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22/08/2019 Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum

 

(http://sensoincomum.org)

(https://institutoborborema.com/loja/)

Ideologia

Deturparam Marx: milésima edição


"O PT nunca foi de esquerda" - a esquerda agora tenta atribuir à direita os resultados
catastróficos de suas idéias e práticas.
Flavio Gordon (http://sensoincomum.org/author/flaviogordon/)  06/11/2016

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As eleições municipais
de 2016 no Brasil
sinalizaram um evidente
enfraquecimento da
esquerda. Significativo
quanto a isso foi o
colapso eleitoral do PT,
que, no segundo turno,
(http://bit.ly/trashin-senso-incomum)

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foi derrotado em todas as capitais onde
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disputava prefeitura, inclusive na região que foi o berço
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do partido – o ABC paulista.

Diante da perda de poder, e quebrada a hegemonia com a qual se acostumara desde os anos 1960
(como já assinalara à época Roberto Schwarz), a esquerda brasileira, com notável capacidade de
resposta, já se articula como no passado em torno de seu esporte predileto: a auto-crítica. Mas
que o leitor não se deixe confundir por homonímias. No vocabulário esquerdista, a expressão tem
um significado bem específico, distinto daquele, habitual e senso-comum, que envolve noções
como arrependimento moral, culpa, peso na consciência etc.

Desprezando aquele conjunto de idéias, expressões do que Trotsky ridicularizou como “catecismo
burguês” – enfatizando suas origens cristãs –, a esquerda entrega-se à auto-crítica num único e
exclusivo sentido, um sentido, por assim dizer, metodológico, jamais ético. Tudo o que busca
avaliar são as razões de sua perda de poder.

Eis o critério orientador da auto-crítica de esquerda: o poder. Ter o seu poder político limitado é
a única coisa capaz de revolver o espírito do esquerdista a ponto de nele suscitar um simulacro de
indignação moral sincera, ainda que pervertida. Nada poderia exemplificá-lo melhor que as
maquiavélicas palavras de Gramsci acerca do moderno príncipe, isto é, o partido de esquerda:

“O moderno príncipe, desenvolvendo-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e


morais, na medida em que o seu desenvolvimento significa de fato que cada ato é concebido
como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, mas só na medida em que tem como
ponto de referência o próprio moderno Príncipe e serve para acentuar o seu poder, ou
contrastá-lo”.

É nesse contexto que surgem agora dois movimentos simultâneos e complementares no seio do
esquerdismo brasileiro, ambos os quais buscando juntar os cacos com vistas a uma futura
retomada do poder.

O primeiro é aquele que poderíamos chamar de ortodoxia petista, representado intelectualmente


por nomes como Marilena Chauí, Emir Sader, Renato Janine Ribeiro, André Singer, entre outros.
Seu método é reafirmar obstinadamente, a despeito dos fatos, o caráter popular e democrático do
projeto petista, cujo fracasso, portanto, deve ser todo posto na conta de uma ‘elite’ (termo que
incluiria a maior parte da população brasileira, a oposição, a Polícia Federal, o Ministério Público,
o STF e sabe-se lá mais o que) em tese refratária à ascensão social dos mais pobres.

É, em suma, a tese do golpe de 2016, veiculada numa série de novos livros conjunta e
emergencialmente editados – o que revela ainda a força da extrema-esquerda no campo da
circulação de idéias – com o fito exclusivo de emplacar a delirante narrativa dos vencidos.
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O segundo, que poderíamos chamar
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de reformismo pós-PT, é usualmente representado por
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apóstatas do petismo (figuras como César Benjamin, Luiz Eduardo Soares, José de Souza
Martins, entre outros), e seu argumento central, mais sorrateiro, consiste na afirmação de que o
PT nunca foi de esquerda. Segundo essa perspectiva – reforçada recentemente pelo marxista
italiano Antonio Negri (ver aqui
(http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/30/politica/1477859011_064165.html?
id_externo_rsoc=FB_BR_CM)) –, nunca se é de esquerda o bastante.

Trata-se do apelo à velha estratégia do “deturparam


Marx” – pela qual a esquerda mundial procurou
justificar os crimes contra a humanidade cometidos
por regimes comunistas – ou, na formulação do
filósofo Gilles Deleuze, “não há governo de
esquerda” (ver aqui
(https://www.youtube.com/watch?v=iXG0ZJc-
4B4)). A esquerda estaria sempre em oposição ao poder, não passando de uma idéia bonita, uma
virtualidade jamais atualizada. Para quem não deseja assumir a responsabilidade pelas
consequências de suas idéias, essa tese é um prato cheio. A esquerda seria sempre pedra, jamais
vidraça.

Embora pareçam divergir, os dois movimentos opõem-se apenas na superfície. Encontram-se, no


máximo, em oposição dialética. Nos termos de uma clássica definição de György Lukács
(https://www.amazon.com.br/gp/product/8578275039/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8578275039&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=4KDXQVRQVCBBLQEL), dir-se-ia que são “momentos dialético-dinâmicos de um
todo que, ele próprio, também é dialético-dinâmico”. Trata-se de uma divisão que apenas
impulsiona a esquerda para mais perto de seus objetivos, sendo o primeiro deles,
tradicionalmente, o livrar-se do peso de seus fracassos e crimes.

Este texto é uma tentativa retardatária de resposta a um artigo bastante representativo do


reformismo pós-PT, publicado já há quase um ano, e pouco notado no campo liberal-
conservador. Intitulado “Por que a esquerda tem mais razões do que a direita para ser a favor do
impedimento de Dilma e da punição de Lula?” (http://www.correiocidadania.com.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=11312:politica231215&catid=25:politica&Itemid=47),
seu autor é o economista Reinaldo Gonçalves, professor titular da UFRJ.

O artigo de Gonçalves, um dos raros esquerdistas a se manifestar à época favoravelmente ao


impeachment de Dilma Rousseff, tem como objetivo purificar a esquerda brasileira, apagando
para isso os seus laços de cumplicidade com o falido projeto lulo-petista. A estratégia tem tudo

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para dar certo, por conta do mau usoDeturparam
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que, emMarx:
geral, a classe falante brasileira faz dos conceitos de
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“esquerda” e “direita”.

Que  o governo do PT não tenha sido de esquerda foi sugerido até mesmo pela  experiente
jornalista Dora Kramer (ver aqui (http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,onda-
furada,10000085950)). E não teria como ser de outro modo: quando se parte de um conceito
meramente  idealizado de esquerda – e num país como o nosso, carente de
embasamento  conservador, esse conceito é adotado inclusive por anti-esquerdistas –, torna-se
obviamente impossível apreender essa esquerda na realidade política.

