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EDUCAÇÃO NO BRASIL

Nos últimos 25 anos, a educação no mundo vem sofrendo profundas


transformações e diferentes estudiosos vêm refletindo sobre esse assunto. Para Manuel
Castells (1999), as mudanças que ainda estão ocorrendo não são só tecnológicas, mas
principalmente culturais e organizacionais. O ponto chave para o desenvolvimento
econômico, para o enfrentamento das desigualdades e para a democracia é a educação.
A educação é hoje para a sociedade informacional o que a energia foi para sociedade
industrial. Também para Gramsci, por seu profundo engajamento na luta de classes, as
reflexões políticas e filosóficas centraram-se nas perspectivas de transformação da
sociedade e os meios de transformação. Gramsci percebe que a escola e a educação, no
seu sentido mais amplo, constituem suporte fundamental para a manutenção de um
sistema de crenças que legitimam a hegemonia de uma classe em relação à outra
(MARTINS, 2012).

É conhecido que quanto mais pobre a população, maior a potência de


transformação e inserção social a educação pode trazer. A escola representa muitas
vezes o único lugar estruturado de convivência, além de ser um ambiente de
aprendizagem. A capacidade de aprender vai depender desse acolhimento (GOUVÊA,
2000). Porém, a questão que fica, no contexto brasileiro, é como proporcionar tamanho
apoio quando a educação não ganha a sua devida atenção no financiamento das políticas
públicas brasileiras. Escolas sem manutenção em condições precárias, professores
desmotivados com baixos salários, péssimas condições de trabalho e com medo da
violência. Há dificuldades em oferecer um ambiente acolhedor com casos como o de
Maria Eduarda, morta dentro da escola por um tiro1, em Acari, no Rio de Janeiro.

Dentro de todo esse contexto, temos como principais problemas na educação


brasileira a taxa de analfabetismo funcional e de evasão escolar. Para esclarecer a
disseminação do termo ‘analfabetismo funcional’, a UNESCO visando padronizar as
estatísticas educacionais adotou esse termo na definição de alfabetização que propôs em
1978. Em 1958, a definição de alfabetização fazia referência à capacidade de ler e
escrever um enunciado curto e simples. Vinte anos depois, a UNESCO classifica a
alfabetização como funcional quando o indivíduo consegue inserir-se adequadamente
em seu meio, sendo capaz de desempenhar tarefas em que atividades de escrita, leitura e

1
Para saber mais, acesse https://odia.ig.com.br/_conteudo/rio-de-janeiro/2017-03-30/estudante-e-morta-
dentro-de-escola-em-acari.html.
cálculo sejam demandados (RIBEIRO, 1997). O analfabetismo emergiu no Brasil como
uma questão econômica e não social. A questão emergiu com a reforma eleitoral de
1882 (Lei Saraiva), que por um lado derrubou a barreira de renda, mas instituiu a
proibição do voto aos analfabetos. Essa questão não esteve posta durante muito tempo,
já que não constituía problema a maioria da população não saber ler e escrever. Tanto
que no censo de 1890, o Brasil tinha a taxa mais alta entre os países considerados:
82,63% da população de 5 anos para cima (FERRARO, 2002). A dimensão social do
problema só foi levantada no período pós Segunda Guerra Mundial.

Já a questão da evasão escolar é pautada em um trágico fenômeno: o fracasso


escolar. Apesar de ter sido considerado por muito tempo que o principal fator seria o de
que crianças muitas vezes tem que sair da escola para trabalhar, está longe de ser
considerado o principal determinante. O fracasso escolar é identificado como o principal
pelo êxodo e a repetência não melhora a aprendizagem dos alunos. Há uma íntima
relação entre a taxa de distorção idade-série e a taxa de repetência, sendo que esta é
causa daquela. Embora a relação não seja linear, ela é monótona crescente – quanto
maior for a repetência nos anos anteriores ao ano em questão, maior será a defasagem.
(SOARES; SATYRO, 2008).

Atualmente, as coisas vêm melhorando. O quadro começou a se alterar a partir do


fim da década de 80 e os resultados começaram a aparecer nos anos 90. Em 1970, a taxa
de analfabetismo era de 33,6%. Em 1996, de 14,7%. O mais recente, em 20152, é de
8%. A taxa de evasão também melhorou, atingindo 11% do total de alunos em 2015,
segundo o Censo Escolar.

