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TRANSFORMADORES

ÍNDICE

1 – INTRODUÇÃO 1
2 – TEORIA ELEMENTAR DO TRANSFORMADOR 1
2.1 – O transformador em vazio 4
2.2 – O transformador sob carga 4
3 – TRANSFORMADOR COM NÚCLEO DE FERRO 8
3.1 – Circuito equivalente e diagrama fasorial 8
3.2 – Formas construtivas de núcleos e bobinas 13
4 – CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO 17
4.1 – Corrente de excitação 17
4.1.1 – Corrente magnetizante 17
4.1.2 - Corrente de perdas magnéticas 21
4.2 – Perdas de excitação ou perdas magnéticas 22
4.2.1 – Perdas por histerese 22
4.2.2 – Perdas por correntes de Foucault ou perdas parasitas 23
4.3 – Medição das perdas e corrente de excitação 23
4.4 – Impedância 25
4.4.1 – Impedância percentual 25
4.4.2 – Resistência percentual 26
4.4.3 – Ensaio de curto-circuito do transformador 26
4.4.4 – Relação entre resistências de perdas e reatância de dispersão 28
4..5 – Regulação da tensão 29
4. 6 – Rendimento do transformador 32
5 – CÁLCULO DA CORRENTE DE EXCITAÇÃO E DAS PERDAS EM VAZIO 34
6 – CÁLCULO DAS PERDAS DEVIDAS ÀS CORRENTES DE CARGA 40
6.1 – Perdas ôhmicas nos enrolamentos (Wo) 42
6.2 – Perdas parasitas nos condutores 46
6.3 – Perdas adicionais devidas ao fluxo de dispersão 55
6.4 – Perdas por circulação de corrente 55
7 - CÁLCULO DA REATÂNCIA DE DISPERSÃO 57
7.1 – Método do fluxo concatenado 57
7.2 – Método da energia armazenada no campo magnético de dispersão do fluxo 59
7.3 – Reatância de dispersão transversal 63
8 – CONSTRUÇÃO 69
8.1 = Núcleo e elementos de montagem 69
8.1.1 - Dimensionamento das chapas do núcleo 69
8.1.2 - Pressão de empacotamento e fator de empilhamento 75
8.1.3 – Planilha para cálculo de núcleos 75
8.1.4 – Etapas de construção do núcleo 76
8.1.5 – Núcleos para transformadores pequenos 81
8.2 – BOBINAS 82
8.2.1 – Tipos de bobonas 82
8.2.2 – O Condutor 83
8.2.3 – Construção das bobinas 86
8.2.4 – Tratamento das bobinas, encolunamento e montagem 91
9 – O ISOLAMENTO DO TRANSFORMADOR 93
9.1 – Introdução 93
9.2 – Características dos dielétricos 94
9.2.1 – Rigidez dielétrica 93
9.2.2 – Constante dielétrica 96
9.2.3 – Perdas dielétricas 101
9.2.4 – Variação da rigidez dielétrica do ar com a espessura, pressão e temperatura 103
9.2.5 – Variação da rigidez dielétrica com a espessura em materiais sólidos e líquidos 105
9.2.5.1 – Óleo para transformador 106
9.2.5.2 – Dielétricos sólidos 106

1
9.2.6 – Variação da rigidez dielétrica com a temperatura nos materiais sólidos 107
9.2.7 – Variação da tensão disruptiva e da rigidez dielétrica com o tempo 107
9.2.7.1 – Rigidez dielétrica com tensões alternativas senoidais 107
9.3 – Transitórios nos sistemas elétricos 112
9.3.1 – Sobre tensão de chaveamento de um curto-circuito 112
9.3.2 – Disjuntor desligando um transformador sem carga 114
9.3.3 – Transformador atingido por uma onda de impulso 116
9.3.4 – Onda de impulso normalizada 118
9.3.5 – Distribuição da tensão de impulso ao longo dos enrolamentos 120
9.3.5.1 – Distribuição inicial das tensões para uma excitação salto unitário u-1(t) 122
9.3.5.2 – Distribuição final da tensão de impulso no enrolamento 126
9.3.5.3 – Distribuição transitória da tensão de impulso no enrolamento 126
ANEXO A: Calculo das capacitâncias distribuídas de um enrolamento 131
9.4 – Critérios de dimensionamento e formas construtivas 135
9.4.1 – Isolamento entre espiras, entre camadas e entre discos 136
9.4.2 – Isolamento entre bobinas e entre bobinas e massa 138
9.4.3 – Isolamento entre fases 141
9.4.4 – Isolamento entre enrolamento externo e a caixa do transformador 142
10 – DIMENSIONAMENO DOS TRANSFORMADORES DE POTÊNCIA 144
10.1 – Relações econômicas 144
10.2 – Cálculo da seção do núcleo 145
10.3 – Dimensionamento dos enrolamentos 148
11 – CÁCULO TÉRMICO DOS TRANSFORMADORES 150
11.1 – Generalidades 150
11.2 – Distribuição da temperatura num transformador 153
11.3 – Transmissão de calor por condução 155
11.3.1 – Entre paredes planas 155
11.3.2 – Placas paralelas que são fontes de calor 156
11.4 – Transmissão de calor por convecção 159
11.5 – Transmissão de calor radiação 161
11.6 – Salto de temperatura entre os enrolamentos e o óleo (Δθco1) 164
11.6.1 – Enrolamentos helicoidais em camadas refrigeradas em ambas as faces laterais 164
11.6.2 – Enrolamentos em disco 166
12 – DISSIPAÇÃO DE CALOR NOS TRANSFORMADORES 168
12.1 – Refrigeração natural 168
12.1.1 – Dissipação de calor por tubos 170
12.1.2 – Dissipação de calor em tanques ondulado 171
12.1.3 – Dissipação de calor por radiadores de chapa 172
12.2 – Refrigeração forçada 176
12.3 – Comportamento térmico do transformador às sobrecargas 178
13 – ESFORÇOS ELETROMECÂNICOS NOS ENROLAMENTOS 183
13.1 – Forças produzidas pela interação de correntes e de campos magnéticos 183
13.2 – Esforços mecânicos nos enrolamentos 187
13.3 – Cálculo dos esforços mecânicos 190
13.3.1 – Esforços em bobinas concêntricas com alturas iguais e simétricas 190
13.3.2 – Esforços em bobinas concêntricas assimétricas ou com exclusões 194
13.4 – Projeto mecânico para suportar os esforços eletromagnéticos 199
13.4.1 – Esforços radiais nas bobinas externas 199
13.4.2 – Esforços radiais nas bobinas internas 200
13.4.3 – Esforços axiais nas bobinas 201
13.4.4 – Bobinas concêntricas com alturas iguais e deslocamento axial 202
13.5 – Efeitos dinâmicos dos esforços eletromagnéticos 206

2
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1– INTRODUÇÃO

O transformador foi o grande impulsionador da transmissão de energia elétrica a longas distâncias,


pois, foi através dele que se conseguiu elevar as tensões das linhas para uma transmissão econômica desta
energia. No Brasil já se utilizam linhas de transmissão de 750 kV que, junto com outras de 550, 440, 345,
220 kV constituem o sistema básico de transmissão de energia elétrica. Para o consumo desta energia as
tensões devem ser abaixadas de acordo com as necessidades.
O uso generalizado do transformador tem um reflexo econômico acentuado na sociedade exigindo,
constantemente, critérios sempre mais avançados de dimensionamento e construção, tendo em mira
conciliar custos e segurança operacional.
Para cada MVA de potência gerada por uma usina, são necessários de 6 a 10 MVA de potência em
transformadores para que esta energia chegue ao consumidor final. Estes transformadores estão
localizados:
• Nas subestações das usinas geradoras, elevando a tensão de geração a valores que permitem a
transmissão econômica da energia elétrica;
• Nas subestações de interligação de sistemas elétricos;
• Nas subestações abaixadoras de tensão para alimentação de grandes centros urbanos e industriais;
• Nas subestações de distribuição em baixa tensão industrial, comercial e domiciliar e pública.
É grande a diversidade de tipos de transformadores e de possibilidades de ligações para atender às
mais diversas aplicações. Além dos transformadores utilizados para transmitir e distribuir a energia
elétrica, que são normalmente denominados de ”transformadores de potencia”, existe uma gama muito
grande de outros transformadores especiais, tais como: transformadores de medição, tanto de corrente
(TC) como de tensão ou potencial (TP), pequenos transformadores para uso em aparelhos
eletrodomésticos e industriais ou de laboratório, etc.
Considerando-se que o Brasil tem, atualmente, cerca de 70 GVA de energia elétrica gerada e
admitindo que o consumo cresça a taxa de 5% ao ano, um acréscimo anual de energia elétrica gerada de
3,5 GVA deveria ser instalado. Levando ainda em consideração uma reposição necessária de 3% ao ano
dos transformadores instalados, resultaria na necessidade média anual de construir cerca de 30 a 56 GVA
ou 33.000 a 56.000 MVA em novos transformadores para o Brasil.
O projeto de um transformador é um processo essencialmente iterativo que procura obter o
equipamento de menor custo total e que atenda às especificações do usuário dentro das prescrições
estabelecidas pelas normas de construção, métodos de ensaio e utilização.

2 – TEORIA ELEMENTAR DO TRANSFORMADOR


O funcionamento do transformador se baseia no acoplamento eletromagnético entre duas bobinas.
Ele é constituído, fundamentalmente, por uma bobina primária que recebe a energia elétrica numa
determinada tensão e corrente e uma bobina secundária pela qual esta energia, com tensão e corrente
diferentes, é transferida a uma carga. O circuito magnético que acopla as bobinas primária e secundária
pode ser o ar ou um material ferro-magnético para aumentar o acoplamento. Transformadores destinados
a transferir energia elétrica com potências elevadas têm o circuito magnético construído com material
ferro-magnético. Transformadores usados em equipamentos que operam com freqüências elevadas,
radiofreqüências, têm o circuito magnético com ar ou outro material isolante.
Sob o ponto de vista de Circuitos Elétricos o transformador é um quadripólo, fig. 2.1, com tensão e
corrente de entrada e, tensão e corrente de saída, formando o laço de entrada alimentado por uma fonte de
tensão e o laço de saída que é ligado à carga. No interior do quadripólo encontram-se os parâmetros
elétricos, resistências e capacitâncias definidas no estudo do campo elétrico e indutâncias definidas no
estudo do campo magnético. O quadripólo fica definido pelas duas equações:
• Tensão aplicada na entrada em função das correntes de entrada e saída;
• Tensão da saída em função das correntes de entrada e saída.

Walter Ries 1
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+ +
Parâmetros
v1 i1 R L C i2 v2
- -
Fig. 2.1: O quadripólo

Para definir as equações fundamentais de tensões que explicam o funcionamento do transformador


desprezam-se, inicialmente, as resistências ôhmicas e capacitâncias distribuídas das bobinas e considera-
se que o circuito magnético e constituído por ar.
Na fig. 2.2 a bobina 1 é alimentada por uma fonte de tensão v1 variável com o tempo e a bobina 2
está com seus terminais abertos. Na fig. 2.3 é a bobina 2 que está sendo alimentada por uma fonte de
tensão v2 variável com o tempo e a bobina 1 está com seus terminais abertos. As correntes que circulam
pelas bobinas produzem fluxos magnéticos cujo sentido pode ser dado pela regra do saca-rolha. O campo
magnético pode ser representado, graficamente, por linhas de fluxo. Cada linha de fluxo representa uma
mesma parcela do fluxo total como, por exemplo, 1 Wb. O fluxo total produzido pela corrente i1 não
atravessa todas as N1 espiras da bobina 1 nem todas as N2 espiras da bobina 2. Também o fluxo total
produzido pela corrente i2 não atravessa todas as N2 espiras da bobina 2 nem todas as N1 espiras da bobina
1. Chama-se de fluxo concatenado ao fluxo que atravessa ou concatena uma espira. Se uma espira é
atravessada por um fluxo de 10 webers, o fluxo concatenado nesta espira é de 10 weber-espiras. Nem
todas as espiras são atravessadas pela mesma quantidade de fluxo. Portanto, cada espira tem o seu valor
de fluxo concatenado. A soma do fluxo concatenado de todas as espiras é o que se chama de fluxo
concatenado na bobina.

Têm-se, assim, as seguintes definições para os fluxos concatenados nas bobinas das figuras 2.2 e 2.3:

λ11 é o fluxo concatenado na bobina 1 produzido pela corrente i1;


λ21 é o fluxo concatenado na bobina 2 produzido pela corrente i1.
λ22 é o fluxo concatenado na bobina 2 produzido pela corrente i2;
λ12 é o fluxo concatenado na bobina 1 produzido pela corrente i2
.
Segundo a lei de Faraday a força eletromotriz (fem) induzida numa espira é proporcional à
variação do fluxo que atravessa a mesma. Assim, cada um dos fluxos concatenados, acima definidos,
induz uma determinada fem ou tensão nas bobinas.

i2
e2 N2
v2 e2 N2
i1

e1 N1
v1
e1 N1

Fig. 2.2: Auto-indução e indução mútua Fig. 2.3: Auto-indução e indução mútua

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TRANSFORMADORES

A relação entre um fluxo concatenado e a corrente que o produz é uma constante e se denomina de
Indutância sendo medida em Henry (H). O valor da indutância depende somente das dimensões físicas da
bobina e da permeabilidade magnética do meio. Se o fluxo concatenado na bobina for produzido pela
corrente que nela circula, então, a indutância se denomina de Auto-indutância, ou simplesmente
Indutância, com símbolo (L). Se o fluxo concatenado na bobina é produzido por uma corrente que circula
em outra bobina, então a relação entre este fluxo concatenado e a corrente que o produz recebe o nome de
Indutância mútua com símbolo (M) e também é medida em henry (H).
A expressão 2.1 dá a indutância da bobina 1 na forma diferencial e a expressão 2.2 dá a tensão
induzida nesta bobina quando a corrente que por ela circula e o fluxo gerado varia com o tempo. O
sentido dos fluxos é determinado pela regra do saca-rolha e a polaridade das tensões induzidas é
determinada pela Lei de Lenz. Segundo esta lei a tensão induzida tem uma polaridade que se opõe à
causa que a produz. A causa que produz a tensão induzida e1 na bobina 1 é a tensão aplicada v1 que faz
circular a corrente i1. Se o valor da resistência ôhmica da bobina é desprezível, então o único efeito que se
opõe á tensão aplicada v1 é a tensão induzida e1. Portanto, tem-se e1 = v1. Combinando as expressões 2.1
e 2.2 resulta a expressão 2.3 que é uma outra forma de apresentar a tensão induzida na bobina 1 pela ação
da corrente variável.
A expressão 2.4 dá a indutância mútua na bobina 2 produzida pela corrente que circula na bobina 1.
A expressão 2.5 dá a tensão induzida na bobina 2 pelo fluxo, produzido pela corrente na bobina 1, e
concatenado com as espiras da bobina 2. Combinando as expressões 2.4 e 2.5 resulta a expressão 2.6 que
é uma outra forma de apresentar a tensão induzida na bobina 2 pelo fluxo produzido pela bobina 1. A
polaridade da tensão induzida e2 pode ser determinada pelo sentido que a corrente na bobina 2 deveria ter
para contrariar o fluxo indutor da bobina 1.

dλ11 dλ11 di1


L11 = [2.1] e1 = [2.2] e1 = L11 [2.3]
di1 dt dt
dλ 21 dλ 21 di1
M 21 = [2.4] e2 = [2.5] e 2 = M 21 [2.6]
di1 dt dt

De modo idêntico pode-se escrever as expressões 2.7 a 2.12 para o caso em que a bobina 2 é
alimentada por uma fonte de tensão v2 que faz circular por ela uma corrente i2 . Aparece, assim, a tensão
induzida e2 na bobina 2 e a tensão e1 induzida pelo fluxo concatenado mútuo λ12.

dλ 22 dλ 22 di 2
L 22 = [2.7] e2 = [2.8] e 2 = L 22 [2.9]
di 2 dt dt
dλ12 dλ12 di 2
M12 = [2.10] e1 = [2.11] e1 = M12 [2.12]
di 2 dt dt

O fluxo concatenado pode ser definido com maior clareza através do conceito de fluxo médio
equivalente por espira que atravessa todas as espiras da bobina. Assim, os fluxos concatenados
λ11, λ22, λ12 e λ21 podem ser dados pelas expressões 2.13 a 2.16 em que ϕ11, ϕ22 ϕ12 e ϕ21 são os fluxos
médios equivalentes por espira correspondentes.

λ11 = N1ϕ11 [2.13] λ22 = N 2ϕ 22 [2.14]


λ21 = N 2ϕ21 [2.15] λ12 = N1ϕ12 [2.16]

A fig. 2.4 é igual à fig. 2.2, porém representada com os fluxos concatenados interpretados pelos
fluxos médios equivalentes por espira.

Walter Ries 3
TRANSFORMADORES

ϕ2 1

e 2
N2 ϕ11 = ϕ d 1 + ϕ 21 [2.17]
λ11 λd 1 λ21
= + [2.18]
N1 N1 N2
i1 dϕ11
e1 = N1 [2.19]
ϕ d1 dt
dϕ 21
v1 e1 N1 e2 = N 2 [2.20]
dt

Fig. 2.4: Igual à fig. 2.2, mas com fluxos médios equivalentes por espira

Pode-se verificar na fig. 2.4, a simplificação da representação dos fluxos por meio do fluxo médio
equivalente por espira. O fluxo total gerado pela corrente i1 na bobina 1 pode ser dividido em dois: o fluxo
ϕd1 que fica restrito à bobina 1 e o fluxo ϕ21 que atravessa as duas bobinas. O fluxo ϕd1 toma a
denominação de fluxo disperso da bobina 1, pois não participa no acoplamento entre as duas bobinas. O
fluxo ϕ21 é o fluxo mútuo gerado pela bobina 1 e que atravessa a bobina 2. O fluxo total gerado pela
bobina 1 é dado pela expressão 2.17. A expressão 2.18 dá a mesma equação em termos de fluxos
concatenados e número de espiras

2.1 – O transformador em vazio


As figuras 2.2 e 2.3 mostram o princípio elementar de funcionamento do transformador em vazio
ou sem carga. Na figura 2.2 a fonte de tensão está aplicada à bobina 1 que na terminologia usada em
transformadores é denominada bobina primária ou simplesmente primário, e, a bobina 2 é denominada
bobina secundária ou simplesmente secundário. Na figura 2.3 a bobina primária é a bobina 2 e a
secundária a bobina 1. Em ambas as figuras não tem corrente circulando pela bobina secundária onde
somente é induzida uma fem..
As expressões 2.1 a 2.6 são as equações que definem a operação em vazio do transformador
representado pela fig. 2.2. Com a definição do fluxo médio equivalente por espira às expressões 2.2 e 2.5,
para a fig. 2.2 ou 2.4, podem ser também dadas pelas expressões 2.19 e 2.20.
Especificamente para o caso da fig. 2.2 as equações que definem a operação em vazio do
transformador são dadas pelas expressões 2.21 e 2.22.

dϕ11 di
v1 = e1 = N1 = L11 1 [2.21]
dt dt
dϕ 21 di
v2 = e2 = N 2 = M 21 1 [2.22]
dt dt

2.2 - O transformador sob carga

Na fig. 2.5 a bobina 2 alimenta uma carga pela qual circula a corrente i2. A fonte de tensão desta
corrente é a tensão induzida e2. A fig. 2.6 é uma representação da figura 2.5 usando fluxos médios
equivalentes por espira.
Ao circular uma corrente de carga no secundário ela também vai gerar fluxos como representados
na fig. 2.5. O sentido desta corrente de carga na bobina secundária deve ser o de produzir um fluxo com
sentido contrário ao do fluxo que a gera (Lei de Lenz), sem anulá-lo, pois isto significaria eliminar a fonte
de sua geração. Para manter a causa da geração da tensão e corrente secundarias a corrente primária deve
aumentar de modo a contrabalançar o fluxo produzido pela bobina secundária. Deste modo, a energia
entregue à carga pela bobina secundária é realmente suprida pela fonte que alimenta a bobina primária.
Esta é a explicação qualitativa do fenômeno. A explicação quantitativa diz que a força magnetomotriz
produzida pela corrente secundária é contrabalançada por uma força magnetomotriz produzida por uma

Walter Ries 4
TRANSFORMADORES

corrente de carga ic1 na bobina primária conforme mostra a expressão 2.23. A expressão 2.24 mostra as
componentes da corrente primária. A corrente im produz o fluxo mútuo ϕ , comum às duas bobinas e se
denomina corrente magnetizante. A corrente de carga no primário faz aumentar o fluxo de dispersão ϕd1
na bobina primário. A corrente de carga no secundário gera o fluxo disperso ϕd2 na bobina secundária.

m = N 2i2 = N1ic1 [2.23] i1 = im + ic1 [2.24]

ϕ2 1

ϕ
i i2
2

N2 e2 ϕd 2 v2
v2
i1 i1

ϕd1

v1 e1 N1 v1

ϕ12

Fig. 2.5: Transformador sob carga Fig. 2.6: Transformador sob carga

A distribuição dos fluxos no transformador sob carga é determinada aplicando o princípio da


superposição de causas e efeitos que é válido somente para sistemas com elementos lineares. Assim, a
corrente primária i1 produz os fluxos ϕd1 e ϕ21 , cuja soma é o fluxo total por ela produzido na bobina
primária. A corrente secundária i2 produz os fluxos ϕd2 e ϕ12, cuja soma é o fluxo total por ela produzido
na bobina secundária. As expressões 2.25 e 2.26 mostram a composição destes fluxos.

ϕ11 = ϕ d 1 + ϕ 21 [2.25] ϕ 22 = ϕ d 2 + ϕ12 [2.26]

O fluxo total que atravessa cada uma das bobinas é dado pela soma dos efeitos das correntes
primária e secundária. Para se realizar esta soma deve-se levar em consideração o sentido dos diferentes
fluxos. Isto é, deve-se fixar um sentido como positivo, como por exemplo, o sentido do fluxo produzido
pela corrente primária. Nestas condições, as expressões 2.27 e 2.28 mostram o fluxo total que atravessa,
respectivamente, a bobina primária e secundária.. A soma vetorial dos fluxos mútuos ϕ21 e ϕ12 resulta em
um fluxo ϕ comum às duas bobinas.
ϕ1 = ϕ11 − ϕ12 = ϕ d 1 + ϕ 21 − ϕ12 = ϕ d 1 + ϕ [2.27]
ϕ 2 = ϕ 21 − ϕ 22 = ϕ 21 − ϕ12 − ϕ d 2 = ϕ − ϕ d 2 [2.28]

As expressões 2.27 e 2.28 permitem analisar o transformador sob dois aspectos diferentes,
mostrados nos conjuntos de expressões 2.29 e 2.30.

⎡ϕ1 = ϕ11 − ϕ12 ⎤ ⎡ϕ1 = ϕd 1 + ϕ ⎤


⎢ ⎥ [2.29] ⎢ϕ = ϕ − ϕ ⎥ [2.30]
⎣ϕ 2 = ϕ 21 − ϕ 22 ⎦ ⎣ 2 d2 ⎦

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TRANSFORMADORES

A tensão induzida resultante em cada bobina corresponde à tensão gerada pelo fluxo equivalente
total que concatena todas as espiras desta bobina. Esta tensão induzida resultante é igual em modulo e
polaridade à tensão nos terminais da bobina. Resultam, assim, as expressões 2.31 e 2.32 para as tensões v1
e v2.
dϕ dϕ
v1 = N1 1 [2.31] v2 = N 2 2 [2.32]
dt dt

Cada um dos fluxos médios equivalentes por espira, que aparece nas equações 2.29, gera uma
tensão induzida como mostram as equações 2.33.
Os fluxos que aparecem nas equações 2.28 geram, por vez, as tensões induzidas dadas nas
equações 2.34.
⎡ di1 di2 ⎤ ⎡ di1 dϕ ⎤
⎢ v1 = L11 dt − M 12 dt ⎥ ⎢v1 = Ld 1 dt + N1 dt ⎥
⎢ ⎥ [2.33] ⎢ ⎥ [2.34]
⎢ v = M di1 − L di2 ⎥ ⎢v = N dϕ − L di2 ⎥
⎢⎣ 2 21
dt
22
dt ⎥⎦ ⎢⎣ 2 2
dt
d2
dt ⎥⎦

Tanto o conjunto de equações 2.33 como o conjunto 2.34 define o princípio de funcionamento do
transformador sob carga. O conjunto de equações 2.33 dá as tensões de entrada e saída em função das
correntes de entrada e saída do transformador tais quais como definidas para um quadripolo na análise
dos circuitos elétricos. No conjunto de equações 2.34 as tensões de entrada e saída são definidas em
função das correntes de entrada e saído e do fluxo mútuo. Isto conduz a dois caminhos de análise
diferentes da operação de transformadores.
Observando o transformador como um quadripólo linear passivo demonstra-se, pelo teorema da
reciprocidade, que as induções mútuas M12 e M21 são iguais e o transformador passa a ser representado
pelo quadripólo da fig. 2.7. As indutâncias L1 e L2 são as indutâncias de dispersão do primário e do
secundário e M é a indutância mútua entre os dois laços de entrada e de saída do transformador. L1 + M
= L11 é a indutância própria do primário e L2 + M = L22 é a indutância própria do secundário.
Aplicando-se ao quadripólo da fig. 2.6 as equações dos laços de entrada e saída, reproduzem-se as
equações 2.33.
L1 L2
+ +
v1 i1 M i2 v2

Fig. 2.7: representação do transformador como um quadripólo

O maior grau de acoplamento eletromagnético entre duas bobinas é definido pelo Coeficiente de
Acoplamento. Assim, pode-se definir o coeficiente de acoplamento da bobina 2 com a bobina 1 pela
relação dada na expressão 2.35 e o coeficiente de acoplamento da bobina 1 com a bobina 2 pela relação
dada na expressão 2.36. Por definição, o coeficiente de acoplamento das bobinas é a média geométrica
dos coeficientes acima definidos, conforme mostra a expressão 2.37.
λ21 Mi1 M
k21 = = = [2.35]
λ 11 L11i1 L11
λ Mi2 M
k12 = 12 = = [2.36]
λ22 L22i2 L22
M
k = k 21k12 = [2.37]
L11 L22

As expressões 2.35 e 2.36 também podem ser dadas pelas expressões 2.38 e 2.39 que mostram que
o coeficiente de acoplamento é tanto maior quanto menor forem os fluxos de dispersão ou as indutâncias
de dispersão das bobinas.

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TRANSFORMADORES

λ11 − λ1 λ L
k21 = = 1− 1 = 1− 1 [2.38]
λ11 λ11 L11
λ22 − λ2 λ2 L
k12 = = 1− = 1− 2 [2.39]
λ22 λ22 L22

Enquanto as expressões 2.33 dão uma interpretação mais matemática da operação do


transformador, as expressões 3.34 permitem uma interpretação mais física.

⎡ di1 ⎤
⎢ v1 = Ld 1 dt + e1 ⎥
⎢ ⎥ [2.40]
⎢ v = e − L di2 ⎥
⎢⎣ 2 2 d2
dt ⎥⎦

As expressões 2.33 podem ser apresentadas como mostram as expressões 2.40 onde se observam
as tensões induzidas no primário e no secundário pelo fluxo mútuo ϕ. Para este conjunto de expressões
pode-se, portanto construir o circuito equivalente que mostra a fig. 2.8 onde os sinais (+) indicam a
polaridade instantânea das tensões.
i 1 L1 i c1 i2 L2

+ N1 N2 +
im + a +
v1 Lm e1 e2 v2

Fig. 2.8: Circuito equivalente do transformador sem perdas


Para separar as componentes da corrente do primário, cria-se uma indutância de magnetização pela
qual circula a corrente de magnetização que gera o fluxo mútuo ϕ e as tensões induzidas do primário e do
secundário de um transformador ideal com N1 espiras no primário e N2 espiras no secundário onde
circulam as correntes de carga (do primário e do secundário). Este transformador ideal está em paralelo
com a indutância de magnetização. A indutância de dispersão do primário é colocada em série com a
fonte de alimentação do primário circulando por ela, portanto, toda a corrente da bobina primária. A
indutância de dispersão do secundário é ligada em série com o secundário do transformador ideal. O
transformador ideal tem um coeficiente de acoplamento das bobinas igual a 1 e é definido pelas
expressões 2.41 e 2.42. A relação entre o número de espiras do primário e o número de espiras do
secundário é representada pela letra “a” e se denomina de relação de transformação do transformador
ideal.

N1ic1 = N 2i2 [2.41]


e1 N i
= 1 =a= 2 [2.42]
e2 N 2 ic1

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3 – O TRANSFORMADOR COM NÚCLEO DE FERRO


3.1 – Circuito equivalente e diagrama fasorial
Os transformadores utilizados na transmissão de energia elétrica são construídos com núcleo de
ferro como mostra a fig. 3.1. O material utilizado para construir o núcleo é uma liga de ferro-silício com
cerca de 3 a 5% de Si. Com a passagem do fluxo magnético ocorrem duas espécies de perdas no núcleo:
perdas por histerese e perdas por correntes parasitas ou de Foucault que serão analisadas mais adiante.
Para reduzir as perdas por correntes de Foucault o núcleo é construído com chapas finas laminadas a frio
cobertas com uma camada muito fina de um isolante elétrico. Como a permeabilidade magnética destes
materiais é muito elevada, a força magnetomotriz de magnetização é muito pequena para fazer circular
um fluxo mútuo elevado através do circuito magnético. As forças magnetomotriz produzidas pelas
correntes de carga do primário e do secundário, embora sejam muito maiores do que a fmm de
magnetização, não conseguem fazer circular fluxos de dispersão elevados, pois uma boa parte do seu
circuito magnético se fecha pelo ar ou outro isolante, tal como o óleo mineral, e que tem uma
permeabilidade magnética muito baixa. Alto fluxo mútuo e baixos fluxos de dispersão dão como
resultado um alto grau de acoplamento entre o primário e o secundário. Deste modo é possível conseguir
coeficientes de acoplamento que podem atingir valores da ordem de 0,998.

I2
+
V2
φ2 / 2 φ2 / 2
I1
+
φ/ 2 φ/ 2
φ1 / 2 φ1 / 2
V1

Fig. 3.1: Transformador com núcleo de ferro

Na fig. 3.1 os valores das tensões e correntes correspondem aos valores eficazes do domínio
freqüência senoidal e os fluxos correspondem aos valores máximos. Assim, o valor máximo do fluxo
mútuo φ que atravessa os duas bobinas ou enrolamentos se bifurca em duas partes iguais retornando pelas
colunas laterais, mas sempre percorrendo um caminho com alta permeabilidade magnética (ou com baixa
relutância magnética). Os fluxos de dispersão do primário e do secundário (φ1 e φ2) atravessam as suas
respectivas bobinas, mas retornam pelo ar (ou óleo) que tem uma baixa permeância P ou alta relutância
R magnética.
A disposição das bobinas na fig. 3.1 ainda é didática, pois com esta montagem as bobinas estariam
se repelindo violentamente devido à oposição dos fluxos de dispersão do primário e secundário. As
bobinas deverão ser montadas de modo a anular ou minimizar esta repulsão. Uma montagem muito
utilizada é a concêntrica, isto é, uma bobina dentro da outra, ambas com a mesma altura. Com esta
montagem existe um equilíbrio instável entre as bobinas. Qualquer deslocamento axial relativo entre elas
produzirá esforços axiais de repulsão que aumentam à medida que o deslocamento axial aumenta. Estas
são as conseqüências da Lei de Lenz.
Com o aparecimento de perdas no núcleo de ferro o circuito equivalente da fig. 2.7 deverá ter
também um elemento resistivo, em paralelo com a indutância de magnetização, pelo qual circulará uma
corrente de perdas magnéticas. A soma desta corrente de perdas magnéticas e a corrente de magnetização
é a corrente de excitação I0 do transformador. Para levar em conta as perdas ôhmicas nas resistências dos
condutores utilizados para construir as bobinas do primário e do secundário, adicionam-se resistências em
serie com as indutâncias (ou reatâncias no domínio freqüência) de dispersão. Resulta, então, o circuito
equivalente da fig. 3.2. Nesta figura pode-se observar a representação do transformador ideal com núcleo
de ferro.

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TRANSFORMADORES

I1 R1 X1 Ic1 R2 X2 I2

+ Io
+ + +
V1 Rp Ip Im Xm E1 E2 V2 ZC ∠θ
N1 N 2

Fig. 3.2: Circuito equivalente de um transformador com núcleo de ferro.

As tensões e correntes são fasores (ou vetores girantes) e, portanto suas composições são fasoriais
(ou vetoriais). Na fig.3.2 as correntes e tensões estão representadas pelos valores eficazes
correspondentes.

Adota-se a seguinte simbologia:


V1 - tensão aplicada ao primário
V2 - tensão aplicada à carga no secundário
E1 e E2 - FEM induzida no primário e no secundário pelo fluxo mútuo
I1 e I2 - corrente no primário e corrente no secundário
Im - corrente de magnetização que gera o fluxo mútuo φ
Ip - corrente de perdas no núcleo
Io = Im + Ip - corrente de excitação (a soma é vetorial)
Ic1 = I1 - Io - corrente de carga no primário (a soma é vetorial)
N1 e N2 - número de espiras do primário e do secundário
a = N1/N2 - relação de transformação
R1 e R2 - resistência ôhmica do primário e do secundário
X1 e X2 - reatância de dispersão do primário e do secundário
Rp - resistência equivalente das perdas no núcleo
Xm - reatância de magnetização do núcleo

No domínio freqüência senoidal o fluxo mútuo ϕ que induz as tensões e1 e e2 tem seu valor
instantâneo dado pela função senoidal 3.1 em que φ é o valor máximo instantâneo.

ϕ = φ sen(ωt ) = φ sen(2π ft ) [3.1]



e1 = N1 = N1φ 2π f cos(ωt ) = E1max cos(ωt ) [3.2]
dt

e2 = N 2 = N 2φ 2π f cos(ωt ) = E2 max cos(ωt ) [3.3]
dt
E 2π
E1 = 1max = N1 f φ = 4, 44 N1 f φ = 4, 44 N1 fBAfe [3.4]
2 2
E 2π
E2 = 2 max = N 2 f φ = 4, 44 N1 f φ = 4, 44 N 2 fBAfe [3.5]
2 2

Como as tensões induzidas no primário e no secundário são as derivadas do fluxo concatenado


mútuo, elas serão, pois, funções co-senoidais dadas pelas expressões 3.2 e 3.3 em que E1max e E2max são

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os valores máximos instantâneos das tensões. Os valores eficazes das tensões são os valores máximos
instantâneos divididos pela raiz de 2, o que resultam as expressões 3.4 e 3.5. Na representação vetorial o
fluxo máximo instantâneo e os valores máximos e eficazes das tensões induzidas são vetores girantes ou
fasores. Como as tensões são co-senoidais positivas quando o fluxo é senoidal positivo, os fasores
representativos das tensões estão adiantados de 90 º em relação ao fasor fluxo indutor.
Nas expressões 3.4 e 3.5 o fluxo mútuo é dado pelo produto da indução (ou densidade de fluxo) B,
em Wb/m2, e da área da secção do núcleo de ferro Afe, em m2. A unidade “Weber por metro quadrado” è
também denominada por “Tesla” com símbolo T, isto é, 1 Wb/m2 = 1 T. No sistema CGS
eletromagnético a unidade da indução é o “Gauss” (G) e, 1 T = 104 G. Estas duas expressões são
fundamentais no dimensionamento dos transformadores, pois permitem determinar o número de espiras
do primário e secundário, sendo conhecidos os demais valores. A indução B é arbitrada em função do
material utilizado na construção do núcleo, a secção do núcleo de ferro é obtida por considerações
geométricas e econômicas, conforme será visto no Capitulo 6 (6.2), e f é a freqüência da rede elétrica.
Das relações conhecidas dadas pelas expressões 3.6 e 3.7 pode-se obter a expressão 3.8 que
representa a potência de conversão do transformador e mostra como a energia elétrica é transferida do
primário ao secundário.

E1 N1 I 2
= = =a [3.6]
E 2 N 2 I c1
FMM 1 = FMM 2 ou N1 I c1 = N 2 I 2 [3.7]
E1 I c1 = E2 I 2 = S c [3.8]

A fig. 3.3 mostra o diagrama vetorial do transformador da fig. 3.2. Para traçar este diagrama inicia-se
com a tensão e corrente secundária defasando a corrente em relação a tensão de um ângulo θ
correspondente ao ângulo de fase da impedância de carga. Se a carga é indutiva a corrente está em atraso
de θ graus em relação a tensão. O sentido de giro dos fasores é positivo quando é contrario ao dos
ponteiros de um relógio. A seguir, soma-se, à tensão V2, a queda de tensão na resistência da bobina
secundária I2R2, em fase com a corrente I2, e a queda de tensão na reatância de dispersão do secundário
I2X2 que está avançada de 90º em relação à corrente I2. Esta soma corresponde à tensão induzida E2 do
secundário (fasor E2 do diagrama).

V1
E2

E1

I1 R1 I1 X1 I2 R2 I2 X2
θ1 V2
θ

I2

I1
IC1
φ Io
Im Ip

Fig. 3.3: Diagrama fasorial ou vetorial do transformador para a<1.

A tensão induzida no primário do transformador é dada pela relação de transformação da expressão


3.6. Esta tensão está em fase com a tensão induzida no secundário (fasor E1). Pela expressão 3.7 vê-se
que a relação das correntes de carga do primário e do secundário também depende somente da relação de
transformação e, portanto, também estão em fase (fasores I2 e IC1). Considerando que a corrente de
magnetização Im provém da tensão induzida no primário aplicada à reatância de magnetização, então esta

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corrente e o fluxo mútuo φ que ela produz devem estar atrasados de 90º em relação as tensões E1 e E2. A
corrente de perdas Ip do núcleo deve estar em fase com a tensão E1. A soma da corrente de magnetização
e da corrente de perdas do núcleo é a corrente de excitação I0 que somada à corrente de carga IC1 vai dar a
corrente de entrada I1. As quedas de tensão na resistência da bobina primária I1R1, e na reatância de
dispersão da mesma I1X1 devem ser somadas â tensão induzida no primário para se obter a tensão
aplicada V1. A queda de tensão na resistência do primário está em fase com a corrente primária e a queda
de tensão na reatância de dispersão está em avanço de 90º. θ1 é o ângulo de defasagem entre a tensão e a
corrente aplicada ao primário do transformador.
Um transformador deve ter alto rendimento, isto é, as perdas internas devem ser baixas em relação à
potência de conversão. Isto significa que as perdas no núcleo, representadas pela passagem da corrente Ip
através da resistência Rp, e as perdas nas resistências das bobinas pela passagem das correntes do
primário e do secundário, devem ser baixas. Rendimentos da ordem de 99,5% ou mais são normais em
transformadores com elevada potência de conversão. Também as reatâncias de dispersão do primário e do
secundário devem ter valores limitados a fim de não proporcionarem quedas de tensão muito elevadas,
incompatíveis com os limites especificados para os sistemas de transmissão e distribuição da energia
elétrica. Levando estes fatos em consideração, pode-se simplificar, sem maiores conseqüências, o circuito
equivalente conforme mostra a fig. 3.4 em que o circuito de excitação foi deslocado para a esquerda,
antes da impedância Z1 = R1 + jX1 do primário.
I1 Ic1 R1 X1 R2 X2 I2

+ Io +
+ + +
V1 Rp Ip Im Xm V1 E1 E2 V2 ZC ∠θ
N1 N2

Circuito equivalenete Circuito equivalenete sob carga


em vazio
Fig. 3.4: Circuito equivalente simplificado do transformador.

Com esta disposição, o circuito de excitação, portanto o circuito equivalente em vazio, fica
independente do circuito sob carga do transformador, pois a tensão que se aplica aos dois é a mesma V1.
Em vazio, a tensão aplicada ao primário e a tensão primária induzida passam a serem iguais. Como
conseqüência, as tensões especificadas para os transformadores são as próprias tensões induzidas em
vazio.
O diagrama fasorial também fica simplificado e dividido em dois, conforme mostram as figuras 3.5 e
3.6.
Na fig. (3.5) a corrente magnetizante está em fase com o fluxo mútuo e defasado em atraso de 90º em
relação à tensão aplicada V1. A corrente de perdas no núcleo esta em fase com V1. A corrente total de
excitação está atrasada, em relação à tensão aplicada, de um ângulo θo.
Na fig. 3.6, inicia-se a construção do diagrama pela tensão e corrente do secundário. Adicionando á
tensão secundária a queda na impedância do secundário obtém-se a tensão induzida no secundário. Pela
relação de transformação obtém-se a tensão induzida no primário. Adicionando a queda de tensão no
primário, sabendo que a corrente no primário e no secundário estão em fase, obtém-se a tensão aplicada
ao primário. A relação de transformação também é usada para determinar a corrente no primário em
função da corrente de carga do secundário. Como se observa, o fator de potência do primário, dado por
cosθ1 é menor do que o fator de potência da carga ligada ao secundário, cosθ. São as reatâncias de
dispersão do primário e do secundário que contribuem para a diminuição do fator de potência.

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V1

E1
v1 I1 X1
E2 I1 R1
V2
I2 X2
θ θ1 I2 R2
θο Io
Ip
φ IC1
I2
Im

Fig. 3.5: Diagrama fasorial em vazio Fig. 3.6: Diagrama fasorial sob carga para a>1

O transformador também pode ser representado sem o transformador ideal desde que se transfiram as
impedâncias do secundário para o primário ou vice-versa e modo a se ter as mesmas potências
individuais. Assim, ao transferir a impedância do secundário para o primário, deve-se ter a mesma
potência ativa de perdas na resistência da bobina secundária e a mesma potência reativa na reatância de
dispersão secundária. Também a impedância de carga é transferida ao primário com o mesmo critério de
igualdade de potências ativa e reativa. As expressões 3.9, 3.11 e 3.13 dão as condições de igualdade de
potências ao transferir os parâmetros do secundário para o primário do transformador com a eliminação
do transformador ideal. As expressões 3.10, 3.12 e 3.14 dão os valores que os parâmetros devem ter ao
serem transferidos do secundário para o primário.

I 22
I12 R21 = I 22 R2 [3.09] R21 = R2 = R2 a 2 [3.10]
I12
I 22
I12 X 21 = I 22 X 2 [3.11] X 21 = X 2 = X 2a2 [3.12]
I12
I12 Z c1 = I 22 Z c [3.13] Z c1 = Z c a 2 [3.14]

I1 IC1 R1 X1 R2 1 X2 1 I2 1

+ Io +
+ + +
V1 Rp Ip Im Xm V1 E1 E21 V21 Z C1∠θ

Circuito equivalenete Circuito equivalenete sob carga


em vazio
Fig. 3.7: Circuito equivalente transferindo os parâmetros do secundário para o primário
A fig. 3.7 mostra como se apresenta o circuito equivalente transferindo os parâmetros do secundário
para o primário. A tensão E2 , da fig. 3.4, ao ser transferida para o primário, deve ser multiplicada pela
relação de transformação a, isto é: E21 = aE2 = E1. Da mesma forma, a tensão V2 também deve ser
multiplicada pela relação de transformação, isto é: V21 = aV2 .
As resistências e as reatâncias das bobinas primária e secundária, na fig.3.7, podem ser somadas
resultando no circuito equivalente da fig. 3.8.

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I1 IC1 R X

+ Io +
+
V1 Rp Ip Im Xm V1 V21 Z C1∠θ

Circuito equivalenete em vazio Circuito equivalenete sob carga


Fig. 3.8: Circuito equivalente simplificado refletido ao primário do transformador.

Nestas condições, o transformador sob carga pode ser representado por uma única impedância interna
formada pela resistência equivalente às perdas sob carga e por uma reatância equivalente a produzida
pelos fluxos de dispersão do primário e secundário. O diagrama fasorial fica reduzido ao diagrama
apresentado na fig. 3.9.
Em resumo, o transformador pode ser representado, em vazio pelo circuito de excitação e, sob carga,
pela impedância interna.
V1

V21
IX
θ IR
θ1

IC1
Fig. 3.9: Diagrama fasorial simplificado do transformador sob carga.

3.2 – Formas construtivas de núcleos e bobinas


A fig. 3.1 é uma representação didática do transformador e que é utilizada para mostrar o princípio de
funcionamento. Um transformador com as bobinas montadas como mostra esta figura não suportaria,
mecanicamente, os esforços de repulsão produzidos pelos fluxos de dispersão das bobinas. Por outro lado,
esta disposição das bobinas não favorece a obtenção de um máximo valor para o coeficiente de
acoplamento eletromagnético entre elas.
Como já dito, o núcleo é construído com chapas muito finas de uma liga de ferro-silício, isoladas
entre si, para diminuir as perdas. Ele é constituído pelas Colunas, sobre as quais são montadas as bobinas,
e pelas Culatras que completam o circuito magnético do fluxo mútuo.
Na Fig. 3.10 a bobina primária e a secundária são helicoidais e concêntricas, e estão montadas sobre
a coluna central do núcleo. As duas colunas laterais e as duas culatras, superior e inferior, têm a
metade da secção da coluna central, pois, por elas circula somente a metade do fluxo mútuo. Este tipo de
transformador é denominado de “núcleo envolvente”, pois o núcleo envolve as bobinas. O sentido da
corrente nas bobinas é identificado por “cruz” e “ponto” para determinar, pela regra do saca-rolha os
sentidos dos fluxos. O fluxo de dispersão do primário circula pela coluna central e retorna, pelo espaço
entre as bobinas. O fluxo de dispersão do secundário circula pelas colunas laterais e retorna também pelo
espaço entre as bobinas. Pelos sentidos dos fluxos de dispersão, vê-se que a bobina primária forma um
pólo N na parte inferior e um pólo S na parte superior e, a bobina secundaria forma um pólo S na parte
inferior e um pólo norte na parte superior. Se as bobinas têm a mesma altura e forem montadas na mesma
altura, a força de repulsão entre elas é nula, porém, qualquer deslocamento relativo no sentido vertical
produz um esforço de repulso que aumenta com a amplitude deste deslocamento. Examinando, no
entanto, os esforços entre dois condutores pelos quais circulam correntes, podem-se ver que entre as
bobinas primaria e secundário se geram agora esforços radiais (ver, no estudo do Campo Magnético, a

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origem destas forças). Deste modo a bobina interna tende a ser amassada contra a coluna central e a
bobina externa tende a ser expandida. O cálculo destes esforços e como evitar que venham deformar
mecanicamente as bobinas, constitui um capítulo importante do projeto de transformadores.

φ/2 φ/2

× φ ×

φ2/2 φ1/2 φ1/2 φ 2 /2


S P P S

Fig. 3.10: Transformadador monofásico tipo núcleo envolvente (shell type)

Na fig. 3.10 a bobina primária está colocada em baixo da bobina secundária, mas pode-se ter também
o caso inverso em que a bobina primária envolve a bobina secundária. Normalmente a bobina, com tensão
mais baixa, é montada sobre a coluna central do núcleo.
Na fig. 3.11 tem-se um transformador monofásico em que as bobinas estão montadas nas duas
colunas do núcleo, isto é, em cada coluna está montada uma metade do primário e uma metade do
secundário. Tanto o primário como o secundário é formado por duas bobinas, cada uma com a metade do
número de espiras correspondente. As duas metades do primário, assim como as duas metades do
secundário são ligadas em série obedecendo a polaridade destas metades. As bobinas também são
concêntricas como no caso da fig. 3.10. Este é o transformador monofásico tipo núcleo envolvido, pois o
núcleo está envolvido pelas bobinas. Neste caso a secção do núcleo é igual em todo o seu comprimento
pois é atravessada pelo mesmo fluxo mútuo φ. Os fluxos de dispersão circulam pelas colunas e pelo
espaço não magnético (ar ou óleo) entre as bobinas.

1 / 2(φ1 + φ 2) 1 / 2(φ1 + φ 2)

× × × ×

S P P S S P P S

N2 / 2 N2 / 2
N1 / 2 N1 / 2

Fig. 3.11: Transformador monofásico tipo núcleo envolvido (core type)

Na figura 3.12 tem-se um transformador monofásico com núcleo envolvente mas com bobinas
intercaladas, alternativamente, do primário e do secundário. Estas bobinas individuais têm pequena altura
em forma de disco ou panqueca. Quanto maior for o número de discos intercalados (primário –
secundário) maior será o acoplamento entre os enrolamentos, menores os fluxos de dispersão e,
conseqüentemente, menores as reatâncias de dispersão e menor, portanto, a impedância total como vista
na fig. 3.8.

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φ/2 φ/2

+ P
φ
S +
+ P

Fig. 3.12: Transformador monofásico tipo "núcleo envolvente"


com bobinas intercaldas ou em sandwich.

× × × × × ×

φΑ φΒ φC

Fig. 3.13 Transformador trifásico tipo “núcleo envolvido” com bobinas concêntricas por fase

Na fig. 3.13 tem-se um transformador trifásico com núcleo envolvido e bobinas concêntricas. Em
cada coluna são montadas as bobinas do primário e secundário de uma fase do transformador. Tanto as
bobinas do primário como as do secundário das três fases podem estar ligadas em “estrela” ou em
“triângulo”. As tensões de fase das três bobinas primárias estão defasadas de 120 º e geram fluxos mútuos
também defasados de 120º. A soma vetorial destes 3 fluxos é nula, do que se conclui não existir
necessidade de caminho magnético de retorno para a soma. Com outras palavras, os valores instantâneos
dos fluxos das 3 fases se compensam sem necessidade de uma coluna de retorno da soma. O fluxo
máximo que passa pelas colunas e culatras é o fluxo mútuo de uma fase. Assim, colunas e culatras têm a
mesma secção. Os fluxos dispersos por fase circulam pela coluna e pelo espaço não magnético (ar ou
óleo) entre bobinas.
ΦA ΦB ΦC
2 2 2

× × × × ×

× × × ×

Fig. 3.14: Transformador trifásico tipo "núcleo envolvente" com bobinas intercaladas

Na Fig. 3.14 tem-se um transformador trifásico tipo “núcleo envolvente”. Os fluxos mútuos das três
fases possuem circuitos magnéticos independentes. Como na Fig. 3.12, as colunas laterais e as culatras

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TRANSFORMADORES

têm a metade da secção da coluna central. As culatras comuns entre as fases “A” e “B” e entre as fases
“B” e “C” também têm a metade da secção da coluna central, pois, por elas passa somente a metade do
fluxo mútuo de uma fase conforme mostra a soma vetorial da Fig. 3.15.

φ A/ 2

φ A/ 2 + φ B / 2

φ C /2 φ B /2
Fig. 3.15: Soma vetorial dos fluxos φΑ/2 e φB/2 B

Normalmente os transformadores monofásicos são construídos com “núcleo envolvente”, como


mostra a Fig. 3.10, e, os transformadores trifásicos com “núcleo envolvido”, como mostra a Fig. 3.13

Bibliografia:
[1] R. Küchler – Die Transformatoren – Springer – Verlag – 1966
[2] Members of the Staff of The Department of Electrical Engineering – MIT. John Wiley – 1952
[3] Westinghouse Electric Corporation. Electrical Transmission and Distribuition Reference Book –
1950
[4] R.G. Fowler. Introduction to Electric Theory. Addison-Wesley - 1953

Walter Ries 16
TRANSFORMADORES

4 – CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO
As características de desempenho são aquelas as quais o transformador deve responder de acordo
com as especificações básicas e de conformidade com as normas técnicas estabelecidas. Ao mesmo tempo
em que são estudadas estas características, são também apresentados os métodos de cálculo das grandezas
responsáveis por este desempenho.
4.1 – Corrente de excitação
A corrente de excitação pode ser decomposta em suas componentes conforme mostra o diagrama
fasorial da fig. 3.13:
• Corrente magnetizante “Im”
• Corrente de perdas “Ip”
A corrente magnetizante é a que gera o fluxo mútuo ou útil que acopla os enrolamentos primário e
secundário. É sempre desejável que esta corrente seja a menor possível, utilizando materiais magnéticos
especiais, mas sempre tendo em vista o aspecto econômico do projeto.
A corrente de perdas tem duas origens: energia despendida na orientação cíclica dos domínios
magnéticos dos materiais e que se denominam de perdas por histerese; energia perdida pelas correntes
parasitas nas chapas do núcleo, correntes estas também denominadas por correntes de Foucault.
4.1.1 – Corrente magnetizante.
O objetivo básico no projeto de um circuito magnético é determinar a força magnetomotriz “fmm”
“NIm” necessária para se obter um fluxo “φ ” na secção desejada do circuito. Determinada a “fmm” e
conhecido o número de espiras da bobina, determina-se a corrente magnetizante “Im”.
A lei fundamental dos circuitos magnéticos é a Lei de Ampère que diz: a integral de linha da
intensidade de campo “H” ao longo de um caminho fechado que atravessa “N” espiras de uma bobina
percorrida por uma corrente de “i” ampères é igual ao produto “Ni”. A expressão 4.1 define a Lei de
Ampère e as figuras 4.1 e 4.2 são exemplos de circuitos magnéticos.

∫ Hdl = Ni [4.1]
B
fmm = m = ∫ Hdl = ∫ μ dl = Ni [4.2]

μ = μ r μ0 [4.3]
dl
Ni = m = ϕ ∫ μ A = ϕ ∫ d ℜ = ϕℜ [4.4]

3
i
i
1
1

N lf
la i

S N B=μ Η

B=μΟ Η
Fig. 4.1: Solenoide Fig. 4.2: Solenoide com núcleo de ferro e ar

Na fig. 4.1 mostra uma bobina com “N” espiras percorridas por uma corrente “i”. Se o núcleo é de ar
as linhas de fluxo se apresentam, aproximadamente como as desenhadas. Para qualquer uma das linhas,
tais como a linha de fluxo 1 ou 2 é aplicável a lei de Ampère, devendo ser “N” o número de espiras

Walter Ries 17
TRANSFORMADORES

atravessadas pela linha de fluxo que pode ser, por exemplo, uma linha de fluxo (ou tubo de fluxo) de 1
Wb. Assim, a linha 2 atravessa todas as espiras, e a linha 1, somente 5 espiras. A integral de linha da
expressão 4.1 pode ser escrita para qualquer linha como, por exemplo, a linha 3 que atravessa todas as
espiras e não é uma linha se fluxo. Para as linhas de fluxo 1 e 2 o vetor intensidade de campo “H” é
sempre tangencial à linha e os vetores “H” e “dl” estão alinhados. Para a linha 3, de um modo geral, os
vetores “H” e “d”l não estão alinhados e a integração é do produto escalar destes vetores. A forma e o
comprimento da linha escolhida não influem no resultado, pois, quanto mais longa for a linha escolhida,
maior o número de elementos “dl” e menores as intensidades de campo “H” tomadas ao longo deste
caminho, de modo que o resultado final é sempre o produto Ni dos ampere-espiras concatenados por
qualquer caminho fechado. Já o circuito magnético da fig. 4.2 é mais simples, pois o núcleo de ferro
concentra mais as linhas de fluxo. Até mesmo no “gap” de ar as linhas de fluxo ficam mais paralelas
devido à proximidade do material ferro magnético.
O produto “Ni” é a força magnetomotriz que produz o fluxo total “ϕ”. A intensidade de campo “H”
multiplicada pela permeabilidade magnética “μ” do meio dá a indução ou densidade de campo “B”.
Assim, a expressão 4.1 pode ser dada também pela expressão 4.2 onde a permeabilidade magnética “μ”
do meio é o produto da permeabilidade magnética relativa “μr” multiplicada pela permeabilidade
magnética absoluta do vácuo (ou ar), cujo valor é igual a
μo = 4π 10-7 H/m.
Expressando a indução “B” pelo quociente do fluxo total “ϕ” que atravessa uma secção de área “A”
do circuito magnético, pode-se escrever a expressão 4.4 em que “dR” é a relutância magnética do tronco
do tubo de fluxo com comprimento elementar “dl”, permeabilidade magnética “μ” e secção “A”. A
somatória de todas as relutâncias elementares é a relutância total “R” do circuito magnético. A relutância
magnética “R” do circuito é, portanto igual à fmm “Ni” dividida pelo fluxo total “ϕ”. A simplicidade da
expressão 4.4 contrasta com a dificuldade enorme que se tem em determinar uma expressão matemática
que relacione a variável “l” (comprimento do circuito magnético) com a secção “A” a fim de resolver a
integral. Já para a figura 4.2 esta dificuldade é menor, considerando-se que a secção “A” permanece
constante ao longo de todo o caminho fechado “L=lf + la”. Isto implica em dizer que todo o fluxo circula
pelo núcleo de ferro e que no pequeno intervalo de ar ele não sofre dispersão. Neste caso a expressão 4.4
apresenta a forma da expressão 4.5 onde se identificam dois troncos com relutâncias diferentes, mas
perfeitamente definidas em função das respectivas permeabilidades dos meios. A permeabilidade
magnética μf é a permeabilidade magnética relativa do ferro, para uma determinada indução B. No caso
do circuito magnético da fig. 4.2 a secção do núcleo de ferro é constante e, como não existe dispersão no
entreferro de ar a secção neste trecho também permanece constante. Por conseguinte, a indução
magnética B é igual em todo o circuito. Neste caso, a expressão 4.2 pode-se ser também expressa pela
expressão 4.5a. Portanto, conhecidas as dimensões do circuito magnético e o número de espiras da
bobina, pode-se determinar a corrente magnetizante para um determinado valor de indução determinada
em função do fluxo ϕ desejado e da secção A do circuito magnético, conforme mostra a expressão 4.6. A
permeabilidade magnética para os materiais ferromagnéticos não permanece constante quando a
indução varia, mas a correspondência entre a indução e a permeabilidade pode ser obtida nas curvas de
magnetização do material utilizado. Estas curvas podem ser levantadas em laboratório ou são fornecidas
pelos fabricantes destes materiais.

⎛ lf l ⎞ ϕ
+ a ⎟ = ϕ ( ℜ f + ℜ a ) = ϕℜ =
dl
Ni = ϕ ∫ =ϕ ⎜ [4.5]
μA ⎜μ μ A μ A ⎟ ℘
⎝ f 0 f 0 a ⎠

B Bl f Bl B ⎛ lf ⎞
Ni = ∫ dl = + a = ⎜⎜ + la ⎟ [4.5a ]
μ μ0 μ f μo μ0 ⎝ μ f ⎟

B ⎛ lf ⎞ ⎛
H l ⎞
i= ⎜ +l ⎟ = ⎜ f +l ⎟ [4.6]
μ0 N ⎜⎝ μ f a ⎟⎠ N ⎜⎝ μ f a ⎟⎠

A fig. 4.3 mostra a característica de magnetização que relaciona a indução magnética B com a
intensidade de campo magnético H de uma chapa de ferro-silício de grão orientado, com 0,5mm de
espessura. A indução B é dada em Tesla (T), em função da intensidade de campo H, dada em A/m. A
relação entre B e H dá a permeabilidade magnética absoluta do ferro. A permeabilidade relativa é dada
pela permeabilidade absoluta dividida pela permeabilidade absoluta do ar. A particularidade desta curva é

Walter Ries 18
TRANSFORMADORES

que a intensidade de campo H é dada já em ampère-espiras de excitação eficazes por metro. Isto significa
que com ela pode-se determinar, através da expressão 4.6, diretamente a corrente eficaz de excitação do
circuito magnético no qual se está aplicando uma tensão alternativa senoidal. A corrente de excitação
eficaz incorpora a corrente eficaz de magnetização e a corrente eficaz de perdas no circuito magnético.

Pode-se verificar na fig.4.3 que, para uma indução de B = 1,6 T tem-se H = 40 A/ m, o que
corresponde uma permeabilidade magnética relativa de:

μ B 1, 6 107
μf = = = i = 31.831
μ0 μ0 H 40 4π
o que permite ver porque, muitas vezes, a relutância magnética das partes do circuito magnético formadas
por material ferromagnético, é desprezada em presença das relutância das partes formadas por materiais
amagnéticos.
Indução magnética B (valor de pico) em Tesla (T)

2,1
1,9
1,7
1,5
1,3
1,1
Fig.
0,9
0,7
0,5
0,3
10 100 1000
Instensidade de cam po m agnético H em A/m eficazes de
excitação (Io)

4.3: Curva de magnetização de chapa de ferro-silício de grão orientado M 5.


Como a corrente de excitação nos transformadores deve ser tão baixa quanto economicamente
possível, os núcleos são construídos com materiais com alta permeabilidade magnética e sem intervalos
ou “gaps” de ar ou outro material amagnético. Com a introdução de materiais ferromagnéticos, aparecem
perdas por correntes parasitas e por histerese que também devem ser mantidas tão baixas quanto possíveis
através do uso de ligas especiais e formas construtivas especiais dos núcleos.
A fig.4.4 mostra o núcleo e as bobinas concêntricas de um transformador monofásico em vazio, isto
é, o primário está sendo percorrido pela corrente de excitação. A componente magnetizante da corrente de
excitação produz a fmm = N1 im. O circuito magnético tem dois ramos iguais em paralelo, cada um com
uma secção igual a metade da secção da coluna central. A relutância total do circuito magnético é dada
pela expressão 4.7 em que lc é o comprimento médio da coluna e l2 o comprimento médio de cada um dos
ramos paralelos. A relutância dos ramos paralelos é a metade da relutância de cada ramo, pois, trata-se de
duas relutâncias iguais em paralelo. Por definição a indutância de magnetização da bobina primária é o
fluxo concatenado dividido pela corrente que o produziu, conforme dado pela expressão 4.9. Como a
relutância R ou a permeância P não é mais constante, pois a permeabilidade varia com a corrente de
magnetização ou com a intensidade de campo, a indutância, bem como a reatância de magnetização Xm =
2πfLm,, não são mais elementos lineares do circuito. Como conseqüência, a corrente de magnetização terá
componentes harmônicos.

Walter Ries 19
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N1 Im
φ/ 2 φ/ 2
lc l
ℜ= + 2 [4.7]
× φ μ A 2μ A
ϕ
N1im = ϕ ℜ = [4.8]

S P P S
λ1 N1ϕ
Lm = = = N12℘ [4.9]
im im
Fig. 4.4: Transformador monofásico em vazio.
Se a tensão v1 aplicada ao primário do transformador é uma função co-senoidal então a tensão
induzida e1 também deverá ser co-senoidal e o fluxo ou a indução será senoidal, conforme mostram as
expressões 4.10 a 4.12.
v1 = V1 cos ωt = e1 = E1 cos ωt [4.10]

e1 = N1 [4.11]
dt
1 E
ϕ=
N1 ∫ e1dt = 1 senωt
ω N1
[4.12]

Na expressão 4.8, se o fluxo ϕ é senoidal e a relutância magnética não é constante, então a corrente
magnetizante Im e a intensidade de campo H por ela produzida não irão variar segundo uma senoide.
Como conseqüência aparecerá na corrente de magnetização, harmônicos de ordem impar, de acordo com
a análise de Fourier para funções periódicas.
2,25 2,25
2
B;φ B ou φ 2
1,75 1,75
1,5 1,5
1,25 H;Im 1,25
1 1
0,75 0,75
0,5 0,5
0,25 0,25
0 0
-0,25 0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390 -1,6 -1,2 -0,8 -0,4 -0,25 0 0,4 0,8 1,2 1,6
-0,5 -0,5
-0,75 -0,75
H ou Im
H3 ; Im3
-1 -1
-1,25 -1,25
H1 ; Im1
-1,5 -1,5
-1,75 -1,75
-2 -2
-2,25 -2,25

Fig. 4.5: Componentes da corrente Im Fig. 4.6: Curva de m agnetização B=f(H)

Na fig. 4.5 representa-se o fluxo ou a indução como uma senoide e a corrente de magnetização ou a
intensidade de campo como formada pela soma de uma componente senoidal fundamental e uma
componente harmônica de terceira ordem. Além da componente harmônica de terceira ordem aparece,
com amplitudes decrescentes, uma série de componentes harmônicas, todas de ordem impar. Para
simplificar a exposição considera-se somente a componente harmônica de terceira ordem que é a mais
importante.
Tendo-se em abscissas os valores de H, em A/m ou Im em A, e, em ordenadas as induções ou o
fluxo, resulta a curva denominada de magnetização representada na fig. 4.6.
Os valores de fluxo e de indução correspondem aos valores máximos instantâneos (valores de pico) e
os valores da corrente e da intensidade de campo são os valores eficazes. Observa-se que com o aumento
da indução, ou do fluxo, a corrente de magnetização cresce exponencialmente. Quando a indução
aumenta diminui a permeabilidade e o valor da relutância aumenta, de modo que, para o mesmo fluxo, a
corrente de magnetização deve aumentar. Em laboratório pode-se medir o fluxo ou a indução para cada

Walter Ries 20
TRANSFORMADORES

valor de corrente que circula por uma bobina. À medida que a corrente aumenta os acréscimos de indução
são sempre menores e diz-se que o núcleo esta chegando à saturação.
Muitas vezes esta curva recebe o nome de Curva de Saturação do material ferro-magnético. Os
harmônicos da corrente magnetizante podem, percentualmente, ser grandes, porém, como a corrente de
magnetização normalmente é muito pequena, da ordem de 0,2 a 0,3% da corrente de carga de um
transformador, estes harmônicos de corrente têm pouco significado na distorção harmônica total das
correntes de carga.
Para uma mesma tensão aplicada ao primário do transformador, a expressão 3.4 mostra que quanto
maior for a indução B menor pode ser o número de espiras. Portanto, para o projeto de núcleos de
transformadores utilizam-se materiais que podem operar com valores elevados de indução e com
correntes de magnetização pequenas.
A corrente de magnetização é, pois, representada pela fundamental e suas harmônicas de ordem
impar, conforme mostra a expressão 4.13. As amplitudes dos harmônicos decrescem com a ordem dos
mesmos.

im = I1 sen ωt + I 3 sen 3ωt + I 5 sen 5ωt + ......... [4.13]

4.1.2 - Corrente de perdas magnéticas


Como foi dito, as perdas magnéticas são de duas naturezas: perdas por histerese ph e perdas por
correntes parasitas ou de Foucault pF. Estas perdas são representadas, no circuito equivalente do
transformador da fig. 3.8, pela resistência Rp que está em paralelo com a reatância de magnetização Xm.
Por esta resistência circula a corrente de perdas ip que tem duas componentes: a corrente de perdas por
histerese ih e a corrente de perdas por correntes de Foucault iF. A corrente de perdas está em fase com a
tensão aplicada ao primário e portanto deve estar em avanço de 90º em relação ao fluxo φ.

2,5

2
φ ; B

1,5
im ip =ih + iF
1

0,5

0
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
-0,5
io
-1

-1,5

-2

-2,5

Fig. 4.7: Componentes da corrente de excitação io.


Na fig. 4.7pode-se ver a corrente de magnetização im deformada somente pela terceira harmônica, a
corrente de perdas ip em avanço de 90º em relação ao fluxo ϕ e a corrente de excitação io que é a soma da
corrente de magnetização e a corrente de perdas conforme mostra a expressão 4.14..

i0 = im + i p = I 1 sen ω t + I 3 sen 3ω t + I 5 sen 5ω t + ........ + I po cos ω t . [4.14]

O valor eficaz da corrente de magnetização é dado pela expressão 4.15 em função dos valores
máximos das correntes componentes. O valor eficaz da corrente de perdas é dado pela expressão 4.16 em
função do seu valor de pico, e, o valor eficaz da corrente de excitação é dado pela expressão 4.17.

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A fig. 4.8 mostra o diagrama fasorial da fig. 4.7 que é o diagrama fasorial do transformador em
vazio.

v1
I + I + I + ......... + I
2 2 2 2
Im = 1 3 5 n
[4.15]
2
θο Io
I po
Ip = [4.16] Ip
2 φ
I0 = I + I 2
m
2
p [4.17]
Im
Fig.4.8: Diagrama fasorial
do transformador em vazio
4.2 – Perdas de excitação ou perdas magnéticas
4.2.1 – Perdas por histerese
Ao se magnetizar um material ferro-magnético com valores crescentes da intensidade de campo H
até um valor máximo Hmax., obtém-se uma curva semelhante à da fig. 4.6 no primeiro quadrante. Ao se
reduzir paulatinamente a intensidade de campo H os valores das induções não coincidem com os valores
obtidos para valores crescentes de H, isto é, para os mesmos valores de H as induções são maiores e, para
H=0, a indução é maior do que zero, o que indica que o material ficou com uma magnetização remanente.
Completando o ciclo de variação da intensidade de campo desde um valor máximo positivo até o mesmo
valor máximo, porém negativo, obtém-se o que se denomina o laço de histerese do material como mostra
a fig. 4.9. Este laço de histerese é decorrente da energia necessária para orientar os domínios magnéticos
do material. As perdas por histerese são, portanto, proporcionais à área do laço de histerese. A área do
laço de histerese e, portanto, as perdas por ciclo e por unidade de volume do material são dadas pela
expressão 4.18. em que:
• ph são as perdas por histerese por kg do material (W/kg);
• γ = M/V é o peso específico do material (kg/m3);
• f é a freqüência da rede de alimentação (Hz);
• M é a massa do material (kg);
• V é o volume do material (m3)

f = Bmax
pH =
γ ∫
− Bmax
HdB (W / kg ) [4.18]

Bmax B

dB

-Hmax

Hmax
Correntes parasitas
t

-Bmax
Fig. 4.9: Laço de histerese do material Fig. 4.10: Correntes parasitas no material

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A área do laço de histerese cresce também com a freqüência, isto é, o valor da integral da expressão
4.18 cresce com a freqüência. A medida que a indução tende à saturação as perdas por histerese tendem
também à saturação, pois pouco cresce a área do laço após um elevado valor de Bmax. Tudo isto é válido
para as perdas por histerese produzidas por um fluxo pulsante como ocorre nos núcleos de
transformadores. Nas máquinas rotativas, em algumas partes do circuito magnético, as induções nos
materiais variam sob a ação de um campo girante. As perdas por histerese neste caso são diferentes
daquelas produzidas por campos pulsantes para os mesmos valores máximos de indução. Sob a ação de
campos girantes muito intensos, que levam o material à saturação, as perdas tendem a ser nulas.
Levando em conta todas estas particularidades procura-se, muitas vezes, expressar as perdas por
histerese através de uma equação mais simples e válida para uma pequena faixa de variação da
freqüência. Resulta, assim, a expressão 4.19 em que:
• kH é uma constante que depende do sistema de unidades, das características do material e
do comportamento do fluxo (pulsante ou rotativo);
• f é a freqüência da variação do fluxo (Hz);
• Bmax é a indução máxima, valor de pico (T);
• x é um expoente que varia de 0,5 a 2,3 dependendo do material e da indução máxima Bmax. B

Normalmente o valor de x varia de 1,5 a 2,00.

pH = k H ⋅ f ⋅ Bmax
x
(W / kg ) [4.19]

4.2.2 – Perdas por correntes de Foucault ou perdas parasitas


As perdas parasitas ou por correntes de Foucault pF são originadas pelas correntes que circulam no
material devido às tensões induzidas pela variação do fluxo, conforme mostra a fig. 4.10.
Estas perdas dependem da resistividade do material, da indução, da freqüência e da espessura das
chapas de ferro silício que formam o núcleo do transformador. Elas são dadas pela expressão 4.20 em
que:
• kF é um fator numérico que depende do sistema de unidades utilizado;
• t é a espessura da chapa (m):
• B é o valor eficaz da indução, portanto, é o valor máximo dividido pela raiz de 2;
• ρ é a resistividade do material (ohms-metro).

Bef2
pF = k F ⋅ f 2 ⋅ t 2 ⋅ (W / kg ) [4.20]
ρ
Como se observa pela expressão 4.20, quanto menor a espessura da chapa e maior a resistividade do
material, menores são as perdas por correntes parasitas. Portanto, os núcleos das máquinas elétricas em
que o fluxo é variável são construídos com material laminado com pequena espessura e com composição
química que resulte num material com elevada resistividade.

4.3 - Medição das perdas e corrente de excitação


No ensaio em vazio de um transformador, segundo esquema de ligações da fig. 4.11, as perdas por
histerese e por correntes parasitas são medidas em conjunto e não existe a necessidade em separá-las.
A corrente de excitação medida Io é o valor eficaz dada pela expressão 4.17. Esta corrente
normalmente é dada em percentagem da corrente nominal In conforme expressão 4.21.