De resto, devo dizer que concordo parcialmente com o diagnóstico geral do autor, por sinal
muito bem exposto. E também, é claro, com o remédio então sugerido: impeachment da Dilma
(já concretizado) e prisão de Lula (estamos todos no aguardo!). Mas, por partir de uma
perspectiva intelectual e política diversa, eu não posso endossar a sua razão pragmática, que é
fazer com que a esquerda reassuma, como se nada houvera acontecido, o controle das ruas e o
monopólio sobre a interpretação dos acontecimentos, que ela recentemente perdeu – e, graças à
internet, perdeu feio.

Reinaldo Gonçalves foi filiado ao PT durante 20 anos, tendo rompido com o partido em 2005,
dizendo-se cada vez mais arrependido e envergonhado por essa longa filiação. Hoje, apesar de
anti-petista, segue sendo um homem de esquerda (um social-democrata tendendo ao socialismo,
parece-me).

Eu, que já fui de esquerda (de vertente mais soixante-huitardista que marxista), já há muito deixei
de sê-lo. Poderia dizer-me de direita, mas com a condição de ressalvar: uma direita ainda
politicamente inexpressiva no Brasil, e que, nos últimos anos apenas, começou a ganhar terreno
na esfera cultural, posto que de maneira incipiente. Logo, a distância enunciativa, por assim dizer,
entre mim e o autor, deve fatalmente produzir curtos-circuitos classificatórios e enganosas
homonímias.

Adotarei aqui a perspectiva de um emergente pensamento neoconservador brasileiro, sem


pretensão de representá-lo exaustivamente, é claro. Não falo em nome do conservadorismo
nacional como um todo, tampouco ousarei defini-lo de forma precisa. Há gente mais gabaritada
para fazê-lo. O que o leitor verá aqui é o meu entendimento particular do conservadorismo, e
como ele serve de base para a minha crítica. Longe de encará-lo como uma doutrina passível de
ser coerente e sinteticamente exposta, vejo-o mais como um antídoto anti-doutrinário, uma certa
disposição do espírito.

Sem querer pregar apenas para convertidos, dirijo-me também a uma eventual esquerda
republicana sobrevivente ao colapso do lulo-petismo, uma esquerda imaginária, livre do ranço
totalitário e patrimonialista daquele modelo. De boa vontade, tomo o economista Reinaldo
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Gonçalves por representante metonímico
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dessa nova
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esquerda virtual. Mas observo que, apesar de sua


manifesta intenção de abertura intelectual e renovação,
parece-me que também essa variante da esquerda
continua refém de certos vícios adquiridos, os quais, se
não corrigidos, tendem a inviabilizar um debate
político honesto. Eis o cerne do meu comentário.

Dos procedimentos adotados por Gonçalves com vistas


à obtenção de precisão conceitual acerca da dicotomia
esquerda versus direita, eu não faria qualquer objeção
relevante ao primeiro – “hipóteses simplificadoras”, que
circunscrevem a discussão aos limites da democracia
capitalista – e terceiro – “tipologia flexível”, que
determina como campos políticos a esquerda, a centro-esquerda, o centro, o centro-direita e a
direita. Já quanto ao segundo, que o autor denomina “marcadores”, gostaria de pontuar algumas
coisas.

Os principais marcadores utilizados pelo autor são o mercado e o Estado. Essas instituições, diz
ele, “são fundamentais para se configurar os campos da esquerda e da direita”. Digo eu, no
entanto, que essa é uma meia-verdade.

Sim. É fato que a oposição mercado versus Estado define basicamente a divergência entre liberais
e esquerdistas (social-democratas e/ou socialistas). O problema começa quando o autor opta por
tratar liberais e conservadores como um bloco homogêneo (“direita”), incorrendo num equívoco
teórico típico da esquerda, que, de partida, distorce consideravelmente o debate político. O ponto
é que a oposição “Estado vs. mercado” não contempla exatamente o campo conservador, para o
qual seria preciso inserir aí, no mínimo, dois outros marcadores fundamentais: a família e a
comunidade (moral e/ou religiosa).

E então teríamos os conservadores abrindo duas frentes de divergência, uma com a esquerda
(Estado vs. família ou comunidade), outra com os liberais (mercado vs. família ou comunidade).
É um erro conceitual equacionar conservadorismo com mercado auto-regulado, como propõe o
quadro 1 do artigo de Gonçalves:

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(http://sensoincomum.org/wp-content/uploads/2016/11/Tabela-Gonçalves.png)
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Porque, para o conservadorismo (e aqui penso sobretudo em sua vertente anglo-americana), o


mercado também deve ser, de certa maneira, ‘regulado’. Não, é claro, pelo Estado – que, de
acordo com certa filosofia política conservadora (ver, por exemplo, a de Bertrand de Jouvenel
(https://www.amazon.com.br/gp/product/0865971137/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=0865971137&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=TXIYMRJQ6SA3GHCX)), tende ‘naturalmente’ a um temível agigantamento –, mas
pelos valores morais e religiosos compartilhados pela comunidade, e sedimentados no seio da
família.

E sim, a família aqui é a família monogâmica tradicional. Embora o conservador possa reconhecer
a legitimidade (civil, legal, afetiva) dos novos arranjos familiares surgidos nas sociedades
contemporâneas, ele repudia o combate ideológico (revolucionário) contra o conceito de família
tradicional, que resulta em aberrações politicamente corretas tais como, entre outras, a abolição
do Dia dos Pais e do Dia das Mães em algumas escolas contemporâneas. O conservador tem
apego à realidade acima das idéias, e repugna-lhe a hipótese de supressão de porções da realidade
e de tradições histórico-culturais na base da canetada de algum engenheiro social auto-
proclamado progressista.

Os conservadores são, sem dúvida, favoráveis ao capitalismo e à liberdade de mercado. Mas a


liberdade não deve ser absoluta, não podendo o capitalismo estar dissociado da consolidação
cultural de uma determinada antropologia filosófica, ou concepção de homem, notadamente a
judaico-cristã. Sem isso, pensa o conservador, corre-se o risco de descambarmos para as formas
mais cruas e selvagens de materialismo e consumismo hedonista, justamente daquele tipo previsto
por Marx em sua profecia auto-realizável.

Uma das grandes brigas entre conservadores e ultra-liberais (por vezes chamados “libertários”) é
que, para os primeiros, nem tudo tem preço e nem tudo passa pela liberdade individual de
escolha. As escolhas dos indivíduos devem basear-se num senso de responsabilidade para com o
próximo, sendo inseparáveis de um correto discernimento moral.