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

A história da educação para jovens e adultos no Brasil começa no Império, onde


no ano de 1876, segundo um relatório do ministro José Bento da Cunha Figueiredo,
registrava a existência de cerca de 200 mil alunos matriculados no ensino para jovens e
adultos no período noturno. O desenvolvimento industrial no início do século XX é
destacado pela lenta, porém crescente valorização da educação de adultos. Pontos de
vista diferentes traziam esse interesse na educação, como por exemplo, a aquisição da
leitura e da escrita como instrumento para ascensão social (CUNHA, 1999).

2
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios 2007/2015.
No ano de 1945 foi criada a UNESCO que tinha como proposta alfabetizar os
adultos e o Brasil era um país que continha um número expressivo de analfabetos. Em
1947 foi desenvolvida a 1ª Campanha de Educação dos Adultos, nessa época o adulto
analfabeto era submetido à menoridade econômica, jurídica e política, não podendo
votar ou ser votado. A campanha não obteve sucesso pela falta de interesse dos alunos e
pelos baixos salários e má qualificação dos professores (FERRARI, 2014).

No início dos anos 60 houve uma mobilização da sociedade civil para reformar a
educação, tendo como grande referência Paulo Freire. Após o exílio na ditadura do
educador após seu programa de educação revolucionário, o governo assume o controle
da educação de jovens e adultos criando o Movimento Brasileiro de Alfabetização
(MOBRAL) em 1967. A partir da década de 70 a LDB 5692/71 outorgou a oferta do
ensino supletivo, obrigou como dever do Estado incluir crianças e adolescentes de 7 a
14 anos e reconheceu a educação de adultos como direito de cidadania, o que foi
considerado um grande avanço para a EJA no país (CUNHA, 1999).

Em 1985 o MOBRAL foi extinto, e em seu lugar deu início o projeto EDUCAR
que visava apoiar financeiramente e tecnicamente as iniciativas existentes. Os países em
desenvolvimento tinham como objetivo incrementar a educação no país e a UNESCO
conferiu reconhecimento internacional à EJA. O resultado desse processo foi o
surgimento de vários fóruns para discutir a EJA em âmbito nacional. Ainda nos anos
1990 a administração da EJA passa dos governos para os munícipios. A nova Lei de
Diretrizes e Bases de Educação – LDB 9934/96 em seu artigo 3º, a igualdade de
condições para o acesso e a permanência na escola, o pluralismo de ideias e de
concepções pedagógicas, a garantia de padrão de qualidade, a valorização da
experiência extraescolar e a vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas
sociais (BRASIL, 1996).

A EJA ainda carece de investimentos e não é considerada a forma de educação


ideal. Mas, há de se considerar os grandes avanços que essa modalidade de educação
teve, sendo, hoje em dia, garantida como um direito.
REFERÊNCIAS:

CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo, Paz e Terra, v.1, 1999.

GOUVEA, GILDA FIGUEIREDO PORTUGAL. Um salto para o presente: a educação básica


no Brasil. São Paulo Perspec., São Paulo , v. 14, n. 1, p. 12-21, Mar. 2000 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
88392000000100003&lng=en&nrm=iso>.

GRAMSCI, A.. Maquiavel, a política e o estado moderno. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 1978.

MARTINS, EBC. Educação e serviço social: elo para a construção da cidadania [online].
São Paulo: Editora UNESP. 2012. A polótica de educação brasileira: uma leitura sob a óptica do
serviço social. pp. 75-113.

FERRARI, F. As causas e consequências do índice de evasão escolar no ensino médio da


Educação de Jovens e Adultos “EJA” Professor Antonio de Almeida Junior – Osasco SP.
2014. Universidade Federal Tecnológica do Paraná.

FERRARO (FERRARI), A. R. Alfabetizar é escolarizar. Sociedade & Estado, Brasília, v. 24,


n. 2, p. 323-348, jul./dez. 1999b

SOARES, S; SÁTYRO, N. O impacto da infra-estrutura escolar na taxa de distorção idade-


série das escolas brasileiras de Ensino Fundamental – 1998- 2005. Rio de Janeiro, maio de
2008.

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