PT é de esquerda por causa do Bolsa-Família. O PT é de esquerda por
toda a sua cultura política, pelo simbolismo que orienta os seus militantes, pela biografia de seus
quadros, as suas alianças objetivas com regimes socialistas etc. Poder-se-ia, enfim, citar inúmeras
evidências do esquerdismo do PT, recorrendo sobretudo aos documentos do partido e às idéias
defendidas por seus adeptos, mas isso tomaria muito espaço neste artigo. Ademais, o ônus da
prova cabe a quem defende a excêntrica tese do não-esquerdismo do PT.
A situação é, de fato, bem diversa daquela descrita por Gonçalves. Foi a esquerda que, agora, com
o barco naufragando, decidiu rotular o PT como sendo de “direita”, apenas porque o partido
seguiu por um tempo uma agenda relativamente neo-liberal (categoria distorcida e mistificada
pela esquerda, como bem explica o diplomata Paulo Roberto de Almeida neste artigo
(http://www.espacoacademico.com.br/087/87pra.htm)). Por ter governado em conluio com os
grandes bancos e as grandes empreiteiras, o PT vem sendo chamado de “direita” pela esquerda
não-petista, como se a aliança entre partidos socialistas e banqueiros fosse coisa inédita e
intrinsecamente contraditória. Ora, tal contradição só existe nas enciclopédias, dicionários e
manuais de auto-convencimento da esquerda.
Quem conhece, entre outros, os trabalhos do historiador britânico Anthony Sutton, em especial
os livros The Best Enemy Money Can Buy
(https://www.amazon.com.br/gp/product/1939438233/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=1939438233&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=2PVVT7ZGKY2TOHB4) e Wall Street and the Bolshevik Revolution
(https://www.amazon.com.br/gp/product/B00AO5OVLK/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=B00AO5OVLK&linkCode=as2&tag=flavmorg
20&linkId=GA52EK2Y7XH57INN), sabe que a revolução bolchevique de 1917 foi, em parte,
patrocinada por grandes financistas de Wall Street interessados na queda do czar por motivos
mercadológicos. Há fortes indícios de que a própria viagem de Trotsky de Nova York até a Rússia
tenha sido pessoalmente bancada por Jacob Schiff, do banco Kuhn, Loeb & Co. Em 1911, o
cartunista Robert Minor, ele próprio bolchevique, publicou no St. Louis Dispatch um cartoon
significativo a esse respeito. Nele, Karl Marx em pessoa, chegando em Wall Street com um livro
intitulado “Socialismo” embaixo do braço, é saudado com entusiasmo por financistas tais como
John D. Rockefeller, J. P. Morgan, John D. Ryan e George W. Perkins, além de Teddy Roosevelt.
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22/08/2019 Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum
A simbiose, em tese paradoxal, entre o grande capital e o comunismo fora notada também pelo
romancista britânico H. G. Wells em seu livro Rússia nas Sombras
(https://www.amazon.com.br/gp/product/1356361005/ref=as_li_tl?
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20&linkId=LBB4TI4JXLLHPH6G): “O grande negócio não é de forma alguma antipático ao
comunismo. Quanto mais ele cresce, mais se aproxima do coletivismo”.
Um dos sinais mais evidentes disso talvez seja o artigo elogioso que, em 10 de agosto de 1973,
David Rockefeller dedicou a Mao Tse-tung no New York Times, dizendo-se particularmente bem
impressionado com o “senso de harmonia nacional” e o sucesso da revolução em “não apenas
produzir uma administração mais eficiente e dedicada, como também incutir na população um
moral elevado e uma comunhão de propósitos” (sic).
A situação é explicada em detalhes no livro URSS: The Corrupt Society – The Secret World of
Soviet Capitalism, de Konstantin Simis. Criou-se na URSS dois mundos paralelos e
incomunicáveis: o mundo rico e luxuoso da elite partidária, do governo, dos burocratas e
funcionários públicos (e, assim como no Brasil, todos ali queriam ser funcionários públicos!); e o
mundo famélico e miserável da população ordinária. Nada era comum aos dois mundos: havia o
28 sabonete da elite dirigente (macio e cremoso) e o sabonete comum (seco e sem espuma); o pente
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dos burocratas (de matéria nobre e resistente)
22/08/2019
e o pente do resto (que quebrava em uma semana);
Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum
o tecido dos apparatchik (finos e importados) e o tecido das demais pessoas (roto e áspero), e
assim com toda e qualquer mercadoria.