Acerca da divergência entre a defesa liberal da “liberdade” e o apreço conservador pela “ordem”
(condição, segundo essa filosofia, tanto das liberdades concretas quanto da propriedade privada),
recomendo o primeiro capítulo de O Que é Conservadorismo?
(https://www.amazon.com.br/gp/product/858033196X/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=858033196X&linkCode=as2&tag=flavmorgpa
20&linkId=4C3VKJEXNHCBWGIE), do filósofo britânico Roger Scruton, recentemente
lançado no Brasil pela É Realizações. O filósofo Olavo de Carvalho
(https://www.amazon.com.br/gp/product/B00EPFVY1U/ref=as_li_tl?
28 ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=B00EPFVY1U&linkCode=as2&tag=flavmorgp
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20&linkId=NJ24GHG7QSUFDZSE)
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também escreveu pelo menos três artigos muito
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elucidativos sobre o tema (ver aqui (http://www.olavodecarvalho.org/semana/070308jb.html),


aqui (http://www.olavodecarvalho.org/semana/070319dc.html) e aqui
(http://www.olavodecarvalho.org/semana/100215dc.html)).

Penso que qualquer conservador endossaria a caracterização jocosa de Gonçalves acerca dos
“meninos afoitos da ortodoxia”, isto é, os liberais. Os conservadores, se são fundamentalmente
anti-coletivistas, tampouco endossam aquele individualismo de cunho utilitarista quase sempre
subjacente ao pensamento liberal. Para o conservador, a liberdade não pode ser um princípio
auto-fundante, caso em que degenerar-se-ia no seu exato contrário: a liberdade de escravizar, por
exemplo, incluindo a auto-escravização por apetites irrefreados.

Como escreveu Edmund Burke em Reflexões sobre a Revolução em França


(https://www.amazon.com.br/Reflex%C3%B5es-Sobre-Revolu%C3%A7%C3%A3o-na-
Fran%C3%A7a/dp/8572838627): “O efeito da liberdade é de permitir aos homens fazer aquilo
que lhes agrada: vejamos, pois, o que lhes será agradável fazer antes de nos arriscarmos a
cumprimentos que muito cedo, talvez, devam ser convertidos em pêsames”

Portanto, a liberdade deve vir temperada com a ordem, não apenas civil e estatal, mas, sobretudo,
a ordem interna da alma, conceito tradicional da antropologia filosófica clássica e judaico-cristã,
que depois caiu em desuso com a emergência da antropologia filosófica moderna (iluminista,
materialista, secularista e imanentista). “A pólis é o homem escrito em letras maiúsculas”, ensina
Platão na República (https://www.amazon.com.br/gp/product/8527307677/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8527307677&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=KD5SDGQTQKISWG3O)(368 c-d), lição que Eric Voegelin
(https://www.amazon.com.br/gp/product/8515036835/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8515036835&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=IQJPOMJPDVWKZ5TI), expoente do conservadorismo no século XX, chamou de
princípio antropológico. Esse me parece um axioma da filosofia conservadora.

John Adams, segundo presidente americano, e o mais conservador dos “Founding Fathers”,
ilustrou-o bem, ao escrever em 1798 sobre a Constituição Americana:

“Não há governos capazes de lidar com paixões humanas desenfreadas, imunes à moralidade
e à religião. A avareza, a ambição, o desejo de vingança ou a luxúria poderiam romper as
sólidas amarras de nossa Constituição qual uma baleia através de uma rede de pesca. A nossa
Constituição foi feita exclusivamente para um povo moral e religioso. Ela é totalmente
inadequada para qualquer outro”.

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Trocando em miúdos, Adams está dizendo
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que governos e códigos de leis não são formas puras e
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autônomas, aplicáveis sobre qualquer “substância” social. O mesmo vale para sistemas
econômicos, acrescento eu. Nessa perspectiva, uma comunidade moralmente sã e ordenada,
formada por homens maduros e responsáveis (spoudaios, na terminologia de Aristóteles
(https://www.amazon.com.br/gp/product/8572836128/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8572836128&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=GD5AR6FPQWIUQMGL)), é a precondição essencial para o bom funcionamento
de sistemas políticos e econômicos. Há aí a intuição fundamental de que, aquém da política e do
progresso tecnocientífico, existe uma ordem moral permanente e eterna que preside as mudanças
sociais.

É o apego fundamental àquela ordem – que Edmund Burke


(https://www.amazon.com.br/gp/product/8580332745/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8580332745&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=FNUP3EVDQRBX2FV7) chamava de “o contrato da sociedade eterna”, G. K.
Chesterton (https://www.amazon.com.br/gp/product/8563160583/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8563160583&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=FYPSEURXXUGK2AU4), de “democracia dos mortos”, e T. S. Eliot
(https://www.amazon.com.br/gp/product/8580330688/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8580330688&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=3A4RM7D7V4OUQ6PM), de “estrato pré-político” – que gera o tradicional
ceticismo conservador em face da ação política. Não que ele não reconheça a sua importância,
assim como a importância crucial da autoridade, mas ele tende a olhar a política de maneira
pragmática e circunstancial, jamais doutrinária e fundada sobre princípios abstratos ou declarações
grandiloquentes de intenções (“justiça”, “liberdade”, “igualdade”, “um país sem miséria” etc.).
Contra a política ideológica, a política conservadora é a política da prudência, para citar o
conhecido título de Russell Kirk, um dos maiores conservadores americanos do século XX.

Na famosa definição de Michael Oakeshott


(https://www.amazon.com.br/gp/product/0865970955/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=0865970955&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=ZHM7CZATOU3C36BR):

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“Ser conservador é preferir o familiar ao desconhecido, preferir o tentado ao não tentado, o


facto ao mistério, o real ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o
suficiente ao superabundante, o conveniente ao perfeito, a felicidade presente à utópica. As
relações e lealdades familiares serão preferíveis ao fascínio de vínculos mais proveitosos;
comprar e expandir será menos importante que conservar, cultivar e desfrutar; a dor da
perda será maior que a excitação da novidade ou da promessa. É ser igual ao nosso próprio
destino, é viver ao nível dos meios, contentar-se com a necessidade de maior perfeição
pessoal como com as circunstâncias que nos rodeiam”.

Portanto, é impossível falar de conservadorismo sem levar em conta a importância da dimensão


religiosa para essa filosofia. Nesse sentido, liberais e esquerdistas estão bem mais próximos entre
si, ambos herdeiros confessos, mais ou menos orgulhosos, da antropologia filosófica secularista e
da filosofia hegeliana da história.