I I
I0 % = 1000 0
= 100
I0 % [4.21]
[4.21]
In In

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po I0
W A
E1 V E2
G W
V A
3~
V
W A
BT AT

Fig.4.11: Esquema de ligações para o ensaio em vazio de um transformador trifásico

Tanto a corrente de excitação como as perdas em vazio são valores especificados e garantidos pelo
fabricante do transformador.
Os transformadores de transmissão e distribuição de energia elétrica normalmente ficam energizado,
com ou sem carga, durante as 24 horas do dia ou 8.760 horas do ano. A perda em vazio do transformador
é constante, independente da corrente de carga que normalmente é bastante variável durante o dia. Sob
este ponto de vista, um kW nominal de perda em vazio tem um valor maior do que 1 kW nominal de
perda sob carga. Este é um fator que deve ser levado em consideração na compra de um transformador.
O desenvolvimento de chapas magnéticas para uso na construção de máquinas elétricas reduziu
muito as perdas e a corrente de excitação destes equipamentos.
Basicamente as chapas utilizadas na construção de circuitos magnéticos em máquinas elétricas
podem ser classificadas em:
• Chapas de grão não orientado:
• Chapas de grão orientado.
As chapas de grão não orientado são normalmente laminadas a quente e possuem propriedades
magnéticas iguais em todas as direções no plano da chapa.
As chapas de grão orientado possuem propriedades magnéticas superiores no sentido de laminação.
Estas chapas são laminadas a frio que, por um processo especial de laminação e recozimentos associado a
uma composição química adequada, adquirem propriedades magnéticas acentuadamente superiores no
sentido da laminação em detrimento de suas propriedades no sentido perpendicular.
A composição química das chapas de ferro usadas na construção do circuito magnético das máquinas
elétricas é muito importante. Assim, elas não devem possuir mais do que 0,005% a 0,01% de carbono, 0,1
a 0,3% de manganês, 0,01 a 0,05% de fósforo e 0,005 a 0,02% de enxofre. A fim de aumentar a
permeabilidade magnética e diminuir as perdas, as chapas magnéticas possuem 0,5 a 4,0% de silício e se
classificam em:
• Chapas com baixo silício (0,5 a 1,5% de Si);
• Chapas com médio silício (2,0 a 3,0% de Si);
• Chapas com alto silício (> 3,0% de Si)
Segundo a AISI (American Iron and Steel Institute) as chapas de aço para emprego em circuitos
magnéticos são designadas pela letra M associada a um número. Assim, as chapas de grão orientado são
designadas por M-3 a M-10 e as de grão não orientado por M-15 a M-45. As espessuras das chapas
variam de 0,2 a 0,8 mm.
Para núcleos de transformadores de distribuição e de transmissão são usadas chapas de grão
orientado, M-3, M-4, M-5, M-6 e M-7 com espessuras de 0,3 a 0,5 mm e cobertas com uma finíssima
camada isolante de material inorgânico (2 a 3 mícron), material este que pode suportar temperaturas de
recozimento da chapa de, aproximadamente, 800º C.
Os fabricantes destas chapas fornecem todas as curvas de características magnéticas necessárias para
o cálculo das perdas e correntes de excitação. As curvas das figuras 5.6 e 5.7 dão as características
magnéticas para a chapa de grão orientado, M-5 com espessura de 0,5 mm. Nestas curvas o valor da

Walter Ries 24
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indução corresponde ao valor máximo (de pico). A intensidade de campo corresponde ao valor da
corrente de excitação Io em valor eficaz por metro.

4.4 – Impedância
4.4.1 – Impedância percentual
Quando se faz a representação do circuito equivalente do transformador sob carga, conforme fig.
4.12, a impedância interna é expressa pelo seu módulo Z, dado pela expressão 4.22, em percentagem da
impedância básica ZB que é dada pela expressão 4.23.
I1 IC1 R X

+ Io +
+
V1 Rp Ip Im Xm V1 V21 Z C1∠θ

Circuito equivalenete em vazio Circuito equivalenete sob carga

Fig. 4.12: Circuito equivalente do transformador.

Z = R2 + X 2 [4.22]
VB V2 V2
ZB = = B = B [4.23]
I B I BVB S B

Esta impedância básica do transformador ou de um “sistema” é a relação entre a tensão e a corrente


nominais (do transformador ou do sistema). Nos sistemas monofásicos VB, IB e SB são, respectivamente, a
B B

tensão básica, a corrente básica e a potência básica do sistema. Nos sistemas trifásicos é convencional se
chamar de básico os valores da tensão de linha, corrente de linha e potência trifásica nominais.
Qualquer que seja a ligação dos enrolamentos primário e secundário (delta ou estrela) de um
transformador trifásico, a representação do circuito equivalente sempre será o de uma só fase como na fig.
4.12 em que tensão, corrente e impedância são grandezas de “fase”. Não existe a necessidade de
representar o circuito equivalente em sua forma trifásica, pois é o mesmo que representar três circuitos
monofásicos iguais ligados em estrela equivalente, como mostra a fig. 4.13.
F1
I n= I B Z = R + jX
VB
Z C1∠θ
3
V n =V B
N
Z C1∠θ
Z = R + jX
F3 Z C1∠θ

F2
Z = R + jX

Fig. 4.13: Circuito equivalente trifásico do transformador sob carga.


No circuito trifásico chama-se de tensão básica a tensão de linha. Neste caso a tensão básica de fase
será a tensão básica de linha dividida por raiz de três. A impedância básica da expressão 4.23, que
corresponde à impedância de uma fase do transformador, pode ser também dada em função da tensão
básica de linha VB, conforme mostra a expressão 4.23 em que a potência básica SB é a potência básica
B B

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trifásica. Como se vê, a expressão 4.24 é igual a expressa 4.23 se a tensão básica for a tensão de linha e a
potência básica for a potência das três fases.

VB V2 V2
Z B= = B = B [4.24]
3I B 3I BVB S B
Z
Z % = 100 [4.25]
ZB

A impedância percentual do transformador é o valor da impedância interna por fase do transformador


dividido pela impedância básica dado em por cento, como mostra a expressão 4.25.
Esta impedância percentual também pode ter outras interpretações como se pode observar ao se
multiplicar o numerador e o denominador da expressão 4.25 pelo valor da corrente nominal conforme se
observa na expressão 4.26. Multiplicando o numerado e o denominador da expressão 4.25 pelo quadrado
da corrente nominal tem-se a expressão 4.27.

ZI n 100 × Queda de tensão interna


Z % = 100 = [4.26]
Z B I n Tensão básica ou nominal defase
ZI n2 ZI n2 100 × potência interna por fase
Z % = 100 2
= 100 = [4.27]
ZB In Vn I n Potência nominal do transformador por fase

Das expressões 4.26 e 4.27 se obtém duas conclusões fundamentais:


• A impedância percentual representa a percentagem da tensão nominal que deve ser aplicada
por fase no transformador em curto-circuito (ZC=0) para fazer circular pelos enrolamentos a
corrente nominal.
• A impedância percentual representa a percentagem da potência interna nominal por fase que
deve ter a fonte de alimentação para fazer circular a corrente nominal nos enrolamentos do
transformador em curto-circuito (ZC=0).
Exemplo: Qual deve ser a tensão e a potência de uma fonte para fazer circular a corrente nominal pelos
enrolamentos de um transformador com o secundário em curto-circuito, se o transformador tem uma
potência trifásica de 5.000 kVA, uma tensão primária de linha de 69 kV e uma impedância de 7%?
A tensão de linha da fonte deverá ser de 7% de 69 kV, ou seja, 4,83 kV. A potência trifásica da fonte
deverá ser de 7% de 5.000 kVA, ou seja, 350 kVA.

4.4.2 – Resistência percentual


Do mesmo modo como se definiu a impedância percentual, no parágrafo 4.4.1, pode-se definir a
resistência percentual dada pela expressão 4.28, em que ZB é a impedância básica do sistema dada pela
B

expressão 4.23. Multiplicando o numerador e denominador da expressão 4.28 por nfI2 (número de fases
vezes a corrente de carga ao quadrado) vê-se que a resistência percentual também pode ser calculada pela
expressão 4.29 em que Wc são as perdas totais nos enrolamentos e S é a potência nominal do
transformador.

R Wc
R % = 100 [4.28] R % = 100 [4.29]
ZB S

4.4.3 – Ensaio de curto-circuito do transformador


Como foi visto, a impedância do transformador refletida, por exemplo, para o primário, tem dois
componentes, um resistivo R e outro reativo X, como se pode ver na fig. 4.13. A resistência R é a soma da

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resistência do enrolamento primário e da resistência do enrolamento secundário refletida ao primário, e, a


reatância X é a soma da reatância de dispersão do primário e a reatância de dispersão do secundário
refletida ao primário. Normalmente a reatância de dispersão é muito maior do que a resistência de perdas
dos enrolamentos.
O ensaio de curto-circuito é um ensaio que normalmente é feito nos transformadores ao saírem das
linhas de fabricação com o objetivo de medir a impedância interna, determinar as perdas nos
enrolamentos e realizar o ensaio de aquecimento que permite verificar a elevação da temperatura média
das bobinas quando o transformador estiver operando com carga nominal.

curto-circuito
In
W A

V
G V W A
3~
V
W A
AT BT

Fig. 4.14: Ligações e medições para o ensaio de curto-circuito de um transformador trifásico.


O circuito da fig.4.14 apresenta o sistema de medições para a realização do ensaio de curto-circuito
de um transformador trifásico. A tensão do gerador de alimentação é ajustada para que circule pelos
enrolamentos as respectivas correntes nominais (no primário e no secundário). Se Vcc for a tensão de
linha medida pelos voltmetros, então, a impedância interna por fase, também denominada de impedância
de curto-circuito do transformador será dada pela expressão 4.30 em que In é a corrente nominal do
enrolamento de alta tensão (AT). Se a tensão básica for a tensão nominal e a potência básica for a
potência nominal transformador pode-se determinar a impedância percentual do transformador pela
expressão 4.31. Medindo as perdas nominais nos condutores pode-se determinar a resistência percentual
interna do transformador pela expressão 4.29 e, conseqüentemente, a reatância percentual de dispersão
pela expressão 4.32.

Vcc
Z= ohms [4.30]
3I n
Z S
Z % = 100 = 100 B2 Z [4.31]
ZB VB

X% = ( Z % ) − ( R% )
2 2
[4.32]

A impedância dos transformadores é uma grandeza muito importante na coordenação das proteções e
na regulação e estabilidade dos sistemas elétricos. O valor desta impedância deve ser, portanto, bem
especificado pelos usuários de transformadores e garantido pelos fabricantes destes equipamentos.
Dependendo da potência, tipo e finalidade do transformador a impedância pode variar de 1,5% a 15% ou
mais. A impedância também recebe o nome de tensão de curto-circuito e as normas brasileiras ABNT
admitem uma tolerância de ±7,5% ou de 10% sobre o valor declarado ou garantido pelo fabricante,
dependendo do tipo e do número de enrolamentos. Em casos especiais estas tolerâncias podem ser
ajustadas entre fabricante e usuário.

Walter Ries 27
TRANSFORMADORES

4.4.4 – Relação entre resistências de perdas e reatância de dispersão


Referindo-se ao circuito equivalente da fig. 3.4, vê-se que cada enrolamento tem a sua resistência e a
sua reatância de dispersão. Quando as bobinas primária e secundária são concêntricas, normalmente o
enrolamento de menor tensão (BT) é o interno, por motivos de isolamento como se mostra na fig. 4.15.
Esta figura representa um corte, à direita da linha de centro que passa no meio de uma coluna do núcleo,
de duas bobinas concêntricas de um transformador monofásico ou de uma fase de um transformador
trifásico. Pode-se identificar as culatras, superior e inferior, a coluna central sobre a qual estão montadas
as bobinas, as secções das bobinas de alta tensão (AT) e de baixa tensão (BT) e o sentido de circulação do
óleo isolante e refrigerante quando o transformador está carregado e produzindo perdas nas resistências
dos enrolamentos primário e secundário. No interior dos contornos da AT e da BT têm-se as secções de
cobre dos condutores e seus isolamentos, normalmente, de papel especialmente tratado a fim de
apresentar boas características de isolamento, especialmente quando impregnados por óleo mineral para
transformadores.

Culatra superior Culatra superior

BT AT BT AT Fluxo de dispersão
Coluna do núcleo

Coluna do núcleo
circulação óleo

Culatra inferior Culatra inferior

Fig. 4.15: Bobinas concêntricas e refrigeração Fig. 4.16: Bobinas concêntricas e fluxo de dispersão
A fig. 4.22 mostra as linhas de fluxo de dispersão produzidas pelas correntes primária e secundária.
Nota-se que as linhas são paralelas no espaço entre as bobinas de BT e de AT, porém, nas cabeceiras, as
linhas tendem a se dispersar. Existem também linhas de fluxo de dispersão que atravessam as bobinas de
AT e BT no sentido axial. A densidade de fluxo de dispersão na BT é nula no início de sua espessura
radial e aumenta linearmente até um valor máximo no final de sua espessura, permanece constante no
espaço entre a BT e AT e passa a decrescer, também linearmente, no sentido radial da AT até atingir um
valor nulo.
Normalmente se procura trabalhar com o mesmo valor de densidade de corrente nos enrolamentos de
AT e BT. Isto resulta em se ter perdas muito semelhantes nos enrolamentos primário e secundário. A
circulação do óleo entre as bobinas e o núcleo tem uma dupla função: isolar e refrigerar. Sob o ponto de
vista de refrigeração, a bobina externa é mais bem atendida, mas como tem uma espessura maior de
isolamento de papel por ser a bobina de AT, ela tende a ter uma elevação de temperatura em relação ao
óleo igual ao da bobina interna que possui uma espessura de isolamento de papel menor. Isto nos leva a
concluir que as elevações de temperaturas dos condutores das bobinas de AT e BT, em relação ao óleo
são, aproximadamente, iguais e que as perdas também são, aproximadamente iguais, o que permite
escrever as expressões 4.33 e 4.34 em que a é a relação de transformação.

I12 R1 ≅ I 22 R2 [4.33]
2
R1 I
≅ = a22
2
[4.34]
R2 I 1

Quanto às reatâncias de dispersão do primário e do secundário pode-se chegar também a uma


conclusão semelhante. Observando-se a fig. 4.16 vê-se que os fluxos de dispersão do primário e do
secundário percorrem trajetórias iguais e, portanto, de igual permeância magnética P. Pode-se, portanto
escrever as expressões 4.35 e 4.36 para as indutâncias de dispersão do primário e do secundário em
função do número de espiras e da permeância do circuito magnético percorrido pelo fluxo de dispersão.

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TRANSFORMADORES

N12
L1 = = N12℘ [4.35]

N2
L2 = 2 = N 22℘ [4.36]

L1 N12 ω L1 X 1 R1
= 2 = a2= = ≅ [4.37]
L2 N 2 ω L2 X 2 R2

A expressão 4.37 conclui que as resistências dos enrolamentos são aproximadamente proporcionais
às reatâncias de dispersão ou ainda, as resistências e reatâncias do secundário transferidas ao primário são
aproximadamente iguais às resistências e reatâncias do primário. Ao se medir, portanto, a impedância
interna de um transformar, em percentagem, pode-se afirmar que a cada um dos enrolamentos
corresponde, aproximadamente, a metade deste valor.

4. 5 – Regulação da tensão
Devido à queda de tensão na impedância interna do transformador a tensão secundária varia quando a
carga é variável permanecendo a tensão primária aplicada constante.

I1 = Ic1 = I2 1 R X

+
+
V1 V21 Z C1∠θ

Fig.: 4.17: Circuito equivalente do transformador sob carga


A Fig.4.17 mostra, uma vez mais, o circuito equivalente do transformador sob carga desprezando-se
o circuito de excitação e tendo todos os parâmetros do secundário refletidos para o primário,
desaparecendo o transformador ideal. A tensão V21 é, portanto, a tensão aplicada à carga, no secundário,
refletida ao primário. A corrente do secundário refletida ao primário é I21 e, portanto igual á corrente do
primário I1.
A carga total alimentada pelo transformador é representada pelo módulo de sua Impedância Zc1
refletida ao primário e pelo ângulo de fase θ. Se o ângulo de fase é zero a carga é ôhmica, se for positivo
a carga é capacitiva, se for negativo a carga é indutiva. Na figura 4.18 está representado o diagrama
fasorial para uma carga indutiva em que a corrente de carga está atrasada em relação à tensão aplicada à
carga. Na figura 4.19 representa-se o diagrama fasorial para uma carga capacitiva em que a corrente de
carga está avançada em relação à tensão aplicada à carga.
C
V1
F
D
O A
V21
IX
θc1 IR
θ1 B I1 = I2 1
F
V1
IX
I1 = I2 1
θc1 B
D
θ1 V21
O IR
C A
Fig. 4.18: Diagrama fasorial para carga indutiva Fig. 4.19: Diagrama fasorial para carga capacitiva

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Pode-se observar que quando a carga é indutiva a tensão aplicada à carga é menor do que a tensão
aplicada no primário do transformador. Quando a carga é capacitiva a tensão aplicada à carga aumenta
podendo ser igual ou mesmo superior à tensão aplicada no primário.
A regulação de tensão de um transformador é definida como sendo a variação percentual ou per unit
da tensão primária para manter a tensão secundária constante e igual à tensão em vazio, quando a carga
varia de zero até a plena carga. A expressão 4.38 define a “regulação de tensão” do transformador.

V1 − V21 V1
Re g 0 /1 = = −1 [4.38]
V21 V21

Da fig. 4.18 se obtém a expressão 4.39 ou a expressão 4.40 . De maneira idêntica, obtém-se da fig.
4.19 as expressões 4.41 e 4.42.

( OD + DC ) + ( CB + BF ) = ( OF )
2 2 2
[4.39]
(V21 cos θc1 + I1 R ) + (V21senθc1 + I1 X )2 = V12
2
[4.40]
( OD + DC ) + ( CB − BF ) = ( OF )
2 2 2
[4.41]
(V21 cos θc1 + I1 R ) + (V21senθc1 − I1 X )2 = V12
2
[4.42]

A tensão secundária aplicada à carga refletida para o primário é tomada como referência. Deste
modo pode-se definir os valores unitários dados pelas expressões 4.43, 4.44, 4.45. As expressões 4.46 e
4.47 traduzem o co-seno e o seno do ângulo de fase da carga por meio de uma simples letra. A letra p
sugere potência ativa e a letra q sugere potência reativa.

V1
v1 = [4.43]
V21
I1 R
r= [4.44]
V21
I1 X
x= [4.45]
V21
p = cos θ c1 [4.46]
q = senθ c1 [4.47]

Substituindo estes valores unitários nas expressões 4.40 e 4.42, resultam as expressões 4.48 e 4.49,
respectivamente para cargas indutivas e cargas capacitivas.

v12 = ( p + r ) + ( q + x )2
2
[4.48]
v12 = ( p + r ) + ( q − x )2
2
[4.49]

A regulação de tensão do transformador, definida pela expressão 4.38 será, pois, dada pelas
expressões 4.50 e 4.51, respectivamente para cargas indutiva e capacitiva.

Re g 0 /1 = v1 − 1 = ( p + r ) + (q + x) −1
2 2
[4.50]

Re g 0 /1 = v1 − 1 = ( p + r ) + (q − x) −1
2 2
[4.51]

Walter Ries 30
TRANSFORMADORES

Uma expressão muito aproximada para a regulação se obtém do diagrama fasorial da fig. 4.20 em
que todos os fasores já estão referidos à tensão de referência v21. Se a tensão aplicada v1 se mantém
constante, a tensão v21 irá variar, porém v1 em relação a v21 vai descrever um circulo, como se vê na fig.
4.20. Assim, pode-se escrever, para a expressão da regulação dada pela expressão 4.38, a expressão 4.52
em que NM tem um valor muito pequeno de modo que se pode dizer que GN = 2v1. De uma
propriedade do triângulo retângulo GMF obtém-se o valor para FN = px – qr e, conseqüentemente, o
valor de NM que substituído na expressão 4.52 resulta na expressão geral 4.54 que dá a regulação para
uma carga indutiva e capacitiva. O sinal do terceiro membro, entre parênteses, da expressão 4.54 é
negativo para uma carga indutiva e positiva para uma carga capacitiva.

v1 F

x
G θ1 θc1 v 21=1
O A NM
r B
I 1 = I 21
D
C
Fig. 4.20: Diagrama fasorial com valores unitários

Reg 0 /1 = v1 − 1 = pr + qr + NM [4.52]
GN i NM = ( FN )
2
propriedade do triângulo GFM
GN ≅ 2v1 por ser NM muito pequeno
2v1 i NM = ( FN ) = ( px − qr )
2 2
[4.53]

( px ∓ qr )
2

Re g 0 /1 = pr + qx + [4.54]
2

A queda de tensão r na resistência interna dos transformadores é, normalmente, de 8 a 20 vezes


menor do que a queda de tensão x na reatância de dispersão.
As quedas de tensão r e x são funções lineares da carga no transformador. Para cada estado de carga,
de 0% a 100%, a regulação pode ser calculada pelas expressões 4.50 e 4.51 ou pela expressão 4.54.
Se a regulação de tensão de um transformador for muito alta ou, se a tensão primária aplicada tiver
uma variação muito elevada, pode-se instalar no enrolamento primário ou no enrolamento secundário um
comutador que varie o número de espiras deste enrolamento de modo a compensar a queda ou elevação
da tensão secundária. Esta comutação pode ser feita com o transformador desenergizado ou com o
transformador energizado. No primeiro caso a comutação se denomina de comutação em vazio (com
comutador em vazio) e no segundo caso de comutação sob carga (com comutador sob carga). A
comutação sob carga costuma ser automática, isto é, sempre que a tensão aplicada à carga variar além de
um determinado percentual, realiza-se, automaticamente a comutação de espiras para corrigir a tensão.
Naturalmente, o custo de um comutador sob carga é muito maior do que o de um comutador em vazio.
Exemplo de cálculo da regulação de um transformador: calcular a regulação de um transformador
com 70% de carga, sendo x 0/1 = 0,1 e r 0/1 = 0,01 para uma carga indutiva com fator de potência igual a
0,8.
Os valores em per unit de r e x correspondem a um transformador carregado com sua potência
nominal, isto é, com 100% de carga. Assim, os valores de r e x para 70% de carga são os valores a 100%
multiplicados por 0,7. para p = 0,8 tem-se q = 0,6.

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⎛ ( 0,8 ⋅ 0, 07 − 0, 6 ⋅ 0, 007 ) ⎞
2

Reg % = 100 ⎜ 0,8 ⋅ 0, 007 − 0, 6 ⋅ 0, 07 + ⎟ = 4,89%


⎜ 2 ⎟
⎝ ⎠

4. 6 – Rendimento do transformador
Qualquer que seja a máquina, o seu rendimento é dado pela expressão 4.55.

Potência de saída P Ps P − perdas


η= = s = = e [4.55]
Potência de entrada Pe Ps + perdas Pe

Conforme visto, as perdas são de duas origens:


• WFe = perdas devidas à corrente de excitação ou perdas ferro
• Wc = perdas nos condutores devidas à corrente de carga.
As perdas de excitação permanecem constantes quando varia a carga no transformador, ao passo que
as perdas no condutor variam com o quadrado da corrente de carga.
A relação entre a potência aparente de carga S num determinado instante e a potência aparente
nominal de carga SN do transformador denomina-se Fator de Carga Fc dado pela expressão 4.56 em que
nf é o número de fases, VN é a tensão nominal de fase, IN é a corrente nominal de carga por fase e I a
corrente de carga no instante considerado.

S nV I I
Fc = = f N = [4.56]
S N n f VN I N I N
I = Fc I N [4.57]

A potência de saída do transformador, refletida ao primário, é a potência entregue à carga e é dada


pela expressão 4.58 em que cos θc é o fator de potência da carga.

Ps = S c cos θ c = Fc S N cos θ c [4.58]


Wc = I 2 R = Fc2 I N2 R = Fc2WcN [4.59]

As perdas nos condutores são dadas pela expressão 4.59 em que WcN são as perdas nominais nos
condutores.
Deste modo, pode-se escrever o rendimento de um transformador sob carga variável e com o fator de
potência na carga constante, através da expressão 4.60, onde Ps é dado pela expressão 4.58, Wc pela
expressão 4.59 e WFe são as perdas de excitação que são constantes quando a carga varia.

Ps Fc S N cos θ c
η= = [4.60]
Ps + WFe + Wc Fc S N cos θ c + Fc2WcN + WFe

Derivando a função η = f(Fc) e igualando a zero determina-se a condição de rendimento máximo que
se verifica quando as perdas constantes são iguais as perdas variáveis, isto é: quando WFe = Wc. O valor
do fator de carga para rendimento máximo é, assim, dado pela expressão 4.61.

WFe
Fc = [4.61]
WcN

O rendimento de um transformador sob carga nominal é sempre muito alto, normalmente acima de
99%. Para transformadores de altas potências, perdas ferro da ordem de 0,1% e perdas nos condutores da

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ordem de 0,4%, ou menores, são normais. A fig. 4.22 foi construída com perdas exageradas (7% sob
plena carga). A tabela da Fig. 4.21 dá uma idéia do valor do rendimento de transformadores em função da
potência.

KVA 1 5 10 50 500 10.000 50.000


Rend. % 92 95 95,5 97 98 99 99,5

Fig. 4.21: Rendimentos de transformadores

η
0,9 0,06

0,8
Rendimento em per unit

perdas em per unit


0,7

0,6
Wc 0,04

0,5
0,4
Wf e 0,02
0,3

0,2
0,1

0 0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

Fator de carga em per unit

Fig. 4.22: Curvas do rendimento, das perdas no ferro e das perdas nos condutores

Walter Ries 33
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5 – CÁLCULO DA CORRENTE DE EXCITAÇÃO E DAS PERDAS EM VAZIO


O ponto de partida para o cálculo da corrente de excitação é a fixação da indução máxima B admitida
para a chapa magnética que é utilizada na construção do núcleo do transformador. Esta indução é
escolhida nas proximidades do joelho da curva de magnetização H = f(B) ou B = f(H) de modo que a
corrente de excitação não ultrapasse o valor especificado para o transformador. Está claro que este cálculo
é iterativo, pois a corrente de excitação e a indução são funções uma da outra e um bom projeto procura
sempre encontrar um valor para a indução que resulta em um valor da corrente de excitação tão próximo
quanto possível do valor desejável. Os fabricantes de chapa para construção de núcleos dão as induções
em função da intensidade de campo eficaz, isto é, em função dos ampère-espiras por metro referentes à
corrente de excitação Io eficaz. A indução, no entanto, se refere ao valor máximo (de pico).
Dado o valor da indução B determina-se, na curva de excitação, o valor da intensidade de campo H
em A/m eficazes. A fmm em ampère-espiras (AE) necessária para fazer circular um fluxo com densidade
de campo igual à indução B num circuito magnético de secção constante igual a Afe e comprimento lfe
será dado pela expressão 5.1, em que a corrente Io é a corrente eficaz da corrente de excitação que é a
soma fasorial da corrente eficaz de magnetização e da corrente eficaz de perdas. O valor eficaz, em
módulo, da corrente eficaz de excitação é dado pela expressão 4.17.

B l fe
fmm = N1 I 0 = Hl fe = l fe = φ ( AE ) [5.1]
μ μ Afe

Para obter o valor da corrente de excitação através da expressão 5.1 é necessário conhecer o número
de espiras do enrolamento primário e o comprimento médio do núcleo de ferro. O número de espiras do
primário é obtido da expressão 3.4 resultando a expressão 5.2 em que a tensão induzida no primário é
igual à tensão aplicada admitindo válido o circuito equivalente simplificado do transformador mostrado
na fig. 3.4
E1 V1
N1 = = [5.2]
4, 44 fBAfe 4, 44 fBAfe

O número de espiras dado pela expressão 5.2 deve ser um número inteiro, pois não existe uma fração
de espira, a menos que se faça um furo no núcleo para se ter uma espira com uma secção fracionária da
secção do núcleo, o que não constitui uma solução recomendável nem necessária para este caso. Assim, o
número de espiras do primário é o número inteiro mais próximo do valor dado pela expressão 5.2. Como
conseqüência, deve-se ajustar na expressão 5.2 o valor da indução B ou da secção Afe. Via de regra, se o
número de espiras do primário é um número inteiro, resulta para o secundário um número não inteiro de
espiras, porquanto as relações entre tensões induzidas e número de espiras devem satisfazer a expressão
3.6. Como o número de espiras do secundário também deve ser um número inteiro, resultará um erro na
relação de transformação que deveria ser a relação entre as tensões primária e secundária induzidas. Ester
erro não poderá ser maior do que 0,5% conforme Norma???? Se este erro for maior, deve-s ajustar o valor
da indução e/ou da secção do núcleo (expressão 5.2).
O cálculo da corrente eficaz de excitação utilizando a expressão 5.1, em que lfe é o comprimento
médio do núcleo, tem uma série de dificuldades. Em primeiro lugar, o que é comprimento médio do
núcleo, por fase, para um transformador trifásico tipo núcleo, conforme fig. 3.13? Em segundo lugar,
quando se usa uma chapa magnética de grão orientado, pode existir uma parte do núcleo em que a direção
do fluxo não coincide com a orientação dos grãos da chapa. Estas partes do núcleo terão uma menor
permeabilidade magnética consumindo uma maior fmm por metro (H) para fazer circular o fluxo
magnético.
Na fig. 5.1 tem-se um núcleo monofásico em que o corte das chapas é feito a 90º em relação à
orientação dos grãos. A fim de reduzir o efeito do pequeno entreferro que resulta na formação de uma
camada de chapas componentes, tipos 1 e 2, as diversas camadas são colocadas de modo alternativo como
mostram as duas camadas da fig. 5.1. Deste modo, além de diminuir o efeito do entreferro, o núcleo
torna-se, após a prensagem das culatras, uma peça única podendo ser levando pela culatra superior sem se
desmantelar. A secção do núcleo é construída em degraus, como mostra a fig. 5.2, aproximando-se da
secção circular, tanto mais quanto maior for o número de degraus.

Walter Ries 34
TRANSFORMADORES

2 50% desta zona está


com grãos a 90º

1
lfe 1 φ Juntas com
pequeno entreferro.

Fig. 5.1: Núcleo monofásico com corte de chapa a 90º

l4 l3 l2 l1

Fig. 5.2: Secção do núcleo, colunas e culatras.

Na fig. 5.3 tem-se um núcleo trifásico com as chapas cortadas a 90º que, montadas em camadas,
alternando as junções, apresenta, depois de prensado, a mesma rigidez construtiva como acima citada para
o núcleo monofásico. Uma camada do núcleo é montada com três comprimentos de chapa.
Vê-se que, nos cantos dos núcleos e, inclusive, no centro das culatras dos núcleos trifásicos, o fluxo
percorre as chapas em sentido diferente da orientação dos grãos em, aproximadamente, metade da massa
destas zonas como mostra o detalhe da fig. 5.1.

3 2 2

1 1 1
1 1 1

2 2 3
Fig. 5.3: Núcleo trifásico com corte das chapas a 90º

Para contornar o problema de se ter grandes massas de material com o fluxo orientado no sentido
perpendicular à orientação dos grãos, nada mais lógico do que cortar a 45º as chapas que compõem o
núcleo de modo que o fluxo percorra sempre o circuito no sentido da orientação dos grãos, como pode ser
visto na fig. 5.4. Para evitar um pequeno entreferro contínuo nas junções das chapas elas são montadas
com um pequeno deslizamento cíclico, alternando o sentido deste deslizamento nas sucessivas camadas
de chapa do núcleo como mostra a fig. 5.4. Um pequeno entreferro contínuo representaria uma relutância
magnética muito grande aumentado muito a fmm de excitação e, portanto, a corrente de excitação do
transformador.

Walter Ries 35
TRANSFORMADORES

O núcleo trifásico da fig. 5.4 é montado com 4 tipos de chapas por camada. Os dois desenhos desta
figura representam duas camadas sucessivas da montagem do núcleo. Os pequenos deslizamentos, de 10 a
15 mm, das chapas são suficientes para descaracterizar um entreferro contínuo nos pontos de junção e,
após a prensagem das culatras, garantem uma boa rigidez mecânica do núcleo. As duas camadas
sucessivas representadas na fig. 5.4 mostram bem como se alternam as 4 partes componentes de uma
camada. A fig. 5.5 mostra duas camadas superpostas. Este tipo de corte e montagem das chapas diminui
muito o peso das zonas de transição do fluxo, isto é, das zonas em que o fluxo não está alinhado com os
grãos orientados das chapas.

2 3

1 4 1

3 2

Fig. 5.4: Núcleo trifásico com corte da chapa a 45 º

Fig. 5.5: Montagem de duas camadas do núcleo trifásico com corte da chapa a 45 º

O cálculo da corrente de excitação bem como o cálculo das perdas nos núcleos dos transformadores
deve ser feito considerando, separadamente, as zonas em que o fluxo se alinha com a orientação dos grãos
e as zonas de transição em que o fluxo fica perpendicular à orientação dos grãos. Neste caso, utilizam-se,
com grande vantagem, as curvas de magnetização que dão o valor de volt-ampère/kg e de watt/kg do
material em função da indução B, conforme mostram as figuras 5.6 e 5.7. As curvas da fig. 5.6 se referem
ao fluxo percorrendo o circuito magnético no sentido da orientação do grãos e a fig. 5.7 quando o fluxo
percorre o circuito no sentido perpendicular à orientação do grãos.

Walter Ries 36
TRANSFORMADORES

1,9
1,7 W/kg
1,5
1,3 VA/kg
B (T)

1,1 A/m
0,9
0,7
0,5
0,3
0,1 1 10 100 1000
W/kg VA/kg A/m 0º 60Hz

Fig. 5.6: Características magnéticas da chapa de ferro-silício de grão orientado com espessura de 0,5 mm,
quando o fluxo tem a direção da orientação do grão.

1,9
1,7 W/kg VA/kg
1,5
1,3
B (T)

A/m
1,1
0,9

0,7
0,5
0,3
1 10 100 1000
W/kg VA/kg A/m 90º 60Hz

Fig. 5.7: Características magnéticas da chapa de ferro-silício de grão orientado com espessura de 0,5 mm,
quando o fluxo e a orientação do grão estão em quadratura.

As curvas VA/kg e W/kg em função de B são derivadas das curvas que dão a intensidade de campo
eficaz H em função da indução. Se E é a tensão induzida no primário ou no secundário com N espiras, a
potência aparente por fase é dada pela expressão 5.3 de onde se deduz que a fmm de excitação será dada
pela expressão 5.4 onde H é a intensidade de campo eficaz de excitação e lfe é o comprimento médio
equivalente do núcleo por fase.

Walter Ries 37
TRANSFORMADORES

EI 0 = 4, 44 BAfe fNI 0 [5.3]


EI 0
NI 0 = = Hl fe [5.4]
4, 44 BAfe f
M = Afel feγ n f [5.5]
n f EI 0 ⎛ VA ⎞ 4, 44 f
=⎜ ⎟= BH [5.6]
M ⎝ kg ⎠ γ

Outrossim, a massa do núcleo de ferro é dada pela expressão 5.5 em que:


• M é a massa em kg
• γ é a massa específica do material em kg/m3
• nf é o número de fases do transformador
• Afe é a secção do núcleo em m3

Das expressões 5.4 e 5.5 obtém-se a expressão 5.6 onde se vê que o valor da potência aparente por kg
do núcleo é proporcional ao produto da indução pela intensidade de campo, pois 4,44f/γ é uma
constante. Então, para um valor B de indução corresponde um único valor de H para a intensidade de
campo magnético de excitação e um único valor para VA/kg. Portanto, a curva fornecida pelo fabricante
da chapa que dá VA/kg em função da indução B permite determinar a corrente de excitação através da
expressão 5.7 conhecendo a massa total do núcleo em kg e a tensão aplicada E em vazio.

I0 =
(VA / kg ) M [5.7]
nf E
De um modo geral, a maior parte do material do núcleo está com o fluxo orientado no sentido dos
grãos, porém, parte do material está em quadratura. As curvas VA/kg = f(B) são essencialmente
importantes para o cálculo da corrente de excitação para estes casos. Os fabricantes de chapas magnéticas
também fornecem a curva VA/kg = f(B) para o caso em que a orientação do fluxo está a 90º em relação à
orientação dos grãos. Nestes casos a corrente de excitação é calculada pela expressão 5.8 em que:
• (VA/kg)0 é o valor correspondente à indução B quando o material é percorrido
por um fluxo cura orientação coincide com a orientação dos grãos.
• (VA/kg)90º é o valor correspondente à indução B quando o material é percorrido
por um fluxo orientado a 90º em relação à orientação dos grãos.
• M0 é a massa de material percorrido com fluxo coincidente com a orientação
dos grãos.
• M90 é a massa de material percorrido com fluxo em quadratura com os grãos.

(VA / kg )0 M 0 + (VA / kg )90 M 90


I0 = [5.8]
nf E
p0 = (W / kg )0 M 0 + (W / kg )90 M 90 [5.9]

Walter Ries 38
TRANSFORMADORES

Conforme se vê nas expressões 4.19 e 4.20 as perdas no material que forma o núcleo dos
transformadores é uma função da indução B. Portanto, o fabricante da chapa magnética também fornece
as curvas das perdas por kg em função da indução, tanto para material com grãos orientados no sentido do
fluxo magnético como para material com grãos a 90º do sentido do fluxo.
As perdas de excitação do núcleo são, portanto, dadas pela expressão 5.9 em que:

• (W/kg)0 é o valor correspondente ao material com grãos orientados no sentido do fluxo


magnético.

• (W/kg)90 é o valor correspondente ao material com grãos orientados em 90º com o sentido do
fluxo.

Segundo normas de ensaio de transformadores, a corrente de excitação não deve exceder a 20% do
valor constante em proposta do fabricante, quando se trata do fornecimento de um único transformador.
Se 2 ou mais transformadores iguais estão sendo fornecidos numa mesma encomenda, a média das
correntes de excitação de todo o lote não deve exceder ao valor proposto pelo fabricante.
No que se refere às perdas em vazio do transformador, as normas especificam uma tolerância
máxima de 10% a mais.
A fixação dos valores garantidos para a corrente de excitação e para as perdas em vazio decorre de
fatores econômicos. Na análise econômica do custo do transformador as perdas no ferro bem com as
demais perdas são levadas em consideração. Um quilowatt hora de perdas custa ao usuário do
transformador um determinado valor durante o tempo de vida do transformador ou durante o tempo que
leva para que o investimento feito na compra retorne. Os custos das perdas é somado ao custo do
equipamento quando as propostas de diversos fornecedores são comparadas.
Finalmente, a corrente de excitação percentual dada pela expressão 4.21 pode ser dada também
pela expressão 5.10.

(VA / kg )0 M 0 + (VA / kg )90 M 90


I 0 % = 100 [5.10]
Potência Nominal

Walter Ries 39
TRANSFORMADORES

6 – CÁLCULO DAS PERDAS DEVIDAS ÀS CORRENTES DE CARGA


As perdas provocam o aquecimento das diversas partes do transformador: núcleo, enrolamentos e
óleo quando a parte ativa (núcleo e enrolamentos) está imersa em óleo.
As normas brasileiras da ABNT especificam os métodos de medida da temperatura nos enrolamentos
e óleo bem como as elevações máximas de temperatura permitidas para cada classe de material isolante
empregado.
A grande maioria dos transformadores de força e de distribuição possui a sua parte ativa imersa em
óleo (mineral ou sintético) que proporciona um elevado isolamento entre as partes construtivas e é, ao
mesmo tempo, um ótimo elemento refrigerante e condutor do calor gerado pelas perdas. Nos
transformadores com parte ativa imersa em óleo o material isolante utilizado é normalmente de classe A
(papel, papelão, tecido de algodão, etc.) cuja temperatura máxima de trabalho especificada é de 105 ºC.
Na fig. 6.1 tem-se um exemplo de transformador imerso em óleo mineral cuja refrigeração é feita por
tubos pelo qual circula o óleo por efeito termo-sifão, isto é, o óleo aquece com as perdas, sobe ao longo
dos enrolamentos e desce pelos tubos resfriando-se. O nível de óleo no interior é mantido um pouco
acima dos furos superiores pelos quais passa o óleo. O transformador é hermeticamente fechado
mantendo uma camada de ar superior para absorver a dilatação do óleo com o calor.

Fig. 6.1: Transformador trifásico de distribuição, sem conservador de óleo

Na fig. 6.2 tem-se um transformador com conservador de óleo em que o nível de óleo no conservador
varia de acordo com a dilatação do óleo pelo aquecimento devido às perdas. Quando esfria o óleo se
contrai e o nível no conservador abaixa “respirando” ar do exterior através de uma câmera que contem
material que absorve a umidade (sílica gel) evitando, assim, a contaminação do óleo. No interior da caixa
do transformador o óleo aquecido sobe retornando para a parte de baixo através dos tubos de refrigeração
que dissipam o calor para o ar externo.
Na fig. 6.3 vê-se também um transformador com conservador de óleo mas a refrigeração é realizada
através de trocadores de calo óleo-água e utilizando uma bomba para forçar a circulação do óleo no
interior da caixa. Esta circulação de óleo no interior da caixa é sempre de baixo para cima, portanto, no
mesmo sentido de uma circulação por efeito termo-sifão.
Para a classe A de isolamento, as elevações máximas de temperatura do líquido isolante (óleo) e dos
enrolamentos são as seguintes:
a) Para transformadores sem conservador de óleo conforme fig. 6.1.
Líquido isolante Δθmáx. = 50ºC
Enrolamentos Δθmáx. = 55ºC

Walter Ries 40
TRANSFORMADORES

b) Para transformadores com conservador de óleo conforme figuras 6.2 e 6.3.


Líquido isolante Δθmáx. = 55ºC
Enrolamentos Δθmáx. = 55ºC
A temperatura ambiente de referência é de 40ºC para transformadores refrigerados a ar externamente,
como nas figuras 6.1 e 6.3. Para transformadores refrigerados com água através de trocadores de calor
água-óleo a temperatura ambiente de referência é de 30ºC,

Fig. 6.2: Transformador trifásico com conservador de óleo

Fig.6.3: Transformador trifásico com conservador de óleo e trocador de calor óleo-água


A temperatura do líquido isolante é medida mediante termômetro cujo bulbo é mergulhado cerca de 5
cm no óleo na parte superior do tanque. Esta temperatura se denomina de temperatura de óleo de topo. A
temperatura do óleo no topo é a mais elevada e no fundo é a mais baixa. Esta diferença de temperatura
que chega a valores de 20 a 30ºC é conseqüência da circulação natural do óleo no interior do tanque por
efeito termo-sifão. O óleo aquecido sobe “lambendo” os enrolamentos e o núcleo e desce através dos
radiadores (tubos externos, radiadores em chapa estampada em forma de favos, etc.) ou é forçado a
circular pelos trocadores de calor água-óleo como mostra a fig. 6.3.
As temperaturas dos enrolamentos são medidas pelo método da variação de resistência ôhmica das
bobinas. As bobinas não possuem a mesma temperatura no sentido vertical, sendo mais baixa na

Walter Ries 41
TRANSFORMADORES

cabeceira inferior e mais alta na cabeceira superior, acompanhando a temperatura do óleo envolvente.
Portanto, a temperatura medida pelo método da variação de resistência ôhmica fornece um valor médio
da temperatura da bobina. A temperatura mais elevada das bobinas está, normalmente, na parte superior e
as normas especificam que a elevação de temperatura no ponto mais quente não deve ultrapassar de 65 ºC
em relação à temperatura do ambiente. Para uma temperatura ambiente de 40ºC a temperatura máxima no
ponto mais quente não pode, portanto, ultrapassar de 105ºC que corresponde a classe A dos materiais
empregados na construção de transformadores imersos em óleo.
As perdas nos transformadores são constituídas por:
1. Perdas no núcleo e perdas de excitação, já analisadas no parágrafo 4.2;
2. Perdas joule nos enrolamentos produzidas pelas correntes de carga e que, por sua vez se dividem,
para efeito de cálculo, em:,
• Perdas ôhmicas,
• Perdas parasitas,
• Perdas por circulação de corrente em condutores paralelos.
3. Perdas parasitas por fluxo de dispersão.
As maiores perdas são as perdas joule nos enrolamentos, em segundo lugar têm-se as perdas no
núcleo e, por fim, aparecem as perdas por fluxo disperso.
As perdas ôhmicas nos enrolamentos são aquelas equivalentes às produzidas por uma corrente
contínua com valor igual ao valor eficaz da corrente alternada. No entanto, sabe-se que, ao circular por
um condutor uma corrente alternada, o próprio fluxo gerado pela corrente induz tensões e correntes
parasitas que aumentam as perdas joule neste condutor. Estas perdas parasitas dependem, entre outras
causas, da configuração do fluxo que as produz e são calculadas separadamente para os diferentes
enrolamentos do transformador.
As perdas por circulação de corrente podem ocorrer sempre que se têm condutores em paralelo que,
por construção, ficam com comprimentos diferentes. Estas perdas são praticamente anuladas com a
realização das transposições dos condutores em paralelo de modo a torná-los iguais em comprimento.
As perdas parasitas produzidas por fluxos dispersos gerados pela própria corrente de carga são
difíceis de serem anulados e de serem calculados com certa precisão. Estas perdas são pequenas e muitas
vezes podem ser desprezadas, desde que se tomem os necessários cuidados construtivos.
As normas de fornecimento de transformadores estipulam uma tolerância para as perdas garantidas
pelo fabricante. Assim, a norma da ABNT estipula uma tolerância de 10% para as perdas no núcleo e de
6% para as perdas totais. Estas tolerâncias devem cobrir todas as dificuldades de cálculo.
São as elevações de temperatura dos enrolamentos e do líquido isolante que limitam as potências dos
transformadores em operação.
6.1 – Perdas ôhmicas nos enrolamentos (Wo)
As perdas ôhmicas nos enrolamentos são calculadas pela expressão 6.1 em que “Rcc” é a resistência
ôhmica do condutor do enrolamento medido com corrente contínua. A resistência “Rcc” é dada pela
expressão 6.2 em função de
• “ρ ” que é a resistividade do material condutor, em ohm-metro (Ωm),
• “l” que é o comprimento do condutor em metros e
• “s” que é a secção do condutor em m2.

W0 = I 2 Rcc watts (W ) [6.1]


l
Rcc = ρ ohms ( Ω ) [6.2]
s
As perdas nos enrolamentos são sempre dadas a uma temperatura de referência em função da classe
de temperatura dos materiais isolantes empregados. A fig. 6.4 mostra as classes de temperatura dos
materiais isolantes e as temperaturas de referência das perdas nos transformadores.

Walter Ries 42
TRANSFORMADORES

Classe Temper.
Temper.
referência
ºC ºC
A 105 75
B 130 75
F 155 115
H 180 115
Fig. 6.4: Classe de isolamento dos materiais e
temperatura de referência das perdas

Os materiais condutores normalmente utilizados na construção dos enrolamentos são o cobre e o


alumínio que apresentam boas propriedades elétricas como condutores de eletricidade conjugadas com os
seus preços. Sendo “d” a densidade de corrente no condutor dada pela expressão 6.3, “Pc” o peso do
condutor dado pela expressão 6.4 em que “γc” é o peso especifico do material, pode-se escrever a
expressão 6.5 derivada da expressão 6.1.

d=
I
s
( A / m2 ) [6.3] Pc = l ⋅ s ⋅ γ c ( kg )
f [6.4]

ρ 2
W0 = ρ ⋅ d 2 ⋅ l ⋅ s = ⋅ d ⋅ Pc (W ) [6.5]
γc
Na expressão 6.5 a resistividade deve ser dada para a temperatura de referência que, para a classe A
de temperatura, é de 75 ºC.
A resistividade “ρ” do material corresponde, no sistema MKS, à resistência de um material com o
comprimento de 1 metro e seção de 1 m², isto é, à resistência, em “Ohms-metro”, entre as faces opostas
de um cubo de 1 m³. A unidade “Ohm-metro” é muito grande. Normalmente a resistividade é dada em
“micro Ohm-metro” (μΩm) ou em “Ohms-milímetro ao quadrado por metro” (Ωmm²/m), isto é, a
resistividade corresponde à resistência de um fio com um comprimento de um metro e seção de 1 mm².
Os materiais condutores possuem resistividades diferentes. A prata é o condutor que apresenta a
menor resistividade, portanto, é o metal que melhor conduz a eletricidade.
A resistividade varia com a temperatura nos condutores metálicos, conforme se pode observar na fig.
6.5. De 0ºC a 400 ºC, no cobre, o aumento da resistividade com a temperatura é praticamente linear. Nos
condutores não metálicos, como o carvão, a resistividade diminui com a elevação da temperatura.
A medida que a temperatura decresce, a resistividade dos materiais metálicos diminui ou a
condutividade aumenta. Na temperatura de zero grau absoluto (-273ºC), ou muito próximo deste valor, os
materiais tornam-se supercondutores, isto é, ficam com resistividade nula. Já foram feitas experiências
com materiais cerâmicos que, em temperaturas muito baixas, mas ainda longe do zero absoluto, se
tornaram supercondutores.
ρ
ρ2 b

ρ1 a c
ρ (θ) ρο

f e d
− ΤºC 0º θ1 θ2 θºC
Fig. 6.5: Variação da resistividade com a temperatura

O ponto (-TºC) é a temperatura que se obteria prolongando a faixa linear do gráfico até obter
resistividade nula. Este ponto é fictício, no entanto, serve para se obter algumas simplificações na
determinação da resistividade em função da temperatura. Assim, da semelhança dos triângulos (f,b,d) e
(f,a,e) resulta a expressão 6.6: “fe = θ1 – (-T) = T+θ1” e, “fd = θ2 – (- T) = T+θ2”.

Walter Ries 43
TRANSFORMADORES

ρ2 T + θ2
= [6.6]
ρ1 T + θ1

Portanto, conhecida a resistividade a uma temperatura de referência, normalmente, de 20ºC, pode-se


determinar a resistividade para qualquer temperatura, dentro da faixa linear. Para isto, naturalmente, deve-
se conhecer o ponto de temperatura “T” característico para cada tipo de material.
A função “ρ(θ) ” pode ser expressa por um polinômio, conforme mostra a expressão 6.7 e que se
aproxima muito da expressão 6.8 na faixa linear de variação da resistividade. Nesta expressão, define-se
uma constante “α” que representa a variação por unidade (pu) e por ºC da resistividade do material. A
expressão 6.9 fornece a variação da resistividade tomando-se como referência a temperatura de 20ªC.

ρ = ρ0 + α1θ + α 2θ 2 + α 3θ 3 + ................ [6.7]


⎛ α1 ⎞
ρ = ρ0 + α1θ = ρ 0 ⎜1 + ⎟ θ = ρ 0 (1 + αθ ) [6.8]
⎝ ρ0 ⎠
ρ = ρ 20 ⎡⎣1 + α 20 (θ − 20 ) ⎤⎦ [6.9]

Normalmente, o que aparece nas tabelas técnicas, que dão os valores da resistividade dos materiais, é
a resistividade a 20ºC e o coeficiente de variação da resistividade com a temperatura “α“, também a 20º,
conforme mostra a tabela da fig. 6.6.

Observa-se que alguns materiais, como o constantan e o níquel cromo possuem uma resistividade
muito elevada e, portanto, estes materiais são apropriados para a construção de elementos aquecedores
elétricos (estufas, chuveiros elétricos, etc.) O carvão possui uma resistividade muito elevada e foi o
primeiro material utilizado na construção do filamento de lâmpadas incandescentes e, depois, substituído
por tungstênio (wolfrâmio).

Material ρ20 (μΩm) α20 (1/ºC)


Alumínio 0,028 0,00403
Arame de aço 0,10 a 0,15 0,00400
Ouro 0,023 0,00450
Cobre 0,0172 0,00393
Prata 0,016 0,00410
Constantan 0,49 a 0,51 0,00003
Ni Cr.80 20 1,09 0,00010
Carvão 35 0.0005
Grafite p/eletrodo 7a8 0,00000

Fig. 6.6: Resistividade de alguns mateiais concudores

Igualando-se a expressão 6.6 com a expressão 6.9 e tomando-se 20ºC como temperatura de
referência, resulta a igualdade 6.10 da qual se pode obter a temperatura fictícia “T” do material, dada pela
expressão 6.11. Como “T” é uma constante para cada material e o coeficiente de variação da resistividade
com a temperatura é uma função da temperatura inicial “θ1”.

ρ T +θ
= = 1 + α 20 (θ − 20 ) [6.10]
ρ 20 T + 20
1
T= − 20 [6.11]
α 20
1
T= − θ1 [6.12]
αθ 1

Walter Ries 44
TRANSFORMADORES

O uso da expressão 6.6 para calcular a resistividade e, em última análise, a resistência de um


condutor, quando a temperatura varia de “θ1” para “θ2”, é muito prática, pois não se tem necessidade de
voltar sempre à temperatura de referência. No entanto, a aplicação da expressão 6.6 exige o conhecimento
da temperatura “fictícia” “T” do material. Para o caso do cobre, aplicando a expressão 6.11, tem-se:

T = 1 / 0,00393 – 20 = 234,5, ou seja, “-234,5 ºC ”

e, para o alumínio:
T = 1 / 0,00403 – 20 = 228,1 ou seja, “-228,1 ºC ”

A tabela da fig. 6.7 fornece, para o cobre eletrolítico recozido e o alumínio eletrolítico, as principais
características necessárias para o calculo das perdas ôhmicas segundo a expressão 6.5. A resistividade do
cobre eletrolítico recozido e a 20ºC é normalmente tomado como padrão de referência de condutividade.
Convenciona-se, nestas condições, que a condutividade do cobre é de 100% (ou 100 IACS-International
Annealed Copper Standard). Os demais materiais condutores, com exceção da prata, possuem
condutividades inferiores a do cobre. O próprio condutor de cobre, quando trefilado, encrua e se torna
duro passando a ter uma condutividade de somente 97,3% ou seja, uma resistividade de 1,0278 vezes
maior do que o cobre recozido.

Material Condutividade Resistividade a 20ºC Coef. Temp. a 20ºC Temperatura T Peso Específico
% I.A.C.S ρ (ohms metro) α do material em ºC Kgf / m³
Cobre 100 1, 7241 ⋅ 10−8 0,00393 -234,5 8.890
Aluminio 60,97 2, 8280 ⋅ 10−6 0,00403 -228,1 2.703

Fig. 6.7: Características elétricas do cobre eletrolítico recozido e do alumínio eletrolítico

Conhecida a resistividade do material condutor a 20º C, pode-se calcular a resistividade do cobre e do


alumínio na temperatura de referência para a classe de material isolante utilizado. Assim, para a classe A
de material isolante, em que a temperatura de referência é de 75ºC, resulta:

234,5 + 75
Para o cobre : ρ75 = ρ 20 = 2, 0967 ⋅10−8 Ωm [6.13]
234,5 + 20
228,1 + 75
Para o alumínio : ρ 75 = ρ 20 = 3, 4549 ⋅10−8 Ωm [6.14]
228,1 + 20

Colocando na expressão 6.5 os valores das resistividades a 75ºC e usando os valores dos pesos
específicos dados na tabela da fig. 6.7, podem-se determinar as perdas ôhmicas dos enrolamentos a partir
da expressão 6.15 para o condutor de cobre e a expressão 6.16 para o condutor de alumínio.

W0 = 2,36 ⋅10−12 ⋅ d 2 ⋅ PCu (W ) [6.15]


W0 = 12,8 ⋅10−12 ⋅ d 2 ⋅ PAl (W ) [6.16]

O peso de material condutor de cada enrolamento é calculado através das seguintes grandezas:
• D = diâmetro médio da bobina, em metros (ver fig. 6.8)

• s = secção de uma espira, em m2


• γc = peso específico do condutor em kgf / m3
• N = número de espiras da bobina

Walter Ries 45
TRANSFORMADORES

Culatra

BT AT

DBT
DBT
Coluna

DAT DAT

NBT N AT

Fig. 6.8: Corte vertical da parte viva (núcleo e bobinas) e detalhe de uma cabeceira

O peso do condutor de uma bobina é dado pela expressão 6.17 e o peso do condutor de cobre de uma
bobina e do condutor de alumínio de uma bobina é dado, respectivamente, pelas expressões 6.18 e 6.19.

PC = π ⋅ D ⋅ s ⋅ γ c ⋅ N ( kg )
f [6.17]
PCu = 27.929 ⋅ D ⋅ s ⋅ N ( kg )
f [6.18]
PAl = 8.492 ⋅ D ⋅ s ⋅ N ( kg )
f [6.19]

No cálculo de máquinas sempre se deve simplificar e padronizar as expressões a fim de reduzir as


possibilidades de erros.

6.2 – Perdas parasitas nos condutores

Os condutores usados na construção dos enrolamentos possuem a secção circular ou retangular. A


secção circular, normalmente, é usada até 8 mm2 de secção o que corresponde, aproximadamente, ao
condutor de bitola 8 AWG. Para secções maiores são utilizados condutores de secção retangular e,
freqüentemente, em forma de chapa fina em transformadores de distribuição de pequena potência.
A escolha da forma da secção do condutor depende muito das perdas parasitas produzidas no mesmo
pelo fluxo oriundo da própria corrente que por ele circula.
A fig. 6.9 mostra uma secção reta de um lado das cabeceiras de duas bobinas de BT e AT de um
transformador, seja ele monofásico ou trifásico. Para se analisar os conceitos de cálculo e projeto é
suficiente a representação feita nesta figura, pois, as cabeceiras inferiores são simétricas às superiores.
Nos cortes das bobinas de BT e AT, vê-se a secção dos condutores singulares e, entre eles, o isolamento
(em classe A, papel Kraft). As correntes de carga, primária e secundária, produzem um fluxo de dispersão
como mostra a fig. 6.9. Como a permeabilidade magnética é muito maior no ferro (núcleo) do que no ar
(ou óleo, papel, material condutor) ela pode ser considerada infinita no ferro, para uma primeira
aproximação, o que leva a concluir que a superfície do núcleo é uma superfície equipotencial do campo
magnético de dispersão. Assim sendo, as linhas de fluxo de dispersão devem entrar e sair,
perpendicularmente, na superfície do núcleo.

Walter Ries 46
TRANSFORMADORES

Culatra Culatra

BT AT BT AT

× ×
Coluna

Coluna
a a
a h hk hg
a

C C
NI NI

x x
o a1 δ a2 o a1 δ a2
c c

Fig. 6.9: Fluxo de dispersão real entre BT e AT Fig. 6.10: Fluxo de dispersão equivalente, de Rogowski

O fluxo de dispersão é produzido pela “fmm=NI” da bobina de baixa tensão e da bobina de alta
tensão. Estas duas “fmm” são aproximadamente iguais e, portanto, a metade do fluxo de dispersão é
produzida pela bobina de baixa tensão e a outra metade pela bobina de alta tensão.
Na parte de baixo da fig. 6.9 mostra-se como se distribui a “fmm” no sentido radial das bobinas e no
canal central entre a BT e a AT. A densidade de fluxo é nula na face interna da BT e cresce quase
linearmente a medida que vão se acrescentando os ampère-espiras da bobina de baixa tensão. Entre a BT
e a AT os ampère-espiras são constantes e iguais a ”NI”. A partir da face interna da AT os ampère-espiras
passam a decrescer linearmente até se anular quando se atinge a face externa da AT.
Na parte central das bobinas, no sentido axial, as linhas de fluxo são paralelas, porém, nas cabeceiras
elas se dispersam (franjamento) aumentando a secção “A” de passagem de todo o fluxo de dispersão do
primário e do secundário. Isto significa que nas cabeceiras a relutância magnética “l/μ Α” é menor do
que na parte central das bobinas. Ao longo de toda a altura “hg” da janela do núcleo a secção do fluxo
total não é constante e dificulta bastante determinar a relutância ou a permeância deste trecho do circuito
magnético que, praticamente constitui a relutância total uma vez que o retorno através do núcleo tem uma
relutância praticamente nula devido à alta permeabilidade magnética do ferro.
A fig. 6.10 mostra um canal de fluxo equivalente, sem franjamento, porém com altura menor do que
a altura da janela do núcleo, mas maior do que a altura das bobinas. Isto é, este canal deve ter a mesma
relutância magnética da fig.6.9 em que, com a diminuição da altura e redução da secção nas zonas de
franjamento, obtém-se um canal de secção constante, facilitando o cálculo da relutância. Através de
estudos teóricos, Rogowski determinou uma relação entre a nova altura “hk” do canal com a altura “h”
das bobinas. Disto resultou no coeficiente de Rogowski KR dado pela expressão 6.20, onde a dimensão
radial do canal é dada por:
c = a1 + δ + a2
A expressão deduzida por Rogowski ainda tem mais termos, no entanto, para a maioria dos casos, é
suficiente a aproximação dada pela expressão 6.20, se “δ<c/2” e “c/h<2” ou ainda se “c/πh<0,3”.

Walter Ries 47
TRANSFORMADORES

h c ⎛ -
πh
⎞ c
KR = ≅ 1- ⎜ 1- ε c ⎟ ≅ 1- [6.20]
hK πh ⎝ ⎠ πh
NI NI
H= = KR [6.21a]
hK h
NI
B = μ 0H = μ 0 KR [6.21b]
h
NI
q= [6.21c]
h
Com esta simplificação a intensidade de campo “H” no comprimento “hk” do canal de dispersão
do fluxo também passa a ser constante e dado pela expressão 6.21a. Também a indução magnética ao
longo de todo o canal se torna constante e dado pela expressão 6.21b. A relação entre os ampère-espiras e
a altura da bobina recebe a denominação de “carregamento elétrico da bobina” conforme expressão 6.21c.
Os condutores, representados com secção retangular, também são atravessados pelas linhas de fluxo
magnético e, portanto, são geradas correntes parasitas nestes condutores, a semelhança do quanto foi visto
nas chapas magnéticas do núcleo. A fig. 6.11 mostra a secção reta de uma bobina onde se observam as
dimensões dos condutores, a altura “h” da bobina e sua dimensão radial “a”. No detalhe da fig. 6.12
mostra-se o fluxo de dispersão “φ” atravessando o condutor, a corrente de carga “I” que circula pelo
condutor e as correntes parasitas que se formam. O sentido das correntes parasitas é o de contrariar o
fluxo que as gera. Estas correntes parasitas se compõem com a corrente de carga resultando uma
distribuição não uniforme da corrente na secção do condutor. No caso da fig. 6.12 a densidade de corrente
aumenta do lado direito da secção do condutor e diminui no lado esquerdo. Como as perdas ôhmicas
aumentam com o quadrado da corrente esta distribuição não uniforme produz um aumento das perdas
Joule. A este aumento das perdas dá-se o nome de perdas parasitas “Wp”.

α correntes parasitas
φ

h "m" condutores

× I corrente de caarga
×
×
×
×
a

"n" condutores
Fig. 6.11:Secção reta de uma bobina Fig. 6.12: Detalhe de um condutor da bobina

Como se vê, as perdas Joule nos condutores são compostas pelas perdas ôhmicas “Wo” e as perdas
parasitas “Wp” (expressão 6.21).

Wc = Wo + Wp [6.22a] Wc = RI 2 [6.22b] Wo = Rcc I 2 [6.23]


Wc − Wo W p Wc R R
kp = = = −1 = −1 [6.24] = 1+ kp [6.25]
Wo Wo Wo Rcc Rcc

Tudo acontece como se a resistência ôhmica do condutor tivesse aumentado e as perdas totais no
condutor passam, então, a ser dadas pela expressão 6.22b, enquanto as perdas ôhmicas são dadas pela

Walter Ries 48
TRANSFORMADORES

expressão 6,23. A resistência “Rcc” é aquela medida em corrente contínua e a resistência “R” é a
equivalente das perdas totais no condutor.
Pode-se, pois, definir um coeficiente de perdas parasitas, “kp”, dado pela expressão 6.24 e obter a
relação entre a resistência equivalente de perdas totais e a resistência medida em corrente contínua,
conforme expressão 6.25.
A relação entre estas resistências, dada pela expressão 6.25 também foi estudada por Rogowski e,
para o caso em que se tem uma distribuição triangular do fluxo atravessando os condutores, como
nos canais “a1” e “a2” da fig. 6.10, tem-se a expressão 6.26, em que o parâmetro “ξ” é dado pela
expressão 6.27. As funções auxiliares ϕ(ξ) e ψ(ξ) são dadas pelas expressões 6.28 e 6.29,
respectivamente.
R n2 − 1
= ϕ (ξ ) + ψ (ξ ) [6.26]
Rcc 3
m ⋅α f
ξ = 2π ⋅10−3 β ⋅ ⋅ KR [6.27]
h 10 ⋅ ρ
senh(2ξ ) + sen(2ξ )
ϕ (ξ ) = ξ ⋅ [6.28]
cosh(2ξ ) − co s(2ξ )
senh(ξ ) − sen(ξ )
ψ (ξ ) = 2ξ ⋅ [6.29]
cosh( ξ )+ cos (ξ )

Nas expressões acima todas as dimensões lineares são dadas em metro e a resistividade ρ em Ωm na
temperatura de referência (75º C passa classe A de isolamento).

3,5

3
ψ1(ξ)
2,5
ϕ1(ξ)
ϕ(ξ) 2

ψ(ξ) 1,5

0,5

0
0 0,5 1 1,5 2
ξ

Fig. 6.13: Gráfico das funções ϕ(ξ) e ψ(ξ), e das funções simplificadas ϕ1(ξ) e ψ1(ξ).

Na fig. 6.13 têm-se representadas, graficamente, as funções auxiliares ϕ(ξ) e ψ(ξ) que entram na
expressão 6.26 para determinar a relação entre perdas Joule e perdas ôhmicas em função das dimensões,
disposição e características do condutor que determinam o parâmetro ξ através da expressão 6.27.
Trabalhar com este sistema de expressões é bastante laborioso, motivo pelo qual se procura sempre
chegar a equações mais simples. Assim, verifica-se nos projetos normais, que o parâmetro “ξ” sempre é
menor do que 1(um). Conseqüentemente, podem-se substituir as funções ϕ(ξ) e ψ(ξ) por funções mais

Walter Ries 49
TRANSFORMADORES

simples validas pra ξ ≤ 1. Chega-se, pois, às expressões 6.30 e 6.31 que também estão representadas no
gráfico da fig.6.13 com linhas pontilhadas.
Substituindo as expressões 6.30 e 6.31 na expressão 6.26 obtém-se a expressão 6.32 cujo último
termo pode ser desprezado o que resulta na expressão 6.33 que é a expressão utilizada normalmente. O
valor de “ξ” é dado pela expressão 6.27
Todas estas expressões são válidas para um condutor retangular com dimensões “α” e “β”. Se o
condutor tem uma seção circular com diâmetro “dc”, a relação entre as perdas Joule totais e perdas
ôhmicas são dadas pela expressão 6.34 em que o valor de “ξ” é dado pela expressão 6.35.

4 4
ϕ1 (ξ ) = 1 + ξ [6.30]
45
1
ψ 1 (ξ ) = ξ 4 [6.31]
3
R n2 1
≅ 1+ ξ 4 − ξ 4 [6.32]
Rcc 9 45
Wc R n2
= ≅ 1+ ξ 4 = 1+ k p [6.33]
W o Rcc 9
Wc R n2
= ≅ 1+ ξ 4 = 1+ kp [6.34]
W o Rcc 15, 25
m ⋅ dc f
ξ = 2π ⋅10−3 d c ⋅ ⋅ KR [6.35]
h 10 ⋅ ρ

As perdas parasitas são dadas pela expressão 6.36 em que o coeficiente “kp” é dado pela expressão
6.37 para os condutores de secção retangular e pela expressão 6.38 para condutores de secção circular.

n2 4 n2
W p = k pWo [6.36] kp = ξ [6.37] kp = ξ4 [6.38]
9 15, 25
Substituindo a expressão 6.27 na expressão 6.37 e substituindo a expressão 6.35 na expressão 6.38
se obtêm os coeficientes de perdas parasitas, respectivamente, para condutores de secção retangular e
condutores com secção circular, conforme está apresentado no quadro da fig. 6.14.

Perdas ôhmicas Wp
Mateiral Wo Secção kp =
Watts Wo
2
⎛ NI β ⎞
Retangular ⎜ 62,8 ⋅ K R ⋅ f ⋅ ⋅ ⎟
Cobre ⎝ h d⎠
2
⎛ NI d c ⎞
Circular ⎜ 61, 4 ⋅ K R ⋅ f ⋅ h ⋅ d ⎟
⎝ ⎠
2
⎛ NI β ⎞
Retangular ⎜ 38,1 ⋅ K R ⋅ f ⋅ ⋅ ⎟
Alumínio 3, 4549 ⋅10−8 ⎝ h d⎠
2
⎛ NI d c ⎞
Circular ⎜ 37, 2 ⋅ K R ⋅ f ⋅ h ⋅ d ⎟
⎝ ⎠

Fig. 6.14: Valores de kp de cobre e alumínio com secções retangulares e circulares

Walter Ries 50
TRANSFORMADORES

O produto de “m” condutores no sentido axial por “n” condutores no sentido radial resulta no
número total de condutores na secção da bobina. Isto é:
mn = Nc.
Sendo “d” a densidade de corrente pelo condutor de secção “s” tem-se circulando pelo mesmo uma
corrente “Ic” dada pelo produto da densidade pela secção do condutor, isto é:
Ic = sd.
Para o condutor de secção retangular se tem:
s = αβ.
Para o condutor de secção circular se tem:
s = π dc2 / 4.
Fazendo todas estas substituições, resultam as expressões dadas no quadro da fig. 6.14.
Uma espira pode ter um ou mais condutores em paralelo, no entanto o produto do número de
condutores existente na seção da bobina multiplicado pela corrente que circula em cada condutor é
sempre igual ao número de espiras da bobina multiplicado pela corrente de carga que circula pelas
espiras, isto é:
NcIc = NI
Resulta, assim, que nas expressões do coeficiente de perdas parasitas da fig. 6.14 aparece sempre a
“fmm” dada por “NI”.
Como podem ser observadas, as perdas parasitas crescem com o quadrado da dimensão radial,
“β” para o condutor retangular e com o quadrado do diâmetro “dc” para o condutor com secção circular.
Estas dimensões devem ser, portanto, mantidas tão pequenas quanto necessárias a fim de limitar as perdas
parasitas a um valor desejado. Em geral, procurá-se manter as perdas parasitas a um valor abaixo de 20%
das perdas ôhmicas, isto é:
kp ≤ 0,20
Deve-se repisar que os coeficientes de perdas parasitas que aparecem no quadro da fig. 6.14 foram
escritos para o caso em que se tem uma distribuição triangular do fluxo atravessando os condutores,
como nos canais a1 e a2 da fig. 6.10. Como conseqüência, todos dos coeficientes de perdas parasitas da
fig. 6.14 foram calculados para um caso particular de distribuição do fluxo de dispersão. No caso do canal
δ da fig. 6.10 as expressões até aqui desenvolvidas não são mais válidas. Deve-se desenvolver, portanto,
uma expressão para o coeficiente de perdas parasitas que seja válida para qualquer forma de distribuição
do fluxo de dispersão.
Como foi visto, o número de ampère-espiras por metro de altura da bobina é denominado de
carregamento elétrico do transformador e designa-se pela letra “q”.
NI
q= [6.39]
h
Se as alturas das bobinas primária e secundária são iguais, o carregamento elétrico pode ser
representado, graficamente, pela mesma curva de distribuição da “fmm” ou da indução “B” do fluxo de
dispersão que é dado pela expressão 6.21b.
Na fig. 6.15 tem-se a representação do carregamento elétrico da bobina de BT, junto ao núcleo.
Como na expressão do coeficiente de perdas parasitas aparece o carregamento elétrico ao quadrado e
correspondendo ao valor máximo no canal, a generalização da expressão compreende em expressá-la em
função do valor médio quadrático da função “q2(x)” dado pela expressão 6.40 quando a variação do
carregamento elétrico cresce ou decresce em rampa em função da dimensão radial da bobina. Para o caso
do canal central “δ ”entre as bobinas, o valor do carregamento médio quadrático é igual ao quadrado do
valor máximo do carregamento que á constante na dimensão radial do canal (expressão 6.41).