Aquele tipo de capitalismo oligárquico e concentrado é pura esquerda. Não se trata de nenhuma
invenção petista, muito menos de uma guinada à direita. Ele é resultado da própria lógica da
esquerda revolucionária: para se distribuir igualmente a riqueza, é preciso um poder gigantesco
que se erga acima das classes existentes e, na base da força, tome a riqueza de uma e a transfira
para a outra. Esse poder gigantesco concentra-se fatalmente no partido.
Para o exercício do poder – como já explicou, entre outros, Napoleão Bonaparte –, todo partido
precisa de três coisas fundamentais: dinheiro, dinheiro e dinheiro. Agora, qual o único sistema
econômico no mundo a criar dinheiro? Resposta: o capitalista. Só ele. Não existe economia
socialista. Isso é uma contradição em termos. O próprio Lênin reconheceu a impossibilidade
prática de uma economia inteiramente estatizada. E Ludwig von Mises, como Gonçalves deve
saber melhor que eu, demonstrou-o teoricamente de maneira inapelável na década de 1920.
Logo, mesmo na URSS, sempre houve um misto de economia estatal e economia privada. O fato
de comunistas se renderem, a contragosto, à imperiosa necessidade de alguma economia de
mercado não os transforma automaticamente em “direitistas”.
Logo, o fato de que o PT tenha feito o jogo dos bancos e das empreiteiras não significa nenhuma
concessão à direita ou ao liberalismo. Tanto quanto qualquer partido totalitário, o PT precisava de
dinheiro para a sua política de aparelhamento e compra de consciências. Ademais, coube a ele, via
empréstimos sigilosos do BNDES, o papel de grande financiador dos regimes socialistas e
bolivarianos vizinhos, parceiros de Foro de São Paulo.
O partido não podia se dar ao luxo de quebrar o país cedo demais, venezuelanizando-o de saída.
Havia todo um esquema continental de poder que cabia ao PT, com o dinheiro tungado do
contribuinte brasileiro, bancar. Seria tão absurdo afirmar que, ao seguir o modelo econômico
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mezzo liberal (que Gonçalves chamaDeturparam
22/08/2019
de “liberal periférico”), o PT inclinou-se à direita, quanto
Marx: milésima edição – Senso Incomum
dizer que Lênin virou direitista ao lançar a sua Nova Política Econômica.
Talvez o lulismo agrida parte da esquerda brasileira, mas é preciso não esquecer um pequeno
detalhe: o lulismo é de esquerda. Não é justo empurrar esse Mateus para o colo da direita. Quem
o pariu que o embale! Não há porque acreditar que ele seja mais nocivo à esquerda do que à
direita.
Durante muito tempo, a esquerda amparou o lulopetismo, sendo a direita (digo, uns poucos
gatos-pingados auto-identificados como conservadores ou liberais) o único vetor de crítica àquele
projeto. Quando teve chance de demonizar os críticos de direita do Lula e do PT, tachando-os de
“elitistas”, “preconceituosos”, “racistas contra nordestinos” etc., a esquerda brasileira em peso
nunca se vexou de fazê-lo.
Parte dela pode ter rompido com o PT, uns há mais tempo, outros há menos. Mas foi a direita a
pioneira no combate frontal ao esquema lulopetista, e, portanto, este continua sendo-lhe mais
anátema do que o é para a esquerda. Na luta política, como em tudo o mais, antiguidade é posto.
A esquerda deve entrar na fila do anti-petismo. Afinal, como questionaria um grande filósofo
popular “Chegou agora e já quer sentar na janelinha?”.
O que a esquerda brasileira anti-petista tenta agora fazer com o PT é o mesmo que a esquerda
ocidental pós-soviética tentou fazer com o bolchevismo: limpar-se nas máculas do próprio
passado, ou seja, monopolizar oportunistamente a crítica ao petismo. Em La Grande Parade
(https://www.amazon.com.br/gp/product/2266106759/ref=as_li_tl?
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20&linkId=7TK43AJ3BEZUYGTM), seu grande livro sobre a estranha sobrevivência da utopia
socialista após o fim da URSS, Jean-François Revel descreveu bem a estratégia:
“A esquerda não se equivoca jamais ou, quando muito, se equivoca apenas em relação a si
própria, em seu próprio seio, de um modo indigno de ser discutido senão pelos pares que a
compõem, jamais sob condições que pudessem levá-la a dar razão, ou mesmo a palavra, aos
seus adversários”.
Em resumo, tanto quanto os seus antecessores, Lula também não foi a “verdadeira” esquerda.
