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Filosofia de Ministério

Esboço preparado por Dr. Alan Myatt, professor no STBSB - 1998

Uma filosofia de ministério é necessária para estabelecer a base adequada para cumprir a tarefa
da igreja e do crente no mundo. A Bíblia parte expectativas claras pelos filhos de Deus, tanto os
indivíduos quanto a igreja como corpo. Todos os cristãos são chamados a salvação e boas obras
(Ef. 2.10). A fé Cristã deve ser praticada. Porém, desde que toda a prática é a prática de alguma
teoria ou outra, é preciso articular nitidamente a base teórica e filosófica da prática. A filosofia
bíblica de ministério é essencial.

A filosofia de ministério bíblica começa com o próprio Deus e busca ser consistente com o plano
de Deus para a criação. Deus é o Rei de toda a criação e seu plano é que o Reino de Deus seja
manifestado perante as sua criaturas e que a Sua glória seja exibida para que eles O adorem para
sempre.

I. O programa de Deus para criação como é realizado na história pode ser resumido segundo o
esquema de Criação, Queda, e Redenção. Dentro desta armação os elementos da filosofia de
ministério podem ser determinados.

A. Criação - O universo é a criação de Deus. Ela deriva seu ser dEle. A doutrina de criação
estabelece pontos chaves para a filosofia de ministério.

(1) A criação estava originalmente perfeita. Não havia nenhum pecado ou doença nela (Gn.
1.31).

(2) Toda criação pertence a Deus. Ele é seu Rei legítimo. O universo inteiro é o Seu Reino.

(3) A raça humana tem a responsabilidade de mordomia. Isto é encontrado no imperativo


cultural dado ao primeiro casal no jardim de Éden. Adão e Eva receberam o comando de
multiplicar e encher a terra e no processo subjugar e ter domínio sobre ela (Gn. 1.28,29). Eles
foram colocados no jardim para cuidá-lo e cultivá-lo (Gn. 2.15). Adão recebeu a tarefa cultural
de começar o primeiro empreendimento científico classificando os animais (Gn. 2.19,20). Em
suma, à raça humana foi dado um imperativo de reinar sobre a terra como os mordomos de Deus.
Isto não significou nada menos que levar o Reino de Deus para fora do jardim a toda criação e
construir uma cultura debaixo da senhoria de Deus. Existia nenhuma distinção entre o sagrado e
secular. Toda vida e cultura era a expressão do reino de Deus em toda área de vida.

(4) Deus é digno de adoração. Como Criador Ele é acima de tudo. Seu amor absoluto, sua
santidade e perfeição merecem nosso louvor.

(5) As pessoas foram criadas para comunhão com Deus numa relação íntima.

B. Queda - Por causa de pecado, a criação não está perfeita agora. É anormal em seu estado
presente. O mal, a morte, e a destruição não são naturais, mas sim são perversões (Gn. 3:1-19).
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(1) Os seres humanos estão em revolta contra o Reino de Deus. A filosofia de ministério
reconhece que os problemas do mundo e de vidas individuais estão arraigados nesta revolta e
seus efeitos.

(2) A realidade do reinado do pecado elimina qualquer tipo de romantismo sobre perfeição
sem pecado como também qualquer tipo de utopia como se encontra nas várias teologias da
libertação e outras teologias liberais (1Jo. 1.8).

(3) A filosofia de ministério admite que o pecado exista nas vidas de crentes e na vida da
igreja e que deve ser encarada ou terá efeitos destrutivos (Mt. 18: 15-17).

(4) Nos bastidores do drama humano fica a revolta contra Deus no mundo espiritual por Satanás
e os anjos dele, os demônios. A filosofia de ministério entende que nós estamos numa guerra
espiritual contra principados e poderes e que esta guerra deve ser lutada no poder do Espírito (Ef.
6.10-18). Há um império adversário em guerra contra reino de Deus.

(5) Seres humanos rebeldes e pecaminosos estão sob a ira e julgamento de Deus. Deus não pode
tolerar pecado. Comportamento tem conseqüências (Rm. 6.23).

(6) A comunhão das pessoas com Deus é rompida (Is. 59.2).

