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P-098 - Forças Desencadeadas - Kurt Brand
P-098 - Forças Desencadeadas - Kurt Brand
FORÇAS
DESENCADEADAS
Autor
KURT BRAND
Tradução
S. PEREIRA MAGALHÃES
Digitalização e Revisão
ARLINDO_SAN
Experiências monstruosas... e
com elas se destrói um planeta...
***
Cinco dias mais tarde, Walter Grimpel já estava de volta à Terrânia. Sentado diante
de Perry Rhodan, fazia seu relatório.
— ...finalizando o assunto de nossas investigações, resta-nos dizer que não
encontramos nada, sir. Não há o menor indício de que tenham irrompido em Vagabundo
explosões energéticas daquela intensidade. Nossa suspeita ficou sempre naquela faixa de
areia de quase seiscentos quilômetros de extensão, cobrindo rigorosamente a região
geográfica em questão, de acordo com nossas medições, minhas e de Macintosh.
“Tentamos, pois, remover a grande camada de areia no ponto determinado, para se
chegar ao chão, propriamente. Depois de algum sacrifício, nós o conseguimos. Outra
decepção. Não havia nada de palpável. Fiz tudo para não ser vítima de um engano. Nossa
nave já estava preparada pra decolar de volta, quando não sei por que ainda saí sozinho e
achei isto aqui, chefe.”
Walter Grimpel colocou em frente do administrador do Império Solar, Perry
Rhodan, um pedacinho de aço azulado fosforescente, do tamanho de um grão de ervilha.
Interessado, Rhodan o apanhou entre os dedos, colocou-o na palma da mão para lhe
medir o peso.
— Curioso, extraordinariamente pesado, Grimpel! Que é isto?
Grimpel estava meio sem jeito.
— Senhor, ainda não sabemos.
Rhodan o olhou surpreso. Com toda calma, como era seu hábito nas horas mais
difíceis, disse:
— Grimpel, você não escolheu para sua viagem de pesquisa os melhores
colaboradores?
O chefe do Serviço de Rastreamento deu de ombros, numa expressão de desânimo.
— O Doutor Innogow...
— Innogow? — repetiu Rhodan admirado. — E o Dr. Innogow não conseguiu
analisar isto? É estranho.
— Mais estranho ainda é o comportamento físico deste material fosforescente, sir.
Não reage a nada.
— Mas, certamente, será possível constatar seu peso atômico.
— Já o constatamos, senhor. Mas ninguém pode acreditar que o objeto de exame
não passa de areia...
— Areia?! — o olhar de Rhodan parecia ver coisa muito distante. — Você falou em
areia? E falou também de uma tempestade de areia em Vagabundo? Este material pesado
será areia?
Grimpel sorriu sem jeito.
— A mesma pergunta fiz eu ao Dr. Innogow. Respondeu com um “não” categórico.
Mas logo depois acrescentou: “O que podemos constatar neste material são vestígios de
areia fundida, mais ou menos na proporção de quatro milésimos do conjunto. Mas não
me pergunte o que seja o restante, Grimpel, não sei mesmo.” É este meu relatório, chefe.
Rhodan o olhou pensativo.
— Estou sentindo falta de uma coisa muito importante em seu relatório, Grimpel.
Você não cuidou de entrar em contato com os ratos-castores?
— Claro que sim, sir. Dei ordens a respeito. Mas, num raio de mil quilômetros, não
vimos nenhum deles. Encontramos os primeiros na região do pólo sul e, dois dias depois,
nos deparamos com um grande grupo deles, no outro lado do planeta, na zona equatorial.
Infelizmente, foi-nos impossível entrar em contato com eles. Embora sejam criaturas
adoráveis, estes ratos-castores, com sua mania de brincar o tempo todo, principalmente
com suas forças telecinéticas, transformaram nossa espaçonave num verdadeiro hospício.
Tudo que não estava aparafusado no chão, começou a voar e pairar rente ao teto. Por três
vezes fui vítima de suas peraltices telecinéticas.
“Tivemos que fugir desta raça de bagunceiros, pois queríamos chegar à Terra e não
ficarmos condenados a passar o resto da vida numa nave semidestruída. Senhor, estes
ratos-castores podem se transformar numa praga. Admiro-me muito de como nosso
Gucky seja tão moderado.”
— Se você soubesse, Grimpel, quantas o pequeno Gucky já aprontou — disse
Rhodan distraído, sem esconder, porém, seu descontentamento com os resultados obtidos
com a investigação em Vagabundo. Continuava ainda com a pedrinha na palma da mão.
Olhou-a de novo.
— Grimpel, você examinou bem o chão?
— Chefe, não houve uma coisa que nós não fizéssemos para descobrir a causa das
erupções. Mas tudo foi inútil.
Grimpel e Bell se encontraram na saída do escritório de Rhodan. Bell, que dispunha
de uma memória fantástica para fisionomias, reconheceu logo o chefe do Serviço de
Rastreamento e sabia qual fora sua última missão.
— Então? — perguntou Bell, ao sentar-se na poltrona, ocupada até pouco antes por
Grimpel. — Alguma novidade?
— Sim, isto aqui! — disse Perry mostrando na palma da mão a pedrinha azulada.
— E o que é isto? — perguntou Bell, sem tocar a pedrinha.
— Quatro milésimos do tamanho total é areia fundida, seu gorducho.
Reginald Bell olhou interessado. Apanhou com todo cuidado o pedacinho de aço
fosforescente. Estranhou inicialmente o peso.
— Santo Deus, isto é mais pesado do que chumbo.
— É isso. Um material superpesado, e assim se esgota todo nosso conhecimento.
Apenas posso ainda informar que foi encontrado no planeta Vagabundo, sob uma camada
de mais de vinte metros de areia, exatamente no local onde Grimpel julga ser o centro das
erupções energéticas.
— E por que você não mandou Gucky tomar parte nesta excursão? Seria o número
um, num caso deste.
— Bell, você sabe perfeitamente que Gucky se encontra com John Marshall no
mundo de cristal, ajudando Atlan, sendo impossível entrar em contato agora com ele.
Bell sorriu complacentemente.
— Quando você fala tão calmamente assim, Perry, pode enganar os outros, a mim,
não. Resumindo: você quer dizer que a expedição para Vagabundo fracassou, não é?
— Grimpel nem conseguiu entrar em contato com um rato-castor.
— Quer dizer que Grimpel acabou fugindo deles em Vagabundo, não é? E você não
o pode censurar por isto, Perry. Estes ratos-castores, quando começam a brincar, parecem
loucos. Você se lembra dos apuros em que Gucky nos deixava nos primeiros anos? E o
que tivemos que agüentar em Vagabundo? Eu dou graças a Deus por Grimpel ter podido
voltar são e salvo.
— Puxa! Você o está defendendo?
— De maneira alguma, procuro somente fazer com que você compreenda as
circunstâncias que o pobre Grimpel teve de enfrentar. Mas, voltando a este pedacinho de
metal, você já pensou nos druufs?
— Já sim! É bem possível que algumas naves dos druufs tenham descido no planeta
Vagabundo e estejam agora vagando por aí, entre as estrelas. Mas nossos homens também
não estão dormindo. Tudo que temos no arquivo sobre os druufs foi consultado para se
poder decifrar os diagramas e a confusão nas amplitudes. Fiz perguntas a respeito na
positrônica de Vênus. Com um não categórico, os druufs foram excluídos. Eles não têm,
pois, nada a ver com as erupções energéticas em Vagabundo.