A tradição conservadora, por outro lado, vê nestas antropologia e filosofia da história bases
nocivas para a vida política. (O leitor encontrará uma boa exposição crítica da antropologia
filosófica secularista, do ponto de vista conservador, no livro O Drama do Humanismo Ateísta
(https://www.amazon.com.br/gp/product/8569098065/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8569098065&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=7UEN6OOHMOMWPBFE), do filósofo jesuíta Henri de Lubac).

Com tudo isso, não pretendo dizer que todo conservador seja, necessariamente, religioso. Há
conservadores agnósticos e ateus tanto quanto religiosos. O britânico Theodore Dalrymple
(https://www.amazon.com.br/gp/product/8580332753/ref=as_li_tl?
ie=UTF8&camp=1789&creative=9325&creativeASIN=8580332753&linkCode=as2&tag=flavmorgpag
20&linkId=LITEG7BRNW4S2HHE), por exemplo, que esteve recentemente no Brasil, é um
bom representante do conservadorismo secular. Mas é difícil encontrar conservadores que não
atentem para a importância do resgate dos valores clássicos e judaico-cristãos como força cultural
e civilizacional. Não só judaico-cristãos, a bem da verdade.

Muitos conservadores dirigiram sua sede de eternidade e transcendência a outros sistemas


filosóficos ou religiosos. Sabe-se que o católico T. S. Eliot, por exemplo, explorou a fundo a
metafísica hindu e a filosofia budista. Sem falar em toda a tradição perenialista de René Guénon,
Ananda Coomaraswamy, Frithjof Schuon ou Julius Evola.

É importante enfatizar que, ao contrário dos liberais e dos esquerdistas, o conservador entende a
religião, não como questão meramente privada, mas como uma conquista cultural que deve
influir na esfera pública. Isso não se confunde, em hipótese alguma, com negar a laicidade do
Estado. Trata-se precisamente do contrário. O conservador crê na separação essencial entre Estado

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22/08/2019
e sociedade civil, e rejeita qualquer mistura entre
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religião e política, sobretudo aquela que, seguindo a


profecia (ou maldição) de Ludwig Feuerbach no
século XIX, resultaria na atribuição de um caráter
sagrado à ação política.

O conservador afirma, aliás, e com razão, que a


separação entre religião e política é uma herança da
matriz cultural cristã, virtualmente inaplicável fora
dela. A política como a “arte do possível” (sensu
Russell Kirk) seria um antídodo para toda sorte de “messianismo político” (sensu Jacob L.
Talmon).

Enfim, depois dessa resumida (muitos dirão grosseira) apresentação da direita conservadora, que
a análise de Gonçalves, restrita à problemática econômica, não teria como contemplar, gostaria de
analisar alguns trechos pontuais de seu artigo que me parecem substancialmente equivocados.
Vou numerá-los e comentá-los pontualmente.

1) “A direita rotula o governo do PT como sendo de esquerda porque adota o programa Bolsa
Família”.

Não é verdade. Qualquer direitista minimamente letrado sabe aquilo que o próprio autor informa
no texto: que programas do tipo “Bolsa-Família” são uma invenção liberal, tendo brotado da
cachola de homens como Milton Friedman. Portanto, não é isso que faz com que o PT seja de
esquerda. Políticas assistencialistas podem ser – e são – utilizadas por governos de direita, de
esquerda e de centro, de maneira mais ou menos eleitoreira, mais ou menos viciosa.

(http://cvpravc.com.br/?
ref=sensoincomum&utm_source=afiliadosensoincomum)

A crítica específica ao Bolsa-Família do PT volta-se ao seu uso escancaradamente – dir-se-ia,


grotescamente – eleitoreiro, com emprego de chantagem e ameaça aos beneficiados que não
28 votem no partido, e com uso abusivo da máquina pública nesse mister. Trata-se, sobretudo, de
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denunciar a ausência de qualquer política
22/08/2019
estável de melhoria de renda, que pudesse pouco a
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pouco tornar autônomo o beneficiário de programas sociais.

O PT, contrariando todo o bom-senso, jactou-se do aumento da quantidade de dependentes dos


programas, quando um sinal de desenvolvimento do país seria o número de pessoas que já não
precisassem deles. “O melhor programa social é um emprego”, bem dizia Ronald Reagan.

Logo, ninguém diz que o PT é de esquerda por causa do Bolsa-Família. O PT é de esquerda por
toda a sua cultura política, pelo simbolismo que orienta os seus militantes, pela biografia de seus
quadros, as suas alianças objetivas com regimes socialistas etc. Poder-se-ia, enfim, citar inúmeras
evidências do esquerdismo do PT, recorrendo sobretudo aos documentos do partido e às idéias
defendidas por seus adeptos, mas isso tomaria muito espaço neste artigo. Ademais, o ônus da
prova cabe a quem defende a excêntrica tese do não-esquerdismo do PT.

A situação é, de fato, bem diversa daquela descrita por Gonçalves. Foi a esquerda que, agora, com
o barco naufragando, decidiu rotular o PT como sendo de “direita”, apenas porque o partido
seguiu por um tempo uma agenda relativamente neo-liberal (categoria distorcida e mistificada
pela esquerda, como bem explica o diplomata Paulo Roberto de Almeida neste artigo
(http://www.espacoacademico.com.br/087/87pra.htm)). Por ter governado em conluio com os
grandes bancos e as grandes empreiteiras, o PT vem sendo chamado de “direita” pela esquerda
não-petista, como se a aliança entre partidos socialistas e banqueiros fosse coisa inédita e
intrinsecamente contraditória. Ora, tal contradição só existe nas enciclopédias, dicionários e
manuais de auto-convencimento da esquerda.

Quem conhece, entre outros, os trabalhos do historiador britânico Anthony Sutton, em especial
os livros The Best Enemy Money Can Buy
(https://www.amazon.com.br/gp/product/1939438233/ref=as_li_tl?
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20&linkId=2PVVT7ZGKY2TOHB4) e Wall Street and the Bolshevik Revolution
(https://www.amazon.com.br/gp/product/B00AO5OVLK/ref=as_li_tl?
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20&linkId=GA52EK2Y7XH57INN), sabe que a revolução bolchevique de 1917 foi, em parte,
patrocinada por grandes financistas de Wall Street interessados na queda do czar por motivos
mercadológicos. Há fortes indícios de que a própria viagem de Trotsky de Nova York até a Rússia
tenha sido pessoalmente bancada por Jacob Schiff, do banco Kuhn, Loeb & Co. Em 1911, o
cartunista Robert Minor, ele próprio bolchevique, publicou no St. Louis Dispatch um cartoon
significativo a esse respeito. Nele, Karl Marx em pessoa, chegando em Wall Street com um livro
intitulado “Socialismo” embaixo do braço, é saudado com entusiasmo por financistas tais como
John D. Rockefeller, J. P. Morgan, John D. Ryan e George W. Perkins, além de Teddy Roosevelt.