Walter Ries 51
TRANSFORMADORES

2
1 a1 2 1 1 ⎛ NI ⎞
q2 = ∫
a1 0
q ( x)dx = q 2 = ⎜
3 3⎝ h ⎠
⎟ [6.40]
2
⎛ NI ⎞
q =q =⎜
2 2
⎟ [6.41]
⎝ h ⎠

q
2
q

0 x a1

Fig. 6.15: Carregamento elétrico da BT

Os valores médios quadráticos do carregamento elétrico são calculados para cada um dos canais do
fluxo de dispersão em que se encontram condutores susceptíveis de produzirem perdas parasitas. No caso
de um transformador com somente 2 enrolamentos, como na fig. 6.10, os valores médios quadráticos do
carregamento elétrico “q = NI/h” dos canais “a1” e “a2” são iguais e dados pela expressão 6.40.
É normal que o transformador tenha 3 ou mais enrolamentos, como representado na fig. 6.16.

Culatra

BT AT 1 AT 2 R

× ×
Coluna

q C

q1

q2
1 2 3 4 5 6 7
x
q3

Fig. 6.16: Transformador com 4 enrolamentos

Walter Ries 52
TRANSFORMADORES

Na fig. 6.16 tem-se a “AT” dividida em duas bobinas com o mesmo número de espiras e um
enrolamento de regulação que tanto pode ser adicionado à “AT” como pode ser subtraído. Nesta figura o
enrolamento de regulação está sendo subtraído da “AT” conforme mostra o sentido das correntes nos
enrolamentos.
A distribuição do carregamento está representada na parte de baixo da figura resultando 7 canais de
circulação do fluxo de dispersão total do transformador. Pode-se calcular o valor médio quadrático do
carregamento para cada um dos canais de dispersão em função dos três carregamentos dados pelas
expressões 6.42, 6.43 e 6.44 em função do número de espiras e correntes dos enrolamentos de BT e AT,
considerando que a AT está dividida em duas bobinas, cada uma das quais com a metade do número de
espiras da AT.
N1 I1
q1 = [6.42]
h
NI N I
q2 = 1 1 − 2 2 [6.43]
h 2h
NI N I N I
q3 = 1 1 − 2 2 − 2 2 [6.44]
h 2h 2h

As expressões 6.45 até 6.51 dão os valores do carregamento médio quadrático de cada canal.

1
Canal 1: q 2 = q12 [6.45]
3
Canal 2 : q = q12
2
[6.46]
1 2
Canal 3 : q2 =
3
( q1 + q22 + q1q2 ) [6.47]

Canal 4 : q = q22
2
[6.48]
1 2
Canal 5 : q2 =
3
( q2 + q32 − q2 q3 ) [6.49]

Canal 6 : q = q32
2
[6.50]
1
Canal 7 : q 2 = q32 [6.51]
3

Perdas ôhmicas Perdas parasitas


Mateiral Wo Secção Wp=kp×Wo
Watts Watts

(167 ⋅10 ⋅ K R ⋅ f ⋅ β ) ⋅ PCu ⋅ q 2


−6 2
Retangular
Cobre
W0 = 2, 36 ⋅10 −12 ⋅ d 2 ⋅ PCu

(163, 4 ⋅10 ⋅ K R ⋅ f ⋅ d c ) ⋅ PCu ⋅ q 2


−6 2
PCu = 27.929 ⋅ D ⋅ s ⋅ N kg f Circular

( 236,1⋅10 ⋅ K R ⋅ f ⋅ β ) ⋅ PAl ⋅ q 2
−6 2
−12 Retangular
Alumínio W0 = 12,8 ⋅10 ⋅ d ⋅ PAl
2

( 230,5 ⋅10 ⋅ K R ⋅ f ⋅ d c ) ⋅ PAl ⋅ q 2


2
PAl = 8.492 ⋅ D ⋅ s ⋅ N kg f Circular
−6

Fig. 6.17: Resumo das expressões para o cálculo das perdas ôhmicas e das perdas parasitas

Walter Ries 53
TRANSFORMADORES

A expressão 6.52 dá as perdas parasitas num condutor de cobre com secção retangular situado num
canal com distribuição triangular do carregamento elétrico. Esta expressão resulta do produto do fator de
perdas parasitas dadas na fig. 6.14 multiplicada pelas perdas ôhmicas dadas pela expressão 6.18.
Substituindo-se o valor do carregamento elétrico máximo no canal pelo valor do carregamento médio
quadrático resultam as expressões 6.53 e 6.54 para as perdas parasitas num condutor de cobre com secção
retangular. A expressão 6.54 é agora uma expressão geral para qualquer tipo de distribuição do
carregamento elétrico no sentido radial de um canal, em que o carregamento médio quadrático é dado por
uma das expressões desenvolvidas para os 7 tipos de canais da fig. 6.16. Naturalmente só existirão perdas
parasitas em canais que contenham condutores atravessados pelo fluxo de dispersão. Assim, na fig. 6.16,
nos canais 2,4 e 6 não se tem condutores sendo atravessados pelo fluxo de dispersão e, portanto, não
existem, aí, perdas parasitas.
2
⎛ NI β ⎞
W p = k pWo = ⎜ 62,8 ⋅ K R ⋅ f ⋅ ⋅ ⎟ 2,36 ⋅10−12 ⋅ d 2 ⋅ PCu [6.52]
⎝ h d⎠
2
⎛ β⎞
W p = k pWo = ⎜ 62,8 ⋅ K R ⋅ f ⋅ 3q 2 ⋅ ⎟ 2,36 ⋅10−12 ⋅ d 2 ⋅ PCu [6.53]
⎝ d⎠
W p = k pWo = (167,1 ⋅10−6 ⋅ K R ⋅ f ⋅ β ) ⋅ PCu ⋅ q 2
2
[6.54]

Fazendo as mesmas substituições para os condutores de secção circular e também para condutores de
alumínio, resultam as expressões dadas no quadro da fig. 6.17. Note-se que em todas as expressões, as
dimensões lineares são dadas em “metro”, o peso em “kgf” e a perdas em “Watt”.
Especial cuidado deve ser tomado no projeto de transformadores de grande potência quanto às perdas
parasitas nos enrolamentos devidas ao franjamento do fluxo de dispersão nas cabeceiras das bobinas,
conforme mostra a fig.6.9 e que é repetida na fig. 6.18 onde se inclui o caso em que as bobinas não
possuem a mesma altura.

Culatra Culatra

BT AT a
× a
α Φ T
Coluna
Coluna

aa
aa ×
BT AT
ΦL

C C

Fig. 6.18: Franjamento do fluxo nas cabeceiras com bobinas de mesma altura e com alturas diferentes

Observa-se que nas cabeceiras das bobinas o “fluxo disperso” possui duas componentes: uma axial
ou longitudinal “ΦL” e outra radial ou transversal “ΦT”. A componente axial entra no condutor
perpendicularmente à dimensão radial “β” produzindo perdas parasitas que são mantidas pequenas
mediante escolha adequada do valor de “β” (1, 2, 3, ..........5 mm). A componente radial, no entanto, entra
perpendicularmente à dimensão “α” do condutor, que, se for muito maior do que “β” produzirá perdas
parasitas muito grandes nos condutores das cabeceiras das bobinas. Estas perdas, embora localizadas em
pequena parte do enrolamento, podem ser bastante expressivas se não forem tomadas precauções no
sentido de não exagerar no dimensionamento de “α”. Assim, a dimensão “α”, nestas zonas, deve ser

Walter Ries 54
TRANSFORMADORES

reduzida a fim de evitar superaquecimento localizado nas cabeceiras. Quando as alturas das bobinas não
são iguais, o franjamento do fluxo de dispersão nas cabeceiras é ainda mais pronunciado. Assim, deve-se
evitar ao máximo o projeto de bobinas com diferentes alturas e limitar a dimensão de “α” a alguns
milímetros (5 a 12 mm).

6.3 – Perdas adicionais devidas ao fluxo de dispersão


O fluxo de dispersão produzido pela corrente de carga pode também produzir perdas parasitas em
outras partes do transformador construídas com chapas ou perfis de ferro, tais como: prensas culatras,
tirantes de prensagem das bobinas, paredes do tanque do transformador, etc..
Nas cabeceiras das bobinas uma parte do fluxo de dispersão pode entrar no núcleo na direção
perpendicular à largura das chapas do núcleo. Em transformadores de altíssimas potências pode-se ter um
superaquecimento nas lâminas do núcleo localizadas nestas zonas em que o fluxo de dispersão entra no
sentido perpendicular e a colocação de blindagens especiais torna-se necessário. Também podem ser
usadas blindagens especiais junto às paredes do tanque para reduzir perdas adicionais e
superaquecimentos localizados.
Estas perdas adicionais não podem ser calculadas com a facilidade desejada, e, normalmente, não
representam mais do que 5% das perdas nos condutores. Sabe-se que estas perdas crescem quando a
reatância de dispersão ou a energia armazenada no campo de dispersão aumenta. Alguns projetistas se
utilizam desta relação para estabelecer, através de medições feitas em projetos executados, suas próprias
fórmulas para avaliar as perdas adicionais devidas ao fluxo disperso.

6.4 – Perdas por circulação de corrente


Quando diversos condutores são utilizados em paralelo a fim de manter a densidade de corrente, e
assim as perdas Joule e as perdas parasitas dentro dos limites econômicos, podem surgir condições de
circulação de corrente entre condutores se não forem feitas transposições.

Culatra
C l t

2 1
Coluna

2 1

2 1

q C

a1
Fig. 6.19: Espiras com 2 condutores isolados e em paralelo Fig. 6.20: Transposição dos condutores

Na fig. 6.19 está representada uma cabeceira de bobina em que as espiras são compostas por dois
condutores em paralelo. Uma maneira de dispor as espiras é realizar o enrolamento em camadas. A fig.
6.19 sugere que a bobina foi construída em 3 camadas com dois condutores em paralelo. Se as posições 1
e 2 dos condutores permanecerem iguais em toda uma camada, os dois condutores não teriam o mesmo
comprimento e, portanto não teriam a mesma resistência ôhmica e também não teriam como será visto no

Walter Ries 55
TRANSFORMADORES

capítulo 7, a mesma reatância de dispersão. Nos terminais da bobina os dois condutores, que estão
isolados entre si ao longo de todo o enrolamento, são ligados eletricamente entre si. Nestas condições a
tensão induzida na bobina fará circular correntes diferentes nos dois condutores o que equivale a dizer
que existirá uma corrente circulante entre os dois condutores produzindo perdas adicionais.
A fig. 6.20 mostra como se pode, mediante transposições, fazer com que os dois condutores fiquem
com o mesmo comprimento e passe a ocupar, o mesmo número de vezes, uma determinada posição no
sentido radial de modo a serem atravessados pelo mesmo fluxo de dispersão. Uma única transposição por
camada, no caso da fig. 6.19, seria suficiente para atingir este objetivo. No entanto, como nas cabeceiras
das bobinas o fluxo de dispersão não permanece mais paralelo como na parte central, no mínimo uma
transposição a mais em cada cabeceira é recomendável a fim de equilibrar as correntes nos dois
condutores.
Um estudo mais detalhado sobre transposições será feito no capitulo 8, parágrafo 8.3. Deste modo,
praticamente, são anuladas as perdas adicionais por circulação de corrente entre condutores em paralelo.

Walter Ries 56
TRNSFORMADORES

7 - CÁLCULO DA REATÂNCIA DE DISPERSÃO.


No capítulo 6 foram estudadas a distribuição do fluxo de dispersão e a simplificação de Rogowski
que elimina o franjamento nas cabeceiras das bobinas agregando um fator KR corrigindo a altura da janela
do núcleo a fim de definir um circuito magnético geometricamente simples. Ao fluxo de dispersão
corresponde uma Indutância L e, conseqüentemente, uma reatância XL de dispersão dada por XL =
2πfL.
Dois são os processos que podem ser utilizados para o cálculo da indutância de dispersão:
• Método do fluxo concatenado
• Método da energia armazenada no campo magnético de dispersão.
7.1 – Método do fluxo concatenado
Este método é baseado nas expressões conhecidas e que são repetidas abaixo (expressões 7.1 e 7.2)

λNφ fluxo concatenado


L= =
= [7.1]
I I corrente
L=N℘2
[7.2]
A expressão 7.2 deve ser aplicada a cada um dos tubos de fluxo de dispersão representados pelos
canais de dispersão d fig. 7.1. A soma de todas as indutâncias, relativas aos diversos canais, é a indutância
de dispersão do transformador.

BT × AT
D2

D1 h
hK

N1
NX
dx

a1 δ a2

Fig. 7.1: Fluxo de dispersão mostrando um tubo de fluxo elementar dx

A distribuição do fluxo de dispersão da fig. 7.1 mostra o gráfico do número de espiras ativas no
sentido radial das bobinas. Na posição do tubo de fluxo elementar tem-se “Nx” espiras ativas da “BT”. A
permeância deste canal elementar, situado no canal de largura ”a1” é dada pela expressão 7.3 em que “D1”
é o diâmetro médio da bobina de “BT” e, por simplificação, todos os demais tubos de fluxo elementares
deste canal terão o mesmo valor de diâmetro médio, porquanto “a1 << D1”. A altura dos canais é dada
pela expressão 6.20 desenvolvida por Rogowski para enrolamentos com bobinas concêntricas.

μo ⋅ dA1 μo ⋅ π ⋅ D1 ⋅ dx
d℘ = = [7.3]
hK hK

A indutância elementar correspondente ao tubo de fluxo elementar com largura dx da fig. 7.1 é dada
pela expressão 7.4 em que o número de espiras ativas varia como indicado na expressão 7.5.
Integrando a expressão 7.4 entre os limites de zero a “a1” obtém-se a indutância correspondente ao
canal de fluxo de disperso na bobina de “BT”, dada pela expressão 7.6.

Walter Ries 57
TRNSFORMADORES

μo ⋅ π ⋅ D1 μo ⋅ π ⋅ D1 N12
dL = N x2 ⋅ d℘ = N x2 ⋅ dx = 2
⋅ x 2 ⋅ dx [7.4]
hK hK a1

N1
Nx = ⋅x [7.5]
a1

A expressão 7.7 dá a permeância do canal circular de largura “a1”, diâmetro médio “D1” e altura

hK = h / KR (expressão 6.20).

A expressão 7.8 dá o valor médio quadrático das espiras que atuam no canal “a1”.

L1 μo ⋅ π ⋅ D1 N 2 L1 μo ⋅ π ⋅ D1 ⋅ a1 1
L1 = ∫ dL = 2 ∫ x 2 ⋅dx = ⋅ N12 [7.6]
0 hK a 1
0 hK 3
μo ⋅ π ⋅ D1 ⋅ a1
℘1 = [7.7]
hK
1 2
N12 = N1 [7.8]
3

Realizando o mesmo procedimento para os canais de largura “d” e “a2”, resultam as expressões 7.9 e
7.10 respectivamente, para as indutâncias “Lδ” e ”L2”.
μo ⋅ π ⋅ Dδ ⋅ δ
Lδ = ⋅ N12 [7.9]
hK
μo ⋅ π ⋅ D2 ⋅ a2 1
L2 = ⋅ N12 [7.10]
hK 3

A indutância de dispersão total, referida ao lado do primário com “N1” espiras, é dada pela expressão
7.11 que é a soma das expressões 7.6, 7.9 e 7.10. A reatância de dispersão será dada, portanto, pela
expressão 7.12.
μo ⋅ π ⎛ 1 1 ⎞ 2
L= ⎜ D1 ⋅ a1 + Dδ ⋅ δ + D2 ⋅ a2 ⎟ ⋅ N1 [7.11]
hK ⎝ 3 3 ⎠
X = 2π ⋅ f ⋅ L [7.12]

Para referir a indutância e, conseqüentemente também a reatância, ao secundário do transformador,


basta substituir na expressão 7.11 o valor de “N1” pelo valor de “N2”.
Normalmente se calcula a reatância percentual pela expressão 7.13 em que a corrente “I “ e a tensão
“E” podem ser, ou os valores nominais do primário ou do secundário. Um valor característico no projeto
dos enrolamentos é o valor dos “volts por espira” dos enrolamentos, dado pela expressão 7.14. Também é
uma grandeza característica dos enrolamentos o seu carregamento elétrico dado pela expressão 7.16. A
altura do canal de dispersão “hK” pode ser substituída pela altura “h” das bobinas, dividida pelo fator de
Rogowski K (expressão 7.15).
I⋅X E
X % = 100 [7.13] e= [7.14]
E N
h NI
hK = [7.15] q= [7.16]
K h

Walter Ries 58
TRNSFORMADORES

O canal de dispersão do fluxo magnético é constituído pelas bobinas e óleo. A permeabilidade


magnética destes materiais é a mesma do ar ou do vácuo, isto é:

4π.10-7 H/m

Pela combinação das expressões 7.11 a 7.16, obtém-se a expressão 7.17 para a reatância percentual
do transformador com dois enrolamentos como mostra a fig.7.1.
f NI ⎛1 1 ⎞
X % = 2, 48 ⋅10−3 ⋅ ⋅ ⋅ K ⎜ D1 ⋅ a1 + Dδ ⋅ δ + D2 ⋅ a2 ⎟ [7.17]
e h ⎝3 3 ⎠

Para um maior número de enrolamentos deve-se somar a contribuição de todos os canais de dispersão
na formação da indutância ou reatância de dispersão.

7.2 – Método da energia armazenada no campo magnético de dispersão do fluxo


A energia armazenada num campo magnético de volume “V”, indução “B” e intensidade de campo
“H” ela é dada pela expressão 7.18.

1
2 ∫V
W= B ⋅ H ⋅ dV Joules [7.18]

Em função da indutância, esta energia também pode ser dada pela expressão conhecida 7.19 em que
“i” é o valor instantâneo da corrente que produziu a intensidade de campo “H” e, por conseguinte, a
indução “B = μH”. Quando a corrente instantânea é máxima a energia armazena também será máxima. Se
a corrente for senoidal, o valor máximo da energia também pode ser dado em função da corrente eficaz
como se observa na expressão 7.20.

1 1
W= L ⋅ i2 [7.19] W= L ⋅ I max
2
= L⋅I2 [7.20]
2 2

Conhecido o valor da energia armazenada no campo magnético do transformador, pode-se


determinar pela expressão 7.20 o valor da indutância total e, conseqüentemente, o valor da reatância
percentual, conforme expressões 7.21 e 7.22.

W I⋅X 2π f
L= [7.21] X % = 100 = 100 ⋅W [7.22]
I2 E E⋅I

Com se vê, a reatância percentual é diretamente proporcional á energia armazenada no campo de


dispersão.
Este método é de aplicação bastante simples principalmente quando as ligações ou a configuração
interna do transformador são complexas. Um exemplo desta complexidade é o transformador regulador
com 2 núcleos dentro do mesmo tanque, como mostra o circuito simplificado da fig. 7.2 em que se
representa somente uma das fases com a “BT” ligada em delta e a “AT” em estrela.
Neste caso, calculam-se as energias armazenadas nos campos de dispersão dos transformadores “T1”
e “T2”, cuja soma “W = W1 + W2” é levada à expressão 7.22 para se calcular a reatância percentual do
conjunto.

Walter Ries 59
TRNSFORMADORES

T1

T2
E1 E2

Fig. 7.2: Transformador regulador com transformador série.

A energia armazenada no campo de dispersão do fluxo é calculada pela expressão 7.18 em que se
substitui a indução B dada pela expressão 7.23, e a intensidade de campo H dada pela expressão 7.24.

NI max NI
B = μ0 H [7.23] H= = 2 KR = 2 q ⋅ KR [7.24]
hK h

Resulta, assim, a expressão 7.25 que dá a energia armazenada em função do carregamento elétrico
“q” da bobina e das dimensões dos canais de dispersão do fluxo.

π D⋅h
W = μ0 ⋅ K 2 ∫ q 2 ⋅ dV [7.25] dV = π D ⋅ hK ⋅ dx = dx [7.26]
V K

O volume elementar do canal de dispersão é dado pela expressão 7.26, sendo:


• D = diâmetro médio do canal
• h = a altura da bobina
• K = o fator de Rogowski
A expressão 7.26 é aproximada mas admissível, pois, as dimensões radiais dos canis de dispersão são
muito menores do que os diâmetros médios destes canais, isto é “a << D”.
Substituindo na expressão 7.25 o volume elementar dado pela expressão 7.26, resulta a expressão
7.27. Introduzindo, ainda, o conceito de valor médio quadrático, dado pela expressão 7.28 e já analisado
no estudo das perdas parasitas, resulta a expressão genérica 7.29 ou 7.30 para a energia armazenada em
um canal de dispersão com dimensão radial “a”.

a 1 a 2
W = μ0 ⋅ π ⋅ D ⋅ h ⋅ K ∫ qx2 ⋅ dx
a ∫o
[7.27] q2 = qx ⋅ dx [7.28]
o

W = μ0 ⋅ π ⋅ D ⋅ a ⋅ h ⋅ K ⋅ q 2 [7.29] W = 39,5 ⋅10−7 ⋅ K ⋅ Dha ⋅ q 2 [7.30]

Na expressão 7.30 as dimensões lineares são dadas em metros e o carregamento elétrico “q” da
bobina em ampère-espiras por metro.
O procedimento a seguir é o de determinar, para cada canal, o valor médio quadrático do
carregamento elétrico, em função da distribuição do fluxo de dispersão, como já foi visto no estudo das
perdas parasitas nos enrolamentos. A fig. 7.3, praticamente repete a fig. 6.16. Também as expressões 7.31
a 7.37 repetem as expressões 6.45 a 6.51 para o cálculo do valor médio quadrático de cada um dos 7
canais.

Walter Ries 60
TRNSFORMADORES

× ×
100 -60 -80 40
D1 D3 D5 D7
h
D2 D4 D6

q
q1

q2
1 2 3 4 5 6 7

q3 a1 a2 a3 a4 a5 a6 a7

Fig. 7.3: Distribuição do fluxo de dispersão num transformador com 4 bobinas.

O que se verifica é que se têm quatro expressões diferentes para os valores médios quadráticos dos
carregamentos elétricos. Para a fig. 7.3, a distribuição do fluxo dos canais 1 e 7 são iguais, dos canais 2, 4
e 6 são iguais e, os canais 3 e 5 se diferenciam apenas pelo sinal dos produtos dos dois carregamentos
elétricos que entram na expressão do carregamento médio quadrático do canal.

1
Canal 1: q 2 = q12 [7.31]
3
Canal 2 : q = q12
2
[7.32]
1 2
Canal 3 : q2 =
3
( q1 + q22 + q1q2 ) [7.33]

Canal 4 : q = q22
2
[7.34]
1 2
Canal 5 : q2 =
3
( q2 + q32 − q2 q3 ) [7.35]

Canal 6 : q = q32
2
[7.36]
1
Canal 7 : q 2 = q32 [7.37]
3
As vezes o projeto de isolamento pode ser beneficiado tendo bobinas com alturas diferentes, dentro
de certos limites que não tragam outras conseqüências perniciosas para o projeto. Nestas condições se
pode tomar o valor médio entre as alturas das bobinas para o cálculo do carregamento elétrico
correspondente aos canais de dispersão entre duas bobinas.
A fig. 7.3 é um exemplo de transformadores com mais do que dois enrolamentos. Em todos os casos,
a soma dos ampere-espiras do primário deve ser igual à soma algébrica dos ampère-espiras dos demais
enrolamentos.
Aplicando-se a expressão 7.30 a cada um dos canis, obtém-se a energia total armazenada no campo
magnético do fluxo de distorção. Levando o valor desta energia total do campo magnético à expressão
7.22 determina-se a reatância percentual do transformador para uma determinada distribuição de fluxo
nos diferentes canais. .
Em relação ao fator de Rogowski, convém fazer algumas considerações adicionais.

Walter Ries 61
TRNSFORMADORES

De um modo geral os campos magnéticos como também os campos elétricos não estão confinados
dentro de figuras geométricas simples definidas por equações matemáticas também simples e de fácil
aplicação e solução sem o uso de computadores. Antes do advento do computador, principalmente o
digitalizado, sempre se procurou adaptar as complexas formulações matemáticas dos campos a figuras
geométricas mais simples através de conceitos de limites de aplicabilidade e de tolerâncias admissíveis.
Normalmente a aplicação da Lei de Ampère para a determinação das intensidades de campo, em
módulo e direção leva a uma função periódica que sugere a aplicação das séries, simples e duplas de
Fourier que convergem rapidamente. Foi assim que Rogowski, no início do século passado, desenvolveu
o que conhecemos como “coeficiente de Rogoswski – K”. Inicialmente este coeficiente foi desenvolvido
para transformadores com bobinas intercaladas em “sandwich” como mostram as figuras 7.4 e 7.5. A fig.
7.4 corresponde a um transformador tipo núcleo envolvente (shell type) e a fig. 7.5 corresponde a um
transformador tipo núcleo envolvido (core type). As figuras mostram enrolamentos com somente três
bobinas por simplicidade de desenho. Normalmente o número de bobinas intercaladas é bem maior.

b b*
h
q q
BT × +50 a1
c δ1
AT
× -100 λ a2
δ2
BT × +50 a3

Fig. 7.4: Transformador monofásico tipo núcleo envolvente com bobinas intercaladas.
b

× ×
× ×

× ×

Fig. 7.5: Transformador monofásico tipo núcleo envolvido, com bobinas intercaladas.
Neste caso os canais do fluxo de dispersão são radiais. A altura “h” das bobinas é a dimensão no
sentido radial e a largura “a” das bobinas é a espessura no sentido axial Fazendo o diagrama de
distribuição do fluxo no sentido axial como mostra o diagrama à direita da fig. 7.4, vê-se que ela tem a
forma de uma onda com comprimento “λ”. Se o enrolamento for feito com um número maior de
panquecas ou discos o diagrama de distribuição do fluxo de dispersão pode apresentar varias ondas de
comprimento “λ”. A dimensão “b” é a distância entre a superfície interna das bobinas e a coluna central
do núcleo, e, b* na fig. 7.4 é a distância entre a superfície externa das bobinas e a coluna lateral de retorno
do fluxo mútuo. Portanto, estas distâncias são sempre na direção do fluxo de dispersão.
Segundo A. Boyajian em sua colaboração com outros engenheiros da General Electric Co. na obra
intitulada TRANSFORMER ENGINEERING, são citadas as expressões para o cálculo do fator de
Rogowski. Assim, a expressão 7.38 é aplicável aos casos em que o efeito das partes de ferro que
circundam as bobinas não influem substancialmente nas configurações dos campos. Quando se tem que
levar em consideração o efeito da aproximação do núcleo às bobinas, aplica-se a expressão 7.39 para os
enrolamentos em disco com núcleo envolvido e a expressão 7. 40 para os enrolamentos com núcleos

Walter Ries 62
TRNSFORMADORES

envolventes em que L=2h+2a é o perímetro médio das bobinas, L1=2a é a parte do perímetro que tem
ferro próximo dos dois lados e L2=2h é o resto do perímetro da bobina.

2π h
h λ ⎛ − ⎞
K= ≅ 1− ⎜ 1 − ε λ
⎟ [7.38]
hK 2π h ⎝ ⎠

h λ ⎛ −
2π h
⎞ ⎡ 1 − 4πλ b ⎛ −
2π h
⎞⎤
K= ≅ 1− ⎜ 1 − ε λ
⎟⎢ 1 − ⋅ ε ⎜ 1 − ε λ
⎟⎥ [7.39]
hK 2π h ⎝ ⎠ ⎢⎣ 2 ⎝ ⎠ ⎥⎦

2π h
h λ ⎛ − ⎞
K= ≅ 1− ⎜ 1 − ε λ
⎟×
hK 2π h ⎝ ⎠
⎡ 1 − 4π b ⎛ −
2π h
⎞ ⎛ L2 L1 ⎛ − ⎞ L1 − 2π ( h + 2b+ 2b*) ⎤
2π ( b*− b ) ⎞

⎢1 − ⋅ ε λ
⎜1 − ε
λ
⎟ × ⎜⎜ + ⎜⎜1 + ε
λ
⎟⎟ ⎟ − ε λ ⎥ [7.40]
⎢⎣ 2 ⎝ ⎠ ⎝ L L ⎟ L ⎥⎦
⎝ ⎠⎠

Praticamente não se constroem mais, hoje em dia, transformadores com bobinas de BT e AT em


“sandwich”. A construção normalmente utilizada é de bobinas concêntricas como mostra a fig. 7.6
Neste caso a distribuição do fluxo de dispersão também apresenta uma forma de onda com o
comprimento igual à “λ.”. Neste caso a distância “b” das bobinas até o núcleo, no sentido do canal de
dispersão, é a distância das cabeceiras das bobinas às culatras. Para bobinas concêntricas, normalmente o
fator de Rogowski pode ser dado por uma expressão mais simples como mostra a equação 7.41 que é
igual à expressão 6.20 vista no capitulo 6.

×
D1 D3 D5
h hg
D2 D4
50 -100 50

q1

x
a1 δ1 a2 δ2 a3
q2
c c
λ

. Fig. 7.6: Transformador com primário (ou secundário) dividido em duas partes iguais.
2π h
h λ ⎛ − ⎞ λ c
K= ≅ 1− ⎜ 1 − ε λ
⎟ ≅ 1− = 1− [7.41]
hK 2π h ⎝ ⎠ 2π h πh

Walter Ries 63
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Na expressão 7.41 o canal de dispersão do fluxo corresponde a uma meia onda. Quando se tem
somente duas bobinas concêntricas a distribuição do fluxo de dispersão é representado por uma meia
onda.

1,0

πh ⎡ πh ⎤
0,9
c ⎛ − ⎞ 1 - 2πb ⎛ - ⎞
1- ⎜⎜1 - ε c ⎟⎟ ⎢1- ε c ⎜⎜1- ε c ⎟⎟⎥
0,8
πh ⎝ ⎠ ⎣⎢ 2 ⎝ ⎠⎦⎥
0,7
c ⎛ −
πh

0,6 1- ⎜⎜1 - ε c ⎟⎟
πh ⎝ ⎠
K 0,5
0,4
1 − c πh
0,3

0,2

0,1

0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,8 1,9 2,0
c πh

Fig. 7. 7: Coeficienes de Rogowski

A fig. 7.7 mostra os valores do Coeficiente de Rogowski para as expressões 7.38 e 7.39 normalmente
aplicáveis em transformadores com núcleo envolvido, seja com bobinas intercaladas como com bobinas
concêntricas. Normalmente tem-se “c/πh < 0,3” e os valores de “K” para as expressões apresentadas são
muito semelhantes. Para bobinas concêntricas tem-se sempre “c/πh < 0,2” e a expressão 7.41 é
perfeitamente aplicável. No entanto, em casos especiais, como no cálculo da energia no campo de
dispersão transversal, as expressões 7.38 e 7.39 deverão ser utilizadas uma vez que, nestes casos, tem-se
“c/πh >> 0,3” e os coeficientes “K” bem maiores do que os valores obtidos com a expressão simplificada
7.41. A expressão 7.39 representada na fig. 7.7 corresponde a um determinado valor de “b” onde se pode
observar a sua destacável influência no valor de “K” para valores “c/πh > 0,3”

7.3 – Reatância de dispersão transversal


Quando as alturas das bobinas não são iguais, ou quando um dos enrolamentos possui uma exclusão
devido à regulação de tensão, aparece uma componente transversal do fluxo de dispersão e que é
responsável pela reatância transversal de dispersão. Se não forem tomadas medidas especiais estas
reatâncias correspondentes ao fluxo transversal podem atingir valores elevados muito acima das
tolerâncias admitidas no cálculo da impedância percentual do transformador. O fluxo transversal aumenta
também as perdas parasitas nos condutores retangulares em que a dimensão axial é bem maior do que a
dimensão radial. Em transformadores de grande porte evitam-se ao máximo as exclusões e a diferença
entre alturas das bobinas são mantidas a um mínimo necessário para igualar os campos elétricos nas
cabeceiras das bobinas. São normais valores de exclusões máximas de 10% num só ponto de uma bobina
ou de 20% em dois pontos.
O método que se aplica para este cálculo é o de O. STEPHAN e que está representado na fig 7.8 para
o caso de bobinas com alturas diferentes, desde que estas diferenças não ultrapassem de 10%.
Como se observa, substitui-se a disposição original das bobinas com alturas diferentes, pela soma de
duas bobinas com as mesmas alturas e uma terceira bobina que, introduzida sobre a AT, reconstitui os
ampère-espiras originais. Temos assim, na fig. 7.8 que A = B + C. Na fig. 7.8 B os AE`s da AT são
distribuídos uniformemente em toda a altura h1 e assim se obtém somente fluxo de dispersão axial e que
corresponde à reatância de dispersão axial XI..
Nas extremidades da AT foram, assim, adicionadas (NI)* ampère-espiras, dados pela expressão 7.42,
que foram retiradas da parte central da bobina.

NI h1 − h2
( NI )* = [7.42]
h 2

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(NI)* (NI)*
b a2 a2 q=
(NI)*
a2
δ1
BT × φΤ
AT
NI-2(NI)* 2(NI)* δη
× +
h1 × h2 = ×
(NI)* (NI)* δ3
NI NI NI
φΤ δ4
×

A = B + C D

Fig. 7.7: Método de O. Stephan para o cálculo da reatância de dispersão do fluxo transversal

A bobina da fig.7.8 C é colocada sobre a bobina de AT da fig. 7.7 B e, assim, reconstitui a bobina de
AT da fig. 7.7 A.
Na bobina da fig. 7.8 C só existe fluxo transversal cuja distribuição está representada na fig. 7.8 D,
sendo o carregamento elétrico dado pela expressão 7.43 que é igual nos 4 canais de dispersão do fluxo
transversal. Este carregamento elétrico produz a reatância de dispersão transversal XII.

q=
( NI ) * [7.43]
a2
De um modo geral, dois fluxos colineares produzem uma reatância de dispersão dada pela expressão
7.44 em que ωM = XM é a reatância mútua. Como no caso da fig. 7.8 os dois fluxos, axial e transversal
(radial), são ortogonais, a reatância mútua é nula, resultando, portanto a expressão 7.45.

X = X I + X II ∓ 2 (ω M ) [7.44]
X % = X I % + X II % [7.45]

Aplicando-se o processo de cálculo da reatância total utilizando a energia acumulada nos campos de
dispersão do transformador, a reatância total será sempre determinada pela aplicação da expressão 7.22
em que W é energia total armazenada .
No cálculo da energia armazenada pelo fluxo de dispersão transversal, aplica-se, portanto a mesma
expressão 7.30 com a necessária interpretação das dimensões dos canais. Para o fluxo transversal da fig.
7.8C a bobina de AT se comporta como bobinas em “sandwich” de um transformador tipo núcleo
envolvido, como mostra a fig. 7.5. Assim, a altura dos canais è dada pela espessura “a2” da bobina de AT;
as larguras dos canais são dadas em função das alturas “h1” e “h2” das bobinas de BT e de AT, conforme
mostram as expressões 7.46 e 7.47.

h1 − h2 h2
δ1 = δ 4 = [7.46] δ2 = δ3 = [7.47]
2 2

O carregamento elétrico que produz o fluxo transversal é dado pela expressão 7.43 e o carregamento
elétrico médio quadrático, igual para todos os canais do fluxo transversal, é dado pela expressão 7.48.

1
q 2 = q2 [7.48]
3

Nestas condições, o fator de Rogowski deve ser calculado com um número maior de termos, ou seja,
pela expressão 7.39 que é a mesma recomendada para enrolamentos em “sandwish” da fig. 7.5.

Walter Ries 65
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Para calcular a energia armazenada no campo transversal aplicando a expressão 7.30, deve-se
considerar que D continua sendo o diâmetro médio da bobina de AT; h deve ser substituído pela largura a2
da AT; o valor de a deve ser substituído pelas larguras de cada um dos canais transversais (h1 até h2) da
fig. 7.7A. O carregamento quadrático médio dos canis é dado pela expressão 7.48 que é igual para todos
os canais que têm a mesma forma triangular. Substituindo estes valores na expressão 7.30 resulta para a
energia armazenada no campo de fluxo transversal da fig. 7.7, a expressão 7.49, em que o fator de
Rogowski é dado pela expressão 7.50.

1
Wt = 39,5 ⋅10−7 ⋅ K ⋅ Da2 ⋅ q 2 ( Σδ ) = μ0 ⋅ π ⋅ D ⋅ K ⋅ a2 ⋅ q 2 ⋅ h1 [7.49]
3
h ⎛ −
2 π a2
⎞⎡ 1 − ⎛ 4π b

2π a2
⎞⎤
K = 1 − 1 ⎜ 1 − ε h1 ⎟ ⎢1 − ε h1 ⎜ 1 − ε h1 ⎟ ⎥ [7.50]
2π a2 ⎝⎜ ⎟⎢ 2
⎠⎣


⎟⎥
⎠⎦

Um outro caso em que normalmente aparece um pronunciado fluxo transversal está representado na
fig. 7.9. Neste caso, trata-se de uma exclusão produzida pelas espiras de regulação de tensão de um
transformador.

(NI)* (NI)*
BT AT b a2 NI/2-(NI)* a2 q=
a2
×
NI/2 2(NI)* × 2(NI)*

+
φΤ
h h1 = ×
NI/2-(NI)* φΤ
NI NI/2 NI
× ×
× (NI)*

A = B + C D

Fig. 7.9: Fluxo transversal no caso de uma exclusão central.


Normalmente uma exclusão para ajuste de tensão não ultrapassa 10% do número de expiras da
bobina. Se a exclusão deve ser maior, é recomendável dividi-la em duas partes como mostra a fig. 7.10.

BT AT

h ×
NI
×

Fig. 7.10: Exclusão para regulação distribuída em dois pontos da bobina

O princípio de O. Stephan parece, numa primeira visão, bastante preciso como disposição física
equivalente à original. No entanto, ao colocar sobre a bobina de AT os resíduos de ampere-espiras que
atuavam na BT para produzir o fluxo transversal nos deparamos com o problema da diferença de
distâncias “b” nas duas situações. Quando estes resíduos estão na BT a distância “b” ao núcleo é bem

Walter Ries 66
TRNSFORMADORES

menor do que quando situados sobre a AT e isto altera em muito o valor do coeficiente de Rogowski e
portanto a dimensão radial do tubo de fluxo transversal.

b h 2πb/c c c/πh K
30 100 0,2513 750 2,387 0,2917
230 100 1,9268 750 2,387 0,2034

Fig. 7.11: Planilha para cálculo de K

Na fig. 7.11 tem-se uma pequena planilha para o cálculo do coeficiente K segundo a expressão 7.39
ou 7.50 ou conforme se mostra na fig. 7.7. Referindo-se ao caso da fig. 7.8, se na BT h1 = 1500 mm e b =
30 mm, a espessura da AT “a2 = 100 mm” e a distância dela ao núcleo é b = 230 mm , tem-se um valor de
c/πh = 2,387, portanto muito fora das relações normais para o cálculo do valor de K do fluxo axial do
transformador. O fator K teria, para os resíduos de AE´s da BT, um valor K = 02917 e para os resíduos da
AT um valor K=0,2034. Considerando que os resíduos da BT são percentualmente pequenos, o valor de
K deve estar mais próximo de 0,203 para o exemplo dado.
Uma outra maneira, de trabalhar os resíduos das exclusões, está apresentada na fig. 7.12, conforme
exposto no livro de “Rudolf Küchler – Die Transformatoren”. Nesta figura deixam-se os resíduos para o
cálculo da reatância do campo transversal nas posições de origem.

(NI)x/2 (NI)x/2
b
BT xh/2 η1
AT × φt
(NI)x η2
Dm
(1-x)h

h × ×
NI(1-x)

NI(1-x)

φt η3
NI NI
xh/2 a1 δ a2 η4
c (NI)x/2

A = B + C
Fig. 7.12: Cálculo da reatância do campo transversal

Se “h” é a altura da bobina de BT, e o encurtamento da AT é “xh”, sendo “x ” dado em “per unit”
(0/1) da altura da bobina, a AT ficará com uma altura de “(1-x)h” como se observa na fig. 7.12 (A). Na
fig. 7.12 (B) as duas bobinas têm a mesma altura, mas com NI(1-x) ampére-espiras cada uma. Na fig.
7.12 (C) têm-se os ampére-espiras residuais nas posições originais e que produzem o campo transversal
com uma distribuição dos ampére-espiras residuais conforme diagrama no lado direito da fig. 7.12. Sendo
“l k” o comprimento do tubo de fluxo do campo transversal, o diagrama também representa a distribuição
da intensidade “H” de campo e da indução B do campo transversal cujos valores máximos são dados
pelas expressões 7.51 e 7.52.

x/2 ⋅ NI max x/2 ⋅ NI


H= = 2 [7.51] B = μ0H [7.52]
lk lk

Segundo Rogowski o comprimento “l k” é determinada através do coeficiente de Rogowski “K” e da


altura da bobina no sentido do campo magnético. Na fig. 7.12 (C) não existe uma altura definida de
bobina no sentido do fluxo transversal e, portanto não existe um coeficiente de Rogowski aplicável
segundo o procedimento anterior e não existe também o conceito de “carregamento elétrico (q)”. Este
novo procedimento nasceu com a preocupação de se conseguir uma precisão maior na determinação do
campo transversal principalmente quando se calculam os esforços eletromecânicos que agem nas bobinas,

Walter Ries 67
TRNSFORMADORES

especificamente devido ao fluxo transversal. Estes esforços são proporcionais ao quadrado dos ampére-
espiras residuais e inversamente proporcionais ao comprimento equivalente do tubo de fluxo transversal.
Em casos de um curto-circuito, principalmente assimétrico, as correntes podem chegar a valores de pico
da ordem de 25 a 100 vezes o valor eficaz da corrente nominal do transformador. São, portanto esforços
enormes que se desenvolvem e que podem destruir mecanicamente os bobinados. A precisão de calculo
do comprimento do tubo de fluxo equivalente é neste caso mais crítico do que para o cálculo das
reatâncias de dispersão. Küchler cita dois autores, Bllig e Knaack que nas décadas de 1940 e 1950 se
preocuparam em encontrar uma expressão para determinar o comprimento “l k” com maior precisão. Esta
expressão ainda baseada em estudos de Rogowski leva também em consideração que o volume do campo
transversal é determinado utilizando o diâmetro médio “Dm” dos enrolamentos, conforme mostra a fig.
7.12 (C). A expressão 7.51 mostra o dimensionamento da altura “l k” proposta em que “n” é o número de
meias-ondas que aparecem no diagrama da distribuição dos ampére-espiras ao longo da altura “h” da
bobina de BT. Para o caso da fig. 7.12 tem-se “n = 2”

h c
lk = + +b [7.51]
n⋅π 2

Como a distribuição dos ampére-espiras em todos os canais de largura “δ” é triangular, o valor dos
ampére-espiras médio quadrático é igual a 1/3 do valor dos ampére-espiras máximo ao quadrado. Para um
canal com largura “δ” a energia armazenada no campo magnético transversal é dada pela expressão 7.52 e
a energia total, pela expressão 7.53 sendo “h = Σδ”.

δ 1
⋅ ( NIx/2 )
2
Wδ = μ 0 ⋅ π ⋅ D m ⋅ [7.52]
lk 3
h 1
⋅ ( NIx/2 )
2
Wt = μ 0 ⋅ π ⋅ D m ⋅ [7.53]
lk 3

A expressão 7.53 foi escrita para o caso da fig. 7.12 com duas exclusões simétricas o que causa uma
distribuição do campo transversal com dois meio comprimentos de onda e, portanto com “n = 2”.
Generalizando a expressão para um numero “n” de meias-ondas chega-se à expressão 7.54 em que no
numerador aparece somente o “per unit” total das exclusões sendo o fator “n2” transferido ao denominar.

h ( xNI ) ( xNI )
2 2
h
Wt = μ 0 ⋅ π ⋅ D m ⋅ ⋅ 2 = μ 0 ⋅ π ⋅ Dm ⋅ ⋅ [7.54]
3 n lk 3 h ⎛c2 ⎞
n + n ⎜ + b⎟
π ⎝2 ⎠

.O valor de “lk” para n = 1 é dado pela expressão 7.55.

h c
lk = + +b [7.55]
π 2

Walter Ries 68
TRANSFORMADORES

8 – CONSTRUÇÃO
Pretende-se dar, neste capítulo, algumas noções fundamentais sobre a construção de
transformadores sem entrar em muitos detalhes que somente o convívio numa fábrica destes
equipamentos poderá mostrar e justificar os diversos aspectos construtivos. Cada fabricante tem algumas
características construtivas próprias, mas em essência, os princípios são todos iguais. Às vezes aparecem
patentes de construção para certas partes ou componentes do transformador e o uso destes inventos estão
sujeitas as obtenções de uma licença, com ou sem royalty, até a expiração do prazo de validade da
patente.
Este capítulo vai tratar somente sobre o que se denomina de A Parte Viva do transformador, isto é:
• O núcleo e elementos de montagem
• As bobinas
• O isolamento

8.1 = Núcleo e elementos de montagem


Já foi apresentado, no capítulo 3, parágrafo 3.2, a disposição geométrica de núcleos e bobinas. Por
núcleo e elementos de montagem entende-se todo o circuito magnético do transformador e seus
elementos de fixação e montagem, ou seja;
• O núcleo, propriamente dito ou circuito magnético
• As armaduras ou pressa-culatras
• As prensa-colunas
• Os tirantes
• As sapatas

8.1.1 - Dimensionamento das chapas do núcleo


A secção do núcleo pode ser quadrada, retangular, cruciforme ou aproximadamente circular (em
degraus), como mostra a fig. 8.1

l4 l3 l2 l1

Fig. 8.1: Secção de núcleo em degraus

O problema fundamental consiste em inscrever, num círculo, uma secção escalonada, de área
máxima para um dado número de degraus. A escolha do número de degraus para um determinado
diâmetro do núcleo é um compromisso entre custo de fabricação e vantagens advindas de um maior

Walter Ries 69
TRANSFORMADORES

coeficiente de utilização da secção teórica circular. É normal que o número de degraus aumente com o
diâmetro teórico do núcleo.
O quadro da fig. 8.2 mostra uma relação aproximada entre o diâmetro do núcleo e o número de
degraus normalmente em uso.

<50 50 70 100 140 200 300 400 >500


Diâmetro mm a a a a a a a
70 100 140 200 300 400 550

Nº de degraus 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Fig. 8.2: Número de degraus em função do diâmetro

A secção com dois degraus é a secção quadrada e, com dois degraus, é a secção cruciforme.
O caso de inscrever uma secção maximizada, com 3 degraus, em um círculo, é dado na fig. 8.3.

β=45º

α
D
A1 A2 A3

Fig. 8.3: Núcleo com 3 degraus.

A área da secção é dada por:

A = A1 ⋅ A 2 + ( A 2 − A 3 ) A 2 + ( A1 − A 2 ) A 3 = 2A1 ⋅ A 3 + A 22 − 2A 2 ⋅ A 3 [8.1]

Ademais, têm-se as seguintes relações:

A3 A2 2 A1
= senα [8.2] = senβ = [8.3] = cosa [8.4]
D D 2 D

Dividindo a expressão 8.1 pelo diâmetro ao quadrado (D2) e introduzindo as expressões 8.2, 8.3 e
8.4, tem-se:

A
= 2cosa× sen α + 0,5 − 2 sen α [8.5]
D2

Walter Ries 70
TRANSFORMADORES

Derivando a expressão 8.5 em relação a α e igualando a zero, determina-se o valor máximo de


A / D2.

⎛ A ⎞
d⎜ 2 ⎟
⎝ D ⎠ = 2cos 2 a - 2sen2 a - 2sen a = 0, portanto :

4cos 2 α − 2 cos α − 2 = 0 e:
cos α = 0,906 ou :
senα = 0, 425

Portanto:

A1 = 0,906 D A 2 = 0,707 D A 3 = 0, 424 D


A
e = 0,668
D2
Observando-se que D2 é a área do quadrado circunscrito, a relação A/ D2 representa um coeficiente
de utilização em relação ao quadrado circunscrito. Em relação a ares do circulo de diâmetro D, o
coeficiente de utilização é dado pela expressão 8.6.
4A
ku = = 0,8503 [8.6]
π D2
Procedendo-se de momo análogo para um maior número de degraus, tem-se os valores do quadro
apresentado na fig. 8.4.

Degraus L1 / D L2 / D L3 / D L4 / D L5 / D L6 / D L7 / D L8 / D L9 / D L10 / D A / D² 4A / πD²


1 0,707 0,500 0,6366
2 0,850 0,526 0,618 0,7869
3 0,906 0,707 0,424 0,668 0,8505
4 0,934 0,796 0,605 0,358 0,696 0,8862
5 0,950 0,846 0,707 0,534 0,313 0,713 0,9078
6 0,959 0,875 0,768 0,640 0,483 0,281 0,725 0,9231
7 0,967 0,898 0,812 0,707 0,584 0,436 0,255 0,734 0,9346
8 0,974 0,914 0,841 0,755 0,654 0,554 0,404 0,234 0,740 0,9422
9 0,077 0,929 0,867 0,798 0,707 0,608 0,498 0,370 0,214 0,745 0,9486
10 0,979 0,938 0,884 0,823 0,748 0,662 0,578 0,468 0,346 0,204 0,749 0,9537

Fig. 8.4: Dimensões do núcleo em função do número de degraus.


Com o auxílio deste quadro, conhecido o diâmetro do núcleo e o número de degraus, determinam-se
as larguras dos degraus e as espessuras dos pacotes do núcleo, com o que se pode determinar o número
de lâminas de cada pacote.
É prática comum, numa fábrica de transformadores, criar secções normalizadas de modo a reduzir a
um mínimo o número de larguras de chapas e assim contribuir para a redução dos custos de produção e
do estoque de chapas para núcleos.

Walter Ries 71
TRANSFORMADORES

Hoje em dia são usadas, quase com exclusividade, as chapas de ferro-silício de grão orientado na
construção de núcleos de transformadores de potências elevadas. Estas chapas, primeiramente fabricadas
pela ARMCO, tomam a designação de M-3, M-4, M-5, M-6 ou M-7 de conformidade com as normas
AISI. Possuem um isolamento inorgânico de 2 a 3 mícron e que suporta tratamentos térmicos a 800-
900ºC sem se danificar. Estas chapas são fornecidas em bobinas de 2 ou mais toneladas e larguras de
0,785 m. As chapas em bobinas são, inicialmente, cortadas no sentido longitudinal nas larguras
necessárias para construir os diversos pacotes do núcleo. Conforme a composição do núcleo a ser
construído, realiza-se, então, o corte transversal nos comprimentos necessários.
O núcleo é formado pelas colunas e culatras, conforme mostram as figuras 8.5 e 8.6 em que as
chapas são cortadas, transversalmente, a 90º. As figuras mostram duas camadas consecutivas do pacote
para evitar que os pequenos entreferros fiquem coincidentes na montagem.

i
2 2

1 1 H 1 1

2 2

Fig. 8.5: Núcleo de um transformador monofásico tipo núcleo envolvido.

i i
3 2 2

1 1 1
H
1 1 1

2 2 3

Fig. 8.6: Núcleo de um transformador trifásico tipo núcleo envolvido

As dimensões que definem o núcleo são:


• A secção Afe e o numero de degraus.
• A altura da janela H
• O intereixo i
Normalmente as secções das colunas e culatras são iguais. No entanto, com o intuito de diminuir as
perdas no núcleo, as culatras podem ter uma secção de 10 a 15% maior do que as colunas.
Os núcleos são montados com as lâminas dispostas de modo a diminuir, tanto quanto possível, os
efeitos danosos dos entreferros nas junções. Os entreferros aumentam a corrente de magnetização. As
chapas de grão orientado utilizadas na fabricação de transformadores de potência possuem espessuras de
0,25, 0,30, 0,35 mm. Estas chapas podem ser montadas, como mostram as figuras 8.5 e 8.6, em camadas
sucessivas colocadas de modo que os entreferros fiquem localizados em posições diferentes. Cada
camada pode se constituir de 2 ou 3 lâminas a fim de diminuir os custos do empacotamento. Assim

Walter Ries 72
TRANSFORMADORES

procedendo, os entreferros nas juntas ficam parcialmente eliminados, apresentando-se como mostra a
figura 8.7 em que 50% das chapas terão uma maior indução e, conseqüentemente, apresentarão maiores
perdas magnéticas nestas zonas.

entreferro

Fig. 8.7: Disposição dos entreferros em núcleos montados como mostram as figuras 8.5 e 8.6

Observa-se nas figuras 8.5 e 8.6 que, se a chapa é de grão orientado, o fluxo nos cantos não
percorrerá todas as chapas no sentido da orientação dos grãos. Isto resulta em maiores correntes
magnetizantes e maiores perdas magnéticas nos cantos. Pode-se evitar este inconveniente cortando as
chapas a 45º nos cantos e provendo um pequeno trespassamento nas juntas como mostra as figuras 8.8 e
8.9, respectivamente para núcleos monofásicos e núcleos trifásicos.

2 2 2

1 1 + 1 1 = 1 1

2 2 2

Fig. 8.8: Núcleo monofásico com entreferros a 45º

i
3 4

H 1 2 1

4 3

Fig. 8.9: Núcleo trifásico com entreferros a 45º

Um trespassamento de 10 a 15 mm é suficiente na maior parte dos casos, quer para evitar o efeito de
um entreferro quer para proporcionar boa rigidez mecânica quando o núcleo está prensado.
A fig. 8.10 mostra um canto de um núcleo com chapas cortadas a 45º e trespassamento de ε mm. Na
fig. 8.11 tem-se os diversos tipos de chapas para a construção de um núcleo trifásico conforme fig. 8.9.
Como o núcleo é escalonado as dimensões B, C e l são diferentes para os diferentes degraus.

Walter Ries 73
TRANSFORMADORES

O quadro da fig. 8.12 dá as dimensões B e C em função da altura H da janela, do intereixo i, do


trespassamento e, da largura l da chapa para o degrau considerado e da largura l1 da chapa mais longa
que é a do primeiro degrau.

B B

A 1 3
ε
2ε C C
B B

A 2 4
C C

Fig. 8.10: Canto de um núcleo Fig. 8.11: Tipos de chapas para a construção do núcleo

TIPO DE CULATRA

Posição

1
B = H + A + A1 B = H + 2A1
e
2 C = B − 2A C = B − 2A
B = i +A+ε B = i +A+ε
3
C = B − 2A C = B − 2A
B = i −ε B = i −ε
4
C = B−A C = B−A

Fig. 8.12: Dimensões das chapas do núcleo

Na figura 8.12aparecem 2 tipos de culatras: a) escalonada circular, como as colunas; b) escalonada


mas com a face, superior da culatra superior e face inferior da culatra inferior, plana. O tipo b) de culatra
é , por vezes, utilizado em transformadores de distribuição não apresentando vantagens ou desvantagens
substanciais em relação ao tipo a).
O corte a 45º das chapas pode ser feito com tesoura-guilhotina. Neste caso, permanecem, nos cantos
dos núcleos, as pontas de chapa derivadas do trespassamento ε. Quando se corta a chapa por meio de
estampos, estas pontas podem ser eliminadas. Também quando se utiliza o corte com estampos podem
ser feitos outros tipos de cortes que resultam: 1. numa diminuição maior das zonas com chapa em que a
orientação dos grãos fica a 90º da orientação do fluxo; 2. numa menor influência dos pequenos
entreferros nas junções das chapas.
A fig. 8.13 apresenta dois tipos de corte de chapas com estampos para núcleos de transformadores
trifásicos. Este tipo de corte tem custos adicionais mas são compensados pela diminuição das perdas e
corrente de magnetização em transformadores de elevadas potências.

Walter Ries 74
TRANSFORMADORES

3 2 3 2

1 4 1 1 4 1

2 3 2 3
Fig. 8.13: Núcleos trifásicos com cortes mediante estampos.

8.1.2 - Pressão de empacotamento e fator de empilhamento


Para manter o núcleo rígido e evitar vibrações, a pressão de empacotamento, através das prensa-
culatras e prensa-colunas deve ser de 4 a 5 kgf / cm2.
O fator de empilhamento é a relação entre a secção efetiva de ferro do núcleo e a secção geométrica.
É praticamente impossível evitar pequenos vazios entre as chapas, além do fato de existir um isolamento
de alguns microns na superfície das mesmas.
O fator de empilhamento ke é, pois, menor do que 1 (um) e depende do tipo de isolamento usado
entre as chapas, conforme dado no quadro da fig. 8.14 para algumas espessuras e isolamento de chapas.

Isolamento Papel Verniz Silicônico


Espessura
0,50 0,40 0,35 0,50 0,40 0,35 0,35 0,30 0,28
chapa mm
Fator de 0,88 0,86 0,85 0,90 0,89 0,88
empilham. a a a a a a 0,97 0,96 0,95
ke 0,91 0,89 0,88 0,93 0,92 0,90

Fig. 8.14: Valores do fator de empilhamento de chapas para núcleo

8.1.3 – Planilha para cálculo de núcleos


Com as informações dadas nas figuras 8.2, 8.4, 8.10, 8.11, 8.12 e 8.14 pode-se determinar todas as
dimensões de um núcleo de transformador.
É normal que o fabricante de transformadores tenha já padronizado os núcleos com maior utilização
de modo a diminuir custos e prazos de entrega.
A planilha da fig. 8.15 mostra exemplos de valores a serem padronizados. A partir do diâmetro
circunscrito ao núcleo pode-se determinar muitos elementos de cálculo do transformador, tais como,
secção efetiva do núcleo dada pela expressão 8.7, peso por centímetro de núcleo sabendo que o peso
específico da chapa de ferro-silício de grão orientado é de 7,65 kgf por cm3 , peso da zona de transição
dada pela expressão 8.8 para o caso de um núcleo construído conforme fig.8.9 em função da secção
efetiva, da largura da chapa mais larga do núcleo e do trespassamento ε.
π D2
Afe = ku ⋅ ke ⋅ [8.7]
4
Peso da zona de transição = ⎡⎣ Afe ⋅ A1 + 4 ( A fe ⋅ ε − ε 2 ⋅ A1 ) ⎤⎦ γ fe [8.8]

Walter Ries 75
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Para o cálculo da corrente de excitação e das perdas no núcleo necessita-se conhecer,


separadamente, os pesos de chapa do núcleo que tem seus grãos orientados segundo o fluxo e os pesos
das zonas de transição. Para o caso do núcleo trifásico da figura 8.9 o peso das zonas de transição
corresponde à metade do peso de cada uma das juntas da coluna central do núcleo, mais a metade do
peso das 4 zonas de trespassamento das chapas nos 4 cantos do núcleo.
Em função do diâmetro do núcleo se estabelece o diâmetro mínimo que deve ter a bobina colocada
imediatamente sobre o núcleo. Este diâmetro mínimo é determinado muitas vezes mais em função das
tolerâncias de fabricação do que do isolamento necessário. O isolamento necessário deve, pois, ser
acrescentado para determinar o diâmetro interno da bobina.

γ 7,65 g/cm³ ε 10 mm
Diâmetro Nº Coefic. Coefic. Secção Peso Peso
do de A1 de de efetiva por cm zona
Núcleo degraus D Utiliz. empilham. A fe coluna transiç.
mm ku ke cm² kg/cm kg
100 5 0,950 0,9078 0,96 68,4 0,52 6,8
200 6 0,959 0,9231 0,96 278,4 2,13 48,8
300 7 0,967 0,9346 0,96 634,2 4,85 159,3
400 8 0,974 0,9422 0,96 1136,6 8,70 372,4
500 9 0,977 0,9486 0,95 1769,4 13,54 713,9
600 10 0,979 0,9537 0,95 2561,6 19,60 1227,7

Fig. 8.15: Planilha para o cálculo de elementos do núcleo

8.1.4 – Etapas de construção do núcleo


A construção de núcleo obedece às seguintes etapas;
• Corte longitudinal das chapas
• Corte transversal das chapas
• Cortes por estampagem e furação da chapa quando necessário
• Recozimento e isolamento das chapas quando necessário
• Preparação dos acessórios
• Montagem
• Prensagem
• Ensaio do núcleo.

Corte longitudinal
Em linhas de grande produção esta operação é realizada em máquinas providas de lâminas em
disco que cortam a chapa, na largura necessária, a partir das bobinas que provêm das linhas de laminação
dos fabricantes de chapas de ferro silício. É realizado um programa de corte que prevê o melhor
aproveitamento da largura das bobinas. Em núcleos com secção escalonada, tem-se necessidade de
diversas larguras de chapas e, portanto, o plano de corte longitudinal poderá prever o corte simultâneo de
um arranjo de larguras de modo a evitar, tanto quanto possível, sobras de material.
O corte da chapa deve resultar com um mínimo de rebarba o que é conseguido com o ajuste
adequado nas navalhas de corte. Em chapas de grão orientado com isolamento silicônico a rebarba não

Walter Ries 76
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deve exceder a duas vezes a espessura do isolamento. Os excessos de rebarba devem ser eliminados a
fim de evitar curto-circuito entre chapas adjacentes, aumentando as perdas. A rebarba deve ser eliminada
sem chanfrar a chapa. Quando se realiza um recozimento da chapa a rebarba pode parcialmente se
eliminada.
Corte transversal
O corte transversal pode ser em ângulo reto ou a 45º e é realizado com guilhotina ou estampo. Em
linhas de grande produção o corte transversal é automatizado. Também neste corte, deve-se ter especial
cuidado com a rebarba mediante o ajuste adequado das navalhas ou estampos.
Furação
Hoje em dia tem-se procurado eliminar toda a furação das chapas do núcleo, por se tratar de um
operação dispendiosa e por estrangular o fluxo na zona dos furos aumentando as perdas e corrente de
magnetização.
A furação das chapas tem duas finalidades: a) dar passagem aos parafusos de prensagem das
culatras ou colunas; b) prover um canal de óleo através do núcleo a fim de melhorar a sua refrigeração.
A prensagem das colunas, hoje em dia, é feita exclusivamente com cintas de fibra de vidro e a
prensagem das culatras, na zona situada entre duas colunas, também já está sendo realizada por meio de
cintas de fibra de fibra de vidro providas de esticadores.
Recozimento e isolamento
As operações de corte e estampagem, bem como a forma original da chapa em bobinas, cria no
material, tensões internas que desorientam parcialmente os grãos e aumentam as perdas e a corrente de
magnetização. A recondução do material ao seu estado primitivo é conseguida através do recozimento da
chapa em atmosfera inerte e a uma temperatura de 780 a 840ºC. O recozimento pode ser feito em forno
de campânula ou em forno contínuo. Em linhas de alta produção são usados, preferentemente, os fornos
contínuos nos quais as chapas passam singularmente, isto é, não empilhas, o que resulta numa
uniformidade maior de temperatura de recozimento. Os fornos contínuos, normalmente, são aquecidos
eletricamente com 3 a 4 zonas de temperatura e uma zona de resfriamento controlado na saída. No
recozimento da chapa, uma boa parte da rebarba do corte é eliminada por oxidação.
Em núcleos de transformadores de altíssimas potências, isto é, núcleos com diâmetros maiores do
que 600 mm, é de bom alvitre melhorar o isolamento superficial das chapas mediante a aplicação de
verniz em uma das faces. A polimerização deste verniz adicional é realizada em um segundo forno com
menor temperatura (máxima de 200 ºC).
Preparação dos acessórios e prensagem
Os acessórios do núcleo compreendem:
• As armaduras ou prensa-culatras, superior e inferior.
• Os tirantes de prensagem das culatras
• Os tirantes de prensagem vertical
• Sapatas e travessas
• Calços e isolamentos

A fig. 8.16 mostra um núcleo monofásico com seus acessórios, para um transformador de
distribuição.
As prensa-culatras podem ser de aço perfilado, como mostra a fig. 8.16, ou de madeira ou de
construção mista com madeira e aço. Em transformadores de potências elevadas, usam-se prensa-
culatras construídas com chapa formando perfis reforçados a fim de proporcionar um aperto uniforme
das culatras.

Walter Ries 77
TRANSFORMADORES

Calços Tirante prensa culatra Tirante vertical Travessa

Prensa-culatra superior

Isolamento

Núcleo

Isolamento Prensa-culatra inferior

Sapatas
Travessa

Fig. 8.16: Núcleo e acessórios de um transformador de distribuição monofásico


Na fig. 8.17 vê-se um núcleo trifásico para transformadores de distribuição. Observa-se que entre as
prensa-culatras e as culatras do núcleo é colocado um isolamento de 2 a 3 mm de papelão, nos
transformadores de distribuição, e de 5 a 8 mm nos transformadores de força. Vê-se, também, que a
prensagem das culatras é feita por 4 tirantes horizontais. Para a colocação dos 2 tirantes centrais as
chapas das culatras podem ser furadas e os tirantes serem convenientemente isolados a fim de não curto-
circuitarem as chapas do núcleo, como mostra a fig. 8.18.
Calços Tirante prensa culatra Travessa

Tirante vertical

Prensa-culatra superior

Isolamento

Núcleo

Isolamento
Prensa-culatra inferior

Sapatas

Fig. 8.17: Núcleo e acessórios de um transformador trifásico de distribuição

Walter Ries 78
TRANSFORMADORES

Isolamento

Isolamento

Prensa Culatra de
Madeira

Fig. 8.18: Isolamento dos tirantes de prensagem das culatras (duas modalidades de execução)

As colunas eram, no passado, também prensadas por tirantes como mostra a fig.8.18. Hoje em dia a
prensagem é feita por meio de cintas de fibra de vidro coladas com cola silicônica. Alguns materiais
usados como cintas têm a propriedade de se contraírem quando polimerizados em estufa proporcionando
uma boa prensagem das colunas. A fig. 8.19 mostra a disposição das cintas ao longo de uma coluna do
núcleo e nas culatras e, a fig. 8.20 mostra um corte do núcleo cintado. As longarinas de material isolante
são colocadas com a finalidade de evitar que cinta seja danificada pelos cantos dos degraus do núcleo.

Longarinas de madeira
ou material isolante
equivalente

Cinta de fibra de vidro

Fig. 8.19: Colunas cintadas Fig. 8.20: Secção do núcleo cintado

Montagem
Os núcleos são montados sobre um plano horizontal nivelado. São usadas guias de montagem para a
colocação certa das chapas, evitando-se, ao máximo, os entreferros que são sempre origem de maiores
correntes e perdas de excitação.
Após montadas todas as chapas, o núcleo é prensado e somente então é colocado em pé para receber
a cintagem das colunas cuja cola é polimerizada em estufa a 200ºC.

Walter Ries 79
TRANSFORMADORES

Para fins de refrigeração do núcleo em transformadores de alta potência e diâmetros de núcleo


maiores do que 600 mm, usam-se canais de óleo entre pacotes do núcleo, conforme mostra a fig. 821. Os
separadores utilizados são longarinas de material isolante ou amagnético capaz de suportar os esforços
de prensagem do núcleo.

Fig. 8.21: Canal de refrigeração entre pacotes do núcleo

Para reforçar o isolamento entre as lâminas de núcleos de grande secção , é normal a colocação de
um reforço de isolamento colocando folhas de papelão isolante de 0,3 mm de espessura a cada 15 ou 20
mm de pacote de lâminas. Deste modo, caso ocorram curtos-circuitos entre lâminas, devidos as sobre-
tensões transitórias, eles ficam interrompidos nas zonas isoladas com papelão.
Os canais de refrigeração e as folhas de papelão entre pacotes fazem com que diminua o coeficiente
de empilhamento das chapas do núcleo. Na planilha da fig. 8.15 não foram levados em consideração
eventuais isolamentos adicionais entre lâminas do núcleo, nem tampouco, canais de refrigeração.
Os diversos pacotes isolados entre si por estas lâminas de papelão devem ser aterrados em um
determinado ponto por meio de lâminas de cobre ou manganina. Outrossim, todo o sistema de
prensagem das culatras é isolado do núcleo através de espaçadores isolantes, como mostra a fig. 8.22.

Material isolante

Espaçador isolante

Fig. 8.22: Isolamento entre núcleo e prensa-culatras


A ligação elétrica do sistema de prensagem ao núcleo é feita em um só ponto. Os passantes do
núcleo e os tirantes de prensagem são também isolados a fim de evitar correntes que poderiam se

Walter Ries 80
TRANSFORMADORES

originar no caso em o sistema de prensagem com seus tirantes formassem uma espira em curto-circuito
em relação ao fluxo de dispersão das cabeceiras das bobinas.
Ensaio do núcleo
Com o núcleo completamente montado e prensado, enrolam-se algumas espiras provisórias sobre as
colunas e se aplica uma tensão que produza a indução nominal de operação do núcleo. Verificam-se,
assim, as perdas, a corrente de excitação percentual e eventuais zonas de aquecimento irregular.

8.1.5 – Núcleos para transformadores pequenos


Em transformadores pequenos de distribuição são muito usados os núcleos enrolados, conforme
figuras 8.23 e 8.24, que exigem máquinas especiais, tanto para enrolar os núcleos como para enrolar as
bobinas nas colunas.

Fig. 8.23: Núcleo enrolado, Fig. 8.24: Núcleo enrolado, tipo


envolvido e monofásico envolvente, monofásico

Para pequenos transformadores usados em rádio, televisões, etc., são usadas o núcleo estampado
composto de um estampo “E” e de um estampo “I” montado alternativamente de modo que as lâminas
“I” e “E” fiquem colocadas, metades de um lado e metade do outro. Estes núcleos são normalmente
padronizados conforme mostra a fig. 8.25.

h/2

h/2

h/2

h/2

h/2

2h h/2 2,5 h

Fig. 8.25: Núcleo estampado padronizado Fig. 8.26: Núcleo estampado num só peça.
Na fig. 8.26 tem-se um outro tipo de núcleo estampado com a parte central cortada em um dos lados
de modo a permitir a sua introdução nas bobinas dos enrolamentos.

Walter Ries 81
TRANSFORMADORES

8.2 – BOBINAS
Pelas suas características elétricas, mecânicas e custo, as bobinas se constituem na parte mais
importante do projeto de um transformador. Eletricamente elas devem possuir as características de
isolamento de sua classe de tensão e temperatura de operação compatível com sua classe de temperatura.
Mecanicamente, as bobinas estão sujeitas aos altíssimos esforços derivados das forças eletromagnéticas
durante os curtos-circuitos no sistema elétrico do qual o transformador faz parte. Além do mais, uma
parcela muito significativa do custo do transformador está concentrada nos enrolamentos.

8.2.1 – Tipos de bobonas


Fundamentalmente existem dois tipos de bobinas:
1. Bobina helicoidal ou em camadas
2. Bobina em discos.
Quanto à disposição das bobinas, elas podem ser:
1. Concêntricas
2. Intercaladas: em discos ou em panquecas
A escolha do tipo de bobina deve levar em consideração diversos fatores, tais como:
1. A distribuição da tensão ao longo do enrolamento
2. As perdas adicionais
3. A rigidez mecânica para suportar curtos-circuitos
4. A disposição geométrica para facilitar a construção e as ligações
5. O custo de fabricação.
A fig. 8.27 mostra uma camada de uma bobina helicoidal, e a fig. 8.28 mostra uma bobina em disco.

Fig. 8.27: Bobina helicoidal Fig. 8.28: Bobina em disco

Nos enrolamentos concêntricos as bobinas, primária e secundária, são montadas concêntricamente,


como mostra a fig. 8.29. Esta disposição é usada na grande maioria dos transformadores de distribuição e
de transmissão. Os enrolamentos intercalados são constituídos por bobinas montadas umas sobre as outras,
no sentido axial, intercalando-se bobinas primárias e secundárias, como mostra a fig. 8.30.

Walter Ries 82
TRANSFORMADORES

BT ×
AT BT BT AT AT × AT

× × BT × BT

AT × AT

BT × BT

Fig. 8.29: Bobinas concêntricas Fig. 8.30: Bobinas intercaladas

8.2.2 – O Condutor
A secção do condutor dos enrolamentos pode ser redonda ou retangular. Usa-se, normalmente, a
forma circular até a secção de 8 mm2, acima da qual é usada a forma retangular comum ou diversos
condutores em paralelo. O condutor da secção retangular deve sempre ser disposto de modo a reduzir as
perdas parasitas, isto é, com a menor dimensão no sentido perpendicular ao fluxo de dispersão. Até o
limite de, aproximadamente, 100 mm2 de secção, as bobinas podem ser construídas com um só condutor.
Acima deste limite, são usados condutores em paralelo, quer por facilidade mecânica de execução da
bobina, quer para manter as perdas parasitas dentro dos limites aceitáveis (máximo de 20% das perdas
ôhmicas).
Outrossim, condutores retangulares com dimensões, no sentido axial, muito elevadas poderão dar
lugar a excessivas perdas parasitas nas cabeceiras das bobinas onde o fluxo de dispersão se torna, em
parte, transversal, atravessando o condutor no sentido radial como mostra a fig. 8.31. Para as cabeceiras é,
exatamente a altura α do condutor que entra na expressão das perdas parasitas no lugar da dimensão β,
sendo pois fácil concluir sobre o ser efeito danoso nas perdas parasitas. É, portanto, normal limitar as
dimensões do condutor retangular aos valores.
β = 6 mm e α = 18 mm
Para secções maiores é necessário o uso de condutores em paralelo. Todas estas diretrizes dimensionais
dos condutores dependem, naturalmente, do projeto específico onde pode ser necessário utilizar
dimensões α e β menores.