Bell deu um longo suspiro.
— Cérebro eletrônico, superpositrônica, positrônica de Vênus... sempre este “deus
ex machina”! Aceito estas coisas como simples instrumentos de auxílio, mas aí pára
minha simpatia por elas. Perry, se fosse possível injetar um pouco de vida nestas
máquinas eletrônicas, então eu daria valor aos seus números e resultados. Mas sem isso,
desculpe dizer, Perry: odeio estes monstros de cifras frias.
“E se os druufs de fato andaram fazendo alguma malandragem lá por Vagabundo?
Será que conhecemos mesmo tão bem assim o mundo dos druufs? Será que queremos
enganar a nós mesmos? Pretendemos dizer com arrogância que conhecemos todos os
insondáveis confins das galáxias? Não acha um pouco exagerado isto? Positrônica de
Vênus para cá, positrônica de Vênus para lá... o que adianta isto? E a nossa fantasia, o
dom de combinar as coisas, forças que constituem a grandeza da Humanidade... Portanto,
meu palpite é que alguma nave dos druufs andou fazendo qualquer experiência no planeta
Vagabundo. Que diz a análise com o C14 sobre a idade deste material tão pesado?”
— Não diz nada. E para que você não tenha mais dúvidas a respeito, Bell, esta
pedrinha que você teve entre os dedos não responde a nenhum exame com o C 14. O que
me diz agora?
O olhar de Bell oscilava entre o material e Rhodan. Depois falou com ponderação:
— Portanto, não foram os druufs! O material deles não resiste a um exame. Santo
Deus! As coisas vão se ampliando. Há poucas semanas travamos contato com os homens-
peixe de Opghan, e agora este negócio em Vagabundo! Mas será que estas erupções
energéticas se realizaram em Vagabundo ou diante de Vagabundo, em pleno espaço? As
medições de nossos instrumentos de rastreamento estão exatas? Tão exatas que excluam
um erro?
— Bell, gostaria de poder dizer que as medições estão erradas. Infelizmente não o
posso. O que posso afirmar é que cometi um erro muito grande em não mandar Gucky
para Vagabundo. Não queria realmente criticar o trabalho de Grimpel, mas não posso me
livrar do pensamento de que ele se esqueceu de algo muito importante. Mas, daqui para
diante, haveremos de controlar tudo que se passa neste planeta.
***
***
Seis dias depois, nove transportes de fuselagem dupla estavam voltando de um vôo
pelo planeta. No trecho percorrido, cada nave fez duas aterrissagens. Em cada um destes
pousos, descarregou, por intermédio das forças do Ogro, um daqueles enormes
guindastes, afundando-o de tal maneira no solo, que só sobressaía um trecho não maior
do que um antebraço humano.
Antes das naves dos monstros prosseguirem em sua viagem, surgia sempre a
muralha preta para cobrir uma área de pelo menos oitenta quilômetros quadrados.
Mal as nove naves haviam chegado de volta ao local de onde partiram, teve início a
“construção” do parque industrial. Tal maneira de construir daria aos terranos uma
estranha impressão, caso estes a presenciassem.
Assistido por três chefes de grupo, o Gal Enn deu, na sala de comando de sua nave,
uma série de ordens pelo rádio orgânico. Postados diante de um quadro levemente
côncavo, apresentando um grande número de botões de ligação, não maiores do que a
unha do dedo polegar, estavam os três chefes de grupo. Manipulavam os pequenos
botões, com três dos seus quatro braços.
Depois que o Gal Enn acabara de irradiar sua última mensagem, os chefes de grupo
não mais se moveram.
Mais de quinhentas espaçonaves dos estranhos monstros estavam em Vagabundo.
Cada aparelho de duas fuselagens dispunha de um Ogro. Através de suas ordens, com a
assistência dos três líderes de grupo, Gal Enn conseguira fazer deles uma grande corrente
de força. Por meio de seus Ogros, os monstros construíram o poderoso parque industrial
nas profundezas do planeta Vagabundo.
Utilizavam-se de forças completamente desconhecidas tanto para os terranos como
para os arcônidas. O que se apresentava como um grave problema técnico para a mais
avançada tecnologia terrana ou arcônida, parecia uma brincadeira para aqueles monstros.
A dez quilômetros de profundidade, as rochas maciças se liquefizeram. Originou-se,
assim, uma série de veios de rochas líquida, cada um deles partindo do centro da pedra,
para os espaços vazios em volta. Ali então se assentavam novos blocos de pedra, trazidos
facilmente em estado líquido.
No curto espaço de meio dia de Vagabundo, surgiu a dez mil metros de
profundidade uma gigantesca catedral subterrânea de cinco quilômetros quadrados de
superfície, com altura média de duzentos metros.
Assim que o Gal Enn, através do Ogro de sua nave, soube que a cavidade
subterrânea atingira o tamanho necessário, ordenou por seu rádio orgânico que se
iniciasse a instalação.
Seus três líderes de grupo, sentados diante do quadro de comando, manipularam
apenas algumas vezes os pequenos botões.
Perante as naves dos monstros, desenrolou-se, no maior silêncio, um cenário de
assombrosa dramaticidade.
Do enorme conjunto técnico-industrial, ali montado, foi desaparecendo peça por
peça, como que dissolvidas no ar. Sem a ajuda de nenhum transmissor fictício ou de uma
contra-estação, montara-se numa cavidade cavada através de 10 mil metros de terra e
rocha uma gigantesca instalação de supermaquinaria na extensão de mais de três
quilômetros quadrados, peça por peça, exatamente como já estava montada ao lado das
espaçonaves.
Esta cena inacreditável não durou mais de meia hora, tempo de Vagabundo. Gal Enn
recebeu então a comunicação de que o trabalho estava executado. O chefe supremo,
portanto, não necessitava mais da concentração energética de todos os Ogros. Seus três
líderes de grupo receberam a ordem de suspender a ligação em corrente única. E
começou novamente a manipulação mecânica dos botões e alavancas no quadro côncavo.
Ao receber em sua freqüência de alarme a comunicação de que “uma espaçonave
desconhecida estava em vôo direto para este planeta”, Gal Enn não se assustou.
Completamente tranqüilo, Gal Enn apenas disse em seu rádio orgânico:
— Executar operação escurecimento.
Após o que, não se interessou mais pela nave desconhecida. Sabia por longa
experiência que o escurecimento era uma proteção infalível.
No interior de uma das naves, estava um líder de grupo sozinho. Achava-se num
aposento cheio de instrumentos inexplicáveis. Não havia nada semelhante aos medidores
e dispositivos de construção arcônida, terrana ou dos druufs. Tudo ali era terrivelmente
esquisito, como todas as coisas naquelas espaçonaves. Este líder de grupo observava,
com seus dois rostos, todos os instrumentos de controle na frente e atrás dele, sendo que
seus quatro braços, como também seus quatro olhos, que lhe davam uma visão de 360
graus, estavam ocupados.