28
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22/08/2019 Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum

A simbiose, em tese paradoxal, entre o grande capital e o comunismo fora notada também pelo
romancista britânico H. G. Wells em seu livro Rússia nas Sombras
(https://www.amazon.com.br/gp/product/1356361005/ref=as_li_tl?
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20&linkId=LBB4TI4JXLLHPH6G): “O grande negócio não é de forma alguma antipático ao
comunismo. Quanto mais ele cresce, mais se aproxima do coletivismo”.

Um dos sinais mais evidentes disso talvez seja o artigo elogioso que, em 10 de agosto de 1973,
David Rockefeller dedicou a Mao Tse-tung no New York Times, dizendo-se particularmente bem
impressionado com o “senso de harmonia nacional” e o sucesso da revolução em “não apenas
produzir uma administração mais eficiente e dedicada, como também incutir na população um
moral elevado e uma comunhão de propósitos” (sic).

O tipo de capitalismo monopolista de Estado praticado pelo PT e os seus “companheiros” foi


muito similar ao que vicejava clandestinamente na própria URSS, dando origem efetivamente a
duas “classes” distintas: de um lado, a população comum, vítima da catástrofe econômica do
sistema e refém da escassez de bens e produtos; de outro, a Nomenklatura, desfrutando de um
rico e vasto mercado negro, e consumindo os melhores e mais finos produtos vindos do
estrangeiro.

A situação é explicada em detalhes no livro URSS: The Corrupt Society – The Secret World of
Soviet Capitalism, de Konstantin Simis. Criou-se na URSS dois mundos paralelos e
incomunicáveis: o mundo rico e luxuoso da elite partidária, do governo, dos burocratas e
funcionários públicos (e, assim como no Brasil, todos ali queriam ser funcionários públicos!); e o
mundo famélico e miserável da população ordinária. Nada era comum aos dois mundos: havia o
28 sabonete da elite dirigente (macio e cremoso) e o sabonete comum (seco e sem espuma); o pente
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dos burocratas (de matéria nobre e resistente)
22/08/2019
e o pente do resto (que quebrava em uma semana);
Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum

o tecido dos apparatchik (finos e importados) e o tecido das demais pessoas (roto e áspero), e
assim com toda e qualquer mercadoria.

Aquele tipo de capitalismo oligárquico e concentrado é pura esquerda. Não se trata de nenhuma
invenção petista, muito menos de uma guinada à direita. Ele é resultado da própria lógica da
esquerda revolucionária: para se distribuir igualmente a riqueza, é preciso um poder gigantesco
que se erga acima das classes existentes e, na base da força, tome a riqueza de uma e a transfira
para a outra. Esse poder gigantesco concentra-se fatalmente no partido.

Como já explicou Olavo de Carvalho, a “ditadura do


proletariado” é, pois, uma impossibilidade prática; o
que existe e existiu em todos os regimes socialistas foi a
ditadura do partido. Para se manter no poder e realizar
o objetivo declarado no início da revolução, o partido
precisa concentrá-lo cada vez mais, a fim de vencer as
forças contra-revolucionárias (ou “reacionárias”) – em
primeiro lugar, as externas; e, num segundo momento, as de dentro do partido, quando chega
então o momento da depuração, dos expurgos, dos rituais de auto-humilhação – em suma, a
especialidade de Stalin.

Para o exercício do poder – como já explicou, entre outros, Napoleão Bonaparte –, todo partido
precisa de três coisas fundamentais: dinheiro, dinheiro e dinheiro. Agora, qual o único sistema
econômico no mundo a criar dinheiro? Resposta: o capitalista. Só ele. Não existe economia
socialista. Isso é uma contradição em termos. O próprio Lênin reconheceu a impossibilidade
prática de uma economia inteiramente estatizada. E Ludwig von Mises, como Gonçalves deve
saber melhor que eu, demonstrou-o teoricamente de maneira inapelável na década de 1920.
Logo, mesmo na URSS, sempre houve um misto de economia estatal e economia privada. O fato
de comunistas se renderem, a contragosto, à imperiosa necessidade de alguma economia de
mercado não os transforma automaticamente em “direitistas”.

Logo, o fato de que o PT tenha feito o jogo dos bancos e das empreiteiras não significa nenhuma
concessão à direita ou ao liberalismo. Tanto quanto qualquer partido totalitário, o PT precisava de
dinheiro para a sua política de aparelhamento e compra de consciências. Ademais, coube a ele, via
empréstimos sigilosos do BNDES, o papel de grande financiador dos regimes socialistas e
bolivarianos vizinhos, parceiros de Foro de São Paulo.

O partido não podia se dar ao luxo de quebrar o país cedo demais, venezuelanizando-o de saída.
Havia todo um esquema continental de poder que cabia ao PT, com o dinheiro tungado do
contribuinte brasileiro, bancar. Seria tão absurdo afirmar que, ao seguir o modelo econômico
28
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mezzo liberal (que Gonçalves chamaDeturparam
22/08/2019
de “liberal periférico”), o PT inclinou-se à direita, quanto
Marx: milésima edição – Senso Incomum

dizer que Lênin virou direitista ao lançar a sua Nova Política Econômica.

2) “Certamente, os marcos do Lulismo agridem mais os valores e interesses da esquerda do que


valores e os interesses da direita”.

Talvez o lulismo agrida parte da esquerda brasileira, mas é preciso não esquecer um pequeno
detalhe: o lulismo é de esquerda. Não é justo empurrar esse Mateus para o colo da direita. Quem
o pariu que o embale! Não há porque acreditar que ele seja mais nocivo à esquerda do que à
direita.

Durante muito tempo, a esquerda amparou o lulopetismo, sendo a direita (digo, uns poucos
gatos-pingados auto-identificados como conservadores ou liberais) o único vetor de crítica àquele
projeto. Quando teve chance de demonizar os críticos de direita do Lula e do PT, tachando-os de
“elitistas”, “preconceituosos”, “racistas contra nordestinos” etc., a esquerda brasileira em peso
nunca se vexou de fazê-lo.

