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• Comunidade
• Sociedade 2ª
ediçao
do U niversidmfo de Munique
ZAHAR
(2 .a edição)
EM C IÊ N C IA P O L ÍT IC A
Z A H AR EDITORES
a cultura a serviço do progresso social
RIO DE JANEIRO
BIBLIOTECA DE CIÊNCIAS SOCIAIS
KURT SCHILLING
Professor da Universidade de Munique
HISTÓRIA
DAS IDÉIAS SOCIAIS
Indivíduo — Comunidade — Sociedade
Tradução de
F au sto G u im a r ã e s
Segunda edição
ZAHAR EDITORES
RIO DE JA N E IR O
Copyright © 1957 by Alfred Kroner Verlag
Capa de
É r ic o
1974
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
ÍNDICE
I n trodu ção . 7
Primeira Parte
A ANTLGUIDADE
Capítulo I — A Formação dos Primeiros Grupos Humanos . 21
Noção de tarefa — Início das grandes civilizações, da agri
cultura e da pecuária — A realeza sagrada do Oriente antigo.
C a p í t u l o II — Os Gregos . ....................................................... 34
Governo dos governados independentes — Os diferentes par
tidos.
Capítulo III — Primeiras R eflexões sobre a Sociedade . 43
Os pré-socráticos e os sofistas — Ideal tirânico do indivíduo.
Capítulo IV — Definição de Comunidade e Sociedade . . . . 53
As diferentes relações que se estabelecem entre os indivíduos
— Contrato e solidariedade — Modelo de relações de comu
nidade e de sociedade.
Capítulo V — S ó c r a t e s ......................................................................... 63
A postura socrática — A razão como método — O destino
da polis.
Capítulo VI — P l a t ã o ...................................................................... . . 70
O Estado dos cidadãos educados para a independência —
A República e As Leis.
C apítulo VII — A r is t ó t e le s .................................................................. 89
Retorno à tradição — Conhecimento e saneamento da polis.
Capítulo VIII — Fim da A n tig u id a d e............................................ 101
Epicuro e o estoicismo — O indivíduo, v. amizade, o direito
natural.
Segunda Parte
CRISTIANISMO E IDADE MÉDIA
Capítulo IX — Origem da Idéia Social Cristã . . . 123
O reino de Deus — Sociedade, Estado e Igreja.
Capítulo X — Santo A g o s t i n h o ....................................................... 136
A transparência do mundo — O Estado temporal e o cris
tianismo.
Capítulo XI — Os Germanos ............................................................. 146
Nova estrutura social — O Estado feudal — O imperador e
o papa, representantes do Cristo na Terra.
Capítulo XII — Santo Tomás de A q u i n o ...................................... 157
O império e a cidade — Retomada do aristotelismo — Moisés
e o direito natural.
Capítulo XIII — Decadência da Idéia do Cristo-Rei . . . . 162
São Francisco de Assis e Frederico II — Os diferentes par
tidos — Dante.
T erceira P arte
OS TEM P O S M O D ERN O S
C a pítu lo X IV — P re m issa s............................... .............................. 177
A estrutura social — A questão do sentido do Estado — A
evolução religiosa.
Capítulo X V — Prelúdio U tóp ico .................................................... 183
A Utopia, de Thom as More — A Cidade do Sol, de Cam -
panella — A Nova Atlântida, de Fran cis Bacon.
C a p ít u lo X V I ------ Maquiavel e B o d in ......................................... 188
A fundamentação teórica do Estado absolutista com bases ter
renas.
Capítulo X V II — Althusen e G r o tiu s ......................................... 200
Lim itação do poder do Estado — O consensus de Althusen —
A s guerras boas e más de Grotius.
Capítulo X V III — Hobbes e Spinoza ............................................... 207
O reino da paz na Terra — A reelaboração das idéias de
Hobbes por Spinoza.
Capítulo X IX — A Comunidade Religiosa: Milton . . . . . 223
Os direitos fundamentais — A comunidade americana.
Capítulo X X — LocJce e M ontesquieu ......................................... 232
Trabalho e divisão do poder — A noção de aquisição da
propriedade — A m onarquia constitucional de Montesquieu.
Capítulo X X I — Rousseau . . . . .......................................... 246
A vontade m oral do povo — O contrato social — A demo
cracia plebiscitária.
Capítulo X X II — Visão Retrospectiva e Perspectivas . . . 259
A s variantes partidárias modernas e sua origem intelectual.
Capítulo X X III — Kant, Fichte e H e g e l ............................... ..... 265
O epílogo dos tempos modernos — O direito natural e o
direito da razão — A moralidade.