Tinha sido avisado pelo Gal Enn de que as instalações a dez mil metros dentro da
terra e da rocha já estavam em pleno funcionamento. Sua missão agora era constatar se as
alterações na forma haviam se efetuado de acordo com as provisões dos seus cientistas.
Enquanto uma espaçonave terrana da classe dos cruzadores leves circunvoava o
planeta a alguns milhares de metros de altura, fazendo um levantamento
aerofotogramétrico, lá embaixo, mais de quinhentas naves dos monstros, muito bem
camufladas, aguardavam pelas primeiras provas de que sua experiência daria bom
resultado.
O líder de grupo, que no seu laboratório observava com os quatro olhos os
instrumentos ao seu redor, comparava de memória as previsões dos cientistas com os
dados fornecidos pelos instrumentos de medição. Mas ainda hesitava em comunicar ao
Gal Enn o sucesso total da experiência.
Passou mais uma hora do tempo de Vagabundo e o cruzador leve da Frota Solar
continuava circunvoando o planeta. Entrementes, soube o líder de grupo, com plena
evidência, que o sucesso era absoluto e transmitiu ao Gal Enn os resultados de suas
observações.
— Partida em dez períodos de tempo — ordenou Gal Enn.
Continuava não dando nenhuma importância à nave terrana que sobrevoava todo o
planeta. Terminara o décimo período de tempo. Mais de quinhentas naves de dupla
fuselagem deixaram Vagabundo, sempre protegidas pela camuflagem da escuridão total.
Mas sabiam bem o que estavam fazendo.
Apesar de tudo, o cruzador leve terrano as conseguiu localizar.
E, devido ao fato de não ser possível um rastreamento espacial normal, pois havia
algo impedindo, desconfiava-se do refletor de ondas e mais ainda do resultado de suas
medições que assinalavam que a 74 quilômetros Grün 45,32:49 se movia um corpo de
vários quilômetros de diâmetro em direção ao espaço.
A tela panorâmica foi ligada para a maior ampliação possível e mesmo assim não
apareceu nada. Com isso, a tripulação da sala de comando estava convencida de que o
refletor de ondas de sua nave esférica estava ultrapassado ou carente de uma revisão.
Por coincidência de certas circunstâncias, a gigantesca frota dos monstros passou
invisível diante da nave terrana e abandonou o planeta Vagabundo.
4
Já há algum tempo que alguma coisa estranha se passava com Gucky, tenente do
Corpo de Mutantes. Não era mais o Gucky que todos conheciam.
Depois de sua última missão contra Thomas Cardif no importante planeta arcônida
Archetz e após sua volta à Terra, deu-se uma alteração em Gucky, só descoberta por
Reginald Bell já em fase mais adiantada.
— Alô, little mouse — disse-lhe brincando Bell, enquanto lhe passava a mão pesada
pelos ombros — o que há com você? Está doente ou anda se “abastecendo” demais no
meu conhaque?
Gucky estremeceu sobre a mão do amigo e respondeu áspero:
— Pelo amor de Deus, me dispense de suas asneiras, me deixe em paz — com estas
palavras teleportou-se para outro lugar distante, deixando Bell boquiaberto e estupefato.
Dando de ombros, sem poder explicar o que acontecia com o amigo, Bell passou
para os trabalhos do dia. Tempos depois, em conversa com Rhodan, ouviu a seguinte
frase:
— Não estou gostando de Gucky, gorducho. Parece que o inteligente animal perdeu
todo o entusiasmo. Não faz mais das suas brincadeiras, foge de todo mundo, inclusive de
mim. De você também?
Em sua maneira espalhafatosa, Bell disse o que pensava de Gucky:
— Ele anda por aí escondendo-se, como alguém que está na fossa, que não agüenta
nem mesmo consigo. Só Deus sabe o que se passa com ele. Mas, não tenha medo que ele
voltará ao normal.
O ano 2.044 estava chegando ao fim e a situação no Império de Árcon ia se
normalizando. A Terra passava por um período de calma. Mas, uma criatura que se
tornava cada dia mais estranha, era Gucky.
Sempre que lhe era possível, ficava sentado em seu bangalô, olhando para as
paredes nuas, escondendo seu dente de roedor e entregue ao seu cismar.
Ele mesmo não sabia o que lhe faltava. Não se sentia propriamente doente, mas
estranhamente deprimido, sem vontade para nada, constantemente inquieto. Às vezes
tentava escapar de si mesmo. Mas não conseguia, como ninguém, aliás, consegue quando
chega a uma situação desta.
No dia anterior, o chefe o havia chamado. Perry queria encorajá-lo. Mas Gucky não
desejava saber de entusiasmo, queria ter seu sossego, não falar com ninguém, nem ver
ninguém.
Depois de poucas palavras, Rhodan terminou sua conversa e muito preocupado
mandou chamar John Marshall, chefe do Corpo de Mutantes.
— Marshall, dê uma chegada até aqui. John veio imediatamente.
— Marshall, você sabe o que está acontecendo com Gucky?
O chefe do Exército de Mutantes também não sabia.
— Ele não permite que a gente leia seus pensamentos, sir — respondeu o melhor
telepata de que dispunha Perry Rhodan. — E, além disso, recusa qualquer conversa.
Talvez esteja doente ou é a idade que se faz sentir de repente. Qual é a idade dele agora?
O senhor sabe?
— Ninguém sabe — respondeu Rhodan. — Recordo-me de que, há mais de uns
quarenta anos, Bell tentou saber dele a idade exata, mas como uma senhora vaidosa, não
quis de maneira alguma falar em idade. É interessante lembrar estas coisas, mas não
deixa de ser constrangedor, quando se considera a possibilidade de um rápido
envelhecimento. Será que seu organismo reagiria a uma ducha celular?
O que Marshall respondeu foi mais uma conversa consigo mesmo, do que com
Rhodan.
— Gucky e velho? Não consigo unir estes dois conceitos, chefe. Mas, muito menos
pensar que ele esteja doente. Não dá a impressão de uma grande depressão?
Rhodan se recostou no espaldar da poltrona e quando Marshall olhou para ele,
vislumbrou certa intranqüilidade nos olhos do administrador do Império Solar.
— John, você não quer fazer mais uma tentativa? Quem sabe, Gucky lhe vai dizer
alguma coisa.
— A mim, chefe? Quando se esquiva até do senhor e de Bell, não querendo falar
com ninguém! Nem vai permitir que eu me aproxime. De qualquer maneira, vou tentar.
Não creio, porém, em sucesso.
***
***
***
***
Às quatro horas da madrugada seguinte, o Tenente Gucky deu ordem para ser levado
ao Space-Jet, o SJ-09, que o conduziria ao planeta Vagabundo em duas transições.
O sol estava se levantando sobre Terrânia. Mas os homens da metrópole ainda
dormiam, com exceção dos que tinham trabalho noturno. Era pequeno o movimento no
gigantesco espaçoporto. Na pista 56, já estavam ligadas as turbinas de um cruzador
pesado. O ronco assustador dos primeiros metros de subida foi desaparecendo aos
poucos.
O Space-Jet SJ-09 foi adaptado na véspera por um comando de robôs. A nave em
forma de disco com trinta e cinco metros de diâmetro podia agora ser decolada, dirigida e
aterrissada apenas por um tripulante.