Culatra

2 (1) 1 (4)
(a)
a 3 (4) 2 (3)

a
Coluna

a
2 3 1 2 4 1 3 4
a× 1 4 4 3 3 2 2 1
(b)

BT AT cilindro bobinador

C
Fig. 8.31: Franjamento do fluxo disperso Fig. 8.32: Transposição cíclica (Hobart)

Walter Ries 83
TRANSFORMADORES

Com o uso de condutores em paralelo surge o problema da necessidade de se fazer transposições


entre eles. Todos os condutores em paralelo devem ter, depois de feita uma bobina, o mesmo
comprimento e devem ocupar, relativamente ao fluxo disperso todas as posições, no sentido radial, em
igual número de vezes. Com isto, garante-se que todos os condutores em paralelo tenham a mesma
resistência ôhmica e a mesma reatância de dispersão. Deste modo a corrente que circula pelas espiras da
bobina se distribui igualmente entre os condutores em paralelo..
Para se obter tal resultado, torna-se necessário fazer transposições dos condutores em paralelo, como
se observa na Fig. 8.32, onde uma espira tem 4 condutores em paralelo e são necessárias 3 transposições
para que cada um dos 4 condutores ocupe, o mesmo número de vezes, as diversas posições no sentido
radial, como pode ser visto na Fig. 8.32 (a). A falta de transposições ou um número incompleto de
transposições necessárias em condutores em paralelo te como conseqüência um aumento das perdas no
condutor por correntes circulantes. Existem muitas maneiras de se fazer transposições, sendo a mais
usada, a transposição cíclica, ou de Hobart, que mostra a Fig. 8.32: em (a), como ficam os condutores
bobinados numa camada sobre o cilindro bobinador; em (b), uma vista lateral da bobina detalhando uma
transposição cíclica entre os 4 condutores que estão numerados de 1 a 4 e os números entre parênteses
correspondem aos condutores que se encontram por baixo.
Nos enrolamentos em disco é comum a realização de transposições dos condutores em paralelo
sempre que se passa de um disco para outro, como mostra a Fig. 8.33.

1 2 1 2
2 1 2 1
1 2 1 2 2 1 2
2 1 2 1 1 2 1
cilindro bobinador

Fig. 8.33: Bobina em discos com 2 condutores em paralelo com transposições.

Os condutores de secção circular são, em geral, isolados com uma ou duas camadas de esmalte, ou
ainda, com papel Kraft ou fio de seda. Os condutores retangulares são, geralmente, isolados com tiras de
papel Kraft (papel de pura celulosa). A espessura do isolamento depende das solicitações dielétricas nos
enrolamentos para altas tensões. Para bobinas de baixa tensão, menor de 1.000 Volts, o fator determinante,
para dimensionar a espessura do isolamento, é a resistência mecânica à abrasão.
As solicitações dielétricas não são somente aquelas de operação normal, mas, sobretudo aquelas que
se originam das sobretensões nos transformadores, quer em operação, quer nos ensaios de laboratório que
simulam as possíveis ocorrências em operação.
O transformador em operação está sujeito a dois tipos de sobretensões:
• Sobretensões transitórias de chaveamento do sistema e de descargas atmosféricas;
• Sobretensões de curtos-circuitos no sistema, de perdas de carga do sistema, etc.
Para se reproduzir estas sobretensões, fazem-se, em laboratório, os seguintes ensaios nos
transformadores:
1. Ensaio de impulso de onda longa que simula as sobretensões de chaveamento do sistema;
2. Ensaio de impulso normal de onda plena e de onda cortada, que simula as sobretensões devidas
às descargas atmosféricas;
3. Ensaios de tensão induzida e aplicada que simulam as sobretensões dinâmicas do sistema.
A norma brasileira NBR 5356 da ABNT especifica os níveis de tensão para cada um dos ensaios
acima em função do nível de tensão do projeto do transformador. Deste modo, tanto os condutores,
como as demais partes sob tensão do transformador, devem ser isoladas de modo a suportarem as
solicitações decorrentes dos ensaios mencionados.

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A tabela da Fig. 8.34 fornece uma orientação para o isolamento dos condutores de uma bobina, de
acordo com o nível de tensão de operação do transformador.

Nível de Tensão Nível de isolamento Isolamento bilateral


kV (NI) kV Do condutor mm
15 110 0,5
25 150 0,6
34,5 200 0,7
46 250 0,8
69 350 0,9
92 450 1
138 650 1,5
161 750 1,8
230 950 2,1
345 1.175 2,7
440 1.425 3,2

Fig. 8.34: Isolamento dos condutores em função do nível de tensão

O material mais utilizado para o condutor é o cobre eletrolítico, com 99,9% de pureza,
correspondente à graduação de 100% IACS, produzido por laminação e trefilação ou por extrusão. Após a
trefilação o condutor deve ser recozido de modo a tingir uma dureza máxima de 46 Brinell. O condutor
deve ser liso, sem carepa e limpo por decapagem. Quando o condutor for de secção retangular deve
apresentar os seus cantos arredondados a fim de diminuir os gradientes de potencial e evitar o corte do
material isolante (ver Fig. 8.35). Para condutores com β < 1,8 mm o perfil pode se apresentar como na
Fig. 8.36.

r β β

α α
Fig. 8.35: Condutor retangular Fig. 8.36: Condutor retangular com β < 1,8 mm

A tabela da fig. 8.37 fornece os raios de curvatura dos cantos e a redução da secção do condutor.
α mm β mm 0,7 a 1,00 1,1 a 1,5 1,6 a 1,,8 1,9 a 3,1 3,3 a 4 2 4,3 a 5,7 5,8 a 6,4
r 0,3 0,4 0,4 0,8 1,2 -
2,6 a 4,8
red. mm² 0,15 0,08 0,14 0,14 0,55 1,24 -
r 0,8 0,8 1,2 1,6
4,8 a 19,0
red. mm² 0,15 0,35 0,65 0,55 0,55 1,24 2,2
* Para a Fig. 8.36
Fig. 8.37: Raio de curvatura dos cantos e a redução da secção do condutor.
Também pode ser usado condutor de alumínio eletrolítico. No entanto devem-se analisar custos finais
de fabricação utilizando condutores de cobre ou de alumínio. Embora o alumínio tenha um custo por kgf
menor, a sua resistividade é maior exigindo maiores secções dos condutores.

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8.2.3 – Construção das bobinas


As bobinas são construídas sobre formas cilíndricas que, por meio de um dispositivo especial, podem
se expandir ou contrair ajustando-se diâmetro interno da bobina. As máquinas de bobinar podem ser
horizontais ou verticais.
Uma bobina poder ser DIREITA ou ESQUERDA dependendo do sentido do enrolamento da mesma.
Nas figuras 8.38 e 8.39 vê-se como se apresentam estas definições.

Fig. 8.38: Bobina DIREITA Fig. 8.39: Bobina ESQUERDA

Iniciando a bobina do lado esquerdo de uma bobinadeira horizontal, a bobina que se obtém será
DIREITA, isto é, com sentido horário. Iniciando do lado direito da bobinadeira horizontal, a bobina será
ESQUERDA, ou seja, com sentido anti-horário. Uma bobina com diversas camadas possui,
alternadamente, camada DIREITA e ESQUEDA. Virando-se uma bobina, ela não muda o seu sentido de
enrolamento.
Normalmente as bobinas são enroladas sobre um cilindro isolante que lhe serve de base. Estes
cilindros podem ser de papelão prensado, de pura celulose tipo presspan ou Weidmann (suíço)l, ou de
fenolite que é constituído por papel Kraft com resina fenólica.
Nas figuras 8.40 a 8.49 vêm-se diferentes maneiras de construir bobinas helicoidais e em disco. Nas
figuras 8.40, 8.41 e 8.42, têm-se bobinas helicoidais com 1 (um) condutor ou com mais condutores em
paralelo, normalmente usadas nos enrolamentos de baixa tensão de transformadores de distribuição nos
quais se tem correntes elevadas e em pequeno numero de espiras. Na Fig. 8.43 tem-se uma bobina
helicoidal em camadas que pode ser usada na alta e baixa tensão de transformadores de força e
distribuição. São as bobinas mais simples que existem mas encontram limitações no isolamento entre
camadas e na refrigeração.
A Fig. 8.44 mostra um enrolamento em panquecas muito usado na alta tensão de transformadores de
distribuição. Pode-se considerar este enrolamento como um tipo misto entre o helicoidal e o disco.
Na Fig. 8.45 tem-se uma bobina helicoidal, com uma camada, mas com espiras intercaladas. Vê-se
que o condutor (1) forma 4 espiras, distribuídas ao longo de toda a altura da bobina, e depois, liga-se com
o condutor (2) que também forma 4 espiras ao longo da bobina. O condutor (2), por sua vez, liga-se ao (3)
e este ao (4), todos eles formando 4 espiras ao longo da bobina. Das ligações dos condutores (1) ao (2), (2)
ao (3) e (3) ao (4) tiram-se derivações que vão a um comutador de tensão. Este tipo de bobina é muito
usado em bobina de regulação de tensão em transformadores de força com comutadores de tensão sob
carga. Para cada uma das derivações, tem-se uma distribuição uniforme do carregamento elétrico de
corrente ao longo da altura da bobina e o princípio de simetria das bobinas fica assegurado.
As figuras 8.46, 8.47 e 8.48 apresentam bobinas em disco. O enrolamento em disco simples é pouco
usado, pois exige a passagem do condutor entre 2 discos contíguos a fim de ligar a espira superior de um
com a espira inferior do outro disco. Esta passagem dificulta o isolamento das bobinas.
A bobina de disco duplo contínuo é largamente usada para a construção de enrolamentos de baixa e
alta tensão até 69 kV. O disco duplo exige que se construa, alternadamente, um disco normal e um disco
inverso. O disco normal inicia em baixo e o disco inverso inicia em cima. O disco que inicia na parte
inferior é facilmente construído. No entanto, o disco imediato, chamado disco inverso, é construído como
mostra a Fig. 8.50. Após feito um disco normal, constrói-se ao lado, com o auxilio de uma cunha
semicircular um segundo disco, como mostra a Fig. 8.50, fase (a). Da espira 9 à 10 a passagem é feita
com o auxílio da cunha. Este segundo disco é, depois, afrouxado e é feita, então uma inversão das espiras,
conforme mostra a fase (b). Quando a inversão é completada, retira-se a cunha e traz-se o segundo disco
para junto do primeiro, como mostra a fase (c). O aperto do disco inverso é feito tracionando a espira
inferior e batendo levemente em cima e na lateral do disco, com um martelo de material plástico.

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Fig. 8.42: Bobina helicoidal


Fig. 8.40: Bobina helicoidal Fig. 8.41: Bobina helicoidal
c/ 1 camada e 3 condutores
c/ 1 camada e 1 condutor c/ 1 camada e 2 condutores
em paralelo, um sobre o outro
em paralelo, lado a lado

1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4

Fig. 8.43: Bobina helicoidal Fig. 8.44: Bobina helicoidal Fig. 8.45: Bobina helicoidal
em camadas, fio retangular em panquecas com espiras inercaladas
e fio redondo

1 1

2 20
0

Fig. 8.46: Bobina em disco Fig. 8.47: Bobina em disco Fig. 8.48: Bobina em disco
simples duplo contínuo duplo contínuo com 2
condutores em paralelo
1 16
9 8
2 15
10 7
3 14
11 6
4 13
12 5

Fig. 8.49: Bobina em disco continuo entrelaçado (interleaved)

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8 9 8 9 8 9
7 16 7 10 7 10
6 15 6 11 6 11
5 14 5 12 5 12
4 13 4 13 4 13
3 12 3 14 3 14
2 11 2 15 2 15
1 10 1 16 1 16

(a) (b) (c)

Fig. 8.50: Fases da construção


de um disco inverso

O disco duplo é empregado, igualmente, com condutores em paralelo, como mostra a Fig. 8.48. Na
passagem de um disco para outro é feita uma transposição dos condutores com a finalidade de fazer com
que todos os condutores paralelos tenham a mesma impedância, conforme já visto na fig. 8.33.
Na Fig. 8.49 é apresentado o enrolamento em disco contínuo entrelaçado ou “interleaved”,
especialmente usado nas altas e altíssimas tensões de transformadores de força. O entrelaçamento das
espiras traz como resultado uma melhor distribuição das sobretensões de impulso ao longo do
enrolamento e, portanto, a bobina passa a suportar melhor as solicitações dielétricas em operação.
As bobinas helicoidais em camadas, feitas com condutor retangular, podem ser construídas sem o
cilindro isolante de base. Entre as camadas deve haver um isolamento que suporte as tensões de ensaio
correspondente a duas camadas. Nas bobinas em camadas, com fio de secção circular, normalmente é
usado um cilindro isolante de base, como ocorre nos transformadores de distribuição com este tipo de
enrolamento. As bobinas em panqueca, conforme Fig. 8.44, podem ser feitas sem cilindro de base, pois,
normalmente, elas são enfaixadas com tiras de papel Kraft ou impregnadas em verniz isolante para
proporcionar uma boa rigidez mecânica. Estas panquecas não possuem mais do que 30 a 40 mm de altura
axial e 20 a 30 mm de espessura radial. O isolamento entre camadas é feito com papel Kraft de 0,06 a
0,12 mm de espessura.
A Fig. 8.51 mostra um corte de bobinas em camadas, BT e AT, de um transformador de distribuição
e a Fig. 8.52 mostra um corte de bobinas de AT em panquecas.
As bobinas em panqueca são mais bem refrigeradas pelo óleo que pode também circular nos
intervalos entre as panquecas separadas por espaçadores vazados conforme mostram os detalhes. As
bobinas são prensadas contra as culatras através de calços vazados ou maciços isolantes. Longarinas
espaçadoras separam as bobinas entre si e do núcleo, deixando sempre canais para circulação do óleo
refrigerante.
Observando-se as figuras 8.51 e 8.52, a partir do núcleo, no sentido radial, tem-se:
a) Cilindro isolante da BT contra o núcleo constituído de papelão prensado, tipo presspan, com 2 a 3 mm
de espessura.
b) Canal de refrigeração da BT contra o núcleo, com um mínimo de 5 mm de largura, mantido através de
longarinas axiais, chamadas de estecas, construídas de madeira ou presspan.
c) Bobina de BT com os isolamentos de cabeceira constituídos de um calço compacto em anel e um
calço vazado para permitir a circulação do óleo de refrigeração.
d) Canais de refrigeração e isolamento entre BR e AT. Estes canais estão separados por um cilindro
isolante de presspan, de 2 a 3 mm de espessura. A largura mínima dos canais de circulação de óleo
deve ser de 5 mm a fim de permitir a circulação do óleo por efeito termo-sifão sem perda de carga
excessiva por atrito viscoso. A circulação do óleo por efeito termo-sifão é denominada de circulação
natural, pois pode existir, também, a circulação forçada do óleo utilizada em transformadores de
potência elevada.

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e) Cilindro isolante, de 1 a 1,5 mm de espessura, da AT, somente no caso da Fig. 8.51.

Longarinas espaçadoras
e canais de circulação de
óleo Calços vazados Papelão de compensação

10 a 15
mm

Cilindro
isolante

a1 δ a2

Detalhe das cabeceiras das bobinas

Fig. 8.51: Transformador de distribuição com bobinas de BT e AT em camadas

Anel de prensagem
Calços vazados

Espaçador

Tipos de espaçadores vazados

Fig. 8.52: Transformador de distribuição com bobinas de BT em camadas e AT em panquecas

f) Enrolamento da AT, em camadas ou em panquecas. No enrolamento em camadas o isolamento entre


as mesmas pode ser gradativo, isto é, menor do lado em que se passa de uma a outra camada e maior
no lado oposto, onde a diferença de potencial entre espiras das duas camadas é maior. Na Fig. 8.51
foram desenhadas somente duas graduações de espessura de isolamento, mas, de acordo com as
necessidades podem ser feitos vários degraus de espessura por camada.

Walter Ries 89
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Na bobina de AT em camadas o isolamento das é formado pelo isolamento entre camadas, que
sobressai do enrolamento a fim de criar um caminho superficial maior entre as camadas, e pelos
calços de prensagem da bobina. Entre o isolamento, que sobressai do enrolamento, são colocadas
tiras de papelão presspan, com espessuras iguais ao diâmetro do fio condutor, coladas com verniz
isolante de modo a tornar toa a cabeceira bastante compacta.
As bobinas em panqueca devem receber um isolamento maior nas panquecas de cabeceira. Estas
panquecas são isoladas com papel Kraft crepado até atingir uma espessura de 0,5 a 2,0 mm,
dependendo da classe de tensão do transformador que, normalmente é de 15 a 34,5 kV.
Os espaçadores vazados entre panquecas normalmente possuem uma espessura de 8 a 10 mm,
provendo o isolamento necessário entre as panquecas e o canal de passagem de óleo para refrigeração.
Normalmente a tensão de trabalho, por panqueca, não ultrapassa de 2,5 kV e a tensão por camada,
das bobinas em camadas, é no máximo de 3 kV.

As bobinas em disco são construídas sobre um cilindro isolante de papelão prensado ou fenolite, que
lhes servem de base.
Sobre o cilindro isolante são colocadas as estecas , ou também chamadas de longarinas, de madeira
ou de papelão presspan, conforme mostra a Fig. 8.53.
30 a 40
mm

Canal de óleo

Cilindro Espaçadores

10 a 20
mm

Disco com espaçadores Esteca

Fig. 8.53: Bobina em disco


As estecas possuem uma parte mais larga que se encaixa nos espaçadores. Sobre a estecas são
enrolados os discos separados pelos espaçadores também construídos de papelão prensado. O encaixe dos
espaçadores nas estecas evita que os mesmos possam sair de sua posição normal se, eventualmente,
houver u afrouxamento entre os discos. Os espaçadores podem ter já o encaixa para as estecas que vão
formas o espaçamento para o próximo canal de óleo no sentido radial, como mostra o disco com
espaçadores da fig. 8.53. Se o espaçador for da última bobina este encaixe não é mais necessário
conforme mostra a figura à direita dos detalhes dos espaçadores.
A distância entre as estecas é função das dimensões do condutor. No entanto, para que seja possível a
realização das transposições entre condutores em paralelo e, para permitir a passem dos condutores de um
disco para o outro, a distância entre as estecas não deve ser menor do que 6 vezes a largura do condutor.
Distâncias muito grandes entre estecas podem deformar o disco, motivo pelo qual elas não devem ser
superioras a cerca de 10 vezes a largura do condutor.
A Fig. 8.53 mostra a secção reta de uma bobina em disco e a Fig. 8.54 dá uma vista lateral das
transposições de uma bobina em disco duplo.
Os canais radiais entre discos separados pelos espaçadores têm a dupla função, de isolamento entre
discos e de permitir a passagem de óleo refrigerante. A dimensão axial destes canais varia de 3 a 6 mm,
quer devido à tensão de trabalho entre discos, quer devido à necessidade de refrigeração.

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A passagem do condutor de um para outro disco é feita, em geral, um pouco antes de completar o
número inteiro de voltas, a fim de evitar um radial maior do que o nominal neste ponto.
Quando se têm condutores em paralelo, faz-se uma transposição dos mesmos sempre que se inicia
um novo disco, conforme se observa na fig. 8.55. Estas transposições são feitas em diversos setores a fim
de facilitar a execução sem danificar o isolamento do condutor. Nas dobras do condutor, para as
transposições, o isolamento sempre deve ser reforçado, quer aumentando as camadas de papel Kraft sobre
o condutor, quer colocando um tira de papelão de 0,5 mm de espessura, por baixo do condutor dobrado

Espaçador

Disco

1 2 1
2 1 2

Seto Este

Fig. 8.54: Vista das transposições Fig. 8.55: Transposições entre


de uma bobina em disco duplo condutores em paralelo

8.2.4 – Tratamento das bobinas, encolunamento e montagem


Os diversos enrolamentos do transformador, primário, secundário, terciário, regulação, etc. são
construídos separadamente. Devido à umidade absorvida pelo material isolante, as bobinas devem ser
tratadas em estufa antes de montadas sobre o núcleo. Este tratamento se realiza em temperaturas de 90 a
100ºC e durante 24 a 36 horas. Quando em tratamento de secagem, as bobinas devem estar prensadas
entre duas placas de ferro, sendo preferível que a tensão de prensagem permaneça ativa a medida que a
bobina vai perdendo umidade. Isto é conseguido se a prensagem é realizada por meio de tirantes com
molas ou se for pneumática ou hidráulica. É durante a fase de secagem da bobina que se ajusta a altura da
mesma introduzindo ou retirando espaçadores entre as espiras ou discos do enrolamento.
Após a secagem, segue-se a operação de encolunamento, isto e, a colocação das bobinas,
concentricamente, com estecas e cilindros isolantes. Nos transformadores de distribuição costuma-se
montar a bobina de BT sobre o núcleo e depois a bobina de AT sobre a B. Nos transformadoras de força,
no entanto, a montagem das bobinas de BT AT, regulação, etc., é, normalmente realizada antes de colocar
todo o conjunto sobre o núcleo. Esta montagem é sempre realizada com as bobinas, estecas e cilindros
isolantes convenientemente secos. Uma vez encolunadas as bobinas, umas sobre as outras de modo
concêntrico, elas são montadas nos núcleos que, para esta operação, estão com as culatras superiores
desmontadas. Após a montagem sobre os núcleos, as culatras superiores são novamente recolocadas
juntamente com as prensas-culatra e todos os elementos de prensagem.
Dependendo do grau de umidade do ambiente, o papel e o papelão isolante, bem como a madeira,
podem absorver água até 10% de seu peso. Ambientes muito úmidos são, pois, desaconselháveis para
operações de bobinagem e encolunamento de bobinas de transformadores, principalmente quando se trata
de transformadores para altíssimas tensões que possuem grande quantidade de material isolante.
A prensagem das bobinas montadas sobre os núcleos pode ser realizada de diversas maneiras:
a. por meio de parafusos de prensagem fixados nas abas das prensas-culatra, conforme mostra a Fig.
8.56;
b. por meio de molas-prato, semelhante ao item anterior, porém, adicionando-se molas;

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c. por meio de calços após a prensagem por meio de macacos hidráulicos, conforme mostra a Fig. 8.57.

Calços

Anel de prensagem

AT BT AT BT

Fig. 8.57: Prensagem por calços após Fig. 8.57: Prensagem por calços após
pré-prensagem por macacos pré-prensagem por macacos
hidráulicos hidráulicos

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9 – O ISOLAMENTO DO TRANSFORMADOR
9.1 – Introdução
Materiais isolantes sólidos, líquidos e gasosos são utilizados no isolamento de transformadores nas
seguintes partes:
• Entre espiras de uma bobina
• Entre bobinas de uma fase
• Entre bobinas de fases diferentes
• Entre bobinas e as colunas e culatras
• Nas buchas de passagem dos terminais das bobinas.
Os transformadores, quanto ao isolamento utilizado, podem ser do tipo seco ou imerso em líquido
isolante. Para tensões baixas, até o nível de 34,5 kV podem ser construídos transformadores secos em que
os principais dielétricos utilizados são as resinas naturais e sintéticas, fibra de vidro, mica, porcelana,
resinas epoxílicas, o ar, certos gases isolante (SF6), etc. Nos transformadores imersos em líquido isolante,
são utilizados os materiais na base de celulose como papel Kraft de alta resistência mecânica, papel
crepado, estruturas com papel laminado como o papelão presspahn, o “transformerboard”, madeira
tratada, etc. e como líquido isolante o óleo mineral para transformadores e também alguns óleos
sintéticos.
A operação dos transformadores sob tensões sempre maiores torna o isolamento um dos pontos
mais críticos do projeto e o principal tópico para pesquisas e desenvolvimento de novos materiais e
estruturas isolantes.

10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
0% 100 %
90%
95%
BT AT

Fig. 9.1: Linhas de fluxo entre AT e BT e entre H1 e H2 Fig. 9.2: Planos equipotencias entre AT e BT

Na fig. 9.1 podem-se ver as linhas de fluxo do campo elétrico entre as bobinas de alta e baixa
tensão de uma fase e entre as bobinas de alta tensão entre fases diferentes. As densidades de fluxo sempre
são maiores nas cabeceiras das bobinas e, portanto, nestes pontos as intensidades de campo elétrico ou
gradiente de potencial são maiores. Na fig. 9.2, observam-se as linhas que representam um corte dos
planos equipotenciais do campo elétrico entre as bobinas de alta e baixa tensão Nos pontos de maior
intensidade de campo os planos estão mais próximos. O desenho destas curvas permite fazer uma
avaliação dos gradientes de potencial (kV/cm) nos diversos pontos do campo e assim verificar se estes
gradientes se encontram abaixo dos valores de ruptura do isolamento.
Diferente dos materiais metálicos, os materiais isolantes, sejam sólidos, líquido ou gasoso têm um
comportamento muito irregular e de difícil avaliação sob o ponto de vista elétrico. Os materiais sólidos e
líquidos estão sujeitos a uma rápida deterioração sob determinadas condições tanto elétricas quanto
mecânicas.
O tempo de vida útil do transformador depende essencialmente das solicitações a que os
isolamentos estão submetidos durante a operação. Nos transformadores imersos em óleo o isolamento é

Walter Ries 93
TRANSFORMADORES

basicamente constituído por produtos compostos por celulose especialmente tratada. Os elementos
básicos da celulose são o carbono, o hidrogênio e o oxigênio, ligados numa configuração de núcleos
benzênicos formando grandes moléculas. Uma expressão química básica pode ser dada por (C6H10O5)n
em que n é o grau de polimerização das moléculas de celulose, variando este de 1000 a 5000. Trata-se,
portanto de moléculas muito pesadas, da ordem de algumas centenas de milhares de gramas por mol. A
degeneração do isolamento consiste na degradação do grau de polimerização produzindo,
fundamentalmente CO e CO2 e deixando o isolamento em forma de camadas cristalizadas e friáveis
(quebradiças). O valor da tensão de ruptura do isolamento pouco altera com o seu envelhecimento até o
instante em que ele se quebra ou de destrói pela degradação do grau de polimerização. Nestas condições o
isolamento está no fim de sua vida útil. Um dos fatores que mais aceleram a degradação da celulose é a
temperatura. Quanto maior é a temperatura de operação do transformador mais rápida será a degradação.
Pesquisas realizadas demonstram que os isolantes a base da celulose têm o seu tempo de vida reduzido à
metade para cada 8 a 10 °C de acréscimo da temperatura de operação.

Classe Designação Materiais representativos


ºC
90 O Algodão, sêda e papel não tratados e não impregnados em óleo
105 A Algodão, seda e pape, impregnados, tratados com verniz ou
imersos em óleo
130 B Mica, asbesto, fibra de vidro e materiais inorgânicos similares,
com substâncias aglutinantes adequadas à classe de temperatura.
155 F Mica, asbesto, fibra de vidro com substâncias aglutinantes
adequadas à classe de temperatura.
180 H Mica, asbesto, fibra de vidro aglutinados com silicone e outras
subtâncias adequadas à classe de temperatura.
>180 C Materiais formados inteiramente por mica, porcelana, viddro,
quartzo e materiais orgânicos semelhantes.

Fig. 9.3: Classes de isolamento dos materiais isolantes

Com relação à temperatura limite de operação a fim de atingir um tempo de vida útil econômico, os
materiais isolantes são classificados em Classes de Isolamento. Segundo a ABNT, o quadro da figura 9.3
mostra as temperaturas padrões de operação para os diversos materiais isolantes normalmente utilizados
na construção de máquinas e equipamentos elétricos.
Os materiais isolantes são também chamados de dielétricos. Um dielétrico é um meio no qual se
pode manter um campo eletrostático constante sem dispêndio apreciável de energia elétrica. O termo
dielétrico é utilizado quando um material isolante é usado para separar dois condutores entre os quais
existe uma diferença de potencial ou tensão V.
9.2 – Características dos dielétricos
9.2.1 – Rigidez dielétrica
As propriedades dos dielétricos podem ser interpretadas utilizando os conhecimentos da mecânica
quântica através das bandas de energia dos elétrons que giram em torno do núcleo da matéria. Para
arrancar um elétron da banda de valência, ultima órbita de elétrons do átomo, é necessária uma
determinada energia. Nos materiais condutores, já existem, no estado natural do material, elétrons livres,
isto é, que já estão na banda de condução. Sob a ação de um campo elétrico, estes elétrons são deslocados
formando a corrente elétrica no condutor. Nos semicondutores não existem elétrons livres, portanto, na
banda de condução e é necessária relativamente pouca energia para transferir elétrons da banda de
valência para a banda de condução. Já para os dielétricos é necessária muita energia para transferir
elétrons da banda de valência para a banda de condução.
Um campo elétrico muito intenso aplicado a um dielétrico pode fornecer a energia necessária para
que elétrons emigrem da banda de valência para a banda de condução provocando a ruptura do material
isolante através de uma descarga elétrica. O modo de como se realiza a geração desta energia capaz de
transformar um material dielétrico em um material condutor, constitui a base para a compreensão das
características elétricas dos dielétricos.
Nos átomos ou moléculas de dielétricos não polares o centro das cargas positivas dos núcleos
coincide com o centro das cargas negativas que circulam em torno dos núcleos conforme mostra a fig. 9.3
(b). Os átomos e muitas moléculas possuem esta propriedade. Nesta figura se representa a nuvem de

Walter Ries 94
TRANSFORMADORES

elétrons por um circulo concêntrico ao núcleo. Assim, o centro de carga negativa de todos os elétrons
coincide com o centro da carga positiva, do núcleo no caso de um átomo ou dos núcleos no caso de uma
molécula. Quando o centro das cargas positivas dos núcleos de uma molécula não coincide com o centro
das cargas negativas dos elétrons, o dielétrico já é formado por dipolos elétricos permanentes cujos
momentos estão distribuídos em todas as direções. Estes são os dielétricos polares como representado na
fig. 9.4 (a). Como exemplo de um dielétrico polar tem-se a molécula de água.
Um dielétrico não polar quando submetido a um campo elétrico se polariza, conforme mostra a fig.
9.4 (c), porque o campo elétrico tende a separar os centros de carga positiva e negativa dos átomos ou
moléculas. Os dielétricos polares tendem a se orientar no sentido do campo elétrico aplicado. Como as
moléculas estão em constante agitação térmica resulta que o grau de alinhamento dos dipolos depende da
intensidade do campo.

a) Dielétrico polar b) Dielétrico não polar c) Dielétrico polarizado


Fig. 9.4: Polarização dos dielétricos submetidos a um campo elétrico

Num dielétrico perfeito, sem impurezas, não existem elétrons livres e a ação do campo elétrico se
restringe em acelerar elétrons situados na banda de valência sem o aparecimento de alguma corrente
elétrica por condução. A resistência de isolamento deste dielétrico é infinita. A energia cinética resultante
da aceleração dos elétrons é limitada pela colisão dos mesmos. O espaço médio entre colisões é muito
pequeno e assim a energia cinética transferida aos elétrons é pequena. Somente altíssimas intensidades de
campo poderão romper os dipolos do dielétrico e assim entregar suficiente energia aos elétrons de modo a
passá-los para a banda de condução iniciando o rompimento ou perfuração localizada mediante fusão,
queima ou vaporização do dielétrico. O que caracteriza a intensidade de campo de ruptura do dielétrico é
sua capacidade em fornecer energia cinética suficiente para elevar a energia de elétrons da banda de
valência e assim coloca-los na banda de energia de condução. A fusão, a queima ou a vaporização é uma
conseqüência da energia térmica produzida pelas colisões dos elétrons da zona de condução. Esta energia
térmica também poderá ser transferida em parte a elétrons da banda de valência de modo a acelerar a
avalanche de elétrons que se transferem para a banda de condução. No entanto, a influência da energia
térmica externa transferida ao dielétrico é relativamente pequena. A intensidade de campo de ruptura do
dielétrico denomina-se rigidez dielétrica do material e é dada em V/m, kV/cm ou kV/mm.
Os dielétricos nunca são perfeitos e sempre contêm impurezas. Isto tanto é verdade que os dielétricos
sempre possuem um valor finito muito alto de resistência elétrica, denominada de resistência de
isolamento o que denota a existência de elétrons livres ou matéria ionizada na zona de condução. Na
prática a resistividade de alguns dielétricos é tão grande que se definem como “infinitas”, porque sob
tensões de teste relativamente baixas não se verificam correntes elétricas mesuráveis. O ar, por exemplo,
tem uma resistência de isolamento praticamente infinita nas condições normais de temperatura e pressão e
para intensidades de campo relativamente pequenas. As impurezas podem, portanto acelerar o processo
de ruptura do dielétrico reduzindo a rigidez dielétrica do material isolante. Se as intensidades de campo
são menores que a rigidez dielétrica do material elas agem sobre os elétrons livres resultando uma
corrente elétrica muito pequena que produz perdas sem prejudicar a propriedade de isolante do material,
desde que estas perdas sejam dissipadas dentro dos limites de temperatura de operação segura do
dielétrico (ver Fig. 9.3).
Os dielétricos gasosos e líquidos (óleo isolante), após a descarga disruptiva e com o desaparecimento
do campo elétrico, normalmente regeneram os seus poderes isolantes, porém com perda de rigidez
dielétrica, pois as descargas podem produzir transformações químicas e modificar e alterar as
características dielétricas. Nos materiais isolantes sólidos, embora suportem maiores gradientes de
potencial até ocorrer a descarga elétrica, os danos resultantes são permanentes, pois o material se
carboniza. A carbonização do material é uma conseqüência da descarga elétrica e não uma causa que
poderia ser originada pela passagem de uma corrente elétrica por condução através da resistência de
isolamento do material, produzindo perdas com aquecimento (perdas joule). No entanto, o aumento da

Walter Ries 95
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temperatura, normalmente reduz a rigidez dielétrica do material, isto é, a descarga disruptiva se realiza
com intensidades ou gradientes de campo elétrico menores.
O valor da rigidez dielétrica de um isolante, sólido, líquido ou gasoso, varia muito com a forma dos
eletrodos entre os quais o material é colocado para teste. O valor verdadeiro ou intrínseco da rigidez
dielétrica é de difícil medição, pois exige um campo absolutamente uniforme, ausência completa de todas
as descargas no meio ambiente e aquecimento devido às perdas dielétricas desprezível. Valores da ordem
de 5.000 kV/cm foram encontrados como valor da rigidez dielétrica intrínseca de um bom isolante. Os
valores obtidos com o uso de eletrodos padronizados em forma de esferas ou discos atingem valores
muito menores e são estes que se utilizam para o dimensionamento dos isolamentos de equipamentos
elétricos. O tempo usado para o teste da rigidez dielétrica com freqüências baixas, 50 a 400 Hz, é
normalizado em: instantâneo e de 1 minuto. Com o denominado tempo instantâneo levanta-se a tensão,
de modo uniforme e relativamente rápido, até a ruptura do dielétrico. No tempo denominado de um
minuto, inicia-se o teste com uma tensão igual a 40% da tensão de ruptura instantânea mantendo este
valor por um minuto e depois aumentando a tensão em saltos de 10%, com repouso de um minuto em
cada salto, até a ruptura do material. Este é o procedimento recomendado pela A.S.T.M. Normalmente
não são grandes as diferenças da rigidez dielétrica instantânea e de 1 minuto.
Além do perfil dos eletrodos, a rigidez dielétrica dos materiais isolantes é afetada também por
diversos fatores: espessura do material, tempo de aplicação da tensão, freqüência e temperatura,
composição química e textura (fibrosa, laminada, prensada, etc.), umidade contida e, nos gases, pressão
atmosférica ou densidade. Assim sendo, podem-se imaginar quão divergente podem ser os valores da
rigidez dielétrica medidos sob diferentes condições. Quando se realizam ensaios de materiais para definir
as suas características, torna-se impositiva a existência de padrões de ensaio que são especificados pelas
diferentes normas, nacionais ou internacionais, tais como: ABNT (Associação Brasileira de Normas
Técnicas), ASTM (American Society for Testing Materials), CEI (Comission Electrotechique
Internationale – ou IEC International Electro technical Commission), etc.
9.2.2 – Constante dielétrica
A lei de Gauss para o campo elétrico é uma das quatro equações de Maxwell do eletromagnetismo.
Ela é tão importante que merece ser relembrado o seu enunciado.
G G G G
da ∫v D × da = ε ∫v E × da = Q
0 [9.1]
Q D
α -12 Coulomb 2
n ε0 = 8, 8541878 × 10 [9.2]
Newton × metro 2

Fig. 9.5: Lei de Gauss para o campo elétrico

A figura 9.5 mostra uma superfície fechada envolvendo uma carga elétrica Q sendo o meio ambiente
constituído por ar ou vácuo. A lei de Gauss diz que a integral de superfície do produto escalar do
deslocamento D pela superfície elementar da de uma superfície que envolve uma carga elétrica Q é igual
ao valor desta carga dada em Coulomb. A expressão 9.1 sintetiza a lei de Gauss, sabendo-se que a
intensidade de campo E é dada pelo deslocamento D dividido pela permissividade ε do meio, sendo que
para o vácuo o valor é dado pela expressão 9.2.
• E – é a intensidade de campo num ponto qualquer, medida em Newton/Coulomb ou em volts/metro.
Também leva o nome de gradiente de potencial do campo. A intensidade de campo é uma grandeza
vetorial que é tangente às linhas de força do campo e é perpendicular às superfícies equipotenciais.
• D – é o deslocamento do campo elétrico medido em Coulomb/m². Associando-se uma linha de fluxo
do campo para cada Coulomb de carga elétrica o deslocamento também tem o nome de densidade de
linhas de fluxo do campo. Também é uma grandeza vetorial perpendicular às superfícies
equipotenciais.
• εο − é a permissividade do vácuo ou ar sendo este o meio ambiente considerado na expressão 9.1. O
valor de e0 é dado pela expressão 9.2.
• Q - é o valor de uma carga elétrica, concentrada ou espalhada no interior de uma superfície genérica
que á circunda. Q é uma grandeza escalar e medida em Coulomb.

Walter Ries 96
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A fig. 9.6 mostra uma estrutura de dielétrico muito simples, constituída por ar entre duas placas
metálicas paralelas entre as quais é tem-se uma tensão V fornecida por uma fonte de tensão.
As cargas positivas e negativas se distribuem uniformemente sobre as placas, respectivamente
ligadas aos pólos positivo e negativo da fonte. Designa-se por σ a densidade de carga por metro quadrado
sobre as placas.
Se a altura e largura da superfície das placas são muito maiores do que a distância entre elas, o
campo pode ser considerado uniforme. A densidade de fluxo a mesma em todos os pontos entre as placas
e o mesmo ocorrendo com a intensidade de campo. Somente nas extremidades tem-se uma pequena zona
com dispersão das linhas de fluxo. Pode-se aplicar, portanto, a lei de Gauss para a superfície que envolve
uma carga elétrica igual a σ Coulomb/m². Obtém-se, assim, a expressão 9.3 para o deslocamento D, a
expressão 9.4 para a intensidade de campo E, a expressão 9.5 para a carga Q e a expressão 9.6 para a
capacitância C.

d Área=a b =A

+ -
+ - ε 0E = σ = D Coul / m ² [9.3]
+ -
+ - σ V
σ E D E= = V /m [9.4]
+ - ε0 d
+ -
+ -
Q = Aσ Coul [9.5]
+ - Q A
C = = ε0 Farad (F ) [9.6]
V d
+ -
V

Fig. 9.6: Dielétrico de ar entre duas placas condutoras

A fig. 9.7 mostra um dielétrico sólido colocado entre as placas condutoras entre as quais está
aplicada uma tensão V. A polarização do dielétrico deixa o lado esquerdo com cargas induzidas negativas
com uma densidade σi coul/m². O mesmo ocorre com o lado direito do dielétrico onde são induzidas
cargas positivas com a mesma densidade σi coul/m². A densidade de cargas elétricas nas faces dos
eletrodos igual a σ coul/m², valor este maior do que σi. Aplicando a lei de Gauss para a superfície
pontilha que engloba as cagas elétricas σ e σi , para uma área de 1 m2 de superfície dos eletrodos, tem-se
a expressão 9.7. A expressão 9.8 mostra que a intensidade de campo no dielétrico tem duas componentes,
uma produzida pelas cargas elétricas no eletrodo e outra produzida pelas cargas elétricas induzidas no
dielétrico.
ε 0E = σ − σ i [9.7]
σ σi
V E= − [9.8]
ε0 ε0
σi = ηE [9.9]

- σ ηE σ σ σ D
+ + - E= − = η = = = [9.10]
+
- +
-
ε0 ε0 (1 + ε 0 ) ε 0 r 0
ε ε ε ε
+ - η
+ εr = 1 + [9.11]
- + - ε0
+ E
σ σi+
-
- D
- +
+ - D = εE = σ Coul / m ² [9.12]
+
- + - σ V
E= = V /m [9.13]
Dielétrico polarizado ε d
Detalhe. Q = Aσ Coul [9.14]
Q A
Fig. 9.7: Dielétrico sólido C = = ε Farad (F ) [9.15]
V d

Walter Ries 97
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Se as dimensões, altura e largura das faces dos eletrodos são muito maiores do que a distância entre
eles pode-se dizer que o campo no dielétrico é praticamente uniforme e a intensidade de campo ou
gradiente de potencial é igual em todos os pontos do material isolante.
A densidade de carga induzida no dielétrico é proporcional à intensidade de campo no isolante,
conforme se pode ver pela expressão 9.9. A constante de proporcionalidade η (eta) denomina-se de
susceptibilidade do dielétrico. Para o ar ou vácuo a susceptibilidade é nula, pois não são induzidas
cargas elétricas, e, para os demais dielétricos é maior do que zero. Substituindo, na expressão 9.0, o valor
da densidade de carga induzida dada pela expressão 9.9, pode-se determinar o valor da intensidade de
campo pela expressão 9.10 em que o denominador se reduz a uma permissividade e maior do que a
permissividade do vácuo ou ar. A permissividade relativa do dielétrico em relação à do ar é dada pela
expressão 9.11. Normalmente a literatura chama a permissividade relativa de constante dielétrica do
material sendo então a constante dielétrica do ar igual a 1 (um).
Como no exemplo da fig. 9.6, também para um dielétrico sólido o deslocamento D é dado pelo
produto a intensidade de campo e a permissividade (absoluta) do meio, conforme expressão 9.12. Pela
expressão 9.13 pode-se ver que para uma mesma carga elétrica nos eletrodos a intensidade de campo é
menor quando a permissividade do meio é maior. Porém, se a tensão aplicada permanecer constante
também a intensidade de campo permanecerá constante quando se introduz um dielétrico entre os
eletrodos. Neste caso, o dielétrico tem a propriedade de aumentar a capacidade de carga do capacitor que
se forma com esta estrutura e a capacitância C aumenta segundo as expressões 9.14 e 9.15. Este aumento
corresponde à relação entre as permissividades do dielétrico e do vácuo que é a permissividade relativa ou
constante dielétrica do isolante.
Na fig. 9.8 tem-se um dielétrico sólido e um dielétrico de ar entre duas placas planas condutoras entre
as quais está aplicada uma tensão V. A densidade de carga elétrica nas placas é uniforme e igual a
σ Coul/m². O gradiente de potencial Es no dielétrico sólido é dado pela expressão 9.16 e o gradiente de
potencial Ea no dielétrico de ar pela expressão 9.17 . Resulta, assim, a expressão 9.18.
A tensão V aplicada é igual à soma dos gradientes nos dois dielétricos e é dada pela expressão 9.19.
Da expressão 9.19 optem-se a expressão 9.20 que dá o valor da queda de tensão na camada de ar.
Como a constante dielétrica dos sólidos é muito maior do que a do ar resulta que a maior parte da tensão
aplicada entre as placas está aplicada na camada de ar. Se esta camada de ar for muito fina em
comparação ao dielétrico sólido, aparecerão elevados gradientes de potencial no ar que poderá provocar a
sua ionização provocando descargas parciais com formação de ozônio e ácido nítrico, pois além de
oxigênio e nitrogênio as bolhas de ar sempre têm vestígio de água. O ozônio e o ácido nítrico destroem,
com o tempo, o isolante sólido até a sua ruptura (perfuração). Isto mostra o efeito pernicioso que resulta
quando isolamentos sólidos ou mesmo líquidos têm pequenas bolhas de ar em seu meio. Nestes casos, a
ruptura do dielétrico sob a ação de campos intensos terá início nestas bolhas de ar.

. ε ε0

σ
Es = [9.16]
V ε
σ
Ea = [9.17]
ε0
δ
Ea ε
= = εr [9.18]
d Es ε 0

Fig. 9.8: Efeito da espessura do dielétrico de ar


d

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⎛ 1 ⎞ ⎡ ⎛ 1 ⎞⎤
V = Esδ + Ea ( d − δ ) = Ea d − Eaδ ⎜ 1 − ⎟ = Ea ⎢ d − δ ⎜ 1 − ⎟ ⎥ [9.19]
⎝ εr ⎠ ⎣ ⎝ ε r ⎠⎦
V
Ea = [9.20]
⎛ 1⎞
d − δ ⎜1 − ⎟
⎝ εr ⎠

Na fig. 9.9 pode-se ver como se distribui a tensão aplicada entre duas placas condutoras planas entre
as quais existe um isolamento composto por 3 camadas de dielétricos diferentes . A expressão 9.21 dá a
expressão da tensão aplicada entre as placas condutoras sendo D o deslocamento que é constante. A
expressão 9.22 dá o valor do deslocamento D em função dos valores conhecidos do sistema. As
expressões 9.23 a 9.25 dão os valores dos gradientes de potencial nos diferentes dielétricos.

ε1 ε2 ε3
⎛a a a ⎞
V = E1a1 + E2 a2 + E1a3 = D ⎜ 1 + 2 + 3 ⎟ [9.21]
⎝ ε1 ε 2 ε 3 ⎠
V
D= [9.22]
⎛ a1 a2 a3 ⎞
⎜ + + ⎟
V ⎝ ε1 ε 2 ε 3 ⎠
D
E1 = [9.23]
ε1
D
E2 = [9.24]
ε2
D
E2 = [9.25]
a1 a2 a3 ε3
Fig. 9.8: Isolamento formado por 3 materiais com constantes dielétricas diferentes

Na fig. 9.10 tem-se um dielétrico, com constante dielétrica e, colocado entre dois cilindros
condutores. O cilindro interno tem um raio externo igual a r1 e o cilindro externo tem um raio interno
igual a r2. A densidade de carga elétrica na superfície externa do cilindro interno é σ.
Aplicando-se a lei de Gauss a uma superfície cilíndrica de raio x, obtém-se a expressão 9.26 em que
o segundo termo é a carga elétrica por metro de comprimento do cilindro interno.

ε ε2

r2 r3
x ε1
r1 r1 r2

Emax
Emin Emax Emin

Fig. 9.10: Dielétrico entre cilíndros Fig. 9.11: 2 Dielétricos entre cilíndros
condutores concêntricos condutores concêntricos

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Dx ⋅ 2π ⋅ x = σ ⋅ 2π ⋅ r1 [9.26]
σ r1
Dx = [9.27]
x
Da expressão 9.26 obtém-se o valor do deslocamento num ponto qualquer do dielétrico, conforme
mostra a expressão 9.27.

r2 1 r2 σ r1 r dx σ r1 r2
V = ∫ Ex dx =
ε∫ ε ∫r x
Dx dx = =
2
ln [9.28]
r1 r1 1 ε r1
Dx 1 σ r1 V
Ex = = = [9.29]
ε x ε r
x ln 2
r1
V
Emax = [9.30]
r
r1 ln 2
r1
V
Emin = [9.31]
r
r2 ln 2
r1
A expressão 9.28 dá o valor da tensão aplicada entre os cilindros, pois o valor do gradiente elétrico
num ponto do dielétrico com constante dielétrica ε é dado pela expressão 9.10. A expressão 9.29 fornece
o valor do gradiente de potencial em função da variável x. A expressão 9.30 fornece o valor do gradiente
máximo que se verifica na superfície do cilindro interno, isto é, para x = r1 e a expressão 9.31 dá o valor
do gradiente mínimo que se verifica na superfície interna do cilindro externo, isto é, para x = r2.
Na Fig. 9.11 têm-se dois dielétricos com constantes dielétricas e espessuras diferentes colocados
entre dois cilindros metálicos concêntricos. A tensão aplicada é a soma das quedas de tensão nas duas
camadas de dielétricos e é dada pela expressão 9.32. Resultam, assim, as expressões 9.33 e 9.34 para as
quedas de tensão nos respectivos dielétricos.
σ r1 r2 σ r1 r3 ⎛1 r 1 r ⎞
V = V1 + V2 = ln + ln = σ r1 ⎜ ln 2 + ln 3 ⎟ = σ r1Σ [9.32]
ε1 r1 ε 2 r2 ⎝ ε1 r1 ε 2 r2 ⎠
V 1 r2
V1 = ln [9.33]
Σ ε1 r1 Σ
V 1 r3
V2 = ln [9.34]
Σ ε 2 r2

Os gradientes de potencial, máximo e mínimo, em cada dielétrico são dados pelas expressões 9.35 a
9.38.

V V
E1max = [9.35] E1min = [9.36]
ε1r1Σ ε1r2 Σ
V V
E2max = [9.37] E2min = [9.38]
ε 2 r2 Σ ε 2 r3Σ
Comparando as expressões 9.36 e 9.37 pode-se ver que se ε1 = ε2, isto é, os dielétricos são iguais, os
valores máximos e mínimos dos gradientes de potencial são os mesmos verificados pelas expressões 9.30
e 9.31. Porém, se ε1 < ε2 então E2max > E1min e se obtém uma distribuição mais uniforme da tensão através

Walter Ries 100


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dos dielétricos. Esta é uma aplicação muito importante no projeto do isolamento de buchas passantes para
tensões elevadas.

9.2.3 – Perdas dielétricas


Quando de aplica uma tensão alternativa senoidal, a cada meio ciclo a polarização do material é
invertida formando um laço de histerese de polarização. Surgem assim perdas por histerese do dielétrico
que somadas às perdas por condução, resultam nas perdas dielétricas do isolante.
A fig. 9.12 mostra um corpo de prova de um material isolante colocado entre duas placas paralelas
condutoras em forma de discos, entre as quais se aplica uma tensão V alternada de freqüência f. Esta é
uma estrutura simples de um capacitor com capacitância C dada pela expressão 9.15. A corrente
capacitiva que seria uma corrente formada pelo deslocamento de elétrons entre as placas, está adiantada
de 90° em relação à tensão V conforme mostra a fig. 9.13. Como existem perdas por corrente de
condução e perdas por histerese dos dipolos, tem-se também uma corrente de perdas em fase com a
tensão V. A corrente total, portanto, está em avanço de (90-δ) graus em relação à tensão.

Ic I

V δ

ε
ϕ
V~ Ip V

Fig. 9.12: Ensaio de um corpo de Fig. 9.13: Diagrama fasorial da


prova tensão e corrente

V
Ic = = ω ⋅ C ⋅V [9.39]
Xc
p = VI ⋅ senδ = VI c tgδ = V 2ω ⋅ C ⋅ tgδ [9.40]

A expressão 9.39 dá o valor da corrente capacitiva e a expressão 9.40 dá as perdas no dielétrico.


Como estas perdas são muito pequenas o ângulo δ também é pequeno e se denomina ângulo de perdas
do dielétrico. Como os valores de δ são muito pequenos pode-se escrever : tgδ = senδ = cos ϕ

Nos transformadores a temperatura de operação dos materiais isolantes depende fundamentalmente


das perdas nos condutores das bobinas e das perdas nos núcleos. As perdas dielétricas são desprezíveis.
Nos capacitores as perdas dielétricas são as responsáveis pela temperatura de operação dos dielétricos
utilizados.
No quadro da fig. 9.14 os valores da rigidez dielétrica são dados em kV eficazes por cm e os valores
da constante dielétrica correspondem à permissividade relativa do material.

Walter Ries 101


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Material Rigidez Constante taδ / 10³ Temperatura Espessuras Classe


dielétrica Dielétrica "εr" ºC normais de de
kV/c m 40ºC 90ºC 40ºC 90ºC Tempor. Perman. emprêglo (mm) isolamento
Ar 21 1 1 xxx xxx xxx xxx xxx xxx
Óleo p/transf. 60....200 2 2,3 2 5 110 95 xxx A
Mica 500....1000 5 8 0,2 1,5 600 600 0,01.....0,1 C
Micanite 350 3,5 3,5 20 100 180 130 0,3.......1,5 B
Mica-papel 200.....250 3 6 20 80 150 130 0,2.......0,5 B
Mica-seda 200.....250 3 6 20 80 150 130 0,3........0,5 B
Asbesto 50 xxx xxx xxx xxx 300 130 0,08 C
Fibra de vidro 200.....300 3 6 0,8 1 400 130 0,02......2,5 C
Porcelana 340.....380 5 6,5 20 80 xxx xxx xxx C
Madeira de lei 30.......50 xxx xxx xxx xxx xxx xxx xxx A
Papel em óleo 200.....400 4 5 <15 <15 110 95 0,03......0,1 A
Presspan em óleo 150.....250 4 4 <10 <50 110 95 0,2.......3,0 A
Papelão para transf. >200 5 7 <15 <15 110 95 >0,2 A
Felnolite 200.....400 4,5 5 100 100 110 95 >0,5 A
Silicones 250.....500 7,5 7,5 60 60 260 xxx 0,04.....0,5 H

Fig. 9.14: Principais características de alguns dielétricos utilizados em isolamentos

Os valores dados na fig. 9.14 são referenciais, pois as propriedades elétricas dos materiais isolantes
variam, com a forma dos eletrodos utilizados para os testes, com a espessura do material, com o tempo
de aplicação da tensão e da freqüência, com a temperatura, e dependem ademais dos contaminantes e
tratamento dos materiais.
Nos ensaios dielétricos dos líquidos e gases, os eletrodos estão mergulhados nestes dielétricos. Nos
ensaios de materiais isolantes sólidos os eletrodos e o dielétrico estarão sempre envoltos por um gás ou
por um líquido isolante. Neste tipo de estrutura ocorrem propriedades interfaciais dos dielétricos. Por
exemplo, na estrutura da fig. 12 existem dois tipos de condução de corrente elétrica: a volumétrica e a
superficial. Também a descarga elétrica pode ser volumétrica ou superficial. A medição da resistência de
isolamento no corpo de prova da figura 12, pela lei de Ohm, dá como resultado o valor das resistências
volumétrica e superficial em paralelo.

+
1 2 G Anel de Hg.
G
Dielétrico de prova.

- Eletrodos de Hg.
Fig. 9.15: Corpo de prova de um dilétrico e eletrodos para medir a resistência de isolamento

A fig. 15 mostra um desenho de um dispositivo para medir resistências superficial e volumétrica de


isolamento. Na posição 1 o Galvanômetro mede a corrente volumétrica, pois o anel de Hg, neste caso
funciona como anel de guarda desviando as correntes superficiais. Na posição 2 o galvanômetro mede a
corrente superficial , o anel de Hg funciona como eletrodo e o eletrodo de Hg dentro do corpo de prova
funciona como anel de guarda. Desenhos convenientes de corpo de prova e eletrodos permitem assim
determinar, separadamente, pela lei de Ohm, as resistências e resistividades volumétrica e superficial dos
materiais isolantes.
Para obter o valor da tensão de ruptura volumétrica do material é necessário que a distância
superficial entre os eletrodos seja grande suficiente para que não haja descargas superficiais antes de
romper a espessura do material isolante.
Os dielétricos líquidos e gasosos utilizados no isolamento entre condutores metálicos se ionizam
quando o gradiente de potencial, no ponto de maior intensidade de campo, atinge o valor da tensão

Walter Ries 102


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disruptiva (rigidez dielétrica). Esta ionização de certa forma aumenta o raio de curvatura do condutor no
ponto de maior intensidade de campo e se expande até atingir novamente a tensão disruptiva do meio. No
ar este fenômeno se denomina de efeito coroa que pode ser observado às vezes nas linhas de transmissão
que operam com altas tensões. Este efeito coroa se realiza com descargas parciais que podem ser
detectadas eletricamente como correntes muito pequenas. O efeito coroa também pode ser visto, pois são
emitidas ondas luminosas.

d
Fig. 9.16: Efeito coroa nas linhas de transmissão
A fig. 16 ilustra o efeito coroa nos condutores de uma linha de transmissão. A nuvem ionizada ao
redor do condutor aumenta o raio do mesmo e a camada ionizada por descargas parciais se estabiliza
quando o campo atinge a rigidez dielétrica do meio. O efeito coroa introduz perdas adicionais que podem
ser calculadas através de fórmulas empíricas (ver Introdução à Técnica das Altas Tensões de M.
Wellauer). O efeito coroa nas linhas de transmissão é evitado dimensionando o diâmetro dos condutores,
independentemente da corrente.
Um outro fenômeno que ocorre em certas estruturas de isolamento é o faiscamento ou descargas
superficiais que são causadas pela evolução do efeito coroa entre condutores, separados por isolamentos
sólidos mas envoltos por gases ou líquidos isolantes. É o caso dos suportes cerâmicos de linhas de
transmissão onde, iniciado o efeito coroa poderão surgir descargas superficiais na superfície da porcelana
causadas pelas características deste dielétrico ou pela sujeira, umidade, etc.depositada na superfície.
Estes dois fenômenos podem ocorrer também nos transformadores em pontos com elevada
concentração das linhas de força do campo elétrico. Crescendo a tensão aplicada entre as bobinas e terra
(massa) ou a tensão induzida nos enrolamentos, poderá aparecerá em primeiro lugar o inicio do efeito
coroa denunciado pelas descargas parciais, e em seguida, num nível mais alto de tensão, as descargas
superficiais e finalmente a ruptura completa do isolamento naquele ponto.
O efeito coroa e as descargas superficiais produzem efeitos mais danosos nos isolamentos sólidos
mergulhados em óleo do que nos expostos ao ar. As descargas parciais, efeito coroa, com atuação
prolongada destroem materiais sólidos principalmente os orgânicos a base de celulose e também os
esmaltes. As descargas superficiais destroem materiais orgânicos após poucos segundos.
Os transformadores em operação nos sistemas elétricos estão sempre sujeitos às sobre tensões
oriundas de diversas fontes que serão analisadas com mais detalhes nos parágrafos seguintes. Para
garantir a integridade dos isolamentos os transformadores são, após montados em fábrica, submetidos a
ensaios de alta tensão denominados de ensaios dielétricos, tensões estas que são muito maiores do que as
tensões de operação. Nas tensões de operação não devem aparecer descargas parciais oriundas do efeito
coroa. Nas tensões de ensaios dielétricos não devem aparecer descargas superficiais também chamadas de
descargas deslizantes. No ensaio de descargas parciais verifica-se em que valor de tensão elas iniciam se
o este valor de tensão for menor do que as tensões dos ensaios dielétricos.
9.2.4 – Variação da rigidez dielétrica do ar com a espessura, pressão e temperatura.
Segundo a lei de Paschen a tensão disruptiva do ar sob temperatura constante é uma função somente
do produto da pressão p e da espessura d da camada de ar, segundo mostra genericamente a expressão
9.41 e conforme se observa no gráfico da fig. 9.14 para uma temperatura de 20 °C, segundo Schumann.
Porém, para um produto pd constante a tensão disruptiva diminui quando a temperatura cresce como
mostra a expressão genérica 9.41a, sendo T a temperatura absoluta. Obs.: *1 Torr = 1 mm Hg =
1,01324*1000/760 = 1,333224 mbar

⎛ pd ⎞
Vd = f ( pd ) [9.41] Vd = f ⎜ ⎟ [9, 41a]
⎝ T ⎠
O gráfico da fig. 9.17, mostra a função dada pela expressão 9.41. Pode-se dizer, também, que esta
função representa a variação da tensão disruptiva do ar em função da pressão para uma espessura fixa de

Walter Ries 103


TRANSFORMADORES

ar de 1 cm. Ou ainda, a curva pode representar a rigidez dielétrica do ar, dada em V/cm em função da
pressão dada em Torr, sendo que 1 Torr é a pressão correspondente a 1 mm de coluna de mercúrio e 1 at
= 760 Torr.

Vd

Fig. 9.17: Tensão disruptiva para campo elétrico uniforme no ar em função de "pd"
- Gráfifo reproduzido do livro "Técnica das Altas Tensões" de
M. Wellauer, Edit. USP 1973

Esta curva passa por um mínimo de 327 volts para pd = 0,57 Torr cm. Isto significa que nenhuma
camada de ar pode ser rompida com uma tensão menor do que 327 volts. Neste gráfico a tensão
corresponde a um valor de CC ou o valor máximo de CA. Mantendo uma distancia constante entre os
eletrodos, por exemplo, de 1 cm, a medida que aumenta o grau de vácuo ou diminui a pressão, a tensão de
ruptura vai diminuindo porque a rarefação de moléculas de ar vai permitir as necessárias acelerações dos
elétrons para as colisões com menores intensidades de campo. No entanto, quando a rarefação de
moléculas aumenta mais ainda, as probabilidades de colisões irão diminuir e então maiores intensidades
de campo serão necessárias. Para um grau de vácuo da ordem de 10-12 Torr as tensões de ruptura do
dielétrico são tão grandes que o dielétrico se aproxima do isolante perfeito. Sob vácuo absoluto o
isolamento entre eletrodos seria perfeito, independente do afastamento. Graus de vácuo desta ordem são
utilizados na construção de disjuntores a vácuo.
Quando a distância entre os eletrodos é muito pequena e a pressão é alta, por exemplo, de 760 Torr
ou 1 at, a intensidade de campo, para produzir a necessária aceleração dos elétrons em distâncias tão
curtas, cresce a medida que a espessura de ar diminui, conforme pode ser visto na fig. 9.15. Nesta figura
as curvas correspondem às intensidades de campo em kV eficazes por mm em função dos afastamentos
dos eletrodos nas condições normais de pressão e temperatura (pressão de uma atmosfera com
temperatura de 20 °C).
Para uma pressão de 1 at = 760 mmHg e um valor pd = 0,57 Torr cm tem-se uma espessura de ar de
0,57/760 = 0,00075 cm ou d = 0,0075 mm que seria rompida com 327 volts, o que corresponde a uma
rigidez dielétrica de 327/0,0075 = 43.600 V/mm ou 30,8 kV/mm eficazes. Na pressão atmosférica de 760
Torr a tensão de ruptura, para um afastamento de 1 cm é de 30.000 volts o que resulta numa rigidez
dielétrica de 21,2 kV/cm eficazes, ou 2,12 kV/ mm que é o valor que aparece na fig. 9.18 a direita. Para
afastamentos maiores do que 10 mm este valor permanece praticamente constante. A fig. 9.18 a esquerda
mostra a rigidez dielétrica para camadas de ar muito finas. Para camadas de ar menores do que 0,5 mm o
crescimento da rigidez dielétrica é muito rápido.

Walter Ries 104


TRANSFORMADORES

Fig. 9.18: Rigide dielétrica do ar, sob temperatura e pressões normais, em kV eficazes por mm, em função da distância.
- Gráfifo reproduzido do livro "Técnica das Altas Tensões" de
M. Wellauer, Edit. USP 1973

Foi visto pela expressão 9.18, que quando se tem um isolamento constituído por camadas de material
sólido e de ar, o gradiente de potencial no ar é igual ao gradiente de potencial no sólido multiplicado pela
constante dielétrica (relativa) do material sólido que é muito maior do que a do ar (igual a 1). No entanto,
quando as camadas de ar são muito finas têm a propriedade de suportarem gradientes de potencial
maiores. Isto faz com que os efeitos perniciosos de pequenas bolhas de ar no interior de materiais sólidos
sejam atenuados.
Com o aumento da temperatura diminui a rigidez dielétrica dos isolantes gasosos e líquidos segundo
uma função como se mostra na expressão (9.41a) em que T é a temperatura absoluta (°K). Estas
variações em temperaturas normais de operação de transformadores são pequenas.

9.2.5 – Variação da rigidez dielétrica com a espessura em materiais sólidos e líquidos


Como foi dito no item 9.2.1, os eletrodos usados para o teste de materiais sólidos ou líquidos têm a
forma de esfera ou disco. Portanto, o campo elétrico aplicado ao dielétrico não é uniforme. Nestas
condições, a rigidez dielétrica dos isolantes não é constante quando varia a espessura do material, ou seja,
a tensão disruptiva não cresce proporcionalmente com a espessura. A tensão disruptiva em função da
espessura é uma função dada pela expressão 9.42 e a rigidez dielétrica e uma função dada pela expressão
9.43, em que C é uma constante que depende do tipo do material, a é a espessura ou afastamento dos
eletrodos e n é um expoente com valor entre 0,5 e 1,0, em geral em torno de 0,67, tanto para os materiais
sólidos como também para o óleo de transformador. Para o valor n = 0,67, o expoente da expressão 9.43 é
negativo o que significa que a rigidez dielétrica diminui com o aumento da espessura.
Deste modo, pode-se avaliar a rigidez dielétrica do isolante para uma determinada espessura através
da expressão 9.43, conhecendo os valores de ensaio de uma amostra em que são conhecidos os valores da
rigidez dielétrica Ed e da espessura a.

Vd = C ⋅ a n [9.42] Ed = C ⋅ a n −1 [9.43]

Convém lembrar que os valores da constante C e do expoente n foram determinados através de


muitas medições e que, para serem coerentes devem ser feitas sempre com o mesmo tipo e dimensões de
eletrodos.

Walter Ries 105


TRANSFORMADORES

9.2.5.1 – Óleo para transformador


A norma ASTM especifica que para o teste de óleo de transformadores são utilizados eletrodos em
forma de disco, com 25,4 mm de diâmetro, com cantos vivos e afastados de 2,54 mm. Nestas condições
os ensaios de óleos de transformadores resultam em tensões disruptivas entre 25 a 35 kV. No entanto, se
for suficientemente tratado para retirar totalmente a umidade, os valores de teste poderão subir a 50 kV. A
norma brasileira ABNT NVR 5356 especifica, segundo método de ensaio da NBR 6869, uma tensão de
ruptura mínima de 30 kV. Isto significa que se pode calcular a constante C da expressão 9.42, para
n=0,67 o que resulta C = 16,1. Substituindo o valor de C na expressão 9.43 pode-se avaliar a rigidez
dielétrica para outras espessuras de óleo ou afastamento dos eletrodos. A fig. 9.19 fornece a curva de
variação da rigidez dielétrica do óleo em função do afastamento dos eletrodos admitindo C = 16,1 e n-1 =
-0,33.
40
35
30
25 Er = 16,1⋅ a−0,33
kV/mm

20
15
10
5
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40
a mm

Fig. 9.19: Rigidez dielétrica do óleo para transformador em função do afastamento dos eletrodos

Como se pode observar, a rigidez dielétrica do óleo aumenta rapidamente para pequenos valores do
afastamento a entre os eletrodos.
A umidade no óleo para transformador, bem como excesso de gases dissolvidos, reduz a sua rigidez
dielétrica. Um limite de aceitação de tensão de ruptura, antes de ser necessária uma regeneração ou
tratamento do óleo, deve ser especificada como medida de segurança de operação do transformador. A
tensão de ruptura de 22 kV é considerada como aceitável por ocasião de uma ação de manutenção
preditiva, podendo, em alguns casos, que dependem do nível de tensão de operação do transformador,
chegar ao valor de 17 kV. No entanto, em transformadores ensaiados nos laboratórios de fabricantes de
transformadores, deve prevalecer a tensão de ruptura de 30 kV como valor mínimo, segundo a NBR
6869.
9.2.5.2 – Dielétricos sólidos
Assim como foi feito para o óleo de transformador também se pode determinar uma expressão que
mostra como varia a rigidez dielétrica do material isolante sólido em função da espessura ou do
afastamento a entre os eletrodos normalizados para o ensaio.
Portanto, sabendo-se que para o presspan impregnado com óleo convenientemente tratado tem-se
uma tensão de ruptura de 48 kV eficazes para um afastamento de 2,54 mm entre os eletrodos, pode-se
determinar a constante C para n=0,67 da expressão 9.41. Isto resulta em C = 25,7. Para o papel crepado e
papel Kraft liso em camadas, com “overlapping” de 50% e impregnado em óleo de transformador tratado,
a tensão disruptiva para a = 2,54 mm é de 33 kV e o valor de C = 17,7 para n=0,67.
60 40
35
50
30
40
−0,33 25
Er = 25,7 ⋅ a
kV/mm

Er = 17, 7 ⋅ a −0,33
kV/mm

30 20

20 15
10
10
5
0 0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 0 5 10 15 20 25 30 35 40
a mm a mm
Fig. 9.20: Rigidez dielétrica do presspahn em óleo Fig. 9.21: Rigidez dielétrica do papel crepado

Walter Ries 106


TRANSFORMADORES

Os gráficos das figuras 9.20 e 9.21 dão os valores da rigidez dielétrica dos dois materiais sólidos
mais empregados no isolamento de transformadores. Estes valores são orientativos e válidos para
eletrodos de disco com 25,4 mm de diâmetro e afastados de 2,54 mm. Se outros eletrodos forem usados,
os valores de rigidez dielétrica são diferentes, mas variando com a espessura conforme as expressões 9.42
e 9.43, como mostra a literatura existente (Characteristics of Insulations – V.M. Mointsinger-Chapter XV
Transformer Engeneering –John Wiley & Sons New York 1951).

9.2.6 – Variação da rigidez dielétrica com a temperatura nos materiais sólidos


O aumento da temperatura diminui a rigidez dielétrica dos materiais sólidos. Para os materiais a base
de celulose e que são os mais empregados no isolamento de transformadores com a parte viva mergulhada
em óleo a rigidez dielétrica medida a 25 °C diminui, aproximadamente, numa razão de 0,25 % por grau
de aumento de temperatura do material.

9.2.7 – Variação da tensão disruptiva e da rigidez dielétrica com o tempo


A energia para passar elétrons da banda de valência para a banda de condução se realiza pela
aceleração de elétrons que colidem com outros átomos ou moléculas do material. Este é um processo que
depende do tempo. Para intensidades de campo muito fortes o tempo para atingir a energia necessária
para desenvolver a ruptura do dielétrico e menor. Pode-se entender muito bem que para tempos muito
pequenos o decréscimo da rigidez dielétrica seja mais rápido do que para tempos maiores e que o
processo atinja um valor de intensidade de campo para o qual o material não mais se rompa por uma
descarga disruptiva. Na prática, somente uma série de ensaios em materiais isolantes pode fornecer uma
orientação do comportamento dos mesmos com o tempo de aplicação do campo elétrico. É isto que se
encontra na literatura sobre o assunto e as expressões destas funções são empíricas, mas são muito úteis
para que se tenha uma idéia sobre a influência do tempo de aplicação do campo elétrico. O estudo
temporal deste fenômeno depende também de como varia a tensão aplicada para produzir o campo
elétrico. Os estudos foram realizados para dois tipos de variação das tensões, ou seja, para tensões
alternativas senoidais com freqüências industriais de 28 a 400 Hz e com tensões impulsivas como
ocorrem com as descargas atmosféricas (raios).