Porque a “verdadeira” esquerda não se equivoca, não peca, não comete crimes. O equívoco, o
pecado e o crime são atributos da “falsa” esquerda – ou seja, a direita. A “verdadeira” esquerda
nunca pode ser julgada por parâmetros atuais, porque o seu projeto não está no presente, sendo
indefinidamente adiado para um futuro desconhecido. A “verdadeira” esquerda só poderia
governar o Paraíso. Cito Revel mais uma vez:
A esquerda é como o marido traído: sempre a última a saber. O que Alain Besançon escreveu
sobre o comunismo em A Infelicidade do Século
(https://www.amazon.com.br/gp/product/8528607674/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8528607674&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=YHLJJY3IQW7RSK5R) vale para a esquerda em geral: “Cada experiência
comunista é recomeçada na inocência”. Parte da esquerda nacional pretende agir agora como se
nunca vira o Lula mais gordo. Mais um pouco e o homem vira ícone do conservadorismo…
Parece-me que Gonçalves tenta encapsular a crítica dentro do campo da esquerda, deslegitimando
previamente toda oposição não-esquerdista ao PT. Ele busca aproximar o PT da direita a fim de
isolar uma esquerda pura como portadora única da virtude política. Se é mesmo assim, como
vimos, seria a milésima vez na história que a esquerda tenta a mesmíssima estratégia.
Não acho que Gonçalves o tenha feito por maquiavelismo, sequer mesmo intencionalmente, mas
por puro vício de raciocínio. Como se sabe, é tradição da esquerda raciocinar dialeticamente,
assumindo o controle tanto da tese quando da antítese, com vistas a uma síntese superior. Mas
acho sinceramente que, dessa vez, a esquerda terá um pouco mais de dificuldade para impor tal
narrativa, pois que já há um número suficiente de opinadores liberais e conservadores para
contestá-la e refrescar a memória nacional.
preciso, enfim, negociar. E não seria essa a essência mesma da dinâmica política dentro de um
estado democrático de direito?
3) “O apoio das forças políticas de centro e de direita para essa agenda não é razão para se tentar
desqualificar ou rejeitar os protestos pacíficos, populares e democráticos. O argumento de que
essa agenda é promovida pelos conservadores ou pela direita é, na melhor das hipóteses, um erro
analítico que pode ser um erro histórico. A esquerda deve participar dos protestos”.
Falso. As três grandes manifestações populares de 2015, bem como a de março de 2016,
simplesmente a maior da história nacional, foram, sim, promovidas por grupos e pessoas de
tendência conservadora e liberal. Eu estive nas quatro ocorridas no Rio de Janeiro, em
Copacabana. Conheço alguns dos organizadores e suas referências intelectuais e políticas. Muitos
fazem parte dessa “nova direita” que ora começa a ganhar terreno no mercado editorial (basta a
ver a lista de mais vendidos de não-ficção para conhecer-lhes os nomes) e na cultura de maneira
mais ampla, ameaçando a histórica hegemonia cultural da esquerda. Eu vi in loco os cartazes dos
manifestantes, ouvi seus gritos de guerra, senti o clima. As manifestações foram, sem dúvida, para
além de anti-petistas, visivelmente anti-esquerdistas.
A esquerda, se quisesse, poderia e deveria ter participado dos protestos. Mas, para isso, seria
preciso ter a humildade de reconhecer que a sua agenda está desgastada, e que ela deve fazer um
28 exame de consciência verdadeiro, respeitando a natureza das manifestações, sem tentar apropriar-
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se delas para fins particulares.
22/08/2019 Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum
Afinal, ao lado dos pedidos de impeachment e da prisão do Lula, havia por todo o país centenas
de cartazes com dizeres tais como “Olavo [de Carvalho] tem razão”, “Mais Mises, menos Marx”,
“Abaixo o Foro de São Paulo” e “A nossa bandeira jamais será vermelha”. Não se viu nenhum
cartaz em que se lesse “Zizek tem razão”, “Vladimir Safatle tem razão”, “Marcelo Freixo tem
razão” e, muito menos, “Abaixo o capitalismo!”.
Embora eu desconfie que o seu poder de mobilização popular tenha se esgotado, a esquerda,
repito, pode e deve voltar às ruas. Mas, ao longo dos próximos anos, ela terá que aprender a
conviver com uma direita política emergente, que não tem qualquer relação com o regime militar,
e contra a qual os clichês stalinistas habituais – “fascistas”, “elitistas”, “inimigos do povo” – serão
impotentes. É uma direita com gente preparada, que tem lido e estudado muito, e que
provavelmente conhece a esquerda mais do que esta conhece a direita. E, sobretudo, formada por
intelectuais e aspirantes a intelectuais que desenvolvem suas atividades à margem da universidade,
livres, portanto, de seus formalismos e sinecuras. Escrevendo, ademais, num português mais
clássico, sem os maneirismos acadêmicos à la “penteadeira de velha” (na feliz expressão do poeta
Bruno Tolentino), esses intelectuais da nova direita estão destinados a atingir um público bem
mais vasto.