Gucky se sentia mais ou menos como um imperador da China, ao entrar no seu SJ-
09, em direção ã cabina de comando. Em pensamento, já estava vendo seu vôo
maravilhoso e sua chegada triunfal ao planeta. Nesta euforia, tomou lugar na poltrona do
piloto, confeccionada especialmente para seu pequeno corpo.
Ligou os motores. Seu dente roedor estava permanentemente à vista e, dentro de
poucos instantes, seria dono do espaço. As possantes turbinas do jato estavam em
aquecimento. A porta se fechou. A ligação com a torre de controle de vôo era feita por
fonia. A positrônica de bordo aguardava apenas uma simples ligação para levar o SJ-09,
em duas transições, automaticamente para Vagabundo. Mas, antes disso, Gucky queria
mostrar que ele pessoalmente era capaz de manobrar um aparelho daquele tipo.
— Decolagem às 4:18 h, Tenente Gucky — comunicou-lhe a torre de controle de
vôo.
Já eram 4:18 h. O que os velhos pilotos das grandes naves comerciais chamavam de
“pull”, usando mesmo a expressão “calcar o pull” para designar acelerar ao máximo, já
era um termo conhecido de Gucky, devido às conversas com Reginald Bell.
— Calcar o pull — foi a ordem que Gucky deu a si mesmo, exibindo feliz seu dente
roedor.
O SJ-09 roncava surdo e a “disparada” começou. Da torre de controle veio um
comando, mas Gucky não ouviu, nem queria ouvir.
— Subir mais!
A aceleração do jato aumentava, mas Gucky mantinha o aparelho a três metros
acima de Terrânia, isto é, do espaçoporto de Terrânia, tendo como alvo a própria torre de
comando. Controlava tudo através da tela panorâmica, ampliação 1:1, velocidade, treze
segundos após decolagem, 530 km/h.
Quando, perigosamente próximo da torre de controle, deu uma guinada para o alto,
já havia quebrado a barreira do som.
Centenas de milhares de terranos pularam da cama esbravejando contra o barulho
infernal naquela hora da madrugada. Um desses terranos foi Reginald Bell. Sabia quem
era o culpado por isto.
— Aqui fala Bell — disse para o controle de vôo. — Este louco foi o nosso Tenente
Gucky?
No céu de Terrânia, em espirais executadas numa velocidade incrível, um Space-Jet
ganhava altura, naquela madrugada sem nuvens.
— O que você disse?
Bell não havia entendido nada da resposta do oficial da torre de controle, devido ao
barulho ensurdecedor.
— O Tenente Gucky...
O resto desapareceu de novo no barulho que ainda continuava quebrando a calma
daquela manhã tão linda e deixando muita gente exasperada.
— Telegrafe a ele, proibindo terminantemente esta indisciplina — disse Bell no
microfone, esquecendo-se de que ele também, de vez em quando, fazia o mesmo quando
tomava a direção de uma espaçonave para uma “aterrissagem catastrófica”, como era sua
expressão.
Neste sentido, Gucky era um aluno-modelo, pelo menos no tocante aos maus
hábitos de Reginald Bell.
A torre de controle ligou para os aposentos de Bell:
— Estamos tentando, há dez minutos, trazer o Tenente Gucky para o bom senso.
Mas como resposta, escutamos apenas suas exclamações repetidas: “Calcar o pull, calcar
o pull...” Senhor, está se sentindo mal?
Preocupado, o oficial da torre olhava para Bell pelo videofone.
Bell, porém, não se sentia mal; quem se sentia mal era sua consciência. “Calcar o
pull”, isto era uma expressão dele, Bell, quando intervinha para realizar uma aterrissagem
de emergência.
— Não, não estou sentindo nada não, é só o barulho que me escangalha os nervos.
Eu lhe agradeço muito — apressou-se Bell em dizer, desligando em seguida.
Gucky era um bom piloto e gostava muito de voar. Por isso fazia estas espirais para
ganhar altura. Para ele, era a mesma coisa chegar uma hora mais cedo ou mais tarde. O
principal era voar.
— Calcar o pull! Bonito, como a “canoa” desliza.
Gucky estava só, mas tagarelava o tempo todo no jargão de Bell. Mas, de repente,
chegou à conclusão que não tinha graça nenhuma em repetir aquelas expressões chulas.
Não havia ninguém para ouvi-las.
De repente saiu uma voz aguda do alto-falante, fazendo-o estremecer.
— Tenente Gucky, aqui fala o controle de vôo espacial de Vênus. Prossiga sua
viagem normal e disciplinadamente, do contrário estaremos obrigados a interceptar seu
vôo para Vagabundo. Aguardamos sua resposta, tenente.
— Com quem tenho o prazer de conversar? — redargüiu o rato-castor com toda
frieza.
Lembrara-se imediatamente que era obrigação do operador do controle de vôo de
Vênus identificar-se com nome e grau de hierarquia.
— Major Eltzahn, Tenente Gucky.
— Certo, major, meu SJ-09 está em rota de ascensão. Mas de qualquer maneira,
vou-lhe fazer este favor.
Observações deste tipo eram uma coisa que somente Gucky se atrevia a fazer, e o
próprio Major Eltzahn, não obstante toda sua sisudez, teve que aceitá-las.
“Que diabo”, pensou ele depois de ter desligado, “não devia ter tratado o rapaz tão
secamente assim, pois quando ele me faz um favor, o envergonhado sou eu.”
Com seu glorioso brinquedo, Gucky estava fazendo sensacionais acrobacias. Há
muito o SJ-09 estava em curso de ascensão. Os envoltórios de proteção da nave quase
não encontravam mais a resistência do ar e a aceleração subia sempre. Já estava chegando
a hora em que Gucky devia ligar o piloto automático, deixando então a nave entregue ao
vôo programado pela positrônica de bordo. Não houve protestos por parte de Gucky,
quando Rhodan lhe explicara:
— Faltam-lhe as experiências necessárias para realizar os cálculos exatos para a
transição. Vou pois deixar o computador já programado com todos os dados para que
você, a oito milhões de quilômetros antes de Vagabundo, saia do hiperespaço. O pulo do
gato você vai fazer então com a pata esquerda.
A última frase estimulou o orgulho de Gucky. Oito milhões de quilômetros em
relação aos 2.438 anos-luz de distância do planeta eram de fato um pulo de gato. E fazer
aterrissar um Space-Jet, que não era outra coisa senão um tipo de gazela melhorada,
tornava-se tão fácil que qualquer cadete da Frota Solar, depois das dez primeiras horas de
vôo, o conseguiria realizar.
Dirigir carro na Terra era muito mais difícil e perigoso.
Gucky engrenou a chave geral do sincronizador. Era a única coisa que tinha a fazer.
A partir daí, o vôo do SJ-09 estava nas mãos da positrônica de bordo.
A primeira transição se realizou logo após a órbita de Plutão. E a 1.365 anos-luz da
Terra, o Space-Jet se rematerializou no espaço normal. Trinta minutos depois se deu a
segunda transição ou hipersalto.
Gucky continuava afivelado à sua poltrona. Tinha-se esquecido de tudo e não
conseguia mais nem pensar.