9.2.7.1 – Rigidez dielétrica com tensões alternativas senoidais


Definições utilizadas neste estudo:
• V – tensão de ruptura do dielétrico.
• V1 - tensão de ruptura do dielétrico no ensaio de 1 minuto.
• V0 - tensão de ruptura para um tempo infinito. Isto significa que com esta tensão, no limite
crítico de ruptura, o dielétrico nunca se rompe.
• R – relação entre a tensão de ruptura para um tempo qualquer e a tensão de ruptura para um
tempo de 1 minuto (ensaio normalizado). Isto é: R = V / V1.
• a – relação entre a tensão de ruptura para um tempo infinito e a tensão de ruptura para 1
minuto. Isto é: a = V0 / V1.
Para uma faixa de freqüência de 25 Hertz a 420 Hertz a função empírica que é proposta está indicada
na expressão 9.44 e definida pela curva da fig. 9.22. A expressão 9.44 mostra que para t = ∞ a relação R é
igual ao valor de a e este valor pode ser uma constante para cada material ou uma família de materiais.
Quanto ao expoente n foi determinado o valor de 0,25 para a maioria dos dielétricos. A curva da fig. 9.22
foi traçada para n = 0,,25 e a = 0,675 que corresponde ao papelão para transformador imerso em óleo e a
75°C de temperatura. Já para o papel Kraft, também largamente utilizado no isolamento de
transformadores imersos em óleo, o valor de a = 0,85. Como foi definido, o valor de a indica em per unit
o valor da tensão limite de ruptura que o material suporta num tempo infinito. Portanto, a partir do ensaio
do isolante para um tempo de 1 minuto, pode-se avaliar a rigidez dielétrica do material para um tempo
infinito.

Walter Ries 107


TRANSFORMADORES

1,8
1,7
1,6
Papelão para transformador em óleo a 75ºC a = 0,675 ⎛ 1−a⎞
1,5
Papelão para transformador em óleo a 25°C a = 0,50 R = ⎜⎜a + n ⎟⎟ [9, 44]
1,4 Papel Kraft em óleo a = 0,85 ⎝ t ⎠
1,3
n = 0,25
V/V1 1,2
1,1
1 K ⎛ 1−a⎞
R= ⎜a + n ⎟⎟ [9, 45]
0,9
fN ⎜⎝ t ⎠
0,8
0,7
0,6
0 1 2 3
t (minutos) 4 5 6

Fig. 922: Curva R= f(t) para a = 0,685, n = 0,25 e f = 60 Hz

Como a rigidez dielétrica também varia com a freqüência, a expressão 9.44 tem ainda um fator
de correção para a freqüência dada pela expressão 9.45, em que K = 1,75 e N = 0,137 para os principais
materiais isolantes utilizados em transformadores. Assim, a expressão da relação entre uma tensão
disruptiva V durante um tempo qualquer e a tensão disruptiva para 1 minuto e para uma freqüência f ,
será dada pela expressão 9.45. Observa-se que para a f = 60 Hertz o fator de correção devido à
freqüência, para K = 1,75 e N = 0,137, é igual a 1 (um).

9.2.7.2 – Rigidez dielétrica com tensão de impulso


Uma tensão de impulso é uma tensão que simula as sobre tensões que se originam pela queda de
raios na rede de um sistema elétrico. O teste de tensão de impulso é aplicado normalmente nos ensaios de
transformadores que operam com tensões iguais ou acima de 7,2 kV. Uma tensão de impulso é definida,
fundamentalmente, por três grandezas: O valor de pico ou máximo da tensão; o tempo de subida para
atingir o valor de pico; o tempo de descida, a partir do início de crescimento da tensão, para atingir o
valor de 50% do valor de pico ou de crista.

110%
100%

50%

t
0 1,2 μs μs 50 μs 0 Ts Tc t μs

1. Onda plena 2. Onda cortada

Fig. 9.23: Tensão de impulso normalizado pela ABNT

A fig. 9.23.1 mostra a tensão de impulso normalizada pela ABNT, sendo de 1,2 μs o tempo de subida
até o valor de crista e 50 μs o tempo de decréscimo até o valor de 50% do valor de crista. Esta tensão de
impulso é designada por impulso de 1,2/50. A fig. 9.23.2 mostra a tensão de impulso de onda cortada, em
que o tempo de corte deve se situar entre 2 a 6 μs e a amplitude máxima é igual a 110% do valor de crista
da onda plena. A tensão de impulso de onda cortada simula a descarga de pára-raios ou de centelhadores
de proteção às sobre tensões oriundas de quedas de raios em redes do sistema elétrico.
As tensões de impulso de onda plena devem ser livres de oscilações e podem ter polaridade positiva
ou negativa. Como a tensão de impulso cresce muito rapidamente, as descargas disruptivas dos dielétricos
se realizam verdadeiramente pela energia derivada da aceleração e colisões dos elétrons ou íons que
provocam a avalanche de elétrons livres no material. Nos ensaios com tensões alternadas em freqüências
industriais, efeitos secundários como o aquecimento resultante das perdas dielétricas pode favorecer a
ruptura.
Como sugere a fig. 9.18, para tensões de muito curta duração os dielétricos têm uma rigidez
dielétrica muito maior do que a correspondente a 1 minuto em corrente alternada. Quanto mais rápido for
o crescimento da tensão maior será a tensão de ruptura do material, conforme se pode observar na figura

Walter Ries 108


TRANSFORMADORES

9.24. As curvas desta figura são válidas para descargas em gases ou descargas superficiais em isoladores
envoltos por ar.
Vr (impulso)

0
Ts Td tempo em μ s
Fig. 9.24: Curva "volt-tempo" obtida com centelhador de hastes no ar

Na fig. 9.24 estão desenhadas 5 tensões de impulso que atingem o seu valor máximo com o mesmo
tempo de subida Ts. Para o impulso 1 a descarga disruptiva ocorre num tempo de descarga Td muito
maior do que Ts. Para o impulso 2, que cresceu mais rápido, a descarga disruptiva ocorre num tempo
maior do que o tempo de subida mas menor do que o tempo de descarga do impulso 1. No impulso 4 o
tempo de descarga coincide com o tempo de subida e no impulso 5, com crescimento muito rápido, a
descarga disruptiva ocorre antes de atingir a crista, portanto, num tempo Ts menor do que Td. Juntando os
pontos em que se realizam as descargas disruptivas pode-se traçar a curva K que representa a curva “volt-
tempo” do dielétrico que no caso é o ar. Isto é o que acontece também nos ensaios de isoladores ou
buchas onde as descargas podem ser internas ou externas (superficiais). Se a descarga ocorre no ramo
ascendente da tensão impulsiva como o impulso 5 da fig. 9.24, diz-se que se trata de uma descarga na
frente da onda. Quando a descarga ocorre no ramo descendente, fala-se em uma descarga na cauda.
Como já foi dito, a rigidez dielétrica dos materiais depende muito da forma dos eletrodos utilizados.
Especificamente para o ar são utilizados diversos tipos de eletrodos denominados de centelhadores.
Assim, têm-se os centelhadores de hastes (fig. 9.25.1) os centelhadores de haste-placa (fig. 9.25.2) os
centelhadores de esferas (fig. 9.25.3) e outros. À distância δ entre os eletrodos se denominada também de
distância espinterométrica. O centelhador de esferas, devido a uma distribuição mais uniforme do campo
é usado como instrumento de medição em altíssimas tensões e toma o nome de espinterômetro de esferas.
Como a tensão de ruptura é função da distância espinterométrica, os centelhadores podem também ser
utilizado como proteção contra sobre tensões.

δ 1 δ 2 δ 3

Fig. 9.25: Tipos de centelhadores

Influência das condições atmosféricas na tensão disruptiva


Pela adição ou subtração de um elétron uma molécula de gás se torna ionizada. Existem agentes
ionizantes naturais e não naturais. Como agente natural pode-se enumerar: emanações radioativas,
radiação ultravioleta de a luz solar, elétrons emitidos pelo Sol, raios cósmicos, etc. Como agentes não
naturais, citam-se: raios X, raios catódicos, radiações ultravioletas, emanações radioativas em geral.
A atmosfera terrestre é ionizada e esta ionização varia segundo as circunstâncias:
• é maior num céu limpo e seco do que numa atmosfera úmida e carregada de poeiras;
• é maior na estação quente do que na estação fria;
• é maior de dia do que de noite;
• cresce com a altitude e parece alcançar seu máximo a cerca de 50 km, correspondente, mais
ou menos, à região onde se produzem, nos pólos, as auroras boreais.

Walter Ries 109


TRANSFORMADORES

Nas regiões inferiores da atmosfera, com tempo bom, 1 cm3 de ar contém cerca de 800 íons positivos
e apenas cerca de 680 íons negativos, pois a Terra é carregada negativamente repelindo, portanto, os íons
negativas e atraindo os íons positivos na vizinhança do solo (estimam que isto equivale a uma corrente de
1.500 A em toda a superfície terrestre). A carga negativa do solo provém das chuvas originadas de nuvens
em que os núcleos de condensação foram provocados por íons negativos, os mais ativos.

V(-) V(+)

- +
δ δ
+ -

Fig. 9.26: Espinterômetro de esferas para medida de tensões elevadas

As conclusões que se obtém para a medida de altas tensões por meio do espinterômetro de esferas e
para o estudo da descarga elétrica em isoladores em geral são as seguintes:
a) para uma mesma distância espinterométrica a descarga se realiza com tensão maior quando a
esfera aterrada é o pólo positivo, pois a Terra tem um potencial negativo (fig. 9.26);
b) para uma dada distância espinterométrica a tensão de descarga: diminui com a altitude em que a
ionização é mais intensa devido a menor densidade do ar; diminui com a temperatura, pois o ar
torna-se menos denso havendo maior ionização; aumenta com o grau de umidade, pois há menor
ionização devido ao maior amortecimento das partículas ionizantes.
A tensão de descarga superficial em isoladores, no entanto, diminui quando aumenta a umidade do
ar, pois a poeira superficial em presença da água gera íons que facilitam a condução elétrica superficial.
A determinação da distância espinterométrica para uma determinada tensão de descarga no ar
depende, pois, da densidade do ar que aumenta com pressão atmosférica H (em mmHg) e diminui com a
temperatura t (em graus C), de acordo com a expressão 9.46.

273 + 25 H H
d= ⋅ = 0, 392 [9.46]
273 + t 760 273 + t
Para t = 25 °C e H = 760 mmHg a densidade do ar é 1(um)

Tensão disruptiva de 50% para tensão impulsiva


Como a tensão disruptiva de impulso é mais ou menos um tanto randômico, define-se como tensão
disruptiva de impulso ao valor de pico que provoca a descarga em 50% das 6 ou 10 vezes que se aplica a
mesma tensão. Portanto, é este o valor da tensão de descarga ao impulso normalizada e que é
determinada em laboratório. Cada um dos pontos da curva K da fig. 9.16 corresponde à tensão impulsiva
de 50%.

Para os materiais isolantes sólidos e o óleo a curva característica de descarga impulsiva tem um
aspecto muito diferente da do ar, conforme mostra a fig. 9.27. Distinguem-se três regiões nas curvas
características de impulso de papelão isolante impregnado em óleo, e óleo, no intervalo de 0, 1 μs e 108
μs.
Na região A de 0,1 a cerca de 3 μs, para papelão impregnado em óleo, e de 0,1 a cerca de 10 μs para
o óleo, a rigidez dielétrica cai ràpidamente com o tempo para a ruptura do dielétrico.

Walter Ries 110


TRANSFORMADORES

Na região B de 3 μs à cerca de 104 μs para o papelão, ou de 10 à cerca de 103 μs para o óleo, a


rigidez dielétrica é praticamente constante.
Na região C > 104 μs para o papelão ou > 103 μs para o óleo, a rigidez dielétrica decresce
rapidamente, depois mais lentamente para finalmente se tornar constante.

Vr (impulso)
Vr (1 minuto)

Fig. 9.27: Curvas características de regidez dielétrica sob impulso para


papelão impregnado com óleo e para o óleo de transformador.
P: papelão; O: óleo. (segundo Montsinger)

Em boa parte da região A a ruptura do dielétrico ocorre antes do impulso atingir o valor de crista é
como se a intensidade de campo é tão elevada a ponto de romper os dipolos e liberar muito ràpidamente
uma avalanche de elétrons. Na zona B o processo parece se desenvolver mais pelos choque de elétrons ou
íons e assim desenvolver a energia necessária para vencer o salto entre a banda de valência para a banda
de condução.Na zona C já se verificam as conseqüências do aquecimento devido às perdas dielétricas que
se desenvolve com tempos maiores.
Os valores da descarga disruptiva na fig. 9.27 são as relações entre a tensão disruptiva (valor de
crista) com tensão de impulso e a tensão disruptiva (valor de crista), com tensão alternativa em freqüência
industrial para 1 minuto. Esta relação leva o nome de relação de impulso. Em estruturas com óleo esta
relação está em torno de 2 conforme se observa na fig. 9.27.
Normalmente a descarga disruptiva em materiais sólidos ocorre muito próxima do valor de crista ao
passo que no óleo e no ar, ocorre após o valor de crista, portanto já na cauda do impulso. Isto ocorre
porque no óleo e no ar, antes da descarga tem-se uma fase de ionização, com descargas parciais e
descargas superficiais nos dielétricos sólidos envoltos pelo óleo ou ar. Portanto em estruturas isolantes
com sólidos e óleo, como os transformadores imersos em óleo, a duração da cauda do impulso é muito
importante.
A forma dos eletrodos que são as partes vivas do equipamento elétrico que devem ser isoladas
desempenha uma função muito importante no projeto do isolamento. Isto de deve ao fato de que as
densidades das linhas de força do campo elétrico nunca são uniformes e dependem muito das formas
geométricas das partes vivas. O estudo e a determinação da distribuição do campo elétrico constituem um
capítulo muito importante para o projeto do isolamento de equipamentos elétricos, conforme mostram as
figuras 9.1 e 9.2.
Bibliografia.
[1] M. Wellauer. Introdução à Técnica das Altas Tensões. Edit. Da USP – 1973
[2] Robert M. Rose, Lawrence A. Shepard and John Wulff. The Structure and Properties of Materials
(Vol IV) John Wiley – 1965.
[3] V. M. Montsinger – Transformer Engineering – GE Series – John Wiley & sons – 1951
[4] René Laurent. Materiales Electrotécnicos Modernos. Gustavo Gili - 1952

Walter Ries 111


TRANSFORMADORES

9.3 – Transitórios nos sistemas elétricos


O quadro da fig. 9.28 sintetiza as causas e os efeitos produzidos pelos transitórios do sistema elétrico
no qual está operando o transformador.
Sob o ponto de vista do isolamento dos transformadores devem ser analisadas as causas que originam
as sobre tensões no sistema elétrico. Sob o ponto de vista mecânico e térmico da construção dos
enrolamentos devem ser analisadas as causas que originam as sobre correntes.
De um modo geral sobre tensão é toda a tensão acima do valor nominal dos sistemas com suas
tolerâncias de projeto. As sobre tensões podem ocorrer durante os chaveamentos, com ou sem curto-
circuito entre fases ou entre fases e terra e durante as descargas atmosféricas (raios) que descarregam
correntes muito elevadas entre as linhas e terra gerando tensões muito altas em forma de impulsos que se
transladam a uma velocidade próxima à da luz.

Transitórios

Tipos Causas Efeitos

Chaveamentos Esforços mecânicos


Sobre correntes e sobreaquecimentos
Curto-circuitos nos enrolamentos
Descargas atmosfé- Ruptura do isolamento
Sobre tensões ricas interno ou
Chaveamentos externo

Fig. 9.28: Causas e efeitos dos transitórios que atingem os transformadores em operação

É importante a compreensão da origem e das amplitudes das sobre tensões, para entender a
necessidade de testar os transformadores nos laboratório nas fábricas com as tensões normalizadas.

9.3.1 – Sobre tensão de chaveamento de um curto-circuito


A fig. 9.29 apresenta um unifilar equivalente a um circuito trifásico em que v é a tensão fornecida
pela fonte de tensão ideal, R e L são os parâmetros do sistema visto do ponto de ligação do capacitor de
compensação de reativos C.
Quando os contatos do disjuntor iniciam a abertura haverá corrente em forma de arco entre os contatos
até que a energia armazenada no campo magnético da carga se anule, pois esta energia não persiste sem que
haja uma corrente elétrica. Portanto, a interrupção só se realiza quando, praticamente a corrente de curto
passa por zero. Um pouco antes da interrupção a corrente icc estava praticamente em atraso de 90º em
relação à tensão V da fonte, pois o circuito era basicamente indutivo (XL>>R) durante o curto-circuito. No
instante em que a corrente de curto-circuito passa por zero, o capacitor está sem tensão e a energia
armazenada no campo magnético da indutância L também é nula.

Vc
R L Icc

V C
˜
Fig. 9.29: Abertura de um curto-circuito contra terra.

Após a abertura do curto-circuito, se inicia uma troca de energia entre o campo magnético da
indutância L e o campo elétrico da capacitância C, com uma freqüência que é a natural do sistema, ou seja,

Walter Ries 112


TRANSFORMADORES

governada pelos parâmetros L e C, conforme expressão 9.50 e amortecida pelo parâmetro R. A tensão da
fonte para t = 0 é máxima positiva e é representada por Vm cos (ωt). A equação que rege o comportamento
do circuito é dada, pois, pela expressão 9.47 e, a intensidade de corrente i é dada pela expressão 9.48 que
substituída na expressão 9.47 resulta na equação diferencial 9.49.

di dvc
L + Ri + vc = Vm cos ωt [9.47] i =C [9.48]
dt dt

d 2vc R di v 1
2
+ + c =V m cos ωt [9.49] ω0 = [9.50]
dt L dt LC LC

A melhor maneira de se analisar qualitativamente a resposta deste circuito a uma excitação v = Vmcos
(ωt) é analisar antes a resposta do circuito a uma excitação v = Vmu-1 (t), isto é, em forma de salto como
mostra a fig. 9.30.
No instante t = 0 a indutância vai se opor ao crescimento da corrente apresentando um tensão induzida
igual e oposta à tensão salto aplicada e o capacitor está descarregado, portanto com tensão zero. Na
hipótese de ser a resistência R muito pequena, praticamente igual a zero, em qualquer tempo a soma das
tensões na indutância e na capacitância deverão igualar a tensão salto aplicada. À medida que cresce a
corrente, a sua razão de crescimento diminui e a tensão induzida em L também diminui, porém aumenta a
carga em C e, por conseguinte, a sua tensão. Quando a razão de variação da corrente for nula, a corrente
passa por um valor máximo e a tensão induzida em L é nula. Neste instante a tensão no capacitor se iguala
à tensão salto de excitação. A partir deste instante, a corrente continua circulando no mesmo sentido, porém
começa a decrescer numa razão crescente o que origina uma tensão induzida em L com polaridade
contrária à excitação. Embora a corrente esteja diminuindo o capacitor continua a se carregar e a aumentar
a sua tensão, isto é, a tensão nele passa a ficar maior do que tensão salto de excitação. Quando a corrente se
anula a tensão em L é nula e a tensão em C passa a ser duas vezes a tensão salto de excitação. Depois, se
inicia todo um processo em sentido contrário aparecendo no capacitor uma tensão alternativa como mostra
a fig. 9.31. A pulsação desta tensão é dada pela expressão 9.50.

Vc
R L Icc

Vm μ -1 (t) C

Fig. 9.30: Circuito alimentado por uma função salto

Vc Vm μ -1 (t)
2,5
2 Vc Vm μ -1 (t)
. 1,8
2
1,6
1,4
1,5
1,2
1
1
0,8
0,6
0,5 0,4
0,2
0 0
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360

Fig. 9.31: Resposta do circuito alimentado por uma Fig. 9.32: Resposta do circuito alimentado por uma
fun ção salto e para R = 0 função salto e para R>0

Walter Ries 113


TRANSFORMADORES

Vc Vc
R L Icc
1,5

1 V ~ C

0,5

0
-90 -60 -30 0 30 60 90 120 150 180 210 240 270
-0,5

Icc
-1

Fig. 9.33: Resposta do circuito alimentado por uma função


v=Vm cos(ωt) e para R>0

A fig. 9.32 mostra a ação de amortecimento das oscilações produzida pela resistência R > 0. A
resistência R e a indutância L formam uma constante de tempo T = L/R que vai governar a razão de
amortecimento das oscilações na freqüência natural do sistema.
A fig. 9.33 mostra a tensão no capacitor quando se substitui a excitação salto por uma excitação de
tensão alternativa cossenoidal em que a tensão passa pelo valor máximo no instante t = 0 em que o
disjuntor abriu o curto-circuito e a corrente é nula. Momentos antes do instante t = 0 a corrente de curto-
circuito estava atrasada de 90º em relação à tensão de excitação. As oscilações na freqüência natural,
amortecidas, ficam montadas sobre a cossenoide da tensão de excitação.
A solução da expressão 9.49, considerando que o normalmente se tem nos sistemas constantes de
tempo que levam a um hipoarmotecimento das oscilações, é dada pela expressão 9.51 que está representada
na figura 9.33. Normalmente, para as constantes de tempo dos sistemas, as oscilações persistem por um
tempo maior do que o representado, podendo a atingir vários ciclos. Para constantes de tempo maiores a
sobre-tensão de chaveamento do curto-circuito pode atingir valores muito próximos de duas vezes a tensão
máxima da tensão de excitação na freqüência industrial (50 ou 60 Hz).

1t

vc = Vm cos ωt −Vm cos ω0t ⋅ ε 2T
[9.51]

9.3.2 – Disjuntor desligando um transformador sem carga


Sob o ponto de vista de parâmetros o transformador em vazio pode ser representado por parâmetros
concentrados, como na fig. 9.34, ou parâmetros distribuídos, como na fig. 9.35.
Na fig. 9.24 a capacitância Ce representa a capacitância equivalente de entrada, isto é, entre as bobinas
e massa; L0 representa a indutância do transformador em vazio. Na fig. 9.35 L é a indutância dos
enrolamentos por unidade de comprimento do enrolamento; C é a capacitância contra massa por unidade de
comprimento do enrolamento; K é a capacitância entre espiras por unidade de comprimento do
enrolamento.

L K C

L K C

L K C

L K C
Ce Lo L K C

Fig. 9.34:Transformador em vazio como Fig. 9.35:Transformador em vazio como


parâmetros concentrados parâmetros distribuidos

Walter Ries 114


TRANSFORMADORES

4,0
Vo R L vo
3,0

v 2,0
~ v Ce Lo
1,0

0,0
-60 -30 0 30 60 90 120 150 180 210
-1,0

i -2,0

-3,0

Fig. 9.36: Chaveamento de um transformador em vazio

Na fig. 9.36 observa-se o circuito representativo de um chaveamento de um transformador em vazio


representado por seus parâmetros concentrados. As correntes na indutância Lo e no capacitor Ce estão em
oposição de fases sendo que a diferença entre elas é que passa pelo disjuntor. Normalmente a corrente pela
indutância é muito maior do que a corrente pelo capacitor e a fonte de alimentação do sistema a corrente
resultante é indutiva. Tanto a corrente indutiva como a corrente capacitiva é relativamente pequena em
comparação com as correntes de carga do sistema. Como foi visto, quando são abertos os contatos do
disjuntor e, se o valor da corrente não estiver passando por zero, forma-se um arco entre os contatos até a
corrente passar por zero, extinguindo-se o arco e o circuito está desconectado. No entanto, os arcos
elétricos não se mantêm para correntes muito pequenas, abaixo de alguns amperes e existe, portanto a
possibilidade de o circuito ser aberto antes que a corrente passe por zero. Se as correntes são muito
pequenas, como é o caso do transformador em vazio, a interrupção pode se realizar num ponto distante da
passagem da corrente por zero. Se isto ocorrer o circuito será interrompido quando existir uma corrente I0
pela indutância Lo o que significa que o seu campo magnético estará com uma energia armazenada dada
pela expressão 9.52. Esta energia irá oscilar entre o campo magnético de Lo e o campo elétrico de Ce.
Quando a energia do campo magnético for transferida para o campo elétrico ela também poderá ser
expressa pela expressão 9.53. Igualando estas duas expressões, obtém-se o valor máximo da tensão que irá
se desenvolver no capacitor em função da corrente de interrupção I0 e dos parâmetros do transformador
conforme expressão 9.54. Esta troca da energia entre os campos magnético e elétrico se realiza na
freqüência natural do sistema dada pela expressão 9.55.

Wm = LI 02 [9.52] We = CV02 [9.53]


L0 1
V0 = I0 [9.54] ω0 = [9.55]
Ce L0C e

Devido às perdas no ferro do transformador a tensão será amortecida exponencialmente e pode ser
expressa pela equação 9.56 em que a constante de tempo é a relação entre a indutância L0 e a resistência
equivalente das perdas no ferro, ou seja, T = L0/R.
1t
L0 −
v0 = I 0sen ω0t ⋅ ε 2T [9.56]
Ce

O valor máximo da tensão oscilante depende somente da relação entre os parâmetros L0 e Ce e do valor
da corrente na indutância no momento da interrupção podendo atingir valores muito maiores do que a
tensão de operação do transformador. As indutâncias de magnetização dos transformadores variam de
dezenas a centenas de H e as capacidade de entrada variam de 2.000 a 10.000 ou mais pF. Resultam, assim,
freqüências naturais de oscilação da ordem de 400 a mais de 2.000 Hz. Devidas às perdas no ferro, as
oscilação são rapidamente amortecidas.
Se a abertura do disjuntor ocorrer exatamente quando a corrente passa por zero, a tensão da fonte está
no valor máximo e o capacitor Ce está também com esta tensão, sendo nula a corrente na indutância. Nestas
condições, após a abertura, a indutância e a capacitância vão trocar uma energia máxima igual a CeV2 em

Walter Ries 115


TRANSFORMADORES

que V é a tensão máxima da rede de alimentação. Também existirão oscilações com amortecimento, porém
a tensão máxima não ultrapassa a tensão máxima da rede.

9.3.3 – Transformador atingido por uma onda de impulso


As tensões impulsivas que atingem um transformador através das linhas de transmissão podem ter sua
origem em descargas atmosféricas ou de manobras (chaveamentos). As tensões impulsivas que se originam
por descargas atmosféricas e que podem ser cortadas pela descarga de pára-raios ou pela ruptura de algum
ponto do isolamento têm a forma da figura 9.15. As ondas impulsivas de manobra são ondas com tempo de
frente de onda mais lento, da ordem de 100 μs e tempos de cauda até a primeira passagem por zero, de
aproximadamente 1.000 μs.
Para efeito de análise pode-se considerar uma tensão salto aplicada no extremo de entrada da uma linha
de transmissão que alimenta um transformador, conforme esquematizado na figura 9.37.

2V 1

V V
t 0
0 50

v(t ) = Vu−1(t ) Zo ZT (transformador)


it
Fig. 9.37: Transformador sendo atingido por uma onda de sobre-tensão

Nesta figura, ZT é a impedância em vazio do transformador, Z0 é a impedância característica da linha


de transmissão que é dada pela expressão 9.57.

Z R + j ωL L
Z0 = = [9.57] Z0 = [9.58]
Y G + j ωC C

Desprezando as perdas na linha de transmissão a impedância característica será dada pela expressão
9.58, em que: L é a indutância por unidade de comprimento da linha; C é a capacitância distribuída por
unidade de comprimento da linha. Na expressão 9.57: R é a resistência por unidade de comprimento da
linha; G é a condutância entre a linha e terra por unidade de comprimento da linha. A impedância
característica dada pela expressão 9.58 é independente da freqüência e se comporta, portanto como um
resistor. Realmente, se o produto RC e L/C tem a dimensão de “tempo”, a raiz quadrada de L/C tem a
dimensão de uma “resistência”.
Em cada ponto da linha deve-se ter sempre

v
= Z0 [9.59]
i

Se no extremo de carga da linha for ligada uma impedância igual a Z0, neste extremo ficará satisfeita a
condição da expressão 9.59 e a onda não se refletirá. No entanto, se no extremo de carga for ligada uma
impedância Zt diferente de Z0 então no extremo da carga deve-se ter
vt
= Zt [9.60]
it

e na linha, no extremo de carga, tem-se a condição dada pela expresso 9.59. Estas duas condições somente
serão simultaneamente satisfeitas se for considerada a reflexão da onda no extremo de carga da linha de
modo que, para a onda incidente de tensão v+ e corrente i+ tem-se.

v+
= Z0 [9.61]
i+

Walter Ries 116


TRANSFORMADORES

e, para a onda refletida com tensão v – e corrente i – tem-se

v−
− = Z0 [9.62]
i−
A impedância terminal será, pois, dada por

v+ + v− v
+ −
= Zt = t [9.63]
i −i it
v + + v− v− Z − Z0
Zt = , donde : = t =k [9.64]
Ou, v / Z0 − v− / Z0
+
v+ Zt + Z 0

sendo k o coeficiente de reflexão. Ou ainda:

v+ + v− 2Zt v Zt Zt
+
= = +t donde vt = 2v + = 2v [9.65]
v Zt + Z 0 v Zt + Z 0 Zt + Z 0

Normalmente a impedância característica de uma linha de transmissão está em torno de 500 ohms e a
impedância do transformador em vazio é muito maior do que a impedância característica da linha (Zt>>Z0).
Da expressão 9.65 se conclui que nas buchas do transformador pode aparecer uma tensão duas vezes
maior do que a tensão de impulso que se translada pela linha.
A impedância do transformador em vazio é representada pela indutância L0 em paralelo com a
capacitância Ce como mostra a fig. 9.34. No instante em que a onda de impulso atinge o transformador, a
indutância opera como um circuito aberto e a capacitância como um curto-circuito. Conseqüentemente, o
crescimento da tensão se verifica como mostra a fig. 9.38, isto é, segundo uma expressão dada,
aproximadamente, pela equação 9.66 e figura 9.37.
Para uma capacitância de entrada no transformador de 2.000 pF e uma impedância de linha de 500
ohms tem-se uma constante de tempo de subida da tensão Ts = ZoCe = 500 x 2.000 x 10-12 = 1 micro
segundo, pois a impedância característica da linha tem a dimensão de uma resistência.

⎛ −
t

⎜ Z 0Ce ⎟

vt = 2V ⎜⎜1 − ε ⎟⎟⎟ [9.66]
⎜⎝ ⎠
2V
1

0
0 Ts t ms 50

Fig. 9.38 Crescimento da tensão com transformador em vazio

Se o transformador está sob carga o circuito equivalente é dado pela fig. 9.39. A frente de onda é
comandada pela expressão 9.66, porém a cauda é comandada pela constante de tempo dada pela expressão
9.67, resultando uma cauda dada pela expressão 9.68. Colocando a exponencial da expressão 9.68 no lugar
do “1” da expressão 9.66, resulta uma onda de impulso aplicada ao transformador conforme mostra a fig.

Walter Ries 117


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9.41 e a expressão 9.69, em que Tc tem um valor de algumas centenas de micro segundos. Portanto, uma
onda de choque retangular se transforma numa onda de subida muito rápida e com uma cauda
relativamente longa. A amplitude máxima está compreendida entre V e 2V, dependendo das características
do sistema (linha de transmissão e transformador com sua respectiva carga). Se Tc é muito grande como
ocorre com o transformador em vazio tem-se uma subida da tensão como na figura 9.38; se Ts é muito
grande quando a capacitância de entrada e elevada e, sendo Tc pequeno como é o caso do transformador
sob carga, então a subida da tensão se aproxima mais da figura 9.40.

Ld
2V
1

Lc
Carga
Zo
Rc

0
0 Tc 50

Fig. 9.39: Transformador sob carga Fig. 9.40: Constante de tempo de cauda do transformador sob carga

t
L + Lc −
Tc = d [9.67] vt′′ = 2V ε Tc
[9.68]
Rc


t

t
⎛ −t − ⎞
t

vv = 2V ε Tc
− 2V ε Ts
= 2V ⎜⎜⎜ε Tc − ε Ts ⎟⎟⎟ [9.69]
⎜⎝ ⎠⎟
2V
1

Vmax

0
0 Ts Tc 50

Fig. 9.41: Tensão de impulso aplicada ao transformador sob carga

9.3.4 – Onda de impulso normalizada


As ondas de sobre-tensões que incidem nos transformadores por efeito de descargas atmosféricas
variam em grande escala no que se refere ao tempo de subida e tempo de cauda, bem como no que diz
respeito à amplitude. Os transformadores são protegidos contra estas sobre tensões por meio de
descarregadores ou pára-raios calibrados de modo a manterem a segurança operacional dos equipamentos
elétricos do sistema.
Nos ensaios de fábrica dos transformadores é prevista a aplicação de uma onda de sobre tensão
denominada de tensão de impulso a fim de verificar se o isolamento está bem dimensionado para este tipo
de solicitação do dielétrico.
A forma desta onda de impulso, conforme fig. 9.42, está definida pelo:
• Tempo virtual de subida ou tempo de frente da onda (tf);
• Tempo de meio valor da tensão de impulso ou tempo de cauda da onda (tc);
• Tempo de corte da onda (tcr).

Walter Ries 118


TRANSFORMADORES

1
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 50 μs
Δ t´´
tf = 1,25Δ t´ tf =2Δ t´´ tc=50 ABNT
Δ t´
ABNT ANSI tc=40 ANSI
Fig. 9.42: Onda de impulso normalizada para o ensaio de transformadores

Normalmente é difícil identificar o início da onda de impulso registrada como também é difícil
identificar o valor de crista. Para determinar o tempo de frente da onda a norma ABNT multiplica, o
intervalo de tempo de subida entre 10% e 90% da onda de impulso, por 1,25. A ANSI toma o intervalo de
tempo entre 30 e 90% e multiplica por 2. O tempo de cauda corresponde ao tempo em que a tensão cai a 50
% do valor de crista.
A onda cortada, conforme mostra a fig. 9.23, tem um valor de crista 10% maior do que a onda plena
especificada em norma e é cortada, segundo a ABNT, após 2 a 6 μs do inicio da onda.
Segundo a ABNT o tempo de frente de onda é de tf =1,2 μs e o tempo de cauda tc = 50 μs.
Segundo a ABNT o ensaio de impulso deve ser feito aplicando em todos os terminais de linha dos
enrolamentos sob ensaio impulsos de tensão na seguinte ordem:
1. Um impulso pleno normalizado com o valor reduzido (cerca de 50 % do valor especificado em
norma);
2. Um impulso pleno normalizado com o valor especificado;
3. Um ou mais impulsos cortados com o valor reduzido;
4. Dois impulsos cortados com o valor especificado;
5. Dois impulsos plenos normalizados com o valor especificado.
O impulso pleno normalizado com valor reduzido (1) serve para comparação com os impulsos plenos
normalizados com o valor especificado (2) ou (3). Os impulsos cortados com valor reduzido (3) servem
para comparação com os impulsos cortados com o valor especificado (4). Os impulsos plenos normalizados
com o valor especificado (5) servem para aumentar eventuais danos causados pelas aplicações (2) e (4),
tornando-os mais patentes ao exame dos oscilogramas.
Nos ensaios que simulam as sobre tensões oriundas de chaveamentos ou curtos-circuitos no sistema, as
ondas possuem maiores tempos de frente e de cauda. O impulso de manobra deve ter:
a) Tempo até a crista de, pelo menos, 100 μs;
b) Tempo acima de 90% do valor especificado em norma de, pelo menos, 200 μs:
c) Tempo total até a primeira passagem pelo zero de, pelo menos, 1.000 μs.
Estes ensaios são também chamados de ensaios de impulso de onda longa.

Walter Ries 119


TRANSFORMADORES

9.3.5 – Distribuição da tensão de impulso ao longo dos enrolamentos


Com relação à onda de impulso de tensão que incide no transformador, ele se comporta, internamente,
como uma linha de transmissão conforme pode ser observado na fig. 9.43, desprezando as resistências
equivalentes às perdas e imaginando um enrolamento em disco contínuo ou de uma só camada.

∂i
i+ dx
∂x
K Ldx i Ldx Ldx

iK + ∂i dx
+
iK
C ∂x
K v K K
dx dx
C
− Cdx Cdx Cdx
K

a) b) dx
Fig. 9.43: Elemento de um enrolamento de disco contínuo

K pode representar a capacitância entre discos ou entre espiras e C é a capacitância contra massa de um
disco ou de uma espira.
Nesta figura tem-se um elemento dx de um enrolamento, de camada simples, em que C, K e L são os
parâmetros por unidade de comprimento do enrolamento.

v : é a tensão de entrada do elemento dx de linha;


∂v
v+ dx : é a tensão de saída do elemento de linha
∂x

Podem-se escrever as equações diferenciais parciais dadas pelas expressões 9.70, 9.71 e 9.72.

∂v ∂i ∂ (i + iK ) ∂v ∂ 2v
− =L [9.70] − =C [9.71] − iK = K [9.72]
∂x ∂t ∂x ∂t ∂ t ⋅ ∂x

Como interessa, fundamentalmente, a distribuição das tensões ao longo do enrolamento, deve-se


eliminar as variáveis i e iK das expressões 9.70 a 9.72.

∂ ∂ 2v ∂2i
[9.70] : − 2 = L [9.73]
∂x ∂x ∂ x ⋅ ∂t
2
∂ ∂i ∂ 2iK ∂ 2v
[9.71] : − − =C 2 [9.74]
∂t ∂x ⋅ ∂t ∂x ⋅ ∂t ∂t
2 2 4
∂ ∂ iK ∂v
[9.72] : − =K 2 [9.75]
∂x ∂ t ∂x ⋅ ∂ t ∂t ⋅ ∂ x 2

Substituindo a expressão 9.75 na expressão 9.74 e esta na expressão 9.73 obtém-se a expressão 9.76.

∂ 2v ∂ 2v ∂ 4v
− LC + LK =0 [9.76]
∂x 2 ∂t 2 ∂ t 2 ⋅ ∂x 2

Walter Ries 120


TRANSFORMADORES

A equação diferencial de onda dada pela expressão 9.76 rege o comportamento da distribuição das
tensões ao longo do enrolamento de transformador quando atingido por uma onda de impulso. Como não se
tem elementos resistivos, que foram desprezados, as ondas não são amortecidas.
A expressão matemática de uma onda transladante, não amortecida, é dada pela expressão 9.77.

⎡ ⎛ x ⎞⎤
v = V cos ⎢ω ⎜⎜t ± ⎟⎟⎥ [9.77]
⎣⎢ ⎝ s ⎠⎥⎦

Na expressão 9.77, ω = 2π/T = 2πf é a pulsação temporal, ou seja, o número de ciclos em 2π


segundos, sendo T o período em segundos de cada ciclo e f a freqüência ou número de ciclos por segundo; s
= λf é a velocidade de propagação da onda transladante em m/s, sendo λ o comprimento de onda e f a
freqüência. Pode- se, pois escrever a expressão 9.78 em β = 2π / λ = número de comprimentos de onda em
2π metros = pulsação espacial (constante de fase).

⎡ ⎛ x ⎞⎤ ⎛ 2π ⎞⎟
v = V cos ⎢ω ⎜⎜t ± ⎟⎟⎥ = V cos ⎜⎜ωt ± x ⎟ = V cos (ωt ± β x ) [9.78]
⎢⎣ ⎝ s ⎠⎥⎦ ⎝ λ ⎠

A velocidade de propagação da onda é dada, portanto, pela expressão 9.79.

ω frequencia temporal número de ciclos por segundo ⎡m ⎤


s= = = ⎢ ⎥ [9.79]
β frequencia espacial número de ciclos por segundo ⎣⎢ s ⎦⎥

Sob notação complexa a expressão 9.79 é dada pela expressão 9.80, em que V e V* são complexos
conjugados com módulo V. Os dois termos do segundo membro são 2 fasores girantes, um girando no
sentido contrário do outro, conforme figura 9.44.

⎡ ⎛ x ⎞⎤ V V * − j (ωt ±βx )
v = V cos ⎢ω ⎜⎜t ± ⎟⎟⎥ = Vco s (ωt ± βx ) = ε j (ωt ±βx ) + ε [9.80]
⎣⎢ ⎝ s ⎠⎥⎦ 2 2
Im
V ω
2

βx
Re V cos (ω t ± β x )
βx
V
2 ω
Fig. 9.44: Fasores ou vetores girantes

A onda transladante ao atingir um ponto com impedância diferente de sua impedância característica
se refletem com um coeficiente de reflexão k dado pela expressão 9.64. Se Zt = 0 ou Zt = infinito (curto-
circuito ou circuito aberto) a reflexão é total. Com a reflexão têm-se na linha ondas estacionárias sendo o
ponto de reflexão considerado como uma fonte de ondas transladantes em sentido oposto.
Uma onda estacionária é dada pela expressão 9.81 e, como se pode observar, é o resultado de duas
ondas transladantes em sentidos opostos (observar o sinal de β = constante de fase).

V V
v (x,t ) = Vcoswt × cos βx = cos (wt - βx ) + cos (wt + βx ) [9.81]
2 2

Walter Ries 121


TRANSFORMADORES

As expressões 9.77, 9.78, 9.80 e 9.81 devem, pois, satisfazer a equação diferencial dada pela expressão
9.76.
Uma das soluções complementares da expressão 9.76 pode ser a expressão 9.82, que substituída na
expressão 9.76 resulta a expressão 9.83. Desta expressão derivam as expressões 9.84, 9.85 e 9.86.

v = Ve j (wt+bx ) [9.82]
β 2 - LCω 2 - LK ω 2 β 2 = 0 [9.83]
β 1
ω= = [9.84]
⎛ K 2 ⎞⎟ ⎛ 1 K⎞
LC ⎜⎜1 +

β ⎟
⎠ LC ⎜⎜ 2 + ⎟⎟⎟
C ⎜⎝ β C⎠
LC
β = ±w [9.85]
1 - w 2 LK
w 1
s= =∓ [9.86]
β LC (1+ K
C β2)

Vê-se pela expressão 9.85 que para cada valor da freqüência temporal correspondem dois valores
conjugados para a freqüência espacial β (ver expressão 9.81). Na expressão 9.84 se β tende a infinito ω se
aproxima do valor dado pela expressão 9.87 que se denomina de valor crítico. Este valor é a maior
freqüência temporal em que a bobina unitária (LK) pode oscilar livremente, sendo, portanto a sua
freqüência natural.

1
wcr = w∞ = [9.87]
LK

A velocidade de propagação da onda é dada pela expressão 9.86 que, para K = 0 se reduz às expressão
9.88, que é a velocidade de propagação para uma linha normal LC.

1
s= [9.88]
LC

A expressão 9.86 diz ainda que a velocidade de propagação no enrolamento é função da freqüência
espacial β e, quanto menor for o comprimento de onda espacial, maior será a freqüência espacial β = 2π/λ e
menor será a velocidade de propagação.
A solução geral da equação diferencial dada pela expressão 9.76 é a soma de todas as oscilações livres
dada pela expressão 9.89 em que βn e ωn sempre satisfazem a expressão 9.84 e an e bn são constantes a
determinar.
[
9
.
8
9


v (x,t ) = ∑ (a e
n
jbn x
+ bne -jbn x )e jwt ]
1
n=

9.3.5.1 – Distribuição inicial das tensões para uma excitação salto unitário u-1(t).
Para o instante = 0 as indutâncias da fig. 9.33 se comportam como um circuito aberto. Deste modo a
linha fica reduzida à fig. 9.45.

Walter Ries 122


TRANSFORMADORES

K / dx K / dx K / dx
A B
+
i i
vo Cdx Cdx Cdx

dx i + ∂iK dx
K
∂x
Fig. 9.45: Distribuição inicial das tensões em enrolamentos

A queda de tensão entre os pontos A e B é dada pela expressão 9.90, sendo a corrente iK dada pela
expressão 9.91 e a variação da corrente ik com o comprimento dx é dada pela expressão 9.91.
∂v 0
vAB = dx [9.90]
∂x
K ∂ ⎡ ∂vo ⎤ ∂ 2v 0
iK = ⎢ dx ⎥ = K [9.91]
dx ∂t ⎣⎢ ∂x ⎦⎥ ∂x ∂t
∂iK ∂v 0
− dx = Cdx [9.92]
∂x ∂t
Derivando a expressão 9.90 em relação a x e substituindo na expressão 9.92 e depois integrando em
relação ao tempo (t), resulta a expressão 9.93 que é a equação diferencial do circuito da fig. 9.35.

∂ 2v 0 C ∂ 2v 0
+ v 0 = + β 2v 0 = 0 [9.93]
∂x 2 K ∂x 2

O valor de β pode ser obtido da expressão 9.85 para L = infinito.

9.3.5.1.A – Enrolamento com um extremo aterrado


A fig. 9.46 apresenta um enrolamento com um extremo aterrado, sendo A o comprimento da bobina.
Para o instante inicial, isto é, t = 0, a distribuição da tensão impulso unitário ao longo da bobina é regida
pela expressão 9.93.
A solução da equação diferencial 9.93 é do tipo dado na expressão 9.94.

μ−1 (t ) t L K C v0 (x ) = Aε β x + Bε − β x [9.94]
L K C Condições de contôrno para t = 0 :
L K C
x = 0; v 0 (0, 0) = 1 portanto : 1 = A + B
L K C
x = ; v 0 ( , 0) = 0 portanto : 0 = Aε β + Bε − β
L K C

Fig. 9.46: Enrolamento com um extremo aterrado


Com as condições de contorno para o instante t = 0 é possível determinar as constantes A e B que
substituídas na expressão 9.94 resulta na expressão 9.95 que dá a distribuição da tensão ao longo do
enrolamento para o instante t = 0.

Walter Ries 123


TRANSFORMADORES

ε β ( −x ) − ε − β ( −x ) senh [ β ( − x )]
v0 = = [9.95]
ε β − ε −β senh [ β ]

Chamando de Ks a capacidade total série e de Cg a capacidade total contra massa resultam as


expressões 9.96 e 9.97, respectivamente. A raiz quadrada da relação entre a capacidade total contra massa e
a capacidade total série da origem a uma nova constante α dada pela expressão 9.98. Introduzindo esta
nova constante na expressão 9.95, resulta a expressão 9.99.

100

90

80 K
70
Ks = [9.96 ]
60
α=0
Cg = C [9.97 ]
% 50 α=1
Cg C
40
α= = =β [9.98 ]
30 Ks K
20
α=3
α=5
10
α = 10
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
x/l
i i
Fig. 9.47: Distribuição inicial de v o (x) para bobina com
um lado aterrado.

v0 (x ) =

senh ⎢α 1 −
⎢⎣
x
( )⎤⎥⎥⎦ = ε ⎛ x⎞
α⎜⎜1− ⎟⎟⎟
⎝ ⎠
−ε
⎛ x⎞
−α⎜⎜1− ⎟⎟⎟
⎝ ⎠
[9.99]
senh [α ] ε − ε −α
α

A fig. 9.47 representa a expressão 9.99 para diversos valores de α. Para α = 0 tem-se a expressão 9.100
e o gradiente máximo da tensão para x = 0 em função de α é dado pela expressão 9.101.

x
v0 (x ) = 1 − [9.100]

⎡ dv0 ⎤ α α ε α + ε −α
⎢ ⎥ = coth α =
( ) [9.101]
⎣⎢ dx ⎦⎥ max(para x =0) ε α − ε −α

Como para a > 3 se tem cotgh (a) ≅ 1 o gradiente máximo da tensão inicial para α > 3 é dado pela
expressão 9.102.
⎡ dv0 ⎤ α
⎢ ⎥ = [9.102]
⎢⎣ dx ⎥⎦ max(para α ≥ 3) A

Para os enrolamentos em disco contínuo pode-se considerar:


• K igual à capacidade série entre 2 discos contíguo;
• C igual à capacidade contra massa de um disco;
• N igual ao número de discos da bobina.
Neste caso pode-se escrever a expressão 9.103.

Walter Ries 124


TRANSFORMADORES

C NC Cg
α = βN = N = = [9.103]
K K Ks
N

Para valores de α ≥ 3 a diferença de potencial entre dois discos da cabeceira da bobina é dada pela
expressão 9.104 e, para uma tensão de impulso Vi pela expressão 9.105.

α
Δv 0 1 = Δx [9.104]

Δx
Δv = α ⋅ Vi = α ⋅ Δx 0 1Vi [9.105]
2
sendo Δx 0 1 = para disco contínuo duplo
N

9.3.5.1.B – Enrolamento com um extremo impulsionado e outro livre (fig.38)

100
α=0
90

80

μ−1 (t ) 70
L K C α=1
60
L K C
% 50
L K C 40

L K C 30
α=3
L K C
20
α=5
10
α = 10
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
x /l

Fig. 9.48: Enrolamento com um extremo Fig. 9.49 Distribuição inicial de v o (x) para bobina com um
impulsionado e o outro livre extremo livre

A fig. 9.48 mostra um enrolamento com o extremo livre e a fig. 9.49 mostra a distribuição da tensão
inicial, isto é, para t = 0 para diversos valores de α segundo a expressão 9.106 que é a solução da expressão
9.93 para as condições de contorno abaixo.

Condições de contorno : para x = 0 tem − se v (0, 0) = 1


⎡ dv ⎤
para x = tem − se ⎢ 0 ⎥ =0 pois v 0 ( ) = cte.
⎢⎣ dx ⎥⎦ x =

v0 (x ) =
cos h [ β ( − x )]
=

cos h ⎢α 1 −
⎢⎣
x
( )⎥⎥⎦⎤ = ε ⎛ x⎞
α⎜⎜1− ⎟⎟⎟

+ε ⎝

⎛ x⎞
−α⎜⎜1− ⎟⎟⎟

[9.106]
cos h [ β ] cos h [α ] ε α + ε −α

9.3..5.1.C – Capacitância efetiva de entrada do transformador (Ce)


A capacitância efetiva de entrada é aquela que substitui como parâmetro concentrado, as capacitâncias
C e K distribuídas, no instante inicial. A corrente capacitiva de entrada no transformador é a do primeiro
capacitor K/dx no qual se tem uma queda de tensão dada pela expressão 9.107. Portanto, a corrente iK para
x = 0 é dada pela expressão 9.108.

Walter Ries 125


TRANSFORMADORES

∂v 0
dv0 = dx [9.107]
∂x
K ∂ ⎡ ∂v 0 ⎤ ∂ 2v 0
iK ,x =0 = ⎢ dx ⎥ = K [9.108]
dx ∂t ⎢⎣ ∂x ⎦⎥ ∂x ∂t

Para a capacitância equivalente a corrente iK é dada pela expressão 9.109 de onde se obtém a
capacitância equivalente através das expressões 9.110, 9.111 e 9.112.

∂v 0
iK = C e [9.109]
∂t x =0

∂v α
Ce = K 0 =k coth [α ] [9.110]
∂x x =0

C e = K β coth [α ] = KC coth [α ] [9.111]


Cg
C e = Ks coth [α ] ≅ KsC g para α ≥ 3 [9.112]

9.3.5.2 – Distribuição final da tensão de impulso no enrolamento


A distribuição final da tensão em um enrolamento impulsionado com uma tensão salto unitário é
obtida da expressão diferencial 9.76 anulando todos os temos em que aparecem as derivadas da tensão em
relação ao tempo. Tem-se assim, a expressão 9.113 cuja solução é do tipo da equação da expressão 9.114.

∂2v
=0 [9.113] v f = Ax + B [9.114]
∂x 2

1. Para o caso do enrolamento aterrado, têm-se as condições de contorno das expressões 9.115, das
quais resulta a expressão 9.116 para a distribuição final da tensão ao longo do enrolamento do
transformador que coincide com a reta para α = 0 da fig. 9.37.

x = 0, v(0) = 1
v
x= , v( ) = 0 [9.115] vf = 1 − [9.116]

2. Para o caso do enrolamento não aterrado, têm-se as condições de contorno das expressões 9.117, das
quais resulta a expressão 9.118 para a distribuição final da tensão ao longo do enrolamento que coincide
com a reta para α = 0 da fig. 9.39.

x = 0, v(0) = 1
x= , v( ) = 1 [9.117] vf = 1 [9.118]

9.3.5.3 – Distribuição transitória da tensão de impulso no enrolamento


Nas figuras 9.50 e 9.51 vêm-se o que ocorre ao longo do enrolamento quando a onda de impulso se
propaga com o tempo.
A solução total da equação diferencial 9.76 é a soma da solução transitória e a solução permanente.
Falando em “excitação e resposta” pode-se afirmar que a resposta v(x,t) é a soma da resposta transitória
vt(x.t) e a resposta permanente vf(x,t), segundo a expressão 9.119.

v (x , t ) = vt (x , t ) + v f (x , t ) [9.119]

Walter Ries 126


TRANSFORMADORES

150 200
140
180
130
t=40 μs Envolvente Envolvente
120
160 t=40 μs
110
100 140
90
t=30 μs 120
80
70
% 100
% 60
50 80 t=15
40
30 60 t=10
20 t=0 t=5 t=10 t=15
40
10
0
t=0 μs t=5
20
-10 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
-20 0
-30 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
x/l x/l

Fig. 9.50: Distribuição transitória da tensão Fig. 9.51: Distribuição transitória da tensão
para bobina com um lado aterrado. para bobina não aterrada.

A resposta permanente é dada pelas expressões 9.116 e 9.118, respectivamente para o caso de
enrolamento aterrado e não aterrado. A transição entre a distribuição inicial e a distribuição final da tensão
ao longo do enrolamento se realiza por oscilações no tempo e no espaço. Esta transição dá a resposta
transitória representada por uma soma de ondas estacionárias harmônicas de freqüência temporal ωn e
espacial βn, que satisfazem a expressão 9.84 ou 9.85.
A expressão 9.89 é a solução geral da equação 9.76 satisfazendo tanto para as ondas transladantes
quanto para as ondas estacionárias. No campo real a resposta transitória é representada pela expressão
9.120, considerando que são ondas estacionárias formadas ao longo do enrolamento refletindo-se no
extremo aterrado, ou extremo livre, conforme for o caso considerado. As constantes an e bn são dadas pelas
expressões 9.121 e 9.122.

vt (x,t ) = ∑ (a cos β x + b sen β x )cosw t
n =1
n n n [9.120]

2 A
A ∫0
an = vt (x,o ) ⋅ cosbx ⋅ dx [9.121]
2 A
bn = ∫ vt (x,o ) ⋅ senbx ⋅ dx [9.122]
A 0

9.3.5.3.A – Enrolamento com extremo aterrado


Como a distribuição de tensão inicial (v0) e a distribuição final (vf) para x = 0 são iguais a 1 (um) todos
os harmônicos transitórios deverão ser nulos para x = 0 em qualquer instante. Isto implica em dizer que a
distribuição transitória da tensão (vt) para x = 0 e para x = l também devera ser nula. Como conseqüências,
só existem harmônicas senoidais e an = 0. Neste caso, o comprimento do enrolamento deve corresponder a
um meio comprimento de onda espacial para a fundamental n = 1, isto é l = λ1/2. Como conseqüência o
valor da freqüência espacial é β1 = 2π/λ1 = π/l e βn = n π/l, para n = 1, 2, 3, .....A função 9.120 se reduz à
expressão 9.123


vt (x,t ) = ∑ b sen
n =1
n
2
x ⋅coswnt [9.123]

Nesta expressão ωn é dada pela expressão124 e, para n = 1 pela expressão 9.125.

Walter Ries 127


TRANSFORMADORES

1 1
ωn = = [9.124]
⎛ 1 K⎞ ⎛⎛ ⎞⎟
2
K⎞
LC ⎜⎜ 2 + ⎟⎟⎟ LC ⎜⎜⎜⎜ ⎟ + ⎟⎟⎟
⎜⎝ β n C ⎠⎟ ⎜⎝⎝ nπ ⎠ C ⎠⎟
1
ω1 = [9.125]
⎛ 2 K⎞
LC ⎜⎜ 2 + ⎟⎟⎟
⎝⎜π C⎠

A resposta total, dada antes pela expressão 9.119, é agora dada pela expressão 9.126 e a resposta
transitória para o instante t = 0 é dada pela expressão 9.127.
⎛ x⎞ ∞ nπ
v (x, t ) = ⎜⎜1 − ⎟⎟ + ∑ bnsen x ⋅ cos ω nt [9.126]
⎝ ⎠ n =1

nπ senh [ β ( − x )] ⎛ x⎞
vt (x, 0) = ∑ bnsen x= − ⎜⎜1 − ⎟⎟ [9.127]
n =1 senh [ β ] ⎝ ⎠
C
sendo β = [9.128]
K

A partir da expressão 9.122 pode-se determinar o valor da constante bn através da expressão 9.129 e a
solução geral será dada pela expressão 9.130.

2 ⎡ senh [ β ( − x )] ⎛
A x ⎞⎤ ⎛ nπ ⎞⎟ 2 β 2A2 1
⎢ ⎜⎜1 − ⎟⎟⎥ sen ⎜⎜
bn = ∫
0 ⎢

⎝ ⎠⎥ ⎝
x ⎟

dx = −
π n ⎣ nπ + β 2 A 2 ⎤⎦

[9.129]
⎣ senh [ β ] ( )2

x 2 β 2 A2 ∞
sen

x ( )
v (x, t ) = 1 − −
A

π n =1 n ⎡⎣(nπ )2 + β 2 A 2 ⎤⎦
cos ω nt [9.130]

em que n = 1,2, 3, 4.........

Observa-se pela expressão 9.129 que as amplitudes das harmônicas decrescem rapidamente como
aumento de n.
A Fig. 9.52 mostra as harmônicas transitórias para n = 1,2, e 3 no instante t = 0. Como as harmônicas
são estacionárias de freqüência temporal ω1,2.....n para t > 0 , pode-se ter a resposta geral v(x,t) acima do
eixo representada pela resposta final vf(x,t), conforme mostra a fig. 9.40. Os valores máximos da solução
geral v(x,t) formam uma envolvente que mostra que a tensão máxima que se desenvolve num ponto x pode
ser bem maior do que a tensão inicial para x = 0. Tudo ocorre como se a reta vf(x,t) fosse um eixo de
oscilação e, a envolvente fosse simétrica à tensão inicial v0(x,0) em relação a este eixo. Num enrolamento
real as oscilações são sempre amortecidas pela resistência equivalente das perdas. A envolvente, portanto,
não atinge os valores simétricos da função v0(x,0) em relação ao eixo vf(x,t). Além do mais, as ondas de
impulso não são retangulares. O tempo de frente da onda de impulso está em torno de 1 μs e o tempo de
cauda, para uma queda de 50% da tensão máxima, está em torno de 40 a 50 μs. Nestas condições, a
envolvente atinge a valores menores do que os teóricos.
O valor máximo do impulso, num ponto x determinado do enrolamento, é, portanto de difícil
determinação. Observando-se a fig. 9.52, pode-se admitir que PA = AB e assim determinar com segurança
o valor da máxima tensão que atinge o impulso no enrolamento.

Walter Ries 128


TRANSFORMADORES

1,60 200
v máx
i P
180
1,40
envolvente Envolvente
160
1,20
140
1,00

0/1
% 0,80 Ai vf (x, t )
120
vf (x, t )
% 100

0,60 80

0,40 60

0,20
B i v0 (x, 0) 40

20
v0 (x, 0)
0,00
x
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 0
x/l 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
x/l
n=3
n=3
0 30 60 90
0 60 120 180
n=2 n=2

vt1 (x, 0) n=1


n=1 vt1 (x, 0)
v0 (x, 0) = vt (x, 0) + vf (x, 0)
Fig. 9.52: Transitórios para t=0 Fig. 9.53: Transitórios para t=0 de bobina
não aterrada.

9.5.3.5.B – Enrolamento com o extremo não aterrado


As condições de contorno, neste caso, são dadas pelas expressões 9.131 e 9.132.

dvt
vt (0,t ) = 0 [9.131] =0 [9.132]
dx x=l

Da condição 9.131 se conclui que a constante an também neste caso é nula. Da condição 9.132 conclui-
se que dentro do comprimento l somente pode-se ter um número inteiro de quartos de comprimento de
onda espacial. Assim, para a fundamental (n = 1) deve-se ter

2π λ1
β1 = e A= portanto,
λ1 4
π nπ
β1 = e βn =
2A 2A

Como a resposta final vf(x,t)=1 (expressão 9.118), a resposta geral é dada pela expressão 9.133, sendo
a resposta transitória para t = 0 dada pela expressão 9.134

Walter Ries 129


TRANSFORMADORES



v (x, t ) = 1 + ∑ bnsen x ⋅ cos ω nt [9.133]
n =1

cosh [ β ( − x )]
vt (x, 0) = −1 [9.134]
cosh [ β ]

A constante bn é determinada pela expressão 9.135 e a solução geral é dada pela expressão 9.136.

2
2 A ⎛ nπ ⎞ 4 ( β A) 1
bn = ∫ vt (x, 0)sen ⎜⎜ x ⎟⎟ ⋅ cos ω nt = − [9.135]
⎝ 2A ⎠
( ) + ( β A)
nπ 2
A 0 π 2

2
4 ( β A) ∞ sen (n2πA x )
v (x, t ) = 1 − ∑ cos ω nt [9.136]
( ) + ( β A)
nπ 2
π n =1 2

A fig. 9.53 mostra as harmônicas n = 1, 2, e 3 e a envolvente para o caso do enrolamento com extremo
não aterrado. Pode-se observar que, teoricamente, o extremo livre pode ficar com uma tensão de impulso
duas vezes maior do que o terminal impulsionado.

Walter Ries 130


TRANSFORMADORES

ANEXO A: Calculo das capacitâncias distribuídas de um enrolamento

A.1: Formulário de referência


A.1.a – Capacitância entre duas placas (planos) paralelas

a1 a2 a3

ε1 ε2 ε3 C=
0,0885 × A
μF [A.1]
ai
A ∑i ei

A = área das placas em cm 2


ai = espessura das camadas do dielétrico em cm
ei = constante dielétrica relativa dos dielétricos

Fig. A.1: Placas paralelas com dielétricos diferentes

A.1.b – Capacitância em cilindros concêntricos

ε3 0,0885 × 2πl
ε2 C= μF [A.2]
⎛ 1 ri +1 ⎞⎟
ε1 ⎜⎜ ln
r1
r2
∑ ⎜
i ⎝εi

ri ⎠⎟⎟
l = comprimento axial dos cilindros em cm
ri = raio interno do dielétrico "i" em cm
r3
ri +1 = raio externo do dielétrico " i " ou interno
do dielétrico " i + 1"
r4
Fig. A.2: Cilindros concêntricos com dielétricos diferentes

A.2 – Capacitância contra massa (Cg)

C
b 0,0885 × 2π Nb
Cg = pF [A.3]
⎛ 1 di +1 ⎞⎟
⎜⎜ ln
C ∑ ⎜
i ⎝ εi

di ⎠⎟⎟
d1
N = número de secções (discos)
d2 N
b = altura axial do cobre de um disco (cm)
secções
di di = diâmetro interno de um cilindro isolante
di+1 com cosntanate dielétric "ei" (cm)
di +1 = diâmetro externo de um cilindro isolante
com cosntanate dielétric "ei" (cm)]
cilindros isolantes e canais de óleo

Fig. A.3: Capacitância contra massa (Cg), bobina em discos.

Walter Ries 131


TRANSFORMADORES

A capacitância Cg é formada de duas parcelas: a) capacitância entre a superfície interna dos discos
contra massa ( ou BT se os discos do enrolamento pertencerem à AT); b) capacitância das cabeceiras da
bobina contra massa que é desprezível em comparação com a primeira.
Para calcular a capacitância entre a superfície interna dos discos contra massa pode-se aplicar a
expressão A.2 substituindo convenientemente os termos pelas dimensões da FIG.A.3 o que resulta na
expressão A.3.
A.3 – Capacitância série.
Também nos enrolamentos em disco a capacitância série se divide em duas partes:
a) Capacitância entre discos (ou secções) K1
b) Capacitância entre espiras de uma secção K2.
Esta capacitância será diferente conforme se trata de um enrolamento em disco contínuo normal ou em
disco contínuo entrelaçado.
Disco contínuo normal – FIG.A.4
a) Capacitância entre discos: K1
Entre espiras pertencentes a dois discos adjacentes a diferença de potencial não é constante ao longo da
altura radial a dos discos. Portanto o efeito capacitivo varia para cada par de espiras entre discos.

K1 K1
a N m espiras por disco
dx
dc x
Fig. A.4: Disco duplo contínuo

O que se deseja determinar é a capacitância K1 equivalente que, sob uma tensão igual à tensão máxima
entre discos, armazene a mesma energia no campo elétrico armazenada pela capacitância c entre discos que
têm uma variação linear de tensão entre pares de espiras no sentido radial dos discos.
A capacitância elementar entre pares de espiras pertencentes a dois discos contíguos é dada pela
expressão A.4, a uma distância x de um extremo dos discos. Sendo v a tensão entre espiras de um disco, a
tensão entre os pares de espiras contíguas de dois discos situados a uma distância radial x é dada pela
expressão A.5 em que m é o número de espiras no comprimento radial a de um disco.

c 2mv
dc = dx [A.4] Vx = x [A.5]
a a
A energia elementar armazenada entre discos para o comprimento elementar dx é dada pela expressão
A.6 que integrando para todo o comprimento a resulta a expressão A.7 que dá a energia armazenada total
entre dois discos.

2 2
1c ⎛ 2mv ⎞⎟ c ⎛2mv ⎞⎟ a 4
dWs =
2a
dx ⎜⎜
⎝ a
x ⎟⎟

[A.6] Ws = 1
2
⎜ ⎟
a ⎝⎜ a ⎠⎟ ∫
0
x 2dx = m2v2c
6
[A.7]

Igualando esta energia à energia armazenada pela capacitância equivalente K1, conforme expressão
A.8, resulta o valor da capacitância equivalente dada pela expressão A.9 para o caso de discos contínuos
duplos.

1 4 4
K1 (mv)2 = m2v2c [A.8] K1 = c [A.9] K1 = c [A.10]
2 6 3
Para o caso de discos contínuos simples as capacitâncias c e K1 são iguais, expressão A.10.
Para discos contínuos duplos a energia armazenada nas N-1 capacitâncias K1 em série é dada pela
expressão A.11, donde resulta a capacitância série total equivalente dada pela expressão A.12.

Walter Ries 132


TRANSFORMADORES

4 2 2 1 2 4 N −1
m v c (N − 1) = K1s (mvN ) [A.11] K1s = c [A.12]
6 2 3 N2

Na expressão A.12 a capacitância c é dada pela expressão A.13, em que:


A = área total de um disco contra outro (cm2)
A1 = área ocupada pelos espaçadores entre discos (cm2)
δ1.= canal entre dois discos (cm)
ε1 = constante dielétrica relativa dos espaçadores
δi = espessuras de isolamento entre dois discos nas zonas não ocupadas pelos espaçadores (cm)
εi = constantes dielétricas dos materiais isolantes entre 2 discos nas zonas não ocupadas por
espaçadores

0, 0885 ⋅ A1 o, 0885 ⋅ (A − A1 )
c= + pF [A.13]
δ1 δi
ε1

i εi

No caso em que os espaçamentos entre discos não são iguais, tem-se a expressão A.14 em que se tem
N1 discos com capacitância c1, N2 discos com capacitância c2.........etc. As capacitâncias particulares são
calculas pela expressão A.13.

4 ⎡
K1s = c1 (N 1 − 1) + c2 (N 2 − 1) + ........⎤⎦ [A.14]
3N 2 ⎣

b) Capacitância entre espiras de uma secção ou disco


Normalmente esta capacitância é desprezível. No entanto, pode-se calcula-la aplicando a expressão
A.1 chamando de c´ a capacitância entre duas espiras situadas no diâmetro médio do disco. Resulta, assim,
a expressão A.15 em que:
b = altura axial do condutor (cm)
δ = bi-espessura do isolamento entre dois condutores (cm)
ε = constante dielétrica do isolamento do condutor
dm = diâmetro médio do disco (cm)

0, 0885 ⋅ π ⋅ dm ⋅ b
c´= pF [A.15]
δ
ε
Como existem (m-1) capacitâncias por disco em série e sendo N o número total de discos, resulta a
expressão A.16 para a capacitância total entre espiras.


K 2s = pF [A.16] Ks = K1s + K 2s pF [A.17]
(m − 1) N

Walter Ries 133


TRANSFORMADORES

A capacitância série total será, portanto, dada pela expressão A.17, em que K1s é dada pela expressão
A.12 e K2s pela expressão A.16.
Para o caso de um disco contínuo com espiras entrelaçadas (interleaved), a capacitância série K2s é
dada pela expressão A.18.

m −2 N −1
K 2s = c´ ⋅ pF [A.18]
2 N2

Constantes dielétricas usuais:


Óleo________________________________ ε = 2,3
Papel Kraft impregnado em óleo _________ ε = 3,2
Papelão endurecido impregnado em óleo ___ ε = 4,5

Observações:
1. Com as expressões acima podem ser calculadas as capacitâncias série e paralelo dos
enrolamentos e, conseqüentemente os fatores a para o cálculo dos gradientes de potencial nas
cabeceiras pela aplicação da tensão de impulso normalizada.
2. Para os enrolamentos helicoidais em camadas podem ser usadas as expressões A.2 e A.3

Walter Ries 134


TRANSFORMADORES

9.4 – Critérios de dimensionamento e formas construtivas


O dimensionamento do isolamento é feito em função da intensidade de campo que se verifica entre
espiras, entre bobinas, entre bobinas e colunas/culatras, entre bobinas e caixa e entre ligações e massa em
geral. Alguns destes campos elétricos são mais ou menos uniformes e, portanto de fácil avaliação. No
entanto, os pontos críticos são aqueles em que o campo não é uniforme como ocorre nas cabeceiras das
bobinas. As figuras 9.1 e 9.2 mostram as linhas de campo elétrico e superfícies equipotenciais entre
bobinas e cabeceiras das bobinas contra massa. De um modo geral os campos elétricos se concentram nos
cantos das cabeceiras das bobinas e é nestes pontos onde se tem a maior intensidade. Determinar a
configuração das linhas de campo e das superfícies equipotenciais que permitem determinar as
intensidades de campo, em kV/mm, nos diferentes pontos, é um trabalho que exige técnicas bastante
elaboradas, quer de laboratório através de modelos que possibilitam traçar as linhas, de campo e
superfícies equipotenciais, quer usando ferramentas mais modernas como é o método de elementos finitos
já com programas prontos para o uso de projetistas. Já nos pontos onde o campo é mais ou menos
uniforme, como entre bobinas e bobinas e núcleo, é possível determinar os gradientes de potencial
utilizando os procedimentos de cálculo dados no parágrafo 9.2.2.
No parágrafo 9.3 foram analisados os transitórios de sobre tensão a que estão sujeitos os
transformadores. Chaveamentos e curtos-circuitos no sistema elétrico podem causar sobre tensões de duas
a três vezes o valor da tensão de pico nominal. Os impulsos oriundos de descargas atmosféricas podem
produzir sobre tensões ainda maiores, porém de muito curta duração. A distribuição das sobre tensões de
impulso nas bobinas do transformador podem produzir gradientes de potencial muito diferentes ao longo
da bobina e, com ondas estacionárias, sobre tensões maiores do que a tensão de impulso nos terminais,
em determinadas partes dos enrolamentos, conforme se observa nas figuras 9.52 e 9.53. Levando em
conta estes aspetos é que as normas de ensaios dielétricos de transformadores estabeleceram as tensões e
suas durações para os testes que devem se realizar em fábrica. As normas brasileiras NBR 5356 da ABNT
estabelecem, em função da tensão máxima do equipamento, os níveis de tensão de impulso e de tensão
aplicada e induzida em freqüência industrial. Assim, por exemplo, para uma tensão máxima de 242 kV, a
tensão de impulso de onda plena pode atingir o valor de 950 kV, com impulso de onda cortada de 1.045
kV e tensão suportável nominal à freqüência industrial, durante 1 minuto, tensão aplicada e tensão
induzida, de 395 kV eficazes.
Ho H1 H2 H3
H1 H2 H3 i i i i
i i i

Caixa

G 1~

ii X1 i X2 i X3 i
i i i i
Xo X1 X2 X3
G 3~

Fig. 9.54: Ligações para o ensaio Fig. 9.55: Ligações para o ensaio
de tensão aplicada de tensão induzida

A fig. 9.54 mostra as ligações para o ensaio de tensão aplicada na AT (buchas H0, H1, H2 e H3) de um
transformador com a AT em triângulo e a BT em estrela. A fig. 9.55 mostra as ligações para o ensaio de
tensão induzida para um transformador com a AT em estrela e a BT em triângulo. Como a tensão
induzida é cerca de 2 vezes a tensão nominal, a freqüência do gerador trifásico de ensaio deverá ser de
duas vezes a freqüência nominal de operação do transformador a fim de manter a corrente de excitação
nos limites da corrente de excitação nominal do transformador.
Não obstante a aplicação de ensaios dielétricos os transformadores devem ainda estar protegidos por
pára-raios a fim de limitar os valores das sobre tensões, impulsivas e de chaveamentos que são freqüentes
nos sistemas elétricos.

