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Resumo
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Doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG. Professora colaboradora do curso
de Pedagogia da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná, UNICENTRO. E-mail: vantisilva@gmail.com
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Pesquisador Sênior da Fundação Araucária. Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas
(1992). Professor no programa de pós-graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática, mestrado
profissional da Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO e em Educação, mestrado e doutorado da
Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG. E-mail: dioburak@yahoo.com.br
ISSN 2176-1396
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Introdução
A Matemática está no nosso cotidiano, mas muitas vezes nos falta sensibilidade para
perceber. Há Matemática no tempo, na organização dos espaços, nas compras que realizamos,
no computador usado diariamente, no alimento que produzimos, nas brincadeiras, nas
atividades de lazer, na natureza, nas artes, na vida ou como nos diz Aragão (2010, p. 13), “para
tudo o que a gente faz no mundo, para tudo na vida se usa Matemática, se usa um pensar que é
de Matemática [...] é pensamento lógico-matemático”.
Esta Matemática presente na vida das pessoas e constituinte do próprio modo de pensar
humano tem encontrado muitos limites no âmbito escolar, porque há um distanciamento do que
se faz na escola com a vida dos educandos, ou seja, em Matemática o ensino é pautado na
reprodução de fórmulas, regras e exercícios mecânicos com pouca ou nenhuma relação com o
contexto, o que torna a aprendizagem de Matemática desprazerosa.
Essa possível fragilidade sobre o ensino de Matemática incide também na formação de
professores que, segundo Fiorentini e Lorenzato (2012) se preocupam mais com as técnicas do
que com o processo formativo, educativo. A situação se torna ainda mais “agravante”, em nossa
compreensão, quando pensamos na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, porque, muitas vezes, os professores destas etapas precisam ensinar conteúdos
específicos que não sabem ou não dominam (NACARATO et. al, 2011).
Diante disso, acreditamos ser imprescindível discutir sobre a formação dos professores
que ensinam Matemática na infância, pois este momento da vida, segundo Kohan (2005) é um
degrau para o desenvolvimento da vida humana, é nela que se constroem as bases e alicerces
dos valores humanos e da vida.
Neste cenário, entendemos que pedagogos são personagens importantes para instigar o
desenvolvimento do pensamento lógico-matemático, ou seja, o pensar, o raciocinar, o
comparar, o criar hipóteses e outras habilidades necessárias para a vida.
Este pensamento lógico-matemático cujo desenvolvimento ocorre principalmente na
Educação Infantil (KAMII, 2012) é basilar para aprendizagem de diferentes conhecimentos e,
em especial, para a construção do número e apropriação dos conteúdos matemáticos previstos
para os anos iniciais do Ensino Fundamental e demais etapas (BRASIL, 1996).
Há, neste sentido, uma preocupação com a formação de pedagogos, em especial, quando
se trata da sua formação para atuação como professores, pois além dos conhecimentos sobre o
desenvolvimento e aprendizagem da criança, carecem conhecer, ao menos um pouco, teorias
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e práticas das diferentes áreas, para que assim possam oportunizar um aprender dinâmico,
coerente e interessante às crianças.
Inquietos sobre estas considerações e, principalmente, sobre a formação desse
profissional que ensina Matemática às crianças, decidimos desenvolver uma investigação
orientados pela questão: o que se pode compreender sobre a formação de pedagogos para o
ensino de Matemática nas propostas das universidades estaduais do Paraná?
Ao buscar respostas, desenvolvemos estudos bibliográficos e documentais, contamos
com diferentes materiais sobre o ensino de Matemática na infância e sobre a formação de
pedagogos professores. Além disso, consultamos os projetos políticos pedagógicos dos cursos
de Pedagogia, presencial, de sete universidades estaduais do Paraná3, sendo elas: Universidade
Estadual de Londrina (UEL); Universidade Estadual de Maringá (UEM); Universidade
Estadual de Ponta Grossa (UEPG); Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná
(UNICENTRO); Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP); Universidade Estadual
do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). Destes
projetos, analisamos a estrutura da matriz curricular e os ementários das disciplinas de formação
Matemática.