— Estou ficando louco — disse espantado e olhando para a tela panorâmica. — Saí
completamente errado — com isso estava se referindo à sua última volta ao contínuo
normal de tempo-espaço. — Não são oito milhões de quilômetros até Vagabundo, são
cem milhões. Ah! Malandro do gorducho. Como é doce a vingança... você vai me pagar
bem caro. Malandragem, me obrigar a voar estes cem milhões de quilômetros com
velocidade inferior à da luz.
Na realidade, as ameaças de Gucky não eram tão sérias assim. Seu coração começou
de repente a pulsar de alegria. Aquele pontinho de coloração avermelhada era seu
planeta-pátria e o olho de um vermelho-escuro no fundo era o sol moribundo, o único
numa extensão de muitas centenas de anos-luz. Possuía apenas um planeta pequeno e
gelado.
O ruído típico da queda de uma tira perfurada, que cai do computador, fê-lo olhar
para trás e apanhar a folha de papel.
— O quê?
Um grande susto o obrigou a soltar esta expressão de interrogação. O planeta
Vagabundo tinha alterado sua órbita em oitenta milhões de quilômetros. Desta maneira
ele se aproximaria do sol, seria atraído e...
A temperatura na superfície de Vagabundo estaria oscilando entre 45 e 57 graus
Celsius.
O tempo de rotação diminuíra de 18,8 horas para 16,1 horas.
“Este calor, este calor”, pensava Gucky horrorizado.
O rato-castor, de ordinário tão calmo que nada o arrancava de seu sossego, perdeu
neste momento toda noção do que tinha ou não tinha de fazer, em determinadas
circunstâncias.
Não ia poder aterrissar em Vagabundo e tinha que enviar um hiper-rádio para
Rhodan. Sabia, aliás, que nos últimos dias haviam surgido em Vagabundo coisas muito
estranhas, ainda não esclarecidas.
Gucky assim teria agido, se seus dons telepáticos não captassem no momento o
desespero, o medo, a miséria e a morte lá reinantes. Aqueles seres, de cuja raça ele
descendia, expandiam por via telepática a situação de desespero das profundezas de
Vagabundo para o espaço afora.
Imediatamente desligou o piloto automático, de controle positrônico, desengrenando
o sincronizador.
Não, nesta hora não lhe passou pela cabeça de repetir aquelas expressões chulas de
Bell, como “calcar o pull” e outras. Mas simplesmente ligou o mecanismo de propulsão
no máximo.
O gerador de absorção de compressão já estava zunindo, quando duas sirenes de
alarme começaram a apitar, indicando sobrecarga. Contra todas as regras do bom senso,
Gucky continuou voando.
O SJ-09 se atirava como um bólide na direção de Vagabundo.
Salvar, salvar, salvar. Era o único pensamento que achava acolhida na cabeça de
Gucky.
— Tenho que salvá-los do calor destruidor, sou responsável por eles. E quem é que
está destruindo minha pátria? Os druufs, os saltadores ou os aras? Oh, Perry, você tem de
me ajudar a castigar estes malandros e assassinos.
Mas não teve a idéia de passar um Telecom a seu amigo, expondo-lhe a situação.
Houve um verdadeiro curto-circuito em suas faculdades mentais.
Disparava seu Space-Jet, exigindo o máximo dos motores, na direção do planeta,
cuja órbita se tornara menor. A aceleração do SJ-09 atingiu os valores máximos. As
sirenes de alarma continuavam sibilando, sem que Gucky percebesse o que isto
representava para a segurança. Luzes vermelhas se acendiam em todos os painéis,
inutilmente. Dois relês já estavam queimados. Foram substituídos imediatamente pelos
dois reservas, mas quando estes também queimassem, não haveria mais jeito.
Deixou que as sirenes gritassem, que o conjunto de propulsão trabalhasse com os
ponteiros constantemente no vermelho. Só via uma coisa: chegar o mais depressa a
Vagabundo, ainda com a luz do dia.
“Este calor desgraçado!”, pensava desesperado.
Em lugar de 8 graus menos, 45 até 57 graus positivos. Era uma temperatura de
inferno para os de sua raça.
Gucky voava apenas com o auxílio da tela panorâmica. Estava fazendo tudo errado.
Já poderia ter iniciado a aterrissagem, se tivesse pedido ao computador os dados para
uma transição curta.
— Neste calor estão morrendo milhares deles. Meu Deus, quem provocou tudo isto?
Fazia todo esforço para entrar em contato telepático com um deles, mas nada
conseguiu. E isto o deixava cada vez mais atordoado. Mesmo sem a transição, a
velocidade era tanta que o pontinho avermelhado do planeta Vagabundo já tomava a
forma de pequeno disco. Numa ira inútil, quase inconsciente, olhava estarrecido para a
tela.
“Tenho trinta uniformes a bordo”, foi o pensamento que lhe veio no momento. “Por
que mandei fazer tantos assim? Por que foi que demorei tanto a perceber esta saudade?”
E, num piscar de olho, todos estes pensamentos desapareceram.
Distância — 28 milhões de quilômetros.
Velocidade — 185 mil metros por segundo.
O pequeno disco começou a crescer, como um balão de soprar. As sirenes davam o
alarma de colisão.
Será que Gucky está voltando a si?
Mais duas sirenes entraram no coro do alarme urgentíssimo; o último dispositivo
automático teve de entrar em atividade para evitar uma colisão com o solo do planeta. A
compressão era enorme, mas ainda eliminada pelos dispositivos de absorção. A
velocidade foi dominada pelo mecanismo automático que agora tomou o controle da rota.
A sete mil e quinhentos quilômetros do planeta, o SJ-09 passou a grande velocidade.
Gucky viu seu planeta pátrio passar a bombordo.
E o toque das sirenes... para que seria?
Quando percebeu, substituiu a última ligação automática por outra feita ao acaso,
também contra as determinações de vôo.
— Para baixo com o Space-Jet!
A nave achatada obedeceu ao comando e Vagabundo apareceu de novo na tela
panorâmica, no lugar de sempre, na mesma direção.
Gucky parecia fora de si, horrorizado e zangado, captando as transmissões
telepáticas, que exprimiam a miséria e a destruição do seu mundo de origem. Achava-se
num estado de prostração quase hipnótica.
Vagabundo já estava bem maior.
— Para baixo com o Space-Jet! Penetrar em sua atmosfera!
As primeiras camadas de ar começaram a se fazer sentir no envoltório de proteção
do SJ-09. Da fricção surgiu um sibilar agudo, um bramido, terminando num ronco
cavernoso. Parecia que o solo vinha de encontro a Gucky.
Gucky chegava a Vagabundo para fazer sua apresentação. Mas foi uma apresentação
catastrófica. Primeiro o chão... o impacto, o estrondo, a areia incandescente, areia
projetada por um furacão de calor. Um Space-Jet, enterrado até a metade no solo
abrasador, destruído, encalhado, um monte de ferro velho, não mais um orgulhoso SJ-09.
Preso ao cinturão, com a cabeça de rato caída no peito, Gucky continuava inconsciente na
poltrona do piloto, ajeitada especialmente para ele. Não ouvia nada do furacão que zunia
em torno do seu SJ-09, nem sentia a onda de calor que penetrava na nave destruída!
O calor e a areia incandescente...