Walter Ries 135


TRANSFORMADORES

Os materiais isolantes normalmente utilizados no isolamento de transformadores de força imersos em


óleo, como já foram dito, são produtos com base na celulose, como os papéis Kraft e crepado, o papelão
endurecido denominado de presspahn, “transformerboard”, a madeira, etc. Todos estes materiais são
impregnáveis com óleo de transformador de modo a ocupar todos os vazios. Isto é conseguido por
ocasião do tratamento de secagem do transformador dentro da caixa hermeticamente fechada e sob vácuo.
Após a secagem todo o material isolante é impregnado com óleo mantendo-se o vácuo até completar o
volume de óleo do transformador. Isto garante que seja eliminado o ar e a umidade que existe no material
isolante. O material isolante assim impregnado se comporta como um isolamento sólido com boas
características dielétricas. O papelão prensado, endurecido, ou “transformerboard”, pode ser trabalhado
de modo a produzir uma série de componentes do isolamento, como cilindros isolantes, anéis franjados,
espaçadores, longarinas, calços, etc. A tabela da fig. 9.14 fornece as características dielétricas dos
materiais utilizados em transformadores.
No parágrafo 9.2 também foi analisada a variação da rigidez dielétrica dos isolantes em função da
espessura, da pressão, da temperatura e do tempo e que vem auxiliar na escolha da estrutura do
isolamento e do material isolante. A pureza dos materiais e a eliminação de contaminantes são de
fundamental importância para que se tenha uma menor dispersão das propriedades isolantes. Todos estes
fatores devem orientar o projetista para a adoção dos valores a serem adotados para os gradientes de
potencial no projeto do isolamento.
Os gradientes de potencial adotados no projeto devem corresponder aos valores que se verificam
durante os ensaios dielétricos do transformador. Normalmente são considerados os valores das tensões de
ensaios de tensão aplicada e de tensão induzida que, de um modo geral são duas vezes maior do que a
tensão nominal de operação. Se o isolamento satisfaz a esta condição, ele também irá satisfazer às
condições das tensões de ensaio impulsivas normalizadas, pois, como foi visto os dielétricos normalmente
têm a capacidade de suportar valores de duas a duas e meia vezes o valor de crista das tensões em
freqüência industrial devido à curta duração do impulso de tensão. No entanto, nas cabeceiras das bobinas
e para tensões de impulso, têm-se algumas particularidades que serão analisadas mais adiante.
Os valores adotados para os gradientes de potencial no projeto podem ser muito variáveis, pois
dependem de uma série de fatores como a qualidade dos materiais isolantes, as condições de fabricação
das estruturas de isolamento, os custos envolvidos e a segurança admitida. Neste ponto a experiência dos
fabricantes de transformadores, bem como de qualquer equipamento elétrico, é de fundamental
importância. Também deve ser levado em conta que a rigidez dielétrica dos isolantes sólidos diminui
com o tempo a cerca de 70% do valor da rigidez dielétrica de 1 minuto, conforme expressões 9.44 e 9.45
e fig. 9.22. Os valores dos gradientes de campo admitidos no projeto do isolamento, dados na tabela de
fig. 9.56 são, pois orientativos.

MATERIAL kV / mm
Óleo para transformador 7,0
Papel Kraft impregnado em óleo 7 a 10
Papelão prensado, especial, impregnado com óleo 10 a 15
Fenolite em óleo 10 a 15
Fig. 9.56: Valores orientativos para gradientes de potencial de projeto

Um aspecto importante a considerar é de que, muitas vezes o dielétrico deve prover também outras
funções, diferentes da função isolante. É o caso, por exemplo, do óleo para transformador que além de
isolante também é um ótimo veículo de refrigeração dos enrolamentos e do núcleo. Outro exemplo são os
calços de cabeceira das bobinas que devem ter suficiente resistência mecânica para suportarem os
esforços oriundos das correntes de curto-circuito no sistema elétrico.
Os diversos tipos construtivos de bobina visam sempre dois aspectos: minimizar o isolamento
necessário e otimizar a refrigeração dos enrolamentos. Otimizar o isolamento traz como conseqüência a
diminuição das dimensões das bobinas e do peso geral do transformador, portanto, menores custos.

9.4.1 – Isolamento entre espiras, entre camadas e entre discos.


As tensões entre espiras de um enrolamento podem variar de alguns volts, para transformadores de
força de pequena potência, até 200 ou mais volts para grandes transformadores. Portanto, sob este ponto
de vista o isolamento entre espiras pode ser conseguido com espessuras muito finas de dielétricos sólidos.

Walter Ries 136


TRANSFORMADORES

Normalmente é usado o papel Kraft impregnado em óleo nos transformadores de potência e, em


transformadores de distribuição pequenos o isolamento entre espiras pode ser o verniz isolante. O
condutor com secção retangular é isolado com tiras de papel Kraft, com trespassamento (sobre posição
parcial), em várias camadas até atingir a espessura necessária. A tabela da fig. 8.34 fornece uma
orientação da espessura do isolamento “bilateral” para condutores retangulares, isto é, correspondente ao
isolamento entre duas espiras adjacentes, em função do nível de tensão de operação. Uma espessura
mínima de 0,5 mm constitui, inclusive, uma exigência sob o ponto de vista mecânico para garantir uma
continuidade do isolamento durante a confecção da bobina.
No capítulo 8 foi analisado o aspecto construtivo de bobinas que, basicamente são helicoidais, com
uma ou varias camadas e em disco que pode ser disco simples, disco duplo ou disco duplo com espiras
intercaladas. Para cada tipo de bobina deve ser calculada a tensão entre espiras e entre camadas ou entre
discos para definir o isolamento necessário. A fig. 8.51 ilustra a construção e isolamento de bobinas de
um transformador de distribuição, de baixa tensão (13,8 ou 23 kV) com condutores de secção circular e
isolamento com verniz. O isolamento entre camadas é escalonado, pois depende da tensão entre camadas.
A fig. 8.52 é outro exemplo de construção de bobinas de um transformador de distribuição com a AT
construída em “panquecas”. Observam-se também os separadores vazados que, além de isolarem as
panquecas permite a circulação de óleo para a necessária refrigeração dos enrolamentos.
Nas bobinas em uma camada ou em disco contínuo a distribuição da tensão impulsiva ao longo do
enrolamento não é uniforme, conforme visto no parágrafo 9.3.5.1. O enrolamento em disco contínuo tem
um valor de α elevado que pode chegar a ser igual a 10 e, conforme fig. 9.39 e expressão 9.137, os
gradientes de tensão no inicio do enrolamento são muito elevados o que exige um reforço no isolamento
dos primeiro discos.

C NC Cg
α = βN = N = = [9.137]
K K Ks
N
Para uma bobina em disco contínuo duplo a diferença de potencial entre dois discos da cabeceira é
dada pelas expressões 9.104 e 9.105 para valores de α > 3. Assim, para um enrolamento com 140 discos e
uma tensão de impulso de onda plena de 950 kV, com α = 10, ter-se-ia, entre os dois primeiros discos da
cabeceira, uma diferença de potencial de:
2 2
Δv = α Vi = 10 ⋅ ⋅ 950 ≅ 136 kV
N 140

Este seria, naturalmente, um gradiente que não se poderia admitir pois deformaria por demais a
estrutura do isolamento. Se a distribuição fosse uniforme esta diferença de potencial seria de 13,6 kV.
Para tensões mais elevadas o ideal seria ter um enrolamento com α = 0, isto é, com capacidade contra
massa igual a zero. Para se conseguir este resultado com bobinas em disco contínuo, pode ser utilizada
uma blindagem condutora ao redor da bobina e ligada ao terminal de entrada de modo a produzir uma
capacidade distribuída, entre a bobina e a blindagem, igual à capacidade distribuída entre a bobina e
massa. Deste modo as correntes capacitivas paralelas se compensam e a corrente nos elementos indutivos
do enrolamento não sofre mais variações em função destas correntes capacitivas. A fig. 9.57 esquematiza
o uso deste tipo de blindagem. Isto torna o enrolamento anti-ressonante e com uma distribuição uniforme
da tensão impulsiva.

μ−1 (t ) t
C L K C

C L K C

C
L K C

Blindagem C L K C

C L K C

Fig. 9.57: Enrolamento com um extremo aterrado e com blindagem

Walter Ries 137


TRANSFORMADORES

Eram artifícios desta ordem que se usavam em tensões acima de 69 kV, há 50 ou mais anos, e que
caiu em desuso com a introdução da bobina com espiras intercaladas (interleaved) como mostra a fig.
8.49 e que está reproduzida na fig. 9.58.
Neste tipo de enrolamento, que permaneceu patenteado por muitos anos, a capacitância serie K é
muito aumentada de modo a reduzir o valor de α a valores abaixo de 3. Assim, embora não se tenha um
enrolamento totalmente anti-ressonante, a distribuição da tensão impulsiva ao longo da bobina é
suficientemente uniforme eliminando a necessidade de uma blindagem adicional. Não obstante, é usual
um reforço no isolamento entre os primeiros discos da cabeceira impulsionada da bobina.
.

1 16
9 8 δp
2 15 δο
10 7 δp
3 14
11 6
4 13
12 5

Fig. 9.58: Bobina em disco continuo com espiras Fig. 9.59 Isolamento entre discos
intercaladas (interleaved)

Um outro tipo de enrolamento que era usado para tensões elevadas era o enrolamento em diversas
camadas, pois tem uma capacitância série K maior, entre camadas, o que reduz o valor da constante α. No
entanto, problemas de isolamento nas cabeceiras e problemas de refrigeração tornaram o uso deste tipo de
enrolamento antieconômico.
Entre os discos deve sempre ficar um canal de circulação de óleo cuja função primordial é a de
refrigeração. As figuras 8.53 e 8.54 mostram este tipo de construção. Para assegurar a largura do canal de
óleo são utilizados os espaçadores. O canal de óleo não pode ser muito estreito para se ter uma boa
circulação de óleo por efeito termo sifão sem uma elevada perda de carga que venha a prejudicar esta
circulação. Portanto, o isolamento entre discos é constituído por dois isolamentos sólidos de largura δp e
um isolamento com largura δo do óleo, conforme pode ser observado na fig. 9.59. A tabela da fig. 8.34
fornece uma orientação do isolamento bilateral dos condutores em função do nível de tensão dos
enrolamentos.

9.4.2 – Isolamento entre bobinas e entre bobinas e massa


Em transformadores para tensões elevadas o isolamento clássico entre bobinas é constituído por óleo
e barreiras de isolamento sólido constituído por cilindros de papelão endurecido, ou fenolite, com
espessuras mínimas de 2 mm, por motivos mecânicos. Por sua vez, os canais de óleo formados entre as
bobinas e cilindros isolantes devem ter uma largura conveniente para permitir a circulação do óleo sem
perdas de carga por atrito excessivo para o que é necessário um canal de no mínimo 5 a 6 mm. Junto às
bobinas, no entanto, os canais de óleo devem ser mais largos, com um mínimo de 10 a 15 mm, pois a
função refrigerante do óleo não pode ser prejudicada. Nos enrolamentos em camadas, quando a dimensão
radial for grande, a bobina é dividida em duas ou mais partes através de canais de óleo para refrigeração
que também devem ter uma espessura conveniente para não produzirem perdas de carga excessivas. Nas
bobinas em discos, como já visto, deixam-se canais de óleo entre os mesmos, também com a finalidade
primordial de refrigeração.
Conforme visto na estrutura isolante em camadas com isolantes de diferentes constantes dielétricas
os gradientes de potencial são maiores nos isolantes com menor constante dielétrica. Para o óleo de
transformador a constante dielétrica é da ordem de 2 a 2,3 e para o papelão prensado e papel Kraft
impregnados em óleo varia de 4 a 5. Portanto, é a rigidez dielétrica do óleo que orienta o isolamento.
Como é o gradiente de potencial do campo elétrico no óleo que orienta o isolamento, poder-se-ia
pensar que o isolamento pudesse ser feito utilizando somente óleo entre os enrolamentos. Ou ainda, para
que não se tivesse o óleo como elemento limitante do gradiente de potencial, pode-se pensar em utilizar
somente material sólido impregnado em óleo que tem ótimas características isolantes em termos de
rigidez dielétrica como é caso de camadas de papel Kraft impregnadas em óleo. Camadas sólidas e de

Walter Ries 138


TRANSFORMADORES

óleo muito finas têm alta rigidez dielétrica, como foi visto no parágrafo 9.2. A solução com isolamento
sólido, no entanto, esbarra no problema da refrigeração dos enrolamentos e, se for criado um único canal
de óleo com esta finalidade cria-se a limitação do gradiente no óleo. Para entender o motivo de não ser
usado somente óleo deve-se examinar o problema das impurezas no óleo. Estas impurezas são: a
umidade, o material fibroso e produtos da borra que surgem e que aumentam com o tempo no óleo. O
papel Kraft e o papelão endurecido são altamente higroscópicos. Num ambiente com 50 a 75 % de
umidade relativa estes materiais absorvem cerca de 6 a 12 % do seu peso em água. Na secagem destes
materiais durante o tratamento a que se submete o transformador após montado, o processo exige,
normalmente, muito tempo e ainda com auxílio de processos específicos como é o caso do sistema de
secagem com vapor de querosene, em temperaturas adequadas e sob vácuo. Assim mesmo, a secagem
encontra o seu limite quando a umidade residual no isolante se encontra num estado de equilíbrio com a
atmosfera ambiente. Este ambiente pode ser o ambiente de secagem ou o óleo do transformador que
também tem capacidade de absorver umidade, porem, com uma capacidade muito menor do que o
material isolante. Em outras palavras, no estado de equilíbrio entre o papel e o óleo, este tem 100 a 150
vezes menos água. Isto explica porque é ineficiente tentar a retirada da umidade do isolamento sólido
tratando o óleo do transformador.
O material fibroso que pode surgir no óleo provém do isolamento sólido e com a mesma propriedade
higroscópica. Sob a ação do campo elétrico o material fibroso com sua umidade tende a se alinhar
proporcionando uma ionização no óleo e descargas parciais sob um gradiente de potencial menor. As
barreiras criadas com cilindros isolantes têm a capacidade de interromper estes alinhamentos e garantir o
isolamento. Nos pontos de contato das estecas com os cilindros situam-se os pontos onde pode se iniciar a
ionização do óleo com descargas parciais que podem se desenvolver em descargas superficiais. As
superfícies dos isolantes operam de modo semelhante ao material fibroso no óleo dando origem a valores
de rigidez dielétrica menores. Por isso, a altura dos cilindros deve ser maior do que a altura das bobinas
para oferecer um caminho mais longo às descargas superficiais conforme mostra a fig. 9.60.
Normalmente são projetadas distancias superficiais maiores, 5 a 10 vezes a espessura do isolamento
sólido.

Trajetória da descarga
superficial
Cilindro isolante

BT AT
Esteca
Esteca

Fig. 9.60: Trajetória de uma descarga superficial na cabeceira

O cálculo dos gradientes de potencial nos diversos cilindros isolantes e no óleo, entre as bobinas, é
realizado com a aplicação das expressões 9.32 a 9.38. Como as espessuras são muito menores do que os
diâmetros dos cilindros os gradientes também podem ser calculados, considerando as barreiras em óleo
como sendo placas paralelas, utilizando as expressões 9.28 a 9.31. Em qualquer ponto do óleo e do
material isolante sólido o gradiente de potencial deve ser menor do que o gradiente de segurança
considerado para o projeto. Ainda como segurança, é recomendável considerar que a soma dos
isolamentos sólidos devem suportar sozinhos, sem a contribuição dos canais de óleo, a diferença de
potencial de ensaio entre AT e BT. Isto determina a espessura de material sólido necessário, em forma de
cilindros concêntricos, entre AT e BT. As espessuras dos cilindros variam e 2 a 7 ou 8 mm e os canais de
óleo devem ter uma espessura conciliável com a necessidade de circulação do óleo sem perda de carga
excessiva. O óleo aquecido pelas perdas nos enrolamentos e no núcleo circula por efeito termo sifão
levando o calor aos radiadores onde é transferido ao meio externo refrigerante, o ar ou a água em

Walter Ries 139


TRANSFORMADORES

trocadores de calor. Em casos de necessidade esta circulação do óleo pode ser auxiliada por meio de
bombas.
São características adicionais desejáveis do óleo para transformadores: ser resistente às descargas
parciais sem se decompor formando gases, ter boas características de refrigeração, ter baixa viscosidade,
ter uma temperatura de solidificação tão baixa quanto possível e ter baixa tendência de formar borra em
operação.
Nas figuras 9.51 e 9.52 podem-se ver os princípios básicos construtivos dos isolamentos entre
bobinas e cabeceiras das mesmas. Na fig. 9.51 pode-se identificar através das linhas equipotenciais, 3
zonas distintas:
a) a zona entre as bobinas de alta e baixa tensão correspondendo a altura dos enrolamentos;
b) a zona entre as cabeceiras das bobinas e culatras, correspondendo à espessura radial das
bobinas;
c) a zona entre os cantos da bobina. Na zona (a) as linhas equipotenciais são eqüidistantes
indicando um campo uniforme.
Na zona (b) as linhas equipotenciais são mais afastadas indicando intensidades de campo menores,
porém não constantes. Na zona (c) as linhas equipotenciais são menos distantes nos cantos onde as
intensidades de campo são maiores.
Culatra
10%
20%
30%
5 40%
50%
60%
8
70% 5
Coluna

Calço
80% 6
0% 100 %
90% 7
95%
BT AT

1 2 1

5 - Anel flangeado

1 1 4 2 2 1 3
Fig. 9.61 Componentes fundamentais para o isolamento Fig. 9.62: Isolamento entre bobinas e isolamento
entre bobinas das cabeceiras das bobinas

Nestas figuras podem-se identificar diversas partes. 1: canais de óleo onde também se encontram as
longarinas que distanciam os cilindros entre si ou das bobinas; 2: cilindros isolantes; 3: bobina de AT; 4:
bobina de BT; 5: anel franjado; 6: calços nas cabeceiras e que criam, também, canais para a circulação de
óleo; 7: anéis equipotenciais ( ver detalhe); 8: discos vazados de isolamento.
Para tensões superiores a 34,5 kV normalmente são usados anéis equipotenciais ou também
chamados de anéis estáticos colocados nas cabeceiras das bobinas para conformar o campo elétrico nos
cantos. A fig. 9.53 mostra um anel colocado sobre uma das bobinas.
O anel equipotencial pode ser fabricado com uma fita metálica muito fina enrolada sobre um núcleo
de material isolante. O anel, no entanto, não pode formar uma espira fechada o que se evita através de um
pequeno trespassamento das extremidades com isolamento no meio. Como o anel é atravessado pelo
fluxo de dispersão nas cabeceiras, a fita metálica deve ser muito fina e o material da fita deve possuir alta
resistividade, como, por exemplo, a manganina, para não introduzir perdas ôhmicas parasitas excessivas.
Os raios de curvatura das bordas deste anel variam com a tensão de ensaio dos enrolamentos.

Walter Ries 140


TRANSFORMADORES

Normalmente as bordas superiores têm um raio de curvatura que varia de 14 a 25 mm para tensões de
prova, em freqüência industrial, de 140 a 395 kV. O anel é fortemente isolado com tiras de papel Kraft e
a tira metálica é ligada eletricamente à primeira espira da cabeceira da bobina de onde também sai o
terminal que vai à bucha de saída da fase.
Nos anéis equipotenciais a curvatura do perfil uniformiza o campo magnético nas cabeceiras de
modo a se manter um gradiente de potencial aproximadamente igual ao gradiente na parte central do
canal de dispersão do fluxo entre bobinas. Deste modo se otimiza o isolamento geral.

,, ,, ,, ,,

Fig. 9.63: Anel equipotencial ou anel estático,


metalizado ou em fita metálica

O problema de conformar o campo elétrico de modo a se ter um gradiente compatível com os


gradientes de campo utilizados no projeto, se estende por muito outros pontos do transformador. Como
um campo elétrico forma-se entre dois eletrodos a conformação de campo deve se estender às formas
geométricas dos dois eletrodos. Assim, para tensões muito elevadas, a conformação do campo nas
cabeceiras das bobinas se estende também aos cantos vivos das culatras, superior e inferior, as quais
também devem receber uma blindagem de conformação.
Para evitar descargas superficiais nas cabeceiras são usados os anéis franjados. Estes anéis são
moldados com o mesmo material isolante usado na construção dos cilindros isolantes entre bobinas,
porém mais não tão endurecido. Os anéis flangeados também aumentam as distâncias para as descargas
superficiais.
Na fig. 9.54 vê-se uma cabeceira dos enrolamentos de um transformador com 10% de regulação na
AT. A bobina de regulação é montada externamente ao enrolamento principal da AT sendo ligada em
série com a mesma no lado de aterramento. Na bobina de regulação muda-se o número de espiras em
saltos determinados pelo projeto de modo a adaptar a AT à tensão de linha ou manter a tensão secundária
praticamente constante sob variações da tensão de linha aplicada à AT.

10%

,, 0% ,,
,, 100% ,,

10%

BT AT RAT

Fig. 9.64: Transformador com regulação de 10% na AT ligada


em estrela com neutro aterrado.

Na fig. 9.54 mostra-se a estrutura básica de isolamento que se usa entre bobina e entre bobinas e
massa (colunas e culatras ou jugos). Entre os anéis flangeados nas cabeceiras são colocados calços e anéis
vazados com a função básica de distanciamento e isolamento (detalhes não mostrados no na figura).

Walter Ries 141


TRANSFORMADORES

Fig. 9.65: Corte transversal de uma fase de um transformador com regulação na AT: 1. culatra
superior; 2. coluna do núcleo; 3. estecas; 4. cilindro isolnte da BT; 5. BT; 6. espaçadores entre
discos; 7. cilindro isolante entre BT e AT; 8. AT; 9. bobina de regulação da AT.

A fig. 9.55 mostra o corte transversal de uma fase de um transformador com regulação na AT
conforme fig. 9.54. Neste desenho estão representados todos os componentes do isolamento entre bobinas
e núcleo.
9.4.3 – Isolamento entre fases
Entre fases vizinhas deve haver um isolamento compatível com a tensão de prova induzida. O
isolamento é constituído por diafragmas de papelão de 4 a 6 mm de espessura, de modo que resulte um
gradiente médio de 14 a 15 kV/mm ou o valor de segurança que for considerado no projeto. Cuidado
especial deve ser tomado para as descargas superficiais. As alturas e larguras destes diafragmas podem
ser dimensionadas para manter as distancias de descargas superficiais dentro do limite da rigidez
dielétrica superficial adotada no projeto.
9.4.4 – Isolamento entre enrolamento externo e a caixa do transformador
Para tensões de operação até 69 kV o isolamento é constituído apenas pelo óleo isolante considerando
um gradiente de potencial de segurança menor para o óleo sob tensão de ensaio, como, por exemplo, de 1
a 1,5 kV/mm considerando as possíveis impurezas no óleo conforme visto. Para tensões acima de 69 kV
(tensão de prova de 140 kV), colocam-se camisas isolantes externas às bobinas que também irão auxiliar
no isolamento entre fases vizinhas. Normalmente é muito variável a distância entre a parte ativa e a caixa
do transformador devido a fatores mecânicos construtivos, como a estrutura suporte para as ligações
externas das bobinas, a existência de comutadores, sob carga ou em vazio, etc. Nas ligações entre
bobinas, entre bobinas e comutador e nas ligações às buchas de AT e BT, ocorrem muitas configurações
geométricas de eletrodos para as quais a determinação dos gradientes de potencial pode necessitar uma
formulação matemática ou experimental mais elaborada.

Walter Ries 142


TRANSFORMADORES

Fig. 9.66: Fotografia da parte viva montada e fora da


caixa de um transformador trifásico

A fig. 9.66 mostra como se apresenta a parte viva do transformador com suas ligações externas.
Também se pode observar as camisas isolantes externas das fases e os diafragmas de papelão entre fases.

Walter Ries 143


TRANSFORMDORES

10 – DIMENSIONAMENO DOS TRANSFORMADORES DE POTÊNCIA


10.1 – Relações econômicas
O dimensionamento do transformador é normalmente obtido através de considerações econômicas
sobre o ferro-silício utilizado na construção do núcleo e o cobre ou alumínio para a construção dos
enrolamentos.
Os parâmetros específicos que envolvem o dimensionamento econômico de um transformador são:
d = densidade de corrente nos enrolamentos (em A/mm2)
B = indução magnética no núcleo ( em Tesla-T ou Wb/m2)
cc = custo do quilo do condutor, cobre ou alumínio
cfe = custo do quilo do ferro-silício
Fc = fator de carga (ou de máximo rendimento) do transformador.
Para as demais grandezas usa-se a seguinte simbologia:
Wc = perdas nos enrolamentos de cobre ou alumínio (watts)
Wfe = perdas no ferro-silício do núcleo (w)
Pc = peso do condutor dos enrolamentos (kgf)
Pfe = peso do ferro-silício do núcleo (kgf)
wc = perdas por kgf do condutor (w/kgf)
wfe = perdas por kgf de ferro-silício (w/kgf)
q = carregamento elétrico dos enrolamentos (NI/h em AE/cm)
ka = coeficiente de perdas adicionais = R/Rcc -1= Wc/Wo-1 (expressão 6.24 cap. 6)

As perdas no condutor e no ferro são dadas pelas expressões 10.1 e 10.2.

Wcu = wcu ⋅ Pcu = 2, 36 (1 + ka )d 2 ⋅ Pcu [10.1]


Wfe = w fe ⋅ Pfe [10.2]

Conhecido o fator de carga Fc, o transformador trabalhará com rendimento máximo quando se
verifica a condição dada pela expressão 10.3 o que resulta na expressão 10.4.

Wfe Wfe w fe ⋅ Pfe


Fc = [10.3] Fc2 = = [10.4]
Wcu Wcu 2, 36 (1 + ka )d 2 ⋅ Pcu

Em termos dimensionais da parte ativa do transformador (núcleo e enrolamentos), o transformador


terá o seu custo minimizado quando o custo de ferro-silício do núcleo for igual ao custo e cobre dos
enrolamentos. Isto pode ser expresso pelas equações 10.5 e 10 6.

Pfe ccu
Pcu ⋅ ccu = Pfe ⋅ c fe [10.5] = [10.6]
Pcu c fe

Levando a relação 10.6 para a expressão 10.4 resultam as expressões 10.7 e 10.8.

w fe ccu 1 w fe ccu
Fc = ⋅ [10.7] d= ⋅ [10.8]
2, 36 ⋅ d (1 + ka ) c fe
2
Fc 2, 36 (1 + ka ) c fe

Walter Ries 144


TRANSFORMDORES

As perdas específicas no ferro do núcleo (wfe) são obtidas em função da indução (B) através de
gráficos levantados para o material utilizado (ver fig. 5.6 e 5.7). As induções de trabalho variam de 1,4 a
1,75 T (Tesla) para a chapa siliciosa de grão orientado. O coeficiente de perdas adicionais (ka) varia,
normalmente, de 0,05 a 0,20. Com os valores de (B) e (ka) arbitrados nos limites acima, e, conhecidos os
valores de (Fc), (ccu) e (cfe), determina-se pela expressão 10.8 um valor orientativo da densidade de
corrente a ser utilizada no dimensionamento das secções dos condutores das bobinas primária e
secundárias do transformador. Esta densidade, no entanto, não deve ultrapassar o valor de 3,5 A/mm2 sob
pena de se ter necessidade de providenciar uma melhor refrigeração dos enrolamentos o que encarece o
custo do transformador. Como valor de partida pode-se arbitrar um coeficiente de perdas adicionais de
0,12 (ka = 0,12, ou 1+ka = 1,12) que introduzido na expressão 10.8 fornece a densidade de corrente
econômica pelos critérios definidos.
10.2 – Cálculo da seção do núcleo
A determinação da seção do núcleo de um transformador é baseada no “princípio de Arnold” que diz:
para cada tipo de transformador é constante a relação entre o comprimento da espira média dos
enrolamentos e o comprimento da linha média do núcleo.
Simbologia:
A = seção do núcleo de ferro-silício (cm2)
a = seção do condutor (mm2)
γcu = peso específico do cobre (g/cm3)
γfe = peso específico do ferro-silício (g/cm3)
lcu = comprimento da espira média dos enrolamentos (m)
lfe = comprimento da linha média do núcleo (m)

O comprimento da espira média é determinado dividindo o comprimento total do condutor dos


enrolamentos (primário, secundário, terciário, etc.) pelo número total de espiras (do primário, secundário,
terciário, etc.). No transformador trifásico, lcu = 3 vezes o comprimento médio das espiras de uma fase.
O comprimento da linha média do núcleo é dado pela soma das linhas médias de todas as colunas e
culatras, conforme os exemplos das figuras 10.1 e 10.2.

i i

Hc

Fig. 10.1: núcleo trifásico Fig. 10.2: núcleo monofásico


l fe = 4i + 3Hc l fe = 2i + 2Hc

A f.e.m. induzida (V) num enrolamento com N espiras sobre um núcleo de seção A (cm2), com
indução máxima B (T) e com freqüência f (Hz) é dada pela expressão 10.1.

E = 4,44 ⋅ 10 -4 BAfN volts [10.9]

Tomando como referência um transformador trifásico, tipo núcleo envolvido, fig. 10.1, com 2
enrolamentos, tem-se:

Walter Ries 145


TRANSFORMDORES

• Potência S, conforme expressão 10.10;


• Peso do ferro-silício Pfe, conforme expressão 10.11;
• Peso do cobre Pcu, conforme expressão 10.12.

S = 3 ⋅ 4,44 ⋅ 10 -7 ⋅ BAfNI = 13, 32 ⋅ 10−7 BAfNad kVA [10.10]


Pfe = A ⋅ l fe ⋅ γ fe ⋅ 10−1
kg f [10.11]
Pcu = 2 ⋅ N ⋅ lcu ⋅ a ⋅ γ cu ⋅ 10−3 kg f [10.12]

Observação: Se as densidades dos enrolamentos primário e secundário são iguais, então se tem:

N 1a1d = N 2a2d ou
N 1a1 = N 2a2 = Na de onde se conclui que
N 1a + N 2a2 = 2Na

Da combinação da expressão 10.6 com as expressões 10.11 e 10.12 resultam as expressões 10.13 e
10.14.

Pcu c fe 2N ⋅ a ⋅ lcu ⋅ γ cu -2
= = 10 [10.13]
Pfe ccu A ⋅ l fe ⋅ γ fe
A c fe γ fe l fe
Na = ⋅ ⋅ ⋅ 10 2 [10.14]
2 ccu γ cu lcu

Substituindo a expr. 10.14 na expr. 10.10 resulta a expressão da potência aparente dada pela
expressão 10.15 de onde se pode obter a seção líquida do núcleo dada pela expressão 10.16.

c fe γ fe l fe
S = 6, 66 ⋅10−5 ⋅ B ⋅ f ⋅ d ⋅ A2 ⋅ ⋅ kVA [10.15]
ccu γ cu lc 4
S kVA c fe γ fe l fe
A 1,5 ⋅104 ⋅ ⋅ cm 2 [10.16]
Bfd ccu γ cu lc 4

Por uma série de levantamentos realizados em transformadores trifásicos tipo núcleo com dois
enrolamentos obteve-se a expressão 10.17 que substituída na expressão 10.16 resulta na expressão 10.18,
quando se usa condutor de cobre, e na expressão 10.19, quando se utiliza condutor de alumínio, tomando
os seguintes valores para os pesos específicos:

γ fe = 7 , 65 g / cm3
γ cu = 8,89 g / cm3
γ Al = 2 , 70 g / cm3

S kVA ccu
A = 111 ⋅ cm3 [10.18]
Bfd c fe
S kVA c Al
A = 61 ⋅ cm3 [10.19]
Bfd c fe

Walter Ries 146


TRANSFORMDORES

Para os demais tipos de transformadores com 3 ou mais enrolamentos, determinam-se a potência


dimensional equivalente a do transformador trifásico e entra-se com este valor nas expressões 10.18 ou
10.19.

Simbologia:
• S1 = potência do enrolamento primário
• S2 = potência do enrolamento secundário
• S3 = potência do enrolamento terciário
• BT = tensão do enrolamento de baixa tensão
• AT = tensão do enrolamento de alta tensão

Potências dimensionais “S” equivalentes:

Transformador trifásico a 2 enrolamentos : S = S1 = S2


1
Transformador trifásico a 3 enrolamentos : (S1 + S2 + S3 )
S=
2
1 k
Transformador trifásico a k enrolamentos : S = ∑ Si
2 i
3 3
Transformador monofasico a 2 enrolamentos : S = S1 = S2
2 2
3
Transformador monofasico a 3 enrolamentos : S = (S1 + S2 + S3 )
4
3 k
Transformador monofasico a k enrolamentos : S = ∑ Si
4 i
⎛ BT ⎞⎟
Autotransf . trifasico a 2 enrolamentos : S = S1 ⎜⎜1 − ⎟
⎝ AT ⎠⎟
⎛ BT ⎞⎟ 1
Autotransf . trifasico com terciário : S = S1 ⎜⎜1 − ⎟ + S3
⎝ AT ⎠⎟ 2
3⎡ ⎛ BT ⎞⎟ 1 ⎤
Autotransf . monofasico com terciário : S = ⎢S1 ⎜⎜1 − ⎟ + S3 ⎥
2 ⎢⎣ ⎝ AT ⎠⎟ 2 ⎥⎦

Potência dimensional de um autotransformador


I1
• •

I1 N1 - N2 E1 - E2 N1 - N2
I2 I2 - I1
E1 • • •
I2 - I1 N2 E2 N2 E2

• • •

Fig. 10.3: Autotransformador Fig. 10.4: Transformador com 2


S1 = E1 I1 enrolamentos com mesma potência
S2 = E2 I2 dimensional ao da fig. 10.3
S1 = S2 S = (E1 - E2 ) I1 = E2 (I2 - I1)

Walter Ries 147


TRANSFORMDORES

Pelas figuras 10.3 e 10.4 pode-se concluir que a potência dimensional do autotransformador é igual a
potência do transformador a dois enrolamentos que possui o mesmo numero de espiras com a mesma
seção.
Relacionando as potências do transformador da fig. 10.4 e do autotransformador da fig. 10.3 obtém-
se a potência dimensional do autotransformador conforme expressões 10.20 e 10.21.

S E (I − I 1 ) I E N
= 2 2 = 1− 1 = 1− 2 = 1− 2 [10.20 ]
S2 E2 ⋅ I 2 I2 E1 N1
⎛ E ⎞ ⎛ BT ⎞⎟
S = S2 ⎜⎜⎜1 − 2 ⎟⎟⎟ = Snom .autotr . ⎜⎜1 − ⎟ [10.21]
⎝ E1 ⎠⎟ ⎝ AT ⎠⎟

10.3 – Dimensionamento dos enrolamentos


Partindo da expressão da potência dada pela expressão 10.10 e substituindo NI por qh, pois q = NI/h,
em que h é altura do enrolamento dado em mm e que é o carregamento elétrico dado em AE/mm, resulta,
para um transformador trifásico, a expressão 10.22 e para um transformador monofásico a expressão
10.23.

S = 13,32 ⋅ 10 -7 ⋅ f ⋅ A ⋅ h ⋅ B ⋅ q kVA [10.22 ]


S = 4,44 ⋅ 10 -7 ⋅ f ⋅ A ⋅ h ⋅ B ⋅ q kVA [10.23 ]

Pode-se ver pelas expressões 10.22 e 10.23 que a potência do transformador é proporcional ao
volume ativo (Ah) do núcleo, isto é, ao volume do núcleo envolvido pelos enrolamentos.
A potência é também proporcional ao produto (Bq), representando (B) o aproveitamento do núcleo
de ferro silicioso e (q) o aproveitamento do condutor (de cobre ou alumínio). Quanto maior for o produto
(Bq) menor pode ser o volume ativo (Ah) para uma mesma potência (S).
O valor de (B) é limitado pela corrente de excitação que deve ser mantida dentro de limites muitas
vezes especificados em função de custos operacionais do transformador. Para transformador de potência a
indução (B) se encontra, normalmente, em torno de 1,75 T com o uso de chapa de ferro-silício com grão
orientado. Para transformadores pequenos em que se usa uma chapa de ferro-silicio comum, a indução
está em torno de 1,4 a 1,5 T.
O valor do carregamento elétrico q = NI / h (AE/mm) depende, fundamentalmente de duas
grandezas: a) do salto térmico entre o condutor e o meio refrigerante (óleo ou ar); b) da reatância de
dispersão. Quanto maior for o carregamento elétrico (q) maiores são as perdas joule e, conseqüentemente,
maiores são os gradientes térmicos entre cobre (ou alumínio) e o óleo (ou o ar). Um maior carregamento
elétrico resulta, outrossim, em bobinas mais baixas e de maior diâmetro o que leva à valores maiores de
reatâncias de dispersão.
Com tensões mais elevadas, tem-se necessidade de aumentar a distância de isolamento entre bobinas
e, portanto, os canais de dispersão do fluxo tornam-se maiores e as impedâncias de curto-circuito
aumentam se as alturas das bobinas não puderem ser aumentadas para que a altura do transformador não
ultrapasse os gabaritos das estradas de rodagem ou ferrovias para o transporte. Sob o ponto de vista do
comportamento do transformador no sistema elétrico de transmissão e distribuição de energia elétrica sua
impedância é um fator importante na limitação das potências de curto-circuito nos diversos pontos do
sistema. Para tensões e potências maiores a tendência é de se especificar impedâncias de curto-circuito
maiores para os transformadores.
O aumento da impedância de curto-circuito dos transformadores a medida que crescem as potências e
tensões é um imperativo de projeto e de comportamento do transformador no sistema.

Walter Ries 148


TRANSFORMDORES

100
90
80 Nucleo envolvente
70
q (AE/mm)

60
50
40 Nucleo envolvido
30
20
10
0
10 100 1000 10000 100000
S kVA
Fig. 10.5: Carregamento elétrico para transformadores normais

O gráfico da fig. 10.5 fornece um valor orientativo do carregamento elétrico em função somente da
potência para transformadores tipo núcleo envolvido (core type) e núcleo envolvente (shell type) de
construção normal. Em casos especiais estes valores podem se diferenciar grandemente.
Deste modo, tendo-se o valor orientativo do carregamento elétrico (q) pode-se determinar através das
expressões 10.22 e 10.23 a altura (h) das bobinas dos enrolamentos, conforme expressão 10.24, sendo (m)
o número de fases do transformador e (q) é dado em (AE/mm), a seção líquida do núcleo (A) em (cm2), a
indução (B) em (T) e a potência (S) em (kVA).

S(kVA)
h= mm [10.24]
4,44 ⋅ m ⋅ 10 -7 ⋅ A ⋅ q ⋅ B ⋅ f

As dimensões radiais dos enrolamentos são obtidas como conseqüência da altura (h). Para diminuir
ao máximo os esforços eletromecânicos nos enrolamentos, procura-se sempre manter, tanto quanto
possível, iguais as alturas das bobinas dos diferentes enrolamentos.
A seção do condutor é obtida através da corrente máxima na bobina e da densidade de corrente que,
em princípio, deverá ficar em torno do valor calculada pela expressão 10.8.

Walter Ries 149


TRANSFORMADORES

11 – CÁCULO TÉRMICO DOS TRANSFORMADORES


11.1 – Generalidades
O cálculo térmico dos transformadores consiste no dimensionamento do sistema de refrigeração
necessário para dissipar as perdas sem que as elevações de temperatura dos enrolamentos e do óleo (nos
transformadores imersos em óleo) ultrapassem os valores especificados pelas normas de acordo com a
classe térmica dos materiais empregados na construção.
Como já foi dito, o veículo de retirada do calor dos enrolamentos e do núcleo pode ser o ar ou o óleo
mineral ou sintético. Na refrigeração com ar este pode circular entre as bobinas e o núcleo de modo
natural ou forçado por meio de ventiladores. Na refrigeração com óleo o transformador fica imerso neste
líquido dentro de uma caixa. O óleo aquecido pelas perdas do transformador deve ser, por sua vez,
refrigerado através de radiadores que estão em contato externo com o ar ou água, dependendo das
necessidades de refrigeração.
A transmissão do calor, das diversas fontes de calor de um transformador, se realiza por um ou mais
dos seguintes modos:
• Por condução
• Por convecção
• Por radiação
A transmissão do calor se realiza por:
Condução – do centro do núcleo e dos enrolamentos até as superfícies em contato com o meio
refrigerando que pode ser o ar ou o óleo que também operam como dielétricos no isolamento; através das
paredes dos tanques (caixa do transformador) e das paredes dos radiadores.
Convecção – das superfícies externas do núcleo e dos enrolamentos ao fluido isolante e refrigerante
(ar ou óleo); do líquido isolante às paredes internas do tanque e dos radiadores; das paredes externas do
tanque e dos radiadores ao ar ambiente ou outro meio de refrigeração que já não necessita mais ter a
propriedade de isolante elétrico, como, por exemplo, a água.
Radiação – das paredes externas do tanque e dos radiadores ao ar; das superfícies externa do núcleo
e dos enrolamentos ao fluído isolante.
Nos transformadores imersos em óleo este, em contato com as superfícies externas do núcleo e das
bobinas, é aquecido e, pelo efeito termo-sifão, sobe. Ao mesmo tempo o óleo em contato com as paredes
mais frias da caixa e dos radiadores desce. Forma-se assim uma circulação natural do óleo no interior da
caixa e nos radiadores. O óleo serve, portanto de veículo para transportar o calor das bobinas e núcleo até
as paredes mais frias da caixa e dos radiadores onde é refrigerado, indiretamente, pelo ar externo.
conservador

buchas
buchas

radiadores

Fig. 11.1: Sistema de refrigeração ONAN Fig. 11.2: Sistema de refrigeração ONAN,
com conservador de óleo

Walter Ries 150


TRANSFORMADORES

Sistemas de refrigeração para transformadores imersos em óleo


1. ONAN: Óleo com circulação Natural e Ar com circulação Natural. As figuras 11.1 e 11.2
mostram este tipo de refrigeração em que o óleo circula naturalmente pelo efeito termo-sifão conduzindo
o calor aos radiadores que são refrigerados pelo ar que também circula naturalmente através dos
radiadores e paredes do tanque. Como o óleo não deve entrar em contato com o ar sob pena de ser
contaminado, principalmente pela umidade, as caixas de transformadores são seladas. Com o aumento da
temperatura do óleo ele se dilata. Para permitir esta dilatação sem que a pressão interna aumente
demasiadamente a pressão, na fig. 11.1 existe, acima do nível do óleo, uma camada de ar ou outro gás
inerte e seco. Este é um sistema, normalmente utilizado em pequenos transformadores de distribuição
imersos em óleo. Para transformadores maiores o uso de um conservador, como mostra a fig. 11.2,
permite a dilatação do óleo livremente. O nível do óleo no conservador varia com a temperatura do óleo e
através de um tubo pode “respirar” o ar externo através de um sistema de secagem com “sílica gel”. Em
transformadores de média e alta potência e com tensões mais elevadas, esta “respiração” se realiza com
uma bolsa de borracha dentro do conservador de modo que o óleo não tem contato direto com o ar. Com
este sistema o aumento da temperatura do óleo não produz aumento de pressão dentro do tanque. A
pressão hidrostática do nível mais elevado do óleo no conservador garante que eventuais defeitos de
selagem da tampa e de outros acessórios não possam ser fontes de contaminação do óleo permitindo a
entrada de ar úmido devido a uma diminuição da pressão interna da caixa pelo abaixamento da
temperatura.

Fig. 11.3: Caixa e radiadores de transformadores Fig. 11.4: Caixa ondulada


de distribuição pequenos

Para transformadores de distribuição o sistema de radiadores pode ser muito simples como mostra o
sistema tubular da fig. 11.3, ou o sistema com caixa ondulada que aumenta muito a superfície de
refrigeração da própria caixa.
2. ONAF: Óleo com circulação Natural e Ar com circulação Forçada

conservador
silica gel
B

ventiladres
laterais
bomba óleo

radiadores

ventiladores
Fig. 11.5: Sistema de refrigeração ONAF Fig. 11.6: Sistema de refrigeração OFAN ou OFAF

Walter Ries 151


TRANSFORMADORES

A fig. 11.5 mostra, esquematicamente, um sistema de refrigeração OANF em que são instalados
ventiladores para forçar o ar através dos radiadores. Os ventiladores podem ser colocados nas laterais ou
em baixo dos radiadores. Quando colocados nas laterais o resfriamento é mais eficiente se instalados na
parte superior onde a temperatura do óleo é maior.
3. OFAN ou OFAF: Óleo com circulação Forçada e Ar com circulação Natural, ou, Óleo com
circulação forçada e A com circulação forçada.
A fig. 11.6 mostra este sistema em que o óleo circula com maior vazão devido à instalação de uma
bomba de óleo que aumenta a vazão do óleo no sentido da circulação natural. Adicionalmente podem ser
instalados ventiladores, como na fig. 11.5 para forçar a circulação de ar através dos radiadores.
4. OFWF: Óleo com circulação Forçada e Água (Water) com circulação Forçada.

BA
BO água

bomba
bomba d´água
óleo

Fig. 11.7: Sistema de refrigeração OFWF

A fig. 11.7 mostra o sistema de refrigeração com circulação forçada do óleo através da parte viva do
transformador e com circulação forçada da água utilizada para refrigerar os radiadores tubulares. Nota-se
que se usa a letra W de water e não o A de água porque este símbolo já é usado para o ar. A água entra
pela parte superior dos radiadores onde o óleo é mais quente e, portanto o gradiente de temperatura óleo-
água é maior o que aumenta a eficiência da troca térmica.
Esta simbologia para os sistemas de refrigeração de transformadores imersos em óleo é praticamente
universal. Definições mais completas da classificação dos métodos de resfriamento se encontram na NBR
5356/1993 (parágrafo 5.7).
Limites de elevação de temperatura

Walter Ries 152


TRANSFORMADORES

Também na NBR 5356, parágrafo 5.8, se encontra a Tabela 10 acima que dá os limites de elevação
da temperatura dos enrolamentos, do óleo e das partes metálicas dos transformadores projetados para
funcionamento nas condições normais da temperatura do meio de resfriamento, da altitude, da tensão de
alimentação, da corrente de carga e do fluxo de potência, conforme parágrafo 4.1 da NBR 5356.
As elevações da temperatura das diversas partes do transformador são elevações acima da
temperatura do meio ambiente em que está instalado o transformador.
Para entender porque as dificuldades de resfriamento crescem com a potência do transformador,
considere-se que uma dimensão linear de um transformador seja k vezes a dimensão linear de um
transformador semelhante de menor potência. Pela expressão 10.15 vê-se que sendo as induções,
densidade de correntes, freqüência e custos específicos iguais, a potência cresce com o quadrado da seção
do núcleo e portanto cresce com k4. As perdas crescem com k3, pois são funções dos volumes de material
que as produzem e a capacidade de resfriamento cresce com as áreas destes materiais, portanto com o
fator k2. Resulta assim que as perdas por unidade de área a serem dissipadas crescem com o fator k.
Portanto, quanto maior a potência de um transformador mais difícil se torna a refrigeração o que exige o
desenvolvimento dos diferentes métodos de resfriamento como analisados acima.

11.2 – Distribuição da temperatura num transformador


A temperatura do óleo dada na Tabela 10 é medida próximo à superfície do óleo ou próximo à tampa
da caixa quando é usado um conservador. Deduzindo desta leitura o valor da temperatura ambiente
obtém-se a elevação da temperatura do óleo sobre o ambiente. As temperaturas dos enrolamentos são
medidas por variação da resistência elétrica e, portanto, correspondem ao valor médio da temperatura dos
enrolamentos.

θ0
θ0 termômetro óleo de topo
θa Δθ 0
h2 i
óleo Δθ02

h1 i Δθ01
núcleo

BT AT

oi θx
Δθ 001

Fig. 11.8: Distribuição da temperatura do transformador, no sentido vertical

A fig. 11.8 representa a distribuição da temperatura do óleo, no sentido vertical, de um transformador


com circulação natural do óleo através dos radiadores.
Na figura aparecem as seguintes temperaturas:
θ 0 = temperatura máxima do óleo, denominada de temperatura de topo e medida na parte superior do
óleo.
θ a = temperatura média do ambiente.
θ C = temperatura média do cobre medida por variação de resistência.
θ 01 = temperatura média do óleo para a altura h1 das bobinas.
θ 02 = temperatura média do óleo para a altura h2 dos radiadores

Walter Ries 153


TRANSFORMADORES

Δθ 0 = θ 0 − θ a = elevação da temperatura máxima do óleo


Δθ 01 = θ 01 − θ a = elevação da temperatura média do óleo para a altura h1 dada pela expressão 11.1.

1 h1
Δθ o1 =
h1 ∫ 0
Δθ ox dx [11.1]

Δθ 02 = θ 02 − θ a = elevação da temperatura média do óleo para a altura h2 dada pela expressão 11.2.

1 h2
Δθ 02 =
h2 ∫ 0
Δθ ox dx [11.2]

Δθ Ca = θ C − θ a = elevação da temperatura média do cobre dos enrolamentos


Δθ C01 = Δθ C − Δθ o1 = diferença de temperatura entre o óleo médio para a altura h1 e o cobre dos
enrolamentos.
Δθ oo1 = Δθ o −Δθ o1 = diferença de temperatura entre o óleo máximo e o óleo médio para a altura h1
Normalmente a tomada inferior dos radiadores é feita na altura do extremo inferior dos enrolamentos
e a tomada superior é feita na parte mais elevada da caixa nos transformadores com conservador. Nos
transformadores sem conservador, portanto com uma camada de gás inerte ou ar seco na parte superior, a
tomada dos tubos radiadores é feita de modo que o nível de óleo, para uma temperatura de 25 °C fique no
meio da secção do tubo. Isto garante que no início do aquecimento já possa circular óleo pelos tubos
radiadores e, com o aumento da temperatura o óleo irá cobrir inteiramente a boca dos tubos.
Pela fig. 11.8 pode-se observar que a temperatura do óleo abaixo dos enrolamentos é relativamente
baixa e tem pouca participação na dissipação do calor. Como já foi dito, o óleo aquecido pelas perdas no
núcleo e bobinas sobe por efeito termo-sifão ao passo que nos radiadores, onde o óleo é resfriado, ele
desce. Isto forma uma circulação natural do óleo. Também a superfície externa da caixa participa com a
dissipação de calor, principalmente nas partes não cobertas por radiadores.
A determinação da elevação de temperatura dos enrolamentos é dada pela expressão 11.3 em que
ΔθC01 é calculado em função das perdas no condutor (cobre ou alumínio) e Δθ0 é limitado pelas normas
em uso e medida diretamente durante o ensaio de aquecimento do transformador. O valor de Δθ001 é dado
pela expressão 11.4

Δθ ca = Δθ C01 + Δθ 01 = Δθ C01 - Δθ 001 + Δθ 0 [11.3]


Δθ 001 = (0, 20............0, 25) Δθ 0 [11.4]

O cálculo da dissipação do calor da caixa e dos radiadores é feito em função da temperatura média do
óleo para a altura h2 dada pela expressão 11.5 para uma relação h1 / h2 dada pela expressão 11.6.

Δθ 02 = (0, 87............0, 91) Δθ 0 [11.5]


h1
0, 4 < < 0, 55 [11.6]
h2

Entre o óleo na altura h2 e a parede externa da caixa ou dos radiadores tem-se, ademais, uma queda
de temperatura resultante da troca de calor por convecção (Δ0pi) entre o óleo e a parede interna e por
condução (Δpipe) entre parede interna e parede externa, cuja soma varia de 5 a 7 °C, conforme mostra a
expressão 11.7 e fig. 11.9.
Δθ op = Δθ 0pi + Δθ pipe = (5...........7) °C [11.7]
Δθ pa = Δθ 02 - Δθ op [11.8]

Walter Ries 154


TRANSFORMADORES

O salto de temperatura médio entre paredes externas (caixas e radiadores) e o ar é dado, portanto,
pela expressão 11.8..

parede
Δθop

óleo ar Δθpa

θa
Fig. 11.9: Diagrama das temperaturas na
transmissão do calor pela parede da caixa
do transformador

O quadro da fig. 11.10 dá a gama de variação dos diferentes saltos de temperatura para
transformadores sem e com conservador. Estes valores são, pois, orientativos no projeto térmico dos
transformadores.

Transformador sem conservador Transformador com conservador


°C °C °C °C °C °C
Δθ 0 50,0 55,0
Δθ ca 55,0 55,0
Δθ 02 43,5 a 45,5 48,0 a 50,0
Δθ 01 37,5 a 40,0 41,0 a 44,0
Δθ 001 10,0 a 12,5 11,0 a 14,0
Δθ C01 15,0 a 17,5 11,0 a 14,0
Δθ pa 36,5 a 40,5 41,0 a 45,0

Fig. 11.10: Gama de variação dos diversos saltos de temperatura

Se os saltos de temperatura entre o condutor e o óleo médio para altura h1 resultarem maiores do que
os valores especificados acima, então a elevação máxima de temperatura do óleo, na expressão 11.3
deverá ser menor do que as permitidas por norma a fim de que a elevação da temperatura do condutor não
ultrapasse os valores de norma. O abaixamento da temperatura máxima do óleo é conseguido mediante
um aumento dos radiadores ou então utilizando uma ventilação forçada nos mesmos. Do mesmo modo,
uma circulação forçada do óleo através dos radiadores e tanque, aumenta a eficiência da refrigeração. Por
vezes o meio refrigerante utilizado é a água que refrigera o óleo em trocadores de calor água-óleo. Deste
modo é que surgem os diferentes tipos e métodos de resfriamento de transformadores já analisados.

11.3 – Transmissão de calor por condução


11.3.1 – Entre paredes planas
Na fig. 11.11 tem-se o caso da condução do calor entre paredes planas com diferentes temperaturas.
O salto de temperatura entre faces paralelas é dado pela expressão 11.9.

Walter Ries 155


TRANSFORMADORES

d W
θ 1 − θ 2 = Δθ = ⋅ [11.9 ]
λ A
A = área da parede (m 2 )
d = espessura da parede (m )
W = energia calorífica por segundo transmitida através da parede expressa em watts
λ = coeficiente de condutividade térmica em watts / m ⋅ 0C

θ1 θ2
A
d
Fig. 11.11: Condução do calor entre paredes
l

A tabela da fig. 11.12 fornece o valor da condutividade térmica de alguns materiais utilizados na
construção de transformadores.

MATERIAL λ
W/m °C
Cobre eletrolítico 380
Alumínio 220
Ferro 50
Ferro-silício (4% Si) laminado a quente 19 no sentido da
Ferro-silício (3% Si) laminado a frio 21 laminação
Papel Kraft 0,1 mm (impregnado com óleo) 0,10
Papel Kraft 0,1 mm (sêco) 0,20
Papel Kraft 0,06 mm (impregnado com óleo) 0,15
Presspan (sêco) 0,18
Presspan (impregnado com óleo) 0,25
Papelão Weidmann 0,25
Porcelan 1,60
Ar 0,03 em repouso
Óleo de transformador 0,125

Fig. 11.12: Coeficiente de condutividade térmica de alguns materiais

11.3.2 – Placas paralelas que são fontes de calor


a) Pacote de placas isolado termicamente em um dos lados conforme mostra a fig. 11.13

Walter Ries 156


TRANSFORMADORES

θ1 Wmax
Wx = x [11.10]
Isolamento térmico d
W
Fonte Δθ Wx medio = x [11.11]
a) 2
de Δθm
θ2 Wx ⋅ x Wmax ⋅ x 2
calor θ1 - θ x = = [11.12]
2A ⋅ λ 2d ⋅ A ⋅ λ
W ⋅d
θ1 - θ x = Δθ = max [11.13]
2A ⋅ λ
W d 1 d W ⋅ x2
Δθm = Δθ - ∫ d max dx [11.14]
b) Wmax d 0 2d ⋅ A ⋅ λ
Wx

Fig. 11.13: a) Distribuição da temperatura b) Distribuição da potência calorífica

A fig. 11.13 mostra o exemplo da transmissão de calor através de um pacote de placas que são fontes
de calor como ocorre no núcleo do transformador ou em um enrolamento em forma de camadas. Neste
exemplo o pacote está isolado termicamente num dos lados de modo que todo o calor gerado é dissipado
pelo lado não isolado. A potência calorífica que é transmitida por condução cresce linearmente desde a
face isolada até a face livre como mostra a expressão 11.10. A potência média no ponto x é, portanto dada
pela expressão 11.11. A diferença de temperatura entre a face isolada e a superfície situada a uma
distância x é dada pela expressão 11.12 que é derivada da 11.9. Substituindo-se na expressão 11.12 o
valor de x por d, pode-se obter a diferença de temperatura entre a face isolada à esquerda e a face
refrigerada à direita, dada pela expressão 11.13. Se o pacote de placas da fig.11.13 for, por exemplo,
camadas de um enrolamento produzindo perdas, então a temperatura deste enrolamento é determinada
pela variação da resistência elétrica com a temperatura. Neste caso, a temperatura medida é a temperatura
média do pacote e será, portanto dada pela expressão 11.14. Isto significa que a temperatura na face
isolada termicamente é 50% maior do que a temperatura média medida.

b) Pacote de placas paralelas que dissipa calor em ambos as faces como mostra a fig. 11.14.

θ1

a)
Δθ Δθ
Δθm Δθm
θ2 θ2

d
b) Wmax
W
x
Fig. 11.14: a) Distribuição da temperatura b) Distribuição da potência calorífica

De a imagem especular da fig. 11.13 pode-se obter para a fig. 11.14, a expressão 11.15 que dá a
diferença de temperatura entre o centro do pacote e as superfícies externas. A temperatura média continua
sendo dada pela expressão 11.14.
Wmax × d/2 Wmax × d
θ1 - θ 2 = Δθ = = [11.15]
2A × λ 4A × λ

Walter Ries 157


TRANSFORMADORES

São exemplos também deste caso os enrolamentos em camadas e os pacotes de chapas que formam o
núcleo do transformador, porem com dissipação de calor para os dois lados. No caso particular de lâminas
do núcleo, é no centro do núcleo que a temperatura é mais elevada. Para chapas de ferro-silicio com
espessuras de 0,35 mm e isolamento de “carlite” entre camadas e pressionadas com 5 kgf / cm², tem-se
um coeficiente de condutibilidade térmica λ = 2,8 no sentido perpendicular às lâminas, e λ = 21 no
sentido longitudinal. Vê-se assim que a refrigeração nos topos das chapas é mais eficiente do que nas
superfícies das chapas externas.

c) Condutores isolados que são fontes de calor formando pacote isolado em um dos lados (fig.
11.15)
Nos enrolamentos em camadas com condutores retangulares isolados com papel Kraft, como está
representado nas figuras 11.15 e 11.16, pode-se considerar uniforme a temperatura no condutor em
presença da forte diferença de temperatura que ocorre no isolamento. O isolamento entre camadas pode
ser simplesmente o duplo-isolamento dos condutores ou pode ser um isolamento constituído pela
introdução de uma camada isolante complementar. O isolamento da superfície externa pode ser o
isolamento simples do condutor ou um isolamento diferente com espessura também diferente. De um
modo geral tem-se:
δ = espessura do isolamento entre placas (camadas),
δ´ = espessura do isolamento da superfície externa,
λ = coeficiente de condutividade termina do isolamento entre placas,
λ´= coeficiente de condutividade térmica do isolamento da superfície externa,
n = número de camadas.

θ1
Isolamento

Δθ
Condutor

Condutor
isolament

a) Δθm
θ2

δ δ δ δ δ′
W

Wmax
Wx
x
x
Fig. 11.15: a) Distribuição da temperatura b) Distribuição da potência calorífica

Considerando desprezível a queda de temperatura no condutor em relação à queda no isolamento, a


queda de temperatura total é dada pela expressão 11.16 e a temperatura média pela expressão 11.17.

⎡ δ ⎛ n − 1 ⎞ δ ′ ⎤ Wmax
θ1 − θ 2 = Δθ = ⎢ ⎜⎜ ⎟⎟ + ⎥ [11.16]

⎣⎢ λ ⎝ 2 ⎠ λ ′ ⎦⎥ A
⎡ δ ⎛ n − 1, 5 1 ⎞ δ′ ⎤ W
Δθ m = ⎢ ⎜⎜ + ⎟⎟⎟ + ⎥ max [11.17]
⎢⎣ λ ⎝ 3 6n ⎠ λ ′ ⎥⎦ A

Walter Ries 158


TRANSFORMADORES

Para o caso comum em que se em λ = λ´ e δ´ = δ / 2 resulta a expressão 11.18 para o salto de


temperatura e a expressão 11.19 para o salto médio de temperatura.
.
n ⋅ δ Wmax
θ1 − θ 2 = Δθ = [11.18]
2λ A
⎛2 2 ⎞⎟
Δθ m = ⎜⎜ + 2 ⎟⎟ Δθ [11.19]
⎝ 3 6n ⎠

d) Condutores isolados que são fontes de calor formando pacote com dissipação de calor nas
duas faces externas como mostra a (fig. 11.16)
Por imagem especular do caso anterior, obtém-se as expressões 11.20 e 11.21 para o salto de
temperatura máximo e o médio. Para o caso em que se tem λ = λ´ e δ´ = δ / 2 resultam as expressões
11.22 e 11.23, sendo n o número total de placas ou camadas..

1 ⎡ δ ⎛ n − 1 ⎞⎟ δ ′ ⎤ Wmax
θ1 − θ 2 = Δθ = ⎢ ⎜⎜ ⎟+ ⎥ [11.16]
2 ⎢⎣ λ ⎝ 2 ⎠⎟ λ ′ ⎥⎦ A
1 ⎡ δ ⎛ n − 1, 5 1 ⎞ δ′ ⎤ W
Δθ m = ⎢ ⎜⎜ + ⎟⎟⎟ + ⎥ max [11.17]
2 ⎢⎣ λ ⎝ 3 6n ⎠ λ ′ ⎥⎦ A

n ⋅ δ Wmax
θ1 − θ 2 = Δθ = [11.18]
4λ A
⎛2 4 ⎞⎟
Δθ m = ⎜⎜ + 2 ⎟⎟ Δθ [11.19]
⎝ 3 3n ⎠

Nas expressões acima se Wmax é a perda total então a superfície de dissipação de calor A é a área das
duas faces laterais.

θ1

Δθ
isolament

Condutor

a) Δθm
θ2

δ δ δ δ δ′
δ′ δ δ δ δ
W
b)

Fig. 11.16 a) Distribuição da temperatura b) Distribuição da potência calorífica

11.4 – Transmissão de calor por convecção


A convecção é a transmissão de calor que se realiza entre uma superfície sólida e um fluido, líquido
ou gasoso que está em contato. As trocas de calor se verificam numa fina camada do gás ou líquido que
banha a superfície sólida. Quando o fluido refrigerante é o ar, a película atuante é da ordem de 12 a 15
mm de espessura e quando é o óleo, a película é de aproximadamente 3 mm.

Walter Ries 159


TRANSFORMADORES

θ
v (lamelar)

v (turbulento)

Δθ

zona de fluxo do
regime lamelar
l l
Fig. 11.17: Elevação de temperatura e velocidadenas zonas de circulação de fluido.
Na fig. 11.17 pode-se ver como varia a temperatura do fluído em função do afastamento da superfície
quente e como varia a velocidade do fluido na película atuante da convecção, no regime lamelar e no
regime turbulento. Quando a superfície sólida é mais quente do que o fluido este se aquece e sobe, caso
contrário, ele se esfria e desce ao longo da superfície.
Considerando-se a espessura da película atuante na convecção pode-se concluir que canais de óleo
com espessuras superiores de 6 a 8 mm entre duas superfícies quentes paralelas não influem mais na
refrigeração.
Em paredes verticais como nas bobinas de transformadores de força e de distribuição tem-se sempre
um regime turbulento nas partes superiores. Nos radiadores tubulares prevalece o regime lamelar ao longo
de toda a altura dos tubos.
A potência térmica dissipada ou transferida por convecção é dada pela expressão 11.20, sendo a
temperatura ambiente do meio fluido – gás ou líquido – a temperatura fora da zona de regime lamelar
como mostra a fig. 11.17. A temperatura da superfície sólida é a sua temperatura média, pois ela não se
mantém constante no sentido vertical.
W = α c ⋅ Δθ ⋅ A [11.20 ]

Na expressão 11.20 tem-se:


αc = coeficiente de convecção (w / m² . °C)
Δθ = salto de temperatura entre superfície quente e ambiente.
A = área lambida pelo fluido refrigerante
O coeficiente de convecção “αc” depende do salto de temperatura “Δθ”, da temperatura ambiente do
fluido (θ2 °C ou T2 °K), da pressão barométrica (B em mm de Hg) para os gases e, da viscosidade para
os líquidos.
Assim, para o ar como meio fluido e no caso de convecção natural em paredes verticais, tem-se a
expressão 11.21.

293 B
α c ≅ 2 ,5 ⋅ 4 Δθ ⋅ ⋅ w / m 2 ⋅°C [11.21]
T2 760

Nas condições normais de θ2 = 20 °C (T2 = 293 °K) e B = 760 mm de Hg, resulta a expressão 11.22.

α c ≅ 2,5 ⋅ 4 Δθ w / m2 ⋅°C [11.22]

Para superfícies quentes horizontais em que o ar pode se deslocar livremente para cima, o coeficiente
de convecção é 20% maior. No entanto, se o ar for impedido de deslocar-se verticalmente e devendo se
deslocar no sentido horizontal, então o coeficiente de convecção é menor.

Walter Ries 160


TRANSFORMADORES

Para o óleo como fluído e no caso de uma convecção natural em paredes verticais, tem-se a
expressão 11.23, sendo “θ1” a temperatura média da superfície. Esta temperatura média pode ser mais
quente do que o óleo se o calor está sendo transmitido da superfície ao óleo, ou, pode ser mais fria se é o
óleo que está transmitindo calor à superfície fria.

θ1
α co ≅ 38× 4 Δθ × w/m 2 × °C [11.23]
50
Para uma elevação de temperatura da parede quente, de 65 °C, e, uma temperatura ambiente de 20 °C
resulta uma temperatura média da superfície de θ1 = 20+65 = 85 °C. Neste caso o coeficiente de
convecção da parede quente para o óleo é dada pela expressão 11.24.

α co ≅ 50× 4 Δθ w/m 2 × °C [11.24]

Observando as expressões 11.22 e 11.24 pode-se concluir que o óleo refrigera cerca de 20 vezes mais
do que o ar.
No caso de canais de óleo formados por superfícies quentes horizontais, como nos enrolamentos em
disco, o fluxo de circulação do óleo é dificultado, sendo o coeficiente de convecção, neste caso, 50%
menor para uma relação de 1 : 10 entre a espessura e o comprimento do canal de óleo.
Nos enrolamentos e nas colunas do núcleo dos transformadores normalmente 25 a 30% da superfície
externa está coberta por distanciadores (longarinas ou estecas). Assim, somente 70 a 75% da superfície
externa da bobina ou núcleo é útil na transmissão de calor por convecção.
Pelas expressões 11.22, 11.23 e 11.24 pode-se verificar que, permanecendo constante a temperatura
“θ1”, as potências térmicas ou as perdas variam com a potência 1,25 do salto de temperatura de onde se
podem escrever as expressões 11.25 e 11.26.

1,25 0,8
W1 ⎜⎛ Δθ1 ⎞⎟ Δθ1 ⎛⎜ W1 ⎞⎟
=⎜ ⎟ [11.25] =⎜ ⎟ [11.26]
W2 ⎜⎝ Δθ 2 ⎠⎟⎟ Δθ 2 ⎝⎜ W2 ⎠⎟⎟

Portanto, determinado o salto de temperatura “Δθ2” para uma perda térmica “W2”, pode-se
determinar o salto de temperatura “Δθ1” para uma perda térmica “W1” através da expressão 11.26. A
expressão 11.26 é aplicada dentro de certos limites de influência da variação da temperatura “θ1” na
expressão 11.23 e somente para o caso de uma convecção natural, isto é, sem forçar a circulação do
fluido. Esta conclusão é aplicada diretamente no ensaio de aquecimento de transformadores quando, por
algum motivo, não for possível aplicar todas as perdas (100% das perdas) para o ensaio. As normas
permitem aplicar perdas reduzidas com um mínimo de 80% e depois extrapolar as elevações de
temperatura aplicando a expressão 11.26.

11.5 – Transmissão de calor radiação


Todos os corpos com temperaturas acima de zero absoluto irradiam energia térmica. Segundo Stefan
a radiação térmica do “corpo negro” é dada pela expressão 11.27 em que:
A = área em m² do corpo negro
T = Temperatura do corpo negro em °K
σ = 5,77 que é a constante de radiação do corpo negro
ε = emissividade do corpo cujo valor está compreendido entre 0 e 1 (ε ≤ 1)

4
⎛ T ⎞⎟
W = σ ⋅ ε ⋅ A ⎜⎜ watts [11.23]
⎝100 ⎠⎟⎟

Walter Ries 161


TRANSFORMADORES

T2
A2 ε2

A1 T1
ε1

Fig. 11.18: Transmissão de calor por radiação: T1>T2

A fig. 11.18 mostra um corpo sólido com uma temperatura T1 que é envolvido por um outro a uma
temperatura T2 < T2 . Ambos irradiam calor, mas a resultante se dá no sentido da temperatura maior para a
menor e a potência térmica é dada pela expressão 11.24.
⎡⎛ T ⎞ ⎛ T ⎞4 4 ⎤
W = σ × FA × FE × A1 ⎢⎜⎜ 1 ⎟⎟⎟ - ⎜⎜ 2 ⎟⎟⎟ ⎥ watts [11.24]
⎢⎝100 ⎠ ⎝100 ⎠ ⎥
⎣ ⎦

FA = fator de visão que leva em consideração o ângulo sólido médio sob o qual uma superfície “vê” a
outra, ou seja, é o fator que representa a troca direta de radiação, sem levar em conta a energia refletida
por outras superfícies.
FE = é um fator que depende das emissividades individuais ε1 e 2 e das relações das áreas A1 e
A2 das superfícies irradiante e receptora. Assim, para o caso da fig. 11.18 tem-se:

FA = 1
1
FE @
1 A1 ⎛⎜ 1 ⎞⎟
+ ⎜ - 1⎟
ε1 A 2 ⎜⎝ ε 2 ⎠⎟⎟

Se A2 >> A1 tem-se FE ≈ ε1. Se A1 = A2 e as paredes são paralelas, então:

1
FE ≅
1 1
+ -1
ε1 ε 2
Para todos os demais casos tem-se:
FE ≈ ε1 x ε2 sempre que as emissividades não sejam muito menores do que a unidade.

Para as superfícies pintadas de transformadores, normalmente a emissividade ε1 é de cerca 0,93 e


para os ambientes envolventes ε2 é de aproximadamente 0,95. Tomando-se uma relação de árias A1 / A2
compreendida entre 0 e 1, o valor médio de FE será 0,915. Como a constante de radiação do corpo negro
é de 5,77, pode-se escrever a expressão simplificada 11.25 para determinar a potência de radiação.

⎡⎛ T ⎞4 ⎛T ⎞
4 ⎤
W = 5, 3 × A1 ⎢⎜⎜ 1 ⎟⎟⎟ - ⎜⎜ 2 ⎟⎟⎟ ⎥ watts [11.25]
⎢ ⎥
⎣⎝100 ⎠ ⎝100 ⎠ ⎦

No entanto, para o cálculo da refrigeração é conveniente definir um “coeficiente de superfície para a


radiação” tal como se define o coeficiente de convecção. Deste modo pode-se escrever para a radiação

Walter Ries 162


TRANSFORMADORES

uma expressão semelhante à expressão 11.20 escrita para a convecção. Obtém-se, assim, a expressão
11.26 em que o coeficiente de radiação é dado pela expressão 11.27.

W = α r × A × (T1 - T2 ) = α r × Δθ r× A [11.26]
4
⎛ T1 + Δθ ⎞⎟ ⎛ T2 ⎞⎟4
⎜⎜ -⎜
⎝ 100 ⎠⎟⎟ ⎜⎝100 ⎠⎟⎟
α r = 5, 3 w/m 2 × °C [11.27]
Δθ

O coeficiente de radiação “αr” cresce com o valor da temperatura T2 e com o salto de


temperatura Δθ = T1-T2. Para temperaturas ambiente em torno de θ2 = 20 °C (T2 = 293 °K) e saltos de 20
a 100 °C, pode-se obter o coeficiente de radiação pela expressão aproximada 11.28.