C. Redenção - O programa de Deus na história é redimir da humanidade pecaminosa uma


multidão de pessoas para Si e estabelecer o Seu Reino progressivamente no mundo, através
do trabalho dos redimidos.

(1) O desafio do evangelho deve ser colocado diante dos não-convertidos de modo que eles não
possam fugir das suas exigências. Evangelismo é a prioridade principal para avançar o reino de
Deus (Mt 28.18).

(2) Os novos crentes devem ser discipulados de forma que eles possam ganhar a vitória
sobre o pecado e os estilos de vida desajustados, e que podem crescer até a maturidade (Mt
28.19).

(3) O evangelismo e o crescimento em Cristo têm como propósito a restauração de comunhão e


intimidade com Deus (Rm. 5.1-11).

(4) O imperativo cultural ainda está em efeito. Os cristãos ainda têm a tarefa de subjugar a
terra pela glória de Deus e desenvolver a arte, a ciência, a tecnologia, e todos os demais
aspectos da cultura de forma que em tudo seja manifestado o Reino de Deus.

(5) Avançar o reino de Deus significa mitigar os efeitos do pecado no mundo, quer na vida
pessoal, quer na vida secular. Orar e meditar na Palavra de Deus é uma atividade espiritual.
Também, construir um hospital ou inventar nova tecnologia são atividades espirituais quando são
feitos pelo amor de Deus e as pessoas.

(6) Embora a plena manifestação física do Reino de Deus não seja revelada até o milênio, há
uma continuidade entre o que é alcançado nesta idade e a idade para vir.
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II. A missão da igreja é avançar o reino de Deus num mundo decaído e ser o anteprojeto do
Reino de Deus. Para avançar o Reino de Deus, quatro áreas são identificadas como
essenciais: a comunhão de crentes nas igrejas, a vida pessoal e familiar dos crentes, a
sociedade no qual a igreja existe, e o mundo. Um pressuposto fundamental baseado nos
pontos anteriores é o seguinte: desde que todos os cristãos têm responsabilidade igual
perante Deus como mordomos da criação, todos têm responsabilidades no ministério. O
trabalho do ministério pertence às pessoas, não aos pastores somente. Também envolvido
nisto é o reconhecimento que todos os crentes são vocacionados para servir Deus nas
ocupações seculares e que lá eles levam a cabo o imperativo cultural para avançar o Reino
de Deus.

A. A igreja local - A estrutura da comunidade local de crentes estará alicerçada nos dois
focos dos ministérios internas (louvor, pregação, estudo bíblico, etc.) e dos ministérios
externas para grupos alvo (seitas, pessoas viciadas, pessoas de rua, universitários, etc.).

(1) Os ministérios internos da igreja serão realizados nas suas reuniões para edificar o povo de
Deus.

a) O trabalho do pastor é capacitar os membros da igreja pelo ministério. Ele reconhece que o
ministério será feito pelos assim chamados leigos da igreja. O pastor existe para equipar (Ef.
4.12). A liderança será realizada por pastores (1Tm 5.17) que estão trabalhando como um equipe
que concordam com doutrina e filosofia de ministério da igreja (Am 3.3). Estes líderes têm que
conhecer as qualificações bíblicas para a sua posição (1Tm 3.1-7; Tt 1.5-9).

Os diáconos existem para facilitar o ministério dos pastores, permitindo que os pastores se
dediquem ao ensino da palavra.

b) Os pastores reconhecerão que o ensino de teologia sistemática e apologética do púlpito e


nas aulas não é opcional. A falta de ensino teológico na igreja é um pecado muito sério.
Para equipar os crentes adequadamente eles têm que saber o sistema de verdade como
existe na Bíblia. A pregação realizará a exposição sistemática de Escritura (Tt 2.1; 2Tm
2.24-26; 1Pe 3.15).

c) Todo crente é um ministro em virtude de dons e chamado (Rm 12.1-8; 1Cor 12.7-11). Os
líderes leigos terão a liberdade de trabalhar com supervisão e interferência mínima. Serão dadas
aos crentes amplas oportunidades para descobrir e utilizar seus dons espirituais.