5
***
***
Ao consultar o relógio pela primeira vez, Gucky percebeu espantado que levara sete
horas para cuidar daquele grupo de animais. Entrementes, ouvira outros gritos de socorro,
por via telepática. Vinham ou da região do pólo norte ou do pólo sul, onde, há setenta
anos atrás, nenhum grupo de ratos-castores residia. Seus impulsos telepáticos para
localizar mais irmãos de raça na zona equatorial, foram infrutíferos. Ficaram sem
resposta.
Cada vez mais se convencia de que, em todo o planeta, não viviam mais do que duas
ou três centenas de irmãos seus. Os demais, principalmente os adultos, deviam estar
mortos.
Vestiu de novo o traje espacial, deixou ali um farolete, com pilha nova. Um bom
raio de luz iluminava o local onde estava a água e a caixa com comestíveis. Em contraste
com as crianças da Terra, os filhotes, já logo depois de nascidos, estavam em condições
de se alimentar sozinhos.
— Eu volto logo — disse para tranqüilizá-los, antes de desaparecer.
Saltou para o Space-Jet. A temperatura na cabina tinha subido para 47 graus.
“Tenho que me comunicar com Perry Rhodan”, pensava ele.
O fato de o Telecom do seu SJ-09 não funcionar mais, não o preocupava muito.
Com uma série de minicomunicadores ligados entre si, haveria de atingir por hiper-rádio
a grande estação de Terrânia. E estes minicomunicadores, ele os tinha facilmente, abrindo
uns dez uniformes espaciais.
Correu para o armário do depósito e seus olhos brilharam de alegria ao ver, através
do vidro da viseira, os trinta uniformes, um ao lado do outro, pendurados com todo
capricho. Usando seus dons telecinéticos, tirou o primeiro do cabide, abriu e... ficou
estarrecido!
Depois de ter aberto o décimo deles, começou a tremer de fúria.
— Estes bandidos... estes bandidos! — repetia transtornado. — Meus Deus, como é
que poderei entrar em contato com Rhodan ou com uma de suas espaçonaves? Não
pretendo ficar apenas olhando a destruição destes coitados.
Nos trinta trajes espaciais não havia nenhum minicomunicador. E seu Space-Jet não
passava de um montão de destroços. E a cada rotação, o planeta Vagabundo se
aproximava um pouco mais do sol inclemente e mortífero.
Nas fundas tocas de Vagabundo, os ratos-castores estavam ocultando seus próprios
filhotes, na ânsia desesperada de salvá-los do extermínio. Muitos deles já tinham
morrido, tentando salvar os filhotes.
Para o terrano que se esquecera de colocar no uniforme espacial o minicomunicador
— relaxamento imperdoável — Gucky não podia ter mais do que desprezo. Não o
odiava, nem o fazia responsável pela destruição da raça dos ratos-castores. Não, Gucky
achava que o maior culpado era ele mesmo. Seu Space-Jet era um montão de escombros,
por sua culpa. Com aquela aterrissagem maluca, cortara toda possibilidade de um retorno
e, assim, assinara a sentença de morte para ele e seus poucos irmãos de raça.
Perdeu toda esperança de entrar em contato com alguma espaçonave terrana por
meio do minicomunicador. O pequeno aparelho era para pequena distância e sua
transmissão não penetrava quase nada no hiperespaço. Mas nem por isto um tenente do
Corpo de Mutantes iria ficar ali, apenas lamentando a sorte.
Gucky ligou seu minicomunicador, deu os sinais convencionais de alarme,
acrescentando nome e localização. Repetiu tudo umas vinte vezes. Depois passou para a
escuta.
Do alto-falante só se ouvia um quase imperceptível ciciar do Universo, mas
nenhuma resposta ao seu pedido de socorro.
***
Descobrira até então oito grupos de ratos-castores entocados nas mais profundas
cavernas do planeta e a todos atendera com água e alimentos, na medida do possível. É
claro que sabia que o estoque não era infinito. Cenoura, não havia mais nenhuma. Leite
condensado começou a faltar desde o dia anterior. Quanto à água potável, restava-lhe um
recipiente com 1.120 litros.
Mal Gucky acabara de fazer o balanço do que ainda dispunha na despensa do SJ-09,
e ia voltando para a cabina de comando, quando recebeu um forte impulso telepático.
“Até que enfim, um rato-castor adulto!”, pensou.
— Já vou — respondeu Gucky. — Vou levar de comer e de beber para você. Qual é
seu nome? Eu me chamo Gucky... Ah!... Plofre fre dag ga.
O final era intraduzível, mas o interlocutor deve ter entendido muito bem. Foi com
surpresa que Gucky ouviu que o rato-castor não queria nem água, nem alimento.
— Por que adiar a morte por mais uns dias, se a muralha negra pode chegar a
qualquer momento?
Embora a expressão “muralha negra” lhe despertasse grande curiosidade, Gucky
não perguntou nada.
— Espere um pouco que já vou logo. Voltou para a câmara frigorífica, que, a esta
altura, não tinha mais nada de gelo, encheu um cantil com água fresca, pegou um pacote
de alimentos. Tirou do armário um dos trinta uniformes espaciais, após o que desapareceu
no ar.
A 1.700 quilômetros ao norte do equador, quatro dias após sua desastrosa
aterrissagem em Vagabundo, encontrava o primeiro rato-castor adulto. O termômetro
externo lhe indicava um calor estúpido de 61 graus. Do desesperado rato-castor, nenhum
vestígio.
— Aqui! — ouviu Gucky depois de um longo chamado telepático.
Mas este “aqui” chegou-lhe tão fraco, que não conseguiu saber de onde vinha.
— Apresente-se com um pouco mais de força, para eu perceber a direção — emitiu
Gucky.
Não se conseguia ver nada além de três metros. Em volta de todo o planeta, rugia
constantemente um furacão de areia que esquentava ainda mais o ar já escaldante.
Das profundidades de uma antiga caverna outrora habitada, que não tinha mais de
50 metros, veio um impulso mental.
Gucky saltou. Quando seu farolete acendeu, viu-se diante de um rato-castor adulto,
cuja morte por asfixia parecia próxima. Já há muito tempo que Gucky achava-se
novamente possuído daquele frio autodomínio, digamos sangue-frio, característico de
Rhodan e de todos que com ele trabalhavam. Pegou o traje espacial que trouxera e
obrigou o coitado a vesti-lo, atarraxando-lhe o capacete. Só então foi que cuidou do
medidor de pressão.
O instrumento mostrava com toda clareza que o planeta Vagabundo estava
começando a perder sua camada de ar. Para Gucky, isto era um sinal evidente de que sua
terra natal estava com as horas contadas e de que a força de atração do sol já estava com
suas garras para sugar toda a atmosfera de Vagabundo. Ou talvez...
Gucky começou a refletir.
Ou talvez, Vagabundo aumentaria de tal forma a velocidade de sua rotação,
atingindo assim um ponto em que a camada de ar seria tocada para o espaço afora. Viria,
depois disso, um tremor de terra no planeta que abalaria ainda mais a estrutura do
pequeno sistema solar, acabando por destruí-lo.
Sob a proteção do traje espacial e devido à temperatura mais agradável dentro dele
— dezoito graus positivos — o esgotado animal se recuperou rapidamente. Curioso,
olhava para Gucky. Mas sua apatia ainda era muito grande. Não perguntou quem era seu
salvador, nem quem lhe dera aquele uniforme. Também não perguntou nada sobre a luz
forte do capacete de Gucky.