α r ≅ 2, 65× 4 Δθ w/m 2 × °C [11.28]

Conclusões:
Através das expressões 11.22, 11.23 e 11.28, pode-se ver que o coeficiente de convecção (para o ar e
o óleo) e o coeficiente de radiação, são dados por expressões semelhantes. Admitindo-se, na expressão
11.23 que a temperatura média θ1 da superfície de separação seja de 20° + 45° = 65° C, resulta,

α co = 43, 2 4
Δθ [11.29]

Com esta simplificação tem-se na tabela da fig. 11.19 os coeficientes de convecção, para o óleo e
para o ar, e o coeficiente de radiação em função dos saltos de temperatura considerando que:
a) o coeficiente de convecção para o óleo se refere a uma temperatura média, da superfície, de 65°
C:
b) o coeficiente de convecção para o ar se refere a uma temperatura do ar de 20° C e uma pressão
de 760 mm Hg:
c) o coeficiente de radiação se refere a uma temperatura ambiente de 20°C.

Salto de temperatura Coeficiente de convecção Coefic. de radiação


Δθ °C Óleo α co Ar αca αr
5 65,0 3,74 5,43
10 77,0 4,45 5,56
15 85,5 4,92 5,73
20 91,5 5,28 5,90
30 104,0 5,87 6,15
40 112,0 6,29 6,50
50 118,0 6,64 6,88
60 123,0 6,95 7,16

Fig.11.19: Coeficientes de convecção e radiação

Walter Ries 163


TRANSFORMADORES

11.6 – Salto de temperatura entre os enrolamentos e o óleo (Δθco1)


11.6.1 – Enrolamentos helicoidais em camadas refrigeradas em ambas as faces laterais.

I so lament o

I so l ament o

C o nd ução
co b r e Δθ Δ θ m co b r e co b r e co b r e

Δθ C 01 Δθ C 01
C o nvecção
Δθ c a
Δθ c a
α Δθ C1
Δθ 01 Δθ 0 1

T emp er at ur a
amb i ent e ⎠ a T emp er at ur a
amb i ent e ≅a
δ β δ 2δ
Fig.11.20: Enrolamento com uma só camada Fig.11.21: Enrolamento com 3 camadas

Para o cálculo da elevação de temperatura dos enrolamentos sobre o ambiente (ΔθCa) é fundamental
o cálculo do salto de temperatura média do condutor para a altura h1 (ver fig. 11.8) visto na expressão
11.3. Este salto (ΔθC01) é composto por um salto médio de temperatura por condução através dos
isolamentos dos condutores e por um salgo de temperatura por convecção do enrolamento para o óleo,
conforme mostram as figuras 11.20 e 11.21.
Para o caso de uma só camada, como mostra a fig. 11.20, obtém-se através da expressão 11.9 o salto
térmico por condução no isolamento e pela expressão 11.20, o salto térmico por convecção no óleo.
Resulta assim um salto de temperatura entre a temperatura média do condutor e a temperatura média do
óleo na altura h1 dada pela expressão 11.30, onde “W” são as perdas totais no condutor, ou seja, perdas
ôhmicas mais as perdas parasitas dadas pela expressão 11.31 e “A” é é a superfície externa dos
enrolamentos em ambas as faces.

⎛δ 1 ⎞⎟ W
Δθ*C01 = ⎜⎜⎜ + ⎟ [11.30]
⎜⎝ λ α C0 ⎠⎟⎟ A
W = W0 + Wp = (1 + k a ) W0 [11.31]

A dissipação específica, dada por W/A watts/m², pode ser simplificada se for tomada em relação a
um metro de condutor isolado. Neste caso, as perdas por metro de condutor serão dadas pela expressão
11.32 em que:
ka = Wp / Wo = coeficiente de perdas parasitas do condutor;
d = densidade de corrente no condutor dada em A/mm²;
a = secção do condutor dada em mm²;
ρ = condutividade do condutor. ρ= 0,02095 ohms . mm²/m a 75°C para o cobre.
A área externa do condutor de 1 m de comprimento, nas duas faces, fica compreendida entre os
valores de 2α e 2(α + 2β), pois o isolamento entre condutores de uma camada também se aquecem e suas
áreas laterais também transferem calor por condução e convecção até o óleo. Pode-se demonstrar que esta
área externa do condutor de 1 m de comprimento tem um valor aproximado dado pela expressão 11.32,
em que:
α = dimensão axial do condutor, em metros, conforme mostra a fig.11.20;
δ = espessura do isolamento do condutor, em metros, conforme figuras 11.20 e 11.21.

A = 2 (α + 1, 45δ) [11.32]
A = 2k S (α + 1, 45δ) [11.33]

Walter Ries 164


TRANSFORMADORES

Deve-se considerar ainda que uma parte da superfície externa do condutor está coberta com
longarinas distanciadores (estecas), ficando a área de dissipação reduzida, o que pode ser representado
através de um fator “ks <1” introduzido na expressão 11.32. Este fator é a relação entre a área efetiva de
dissipação e a área total do condutor. Resulta assim, a expressão 11.33 para calcular a área externa efetiva
do condutor por, metro.
Substituindo as expressões 11.31 e 11.3 2 na expressão 11.30, resulta a expressão 11.34 que dá o
salto térmico para o caso de uma bobina com uma só camada sem considerar o fator “kS”.

(1 + k a ) d 2 a ρ ⎛⎜ δ
1 ⎞⎟
Δθ*C01 = ⋅ ⎜⎜ + ⎟ [11.34]
(α + 1, 45δ) 2 ⎜⎝ λ α C0 ⎠⎟⎟

Para o caso de um enrolamento com duas camadas, a dissipação específica “W / A” é duas vezes
maior e, portanto, resulta um salto de temperatura também duas vezes maior do que para um enrolamento
de uma só camada, conforme expressão 11.35.
ΔθC01 = 2 × Δθ*C01 [11.35]

Para o caso de um enrolamento com 3 camadas, considerando que temperatura da camada central
seja “θ1” e a temperatura das camadas laterais seja “θ2” (ver fig. 11.21) pode-se determinar o salto médio
de temperatura do condutor sobre o óleo meio (referido à altura h1 da bobina) pela expressão 11.36.

Δθ1 + 2Δθ 2
Δθ C01 = [11.36]
3
Porém, entre a camada central e as laterais tem uma queda de temperatura, por condução, no
isolamento de espessura “2δ”, dada pela expressão 11.37.
(1 + k a ) d × a 2 ρ 2δ
Δθ δ = ⋅ ⋅ [11.37 ]
α + 1, 45δ 2 λ

Pode-se, agora, determinar o salto de temperatura da camada central pela expressão 11.38, em que o
salto de temperatura das camadas laterais é dado pela expressão 11.39.

Δθ1 = Δθ 2 + Δθ δ [11.38]
*
Δθ 2 = 3 × Δθ C01 [11.39]

Substituindo as expressões 11.37, 11.3 e 11.39 na expressão 11.36, obtém-se o salto de temperatura
do condutor sobre a temperatura média do óleo na altura h1 da bobina, para o caso de um enrolamento
com 3 camadas, dado pela expressão 11.40.
1
Δθ C01 = 3Δθ*C01 + Δθ δ [11.40]
3
O valor de “ΔθC01*” é dado pela expressão 11.34 e o valore de “Δθδ”, pela expressão 11.37.
Seguindo o mesmo raciocínio, pode-se determinar o salto de temperatura para o caso de
enrolamentos com 4, 5.........n camadas. Obtêm-se, assim, as relações abaixo.

Para n = 1 camada : Δθ C01 = Δθ*C01


Para n = 2 camadas : Δθ C01 = 2Δθ*C01
1
Para n = 3 camadas : Δθ C01 = 3Δθ*C01 + Δθ δ
3
Para n = 4 camadas : Δθ C01 = 4Δθ*C01 + Δθ δ
Para n = 5 camadas : Δθ C01 = 5Δθ*C01 + 2Δθ δ
( n - 1)(n - 2)
Para n camadas : Δθ C01 = nΔθ*C01 + Δθ δ
6

Walter Ries 165


TRANSFORMADORES

11.6.2 – Enrolamentos em disco.


Nos enrolamentos em disco óleo refrigerante circula entre os discos produzindo uma refrigeração
mais eficiente. Na fig. 11.22, tem-se um disco com 8 espiras.
2δ β

óleo
δ
1 2 3 4 α
óleo

Fig.11.22: Enrolamento em disco

As perdas por metro do condutor “1” são em parte transmitidas aos canais radiais de óleo entre os
discos, e, em parte ao condutor “2” através do isolamento com espessura “2δ”. Resulta, assim, a
expressão 11.41em que:
θ0 = temperatura do óleo;
θ1 = temperatura do condutor “1”;
θ2 = temperatura do condutor “2”.

2 (β + 1, 45δ) α
(1 + k a ) d 2 ⋅ a ⋅ ρ = δ 1
(θ1 - θ 0 ) + 2δ (θ1 - θ 2 ) [11.41]
λ + αC 0 λ

De modo análogo tem-se para o condutor “2” transmitindo calor ao óleo e ao condutor “3” a
expressão 11.42.

α 2 (β + 1, 45δ) α
(1 + k a ) d 2 ⋅ a ⋅ ρ + (θ1 − θ2 ) = δ (θ 2 - θ0 ) + (θ 2 - θ3 ) [11.42]
2δ 1 2δ
λ λ + αC 0 λ

Para o último condutor, de ordem “n/2”, sendo “n” o número de condutores por disco, resulta a
expressão 11.43.
α 2 (β + 1, 45δ) α
(1 + k a ) d 2 ⋅ a ⋅ ρ +
2δ ( 2
)
θ n −1 − θ n 2 =
δ + 1α (
θn - θ0 +
2 2δ )
θn - θ0
2
( ) [11.43]
λ λ C0 λ

Somando, membro a membro, as expressões 11.41, 11.42............11.43, resulta a expressão 11.44.

n⎡ α 2 [β + 1, 45δ ]
2 ⎢⎣
(1 + k a ) d 2 a ρ⎤⎥⎦ + 2δ Δθ1, n 2 = δ
+ 1α ( 2
)
Δθ10 + Δθ 20 + ....Δθ n ,0 +
λ λ C0
α α
+ Δθ n ,0 + Δθ1, n [11.44]
δ + 1α 2 2δ 2
λ C0 λ

O salto da temperatura média dos condutores para a temperatura média do óleo é dado pela expressão
11.45, que, substituída na expressão 11.44 resulta na expressão 11.46.

Walter Ries 166


TRANSFORMADORES

Δθ10 + Δθ 20 + .... + Δθ n ,0
Δθ C01 = 2
[11.45 ]
n
2
⎡ 2 β + 1, 45δ ⎤
ν⎡ [ ]⎥ n α
(⎣ 1 + κ α ) δ 2 α ρ⎤⎥⎦ = ⎢⎢ δ
⎢ ⎥ Δθ C01 + δ Δθ ν ,0 [11.46]
2 ⎢ λ + 1 α C0 ⎥ 2 λ + 1α 2
⎣ ⎦ C0

O salto térmico dos condutores externos, “Δθn/2,0”, é menor do que o salto térmico médio “ΔθC01”,
pois estão mais bem refrigerados. Esta diferença será tanto maior quanto maior for o número de
condutores “n” por disco. A expressão 11.47 dá o salto térmico dos condutores externos sendo “k” uma
constante que dependo do sistema de refrigeração (ONAN, ONAF, etc...).
Δθ C01
Δθ n ,0 = [11.47 ]
2 1+ k×n

Introduzindo a expressão 11.47 na expressão 11.46 e separando o salto “ΔθC01”, resulta a expressão
11.48 onde já está, igualmente introduzido, o fator “kS” da expressão 11.33, devido aos espaçadores nos
canis radiais e axiais.

(1 + k a ) d 2 a ρ ⎛⎜ δ 1 ⎞⎟
Δθ C01 = × ⎜⎜ + ⎟ [11.48]
(β + 1, 45δ) +
α 2k S ⎜⎝ λ α C0 ⎠⎟⎟
n (1 + k × n )

Os valores normais das constantes e dos coeficientes que aparecem na expressão 11.48 são:
k = 0,04 para refrigeração natural do óleo e ventilação natural do ar nos radiadores (ONAN);
k = 0,05 para refrigeração natural do óleo e ventilação forçada do ar nos radiadores (ONAF);
k = 0,07 para refrigeração forçada do óleo e ventilação forçada do ar nos radiadores (OFAF).
αC0 = 90 w/m².°C para a refrigeração ONAN;
αC0 =150 w/m² . °C para a refrigeração ONAF;
αC0 = 300 w/m² . °C para a refrigeração OFAF.
λ = 0,15 w / m . °C
ρ = 0,02095 ohms. mm² / m para condutor de cobre.
kS = 0,75 a 0,80

Bibliografia.
[1] Rudolf Richter. Elektisvhe Maschinen Band III. Die Transformatoren. Bikhäuser Verlag – 1963
[2] R. Küchler – Die Transformatoren – Springer – Verlag – 1966
[3] M.G.Say – The Performance and Design of Alternating Current Machines – Pitman Paperbacks -

Walter Ries 167


TRANSFORMADORES

12 – DISSIPAÇÃO DE CALOR NOS TRANSFORMADORES


12.1 – Refrigeração natural
A potência térmica dos transformadores é dissipada para o ambiente através das áreas livres do
tanque e dos radiadores. Esta potência se dissipa por dois modos:
a) por convecção segundo a expressão 11.20 com
αcar = 2, 5 ⋅ 4 Δθ

b) por radiação segundo expressão 11.26 com

αr = 2, 65 ⋅ 4 Δθ
Tem-se, assim:
⎛ A ⎞
W = Wc + Wr = ⎜⎜α car + α r r ⎟⎟⎟ Δθ ⋅ A watts [12.1]
⎝ A⎠
em que:
A = área total da caixa e dos radiadores
Ar= área equivalente de radiação;
Δθ = elevação média de temperatura das paredes.
A relação A / Ar é igual a “1” para as superfícies lisas dos tanques e não cobertas por tubos ou
radiadores. Para as zonas do tanque onduladas ou cobertas por radiadores, a relação A / Ar será menor do
que “1” e guarda uma relação direta com o fator de visão FA da expressão 12.1. A área equivalente de
radiação (Ar) pode ser dada para diversas configurações específicas conforme mostram as figuras 12.1,
12.2, 12.3 e 12.4, em que as faces achuriadas são as superfícies quentes irradiantes e as expressões de Ar
se referem a um metro no sentido vertical à figura.

a b a b a b
a1

a2

Fig. 12.1 Fig. 12.2 Fig. 12.3 Fig. 12.4


Ar = a + b − a + b 2 2
Ar = a + b2 2 Ar = b Ar = a 2 + b 2 − a

(m 2 / m ) (m 2 / m ) (`m 2 / m ) (m 2 / m )
No cálculo da dissipação de calor das caixas de transformadores é normal considerar, como área de
convecção, toda a área externa do tanque menos a área do fundo e a área abaixo da tomada inferior
dos tubos ou radiadores. Também é área de convecção toda a área externa dos radiadores ou tubos de
refrigeração.
Como área de radiação do calor conta-se somente a área da caixa não coberta com tubos ou
radiadores.
A elevação de temperatura média das paredes do tanque e dos radiadores é inferior à do óleo, pois,
junto à parede interna tem-se uma troca de calor por convecção (óleo mais quente e parede mais fria) e,
na própria parede tem-se uma queda de temperatura por condução, embora insignificante, conforme fig.
12.5.
O salto de temperatura Δθop será, pois, dado pela expressão 12.2 em que αco é dado pela expressão
11.23 fazendo-se θ1 = 20 + 45 = 65 º C, sendo 20º C para a temperatura ambiente e 45º C para a
temperatura média do óleo. Resulta, assim, a expressão 12.3.

Walter Ries 168


TRANSFORMADORES

⎛ 1 ε⎞ W 1 W
Δθ op = ⎜⎜⎜ + ⎟⎟⎟ ⋅ ≅ ⋅ [12.2]
⎜⎝ α co λ ⎠⎟ A α co A
α co = 43, 2 ⋅ 4 Δθ op [12.3]

parede
Δθop Condução

Convecção óleo-parede
óleo ar Δθpa
Convecção parede-ar
θa
Fig. 12.5: Diagrama das temperaturas na
transmissão do calor pela parede da caixa
do transformador

A dissipação específica se obtém da expressão 12.1 fazendo Ar / A = 1, conforme mostra a


expressão 12.4.

W
= (2, 5 ⋅ 4 Δθ pa + 2, 65 ⋅ 4 Δθ pa ) ⋅ Δθ pa [12.4]
A

Substituindo as expressões 12.3 e 12.4 na expressão 12.2, pode-se obter a relação entre os saltos de
temperatura Δθop e Δθpa , conforme mostra a expressão 12.5.

0,8
(2, 5 + 2, 65) Δθ1,25 ⎛ 5,15 ⎞⎟
= ⎜⎜
pa
Δθ op = ⎟ Δθ pa = 0,182 ⋅ Δθ pa [12.5]
0,25
43, 2 ⋅ Δθ op ⎝⎜ 43, 2 ⎠⎟

Como conseqüência, pode-se determinar os saltos de temperatura Δθop e Δθpa em função do salto de
temperatura entre o óleo médio na altura h2 dos radiadores e o ar dado pela expressão 12.6.
Δθ 02 = Δθ pa + Δθ op [12.6]

Das expressões 12.5 e 12.6 resultam as expressões 12.7 e 12.8 para os saltos de temperatura entre o
óleo médio e a parede e entre a parede e o ar ambiente externo.

Δθ pa = 0, 845 ⋅ Δθ 02 [12.7]
Δθ op = 0,154 ⋅ Δθ 02 [12.8]

Conforme visto pela expressão 11.5 o salto de temperatura do óleo médio para a altura h2 dos
radiadores é igual a 0,87........0,91 do salto de temperatura do óleo de topo. Para transformadores sem
conservador de óleo o salto de temperatura do óleo de topo deve ser no máximo 50° C e para
transformadores com conservador, 55° C. Deste modo pode-se ter uma boa avaliação do salto de
temperatura Δθ02 e pelas expressões 12.7 e 12.8 é possível determinar os saltos de temperatura entre a
parede do transformador e o ambiente e entre óleo médio e parede interna do transformador que
correspondem às duas transmissões de calor por convecção entre o óleo médio e o ambiente externo.
A dissipação específica do calor das paredes lisas da caixa, portanto não cobertas, para o ambiente é
dada pela expressão 12.1 que neste caso resulta na expressão 12.9.

Walter Ries 169


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W
= (2, 5 + 2, 65) 4 Δθ pa ⋅ Δθ pa watts/m 2 [12.9]
A

O quadro da fig. 12.6 fornece os valores máximos aproximados, dos diversos saltos de temperatura
que devem ser atingidos no projeto térmico do transformador.
Óleo de topo Δθ 0 500 C 550 C [Normalizado]
Óleo médio (h 2 ) Δθ 02 450 C 500 C [Expr.11.5]
0 0
Caixa - ambiente Δθ pa 38 C 42 C [Expr.12.7]
Óleo médio - caixa Δθ op 70 C 80 C [Expr.12.8]
W
Dissipação específica 490 W/m 2 560 W/m 2 [Expr.12.9]
A
Fig. 12.6: Valores aproximados dos diversos saltos de temperatura e dissipação específica
das paredes livres da caixa em função do salto de temperatura do óleo de topo

Entende-se por refrigeração natural quando o óleo circula, no interior da caixa e nos radiadores, pelo
efeito termo-sifão e o ar nos radiadores circula naturalmente sem ventilação forçada. Se o ar que circula
pelos radiadores e pela superfície livre da caixa for forçado, aumenta a dissipação especifica da caixa e
dos radiadores. De mesmo modo, se a circulação do óleo no interior da caixa for forçada, aumenta a
dissipação específica do calor dos condutores para o óleo.
12.1.1 – Dissipação de calor por tubos.
Este tipo de refrigeração é usado normalmente em transformadores de distribuição, de pequena
potência, conforme fig. 12.6. São usados tubos de aço sem costura, de 1 pol a 2 pol de diâmetro, com
espessuras de parede de 1/8 pol a ¼ pol, conforme especificado na fig. 12,7.

Câmara de expansão

t
Nivel de óleo
na temperatura Diâmetro Diâmetro Espessura Pêso
t inter, (pol,) exter. (mm) parede mm kgf/m
ambiente
1 33,50 3,25 2,42
1,25 42,25 3,25 3,13
1,5 48,25 3,5 3,86
2 60,00 3,76 5,20

Fig. 12.6: Transformador com refrigeração


natural e radiadores tubulares. Fig. 12.7: Tubos de aço baixo carbono
Afastamento entre tubos: sem costura segundo normas DIN
t=(20 a 30) mm + Diâm. Externo

Baseados em cálculos teóricos e determinações em laboratório, foi desenvolvido formulário e


tabelas que podem ser utilizado no cálculo da dissipação do calor em tanques com radiadores tubulares
conforme mostra a figura 12.6. Assim, a dissipação específica pode ser dada pela expressão 12.10 em
que:
A = área coberta por tubos mais a ares dos próprios tubos em m²
W = perdas totais do transformador em watts
kh = fator dado pela tabela da fig. 12.8 e que depende da altura h1 dos enrolamentos e da altura h2
dos radiadores.

Walter Ries 170


TRANSFORMADORES

kθ = fator de temperatura dado pela tabela da figura 12.9. Para Δθmax = 50°C tem-se kθ = 1.
w1 = dissipação específica da caixa e tubos para Δθmax = 50°C e h1/h2 < 0,4. Este valor é dado pela
tabela da figura 12.10 em função da altura h2 dos radiadores e do número de filas de tubos.

W
= w1 ⋅ k h ⋅ k θ [12.10]
A

Δθmax hθ
(h2 - h1) / 2 kh °C
mm 30 0,53
100 0,850 35 0,64
150 0,874 40 0,75
200 0,900 45 0,88
50 1
250 0,920
55 1,14
300 0,937
350 0,952 Fig. 12.9: Valores de kθ
400 0,965
450 0,975 h2 0,7 1,0 1,5 2,0
500 0,985 nº de filas m m m m
550 0,992 1 510 487 460 438
600 0,992 2 460 442 417 396
3 420 406 384 365
Fig. 12.8: Valores de kh 4 380 366 347 332
5 348 335 316 300

Fig. 12.10: Valores de w1 em watts/m²


A dissipação na tampa e nas paredes do tanque não cobertas pelos tubos deve ser calculada
separadamente, isto é: para tampa não banhada pelo óleo tem-se a expressão 12.11 e para o tanque tem-se
a expressão 12.12, sendo Δθ = elevação média de temperatura das paredes.

W
≅ 250 w/m 2 [12.11]
A
W
= (α ca + α r ) Δθ w/m 2 [12.12]
A

Na fig. 12.6 pode-se observar que os transformadores sem conservador de óleo, portanto selados,
necessitam de uma câmara de expansão para compensar o aumento de volume do óleo com a temperatura.
O nível de óleo na temperatura ambiente deve passar pelas tomadas superiores de óleo dos radiadores.

12.1.2 –Dissipação de calor em tanques ondulados


Circunferência de radiação
t

Fig. 12.11: Tanques construidos com chapa ondulada

A fig. 11.11 mostra a secção de um tanque construído com chapa ondulada. Este tipo construtivo
tinha sido abandonado e voltou a ser largamente utilizado com o avanço de novas tecnologias de

Walter Ries 171


TRANSFORMADORES

fabricação. As ondulações aumentam a superfície de convecção de calor e ao mesmo tempo conferem à


caixa uma boa estabilidade mecânica. A flexibilidade da caixa permite o aumento do volume interno pela
dilatação do óleo com o aumento da temperatura. Deste modo o tanque pode ser inteiramente preenchido
com óleo sem necessidade de manter uma câmara de ar para expansão. Este tipo construtivo é utilizado
em transformadores de distribuição, selados, sem conservador, mas também pode ser utilizado em
transformadores com conservador onde o óleo se expande.
A distância “t” entre ondulações deve ser suficiente para permitir uma convecção eficiente, isto é, o
espaço livre entre duas faces consecutivas de ondulações deve ser de, no mínimo cerca de 30 mm e a
espessura do canal de óleo na ondulação, deve ser de 11 a 13 mm.
A dissipação específica da caixa do transformador é dada pela expressão 12.13 e a relação “Ar / A” é
a relação entre a circunferência de radiação (linha tracejada da fig. 11.11) e o perímetro real da caixa.

W ⎛⎜ A ⎞
= ⎜2, 5 × 4 Δθ pa + 2, 65 ⋅ 4 Δθ pa ⋅ r ⎟⎟⎟ Δθ pa [12.13]
A ⎝ A⎠

12.1.3 –Dissipação de calor por radiadores de chapa


Os radiadores construídos com chapas dobradas em forma de “favos” são padronizados pelos
fabricantes e apresentam uma forma como mostra a fig. 12.12. A espessura dos “favos”, portanto dos
canais de óleo, é relativamente pequena, da ordem de 11 a 13 mm, pois, como foi visto na transmissão de
calor por convecção, a película de óleo atuante na refrigeração é pequena. Na refrigeração por tubos de
diâmetro elevado (1,5 a 2 polegadas), o óleo na parte central do tubo não é refrigerado. Ademais, um
canal retangular de pequena espessura possui, em relação à secção, uma superfície externa de refrigeração
maior do que a seção circular. Esta é uma vantagem importante dos radiadores de chapa sobre os
radiadores tubulares.
b a c
Tubo coletor

Favo

h2

óleo

Secção de um Favo do
Fig. 12.12: Radiadores de chapa em forma de favos.
Normalmente a largura “b” dos elementos dos radiadores é de 230 e 460 mm e a altura “h2” varia de
500 a 3.000 mm. O número de “favos” normalmente não ultrapasse de 20, pois, a partir deste número a
eficiência de dissipação é pequena. A distância “c” entre “favos” deve permitir uma boa transferência de

Walter Ries 172


TRANSFORMADORES

calor por convecção para o ar ambiente. Normalmente tem-se: c = 50 mm para elementos ou favos de 230
mm e c = 55 mm para elementos de 460 mm.
A fig. 12.13 mostra a colocação dos radiadores nos tanques. Normalmente entre os tubos coletores e
a caixa coloca-se um registro que permite, quando fechado, retirar o radiador sem necessidade de tirar
todo o óleo da caixa do transformador. Nesta figura identifica-se: E = número de elementos do radiador; b
= largura do elemento; h2 = altura do elemento; ε = espessura do elemento; c = afastamento dos
elementos.

Tanque do transformador

Válvula
borboleta a

ε
(E-1)c+ε
c

d b

Fig. 12.13: Colocação dos radiadores tipo Favo.

Sendo estes radiadores padronizados, os fabricantes normalmente fornecem tabelas dando:


• Dissipação por elemento em função da altura “h2” e da elevação de temperatura do óleo no topo
“Δθ0”
• Fatores corretivos para levar em conta: o valor da temperatura média da parede dos radiadores em
função da temperatura do óleo; a variação do número de elementos de um radiador; a distância
entre radiadores contíguos.
• Pesos e volume de óleo dos radiadores.
• Características dimensionais de construção e montagem.
No cálculo da dissipação de calor dos radiadores deve-se conhecer o valor da temperatura média das
paredes “Δθpa” e, portanto, a dissipação específica é dada pela expressão 12.14.

W ⎛⎜ A ⎞
= ⎜α car + α r r ⎟⎟⎟ Δθ pa [12.14]
A ⎝ A⎠

No caso da convecção em radiadores o fluxo de ar refrigerante entre elementos se realiza,


aproximadamente, em regime lamelar. A temperatura do ar aumenta a medida que sobe e o coeficiente de
convecção “αcar” passa a ser uma função de “h2-x”. Para o regime lamelar perfeito tem-se x = 0,25, isto é,
o coeficiente de convecção varia com o inverso da raiz quarta da altura do radiador. No caso de x < 0,25 o
coeficiente de convecção é dado pela expressão 12.15, sendo “Δθpa” a elevação média de temperatura das
paredes dos radiadores em relação ao ar ambiental. O coeficiente “x” é determinado experimentalmente.

α car = K ⋅ h -x2 ⋅ Δθ 0.25


pa [12.15]

Os valores das constantes “K” e “x” da expressão 12.15, para radiadores conforme a fig. 12.12 são
dados pela tabela da fig. 12.14.

Walter Ries 173


TRANSFORMADORES

Radiadores
Largura b
mm K x
230 2,7 0,175
460 2,5 0,175
Fig. 12.14: Valores das constantes K e x

O coeficiente de radiação é dado pela expressão 12.16. A área equivalente de radiação depende do
afastamento “d”, fig. 12.13, entre radiadores e do numero de elementos “E” do radiador

α r ≅ 2, 65× 4 Δθ [12.16]

A área “Ar” de radiação é dada pela soma das seguintes áreas:


• Área externa lateral: dh2
• Área superior e inferior: d[(E-1)c + ε + a]
• Área lateral dos radiadores externos: h2[(E-1)c +ε +a)]2 / número de radiadores.

A área do tanque coberta pelo radiador não é considerada área de radiação, pois encontra em frente
uma área do radiador com igual temperatura.
A área “A” de convecção do radiador é dada pela expressão 12.17 em que “A1” é a área de um
elemento dada pelas expressões 12.18 e 12.19.
A = A1 ⋅ E [12.17]
A1 ≅ 0, 52 ⋅ h 2 para b = 230 mm [12.18]
A1 ≅ 0, 97 ⋅ h 2 para b = 460 mm [12.19]

Exemplo: radiador tipo b = 230 mm; E = 10; c = 0,05 m; ε = 0, 015 m; a = 0,1 m; h2 = 1,5 m; d = 0,5
m; número de radiadores = 5.
Ar: dh2 = 0,5 * 1,5 = .........................................................................................................0,75 m2

d[(E-1)c + ε + a]*2 = 0,5[9 * 0,05 + 0,015 + 0,1] * 2 =.............................................0,57 m2


h2[(E-1)c +ε +a)]2 / número de radiadores = 1,5[9 * 0,05 + 0,015 + 0,1] *2 / 5 = ....0,34 m2
1,66 m2
A : A1* E = 10 * 0,52 * 1,5 =............................................................................................7,80 m2
Portanto: Ar / A = 0,21

Nos radiadores é pequena a parcela de calor dissipado por radiação. A grande parte do calor
dissipado se realiza por convecção
Substituindo o coeficiente de convecção da expressão 12.15 e o coeficiente de radiação da expressão
12.16 na expressão 12.14, obtém-se a dissipação específica dos radiadores em função da temperatura
média das paredes, conforme expressão 12.20 em que as constantes “K” e “x” são dadas pela tabela da
fig.12.14 para radiadores conforme figura 12.12.

W ⎜⎛ A r ⎟⎞
= ⎜K ⋅ h -x
2 + 2, 65 ⋅
1,25
⎟ ⋅ Δθ pa [12.20]
A ⎝ A ⎠⎟

Walter Ries 174


TRANSFORMADORES

As áreas descobertas do tanque, isto é, onde não tem radiadores, dissipam o calor segundo a
expressão 12.14 ou 12.13 com “Ar / A = 1” e “Kh-x = 2,50” ou seja, segundo a expressão 12.21.

W
= (2, 50 + 2, 65) Δθ1,25
pa [12.21]
A

O salto médio de temperatura das paredes deve ser dado em função do salto de temperatura do óleo
de topo que é normalizado em 50°C para transformadores sem conservador de óleo e em 55° C para
transformadores com conservador.
Segundo a expressão 11.23 o coeficiente de convecção para o óleo médio referido à altura “h2” dos
radiadores é dado pela expressão 12.22 em que “Δθop” é o salto de temperatura entre o óleo médio e a
parede e “θ02” é a temperatura média do óleo referido à altura “h2”, isto é: θ02 = Δθ02 + θa

θ 02
α co ≅ 38 ⋅ 4 Δθ op ⋅ w/m 2 × °C [12.22]
50

Portanto, da expressão 12.2 e 12.22 pode-se escrever a expressão 12.23.

W Δθ 02 + θ a Δθ 02 + θ a
≅ 38 ⋅ 4 Δθ ⋅ ⋅ Δθ op = 38 ⋅ ⋅ Δθ1,25
op [12.23]
A 50 50

Igualando as expressões 12.20 e 12.23 determina-se a relação entre o salto de temperatura do óleo
médio e a parede interna da caixa e dos radiadores e o salto de temperatura da parede externa e o
ambiente. Resulta, assim, a expressão 12.24 que poderá ser determinada se for conhecida a relação entre
os saltos de temperatura do óleo médio “Δθ02” referido à altura “h2” dos radiadores e do óleo de topo
“Δθo”.
0,8
⎛ ⎞
⎜⎜ K ⋅ h -x + 2, 65 A r ⎟⎟
Δθ op ⎜⎜ ⎟
A ⎟⎟⎟
2
= ⎜⎜ [12.23]
Δθ pa ⎜⎜ θ a + Δθ 02 ⎟⎟⎟
⎜⎜ 38 ⎟
⎝ 50 ⎠⎟

Da expressão 12.6 pode ser determinada a relação entre o salto de temperatura da parede para o
ambiente “Δθpa” e o salto de temperatura “Δθ02” do óleo médio referido à altura “h2”, conforme mostra a
expressão 12.24.

Δθ 02 Δθ op Δθ pa 1
= 1+ ou k0 = = [12.24]
Δθ pa Δθ pa Δθ 02 Δθ op
1+
Δθ pa
Δθ 01
k1 = [12.25]
Δθ 0
Δθ 02
k2 = [12.26]
Δθ 0
Δθ pa
= k0 ⋅ k2 = k [12.27 ]
Δθ 0

As relações entre as temperaturas médias do óleo referidas às alturas “h1” das bobinas e “h2” dos
radiadores são dadas pelas expressões 12.25 e 12.26 que são funções da relação “h1 / h2”. As constantes
“k1” e “k2” são obtidas experimentalmente. A constante “k0” pode ser obtida da expressão 12.23 na qual
“Δθ02” é obtido através da expressão 12,26. A relação, entre os gradientes “Δθpa” e “Δθ0”, é dada pela
expressão 12.27.

Walter Ries 175


TRANSFORMADORES

A tabela da fig. 12.15 dá os valores das constantes para os radiadores padronizados segundo fig.
12.12

h1 / h2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7


k1 0,815 0,800 0,775 0,715 0,610
ko 0,920 0,920 0,920 0,920 0,920
k2 0,930 0,910 0,885 0,840 0,765
k = ko.k2 0,860 0,840 0,810 0,770 0,700
Fig. 12.15: Valores das constantes k1, k2 , ko, k

Aplicando as diversas constantes para os radiadores padronizados da fig. 12.12 resultam as


expressões 12.28 para a dissipação específica dos radiadores com b = 230 mm e a expressão 12.29 para os
radiadores com b = 460 mm. A dissipação específica para as demais áreas da caixa do transformador é
dada pela expressão 12.30, derivada da expressão 12.21. Com estas expressões as dissipações específicas
dos radiadores e demais áreas da caixa são dadas em função da temperatura do óleo de topo que é
padronizada pelas Normas Técnicas.

W ⎛⎜ A ⎞
+ 2, 65 r ⎟⎟⎟ (k ⋅ Δθ 0 )
1,25
= ⎜2, 7 × h -0,175 [12.28]
A ⎝ 2
A ⎠
W ⎛⎜ A ⎞
+ 2, 65 r ⎟⎟⎟ (k ⋅ Δθ 0 )
1,25
= ⎜2, 5 × h -0,175 [12.29]
A ⎝ 2
A ⎠

W 1,25
= (2, 50 + 2, 65)(k ⋅ Δθ 0 ) [12.30]
A

A constante “k1” é utilizada para determinar o salto térmico entre os condutores e o ar ambiente ou
outro meio considerado para o fluido ambiental, tal como a água nos radiadores refrigerados com este
líquido ou qualquer outro gás ou fluído que venha servir como meio refrigerante externo. Resulta assim, a
expressão 12.31 para o salto de temperatura dos condutores contra o meio ambiente externo em função da
temperatura do óleo de topo.
Δθ ca = Δθ C01 + Δθ 01 = Δθ C01 + k1 ⋅ Δθ 0 [12.31]

Segundo as Normas Técnicas para Transformadores de Força o salto de temperatura do condutor em


relação ao ambiente deve ser de 55°C quando o papel Kraft de isolamento dos condutores não for termo-
estabilizado e, de 65°C quando se faz uso de papel termo-estabilizado.
Como se pode observar na figura 11.21 o salto de temperatura “ΔθC01” é calculado em função da
temperatura média dos condutores. A temperatura máxima dos condutores pode ser um pouco maior e é
onde se localiza o ponto quente dos enrolamentos, na parte superior das bobinas. A temperatura deste
ponto é praticamente impossível de ser medida, direta ou indiretamente, porém pode ser avaliada por
cálculo conforme mostram as expressões 11.38 e 11.39;
Se o salto de temperatura dos condutores, calculado pela expressão 12.31, for maior do que aquele
especificado por Norma, tem-se dois caminhos a seguir: ou refazer o projeto das bobinas trabalhando com
menores densidades de corrente, ou aumentar a refrigeração com radiadores a fim de diminuir a
temperatura do óleo de topo. Para pequenos ajustes é usual optar pela segunda solução.

12.2 – Refrigeração forçada


Com o aumento da velocidade do ar refrigerante aumenta a capacidade de dissipação, por
convecção, das paredes do tanque e dos radiadores. Na convecção natural as velocidades do ar de
refrigeração, normalmente, não ultrapassam a 1 m/s e depende da altura da parede se o fluido refrigerante
permanecer limitado entre paredes como nos radiadores de chapa. Neste caso, a velocidade do fluido é
dada, com boa precisão, pela expressão 12.32.

Walter Ries 176


TRANSFORMADORES

v = 0, 7 h 2 [12.32]

Na refrigeração forçada de radiadores por meio de ventiladores, dificilmente se consegue índices de


aumento de dissipação maiores do que:
80 a 90% com radiadores de 230 mm de largura e
120 a 150% com radiadores de 460 mm de largura.
Estes índices correspondem a um aumento de potência do transformador, em relação à potência com
convecção natural, de:
33 a 38% com radiadores de 230 mm de largura e
48 a 58 % com radiadores de 460 mm de largura.
À medida que crescem as potências unitárias dos transformadores, deve-se melhorar a sua
refrigeração, pois, enquanto o volume e o peso das unidades crescem com o cubo das dimensões lineares,
as áreas de dissipação de calor aumentam somente com o quadrado das dimensões lineares.
A fig. 12.16 mostra esquematicamente a refrigeração forçada de ar através de ventiladores que
podem ser instalados lateralmente ou abaixo dos radiadores. A instalação abaixo dos radiadores é mais
eficiente uma vez que o ar é forçado na mesma direção da circulação natural.
A refrigeração pode ser aumentada ainda mais fazendo uma circulação forçada do óleo através dos
enrolamentos de radiadores conforme mostra a fig. 12.17. A instalação de radiadores, ventiladores e
bomba de óleo numa única unidade compacta recebe o nome de “Aerotermo”.
Uma unidade mais compacta ainda devido a sua alta capacidade de dissipação de calor é a que
mostra a fig. 12.18 em que o óleo é refrigerado por água com circulação também forçada. Estas unidades
são especialmente usadas em locais pouco ventilados e acanhados.

conservador
silica gel

ventiladres
laterais

radiadores

ventiladores
Fig. 12.16: Refrigeração natural de óleo e forçada de ar - ONAF

conservador
silica gel

ventiladres
laterais

radiadores
B ventiladores

bomba óleo
Fig. 12.17: Refrigeração forçada de óleo e ar - OFAF

Walter Ries 177


TRANSFORMADORES

BA
BO água

bomba
bomba d´água
óleo

Fig. 12.18: Refrigeração forçada de óleo e forçada de água - OFWF

12.3 – Comportamento térmico do transformador às sobrecargas


Um transformador pode suportar sobrecargas por períodos de tempo que dependem do valor da carga
prévia e do valor da sobrecarga que se segue, sem que ocorram elevações de temperatura acima dos
normas. Podem ser admitidas elevações transitórias de temperatura de 10° C desde que esta
transitoriedade não seja muito freqüente. Segundo V. M. Montsinger a vida média do isolamento do
transformador cai para a metade para cada 8° C de aumento da temperatura acima dos valores normais
especificados por Normas. Isto, naturalmente, é válido para uma elevação permanente da temperatura dos
enrolamentos.
Pode-se obter bons resultados na determinação das temperaturas com sobrecargas através das
“Curvas teóricas de aquecimento e esfriamento”, imaginando o transformador como uma fonte de calor
(perdas do transformador) aquecendo as diversas massas (núcleo, enrolamentos, isolantes, óleo, tanque,
etc.) e sendo resfriado externamente conforme esquematizado na fig. 12.19 em que:
W = potência de perdas do transformador (watts)
θ θa
A = superfície externa de resfriamento (m²)
massa (M) M = Massa dos componentes do transformador (kg)
σMdθ αA(θ-θa)dt
σ = calor específico dos componentes (j / kg . °C)
σM = energia por °C armazenada nas diferentes
partes wdt

α = coeficiente de dissipação do calor (W / m² . °C)


por
convecção e radiação
θ = Temperatura das massas no instante “t”
θ0 = temperatura das massas no instante “t = 0”
Fig. 12.19: Equivalente térmico
do transformador θa = temperatura ambiente.
No intervalo de tempo “dt” a energia calorífica das perdas totais do transformador é “Wdt” que é
parcialmente absorvida pelas massas com um valor de “σMd(Δθ)”, sendo d(Δθ) o aumento de
temperatura das massas no intervalo de tempo “dt”, e, parcialmente é dissipada pela superfície externa
com um valor de “αA(Δθ)dt”, resultando na expressão 12.33 ou 12.34.

Wdt = σMd (Δθ) + αA (Δθ) dt [12.33]


d (Δθ ) αA W
+ (Δθ) = [12.34]
dt σM σM

Walter Ries 178


TRANSFORMADORES

A solução da equação diferencial da expressão 12.34 é dada pela expressão 12.35 em que as
constantes “K1” e “K2” são determinadas pelas condições iniciais e finais.

αA
− t
Δθ = K1ε σM + K2 [12.35]

Assim, para t = infinito em que o transformador está em regime permanente, não existe mais variação
do salto de temperatura “Δθ”, isto é, a sua derivada em relação ao tempo é nula, “d(Δθ)/dt = 0”, e o valor
da temperatura atinge um valor final constante “ΔθF = K2” dado pela expressão 12.35. Colocando este
valor da temperatura final na expressão 12.34 para t = infinito, resulta a expressão 12.36 para o
coeficiente “K2” e a expressão 12.36 para o salto de temperatura das massas.

W
Δθ F = K 2 = [12.36]
αA
αA

σM
t W
Δθ = K1ε + [12.37]
αA

Para o instante inicial (t = 0) o salto de temperatura das massas pode ser zero se as massas estiverem
na mesma temperatura do ambiente externo ou pode ser uma temperatura inicial dada por “Δθi”. Assim,
da expressão 12.37 se obtém a expressão 12.38 para t = 0 e a constante “K1” é dada pela expressão 12.39.

W
Δθi = K1 + [12.38]
αA
W
K1 = Δθi - [12.39]
αA

Substituído o valor de “K1” na expressão 12.37 obtém-se a expressão geral 12.40 do salto de
temperatura das massas em função do tempo para uma potência térmica “W watts” em que a constante de
tempo é dada pela expressão 12.41 resultado, assim, a expressão 12.43.

W ⎛⎜ αA ⎞ αA ⎛ αA ⎞ αA
⎜⎜1 - ε σM ⎟⎟⎟ + Δθi × ε σM = Δθ F ⎜⎜⎜1 - ε σM ⎟⎟⎟ + Δθi × ε σM
− t − t − t − t
Δθ = [12.40]
αA ⎝ ⎜ ⎟
⎠ ⎜
⎝ ⎟

σM
T= [12.41]
αA
⎛ − ⎞
t

t
Δθ = Δθ F ⎜⎜1 - ε T ⎟⎟⎟ + Δθ i ⋅ ε T [12.42]
⎝⎜ ⎠⎟

O valor da derivada da expressão 12.42 para o instante t = 0 e considerando Δθi = 0, isto é, θi = θa


resulta na expressão 12.43 que mostra que o gradiente inicial de temperatura é igual às perdas do
transformador por kg de massa total dividido pelo calor específico médio das massas.

dθ ⎤ Δθ F W
αA W
⎥ = = = [12.43]
dt ⎥⎦ t =0 T σM
αA σM

Walter Ries 179


TRANSFORMADORES

θF = 1
0,9
aquecimento
0,8
0,7
0,6 θ = 0, 63
0/1 0,5
0,4
θ = 0, 37
0,3
0,2
resfriamento
0,1
θi = 0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6
T horas
Fig. 12.20: Curvas de aquecimento e resfriamento de transformadores

Para a determinação da curva de resfriamento, parte-se da expressão 12.33 em que, não existindo
fonte de calor, resulta a expressão 12.44 de onde se obtém a expressão diferencial 12.45. A solução desta
equação é igual à expressão 12.35 em que “K2 = 0” e “K1” é igual ao salto de temperatura final da fase de
aquecimento, isto é: Δθi (do resfriamento) = ΔθF (do aquecimento). Resulta, assim, a curva de
resfriamento dada pela expressão 12.46.
σMd(Δθ) + αA(Δθ)dt = 0 [12.44]
d(Δθ) αA
+ (Δθ) = 0 [12.45]
dt σM
t

Δθ = Δθi ⋅ ε T
[12.46]

As curvas da fig.12.20 foram construídas para uma constante de tempo t = 1,5 horas. Após 6 horas a
temperatura já atinge a 98% da temperatura final. Normalmente as constantes de tempo de
transformadores de potência permitem atingir, praticamente o valor final de temperatura após 10 a 12
horas de aquecimento. Constantes de tempo maiores exigem um tempo maior de aquecimento para
chegarem à temperatura final que, segundo normas são de 50° C, no óleo de topo, para transformadores
sem conservador e de 55° C para transformadores com conservador. A constante de tempo do
transformador pode ser determinada no ensaio de aquecimento em que se introduzem no transformador,
sob curto-circuito, as perdas totais (nos condutores e no núcleo de ferro) que foram medidas nos ensaios
de determinação de perdas. O tempo necessário para atingir a 63% da sobre temperatura final, determina
a constante de tempo T.

Material σ γ
j / kg.°C kg / m³
Chapa de ferro silício 480 7.650
Chapa de aço 490 7.800
Cobre eletrolítico 390 8.920
Alumínio para condutores 920 2.700
Papel Kraft - sêco 1.200 800
Papel Kraft - sêco e impregnado 1.200 1.000
Presspahn 1.200 1.200
Papelão prensado duro, Weidmann 1.470 1.300
Óleo para transformador 1.900 900

Fig. 12.21: Calores específicos e densidades de materiais


usados em transformadores

A tabela da fig. 12.21 fornece os valores de “σ” e “γ” de materiais empregados em transformadores.

Walter Ries 180


TRANSFORMADORES

A constante de tempo poderá ser muito útil para se prever as temperaturas máxima e mínima de uma
operação intermitente, isto é, uma operação em que o transformador está sob carga durante um tempo “ta”
de aquecimento e sem carga, desligado, durante um tempo “tr” de resfriamento.
A fig. 12;22 mostra a operação de um transformador com intermitências. Os saltos de temperatura
em ordenadas são dados em “per unit” do salto de temperatura final que corresponde à temperatura final
sob carga plena, isto é, com perdas totais nominais. O ciclo de intermitência corresponde a um
aquecimento durante uma hora e meia sob carga nominal e um desligamento durante meia hora, isto é: “ta
= 1,5 h e tr = 0,5 h” o que corresponde a um ciclo de “ta + tr = tc = 2 horas”. As temperaturas são dadas
pela expressão 12.42 em que no inicio o salto de temperatura “Δθi = 0”. A temperatura final do primeiro
aquecimento, dada pela expressão 12.47, passa a ser a temperatura inicial do primeiro resfriamento. A
temperatura final do primeiro resfriamento passa a ser a temperatura inicial do segundo aquecimento e
assim por diante. A temperatura final do aquecimento de ordem “n” é dada pela expressão 12.48.
⎛ − a⎞
t
Δθ1 = ⎜⎜1 - ε T ⎟⎟⎟ [12.47]
⎜⎝ ⎠⎟
− a⎞ ⎛
(n -1)t c ⎞
⎛ t t
− c
2t
− c
3t
− c
Δθ n = ⎜⎜1 - ε T ⎟⎟⎟ ⋅ ⎜⎜⎜1 + ε T + ε T + ε T + ...... + ε T ⎟⎟⎟

[12.48]
⎜⎝ ⎠⎟ ⎝⎜ ⎠⎟

1,2

Δθ aquecimento Δθmáx
1 contínuo

0,8

0/1 0,6
aquecimento
0,4 intermitentte Δθmin

0,2

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
horas

Fig. 12.22: Curvas de aquecimento intermitente de transformadores

A expressão 12.48 mostra que se “n” for suficientemente grande, ela pode representar o salto de
temperatura máximo “Δθmáx” do regime permanente em relação à temperatura máxima do regime
contínuo.
-
O segundo fator da expressão 12.48 é uma progressão geométrica com “n” termos e cuja razão é “ε
tc/T
”, cuja soma dos termos resulta na expressão 12.49. Com esta expressão pode-se determinar o salto de
temperatura, em 0 /1 , após “n” períodos de aquecimento.

⎛ − n⋅t C ⎞⎟
⎛ − a⎞ ⎜⎜⎜ e T - 1⎟⎟
t

Δθ n = ⎜⎜1 - ε T ⎟⋅ ⎟⎟ [12.49]
⎜⎝ ⎟ ⎜ t
⎠⎟ ⎜⎜ − TC ⎟
⎜⎝ e - 1 ⎠⎟⎟
t
− a
1- ε T
Δθ máx = t [12.50]
− C
1- e T

t
− r
Δθ min = Δθ máx ⋅ ε T
[12.51]

Walter Ries 181


TRANSFORMADORES

O salto de temperatura mínimo é dado pela expressão 12.51 que corresponde à temperatura que o
óleo atinge no período de resfriamento imediato a um período de aquecimento já no regime intermitente
estabilizado.

Exemplo T ta tr tc Δθ max Δθ min ΔS%


1 1,5 1,5 0,5 2 0,8584 0,6151 7,9
2 1,5 0,75 0,25 1 0,8086 0,6845 11,2
Fig. 12.23: Exemplos de operação intermitente de transformadores

O quadro da fig. 12.23 mostra dois exemplos de serviço intermitente. O exemplo 1 corresponde ao
da fig. 12.22 e o exemplo 2 corresponde a uma operação em que o transformador fica sob carga durante
45 minutos e fica desligado durante 15 minutos, portanto, com um ciclo de 60 minutos. Os saltos de
temperatura máximo e mínimo foram calculados pelas expressões 12.50 e 12.51.
Vê-se que no serviço intermitente é possível aumentar a potência de carga do transformador sem que
a temperatura do óleo ultrapasse a temperatura de norma. Admitindo que na expressão 12.36 o coeficiente
de “α” de dissipação do calor se mantenha constante, o salto de temperatura final aumenta na proporção
do aumento das perdas totais. Assim, no exemplo 1 o fator de aumento das perdas corresponde a 1/0,8584
= 1,165 e no exemplo 2 o fator é igual a 1/0,8086 = 1,2367. Isto significa que as perdas podem ser
aumentas com estes mesmos fatores. Como as perdas sem carga são constantes, desde que mantida
constante a tensão aplicada ao transformador, o aumento das perdas pode ser feito aumentando as perdas
variáveis que são as perdas nos condutores. As perdas nos condutores aumento com o quadrado da
corrente de carga ao passo que a potência aumenta na proporção do aumento da corrente. Deste modo, o
fator de aumento possível da potência “S=VI” é igual à raiz quadrada do fator de aumento das perdas.
Assim, para o exemplo um tem-se um fator de aumento da potência igual a RAIZ(1,165) = 1,0794 ou seja
um aumento de 7,94% na potência. Para o exemplo 2 corresponderá um aumento de 11,2%. Com este
aumento da potência se garante que em nenhum instante a temperatura máxima ultrapasse a temperatura
de ensaio para o regime contínuo de operação sob plena carga.
Bibliografia.
[1] Rudolf Richter. Elektisvhe Maschinen Band III. Die Transformatoren. Bikhäuser Verlag – 1963
[2] R. Küchler – Die Transformatoren – Springer – Verlag – 1966
[3] M.G.Say – The Performance and Design of Alternating Current Machines – Pitman Paperbacks -

Walter Ries 182


TRANSFORMADORES

13 – ESFORÇOS ELETROMECÂNICOS NOS ENROLAMENTOS


13.1 – Forças produzidas pela interação de correntes e campos magnéticos.
Um tema de grande importância na engenharia elétrica é o da teoria e do cálculo dos esforços
mecânicos sobre condutores com correntes elétricas situados num campo magnético.
A experiência fundamental é a que identifica a força que se exerce sobre um elétron que se desloca
perpendicularmente a um campo magnético. Esta força se exerce numa direção perpendicular ao campo
magnético e à direção de deslocamento do elétron. Como o deslocamento de elétrons num condutor de
corresponde a uma corrente elétrica, a fig. 13.1 mostra como o campo magnético interage com a corrente
elétrica produzindo uma força “f” cuja direção é perpendicular ao plano formado pela direção do campo
magnético e a direção do condutor. Existem diversos métodos para determinar o sentido desta força. Um
método mnemônico muito fácil é o do saca-rolha adicionado ao da figuração de que linhas de fluxo
magnético se comportam como linhas elásticas. O saca-rolha serve para indicar o sentido e direção das
linhas de campo magnético produzidas pela corrente elétrica. Se o avanço do saca-rolha coincide com o
sentido da corrente, então o sentido de giro do saca-rolha determina o sentido do campo magnético
produzido pela corrente. Na fig. 13.1 este campo magnético da corrente se soma, na parte debaixo do
condutor, ao campo magnético existente se subtrai do mesmo na parte de cima do condutor. O
adensamento das linhas do campo magnético na parte de baixo do condutor, imaginadas como sendo
elásticas, produz a força “f” para cima. O valor desta força em Newton (N), para uma corrente elétrica em
Ampère (A) e para um campo magnético dado em Tesla (T) = Weber (W) / m2 é dada pela expressão 13.1
para um comprimento “A” do condutor.

f
i

A B i
e N
f v

Fig. 13.1: Força sobre condutor


num campo magnético Fig. 13.2: Solenoide

Como se observa, houve na realidade a interação de dois campos magnéticos, o campo magnético
com indução B existente e o campo magnético produzido pela corrente elétrica ao redor do condutor.
Um dos processos que pode ser utilizado para a determinação da amplitude e sentido das forças
mecânicas que atuam nos circuitos elétricos é através da variação da energia armazenada no campo
magnético admitindo uma variação da indutância por meio de uma deformação virtual do circuito ou pela
variação do fluxo concatenado devido à aproximação de material ferromagnético. Em qualquer um dos
casos se desenvolve um trabalho mecânico dado por “∫fds” sendo “f” a força e “ds” o deslocamento
elementar. Um exemplo simples de um circuito elétrico é o solenóide da figura 13.2 possuindo uma
indutância “L” e uma resistência “R” na qual está aplicada uma tensão “v”. A equação diferencial que se
estabelece para definir a corrente sendo conhecida a tensão aplicada é a equação bem conhecida dada pela
expressão 13.2 em que “e” é a força contra-eletromotriz induzida na bobina pela variação da corrente. A
indutância “L” é uma constante do circuito, função única das dimensões geométricas da bobina, A
indutância é dada pela relação entre o fluxo concatenado “λ” e a corrente “i” que circula pelo solenóide,
conforme mostra a expressa 13.3.
di
v = e + Ri = L + Ri [13.2]
dt
λ
L= [13.3]
i

Walter Ries 183


TRANSFORMADORES

Multiplicando a expressão 13.2 pela corrente “i”, resulta na expressão 13.4 que é a potência
instantânea entregue ao circuito. Esta potência é utilizada para formar a energia armazenada no campo
magnético e para suprir as perdas em forma de calor na resistência. Como a indutância é constante, a
energia armazenada no campo magnético com a corrente variando de zero ao valor “i” é dada pela
integral da potência entregue pela fonte, conforme mostra a expressão, já muito conhecida, 13.5. A
energia no campo magnético produzido por uma corrente é função do valor da corrente instantânea e da
indutância do circuito.

di
vi = ei + Ri 2 = Li
+ Ri 2 [13.4]
dt
i di 1
Wm = L ∫ i dt = Li 2 joules [13.5]
0 dt 2

Se por um motivo qualquer houver uma variação da indutância do circuito, resultará uma variação da
f.e.m. induzida para manter instantaneamente o valor da corrente. Lembrando que a força eletromotriz
induzida na bobina é dada pela variação do fluxo concatenado em relação ao tempo como mostra a
expressão 13.6, resulta que o aumento de potência da fonte externa será dado pela expressão 13,7 uma
vez que, mantida a corrente constante, não há variação da potência de perdas. A variação da energia a ser
suprida pela fonte externa é dada, portanto pela expressão 13.8.

d (iL) dL
e´= =i [13.6]
dt dt
2 dL
e´i = i [13.7 ]
dt
e´idt = i 2 dL [13.8]

A energia dada pela expressão 13.8 deve suprir: a) o trabalho mecânico produzido pela força
necessária para produzir a variação “dL” da indutância; b) o aumento da energia armazenada no campo
magnético. Estabelece-se, assim, a igualdade dada pela expressão (13.9) em que “f dx” é o trabalho
mecânico para um deslocamento elementar “dx” e “½ dL/dx” é o aumento da energia armazenada no
campo magnético. Esta expressão mostra um fato muito interessante, isto é, a fim de manter a corrente
constante nos circuitos quando há uma variação da indutância, a fonte externa deve desenvolver uma
energia duas vezes maior do que o trabalho mecânico desenvolvido ou duas vezes o valor do aumento da
energia armazenada no campo magnético.

1
i 2 dL = f dx + i 2 dL [13.9]]
2
1 2 dL dWm
f = i = newtons [13.10]
2 dx dx

A força mecânica “f”, em “Newton” é dada pela expressão 13.10 e tem sempre o sentido de
aumentar a indutância do circuito, seja pela deformação mecânica, seja pelo aumento do fluxo
concatenado através de um campo externo, ou seja, pelo aumento da permeância do circuito magnético
devido à aproximação de material ferromagnético.
Assim, observando o solenóide da fig.13.2, existem duas forças capazes de produzir, por
deformação, um aumento da indutância do circuito: a) uma força axial de compressão diminuindo a altura
do solenóide; b) uma força radial aumentando o diâmetro.
O sentido da força no caso da fig. 13.1 também pode ser determinado por este processo se o circuito
elétrico for completado, pois não existe corrente circulando por um condutor sem que se feche o circuito
através de uma fonte de tensão. A fig. 13.3 mostra o caso de um condutor com corrente dentro de um
campo magnético mas com o outro lado da espira, por hipótese, retangular. Na fig. 13.3 (a) o outro lado
da espira foi colocado na parte de cima, fora do campo magnético. Na fig. 13.3 (b), o outro lado foi
colocado abaixo do tudo de fluxo do campo. Na fig. 13.3 (a) a espira deslocando-se para cima aumenta o
fluxo concatenado e, portanto a sua indutância. Na fig. 13.3 (b) a indutância aumenta quando a espira se
desloca também para cima. Na figura 13.3 (c) os dois lados da espira igual à da fig. (a) são colocados

Walter Ries 184


TRANSFORMADORES

dentro do tubo de fluxo do campo. Se a espira estivesse na vertical o campo externo e o campo produzido
pela corrente na espira estariam em oposição e a espira estaria num equilíbrio instável. Um pequeno giro
da espira provocaria um esforço com uma componente tangencial e outra radial nos dois lados de modo
que a espira iria girar até aumentar ao máximo a sua indutância. Este é o princípio dos motores elétricos.

b)
f

f
B
N S N S
B

a) c)

Fig. 13.3: Esforços em condutores com correntes dentro de um campo magnético


bem definido

Em princípio a expressão 13.10 pode servir para o cálculo da força de deformação de um circuito
elétrico percorrido por uma corrente. A tarefa matemática seria determinar a função Wm(x) e calcular a
sua derivada para x = 0. A expressão matemática da energia armazenada num campo magnético é dada
pela equação 13.11.

1 1 1 B2
2 ∫v 2 ∫v 2 ∫V μ
2
Wm = B × H × dV = μ × H × dV = × dV [13.11]

A precisão obtida com a aplicação da expressão 13.11 vai depender da precisão com que se
determina a energia armazenada no campo magnético e a sua variação por deformação do circuito elétrico
nos diferentes pontos do mesmo.
Para determinar a intensidade de campo e a indução num ponto qualquer do circuito, são úteis as leis
de Biot-Savart e de Ampère.
Segundo a Lei de Biot-Savart, a intensidade de campo “dH”num ponto P produzida por um condutor
de comprimento elementar “dl” percorrido por uma corrente “i” é dado pela expressão 13.12, conforme
mostra a fig. 13.4. Para um condutor de comprimento infinito a intensidade de campo H é dada pela
expressão 13.3 que é a integral, de menos infinito a mais infinito, da expressão 13.12. A indução é dada
pela expressão 13.14.

dA sen θ

dA

idlsenθ
θ r dH = 2
N/Wb ou A/m [13.12]
dθ 4πr
i
B

d H
p
π
+∞ i senθ i i
∫ ∫
+
H= 2
dl = 2 2
senθ dθ = [13.13]
Fig. 13.4: Campo magnético produzido -∞
4πr 0
4πd 2πd
por uma corrente num condutor B = μ0H [13.14]
retilínio de comprimento infinito

Walter Ries 185


TRANSFORMADORES

A lei de Ampère estabelece que para qualquer caminho escolhido, que envolve uma corrente elétrica
com intensidade de “i” ampéres, a integral da intensidade de campo por este caminho é igual à corrente
“i”. A expressão 13.15 define a lei de Ampère. Assim, para um condutor com comprimento infinito
percorrido por uma corrente “i” a integral do campo H em torno do condutor num caminho circular de
raio “d” é dado pela expressão 13.16. Resulta assim a expressão 13.17 que dá o mesmo valor obtido pela
aplicação da lei de Biot-Savart (expressão 13.13).

∫v Hds = i [13.15]
2πdH = i [13.16]
i
H= [13.17 ]
2πd

A fig. 13.5 mostra dois condutores em paralelo de comprimento infinito distanciados de “a” metros e
percorridos por correntes com intensidades iguais a “i1” e “i2”. A corrente no condutor (1) produz no
condutor 2 uma indução igual a “B21”, dada pela expressão 13.18 sendo a permeabilidade magnética do
meio (ar) dada pela expressão 13.19.
A força de atração “f” entre condutores, para um comprimento “A” é dada pela expressão 13.20. Se
as correntes “i1” e “i2” estão em sentidos contrários, as forças entre os condutores serão de repulsão.

i1 i2
a
f f
A
A
1 2 B21 i1
B21 = μ 0 (T) [13.18]
B12 2πa
B22 μ 0 = 4π ⋅ 10-7 (H/m) [13.19]
i1 i2
× × 2 ⋅ 10-7 ⋅ i1 ⋅ i 2 ⋅ A
f f f = B21 ⋅ A ⋅ i 2 = (N) [13.20]
a
B11
B2 1
Fig. 13.5: Força entre 2 condutores
percorridos por correntes

Na fig. 13.5 identificam-se as induções próprias e mútuas produzidas pelas duas correntes. Vê-se que
entre os dois condutores os campos são opostos e na parte externas dos mesmos os campos se somam.
Assim, as linhas de fluxo, consideradas elásticas, impulsionariam os dois condutores um contra o outro.
Se as duas correntes estiverem em oposição, haverá uma concentração de campo entre os dois condutores
e uma oposição dos campos nas partes externas dos condutores. O efeito das linhas elásticas do campo
será, pois, de repulsão entre os condutores. Sob o ponto de vista da maximização da indutância, a
indutância dos dois circuitos será máxima quando os dois estiverem juntos. Se as correntes têm sentidos
contrários, então a indutância do conjunto será máxima quando os dois condutores forem repelidos para o
infinito.
O exemplo da fig. 13.5 é um exemplo em que a lei de Ampère, para a determinação do campo
magnético produzido por uma corrente elétrica, é fàcilmente aplicada. Primeiro, porque a permeabilidade
magnética do meio é uniforme e conhecida, segundo, porque o condutor pelo qual passa a corrente é
retilíneo e infinito ou, pelo menos, tem um comprimento muito maior do que a distância ao ponto
considerada. Trata-se de uma figura geométrica de campo muito fácil de ser expresso matematicamente.

Walter Ries 186


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13.2 – Esforços mecânicos nos enrolamentos


As correntes que circulam nos enrolamentos primário e secundário de um transformador têm
sentidos opostos, mas se somam para produzir o fluxo de dispersão. Nos espaços ocupados pelos
enrolamentos existe sempre um fluxo de dispersão com uma indução de dispersão que interage com a
corrente das bobinas produzindo esforços mecânicos entre as mesmas. As figuras que seguem são úteis
para mostrar como agem os esforços mecânicos nas bobinas de um transformador.

Fig. 13.6: Esforços em Fig. 13.7: Esforços em Fig. 13.8: Esforços em


bobinas concêntricas bobinas concêntricas bobinas concêntricas
simétricas e com a simétricas e alturas assimétricas e com
mesma altura diferentes a mesma altura

Fig. 13.9: Esforços em Fig. 13.10: Esforços em


bobinasconcêntricas bobinas
assimétricas e com intercaladas (sandwich)
alturas diferente

Duas bobinas concêntricas de mesma altura e montadas simetricamente se repelem no sentido radial
como mostra a fig. 13.6 em corte radial e axial. Quando existe franjeamento do fluxo nas cabeceiras
existirão também esforços axiais de compressão nas duas bobinas. A fig. 13.7 mostra duas bobinas
concêntricas com alturas diferentes e montadas simetricamente. Na zona central existem somente esforços
de repulsão, mas nas cabeceiras o fluxo de dispersão radial (franjeamento) produz esforços de compressão
iguais e opostos na bobina externa e de distensão iguais e opostos na bobina interna. O esforço resultante
entre bobinas, no entanto é somente de repulsão radial. Quando as bobinas concêntricas são assimétricas
como mostram as figuras 13.8 e 13.9 os esforços axiais são sempre no sentido de aumentar a assimetria.
Isto faz concluir que as bobinas concêntricas simétricas estão num estado de equilíbrio axial instável.
Finalmente, a fig. 13.10 mostra a montagem intercalada de bobinas primárias e secundárias. Neste caso o
fluxo de dispersão principal é radial, principalmente com bobinas simétricas e os esforços axiais são de
repulsão. As bobinas de cabeceira, superior e inferior, são repelidas e necessitam ser prensadas.

Walter Ries 187


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a) b)

Fig. 13.11: Fluxo disperso nas cabeceiras das bobinas conforme B. Hague [5]
a) bobinas concêntricas simétricas com alturas iguais
b) bobinas simétricas com alturas diferentes.
campos no corte 1-1 campos no corte 2-2
y
1 2

axial axial

radial radial

Hx Hy x Hy Hx
1 2

Fig. 13.12: Distribuição do campo axial e radial (transversal) ao longo dos


enrolamentos concêntricos, simétricos e alturas iguais (segundo R.Küchler [3])

A fig. 13.11 mostra como se desenvolvem as linhas de fluxo ou de campo magnético nas cabeceiras
produzindo componentes radiais ou transversais de campo. Na fig. 13.11 (a) têm-se duas bobinas
concêntricas simétricas de mesma altura. A fig. 13.12 mostra, para este caso, como se distribui ao longo
da altura das bobinas, as intensidades de campo axiais e radiais. Na fig. 11(b) as bobinas são simétricas,
porém com alturas diferentes. Pode-se ver claramente a influência da proximidade do núcleo na direção e
sentido do campo nas cabeceiras. Nas fig. 13.11 (a) e 13.12, que correspondem a montagem da fig. 13.6,
o fluxo transversal na cabeceira da bobina junto ao núcleo é maior do que na cabeceira da bobina externa
e aparecerão esforços axiais de compressão nas duas bobinas, maiores na bobina interna e menores na
bobina externa. Na fig. 13.11 (b) o fluxo transversal na cabeceira da bobina interna chega a mudar de
sentido o que caracteriza a geração de um esforço axial de distensão nas cabeceiras desta bobina. Nas
cabeceiras da bobina externa a componente transversal do fluxo de dispersão permanece com o mesmo
sentido porem com uma intensidade maior aumentando o esforço axial de compressão nesta bobina. A
fig. 13.7 que corresponde a este arranjo de montagem mostra o sentido dos esforços sobre as bobinas.
Deve-se ainda observar que a fig. 13.11 corresponde a um corte feito na janela da fase central de um
transformador trifásico do tipo núcleo envolvido. Um outro corte feito a 90° mostraria uma dispersão
bastante diferente, principalmente nas cabeceiras da bobina externa. Este campo de dispersão de cabeceira
tem figuras geométricas muito complexas oriundas da aproximação do núcleo e das culatras com

Walter Ries 188


TRANSFORMADORES

distâncias e formas diferentes num giro completo ao redor das bobinas de uma fase. Este problema já foi
visto no cálculo da reatância de dispersão onde o fator de Rogowski introduzido transforma a figura
geométrica complexa do campo numa figura geométrica cilíndrica que pode ser tratada com expressões
matemáticas bem mais simples. Estas simplificações poderão introduzir erros no cálculo das reatâncias e
dos esforços produzidos pelos campos magnéticos de dispersão. Para o cálculo das reatâncias estas
simplificações são aceitáveis dentro dos critérios usuais de projeto. Os esforços mecânicos nos
enrolamentos sob correntes de operação nominais são relativamente pequenos. No entanto, sob condições
de curto-circuito e especialmente num curto-circuito assimétrico, os esforços mecânicos, que são
proporcionais ao quadrado da corrente, são enormes e destrutivos se não forem convenientemente levados
em consideração no projeto mecânico de fixação das bobinas.
Sob condições de curto-circuito nas linhas ou cabos ligados ao secundário do transformador, a
impedância de curto-circuito depende fundamentalmente da impedância de dispersão do próprio
transformador. As fontes que alimentam os transformadores possuem impedâncias de curto-circuito muito
menores do que os transformadores. Assim, praticamente se pode considerar, no curto-circuito, somente a
impedância do transformador.
Se a potência do transformador, com “n” fases, é “S”, a tensão de linha é “V” e a impedância
percentual é “Z%”, pode-se determinar a impedância por fase em ohms pela expressão 13.21. A corrente
eficaz de curto-circuito por fase é dada pela expressão 13.22 e o seu valor de pico pela expressão 13.23.
Se o curto-circuito se realiza quando a tensão está passando pelo valor zero então a resposta do sistema é
dada pela expressão 13.24 que está representada, graficamente, na fig. 13.8..

I máx.
2
0/1 de I cc

0
0 360 720 1080 1440 1800 2160 2520 2880 3240 3600

-1

-2
graus

Fig. 13.13: Corrente de curto-circuto assimétrico num transformador

V 2 Z%
Z= ⋅ (Ω) [13.21]
S 100
V 100
Icc = fase = I nom (A) [13.22]
Z Z%
Iocc = 2 Icc (A) [13.23]
⎡ −θ ⎤
i= 2 Icc ⎢ ε ωT - cos(θ)⎥ [13.24]
⎢ ⎥
⎣ ⎦

θ θ⋅R R%
− − −θ
como ε ωT
=ε ω⋅L
=ε X%
resulta;
⎡ − θ R% ⎤
i= 2 Icc ⎢ ε X% - cos(θ)⎥ [13.25]
⎢ ⎥
⎣ ⎦
⎡ − π R% ⎤
I máx = 2 Icc ⎢ ε X% + 1⎥ [13.26]
⎢ ⎥
⎣ ⎦

Walter Ries 189


TRANSFORMADORES

A expressão 13.25 mostra o valor da corrente instantânea em função da resistência e da reatância


percentual do transformador. A resistência percentual é igual à perda percentual nos condutores e a
reatância percentual é praticamente igual à impedância percentual. Assim, se a perda percentual nos
condutores for de 0,3% da potência nominal e a impedância percentual for de10%, tem-se R% / Z% =
0,03. Com este valor da expressão 13.26 dá uma corrente máxima de Imax = 2,46 Icc. Estes foram os
valores utilizados na construção da fig. 13.13. Conforme a expressão 13.22, se a impedância percentual
for 10%, o valor eficaz da corrente de curto-circuito simétrico será de 10 vezes maior do que o valor
eficaz da corrente nominal. Nestas condições, a corrente assimétrica instantânea será 24,6 vezes maior.
Em transformadores de distribuição em que são normais as impedâncias de 2 a 2,5%, a corrente
instantânea assimétrica máxima pode chegar a 100 ou mais vezes o valor eficaz da corrente nominal.
Nestas condições os esforços mecânicos podem ser destruidores.