O trabalho, assim, além desta introdução e das considerações finais, apresenta algumas
características do curso de Pedagogia e uma breve análise sobre os documentos supracitados.
Ainda, vale destacar que apresentamos argumentos e estudos preliminares que fazem parte de
uma pesquisa maior que se encontra em desenvolvimento no programa de pós-graduação em
Educação na Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG, doutorado.
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Vale destacar que estes documentos foram disponibilizados durante a realização da dissertação que tratou sobre
a formação de pedagogos para o ensino de Ciências (SILVA, 2014) e, esse número não representa a totalidade dos
cursos de Pedagogia das universidades estaduais paranaenses, pois em alguns casos os cursos são ofertados em
mais de um município e nem sempre os projetos são os mesmos.
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A partir do campo de atuação previsto, compreende-se que é um curso que não forma
apenas professores, mas seus aspectos basilares estão na docência, concebida como um ato
reflexivo, crítico, investigativo e intencional e não meramente técnico.
Sobre isso, Franco (2011, p. 127) diz que a docência não está mais “conformada aos
princípios de racionalidade técnica”, ou seja, a determinação de ser uma função neutra ou
desprovida de subjetividades, em que professores são vistos como sujeitos executadores de
tarefas e cujo maior saber é o técnico e instrumental (ROCHA, 2014).
A concepção de docência, portanto, carrega a compreensão de que a diversidade está
presente nas ações educativas e que o ato de ensinar é um processo de “socialização e de
construção do conhecimento, no âmbito do diálogo entre diferentes visões de mundo”
(BRASIL, 2006, p. 01). Por isso, a formação de professores, dada nos cursos de licenciatura e,
mais especificamente, no curso de Pedagogia, compreende ou tenta possibilitar a construção de
diferentes saberes, como os pedagógicos, disciplinares, curriculares (PIMENTA, 2000;
TARDIF, 2012).
Os referidos saberes, em nossa compreensão, são fundamentais para a formação de
professores pesquisadores e reflexivos, capazes de pensar sobre suas práticas, sobre o cenário
educativo no campo político e social e, ainda, criar situações que possam contribuir para
transformar determinados contextos alienantes e excludentes.
Tais considerações podem ser apontadas como um diferencial do curso de Pedagogia
que, por meio de suas Diretrizes Curriculares Nacionais (BRASIL, 2006), expressa a
necessidade da estruturação de uma proposta favorável à formação de sujeitos capazes de atuar
na diversidade e complexidade. Opõe-se, assim, a estruturação de muitos outros cursos de
licenciatura que focam na instrumentalização da Ciência, esquecendo de aprofundar e dedicar-
se a formação de educadores capazes de entender que o propósito da Educação Básica não é
formação do cientista ou do profissional de sua área, mas sim formar humana, crítica e
integralmente os sujeitos por meio das diferentes áreas pertencentes ao currículo escolar.
Com esta afirmação não queremos generalizar os cursos de licenciatura, mas sim refletir
que o curso de Pedagogia, muitas vezes, criticado pela ausência do conhecimento específico se
destaca por oferecer uma formação mais ampla ao educador.
Queremos dizer, nessa linha, que o processo educativo escolar requer muito mais do que
domínio de um conhecimento específico, disciplinar. É necessário reconhecer que os sujeitos
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A afirmação é feita a partir de experiências com acadêmicos de Pedagogia que dizem escolher o curso por não
precisar estudar Matemática.
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Quadro 1: Disciplinas ofertadas em cursos de Pedagogia das Universidades Estaduais do Paraná referentes ao
ensino de MATEMÁTICA
Carga Ano/ série
IES Nome da disciplina
Horária do curso
1 Princípios teóricos e metodológicos do ensino de Matemática 72h 3º ano
2 Didática de Matemática para as séries iniciais do ensino fundamental 60h 3º ano
3 Metodologia do ensino de Matemática: 1ª a 4ª série do ensino 136h 3º ano
fundamental
4 Fundamentos teóricos e metodológicos da Matemática 102h 3º ano
5 Fundamentos teóricos e metodológicos de Matemática e Ciências 144h 4º ano
6 Teoria e Metodologia do ensino de Ciências da Natureza e Matemática 136h 3º ano
7 Teoria e prática do ensino de Educação Matemática 102h 3º ano
Fonte: Os autores
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Sobre estas disciplinas, considerando seus títulos, a carga horária e o ano em que são
ministradas no curso de Pedagogia, surgiram três (03) reflexões.