Parte dela pode ter rompido com o PT, uns há mais tempo, outros há menos. Mas foi a direita a
pioneira no combate frontal ao esquema lulopetista, e, portanto, este continua sendo-lhe mais
anátema do que o é para a esquerda. Na luta política, como em tudo o mais, antiguidade é posto.
A esquerda deve entrar na fila do anti-petismo. Afinal, como questionaria um grande filósofo
popular “Chegou agora e já quer sentar na janelinha?”.

O que a esquerda brasileira anti-petista tenta agora fazer com o PT é o mesmo que a esquerda
ocidental pós-soviética tentou fazer com o bolchevismo: limpar-se nas máculas do próprio
passado, ou seja, monopolizar oportunistamente a crítica ao petismo. Em La Grande Parade
(https://www.amazon.com.br/gp/product/2266106759/ref=as_li_tl?
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20&linkId=7TK43AJ3BEZUYGTM), seu grande livro sobre a estranha sobrevivência da utopia
socialista após o fim da URSS, Jean-François Revel descreveu bem a estratégia:

“A esquerda não se equivoca jamais ou, quando muito, se equivoca apenas em relação a si
própria, em seu próprio seio, de um modo indigno de ser discutido senão pelos pares que a
compõem, jamais sob condições que pudessem levá-la a dar razão, ou mesmo a palavra, aos
seus adversários”.

A esquerda no poder nunca é a “verdadeira” esquerda. A “verdadeira” esquerda é sempre aquela


que anda virá a assumir o poder. Stálin foi o primeiro grande representante dessa “esquerda falsa”
na qual a “esquerda verdadeira” tentou se limpar. E aqui vale lembrar que um esquerdista
brasileiro como o Mino Carta já tentou, sem ruborizar, empurrá-lo para a direita. Depois de
28 Stálin, a esquerda gritou: “Agora vai”. E o que veio foi Mao Tse-tung; depois, Fidel, Pol Pot, Ho
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Chi Minh, Hugo Chávez, todos comDeturparam
22/08/2019
o mesmoMarx:
resultado catastrófico… Hoje é o Lula quem faz as
milésima edição – Senso Incomum

vezes de papel-higiênico, roto e esfarrapado, quando já no horizonte surgem os “novos”


candidatos a ícones da “verdadeira” esquerda (Mujica? Bachelet? Pablo Iglesias Turrión? Tsipras?
Bernie Sanders? Marcelo Freixo?).

Em resumo, tanto quanto os seus antecessores, Lula também não foi a “verdadeira” esquerda.
Porque a “verdadeira” esquerda não se equivoca, não peca, não comete crimes. O equívoco, o
pecado e o crime são atributos da “falsa” esquerda – ou seja, a direita. A “verdadeira” esquerda
nunca pode ser julgada por parâmetros atuais, porque o seu projeto não está no presente, sendo
indefinidamente adiado para um futuro desconhecido. A “verdadeira” esquerda só poderia
governar o Paraíso. Cito Revel mais uma vez:

“Segundo essa argumentação, o horror das consequências provaria a excelência do princípio


(…) Pois, ao se avaliar os zeladores de um modelo ideal, não são os atos que deveriam servir
de critério, mas as intenções. No fundo, o reino do comunismo não é deste mundo, e seu
fracasso aqui em baixo é imputado ao mundo, não ao comunismo enquanto conceito”.

A esquerda é como o marido traído: sempre a última a saber. O que Alain Besançon escreveu
sobre o comunismo  em A Infelicidade do Século
(https://www.amazon.com.br/gp/product/8528607674/ref=as_li_tl?
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20&linkId=YHLJJY3IQW7RSK5R) vale para a esquerda em geral: “Cada experiência
comunista é recomeçada na inocência”. Parte da esquerda nacional pretende agir agora como se
nunca vira o Lula mais gordo. Mais um pouco e o homem vira ícone do conservadorismo…

Parece-me que Gonçalves tenta encapsular a crítica dentro do campo da esquerda, deslegitimando
previamente toda oposição não-esquerdista ao PT. Ele busca aproximar o PT da direita a fim de
isolar uma esquerda pura como portadora única da virtude política. Se é mesmo assim, como
vimos, seria a milésima vez na história que a esquerda tenta a mesmíssima estratégia.

Não acho que Gonçalves o tenha feito por maquiavelismo, sequer mesmo intencionalmente, mas
por puro vício de raciocínio. Como se sabe, é tradição da esquerda raciocinar dialeticamente,
assumindo o controle tanto da tese quando da antítese, com vistas a uma síntese superior. Mas
acho sinceramente que, dessa vez, a esquerda terá um pouco mais de dificuldade para impor tal
narrativa, pois que já há um número suficiente de opinadores liberais e conservadores para
contestá-la e refrescar a memória nacional.

Em política, não existem soluções definitivas e sínteses superiores. A política é um diálogo


interminável num mesmo plano, uma dialética sem síntese, por assim dizer, exercício de
convivência dos heterogênos e contrários. É um campo de perpétua coetaneidade, sem
28
Shares Aufhebung. A direita brasileira não vai entregar a antítese assim de bandeja ao adversário. Daqui
sensoincomum.org/2016/11/06/deturparam-marx-milesima-edicao/ 15/42
em diante, não convém  à esquerda Deturparam
22/08/2019
querer superá-la. Será preciso, em vez disso, tolerá-la. Será
Marx: milésima edição – Senso Incomum

preciso, enfim, negociar. E não seria essa a essência mesma da dinâmica política dentro de um
estado democrático de direito?

3) “O apoio das forças políticas de centro e de direita para essa agenda não é razão para se tentar
desqualificar ou rejeitar os protestos pacíficos, populares e democráticos. O argumento de que
essa agenda é promovida pelos conservadores ou pela direita é, na melhor das hipóteses, um erro
analítico que pode ser um erro histórico. A esquerda deve participar dos protestos”.

Falso. As três grandes manifestações populares de 2015, bem como a de março de 2016,
simplesmente a maior da história nacional, foram, sim, promovidas por grupos e pessoas de
tendência conservadora e liberal. Eu estive nas quatro ocorridas no Rio de Janeiro, em
Copacabana. Conheço alguns dos organizadores e suas referências intelectuais e políticas. Muitos
fazem parte dessa “nova direita” que ora começa a ganhar terreno no mercado editorial (basta a
ver a lista de mais vendidos de não-ficção para conhecer-lhes os nomes) e na cultura de maneira
mais ampla, ameaçando a histórica hegemonia cultural da esquerda. Eu vi in loco os cartazes dos
manifestantes, ouvi seus gritos de guerra, senti o clima. As manifestações foram, sem dúvida, para
além de anti-petistas, visivelmente anti-esquerdistas.