13.3 – Cálculo dos esforços mecânicos


A grande maioria dos transformadores hoje construídos utiliza bobinas concêntricas. O estudo vai se
limitar em analisar somente este tipo construtivo. As bobinas devem receber uma fixação adequada para
suportarem os esforços radias e axiais nas condições de curto-circuito assimétrico. No caso de bobinas
concêntricas simétricas a formulação matemática necessária é simples e suficientemente precisa tanto
para o cálculo dos esforços radiais como os axiais. Para os demais casos o cálculo dos esforços axiais
deve ser feito utilizando formulações matemáticas mais complexas apropriadas para o uso de
computadores digitais para que a solução se enquadre nas tolerâncias admissíveis. Neste sentido já
existem diversos programas desenvolvidos que permitem não somente determinar os esforços mecânicos
como também determinar as reatâncias de dispersão. Não obstante, existem expressões aproximadas para
o cálculo dos esforços verticais que na maioria dos casos podem servir como uma orientação para mostrar
os limites de assimetrias toleráveis entre as bobinas de BT e AT.

13.3.1 – Esforços em bobinas concêntricas com alturas iguais e simétricas.


Nas bobinas concêntricas os esforços têm o sentido de expandir a bobina externa e comprimir a
bobina interna. Normalmente as bobinas cilíndricas têm uma resistência mecânica muito maior à
expansão do que à compressão. Se a bobina externa não é cilíndrica ela tende a ficar cilíndrica pelo
esforço de expansão. A bobina interna, no entanto, sofrendo um esforço de compressão, pode se deformar
entre dois apoios (estecas) consecutivos da bobina contra o núcleo. É comum, nos casos de curto-circuito
de transformadores, não dimensionados convenientemente para os esforços mecânicos, que a bobina
interna fique toda ondulada após um curto-circuito. Esta ondulação, normalmente traz conseqüências
desastrosas para a integridade física da parte ativa do transformador.
Ainda que as bobinas concêntricas sejam de mesma altura e simétricas, existe sempre um
franjeamento do fluxo nas cabeceiras como pode ser visto na fig. 13.11 (a) na figuras 13.14 como já foi
visto no capitulo 6. A fig. 13.12 mostra que a intensidade de campo magnético, axial e radial, não é bem
igual nas bobinas interna e externa.
Como resultado do franjeamento do fluxo de dispersão nas cabeceiras também irá aparecer
componentes radiais do fluxo disperso que produzem esforços axiais, de compressão nas duas bobinas,
interna e externa. A direção destas forças pode facilmente ser determinada pela regra do saca-rolha que
mostra o adensamento do campo de um lado e a diminuição no lado oposto. O fluxo de dispersão radial
na cabeceira da bobina interna não é igual ao fluxo de dispersão radial na cabeceira da bobina externa e,
portanto o esforço de compressão axial nas duas bobinas não é igual. Normalmente a força de compressão
na bobina interna é maior do que a força de compressão da bobina externa.
A fig. 13.15 mostra um corte de bobinas concêntricas simétricas com o seu fluxo de dispersão
representado levando em consideração o fator de Rogowski que substitui a figura franjada do fluxo
disperso em uma figura cilíndrica com altura hk que tenha a mesma relutância ou permeância magnética.
Esta altura está relacionada com a altura da bobina através do fator de Rogowski conforme foi estudado
no capítulo 7.

Walter Ries 190


TRANSFORMADORES

Culatra Culatra

BT AT BT AT

× ×

Coluna
Coluna

aa aa
h hk hg
aa aa

C C
NI
B rδ
q=NI/h
r1 r2
rb t r
x
o a1 δ a2
c
Fig.13.14: Fluxo de dispersão entre Fig.13.15: Fluxo de dispersão
bobinas concêntricas equivalente, de Rogowski

A expressão 13.11 dá a altura do canal de dispersão do fluxo em função da altura das bobinas e do
fator de Rogowski que é dado pela expressão 13.12. Nestas condições a intensidade de campo máxima,
no canal “δ” é dada pela expressão 13.13 que corresponde a uma indução máxima dada pela expressão
13.14.
h
hK = ( m) [13.11]
KR
c
KR ≅ 1 - [13.12]
πh
NI NI
H= = KR = KR ⋅ q (H) [13.13]
hK h
NI
B = μ0H = μ0 KR = μ0KR ⋅ q ( T) [13.14]
h

No capitulo 7 foi desenvolvida a expressão 7.29, que se reproduz abaixo e que nos dá a energia
armazenada num canal de dispersão com diâmetro médio “D” e radial “a”, sendo o carregamento elétrico
“q” dado pelo produto dos ampere espiras eficazes. Se for introduzido o valor de pico como se apresenta
nas expressões 13.13 e 13.14, a expressão da energia armazenada será dada pela expressão 13.15.

W = μ0π ⋅ D ⋅ a ⋅ h ⋅ KR ⋅ q 2 [7.29]
1
W= μ 0 π ⋅ D ⋅ a ⋅ h ⋅ K R ⋅ q p2 [13.15]
2

Para cada tipo de canal de dispersão resulta um valor do carregamento elétrico quadrático, como
mostram a expressão 13.16 para os canais “a1” e “a2” e a expressão 13.17 para o canal “δ” da fig. 13.15.

Walter Ries 191


TRANSFORMADORES

3
1 ⎛ NI ⎞
q = ⎜ p⎟
2
p [13.16]2
3⎝ h ⎠
3
2⎛ NI p ⎞
q =⎜
p ⎟ [13.17]
⎝ h ⎠
Pode-se, pois, escrever a
expressão 13.18 para a energia máxima armazenada no campo magnético de dispersão em função do
carregamento máximo e dos diâmetros médios dos canais. Se em vez dos diâmetros médios forem
utilizados os raios médios tem-se a expressão 1319.

2
1 ⎛ NI ⎞ ⎛ 1 1 ⎞
W = μ 0 π ⋅ K ⋅ h ⎜ p ⎟ ⎜ D1a 1 + D δ δ + D 2 a 2 ⎟ [13.18]
2 ⎝ h ⎠ ⎝3 3 ⎠
2
⎛ NI p ⎞ ⎛ 1 1 ⎞
W = μ0π ⋅ K ⋅ h ⎜ ⎟ ⎜ r1a 1 + rδ δ + r2 a 2 ⎟ [13.19]
⎝ h ⎠ ⎝3 3 ⎠

Para determinar a força total sobre a superfície interna da AT calcula-se a derivada da expressão
13.19 em relação a um deslocamento “dx” no ponto de raio “r” da fig. 13,15. Com um deslocamento “dx”
no ponto de raio “r” tem-se um aumento da energia armazenada no canal “δ” (rδ e δ aumentam em função
de r) e um aumento da energia armazenada no canal “a2” ( r2 aumenta em função de r e a2 fica constante).
A energia no canal “a1” permanece constante. O raio “rδ” é a média dos raios da superfície interna da AT
( igual a r) e da superfície externa da BT (igual rbt). O canal “δ” é a diferença entre os raios interno da AT
e externo da BT. O raio “r2” é igual ao raio “r” mais “a2/2”. Assim, pode-se estabelecer a energia total
armazenada em função da variável “r” e obter a expressão 13.20, cuja derivada em relação a “x” é dada
pela expressão 21. Substituindo o raio “r” pelo diâmetro “Dr” correspondente e lembrando que Dr + 2/3 a2
é, com grande aproximação, o valor do diâmetro médio do canal “a2”, pode-se escrever a expressão 13.22
para a força radial de repulsão, em Newton (N), que está aplicada na bobina de AT

2
⎛ NI p ⎞ ⎛ 1 1 1 a2 ⎞
W = μ0π ⋅ K ⋅ h ⎜ ⎟ ⎜ r1a 1 + (r + rbt )(r - rbt ) + (r + 2 ) ⎟ [13.20]
⎝ h ⎠ ⎝3 2 3 ⎠
2
dW ⎛ NI ⎞ ⎛ a ⎞
= F = μ0π ⋅ K ⋅ h ⎜ p ⎟ ⎜ r + 2 ⎟ (N) [13.21]
dx ⎝ h ⎠ ⎝ 3⎠
2 2
1 ⎛ NI ⎞ ⎛ 2 ⎞ 1 ⎛ NI ⎞
Fr = μ 0 π ⋅ K ⋅ h ⎜ p ⎟ ⎜ D r + a 2 ⎟ ≅ μ 0 ⋅ K ⋅ π ⋅ D 2 ⎜ p ⎟ h [13.22]
2 ⎝ h ⎠ ⎝ 3 ⎠ 2 ⎝ h ⎠

Um outro caminho para se chegar a um valor muito aproximado da força de repulsão da AT é


aplicando a Lei de Biot-Savart aos ampére-espiras do canal de largura “a2” sob ação da indução média
neste canal. Os ampére-espiras no canal é “NIp” sendo “Ip” o valor de piro da corrente. A indução média é
igual à metade da indução máxima que se verifica no diâmetro interno da Ate, portanto, dada pela
expressão 13.23. Resulta, assim, pela aplicação da lei de Biot-Savart, a expressão aproximada 13.24 que é
igual à expressão 13.22. A expressão 13.25 dá o esforço radial em toneladas.

1 1 NI p
B= Bmax = μ 0 ⋅ K [13.23]
2 2 h
( NIp )
2
1
Fr = B ⋅ (NI) ⋅ π ⋅ D 2 = μ 0 ⋅ π ⋅ D 2 ⋅ K ⋅ (N) [13.24]
2 h
( NI )
2
−11 p
Fr = 6, 4 ⋅10 ⋅ π ⋅ D2 ⋅K⋅ (t ) [13.25]
h

Walter Ries 192


TRANSFORMADORES

Desejando expressar esta força como uma pressão em (N/m2), obtém-se a expressão 13. 26 ou a
expressão 13.27 em que a pressão está dada em (kgf / cm2) sendo (μ0 = 4π 10-7).

2
F ⎛ NI p ⎞
pr = = 2 ⋅ π ⋅10−7 ⋅ K ⋅ ⎜ ⎟ N / m2 [13.26]
π ⋅ D2 ⋅ h ⎝ h ⎠
2 2
2π ⎛ NI p ⎞ ⎛ NI p ⎞
pr = ⋅10−7 ⋅ K ⋅ ⎜ −8
⎟⎟ = 6, 4 ⋅10 ⋅ K ⋅ ⎜⎜ ⎟⎟ ( kg f / cm 2 ) [13.27]
9,81 ⎜h
⎝ (cm) ⎠ ⎝ h (cm) ⎠

Exemplo 1: Para se ter uma idéia dos valores que podem atingir estas pressões em condições de um
curto-circuito assimétrico, considere-se um transformador de 10 MVA cuja impedância de curto-circuito
do sistema até o secundário do transformador seja de 8%. O carregamento elétrico é de 56 AE/mm ou 560
AE/cm. O valor máximo instantâneo da corrente assimétrica está em torno de 2,5 vezes o valor eficaz da
corrente de curto-circuito simétrico. Com 8% de impedância de curto-circuito, a corrente será de 100/8 =
12,5 vezes a corrente nominal. Portanto, a corrente instantânea assimétrica será de 12,5 x 2,5 = 31,25
vezes a corrente nominal e o carregamento elétrico instantâneo do transformador chega ao valor de 31,25
x 560 = 17.500 AE/cm. A pressão, calculada pela expressão 13.27, atinge, portanto o valor de 19,6
kg/cm2 ou 196 t / m2.
Dentro desta ordem de grandezas o fator de Rogowski, em torno de 0,95 a 0,97 para este caso não
necessitaria ser considerado.
Um esforço semelhante, porem de compressão, é aplicado à bobina de BT. Se as estecas
longitudinais sobre as quais a BT foi bobinada estiverem com um afastamento muito grande, os esforços
de compressão vão deformar a bobina, isto é, a estrutura física entra em colapso. A bobina de AT sofre
uma expansão como a parte cilíndrica de uma caldeira sob pressão. A secção de cobre deve ser suficiente
para suportar a pressão originada pelos esforços eletromecânicos de um curto-circuito assimétrico sem
que o cobre sofra um esforço de tração superior ao regime elástico do mesmo. Isto é, após um curto-
circuito assimétrico não deverá haver deformação permanente no diâmetro da bobina.
Como foi dito as bobinas concêntricas simétricas também estão sujeitas a um esforço axial de
compressão que pode ser facilmente calculado como esforço total nas duas bobinas. Este esforço é devido
ao franjeamento do fluxo de dispersão nas cabeceiras das bobinas e, portanto corresponde à derivada da
energia armazenada no campo magnético de dispersão em relação à altura “h” das bobinas. A energia
armazenada no campo é dada pela expressão 13.18 e como o esforço é de compressão axial a força total
de compressão para as duas bobinas é dada pela expressão 13.28, lembrando que o fator de Rogowski
pode ser substituído pela expressão simplificada K = 1-c/πh sempre que c/πh < 0,3. Resolvendo a
derivada de K/h, dada pela expressão 13.29 resulta o esforço total nas duas bobinas dado pela expressão
13.30. Substituindo os diâmetros radiais dos canais pelo diâmetro médio “Dm”, resulta a expressão 13.31.

dW 1 2⎛1 1 ⎞ d ⎛K⎞
Fa12 = - = - μ 0 π ⋅ ( NI p ) ⎜ D1a 1 + D δ δ + D 2 a 2 ⎟ ⎜ ⎟ [13.28]
dh 2 ⎝3 3 ⎠ dh ⎝ h ⎠
c
-h 2 - K
d ⎛K⎞ πh 1- K - K 2K -1
⎜ ⎟= 2
= 2
=- 2 [13.29]
dh ⎝ h ⎠ h h h
2
1 ⎛ NI ⎞ ⎛ 1 1 ⎞
Fa12 = μ 0 π ⋅ ⎜ p ⎟ ⎜ D1a 1 + D δ δ + D 2 a 2 ⎟ ( 2K − 1) (N ) [13.30]
2 ⎝ h ⎠ ⎝3 3 ⎠
2
⎛ NI p ⎞ ⎛ 1 1 ⎞
⎟ ⎜ a 1 + δ + a 2 ⎟ ( 2K − 1)
−11
Fa12 = 6, 4 ⋅10 ⋅ π ⋅ Dm ⎜ (t ) [13.31]
⎝ h ⎠ ⎝3 3 ⎠

Walter Ries 193


TRANSFORMADORES

Comparando a expressão do esforço axial nas duas bobinas (expressão 13.31) com o esforço radial
dado pela expressão 13.22 vê-se que o esforço axial é apenas uma fração do esforço radial
(aproximadamente a relação entre o radial e a altura de uma bobina).
Segundo M. Waters [4] que realizou medições dos esforços axiais em protótipos de laboratório, cerca
de 2/3 a 3/4 do esforço total se verifica na bobina interna.
13.3.2 – Esforços em bobinas concêntricas assimétricas ou com exclusões.
Sempre que se pratica um encurtamento de uma bobina, seja simétrico ou assimétrico irão aparecer
esforços eletromecânicos que tendem aumentar este encurtamento ou exclusão. O método dos ampére-
espiras residuais, já analisado no capítulo 7 para a determinação da reatância devida ao fluxo transversal
pode também ser utilizado como processo aproximado para calcular os esforços axiais.

(NI)x/2 (NI)x/2
b
BT xh/2 δ1
AT × φt
(NI)x δ2
Dm
(1-x)h

h × ×
NI(1-x)

NI(1-x)
φt δ3
NI NI
xh/2 a1 δ a2 δ4
c (NI)x/2

A = B + C

Fig. 13.16: Princípio dos resíduos na determinação do campo transversal

A fig. 13.16 sintetiza o método de ampére-espiras residuais. Como foi visto a aplicação do fator de
Rogowski neste caso não foi utilizado para o método de determinação dos resíduos como exposto na
figura 13.16.
A exposição que se faz corresponde ao processo utilizado por R. Küchler [3]. O valor de “x”
corresponde a um encurtamento em “per unit” da altura da bobina de maior altura. Na fig. 13.16 têm-se
dois encurtamentos iguais em ambas as cabeceiras. A fig. (A) é igual a fig. (B) simétrica, mais o
resultados dos ampére-espiras residuais que é a fig.(C). O diagrama dos ampere-espiras residuais que
agem no sentido transversal é dado à direita da fig. 13.16, conforme já foi visto no capitulo 7.
b A fig. 13.17 mostra duas bobinas com alturas
(NI)x desiguais com montagem assimétrica. Os ampére-
espiras residuais correspondem a x(NI) e eles estão
xh δ1 distribuídos, no sentido axial, como mostra o
Fa diagrama à direita. Aplicando a lei de Ampere
NI
h resulta a expressão 13.32 em que “H” é a intensidade
δ2
(1-x)h

Dm × de campo produzida e “lk” o comprimento do tubo


Fa de fluxo equivalente com intensidade de campo
NI constante.

a1 δ a2 x( NI ) = v∫ Hdl = H ⋅ lk [ 13.32 ]
c
x( NI )
Fig. 13.17: Bobinas com alturas H= [ 13.33 ]
lk
diferentes assimétricas
x( NI )
B = μ0 [ 13.34 ]
lk
Todo o problema reside em determinar o valor de “lk” equivalente com a devida precisão necessária.
Segundo Küchler [3] citando Billig e Knaack este comprimento seria dado pela expressão 7.51 já

Walter Ries 194


TRANSFORMADORES

mencionada no capítulo 7. Nesta expressão “h” é a altura da bobina, “n” é o número de “meias-ondas” da
distribuição do campo transversal ao longo da altura da bobina, “c” é a largura dos canais do fluxo axial e
“b” a distância entre a bobina interna e o núcleo.

h c
lk = + +b [7.51]
n⋅π 2

Conhecida a intensidade de campo “H” tem-se a indução “B” dada pela expressão 13.34. Portanto, a
indução também tem uma distribuição igual ao diagrama mostrado na fig. 13.17, resultando num fluxo
médio igual a B/2. Aplicando a lei de Biot-Savart o campo transversal com indução média B/2 vai
interagir com o total do número de espiras de cada bobina produzindo forças axiais iguais e contrárias nos
enrolamentos no sentido de aumentar a assimetria como mostra a fig. 13.17. Estas forças são dadas,
portanto, pela expressão 13.35 em que “Dm” é o diâmetro médio das duas bobinas. Se esta força for dada
em toneladas tem-se a expressão 13.37 em que n = 1.

1 2 πDm
Fa = μ 0 ⋅ x ( NI ) (N) [13.35]
2 lk
1 10−3 2 πDm
Fa = μ0 ⋅ ⋅ x ( NI ) (t ) [13.36]
2 9,81 lk
πDm
Fa = 6 , 4 ⋅10−11 ⋅ x( NI ) 2 (t ) [13.37]
h c
+ +b
π 2

Comparando a expressão 13.37 com a expressão 13.25 vê-se que o esforço axial é, praticamente uma
parcela de “x 0/1” da altura “h” do esforça radial. A fig. 13.17 mostra o sentido das forças que atuam nas
duas bobinas e que tendem a aumentar a exclusão.
A expressão geral para “n” meio comprimento de ondas no diagrama da intensidade do campo
transversal é dada pela expressão 13.38 lembrando a expressão 7.54 do capítulo 7.

πDm
Fa = 6 , 4 ⋅10−11 ⋅ x( NI ) 2 (t ) [13.38]
h ⎛c ⎞
n + n2 ⎜ + b ⎟
π ⎝2 ⎠

As figuras 13.17 e 13.18 apresentam dois casos de assimetria que podem ocorrer na montagem das
bobinas. Na fig. 13.17 as alturas das bobinas não são iguais, mas a montagem não é simétrica. Na fig.
13.18 as alturas são iguais, mas a montagem não é simétrica. Estes dois casos são apresentados
exatamente para mostrar a necessidade de montagem simétrica das bobinas, mesmo com alturas
diferentes. Nestes casos, para um mesmo percentual de exclusão admitido em outras posições das
bobinas, os esforços desenvolvidos são muito grandes. As figuras 13.19 e 13.20 mostram dois casos de
simetria de montagem de bobinas, porem com exclusões simétricas localizadas em partes diferentes da
altura da bobina. Surgem então 4 forças, duas de compressão na bobina externa, e duas de expansão na
bobina interna no caso da fig. 13.19. No caso da fig. 13.20 duas forças de expansão na bobina externa e
duas de compressão na bobina interna. No caso da fig. 13.21 surgem 8 forças de intensidades menores
ainda, como mostra a figura. Como se observa, um determinado percentual de exclusão distribuído
produz esforços bem menores do que com uma exclusão concentrada.
M Waters em seu livro “The Short-Circuit Strength of Power Transformers” desenvolveu expressões
muito semelhantes para o cálculo dos esforços axiais de curto-circuito. Também cita R. Küchler que num
artigo técnico escrito em 1949 determinava o comprimento do canal do fluxo de dispersão transversal,
para o caso da fig. 13.17, pela relação dada na expressão 13.39.

h eff = 0, 222 ⋅ h [13.39]

Walter Ries 195


TRANSFORMADORES

b b Fa
(NI)x (NI)x
xh δ1 xh δ1
Fa
NI NI
h h
δ2 δ2

(1-x)h
Dm × Dm
Fa × h
NI NI

a1 δ a2 xh δ1
c
Fa
a1 δ a2
c
12,8 ⋅10-11 ⋅ x ( NI ) ⋅ πDm
2
6, 4 ⋅10-11 ⋅ x ( NI ) ⋅ πDm
2

Fa = (t ) Fa = (t )
h ⎛c ⎞ h ⎛c ⎞
+ ⎜ + b⎟ + ⎜ + b⎟
π ⎝2 ⎠ π ⎝2 ⎠

Fig. 13.17: Bobinas com alturas Fig. 13.18: Bobinas com alturas
diferentes assimétricas iguais assimétricas

b (NI)x/2 b

xh/2 δ1 Fa
Fa
Fa × (1-x)h/2 δ1
Fa
Dm δ2 Dm
NI/2
(NI)x/2
δ2
(1-x)h

h × h xh
NI NI NI δ3
δ3 NI/2
Fa Fa
Fa ×Fa (1-x)h/2 δ4
xh/2 δ4
a1 δ a2 a1 δ a2
c c

6, 4 ⋅10-11 ⋅ x ( NI ) ⋅ πDm
2

Fa = (t )
h ⎛c ⎞
2 + 22 ⎜ + b ⎟
π ⎝2 ⎠

Fig. 13.19: Bobinas com alturas Fig. 13.20: Bobinas com alturas
diferentes, simétricas, com diferentes, simétricas, com
exclusões nas cabecerias exclusões central
b (NI)x/4
Fa
Fa × δ1
6, 4 ⋅10-11 ⋅ x ( NI ) ⋅ πDm
2
xh/2 δ2
Fa Fa
Fa = (t )
δ3 h ⎛c ⎞
4 + 42 ⎜ + b ⎟
h × π ⎝ 2 ⎠
Fa Fa δ3
xh/2 δ2
Fa Fig. 13.21: Bobinas com alturas
×Fa δ1
iguais, simétricas, com
a1 δ a2 duas exclusões.
c

Walter Ries 196


TRANSFORMADORES

Baseado nesta expressão foi determinado o esforço axial dado pela expressão 13.40 com “heff” dado
pela expressão 13.39.

πDm
Fa = 2π ⋅10−11 ⋅ x( NI ) 2 = 2π ⋅10−11 ⋅ x( NI ) 2 ⋅ Λ (t ) [13.40]
heff

Para qualquer outro tipo de exclusão varia o valor de “Λ”, em função de fatores de projeto tais, como
largura dos dutos de dispersão, distâncias entre bobinas de fases vizinhas, distâncias entre bobinas e
núcleo, espessuras radiais das bobinas, etc. O fator “Λ” corresponde a uma permeância por unidade de
altura da bobina e foi estudada empiricamente apoiando-se em medições, que se constituem em um dos
grandes méritos da obra de M. Waters.
2
x(NI)
Fa = 2π × ⋅10
-11
⋅ ⋅Λ (t ) [13.41]
n2 hj hj
D nucleo Dnucleo
4, 2 2,3
xh × (NI)x
Λ Λ

5, 5 6, 4

xh (NI)x/2
× ×

5, 8 6, 6
xh/2 xh/2
× × × (NI)x/4

6, 0 6, 8

Fig. 13.22: Esforços axiais em transformadores segundo M. Waters

A fig. 13.22 dá os valores de “Λ” para os diferentes tipos de exclusões analisadas acima em função
da relação entre altura da janela do núcleo e o diâmetro do núcleo. O valor dos esforços axiais assim
obtidos corresponde aos valores médios em toda a bobina. Nas zonas das bobinas em que as cabeceiras
estão mais próximas das culatras o esforço axial, por unidade de comprimento no sentido da
circunferência da bobina, pode ser 25% maior na fase central de um transformador trifásico tipo núcleo
envolvido, ou até 50% num transformador monofásico tipo núcleo envolvido, isto é, com bobinas sobre
as duas colunas do transformador.
Um outro método para cálculo dos esforços axiais seria o uso do “fator de Rogowski” indicado no
processo de cálculo da reatância devida ao campo transversal utilizando o procedimento de O. Stephan
apresentado no capítulo 7.
b (NI)x
xh

D2
×
× = + ×

a2

Fig. 13.23: Determinação dos ampere-espiras residuais segundo O. Stephan

Walter Ries 197


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A fig. 13.23 sintetiza o método de O. Stephan para a determinação da reatância do transformador


devido ao fluxo transversal. A aplicação do fator de Rogowski neste caso deve corresponder a uma altura
de bobina igual ao radial ”a2” da bobina externa e a uma largura do duto de dispersão do fluxo transversal
igual à altura “h” da bobina dividida pelo número “n” de meios-comprimentos de onda do digrama de
distribuição do fluxo transversal .

c ⎛ − πch ⎞ ⎡ 1 - 2πb ⎛ - π h ⎞⎤ ⎛ − 1 ⎞⎡ 1 ⎛ − 1 ⎞⎤
K = 1- ⎜1 - ε ⎟ ⎢1- ε c ⎜1- ε c ⎟ ⎥ K = 1- u ⎜1- ε u ⎟ ⎢1- ε − v ⎜1- ε u ⎟ ⎥
π h ⎜⎝ ⎟⎢ 2



⎟⎥
⎠ ⎜ ⎟⎢ 2 ⎜ ⎟⎥
⎣ ⎦ ⎝ ⎠⎣ ⎝ ⎠⎦
[13.42] [13.43]

Quadro 1 fluxo ax. fluxo tr.


u c/πh h/πna
c c h/n
v 2πb/c 2πbn/h

Fig. 13.24: Tabela de conversão para os coeficientes α e β

6, 4 ⋅10-11 ⋅ x ( NI ) ⋅ πD2
2
. F = 6, 4 ⋅10 ⋅ K ⋅ x ( NI ) ⋅ π⋅ D 2
-11 2

(t ) Fa = (t )
a 2
n ⋅a2 n 2 ⋅ lk
[13.44] [13.45]

A expressão 13.42 dá o fator de Rogowski ampliado para os casos em que os fatores de Rogoswki
são muito menores do que um (1). A expressão 13.43 é igual à expressão 13.42 em que se utilizam dois
coeficientes para facilitar o cálculo do fator de Rogowski. A tabela da fig. 13.24 fornece as conversões
dos coeficientes auxiliares “α” e “β” para os casos em que se está calculando o fator “K” para o fluxo
axial ou para o fluxo transversal. A expressão 13.44 dá o esforço axial em função da dimensão radial da
bobina externa “a2” e do fator de Rogowski para o fluxo transversal. A expressão 13.45 dá o esforça axial
em função do comprimento da linha de fluxo “lk” equivalente determinado por “a2 / K”.
Exemplo 2:
Para comparar o valor dos esforços axiais obtidos com os três métodos expostos, vamos voltar ao
exemplo 1 em que se tinha um transformador de 10 MVA com 8% de impedância e um carregamento
elétrico de 56 AE/mm eficazes nominais ou 1.750 AE/mm de pico no caso de um curto-circuito
assimétrico.
A planilha de cálculo anexa no fim deste capítulo mostra os valores obtidos dos esforços axiais pelos
3 métodos citados: 1. método de R. Küchler através da expressão 13.38; método de M. Waters através da
expressão13.41; método utilizando o fator de Rogowski através da expressão 13.44 ou 13.45.
Observações.
Para n = 1 o método de M.W. dá um valor 50% maior o que deve ter sua origem ao admitir o valor
de “heff” dado pela expressão 13.39. A semelhança dos valores obtidos pelos métodos de R.K. e pelo fator
de Rogowski aplicado ao método de O. Stephan mostra que os dois processos têm a mesma origem
conceitual. Tudo indica que processos mais precisos devem ser aplicados para a determinação destes
esforços e que já foram desenvolvidos em computador. Porém, como orientação os métodos apresentados
indicam os cuidados que devem ser tomados no sentido de minimizar os esforços eletromecânicos e dão a
ordem de grandeza dos mesmos.
Nos enrolamentos helicoidais com passe relativamente grande como acontece nos enrolamentos de
regulação, o efeito hélice pode ser considerado como uma exclusão nas cabeceiras e, portanto deverão
existirão esforços como no caso de exclusões simétricas nas cabeceiras (fig. 13.19). Portanto o passo da
hélice deve ficar limitado ao efeito dos esforços eletromecânicos que se desenvolvem.
Bobinas concêntricas com alturas iguais e sem exclusões teoricamente não sofreriam esforços axiais
de repulsão entre as bobinas. No entanto, é praticamente impossível executar uma montagem
absolutamente simétrica, principalmente se um dos enrolamentos for helicoidal com um passe
relativamente grande. Portanto, sempre se deve contar com a existência de um deslocamento axial entre

Walter Ries 198


TRANSFORMADORES

as bobinas concêntricas. Esta tolerância pode ser de 0,5% ou 1% mas deve ser levada em consideração no
projeto mecânico para suportar os efeitos de um curto-circuito assimétrico.
Na fig. 13.18 se verifica que o esforço axial para um deslocamento axial de “x 0/1” produz um
esforço axial duas vezes maior do que uma exclusão do tipo ilustrado na fig. 13.17 (n=1). Assim, no caso
do transformador do Exemplo 2, um deslocamento axial de 1% produziria esforços axiais de repulsão da
ordem de 21 a 31 t , dependendo do método de cálculo mostrado na fig. 13.27.
13.4 – Projeto mecânico para suportar os esforços eletromecânicos
Este assunto está muito bem exposto no livro citado [4] de M. Waters. O tema compreende o
dimensionamento dos bobinados e suas fixações para suportar os esforços radiais e axiais no caso de um
curto-circuito assimétrico acrescidos dos esforços de prensagem das bobinas. Em resumo, os esforços
eletromecânicos não devem produzir deformações permanentes na estrutura dos enrolamentos. Também é
interessante examinar os efeitos dinâmicos das forças eletromagnéticas para evitar que todo o sistema
entre em ressonância nas freqüências próximas às da rede (50 ou 60 Hz) ou de sua segunda harmônica
(100 ou 120 Hz), pois, sob ressonância os esforços dinâmicos podem ser ampliados.
13.4.1 – Esforços radiais nas bobinas externas
Como foi visto, a bobina externa está sujeita a um esforço radial de expansão que deve ser suportado
pelos condutores. A bobina não é um corpo rígido. O papel isolante dos condutores como também as
longarinas axiais que criam canais de circulação de óleo são constituídas por materiais deformáveis pelos
esforços radiais. Com a deformação as bobinas ficam frouxas, o que deve ser evitado que ocorra mediante
uma boa montagem das bobinas em fábrica após convenientemente tratadas.
O cálculo da resistência do condutor é semelhante ao da espessura de parede de uma caldeira
cilíndrica sob pressão. A fig. 13.25 ilustra o procedimento de cálculo da tensão média de tração no
condutor devido à força radial de expansão. A força radial dividida por “π” é a força que atua na secção
do condutor nos dois lados de um corte segundo um diâmetro da bobina. Uma bobina com “N” espiras
tem uma secção total do condutor dada pela expressão 13.46 em que “sc” é a secção de cada espira, “dc” é
a densidade de corrente, “I” e “q” são, respectivamente, a corrente e o carregamento elétrico nominais da
bobina. As dimensões lineares são dadas em “mm” e a densidade em “A/mm2).

Fr/ π Fr / π

Fig. 13.25 Cálculo da tensão no condutor para forças


radiais de expansão

A expressão 13.47 dá o esforço radial em função do carregamento elétrico nas condições de curto-
circuito assimétrico. A expressão não depende da unidade das dimensões lineares que, normalmente são
dadas em mm.

NI NI h qh
Sc = Ns c = = = (mm 2 ) [13.46]
dc h dc dc
2
⎛ NI p ⎞
Fr = 6, 4 ⋅10−11 ⋅ π ⋅ D 2 ⋅ K ⋅ ⎜ ⎟ h (t) [13.47]
⎝ h ⎠
F
σc(médio) = r 103 (kg f / mm 2 ) [13.48]
2πSc
NI ampere − espiras de projeto
Sc = = mm 2 [13.49]
d densidade de corrente

Walter Ries 199


TRANSFORMADORES

A expressão 13.48 dá a tensão específica média no condutor, em (kgf/mm2) sendo “Fr” dado em
toneladas e a secção total do condutor em (mm2) segundo a expressão 13.49. Nos enrolamentos feitos em
camadas, o esforço radial é máximo na camada junto ao diâmetro interno da bobina e decresce
linearmente até se anular na camada externa da bobina. Neste caso a tensão máxima no condutor se
verifica na camada interna da bobina e pode atingir, praticamente, o dobro da tensão média calculada pela
expressão 13.48. Já nos enrolamentos em disco têm-se dois casos distintos, mas com o mesmo resultado.
Se os discos forem muito apertados então os condutores internos transferem uma grande tensão aos
externos de modo que praticamente todos os condutores estarão com uma tensão igual ao valor médio
calculado. Se, no entanto, as espiras forem capazes de deslizar então os condutores internos vão deslizar
até se apertarem contra os condutores mais externos de modo que novamente existirá uma distribuição
uniforme da tensão e pode-se considerar que todos os condutores estão sendo solicitados com a tensão
média calculada pela expressão 13.48.
Os materiais normalmente utilizados na construção de bobinas são, em primeiro lugar o cobre e em
segundo, mais raramente, o alumínio. Em termos de condutividade trabalha-se, preferentemente com
materiais recozidos que apresentam perdas ôhmicas menores. Porém, sob o ponto de vista mecânico seria
desejável trabalhar com materiais meio endurecidos o que parcialmente ocorre, por encroamento, ao
bobinar o cobre ou alumínio recozido.
Na bibliografia [4] já citada o autor analisa com mais detalhes as propriedades destes materiais. A
bibliografia [3] também fornece algumas características destes materiais conforme figuras 13.25 e 13.26.
Como conclusão pode-se utilizar o cobre com tensões de 6 a 9 kg/mm2 e o alumínio de 3 a 9 kg/mm2,
dependendo do grau de recozimento e liga.

Temp. σ (ruptura) σ (0,2%) Temp. σ (ruptura) σ (0,2%) Observações.


ºC kgf/mm² kgf/mm² ºC kgf/mm² kgf/mm²
20 23,0 7,0 20 7a8 1,5 a 2,5 Recozido mole
100 21,5 6,7 20 11 a 12 6a9 Recozido meio duro
200 18,5 6,4 100 9,5 Recozido meio duro
300 15,5 6,0 200 5,5 Recozido meio duro

Fig. 13.25: Resistência do Cobre Fig. 13.26: Resistência do Alumínio condutor


eletrolítico rcozido mole.
As tensões utilizadas correspondem à tensão de escoamento para uma deformação de 0,2% conforme
mostram as tabelas das figuras 13.25 e 13.26.
13.4.2 – Esforços radiais nas bobinas internas
As bobinas internas estão sujeitas aos esforços radiais de compressão como mostra a fig. 13.27 do
lado esquerdo. Se a bobina não suportar estes esforços de compressão ela tende a se deformar como
mostra a fig. 13.27 do lado direito. Para o esforço de compressão radial a secção total dos condutores está
sujeita a uma tensão de compressão que pode ser calculada como no caso da bobina externa, isto é, pelas
expressões 13.36, 13.37 e 13.38 substituindo o valor do diâmetro médio “D2” pelo diâmetro médio “D1”

Fig. 13.27: Esforços radiais na bobina interna

Walter Ries 200


TRANSFORMADORES

Entre dois pontos de apoio radiais os condutores tendem a resistirem os esforços radias como uma
viga contínua sob carga uniformemente distribuída. Tudo se resume a colocar o número necessário de
apoios para que os condutores não se deformem. Nos enrolamentos em disco ou helicoidal com varias
camadas e apertadas, a secção da bobina tende a funcionar como uma viga com secção igual à soma das
secções de todos os condutores. Se a bobina interna possuir canais axiais de circulação de óleo, cada
conjunto de espiras entre dois canais deverá suportar o respectivo esforço distribuído radial entre os
suportes longitudinais calculado para o diâmetro e os ampére-espiras de curto-circuito correspondentes. O
esforço radial é máximo na posição radial correspondente ao diâmetro externo da bobina e nulo na
posição radial correspondente ao diâmetro interno da mesma. O cálculo da resistência da bobina como
uma viga contínua com carga uniformemente distribuída não se tem notícias de que tenha sido
desenvolvido. M. Waters cita um método proposto por Stenkvist, em 1956 e que consiste em resolver a
expressão 13.49 em que:
σmédio = tensão média no condutor do enrolamento em kg/mm2
Z = número de suportes da bobina em sua circunferência
E = modulo de elasticidade do condutor, cobre ou alumínio em kg/mm2
β = dimensão radial de um dos condutores do enrolamento em mm
D = diâmetro médio da bobina em mm
2
1 2 ⎛β⎞
σ méd = Z E⎜ ⎟ kg / mm 2 [13.50]
12 ⎝D⎠

O valor de “σmed” calculado pela expressão 13.50 deve ser maior do que o valor calculado pela
expressão 13.48. Se ele for menor deve-se aumentar o número de calços na circunferência.

13.4.3 – Esforços axiais nas bobinas


Quando o esforço axial em um enrolamento em discos excede o valor de suportabilidade, ocorre,
normalmente a torção dos condutores em zig-zag como mostra a fig. 13.28.
Quando a espira entra em colapso pela ação da força axial “Fa” tem-se dois momentos de torção
atuando: um tendendo a aumentar o ângulo “θ” de colapso e outro resistindo ao aumento do ângulo de
torção da espira em torno do eixo xx da secção do condutor. Estes momentos, dados por unidade de
comprimento do condutor, são apresentados nas expressões 13.51 e 13.52 em que:
“α” é a dimensão axial do condutor,
“R” é o raio da espira,
“E” é o modulo de elasticidade do condutor,
“Ix” o momento de inércia do condutor em relação ao eixo XX,
“fa” é a força por unidade de comprimento do condutor.
fa

θ R/cosθ
x R
x

θ
R/senθ

Fig. 13.28: Colapso de bobinas em disco

Walter Ries 201


TRANSFORMADORES

M a = f a ⋅ α ⋅ senθ [13.51]
E ⋅ I x ⋅ senθ
Mt = [13.52]
R2

Na fig. 13.28 a direita, pode-se ver que o raio de curvatura, no sentido longitudinal (dimensão α) da
secção do condutor, que era infinito antes da deformação, passa a ser igual a “R/sen θ”. O momento de
flexão resistente por unidade de comprimento de uma viga com momento de inércia “Ix” segundo o eixo
xx e módulo de Elasticidade “E” é dado pelo produto de “E” e “Ix” dividido pelo raio de curvatura
segundo à perpendicular ao eixo xx. Resulta, assim, a expressão 13. 53. A energia armazenada por
unidade de comprimento de uma viga é igual a ½(momento de flexão)/raio de curvatura. Assim, a energia
necessária para produzir uma torção igual a “θ” é dada pela expressão 13.54 de onde se obtém o
momento resistente, por unidade de comprimento do condutor, à torção de um ângulo “θ”, dado pela
expressão 13.55. Para um ângulo “θ” muito pequeno o seu valor em radianos é praticamente igual ao seu
seno.

E ⋅ I x ⋅ senθ
Mx = [13.53]
R
1 1 1 E ⋅ I x ⋅ sen 2 θ
M t θ = Mx θ = [13.54]
2 2 2 R2
E ⋅ I x ⋅ senθ
Mt = [13.55]
R2

Das expressões 13.51 e 13.52 pode-se concluir que se “fa α < ΕΙx / R2”, um pequeno valor do
deslocamento angular produzido por uma força externa irá se anular quando o distúrbio externo cessar.
Porém se “fa α > ΕΙx / R2”, qualquer deslocamento angular produzirá um imediato colapso das espiras. A
condição de igualdade das expressões 13.51 e 13.52 definem a carga axial crítica sobre a espira por
unidade de comprimento da mesma, conforme expressão 13.56 em que o momento de inércia de um
condutor com dimensões “αβ”é dado pela expressão 13.57.

E ⋅ Ix E ⋅ β ⎛ α ⎞⎟2
f acr = = ⎜ ⎟ kg f /mm [13.56]
α ⋅ R2 12 ⎜⎝ R ⎠
β ⋅ α3
Ix = mm 4 [13.57 ]
12
f acr E ⎛ α ⎞2
σ cr = = ⎜⎜ ⎟⎟ kg f /mm 2 [13.58]
β 12 ⎝ R ⎠

A tensão crítica por mm2 no condutor é dado pela expressão 13.58 e deve estar abaixo do valores
normais de trabalho (tabelas das figuras 13.25 e 13.26).
Como já foi dito os esforços de compressão não se distribuem uniformemente ao redor de um disco
ou de uma espira. Existe uma maior concentração nas janelas junto ao núcleo que em transformadores
trifásicos com núcleo envolvido pode atingir a um valor 25% maior do que o valor médio. É nestes
pontos que a resistência ao colapso das espiras deve ser determinada. O valor dos esforços axiais é
determinado para cada caso de exclusões nos enrolamentos conforme visto no parágrafo 13.3.2.
Quando os condutores não possuem os cantos arredondados, a resistência ao colapso é maior, pois os
condutores tendem a se assentar nos isolamentos (espaçadores).
13.4.4 – Bobinas concêntricas com alturas iguais com deslocamento axial.
Este é um caso que deve sempre ser analisado com muito cuidado, pois, dificilmente se consegue
montar bobinas com simetria perfeita, sempre podem haver deslocamentos axiais e é de bom alvitre se
certificar que para uma deslocamento axial de 0,5 ou 1% não sujam esforços que possam comprometer a
integridade física dos enrolamentos.
A fig. 13.18 mostra que esta disposição das bobinas é a que produz o maior esforço axial por per unit
de exclusão e é dado pela expressão 13.59.

Walter Ries 202


TRANSFORMADORES

12,8 ⋅10-11 ⋅ x ( NI ) ⋅ πD m
2

= 12,8 ⋅10-11 ⋅ x ( NI ) ⋅ Λ
2
Fa = (t ) [13.59]
h ⎛c ⎞
+⎜ + b⎟
π ⎝2 ⎠

A força eletromagnética devida a um deslocamento axial entre as bobinas se distribui mais ou menos
uniformemente ao longo da bobina de modo que em cada bobina ele cresce de modo linear de um valor
zero numa das extremidades até o valor máximo na outra cabeceira. Esta força é dada pela expressão
13.59. Os esforços são transmitidos ao sistema de prensagem das bobinas e têm o sentido de aumentar o
deslocamento axial. Segundo referencia bibliográfica de Waters, Norris observou que qualquer
movimento dos enrolamentos devido à elasticidade dos isolamentos nas cabeceiras e isolamentos das
bobinas e condutores aumenta a força provocando novos deslocamentos.
Todos os materiais, inclusive os isolantes, se deformam sob a ação de uma força. Se retirada a força
a deformação se anula diz-se que o material está se deformando dentro do seu regime elástico. Quando a
deformação for permanente o material ultrapassou o regime elástico e entrou no regime plástico. No
regime elástico o material opera como uma mola em que a força necessária para esticá-la ou comprimi-la
de uma unidade de medida, chama-se de rigidez da mola cujo símbolo é “K” dado em, por exemplo,
kgf/mm.

f
σ
Δh
Limite de elasticidade
h K
α
ε
Fig. 13.29: Corpo de prova elástico Fig. 13.30: Diagrama tensão x alongamento

A fig. 13.29 mostra um corpo de prova sofrendo a ação de uma força de compressão sobre uma área
de secção “A”, provocando um encurtamento “Δh” da altura “h”. Define-se, assim, a rigidez “K” do
material dada pela expressão 13.60. A fig. 13.30 mostra o diagrama das tensões versus os alongamentos
unitários, sendo a tensão “σ” dado pela expressão 13.31 e o alongamento unitário “ε” pela expressão
13.32. Daí se define o módulo de elasticidade o material que, teoricamente seria a tangente do ângulo “a”.
Na prática, no entanto, o limite de elasticidade é definido para uma pequena deformação permanente
fixada por normas, em geral de 0,2% pois em geral é muito difícil encontrar o ponto exato do limite de
deformação elástica. O sistema de unidades deve ser coerente nas diversas expressões.

f f Δh
K= [13.60] σ= [13.61] ε= [13.62]
Δh A h
σ f h K⋅h
E= = = = tgα kg f / mm 2 [13.63]
ε Δh A A

No caso das bobinas têm-se diversos tipos de materiais isolantes que são comprimidos pela ação das
forças eletromecânicas de curto-circuito. Fundamentalmente isolamento dos condutores é feito com varias
camadas de papel Kraft até se obter uma bi-espessura (dos dois lados) de 0,5 a 3,0 ou mais mm de acordo
com a tensão de isolamento dos enrolamentos. Nos enrolamentos em discos têm-se os espaçadores de
papelão endurecido, pressphan ou Weidmann e nas cabeceiras têm-se os calços e anéis de prensagem que
podem ser formados por madeira, papelão Weidmann ou outros materiais rígidos isolantes. Assim, a
deformação elástica do isolamento consiste na deformação de, no mínimo, três tipos diferentes de
materiais isolantes com rigidez mecânica diferentes.

K1 , A1 , h1 K3 , A3 , h3
K2 , A2 , h2
E1 E3
f E2

Δh Δh1 Δh2 Δh3


Fig. 13.31: Compressão de três tipos diferentes de materias

Walter Ries 203


TRANSFORMADORES

Na fig. 13.31 tem-se a compressão de 3 tipos de materiais com rigidez, área, altura e modulo de
elasticidade diferente. A força única de compressão vai produzir deslocamentos diferentes de acordo com
as respectivas dimensões e características. O deslocamento total será a soma dos deslocamentos parciais,
como mostra a expressão 13.64. Resulta assim a expressão 13.65 que nos dá na expressão 13.66 a rigidez
mecânica do conjunto. Multiplicando a rigidez do conjunto pela altura da bobina resulta em uma força Z
que seria capaz de produzir um deslocamento igual à altura da bobina. Portanto, para um deslocamento de
“x” per unit da altura a força necessária será de f = Zx.

f f f f
Δh t = + + = [13.64]
K1 K 2 K 3 K
1 1 1 1 h h h
= + + = 1 + 2 + 3 [13.65]
K K1 K 2 K 3 E1A1 E 2 A 2 E 3 A 3
1
K= [13.66]
h1 h h
+ 2 + 3
E1A1 E 2 A 2 E 3 A 3
Z = K ⋅ h bob [13.67]

Para o caso de duas bobinas concêntricas perfeitamente simétricas não haveria um esforço de
deslocamento entre os enrolamentos. No entanto se existir um deslocamento inicial igual a “x0” p.u. da
altura haverá um esforço eletromecânico dado pela expressão 13.59. Este esforço provocará um
deslocamento final igual a “x” p.u. devido à rigidez mecânica dos isolamentos. Portanto, Z(x – xo) deverá
ser igual à força eletromecânica para um deslocamento “x”, conforme mostra a expressão 13.68. Desta
igualdade obtém-se o valor do deslocamento final “x” dado pela expressão 13.69. A força final será,
portanto dada pela expressão 13.70.

Fa = ( x - x 0 ) Z = 12,8 ⋅10-11 ⋅ x ( NI ) ⋅ Λ ⋅12,8 ⋅ 10-11 ⋅ x ( NI )


2 2
(t ) [13.68]
Z
x = x0 [13.69]
Z − 12,8 ⋅10−11 ( NI ) Λ
2

Z
Fa = 12,8 ⋅10-11 ⋅ x 0 ( NI )
2
[13.70]
Z − 12 ,8 ⋅10−11 ( NI ) Λ
2

Observa-se, pela expressão 13.70, que se Z = 12,8 *10-11 (NI)2 Λ tanto a força como o deslocamento
aumentam indefinidamente. Um valor crítico é definido para os ampere-espiras, conforme expressão
13.71, acima do qual, para um pequeno deslocamento inicial, o aumento da força devido a qualquer
movimento é maior do que o aumento da resistência contrária a este movimento. Neste caso haverá,
invariavelmente, danos na estrutura física das bobinas.

Z
( NI )cr = 88.400 [13.71]
Λ

Como Z é obtido a partir da rigidez mecânica dos diversos materiais isolantes o valor de ampere-
espiras máximo admitido vai depender das características mecânicas dos isolamentos. O trabalho de
Norris mostra muito bem a importância em usar materiais isolantes nas extremidades das bobinas com
elevada rigidez mecânica.
A força que se exerce no sentido de aumentar o deslocamento entre os centros de gravidade das
bobinas cresce linearmente ao longo do enrolamento, de um a outro extremo e se transmite aos calços de
prensagem. Assim, as deformações também crescem a medida que aumenta a força de modo que a
integração destes deslocamentos mostra que a redução do comprimento é igual a um terço daquela que
ocorreria se a força fosse igual ao longo de toda a bobina. Assim, a expressão 13.2 mostra o cálculo de Z
para uma bobina em que o coeficiente de 1/3 é aplicado somente ao isolamento da bobina propriamente
dito, isolamento dos condutores e espaçadores, onde a força cresce linearmente de um extremo ao outro
do enrolamento.

Walter Ries 204


TRANSFORMADORES

h bob
Z= t/mm [13.72]
1 ⎛ h1 h ⎞ h
⎜ + 2 ⎟+ 3
3 ⎝ E1A1 E 2 A 2 ⎠ E 3 A 3

Os materiais isolantes utilizados em transformadores são produzidos fundamentalmente por celulosa


pura em forma de chapas prensadas, endurecidas, e papel tipo Kraft. Sendo bastante higroscópicos
absorvem umidade nas condições ambientais normais e são bastante porosos. Nestas condições suas
propriedades isolantes e mecânicas deixam muito a desejar. Para a sua utilização eles devem ser secados e
submetidos a esforços de compressão de modo a melhorar suas características físicas. Assim, na figura
13.32, obtida da bibliografia [4], pode-se ver que o módulo de elasticidade depende da tensão a que o
material está submetido. É como se o módulo de elasticidade fosse a derivada da curva no ponto de
operação. Na figura 13.33, mostra-se as características do papelão prensado produzido pela Weidmann
onde também se mostra a característica da deformação plástica do material em função do número de
testes dinâmicos de pressão. Vê-se que a deformação plástica do “transformerboard” utilizado
especificamente para os espaçadores é muito pequena permanecendo constante após 2 testes dinâmicos.
Isto prova que as propriedades destes materiais tendem a um valor constante após sofrerem sucessivas
compressões. Este processo leva o nome de estabilização mecânica e deve ser atingido após a montagem
final das bobinas.

Fig. 13.32: Módulos de Elasticidade Fig. 13.33: Características material


1. - papelão endurecido d=1,56 g/cm³ isolante Weidmann
1. - idem, idem com d=1,3 g/cm³ 1. - presspan Psp 3050 calandrado
3. - tipo EMTsM com d=0,9 a 1,0 g/cm³ 1. - Transformerboard precomprimido
4. - tipo EMTs com d=1,1 g/cm³
5. - papel isolante (tipo Kraft)
Os anéis de prensagem de bobinas construídos com “transformerboard” da Weidmann podem
suportar tensões de flexão de 16 kgf / mm2 com modulo de elasticidade da ordem de 700 kgf / mm2.
Nos calços das cabeceiras também podem ser usados outros materiais com módulos de elasticidade
grandes como certos tipo de madeira tratada em que valores de E = 700 a 1500 kgf / mm2 podem ser
obtidos.
O papel isolante dos condutores tem propriedades semelhantes ao do papelão endurecido ou
presspan mas sendo muito menos denso ele é mais afetado pelo processo de estabilização mecânica. Nas
bobinas em discos com espaçadores, a estabilização do papel se realiza nas zonas de compressão dos
espaçadores contra os condutores.
Na fig. 13.32 vê-se igualmente com que pressões se trabalha sobre os materiais isolantes, podendo
chegar a 250 kgf / cm2 (2,5 kgf / mm2 ou ~25 N / mm2).
O processo final com impregnação do isolamento com óleo produz uma nova redução da espessura,
fenômeno este que não encontra uma fácil explicação tecnológica. Disto resulta importante os reapertos

Walter Ries 205


TRANSFORMADORES

que devem ser feitos no tratamento final da parte ativa do transformador em estufa e sob vácuo com
impregnação do isolamento com óleo
Convém aqui transcrever as observações de vários pesquisadores sobre estes materiais isolantes:
1. A característica “tensão / deformação” (σ / ε) não é linear. O módulo de elasticidade aumenta com
a tensão (kgf / mm2).
2. Material novo tem uma grande plasticidade que pode ser muito reduzida através de testes
dinâmicos de pressão.
3. O amortecimento das oscilações é basicamente determinado pelos atritos internos.
4. Os esforços de curto-circuito influenciam a perda da força de prensagem dos enrolamentos e,
portanto, recomendam:
I. A compressão ou força de prensagem dos enrolamentos após tratamento de secagem deve
ser igual a uma vez e meia a duas vezes os esforços de curto circuito que o transformador
pode sofrer em operação. Se estas pressões não puderem ser atingidas deve-se aplicar dois
ou três ciclos de prensagem e descarga com valores menores de pressões. Dois a quatro
ciclos de prensagem são desejáveis na montagem do transformador.
II. A pressão inicial deve ser sempre maior do que 0,5 kgf / mm2.

Os módulos de elasticidade dos condutores de cobre ou alumínio são muito grandes para serem
considerados como elementos elásticos na deformação das bobinas devido aos esforços axiais.
Para todos os casos em que devem ser considerados os módulos de elasticidade do condutor pode-se
considerar os valores da tabela na fig. 13.34.

Material E
kgf / mm²
Cobre 10.900
Aluminio 8.700

Fig. 13.34: Modulos de Elasticidad


dos condutores

13.5 – Efeitos dinâmicos dos esforços eletromecânicos


As bobinas com seu sistema de prensagem operam como um sistema elástico submetido aos esforços
eletromagnéticos, principalmente os de curto-circuito do transformador. Calculados os esforços
eletromagnéticos a solução do problema para obter a resposta do sistema elástico se resume em solucionar
um sistema mecânico constituído de massas, molas e eventualmente atritos viscosos submetidos a uma
força.
Para os eletricistas a melhor ferramenta para estes casos consiste no uso da analogia dos sistemas
mecânicos e elétricos. Para tanto vamos introduzir um pequeno resumo de como é feita esta analogia.
Os sistemas mecânicos lineares passivos são compostos por três parâmetros elementares que
resistem ao efeito de uma força. A fig. 13.35 mostra estes três parâmetros. A massa de um corpo tem uma
força inercial dada pela expressão 13.73; o atrito viscoso tem uma força de amortecimento dada pela
expressão 13.74; a mola tem uma rigidez dada pela expressão 13.75.

dv d2 x
f m = Ma = M =M 2 [13.73]
dt dt
dx
f a = Av = A [13.74]
dt
f k = Kx = K ∫ vdt = K ⎡ ∫ vdt + x(0) ⎤
t
[13.75]
⎣⎢ 0 ⎦⎥

Walter Ries 206


TRANSFORMADORES

M K A

fm fk fa

Fig. 13.35: Elementos mecânicos passivos para


o movimento de translação

A fig. 13.36 mostra um sistema mecânico de translação constituído por uma mola, uma massa, um
atrito viscoso da massa sobre uma superfície e uma força aplicada à massa. A equação de equilíbrio que
se estabelece é dada pelas expressões 13.76 e 13.77.
R L

M f v i C
A

Fig. 13.36: sistema mecânico de translação Fig. 13.37: circuito elétrico RLC série

fm + fa + fk = f [13.76]
dv
+ Av + K ⎡ ∫ vdt + x(0) ⎤ = f
t
M [13.77]
dt ⎣⎢ 0 ⎦⎥

O circuito elétrico da fig. 13.37 tem como equação diferencial para o laço constituído pelos
elementos RLC em série a expressão 13.78.

di 1 t
L + Ri + ⎡ ∫ idt + q(0) ⎤ = v [13.78]
dt C ⎣⎢ 0 ⎦⎥
As duas equações integro-diferenciais 13.77 e 13.78 são estruturalmente iguais e, estabelecendo-se a
correspondência entre Massa com Indutância, Atrito viscoso com Resistência, Rigidez mecânica com o
Inverso de capacitância e Força com a tensão, diz-se que os dois sistemas são análogos. O inverso da
rigidez mecânica denomina-se em inglês de “compliance” que poderia ser traduzido como “conformação”
da mola. Então, a analogia que se faz é entre conformação da mola e a capacitância do circuito elétrico.
Esta analogia feita acima se denomina de analogia “Fôrça-tensão” e as correspondências se
completam com a fig. 13.37. A força e a tensão são as fontes de excitação do sistema mecânico e elétrico,
respectivamente.

Sistema mecânico Sistema elétrico


Força, f Tensão, v
Velocidade, v Corrente, i
Deslocamento,x Carga, q
Massa, M Indutância, L
Coefic. Amortec. , A Resistência, R
Conformação, 1/K Capacitância, C
Fig. 13.38 Tabela de conversão para a analogia f-v

Assim, ao se determinar as respostas do circuito elétrico da fig. 13.37, pode-se, por analogia
determinar as respostas do sistema mecânico da fig. 13.36. Por exemplo, a freqüência natural de oscilação
não amortecida (R=0) do circuito elétrico da fig. 13.37 é dada pela expressão conhecida 13.37. Por

Walter Ries 207


TRANSFORMADORES

analogia, a freqüência natural de oscilação não amortecida do sistema mecânico (A=0) da fig. 13.36 será
dada, por analogia, pela expressão 13.38.

1 1 1 K
fr = [13.78] fr = [13.79]
2π LC 2π M

Os sistemas mecânicos, como os sistemas elétricos, podem ser bastante complexos. Uma regra muito
simples que pode simplificar a conversão de um sistema mecânico para um sistema elétrico é a seguinte:
“Toda junção no sistema mecânico corresponde a um laço do sistema elétrico compreendendo as
fontes de excitação e os elementos passivos análogos do sistema mecânico. Todos os pontos de uma
massa rígida são considerados como uma única junção”.
O exemplo simples das figuras 13.36 e 13.37 se enquadra claramente na regra acima. Nas figuras
13.38 e 13.39 tem-se outro exemplo de sistemas análogos. Neste caso o sistema mecânico tem duas
junções, uma que é a massa M e outra que o ponto de aplicação da força “f”. K1 é o elemento comum
entre as duas junções, portanto, C2 é a capacitância comum entre os dois laços da fig. 13.39.

R L

K1 K2
f C2
v i1 i2 C1
M
A

Fig. 13.38: sistema mecânico Fig. 13.39: sistema elético análogo

A analogia também pode ser feita com os circuitos duais dos circuitos com os parâmetros em série
sendo as forças substituídas por fontes de corrente e as velocidades pelas quedas de tensão.
Também se aplicam analogias para movimentos mecânicos rotacionais. O estudo e aplicação destas
analogias simplificam, às vezes, muito a análise dos sistemas mecânicos mais complexos. Para as
aplicações deste capitulo vamos nos ater aos movimentos de translação e analogia “força – tensão”.
Recomenda-se para maiores estudos a bibliografia [7].
A análise dos efeitos dinâmicos das forças eletromagnéticas nos transformadores é importante porque
podem surgir fenômenos de ressonância mecânica na freqüência industrial (50 ou 60 Hz) ou na sua
segunda harmônica, que amplificam muito os efeitos dos esforços podendo danificar os enrolamentos.

I máx.
2
0/1 de I cc

0
0 360 720 1080 1440 1800 2160 2520 2880 3240 3600

-1

-2
graus

Fig. 13.40: Corrente de curto-circuto assimétrico num transformador


A fig. 13.13 que se repete na fig. 13.40 mostra o desenvolvimento da corrente de curto-circuito, neste
caso, assimétrica. Como os esforços eletromagnéticos são proporcionais ao quadrado da corrente eles se
desenvolvem segundo o quadrado dos valores apresentados na fig.13.40. O crescimento da forças
eletromecânicas não é instantâneo. A força atinge o seu valor máximo após “π” radianos, portanto, após
um meio ciclo da freqüência da rede. A esta força máxima o sistema mecânico de construção e prensagem
da bobina deve suportar sem que se verifiquem danos estruturais. A assimetria da corrente de curto-
circuito é rapidamente amortecida permanecendo, após poucos ciclos, a corrente de curto-circuito
simétrica. Segundo a ABNT o transformador deve suportar esta corrente por dois segundos sem que a

Walter Ries 208


TRANSFORMADORES

temperatura dos enrolamentos ultrapasse a 250 °C para o cobre ou 200°C para o alumínio. É nestas
condições de solicitação que se deve evitar uma ressonância mecânica na freqüência das forças
eletromecânicas de duas vezes a freqüência da rede ou na freqüência da tensão de rede. Estas forças
pulsam sempre num só sentido porém sob os efeitos de uma ressonância mecânica as oscilações se
realizam pela troca cíclica entre as energias cinéticas das massas e a energia potencial das molas
(elasticidade dos materiais).
Quando as bobinas estão prensadas entre as culatras através de anéis de prensagem, calços de
prensagem, espaçadores entre os discos e o isolamento de papel dos condutores, ela pode se deformar
elasticamente em função da rigidez mecânica destes materiais. O módulo de elasticidade dos condutores,
de cobre ou de alumínio, é muito maior do que os módulos de elasticidade dos materiais isolantes de
modo que o condutor pode ser considerado como indeformável.
O primeiro problema que surge é determinar o módulo de elasticidade de uma bobina constituída por
partes indeformáveis (condutor) e partes deformáveis como os espaçadores e o papel isolante dos
condutores. Por outro lado, a massa da bobina está distribuída ao longo dela em massas elementares
indeformáveis e massas elementares deformáveis. Sob o ponto de vista de circuito, se cada massa
constitui uma junção que corresponde a um laço do circuito elétrico, então se tem uma seqüência de laços
cada qual com sua fonte elementar. Os parâmetros passivos elementares podem ser considerados iguais,
mas as fontes elementares produzidas pelo efeito eletromecânico se distribuem ao longo do enrolamento
de maneiras diferentes de acordo com o tipo dos esforços axiais existentes. Para efeito do cálculo da
freqüência de ressonância mecânica, dada pela expressão 13.79, os circuitos equivalentes mecânico e
elétrico a direita das figuras 13.41 e 13.42 podem ser utilizados.

f
M
K
h f M

Fig. 13.41: sistema mecânico de uma bobina sob ação de esforços eletromecânicos
L´ L´ L´ L
v´ v´ v´
C´ C´ C´ v i C

Fig. 13.42: circuito elétrico análogo da fig. 13.41


Se a bobina sofre uma prensagem com uma força F através de material indeformável a representação
análoga dos sistemas mecânico e elétrico está representada na fig. 13.43. Assim como a força F produz
uma prensagem fixa da bobina, a bateria E carrega o capacitor C com uma carga “Q”. O sistema
mecânico da fig. 13.42 e da fig. 13.43 tem a mesma freqüência natural de oscilação dada pela expressão
13.79. A força contínua F não altera esta freqüência, mas cria a prensagem necessária para aumentar a
rigidez mecânica dos isolamentos conforme mostra o gráfico da fig. 13.32. É claro, portanto, que a
freqüência de ressonância de uma bobina prensada, tendo uma rigidez maior, tem uma freqüência de
ressonância também maior. Com a prensagem pode-se, pois mudar a freqüência de ressonância natural da
bobina. F

L
v
M
+
h K
E i C
f

Fig. 13.43: sistema mecânico e análogo elétrico de uma bobina prensada com uma força F

Walter Ries 209


TRANSFORMADORES

A distribuição dos esforços elementares eletromagnéticos ao longo da bobina, quando esta entra em
ressonância na freqüência pulsante dos esforços, também não deve influir sobre o comportamento natural
da bobina. Estes pulsos suprem as perdas no sistema e se estas perdas são pequenas eles aumentam cada
vez mais as amplitudes de oscilação natural de modo que o sistema pode entrar em colapso mecânico.
Teoricamente o sistema também poderia oscilar em freqüências múltiplas da freqüência pulsante dos
esforços eletromagnéticos.
Visto o mecanismo da ressonância da bobina resta determinar os seus parâmetros, como massa M,
rigidez global K e modulo de elasticidade global E.
f

Δh=Δb+Δp
cond.

h
Δb
b board
hi papel Δp
p

Fig. 13.44: Sistema mecânico simplificado para determinar


o módulo de elasticidade global da bobina

A figura 13.44 mostra o sistema mecânico simplificado para determinar a rigidez mecânica e o
modulo de elasticidade global da bobina. Nesta figura estão separados os diferentes materiais, condutor,
presspan (transformerboard) e papel isolante com suas respectivas espessuras (h ; b ; p ). Os materiais
deformáveis são o presspan e o papel que se comprimem de “Δb” e “Δp” dando um deslocamento total de
“Δh”.
A expressão 13.80 dá o deslocamento total em função da força e da rigidez mecânica dos materiais
isolantes. K é a rigidez global da bobina. A expressão 13.81 dá a rigidez global em função dos módulos
de elasticidade do papel e pressboard.. A área sob compressão do material isolante, representada por “A”
é igual para o papel e o presspan. A expressão 13.82 dá o modulo de elasticidade equivalente do material
isolante em função dos módulos de elasticidade do papel e presspan e respectivas espessuras totais.

f f f
Δh = Δp + Δb = + = [13.80]
Kp Kb K
Ep A
KpKb p
⋅ EbbA Ep ⋅ Eb
K= = =A [13.81]
Kp + Kb Ep A
p +
Eb A
b
Ep ⋅ b + Eb ⋅ p
K ⋅ hi Ep ⋅ Eb
= Ei = [13.82]
A b p
Ep + Eb
hi hi

Se “εi” é a deformação per unit da altura do isolamento (p+b = hi) e “εh” é a deformação em per unit
da altura total da bobina (h), então se pode escrever a expressão 13.83 lembrando que a tensão “σ” de
compressão é constante. “E” é o módulo de elasticidade global da bobina dada, portanto, pela expressão
13.84.

σ = ε i Ei = ε h E [13.83]
σ ε i Ei Δh h h
E= = = Ei = Ei [13.84]
εh εh h i Δh hi
E i A EA
K= = [13.85]
hi h

Walter Ries 210


TRANSFORMADORES

Finalmente, a rigidez global da bobina é dada pela expressão 13.85 em função do módulo de
elasticidade global da bobina, da área de compressão do material isolante e da altura total da bobina.
Realmente a bobina opera como um corpo elástico global, com massas distribuídas, no interior do
qual são geradas forças pulsantes num determinado sentido.
A freqüência natural do sistema é dada pela expressão 13.86, igual à 13.79 porém introduzindo o
modulo de elasticidade global da bobina dado pela expressão 13.85.

1 K 1 E⋅A
fn = = [13.86]
2π M 2π M ⋅ h

Os materiais utilizados para calçar as bobinas nas cabeceiras e isola-las convenientemente devem ser
bons isolantes e, como elásticos que são, devem possuir a maior rigidez mecânica possível. Portanto,
também estes elementos participam na freqüência natural de ressonância do sistema mecânico e devem
ser levados em consideração. Se todas as forças são dadas em kgf inclusive os pesos dos materiais da
bobona, a massa M deve ser dividida por 9,81.

1
3

2 4

6 5

Fig. 13.45: Esforços eletromecânicos axiais para os diversos


casos de assimetria, simetria e exclusões.

A fig. 13.45 mostra os principais casos de esforços axiais nos enrolamentos. Nos casos 3, 4, 5, e 6
têm-se esforços simétricos em que as linhas tracejadas são nós do sistema vibratório, portanto dividem a
bobina ou ao meio ou em 4 partes como no caso 6. Nestes casos considera-se somente a metade ou a
quarta parte da bobina para o cálculo da freqüência de ressonância. Nos casos 1 e 2 tem-se toda a bobina
prensada com calços de cabeceira, preferentemente com características iguais. Para efeito de cálculo da
freqüência de ressonância tem-se, portanto três casos de fixação das bobinas como mostram as figuras
13.46, 13.47 e 13.48.
K1

F M M
K K
M h h
f f
K
h
f K2
K1

Fig. 13.47: Bobina prensada Fig. 13.48: Bobinas prensadas


Fig. 13.46: Bobina prensada diretamente numa cabeceira
diretamente nas cabeceiras com material não deformável
por material não deformável nas duas cabeceiras, com
por material não deformável. e noutra com material rigidez K1 e K2
deformavel com rigidez K1.

Walter Ries 211


TRANSFORMADORES

O caso da fig. 13.46 serve para calcular a freqüência de ressonância da própria bobina ou também
como acontece com as quartas partes das bobinas centrais da figura 13.45 (6). O caso da fig. 13.47 se
aplica aos casos da meias bobinas da fig. 13.45 (3,4 e 5). A fig. 13.48 se aplica aos casos das bobinas
inteiras da fig. 13.45 (1 e 2).

1 K 1 E⋅A
f n* = = [13.87]
2π M 2π M ⋅ h
f K fn
tg n* + =0 [13.88]
f n K1 f n*
fn
K ( K1 + K 2 )
fn f n*
tg - =0 [13.89]
f n* ⎛ f ⎞ 2
n
⎜ K * ⎟ - K1 K 2
⎝ fn ⎠

Segundo M. Waters, estas expressões resultam de um trabalho publicado pelo CIGRE em 1964 sob o
título de “A Study of the Dynamic Behaviiour of Transformer Windings under Short-circuit Conditions”-
Reports Nos. 134 and 134ª – 1964. Autores: Y. Tournier, M. Richard, A.B. Madin e J.D. Whittaker.
Embora existam programas em computadores que permitem cálculos mais precisos o processo acima
é de fácil aplicação e suficientemente preciso.
As funções em fn/fn* podem facilmente ser resolvidas escrevendo estas equações numa célula de uma
planilha do Excel e utilizando a ferramenta Atingir meta = 0 variando fn/fn* dado em outra célula.
A fig. 12.21 fornece os pesos específicos dos principais materiais utilizados no transformador e
podem ser consultadas para o cálculo das massas dos materiais isolantes e condutores.

Bibliografia:
[1] Samuel Seely – Introduction to Electromagnetic Fields . McGraw Hill – 1958
[2] A. Boyajian – Transformer Engineering – GE Series – John Wiley & sons – 1951
[3] R. Küchler – Die Transformatoren – Springer – Verlag – 1966
[4] M. Waters – The Short-Circuit Strength of Power Transformers –McDonald – 1966.
[5] B. Hague – The principles of Electromagnetism Applied to Electrical Machines – Dover
Publications, Inc. – 1962
[6] M.G.Say – The Performance and Design of Alternating Current Machines – Pitman Paperbacks -
1968.
[7] David K. Cheng – Analysis of Linear Systems – Addison-Wesley Inc. -1959

Walter Ries 212

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