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TRABALHO Nº1

SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS

Trabalho intermediário - requisito parcial à


obtenção do título de Pós-Graduação em
Direito Público.

NATHALIA DE BASTOS MENDES

RIO DE JANEIRO
2016
Sistemas Processuais Penais

A doutrina conceitua o sistema processual penal como um conjunto orgânico de


conceitos e normas destinados a um determinado fim, e pautado no Princípio Unificador,
que lhe confere racionalidade.
Surgem primeiramente dois sistemas: o acusatório e o inquisitivo. Posteriormente ,
surge o sistema misto.

1. Sistema Acusatório (±150 A.C.)

a. Origens Históricas: “quaestionesperpetuae”

Por volta do ano 150, A.C. surge o embrião do sistema acusatório, com as
chamadas questões perpétuas. Tais questões perpétuas surgem na segunda fas e de Roma
(Fase Republicana). Cada questão perpétua era criada por uma Lex (lei). Assim, com as
questões perpétuas, surge o Princípio da Legalidade (Anterioridade). As questões
perpétuas adquiriram esse nome, pois atingiram uma aceitação tão grande que, de
provisórias, passaram a ser definitivas.
A composição das questões perpétuas é a origem do Tribunal do Júri. Tais
questões definiam a atuação de órgãos jurisdicionais que eram de composição
heterogênea: um “praetor” (juiz) e mais 50 jurados (cidadãos romanos).
Nessa época, não existiam os Ministérios Públicos. Assim, a ação penal
condenatória poderia ser ajuizada por qualquer cidadão romano que narrasse o fato do
crime. Cabe ressaltar que não havia ressarcimento para aquele que ajuizasse a ação penal
condenatória. As vantagens para o cidadão que ajuizasse uma ação penal condenatória
eram:

1. “Prêmio” Financeiro: previa a legislação da época que, caso a sentença do caso fosse
condenatória, o autor receberia um prêmio financeiro.
2. Oratória: outra motivação para o ajuizamento da ação penal condenatória é o
aperfeiçoamento da oratória.
3. Notoriedade pública: quem visava um cargo político, buscava ajuizar ação penal
condenatória para ganhar visibilidade, notoriedade.

Porém, apesar dos possíveis benefícios, o acusador estava passível de calúnia,


prevaricação, entre outros crimes.
Hoje tal noção de processo é conhecido como Actum trium presonarum: Acusado -
Acusador – Tribunal.
O ato de ajuizamento da ação penal condenatória era público, contraditóri o e oral.
A regra do processo penal acusatório romano era a inocência do acusado,
respondendo o processo em liberdade. Logo, o ônus de provar a culpa era do acusador.
Surge nessa época também a figura do “advocatis”, que era uma espécie de
consultor. Após, surge o “patronus”, que podia falar em lugar do réu, basicamente seu
advogado.

b. Características Principais

A primeira característica fundamental é a ideia de que as funções de acusar,


defender e julgar são funções obrigatoriamente autônomas, independentes, devendo ser
atribuídas a diferentes personagens processuais (o acusador popular, o acusado, o pretor e
os jurados). Havia assim a manutenção da imparcialidade.
A segunda característica fundamental é a ausência de poderes de instrução do
julgador. No sistema acusatório, o julgador não pode agir de ofício no sentido de buscar
provas. Para que se preserve a imparcialidade do julgador.
Esse último ponto é objeto de divergência doutrinária no Brasil. Parte da doutrina
entende que o aspecto de ausência de poderes de instrução é fundamental para a
caracterização do sistema acusatório, para garantir a imparcialidade (Jacinto Coutinho).
A segunda corrente sustenta que esse ponto não é uma característica fundamental do
sistema acusatório, sendo o fundamental a existência do acusado e do acusador, da
separação de funções (Ada Pelegrini).
c. Características Secundárias

O sistema acusatório vem acompanhado de determinadas características


secundárias. Como primeira característica secundária, temos a regra da liberdade do
acusado no curso do processo, o acusado é considerado inocente até a sentença penal
condenatória (presunção de inocência).
A segunda característica é a publicidade, havendo transparência do processo, e
uma oralidade, onde há predominância de atos processuais orais.