Convém lembrar que quase toda a esquerda


brasileira, incluindo sua parcela mais crítica ao PT,
jogou contra as manifestações, justamente por
considerá-las de direita, como Gonçalves reconhece.
De maneira quase unânime, a esquerda tentou antes
de tudo esvaziá-las. Depois, fracassado esse
objetivo, a estratégia foi desqualificá-las como coisa
de “coxinha”, “elite branca”, “eleitores do Aécio”.
Resta mais do que claro que as manifestações não
partiram da elite, porque a elite do país (empreiteiras, bancos, Organizações Globo etc.) esteve
com Dilma, em favor da “governabilidade”, até os últimos momentos.

As manifestações – como de hábito no mundo contemporâneo – foram coisa da classe média, a


mais explorada por aquele capitalismo de compadrio que une o Estado e as mega-empresas. Suas
pautas foram claramente conservadoras e liberais – “burguesas”, poder-se-ia dizer: defesa da
constituição, dos valores republicanos, da isonomia, da ordem, da família, das cores nacionais,
tendo sempre a rede-PT (PT, PCdoB, PSOL, UNE, CUT, MST, MTST, CNBB et caterva) como
anátema.

A esquerda, se quisesse, poderia e deveria ter participado dos protestos. Mas, para isso, seria
preciso ter a humildade de reconhecer que a sua agenda está desgastada, e que ela deve fazer um
28 exame de consciência verdadeiro, respeitando a natureza das manifestações, sem tentar apropriar-
Shares
sensoincomum.org/2016/11/06/deturparam-marx-milesima-edicao/ 16/42
se delas para fins particulares. 
22/08/2019 Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum

Afinal, ao lado dos pedidos de impeachment e da prisão do Lula, havia por todo o país centenas
de cartazes com dizeres tais como “Olavo [de Carvalho] tem razão”, “Mais Mises, menos Marx”,
“Abaixo o Foro de São Paulo” e “A nossa bandeira jamais será vermelha”. Não se viu nenhum
cartaz em que se lesse “Zizek tem razão”, “Vladimir Safatle tem razão”, “Marcelo Freixo tem
razão” e, muito menos, “Abaixo o capitalismo!”.

Embora eu desconfie que o seu poder de mobilização popular tenha se esgotado, a esquerda,
repito, pode e deve voltar às ruas. Mas, ao longo dos próximos anos, ela terá que aprender a
conviver com uma direita política emergente, que não tem qualquer relação com o regime militar,
e contra a qual os clichês stalinistas habituais – “fascistas”, “elitistas”, “inimigos do povo” – serão
impotentes. É uma direita com gente preparada, que tem lido e estudado muito, e que
provavelmente conhece a esquerda mais do que esta conhece a direita. E, sobretudo, formada por
intelectuais e aspirantes a intelectuais que desenvolvem suas atividades à margem da universidade,
livres, portanto, de seus formalismos e sinecuras. Escrevendo, ademais, num português mais
clássico, sem os maneirismos acadêmicos à la “penteadeira de velha” (na feliz expressão do poeta
Bruno Tolentino), esses intelectuais da nova direita estão destinados a atingir um público bem
mais vasto.

Dos anos 1960 para cá, a intelligentsia de esquerda optou por enfrentar o pensamento de direita
mediante a difamação ou o boicote silencioso: isso ocorreu com Gustavo Corção, Roberto
Campos, José Guilherme Merquior, Mário Ferreira dos Santos, José Osvaldo de Meira Penna,
Nélson Rodrigues, Paulo Francis, Bruno Tolentino, Olavo de Carvalho e até mesmo, em alguma
medida, com Gilberto Freyre. Em relação à tradição conservadora européia e americana, a coisa é
ainda mais espantosa.

Em uma rápida consulta ao banco de teses da CAPES e do CNPq, eu pude constatar a quase
ausência de referências aos maiores expoentes do pensamento conservador mundial: Irving
Babbit, Richard M. Weaver, Erik von Kuehnelt-Leddihn, Eric Voegelin, Thomas Sowell, Eugen
Rosenstock-Huessy, Theodore Dalrymple, Irving Kristol, John Kekes, Kenneth Minogue, Jean-
François Revel, David Horowitz, Roger Kimball, Russell Kirk, Michael Oakeshott, Roger
Scruton… Todos esses nomes, ou não constam, ou constam de maneira esporádica nos bancos de
dados. É provável que a imensa maioria dos universitários brasileiros contemporâneos nunca
tenha sequer ouvido o nome desses autores, quanto mais as suas idéias. Para a esquerda brasileira
da Nova República, a “direita” é, em larga medida, uma fantasmagoria, um espantalho, um vetor
dos próprios traumas e preconceitos históricos.

Saltará a esquerda brasileira para fora do trem-fantasma? Estará a esquerda pós-PT preparada para
abandonar o modelo gramsciano de hegemonia cultural e ocupação de espaços? Estará ela
28 disposta a um debate franco de idéias e propostas para o país, com um adversário real e auto-
Shares
sensoincomum.org/2016/11/06/deturparam-marx-milesima-edicao/ 17/42
consciente? Saberá a esquerda nacional
22/08/2019
compreender a
Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum

direita como substantivo, não apenas como adjetivo de


desqualificação a priori? Abrirá mão a nova esquerda da
monopolização das virtudes e da eterna postura
acusatória? Aceitará disputar honrosamente com a direita
um espaço no coração e nas mentes dos brasileiros?

Seria bom, mas eu duvido. A nova esquerda nacional


parece-me familiar, prematuramente senil e cansada,
pronta a, ao primeiro sinal de embate com um adversário
de carne-e-osso, aconchegar-se no conforto psicológico
das categorias políticas de 1968, o ano que nunca termina.

4) “O ponto central é que a esquerda tem muito mais razões para apoiar a agenda popular do que
a direita”.

Não é verdade. Como vêm demonstrando pesquisas de opinião recentes, a “agenda popular” no
Brasil tende a ser  predominantemente conservadora e de direita, sobretudo no que diz respeito a
costumes e valores – aborto, legalização das drogas, desarmamento, redução da maioridade penal,
novos arranjos familiares, políticas de identidade sexual e de gênero etc. Em quase todos esses
temas, a elite cultural de esquerda vai para um lado; a população em geral, para o outro. Com
exceção do apego ao Estado forte e ao assistencialismo, a agenda da esquerda está quase sempre
em desacordo com a dita “agenda popular”.

A afirmação de que a esquerda tem mais razões para apoiar a “agenda popular” não passa de
wishful thinking, talvez auto-lisonjeiro, mas objetivamente equivocado. Se pensamos nos valores
do brasileiro médio, especialmente dos mais pobres, é fácil constatar que a esquerda já não tem
muito o que lhes dizer.

