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Autos a distribuir
Inquérito Civil Público nº MPMG-0035.17.002248-3
Infere-se dos autos que, em 30 de outubro de 2017, por volta das 13h, no
Hospital Santa Casa de Misericórdia nesta cidade, Fernando Borges Santos, médico
obstetra em atendimento pelo serviço público municipal de saúde (SUS), causou dano
moral coletivo em face do sistema público de saúde e violou o princípio da eficiência
administrativa ao dar causa à morte do recém-nascido de Tânia Borges Vieira Silva
mediante inobservância de regra técnica de profissão durante o procedimento do parto.
Infere-se dos autos que, em 13 de março de 2018, por volta das 9h, no
Hospital Santa Casa de Misericórdia nesta cidade, Fernando Borges Santos, médico
obstetra em atendimento pelo serviço público municipal de saúde (SUS), causou dano
moral coletivo em face do sistema público de saúde e violou o princípio da eficiência
administrativa ao dar causa à morte do recém-nascido de Mariana Pereira de Araújo
mediante inobservância de regra técnica de profissão durante o procedimento do parto.
1
Disponível em http://conitec.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2015/Relatorio_PCDTCesariana_CP.pdf.
Consultado em 26/10/2018.
4 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ARAGUARI/MG
Fernando Henrique Zorzi Zordan – Promotor de Justiça
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Ressalta-se que a bolsa gestacional da mãe da criança somente foi
rompida, após razoável período da admissão da parturiente no Hospital Santa Casa de
Misericórdia, artificialmente pelo próprio médico, sendo que a expulsão dos membros
inferiores do feto veio a ocorrer mais de uma hora após a entrada da parturiente no
nosocômio, o que deixa claro a existência de tempo razoável para ministração de
medicamento antenatal para retardamento do parto, bem como, no momento
adequado, a opção pela intervenção por via alta.
2. DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA
Outrossim, o art. 37, § 4º, da Bíblia Política estabelece que “os atos de
improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da
função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”.
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério
Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de 30 (trinta) dias da
efetivação da medida cautelar.
Art. 3º As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
Art. 1: Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as
ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
[...]
IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;
[...]
Art. 3: A ação civil poderáá́ ter por objeto a condenação em dinheiro ou o
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.
Ao passo que para o dano moral individual basta a lesão aos direitos da
personalidade, vale dizer: a mitigação da integridade física por falta de assistência à
saúde.
Muito embora a Lei nº 8.429/1992 estabeleça em seu art. 1º, caput, que
são sujeitos passivos dos atos de improbidade administrativa as pessoas jurídicas ali
elencadas, sublinha-se que a titularidade dessas entidades pertence à própria
sociedade.
2
Sobre o tema, confiram-se novamente as lições de Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves: “Ainda sob o
enfoque da honra objetiva, tem-se aquelas condutas que, causando, ou não, dano ao erário (arts. 9º, 10, 11 da Lei
de Improbidade), contribuem fundamente para o descrédito das instituições públicas, do Estado junto à sociedade,
esmaecendo o vínculo de confiança que deve existir entre ela e os exercentes do poder político, degenerando-o de
modo a colocar em xeque a própria segurança das relações sociais, disseminando entre os indivíduos, sobretudo
entre os menos favorecidos economicamente, o nefando sentimento de impunidade e de injustiça social. Aviltando,
enfim, o próprio sentimento de cidadania. Detectada tal característica do atuar ímprobo, vale dizer, a sua elevada
repercussão negativa no meio social – para o que concorrerá não só a magnitude da lesão mas também a própria
relevância política do agente ímprobo e o grau de confiança nele depositada pelo povo – deve se reconhecer o dano
moral difuso”.
Numa segunda perspectiva, a da denominada honra subjetiva, a análise do dano moral, de sua ocorrência,
deve ser deslocada para o plano da coletividade, isto em razão da óbvia impossibilidade de a pessoa jurídica de
direito público suportar ‘dores físicas ou morais’. O foco, aqui, será voltado à detecção de estados de comoção
deflagrados no meio social pelo atuar ímprobo (dano moral coletivo), devendo-se, para tanto, identificar a natureza
do bem lesado e a dimensão do prejuízo suportado pela coletividade (Improbidade Administrativa, 2ª ed., Lumen
Juris Editora, 2004, p. 764-765).
16 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ARAGUARI/MG
Fernando Henrique Zorzi Zordan – Promotor de Justiça
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
[…]
4. DOS PEDIDOS
Retira-se dos autos que Fernando Borges Santos realizou dois partos
com resultados (culposamente) trágicos semelhantes dentro de um curto período de
seis meses no hospital Santa Casa de Misericórdia de Araguari, dilacerando a vida dos
pais das crianças e instigando o anseio da sociedade por Justiça, nisso consistindo o
fumus boni iuris da medida cautelar.
Sabe-se que, na rede pública, a parturiente tem seu parto realizado por
aquele profissional que se encontra escalado no momento em que se inicia o seu
trabalho de parto, de forma que a permanência da atuação do requerido junto ao SUS
não apenas deixa nítida a possibilidade de reiteração dos episódios trágicos acima
referidos, mas também tem como efeito verdadeira tortura psicológica na parturiente
que busca a rede pública para a realização de seu parto e se depara com o requerido
como responsável pelo procedimento.