Dos anos 1960 para cá, a intelligentsia de esquerda optou por enfrentar o pensamento de direita
mediante a difamação ou o boicote silencioso: isso ocorreu com Gustavo Corção, Roberto
Campos, José Guilherme Merquior, Mário Ferreira dos Santos, José Osvaldo de Meira Penna,
Nélson Rodrigues, Paulo Francis, Bruno Tolentino, Olavo de Carvalho e até mesmo, em alguma
medida, com Gilberto Freyre. Em relação à tradição conservadora européia e americana, a coisa é
ainda mais espantosa.
Em uma rápida consulta ao banco de teses da CAPES e do CNPq, eu pude constatar a quase
ausência de referências aos maiores expoentes do pensamento conservador mundial: Irving
Babbit, Richard M. Weaver, Erik von Kuehnelt-Leddihn, Eric Voegelin, Thomas Sowell, Eugen
Rosenstock-Huessy, Theodore Dalrymple, Irving Kristol, John Kekes, Kenneth Minogue, Jean-
François Revel, David Horowitz, Roger Kimball, Russell Kirk, Michael Oakeshott, Roger
Scruton… Todos esses nomes, ou não constam, ou constam de maneira esporádica nos bancos de
dados. É provável que a imensa maioria dos universitários brasileiros contemporâneos nunca
tenha sequer ouvido o nome desses autores, quanto mais as suas idéias. Para a esquerda brasileira
da Nova República, a “direita” é, em larga medida, uma fantasmagoria, um espantalho, um vetor
dos próprios traumas e preconceitos históricos.
Saltará a esquerda brasileira para fora do trem-fantasma? Estará a esquerda pós-PT preparada para
abandonar o modelo gramsciano de hegemonia cultural e ocupação de espaços? Estará ela
28 disposta a um debate franco de idéias e propostas para o país, com um adversário real e auto-
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consciente? Saberá a esquerda nacional
22/08/2019
compreender a
Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum
4) “O ponto central é que a esquerda tem muito mais razões para apoiar a agenda popular do que
a direita”.
Não é verdade. Como vêm demonstrando pesquisas de opinião recentes, a “agenda popular” no
Brasil tende a ser predominantemente conservadora e de direita, sobretudo no que diz respeito a
costumes e valores – aborto, legalização das drogas, desarmamento, redução da maioridade penal,
novos arranjos familiares, políticas de identidade sexual e de gênero etc. Em quase todos esses
temas, a elite cultural de esquerda vai para um lado; a população em geral, para o outro. Com
exceção do apego ao Estado forte e ao assistencialismo, a agenda da esquerda está quase sempre
em desacordo com a dita “agenda popular”.
A afirmação de que a esquerda tem mais razões para apoiar a “agenda popular” não passa de
wishful thinking, talvez auto-lisonjeiro, mas objetivamente equivocado. Se pensamos nos valores
do brasileiro médio, especialmente dos mais pobres, é fácil constatar que a esquerda já não tem
muito o que lhes dizer.
Grosso modo, a esquerda ama tudo o que o povão odeia (legalização das drogas e do aborto;
estatuto do desarmamento; beijo lésbico idoso na novela; manutenção da maioridade penal aos
18 anos; fim do capitalismo, revolução social e Marcha das Vadias; patrulhas politicamente
corretas da linguagem; desmilitarização da PM; Canal Futura; comida vegetariana; ciclovias;
Tropa de Elite II) e odeia tudo o que o povão ama (religião cristã, em geral; pastores evangélicos,
em particular; ordem; família tradicional; “bandido bom é bandido morto”; programa do
Datena; piada da bichinha contada pelo Costinha; o Papa; o programa Patrulha da Cidade, da
rádio Tupi; churrasco na laje; carros possantes; Tropa de Elite I).
Se a sociedade está relativamente dividida, deveria caber aos intelectuais, como de costume, a
responsabilidade de organizar e dar expressão simbólica a essa divisão, para que ela possa fluir,
através dos canais legítimos e institucionais do debate público, até desaguar na disputa política
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22/08/2019
formal. Sem radicalismos, sem traumas, sem rupturas revolucionárias. Em suma, à moda
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conservadora…
O Que É Por que Virei à As Ideias O mínimo que O Jardim das Como ser um
Conservadorism... Direita Conservadoras você precisa... Aflições conservador
R$ 46,90 R$ 29,66 R$ 35,04 R$ 61,11 R$ 49,80 R$ 38,94
Compre agora Compre agora Compre agora Compre agora Compre agora Compre agora
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