Grosso modo, a esquerda ama tudo o que o povão odeia (legalização das drogas e do aborto;
estatuto do desarmamento; beijo lésbico idoso na novela; manutenção da maioridade penal aos
18 anos; fim do capitalismo, revolução social e Marcha das Vadias; patrulhas politicamente
corretas da linguagem; desmilitarização da PM; Canal Futura; comida vegetariana; ciclovias;
Tropa de Elite II) e odeia tudo o que o povão ama (religião cristã, em geral; pastores evangélicos,
em particular; ordem; família tradicional; “bandido bom é bandido morto”; programa do
Datena; piada da bichinha contada pelo Costinha; o Papa; o programa Patrulha da Cidade, da
rádio Tupi; churrasco na laje; carros possantes; Tropa de Elite I).

Se  a sociedade está relativamente dividida, deveria caber aos intelectuais, como de costume, a
responsabilidade de organizar e dar expressão simbólica a essa divisão, para que ela possa fluir,
através dos canais legítimos e institucionais do debate público, até desaguar na disputa política
28
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sensoincomum.org/2016/11/06/deturparam-marx-milesima-edicao/ 18/42
22/08/2019
formal. Sem radicalismos, sem traumas, sem rupturas revolucionárias. Em suma, à moda
Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum

conservadora…

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conservadorismo (http://sensoincomum.org/tag/conservadorismo/) direita (http://sensoincomum.org/tag/direita/) esquerda (http://sensoincomum.org/tag/esquerda/) ideologia (http://sensoincomum.org/tag/ideologia/)

Karl Marx (http://sensoincomum.org/tag/karl-marx/) PT (http://sensoincomum.org/tag/pt/) Reinaldo Gonçalves (http://sensoincomum.org/tag/reinaldo-goncalves/)

(//sensoincomum.org/2019/03/06/revista-senso-incomum-05-compreendendo-governo-bolsonaro/)

Flavio Gordon (http://sensoincomum.org/author/flaviogordon/)


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22/08/2019
Flávio Deturparam
Gordon tem 37 anos, é carioca, casado, doutor em antropologia Marx:
social, milésima
escritor, edição
tradutor – Senso
e autor Incomum
do blog "O Brasil e o Universo: crônicas sobre a
surrealidade política e cultural brasileira" (http://obrasileouniverso.blogspot.com.br). Twitter: @flaviogordon Facebook:
https://www.facebook.com/flavio.gordon

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12 Comentários Senso Incomum  Adriano Sacras

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Claudio • 3 anos atrás


Não se engane Flavio Gordon, Reinaldo Gonçalves é um maquiavélico sim, aliás, talvez você tenha razão, não sei se ele tem
essa capacidade intelectual, pois é um esquerdista típico de botequim carioca, um velho babaca que adora uma boquinha
no governo, um escroque em suma. O conheci na burocracia do BNDES, ele faz parte da patotinha do Carlos Lessa, Darc
Costa e Cesinha Benjamin, essa esquerda que tenta se limpar no papel higiênico do lulo-petismo, servidores do Chavismo
bolivariano que infelizmente Crivella acolheu porque é um idiota “bem intencionado”. Essa patota esquerdopata mentirosa
não tem nada de pura e é pior que a do Ciro Gomes com Mangabeira e viúvas do Brizolismo. Gonçalves é um bosta de um
professorzinho da UFRJ que já deu uma mamadinha no BNDES no curso de lavagem cerebral implementado pelo Lessa
em 2003, mas não se engane, ele é pau mandado de Darc Costa que é viúva de Chavez e do ex-terrorista Cesinha Benjamin,
em suma, o lixo da América latrina, um lixo tóxico e perigoso.
PS: Desculpe-me pelas palavras de baixo calão, mas tipos assim não merecem eufemismos...
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28 Ricardo Bordin • 3 anos atrás


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sensoincomum.org/2016/11/06/deturparam-marx-milesima-edicao/ 20/42
Flávio, eu ainda não tinha conseguido acabar de ler teu artigo com a merecida atenção. Agora que terminei, posso dizer
áv o, eu a da ão t a co segu do acaba de e teu a t go co a e ec da ate ção. go a que te e , posso d e
22/08/2019 Deturparam Marx: milésima edição – Senso Incomum
PARABÉNS em letras garrafais. É um verdadeiro manual sobre essa nova esquerda metida à sonsa que se avizinha.
https://bordinburke.wordpre...
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Josmar França • 2 anos atrás


Não consigo acessar os links que levam para os artigos do Olavo "(aqui, aqui e aqui)"
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Tomas • 2 anos atrás


Excelente texto. Faz uma delimitação clara entre conservador, esquerda e liberalismo.
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Le Zuero • 2 anos atrás


Pior que a tradução do A Infelicidade do Século foi feito por Emir Sader.
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Josmar França • 2 anos atrás


Recentemente estou vendo na internet um discurso de que definir esquerda e direita é algo muito impreciso, não da para
definir com exatidão, que são apenas rótulos. O que é isso !? Estas são as frases que eu vi nestes dias: "Pare de reduzir tudo
a esquerda e direita, isso não tem muita validade para os dias atuais."
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Ad Utrumque Paratus • 3 anos atrás


Parabéns pelo texto! De uma clareza, na construção e exposição das idéias, difícil de encontrar hoje em dia, infelizmente.
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Godofredo Guilherme de Leibniz • 3 anos atrás


Em todo e qualquer percalço (mensalão, petrolão, impeachment, desdobramentos da lava-jato...), o PT sempre contou com
a fidelidade canina e o apoio irrestrito de PCdoB, PSOL, UNE, MST, blogosfera progressista, enfim, por toda a claque que
agora se autonomeia "verdadeira esquerda". Isso seria impossível se o PT fosse de direita. Acho que a forma mais simples
de derrubar o "argumento" do direitismo petista é essa.
△ ▽ • Responder • Compartilhar ›

João Marcos • 3 anos atrás


Reinaldo,

Você escreveu a definição mais clara de conservadorismo que eu li. Obrigado.


△ ▽ • Responder • Compartilhar ›

Juliano • 3 anos atrás


BELO TEXTO!
△ ▽ • Responder • Compartilhar ›

PHSA • 3 anos atrás


No link para o primeiro texto do Prof. Olavo tem um ponto a mais. Dá 404 Not Found. Basta tirar o ponto do fim.
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Flávio Gordon > PHSA • 3 anos atrás


Corrigido. Obrigado pelo alerta.
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