Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Uma pergunta muito comum no meio do babywearing é: “Posso carregar meu bebê de frente para
o mundo? Ele adora!”
Neste texto, Vamos estabelecer um diálogo em primeira pessoa para facilitar o raciocínio clínico.
Então, acompanhe.
Realmente, Você tem razão sobre ele adorar. Bebê a partir dos 3 ou 4 meses “despertam” para o
mundo e são curiosos a tudo que acontece ao seu redor. No entanto, existem algumas contra
indicações para carregá-los em carregadores de frente para o mundo. Dentre elas, a super
estimulação, ou seja, o bebe fica sem nenhum filtro de estímulos nesta posição, o que pode excitá-lo e
estressá-lo além do limite; o risco de algum objeto acertar o rosto do bebê; a passividade com que o
bebê fica sem a opção de aconchegar-se ao colo do adulto quando sente necessidade; a falta da
posição fisiológica tão falada no mundo do babywearing, ou seja, posição acocorada (“sapinho”),
onde os joelhos ficam acima da linha dos quadris, abdução de quadris, pelve retrovertida e a coluna
em C.
Recentemente, um marca de carregadores lançou um produto que aparentemente permite que o bebê
seja carregado de frente sem prejudicá-lo, o Ergo 360. Este produto, fez ressurgir a discussão sobre
esta possibilidade em um um grupo de babywearing do facebook.
Nos ateremos a contra indicação ergonômica (falta da posição fisiológica) para analisarmos o Ergo
360º e te responder se você pode ou não carregar seu bebê de frente para o mundo. Utilizaremos
alguns argumentos levantados a favor do ergo para que você acompanhe nosso raciocínio.
Em relação ao bebê, um bebê que tem extensores da coluna ativos, em uma posição
que o peso corporal está na pelve e nos membros inferiores, como é o caso do ergo
360º, qual o problema, do ponto de vista ergonômico, de carregar o bebê de frente
para o mundo?
Se você olhar com cuidado as imagens e o vídeo do ergo 360º, ou melhor, se experimentar o produto,
verá que os pontos de apoio que ele estabelece pela pelve nessa posição do 360 está praticamente
no coccix e sacro e não nos Ísquios, o que modifica e muito o reflexo postural e a distribuição de
forças do peso entre a coluna e a pelve.
Não. A questão não é só os apoios dos ísquios. Na coluna, mesmo que o bebê já tenha os
extensores da coluna ativos, a posição de costas para o corpo de quem carrega não possibilita
um encosto adequado para as curvaturas que estão em formação. Embora um bebê que senta
sem apoio, não precise de apoio total na coluna todo o tempo quando esta em local estável
(chão, cadeira), ao ser carregado, ele está sofrendo as vibrações, impactos e os
deslocamentos causados pelos movimentos do adulto. Durante esses movimentos, o bebê
busca estabelecer apoios o tempo todo e procura frequentemente o corpo do adulto para se
encostar. De frente para o mundo, ele encontrará nas suas costas um corpo convexo
(abdomem e peito do adulto) o que forçará uma posição de extensão da coluna (ao contrário
da coluna em C) prejudicando a formação das curvaturas e gerando contração excessiva dos
extensores da coluna (músculos posteriores).
O problema no 360 e de qualquer amarração de frente é que o tecido não oferece suporte
necessário as cadeias anteromedianas (músculos da frente do corpo do bebê) que estão em
transição de hipertonia fisiológica a uma sustentação ativa adequada da cadeia posterior,
então no caso de carregar no 360, pela falta de sustentação necessária no tecido para a
antero mediana o bebê acaba contraindo muito essas musculaturas que estão em transição
com as posteromedianas..
Sim, quando se obtém a coluna em C e a retroversão da pelve, os apoios não estão nos
ísquios, pois estão distribuídos por toda a coluna, na a bacia e no fêmur.
Na posição de frente não se obtém nem a retroversão e a coluna em C e nem o apoio nos
ísquios com apoio adequado as curvaturas da coluna, que são duas formas adequadas de
distribuição de peso.
Nas amarrações costas, o corpo do adulto não é convexo. Isso deve ser um impeditivo para
bebês sem controle, ou não? Pois o abdômen do bebê pequeno parece ficar sem ponto de
apoio, o que não ajuda nas funções respiratórias, gerando um esforço.
Sobre bebês pequenos nas costas, a coluna torácica que geralmente é a altura onde se apoia
os bebês pequenos, oferece convexidade sim, possibilitando apoios e a postura fisiológica da
coluna e do quadril. Mas há recomendações considerando outros pontos além de ergonomia e
postura nas quais orienta-se que utilize em casos de necessidade em ter a frente livre, pois o
bebê pequeno necessita muito da troca de calor, ouvir os batimentos cardíacos mais de perto
e trocar tudo isso de peito a peito, pois toda essa troca ajuda regular seus sistemas e auxilia
muito na amamentação, produção do leite no caso da mãe entre outros inúmeros benefícios
para ambos.
Você compreendeu todos os pontos levantados, mas ainda está na dúvida se mesmo por poucos
minutos por dia utilizar um carregador com o bebê voltado para frente faz um estrago muito grande ?
Veja, desconhecemos evidências científicas que analisam o efeito de ser carregado de frente para o
mundo como no ergo 360. No entanto, diante de todos os argumentos apresentados, não indicamos
carregar o bebê de frente para o mundo em qualquer carregador que seja, nem no ergo 360.
Portanto, se você quer satisfazer a vontade do seu bebê em ficar de frente para o mundo, experimente
as amarrações altas nas costas ou no quadril, o que amplia o campo de visão dele, sem perder o apoio
anterior do seu corpo e você tem a certeza de não estar prejudicando seu filho.
Esperamos que essa reflexão te ajude a decidir como, quando e onde carregar seu bebê e desejamos
que vocês tenham muitas experiências prazerosas grudadinhos um no outro.
Qualquer dúvida, crítica ou sugestão, nos escreva:
*Geovana Régis
Assessora de Babywearing
Contato: geovanare@gmail.com
**Marcela Gonçalves
Educadora Física
Especialista em Ergonomia
Formada em Eutonia
Assessora de Babywearing
Contato: marcela.fefunicamp@gmail.com