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O Transformador Elétrico e o Progresso

Em 27 de junho, todos os anos, comemora-se o dia nacional do progresso. O dicionário Michaelis define
“progresso” como: marcha para diante, processo evolutivo da civilização, avanço de um processo,
desenvolvimento considerável na tecnologia e em outras áreas que representem melhor qualidade de vida.

Um ponto histórico marcante do progresso foi o uso da eletricidade. Nosso cotidiano seria impensável
sem a presença dela: elevadores, escadas rolantes, grandes sistemas de ar condicionado, os refrigeradores e
freezers domésticos, as TVs e até nossos pequenos celulares (estes, que dependem de grandes torres de
telecomunicações), tudo envolve alimentação elétrica para funcionar. Além disso, a nova tendência mundial:
carros movidos a eletricidade.

Mas, de todas as aplicações, talvez a mais significativa seja a iluminação através da lâmpada elétrica,
apresentada por Thomas Edison por volta de 1879. Antes disso, a vida ‘produtiva’ dependia da luz natural do sol
e, após escurecer, as pessoas se recolhiam em suas casas para repousar, pois as atividades ficavam limitadas à
iluminação artificial através de velas ou lampiões, que era fraca, insalubre e perigosa, chegando a causar incêndios
enormes. Suspeita-se que a queda de um lampião a querosene em um estábulo tenha iniciado o incêndio que
ocorreu em Chicago – EUA, em 1871 causando a morte de trezentas pessoas e deixando outras 100 mil
desabrigadas.

As figuras 1 e 2 mostram a Avenida Paulista, em São Paulo – SP, em momentos distintos, com um
intervalo de mais de 100 anos. Nelas, fica evidente a alteração da paisagem com a presença marcante da
eletricidade.

Fig. 1 - Avenida Paulista no sentido Consolação- São Paulo,SP – ano de 1902 – Créditos: Guilherme Gaensly
Fig. 2 - Avenida Paulista, em imagem recente disponível na internet.

Inicialmente, lá no final do século 19, houve o episódio que ficou conhecido como “a guerra das
correntes”, colocando Thomas Edison de um lado, e Nikola Tesla associado a George Westinghouse, de outro,
para definir o tipo de sistema elétrico que seria adotado, se em corrente contínua (CC) ou alternada (CA). O
primeiro demandava pequenas centrais de geração em cada bairro, pois a tensão elétrica era gerada em um valor
relativamente baixo e não podia ser elevada, perdendo força ao longo dos cabos da rede de distribuição entre a
central e as casas dos consumidores. Já o sistema alternado (CA), que foi o vencedor daquela “guerra”, permitia
que a tensão gerada nas centrais pudesse sofrer transformação em seus níveis. Sendo assim, podia-se gerar a
eletricidade em um nível relativamente baixo de tensão, aumentá-lo na etapa seguinte e transmitir através de
longas distâncias. Ao chegar próximo dos consumidores, o nível de tensão era reduzido para um valor seguro de
utilização. Isso finalmente tornou o sistema elétrico viável economicamente, possibilitando, aí sim, a utilização
em massa da eletricidade. E, para realizar estas elevações e reduções dos níveis de tensão, o equipamento utilizado
é o transformador elétrico.

Fig. 3 - Primeiro transformador elétrico eficiente, montado por Otto Bláthy, em 1885
Baseado nos princípios físicos do eletromagnetismo, um transformador elétrico funciona apenas no
sistema alternado, pois depende da variação constante de nível e sentido da tensão elétrica de alimentação. Os
conceitos foram estabelecidos principalmente por Michael Faraday, em 1831. Mas, um modelo economicamente
viável de transformador só seria construído em 1885, pelo engenheiro húngaro Otto Bláthy, como mostrado na
figura 3. Dois detalhes interessantes: Otto Bláthy também inventou o medidor de Watt-hora, que mede o consumo
de energia elétrica nas casas. E, tanto o protótipo inicial de Faraday em 1831, quando os modelos de Bláthy de
1885 eram no formato toroidal, que tem o núcleo em formato circular, em chapa de aço-silício enrolada de forma
contínua, tornando-o mais eficiente quando comparado aos tradicionais transformadores “quadrados”. Estes, tem
o núcleo formado por chapas estampadas em formato E/I e empilhadas. O transformador elétrico toroidal é ainda
hoje utilizado, empregando agora materiais mais modernos. Isso prova suas qualidades; entre elas a alta eficiência,
o que se traduz em menor desperdício de energia.

A “viagem” da eletricidade desde a usina geradora até as casas dos consumidores é longa e passa pelas
etapas de geração, transmissão e distribuição, sendo realizadas dentro do sistema elétrico de potência (SEP). Na
figura 4 pode-se observar o SEP e, circulado em vermelho, onde há utilização de transformadores elétricos.

Fig. 4 – Utilização de transformadores nas diferentes etapas do SEP


Dentro do SEP, devido a alta potência envolvida, os transformadores são grandes, conforme mostrado na
figura 5. Esse progresso só foi possível devido a descoberta e desenvolvimento de novos materiais.

Fig. 5 – Transformador de alta potência (400 MVA) – Fonte: ABB

Lembre-se que, após a eletricidade sair do SEP e entrar nas empresas, prédios e casas dos consumidores,
ainda há etapas de mudança de nível de tensão, sendo também possível o emprego de transformadores elétricos
nestas situações. A figura 6 mostra um transformador elétrico (circulado em vermelho) cuja função principal é
prover isolamento entre a rede de alimentação elétrica e os equipamentos médicos conectados aos pacientes. Uma
função secundária é transformar, se necessário, o valor de tensão da rede, tornando-o compatível com os
equipamentos. Por exemplo, a rede elétrica fornece 220V e os equipamentos devem ser alimentados em 127V.

Fig. 6 – Transformador utilizado para isolar o centro cirúrgico em um hospital – Fonte: Elomed
A figura 7 mostra a utilização de transformadores para acionar a iluminação de uma piscina, e a parte
interna de um amplificador de áudio “hi-fi”, de alta qualidade, utilizado em home theater. Estas são aplicações
típicas em residências e estabelecimentos comerciais, assim como o uso em pisos aquecidos, iluminação de
ambientes, painéis de controles em elevadores, e outras tantas.

Fig.7 – Transformadores utilizados em casas, hotéis e prédios.

Outra aplicação, ainda que distinta, dos transformadores é na medição da corrente elétrica que circula por
um condutor. Isso é fundamental para a verificação do consumo de energia em um sistema, proporcionando dados
para que se faça corretamente o controle e proteção do sistema.

Pelo que foi – ainda que brevemente – exposto acima, pode-se constatar que o uso de transformadores
elétricos foi, e continua sendo, fundamental para o progresso tecnológico da nação, proporcionando o bem-estar
das pessoas.

PAULO KOERBEL TORRES


Engenheiro Eletricista
Junho/2019

LinkedIn: https://www.linkedin.com/pulse/o-transformador-el%25C3%25A9trico-e-progresso-paulo-koerbel-
torres

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