A primeira diz respeito as disciplinas da IES 5 e 6 que conjugam a área de Ciências
Naturais e Matemática. O trabalho concomitante com noções, conceitos e conteúdos das duas
áreas pode contribuir significativamente com a formação ou comprometer, negativamente, a
construção destes profissionais.
No que se refere as contribuições dizemos que se pode promover, diariamente, práticas
integradas e/ou interdisciplinares. Tanto nos fundamentos para o ensino de Ciências
(DELIZOICOV et. al, 2011) quanto para o ensino de Matemática (LORENZATO, 2010) há
esta defesa, para que seja superado a fragmentação do saber e se desenvolvam práticas
polidisciplinares, multidimensionais.
As práticas educativas de Ciências Naturais e Matemática, no atual contexto, têm se
subsidiado em visões/olhares plurais sobre o processo de ensino e aprendizagem5, há
metodologias como o ensino de Ciências por investigação6 ou a Modelagem Matemática na
perspectiva da Educação Matemática7, por exemplo, que se sustentam nesses pressupostos e,
têm com ênfase, ganhado espaço na Educação Básica e, por meio, delas é muito comum se
observar o diálogo entre estas duas disciplinas e outras que compõem o currículo escolar.
Fazendo esta exemplificação dizemos que proposta de formação das IES 5 e 6 coadunam
com práticas educativas em crescimento nos dias atuais em Ciências e Matemática (SILVA,
MEGLHIORATTI, 2011; SILVA, BURAK, 2016)8, porém, não se pode negar que estas
disciplinas passam pelas subjetividades de quem as planeja, o professor formador de
pedagogos.
Se o formador, portanto, consegue ter equilíbrio, afinidade e valoriza ambas as áreas,
acreditamos ser possível desenvolver práticas significativas e cheias de potencialidades à
formação inicial de pedagogos. No entanto, não podemos deixar de considerar que há
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No ensino de Ciência é predominante a concepção construtivista, definida como um agrupamento de teorias em
que o aluno é sujeito da aprendizagem (MORAES, 2008). Já no ensino de Matemática há uma pluralidade de
visões que tem configurado um novo paradigma defendido pelo Movimento Educação Matemática (KLÜBER;
BURAK, 2008)
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Em síntese, é uma proposta metodológica que parte de interrogações/problemas, em que os educandos são
instigados a criar hipóteses e solucionar as questões (SASSERON, 2015). Esta, em nossa opinião, pode
desencadear a abordagem de conceitos e conteúdos de outras áreas.
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É uma metodologia de ensino que parte de um tema de interesse dos educandos e, um dos principais objetivos é
levantar problemas que integrem Matemática e outras áreas (BURAK, 2004).
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São trabalhos do tipo “estado da arte” que permitem dizer que práticas interdisciplinares são pensadas e
defendidas com maior ênfase nos últimos anos e, ainda, “luta-se” por uma formação de professores coerente a
estas práticas.
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A referida obra é uma referência a formação de professores de Ciências e se assemelha ao exposto por Lorenzato
(2010) quando trata do ensino de Matemática.
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Considerações finais
REFERÊNCIAS
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descompassos do ensino nos anos iniciais de escolaridade. In: BURAK, Dionísio; PACHECO,
Edilson Roberto; KLÜBER, Tiago Emanuel (Org). Educação Matemática: reflexões e ações.
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MOTA, Ana Paula Araújo; MEGID, Maria Auxiliadora B.A. As operações aritméticas na
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Brancaglion. A matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental: tecendo fios do
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