2. Sistema Inquisitivo (fim do séc. XII; início do séc. XIII)

a. Origens Históricas: Papado de Inocêncio III (1198 – 1216)

O sistema processual inquisitivo é diametralmente oposto ao acusatório. Nasce no


papado de Inocêncio III, quando a Igreja Católica vislumbrou uma necessidade de
reprimir atos de heresia.
Nesse contexto, o Papa Inocêncio III baixa um decreto instituindo o processo per
inquisitionem. Em tal processo não há necessidade de que o autor seja revelado, qualquer
um podia iniciar o processo, tanto um delator como o julgador.
O órgão julgador é o Tribunal Inquisitorial, o qual era presidido pela figura do
Inquisidor, que é nomeado pelo Papa.
O Inquisidor era o julgador e exercia 03 funções: investigação, acusação e
julgamento. Devido a essa unificação de funções, o normal era a condenação do acusado.
O sistema inquisitivo é um processo penal escrito, secreto e não contraditório.
Todos os atos praticados são reduzidos a ermo. É um procedimento iniciado de ofício ou
por delação. O acusado não era considerado um sujeito titular de direitos. O acusado era
sujeito de provas, poderia ser usado para a formulação de provas.
Caso não houvesse a acusação pelo Papa, que era o único que teria a capacidade
de acusar sem que houvesse a necessidade de testemunhas, era necessário que existissem
duas testemunhas do crime. Com esse entrave ao início do processo, criou-se um artifício
para burlar tal regra, qual seja, a tortura. Assim, qualquer indício poderia ensejar à
tortura, e com a confissão o processo era iniciado e o acusado era condenado.

Obs.: Malleus Maleficarum – Martelo das Feiticeiras.

A prova mais importante desse sistema era a regina probatorum, que era a
confissão. Tal prova era pré-definida em lei. No sistema inquisitivo, o acusado respondia
ao processo preso.
O inquisidor era investido no seu cargo por uma sucessiva transmissão de poderes.
Assim, era necessário um mecanismo que verificasse o cumprimento das ordens da Igreja
pelo inquisidor. Portanto, era necessário que o processo fosse escrito. Para verificar se o
inquisidor não estava excedendo seus poderes havia a apelatio.

Obs.: “testisunus, testis nullius”: eram necessárias, ao menos, duas testemunhas oculares
(exceção: Papa).

b. Características Principais

A primeira importante característica desse sistema é a absoluta concentração das


atividades de investigação, acusação e julgamento.
A segunda importante característica é a existência de amplos e absolutos poderes
para requisitar de ofício a produção de provas.

c. Características Secundárias

Como primeira característica secundária há o procedimento de natureza escrita,


secreta e não contraditória. Como segunda, há uma presunção de culpabilidade do
acusado, tendo esse que responder o processo preso.

3. Sistema Misto
Obs.: Atualmente não existem mais sistemas processuais “puros”, predominando o
sistema misto.

a. Origens Históricas: Código de Instrução Criminal de 1808

O sistema misto nasce na época de Napoleão. Possui um processo penal composto


de duas fases (bifásico ou escalonado).
A primeira fase é a de investigação preliminar do crime, assemelhada ao sistema
inquisitivo, pois é escrito, secreto, não contraditório. Na época, quem exercia a primeira
fase era o Juiz de Instrução.
Na segunda fase há o julgamento, em que este não é feito pelo Juiz de Instrução,
mas sim pelos jurados (Júri). Assemelha-se ao sistema acusatório, sendo público, oral e
contraditório.
A crítica exercida é que as “provas” (secretas) levantadas pelo juiz de instrução
poderiam ser usadas e apresentadas no Tribunal do Júri.

4. Classificação do Código de Processo Penal Brasileiro

O Código de Processo Penal Brasileiro de 1941 é preponderantemente inquisitivo,


havia a presunção de culpabilidade do réu. Desconhecia o direito ao silêncio do réu,
permitindo o silêncio do réu como prova para acusação. Permitia o ajuizamento da ação
penal condenatória de ofício pelo próprio juiz. Ex.: prisão preventiva, desconsideração do
direito de silêncio.
A CRFB/88 é predominantemente acusatória, pois prevê a oralidade, o
contraditório, a presunção de inocência, a atribuição de ajuizamento da ação penal
condenatória pelo MP, o poder de investigação à polícia judiciária.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. –


Salvador: Editora Podivm, 2015

LOPES JR, Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional. 9. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012

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