d) O louvor, os ministérios, o ensino, e as atividades serão pertinentes à cultura e falarão seu


idioma. A igreja jamais promoverá ou preservará tradição apenas porque é tradição. Ela mudará
nas áreas dispensáveis sempre quando é necessário, mas também se esforçando para evitar
promover o que está na moda simplesmente porque está na moda. Em prática isso significa que a
igreja será contemporânea em sua orientação para com o louvor e o ministério. A igreja será
sensível aos “investigadores” enquanto seu ministério será cheio de substância para os crentes.
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e) Para promover comunhão e responsabilidade uns pelos outros, a igreja estabelecerá e


promoverá grupos pequenos que se encontrarão com a finalidade de oração, estudo da
Bíblia, e edificação mútua.

f) Crescimento em Cristo envolve a recuperação das pessoas de hábitos e estilos de vida


doentios e dos efeitos de famílias doentias. A igreja oferecerá grupos pequenos enfocados
em assuntos específicos.

g) A igreja trabalhará ativamente contra a mentalidade que entende a igreja como fortaleza
onde todo o ministério acontece. A igreja será direcionada para fora e para a expansão do
reino de Deus no mundo.

(2) Grupos alvo - Grupos alvo são grupos de pessoas específicos dentro ou fora da igreja
que precisam de ministérios especializados. Exemplos incluem as mães solteiras, seitas,
artistas, e as pessoas de rua. Tipicamente estes ministérios serão liderados por leigos.
Grupos alvo permitem o desenvolvimento de equipes de ministério de pessoas que têm uma
visão comum trabalhando junto.

O povo não será colocado em estruturas preexistentes simplesmente porque é assim que se
faz igreja. As pessoas não existem para satisfazer as exigências de programas e estruturas,
mas sim os programas e estruturas existem para servir as pessoas. Se um programa não
tem propósito claro então ele será abolido (ex. culto de quarta feira). Eles podem ser
mudados sempre quando é necessário.

B. A vida pessoal e familiar - A igreja reconhece que sua vida como igreja é somente tão
forte quanto à vida individual e familiar. Também reconhece que a família é o que Deus
ordenou como a fundação da sociedade. A igreja promoverá programas e ensino para
fortalecer as famílias espiritualmente e socialmente. Serão apoiados valores familiares. A
igreja exigirá dos pastores e outros do corpo docente que eles dêem mais prioridade às suas
famílias do que da igreja.

C. A sociedade - Ministério na sociedade inclui a preocupação com justiça social e ministérios de


ação social, porque Deus se importa com os oprimidos (Zc 7.9-10) e Ele manda que nós
cuidemos dos pobres (Tg 2.14,15). Embora a igreja não seja uma organização política e seja
corretamente separada do Estado, os cristãos serão encorajados a promover padrões bíblicos na
sociedade. Isto especialmente implica o apoio da igreja pela proteção dos fracos, carentes, e
oprimidos. O evangelismo é vinculado com a transformação da cultura.

O trabalho secular do crente - O progresso do Reino de Deus é levado a cabo também pela
aplicação do imperativo cultural em todos os passeios de vida. A igreja encorajará que todos os
crentes façam seu trabalho para a glória de Deus.

D. O Mundo - O “cristão mundial” é aquele que tem como prioridade o progresso do Reino de
Deus no mundo inteiro (At. 1:8). Tal pessoa busca ser informada sobre missões mundiais e
participar na tarefa missionária. O dom de ser missionário é a capacidade específica, dotada pelo
Espirito Santo, de atuar no ministério numa cultura estrangeira. Enquanto não todos os cristãos
têm esta chamada, todos os cristãos têm uma chamada para apoiar os missionários através da
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oração e apoio financeiro. A igreja encorajará seus membros a orar regularmente pelos
missionários e estabelecer relações pessoais com eles. Também a igreja buscará envolver suas
pessoas em viagens missionárias. Sempre que possível estas viagens serão feitas junto com
missionários de nossa igreja e denominação. A igreja apoiará a Junta de Missões Mundiais e o
Plano Cooperativo.

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