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Em que consiste a crise atual? Quais são seus problemas? Essas e outras
perguntas são sem dúvidas importantes a se fazerem para compreensão e a dimensão da
nossa crise global. O sistema econômico hegemônico passa por sérios problemas, os
quais se tornam insolúveis pelos imperativos que lhe são compulsórios.
As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe
que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual
dominante. A classe que tem à sua disposição os meios da produção material dispõe
também dos meios da produção espiritual, de modo que a ela estão submetidos
aproximadamente ao mesmo tempo os pensamentos daqueles aos quais faltam os meios
da produção espiritual. (MARX, 2007, p. 47).
A estrutura da crise atual requer a denúncia por parte dos filósofos e críticos.
Podemos saber que, como escreveu em seu livro Filosofia, ideologia e ciência social, “a
posição das ideologias conflitantes é decididamente assimétrica. As ideologias críticas,
que procuram negar a ordem estabelecida, não podem sequer mistificar seus
adversários, pela simples razão de não terem [ideólogos da ordem] nada a oferecer [...]”
(MÉSZÁROS, 2008 p. 8).
Falamos até aqui de alguns aspectos fenomênicos da crise de acordo com a sua
base estrutural. Entretanto, vale frisar que, o capital, como sabemos, não é uma entidade
material cuja ela pode se mover livremente por aí. É um modelo de produção extra-
humano, e os agentes desse modelo – os que o “controlam” – sofrem seus efeitos, pois
sua gênese exige que eles ajam de acordo com tais imperativos e não somente por sua
“boa” ou “má” vontade. Assim Mészáros explica:
Antes de mais nada, é necessário insistir que o capital não é simplesmente uma
“entidade material” – [...], um “mecanismo” racionalmente controlável, como querem
fazer crer os apologistas do supostamente neutro “mecanismo de mercado” (a ser
alegremente abraçado pelo “socialismo de mercado”) – mas é, em última análise, uma
forma incontrolável de controle sociometabólico. A razão principal por que este sistema
forçosamente escapa a um significativo grau de controle humano é precisamente o fato
de ter, ele próprio, surgido no curso da história como uma poderosa – na verdade, até o
presente, de longe a mais poderosa – estrutura “totalizadora” de controle à qual tudo o
mais, inclusive seres humanos, deve se ajustar, e assim provar sua “viabilidade
produtiva”, ou perecer, caso não consiga se adaptar. (MÉSZÁROS, 2011. p. 96).
Porém, ainda sem levarmos em conta a classe de rentistas ociosos assim criada e a
riqueza improvisada dos financistas que desempenham o papel de intermediários entre o
governo e a nação, e abstraindo também a classe dos coletores de impostos,
comerciantes e fabricantes privados, aos quais uma boa parcela de cada empréstimo
estatal serve como um capital caído do céu, a dívida pública impulsionou as sociedades
por ações, o comércio com papéis negociáveis de todo tipo, a agiotagem, numa palavra:
o jogo da Bolsa e a moderna bancocracia. (MARX, 2013, p.1003)
O movimento socialista não terá a menor chance de sucesso, contra o capital, caso se
limite a levantar apenas demandas parciais. Tais demandas têm sempre que provar a sua
viabilidade no interior dos limites e determinações reguladoras preestabelecidas do
sistema do capital. As partes só fazem sentido se puderem ser relacionadas ao todo ao
qual pertencem objetivamente. Desse modo, é apenas nos termos de referências globais
da alternativa hegemônica socialista à dominação do capital que a validade dos
objetivos parciais estrategicamente escolhidos pode ser adequadamente julgada. E o
critério de avaliação deve ser a capacidade desses objetivos parciais se converterem (ou
não) em realizações cumulativas e duradouras no empreendimento hegemônico de
transformação radical (MÉSZÁROS, 2011. p. 943).
Portanto, a estrutura da crise é a crise do próprio sistema. E o “otimismo” já
não tem mais convencido as pessoas, bem como “é interessante observar que o
otimismo é, na maioria das vezes, apenas uma maneira de defender a própria preguiça,
as irresponsabilidades, a vontade de não fazer nada” (GRAMSCI, 2012, p. 109).
Referências bibliográficas
GRAMSCI, António. Poder, política e partido. Org. Emir Sader. Trad. Eliana Garcia.
São Paulo; Expressão Popular, 2012.
MARX, Karl. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus
representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes
profetas. Trad. Rubens Enderle, Nélio Schneider, Luciano Cavini Martorano. São
Paulo-SP: Boitempo, 2007.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I. Trad. Rubens Enderle.
São Paulo-SP: Boitempo, 2013.
MÉSZÁROS, István. A crise estrutural do capital. Trad. Francisco Raul Cornejo. São
Paulo. 2° edição: Boitempo, 2011.
MÉSZÁROS, István. Filosofia, ideologia e classe social. Trad. Ester Vaisman. São
Paulo-SP: Boitempo, 2008.
MÉSZÁROS, István. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. Trad.
Paulo Cezar Castanheira e Sérgio Lessa. São Paulo-SP: Boitempo, 2011.