Em compensação, a atividade de Gucky reduplicava. Tinha ouvido mencionar uma
“muralha negra”. Não podia se comparar com seus irmãos de raça. Apesar de ser um
rato-castor como eles, sabia que sete decênios de vida na Terra o transformaram num
terrano. Só com muito esforço estava em condições de compreender os pensamentos de
seu semelhante, a quem faltava qualquer conceito de técnica.
“Sede, sede!”, era o que diziam seus pensamentos.
— Quem... é você?
— Gucky, e você?
— Bikre... água!
Gucky reparou no manômetro do aparelho de pressão. Fez um gesto de
contentamento. Podia retirar por uns instantes o capacete do convalescente, para lhe dar
de beber, pois, apesar da rarefação do ar, não havia perigo de asfixia.
— Chega! — disse Gucky telepaticamente, quando o ponteiro do cantil indicava que
o rato-castor bebera um litro de água. — E agora, Bikre, explique-me o que vem a ser a
muralha negra.
Começou “falando” da muralha negra e dos muitos que desapareceram dentro dela.
E sem maior nexo, começou a falar de repente de uma sombra escura que avançava
rapidamente.
— Como? Sombra escura avançando rapidamente? Bikre, como era ela?
Gucky sobressaltou-se. Lembrou-se, com toda nitidez, de como ele, seus irmãos e
irmãs, seus pais e todos que pertenciam à família chamavam, há setenta e tantos anos
atrás, a Stardust II, quando aterrissara em Vagabundo: “sombra escura que avançava com
rapidez”.
Fez com que Bikre descrevesse a forma da espaçonave.
Da figura que ele traçou, com duas dimensões, Gucky não pôde deduzir muita coisa.
— Tente lembrar-se de como era esta sombra escura que avançava com rapidez...
como você a viu, Bikre?
No mesmo instante, Gucky começou a ouvir.
— Tinham a forma de gota d’água. Dois corpos ligados entre si. Marrom-escuro,
quase preto.
— E o que foi que estas estranhas naves descarregaram? Procure pensar de novo,
Bikre, esta nave grande, dupla...
Gucky ainda reforçou sua ordem telepática com uma carga hipnótica.
“Isto parece com um enorme guindaste”, constatou Gucky, através os pensamentos
irradiados pelo outro rato-castor. “Cem metros de comprimento! Mas o que que está
pensando agora? Que este imenso guindaste foi afundado no solo e só um pedacinho
dele ficou para fora? E de repente veio disparada esta muralha negra, mas Bikre
teleportou-se ainda a tempo. Depois, quando ele teve coragem de voltar, em torno do
guindaste afundado na areia não havia mais nenhum rato-castor.”
Gucky tentou fazer as vezes de um grande centro de computação: “...Espaçonaves
estranhas, de duas fuselagens... construções semelhantes a guindastes verticais...
afundamento no solo... e agora a distância entre Vagabundo e seu sol já não é a mesma...”
Aproximou-se de Bikre:
— Você pode me mostrar o lugar onde esta coluna enorme foi afundada no solo?
Antes de se teleportarem, Bikre teve que beber mais um pouco d’água e tomar umas
drágeas do alimento concentrado.
Rematerializaram-se no centro de um remoinho de areia escaldante.
— Foz por aqui que enterraram a grande coluna de metal — emitiu Bikre.
Depois de três pequenos saltos de teleportação, Gucky estava diante de uma
construção escura com alguma aparência de coluna ou guindaste vertical, talvez com
mais de um metro de diâmetro em seu centro. Devido à tempestade de areia, achava-se
com uns dez metros para fora do solo.
“Antenas”, pensou Gucky. “Mas para haver uma antena, tem de haver também uma
fonte de energia.”
A fim de coordenar melhor os pensamentos, precisava de um lugar mais calmo.
No próximo segundo, Bikre, assustado, se viu na cabina de comando do SJ-09.
— Sente ali e não me atrapalhe. Tenho uma coisa importante afazer.
Quem estava ordenando agora era o Tenente Gucky, do Exército de Mutantes.
***
Gucky trabalhou como um mouro. Bikre, que pela primeira vez na vida via alguma
coisa de tecnologia, olhava espantado para Gucky.
De repente, Gucky soltou um daqueles palavrões de Reginald Bell, quando, bem na
frente de seu capacete, uma meia dúzia de instrumentos começaram a rodopiar no ar.
— Bikre, pare com sua brincadeira. Se você fizer isto de novo, tenho que botá-lo
para fora, lá no arzinho gostoso de 60 graus.
De um momento para o outro, Bikre interrompeu seu folguedo telecinético e os
instrumentos com os quais brincava caíram no chão, entre eles o aparelho de que Gucky
tanto precisava.
— Escangalhado — disse abatido, quando o apanhou do chão. — Uma esperança a
menos. Mas você não tem culpa, Bikre. Como é que poderia saber que, como o último
dos ratos-castores, você nos acaba de destruir a última chance?
Teve depois a impressão de estar sozinho. Sem suspeitar de nada, virou-se para trás.
O lugar onde Bikre esteve sentado o tempo todo ficara vago.
— Bikre?
E Gucky repetiu muitas vezes seu grito telepático.
Bikre tomou ao pé da letra os pensamentos de Gucky na hora do rompante de
cólera. Bikre, o único rato-castor adulto que encontrara até agora no planeta destinado à
destruição, teleportara-se.
— Bikre! Bikre!
Desesperado, Gucky emitia seu grito telepático, até que afinal obteve resposta.
— Não...! — gemeu Gucky desesperado.
Porém seu gemido não conseguiu livrar da morte horrível lá fora, na areia
incandescente, seu desventurado irmão de raça.
Bikre, sem saber o que estava fazendo, sem conhecer os perigos a que se expunha,
na sua mania de brincar, abriu lá fora, perto da entrada da toca onde Gucky o achara, o
capacete do uniforme. A areia escaldante, a uma temperatura próxima da fervura da água
na Terra, lhe queimou o focinho, impedindo-o de reatarraxar o capacete. O único grito de
socorro que emitiu para Gucky, foi também seu último comunicado.
***
Gucky saltou para fora. Foi recebido pelo efervescente turbilhão de areia que
ameaçava impedir seus movimentos. Mais do que depressa ligou o envoltório de proteção
e fez com que o pequeno gerador antigravitacional trabalhasse em sentido contrário.
Quando este acusou dois G, deu uma olhada no seu relógio.
“Quatro horas da tarde apenas, tempo de Vagabundo, e já está ficando noite!”,
pensou assustado.
— Estes malandros das naves de “duas caras”! — Gucky estava fora de si de
cólera. — Os desgraçados com suas antenas em forma de guindaste vertical. Bikre,
Bikre! Por que você me tirou toda possibilidade de recompor meu aparelho de
rastreamento? Como é que posso localizar agora estas diabólicas usinas energéticas que
arrastam o planeta Vagabundo de encontro ao sol?
Quando retornou pela escotilha meio aberta do SJ-09 semidestruído, desligou o
gerador antigravitacional.
— Bikre, Bikre... — disse baixinho, ao entrar na cabina de comando.
Mas Bikre, o único rato-castor adulto de Vagabundo, não existia mais.
Gucky também queria deixar de existir. Não havia mais jeito. Tudo, mas tudo
mesmo, era um mausoléu de fracasso. Mas ainda existia nele o tenente do Corpo de
Mutantes. Convivera demais com os homens de Rhodan e tinha recebido deles o exemplo
vivo de que um terrano só desiste, depois de morto.
— ...e no fim de tudo, o gorducho ainda vai se envergonhar de me ter conhecido —
disse Gucky para si mesmo.
Pulou de seu lugar de piloto e começou a andar de um canto para o outro na cabina
de comando, mantendo um monólogo interior.
Tratou principalmente dos problemas de astrofísica e este animal superesquisito, de
mais ou menos um metro, ponderava agora com todo sangue-frio a situação, enquanto
seu planeta pátrio acelerava cada vez mais a corrida louca de encontro ao sol.
De repente, Gucky deu outro salto.
— Perry Rhodan! — exclamou. — Você virá me buscar, com toda certeza, a mim e
aos filhotinhos nas cavernas! Eu lhe peço este favor. Vou recebê-lo aqui com fogos de
artifício...
E logo depois, com menos entusiasmo:
— Mas, primeiro tenho que localizar esta desgraçada usina energética. Sim, Perry,
se eu fosse tão inteligente como você, haveria de achá-la mais depressa.
Como que ouvindo alguma coisa, ergueu a cabeça para cima. Tentou lembrar-se
daquelas coordenadas que Walter Grimpel registrara, quando se deram as erupções
energéticas aqui no planeta.
O rato-castor fez um esforço enorme, exigindo o máximo de sua memória. Depois
de uma hora, acabou desistindo. Casualmente, encontrava-se neste momento bem diante
da pequena positrônica de bordo.
— Acho que vou conseguir fazer com que o computador funcione, pelo menos que
consiga fazer o que eu tencionava com o aparelho de rastreamento, que Bikre acabou
rebentando. Mas, se os dados registrados por Grimpel não foram lançados no computador
de bordo, então Perry Rhodan e o gorducho poderão tirar da lista do Corpo de Mutantes o
nome de Gucky.
Correndo o mais que podia, dirigiu-se para o setor das máquinas de propulsão, quase
que completamente destruído. Precisava de um transformador, de um pequeno conversor
e de uma centena de outras coisas.
Gucky estava sentado no meio do turbilhão de areia. Calor e areia penetravam pela
fenda de um metro de largura e oito de comprimento da carcaça externa. Mas às suas
costas estava a fuselagem do jato felizmente também rebentada, pois do contrário a areia
vermelha teria encoberto tudo. Assim, quase toda a areia passava simplesmente através
dos destroços, sem praticamente inundar o aparelho.
A refrigeração interna do traje espacial continuava funcionando, sofrendo porém
sempre maiores solicitações. Com isto se evidenciava que a temperatura em Vagabundo
se elevava de hora para hora e não estaria longe o momento em que a ventania de areia se
transformaria num furacão de gases incandescentes — se é que ainda existia no planeta
qualquer tipo de camada atmosférica.
Gucky foi se esgueirando através dos escombros da máquina e, bem ou mal, o
farolete de seu capacete lhe ia mostrando o caminho através do turbilhão de areia.
Havia um pensamento que não lhe abandonava a mente: era a comparação da
pequena touceira de capim da beira do rio onde quem está se afogando se apega de unhas
e dentes. Mas nem mesmo o significado simbólico deste pensamento o conseguia afastar
do seu plano.
Num grande esforço de concentração, desencadeou suas forças telecinéticas,
desvencilhou dos destroços um conversor e o encaminhou, flutuando no ar, até a entrada
da cabina de comando.
Continuou fazendo uso de seus dons extraordinários. Enormes traves de aço, que lhe
impediam os movimentos, cediam a uma força invisível. Grandes instrumentos
atarraxados em chapas de sustentação, eram arrancados e levados pelo vento, acabando
soterrados.
Chegou então o momento em que Gucky, depois de mais de uma hora de esforço
inútil, parecia não mais agüentar. Precisava urgente de um pequeno relê para conduzir
energia na forma certa até o computador. Já achara quatro relês daquele tipo, mas todos
estragados. No meio daquela procura de rebentar com os nervos, chegou aos seus ouvidos
o grito de socorro dos coitadinhos dos filhotes naquela primeira caverna de oitocentos
metros de profundidade.
— Gucky, por que você não vem mais nos visitar? Estamos sozinhos e temos medo.
Transmissões telepáticas de filhotes de ratos-castores, cujos pais estavam mortos.
— Seu pequeno sol apagou, Gucky. Não nos abandone, Gucky.
O pequeno sol era um farolete sobressalente que Gucky havia deixado com eles na
toca escura. O enguiço do farolete era um mistério para Gucky.
“Mas não posso sair daqui”, pensava Gucky, desanimado.
Tinha, no entanto, um meio certo de tranqüilizar os animaizinhos: a hipnose. Assim,
em poucos segundos, depois de receberem os influxos cerebrais de Gucky, cessaram os
pedidos de socorro e todos ficaram tranqüilos na toca.
Gucky continuou em sua faina de procurar pelo relê entre os ferros retorcidos de seu
SJ-09. Mas um tremor e uma forte vibração do solo deixaram Gucky assustado.
Vagabundo sofria assim seu primeiro terremoto.
Devido à força de atração do sol, devido à força centrífuga proveniente da
desmesurada rotação do planeta, Vagabundo estava em vias de se desintegrar
estruturalmente. Este processo poderia levar semanas, mas poderia também acarretar a
destruição do planeta em poucos dias. Gucky acreditava mais nesta última hipótese.
Havia alguns minutos que as entranhas do planeta apresentavam um movimento
diferente, com uma série de abalos. Os escombros do jato balançavam de um lado para o
outro. Gucky se agarrou numa trave de ferro e, apesar da refrigeração de seu uniforme
espacial, sentiu como aquele pedaço de metal estava quente.
Finalmente, os tremores foram rareando até cessarem. Sem saber como, Gucky se
sentiu novamente impelido por uma força irresistível a continuar procurando as peças de
que precisava, no montão de ferro velho. Sabia que sua máquina tinha mais de duas
dúzias de relês, mas onde se localizavam? No meio das ferragens retorcidas ou afundados
na areia quente?
Sua luta renhida contra a fatalidade revitalizou de uma maneira extraordinariamente
benéfica seus dons telecinéticos. Acabou revirando todo aquele montão de sucata como
se fosse um punhado de folhas secas. Peças pesadas eram atiradas para o ar, sem seu
contato manual. Depois chegou a vez da massa de areia quente que encobria uma boa
parte do SJ-09. Mais forte do que a violência do furacão foi o poder telecinético de
Gucky, empurrando a areia contra a tormenta.
Gucky ficou alegre quando viu três destes objetos tão importantes para ele,
brilhando sob a luz do farolete.
Dois dos relês estavam cem por cento.
— E agora, vamos ao trabalho — disse para si mesmo.
6
***
No mundo dos monstros, porém, um Gal entrava em contato com líderes de grupo,
naquele momento:
— Nossa tentativa sideral fracassou no último instante. O melhor Ogro que
construímos, falhou totalmente no último estágio.
7
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***
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*