Q u a rta P a rte
A E R A IN D U S T R IA L
Capítulo X X IV — P rem issa s ......................................................... 289
O modo de vida técnico — Transform ação da estrutura social.
Capítulo X X V — Schoperihauer .................................................... 295
A s possibilidades de uma privatização do indivíduo — A
obra de arte como fruição solitária.
Capítulo X X V I — A Economia Política In glesa .......................... 303
Adam Sm ith e Bentham — A idéia de justiça econômica do
liberalism o.
Capítulo X X V II — O Socialism o P ré -M a rx ista .......................... 310
Owen — Fou rier — Proudhon — Saint-Sim on — Comte —
O aparecimento da Sociologia.
Capítulo X X V III — Karl M a r x .................................................... 320
Revolução do proletariado e sociedade sem classes — Eco
nomia e sociedade.
Capítulo X X IX — N ie tz s c h e ......................................................... 331
A massa e o guia — Id eal antigo e ideal grego — Liberdade
e m oralidade — A vontade de poder.
Capítulo X X X — A Integração Política das Massas na Atualidade 339
A s quatro ideologia^ do século — Fascism o — N acional-socialis-
mo — Comunismo russo-chinês — Industrialism o americano.
INTRODUÇÃO
ANTIGUIDADE
CAPÍTULO 1
Os Gregos
prio fabricou tudo o que traz consigo, que ele mesmo fez o
que é e o que tem, desde seu calçado e suas roupas e o
anel que leva 110 dedo até as realizações espirituais, como
a aquisição do poder pela arte de discorrer, ou a estratégia
e a tática militares. O homem, segundo a fórmula de Pro-
tágoras, medida de todas as coisas, poderia ser aqui definido
como o ser que reina sobre a natureza e seus se m e lh a n te s e
os submete a suas leis. Eis uma interpretação que procura
extrair o homem, em sua qualidade de ser dotado de poder
e de saber, da tradição e da sociedade, para colocá-lo diante
dessa sociedade. Esta autocracia lécnica, habilidade que per
mite dominar a natureza e o próximo, também tem, em úl
tima análise, seu fundamento na liberdade do cidadão da
polis. Mas não sendo superior senão por seus meios, ela se
libertou da responsabilidade que tinha em relação aos outros
e que era originariamente seu objetivo essencial.
Se é assim, é preciso certamente continuar com esta ques
tão: que fará então o homem de seu poder, que empreen
derá, se pode não só dominar a natureza por meio de seu
conhecimento prático, como também persuadir os outros ho
mens pela técnica de seus discursos e torná-los dóceis a seus
planos?
A resposta está contida nas premissas dessa teoria. Toda
técnica, toda habilidade na arte de dispor da natureza e dos
homens, nunca são objetivos em si. Somente podem existir
em função dos objetivos que permitem ao homem realizar
sua existência. Não constituem, diremos, senão uma “ supe
rioridade dos meios” . O objetivo a alcançar através de tal
superioridade dos meios deve vir de outro lugar: este pode ser
naturalmente, como em Protágoras, a sociedade e a prosperi
dade de todos. Mas não é a única possibilidade. Comu-
mente, esse objetivo surge preferencialmente e de maneira
natural no prazer do homem, sem que este se preocupe com
a prosperidade dos outros, ficando mesmo, se for preciso,
contra a sociedade. Esta pode então tornar-se um objeto
indiferente, que explora o poder de que dispõe o indivíduo
que domina os outros pela retórica, pela coerção da cons
ciência ou pela violência.
A idéia social por excelência desses últimos sofistas tor
na-se assim o grande caso-limite da polis grega: a tirania.
O tirano brutal aí explora finalmente a comunidade tradi
P r im e ir a s R eflexões Sobre a S o c ie d a d e 49
a) b)
# XX
As linhas representam a duração da existência dos dois
ou mais sócios; as setas, seus objetivos e seus propósitos. Em
um caso, a), o vínculo envolve as linhas que representam a
duração da existência, e não pode ser suprimido. Os obje
tivos, em compensação, são sempre ligados no tempo às li
nhas de vida reunidas; eles são, em relação ao vínculo da
comunidade, abertos e se pode fazê-los variar. No outro
caso, b ) y as linhas da existência encontram-se em um tempo
preciso a propósito de fins precisos e juridicamente definí
veis (à esquerda), ou então em um trajeto determinado, para
poder em seguida separar-se quando surjam outras ocasiões.
D e f in i ç ã o de C o m u n id a d e e S o c ie d a d e 57
Sócrates
Platão
Aristóteles
Fim da Antiguidade
Santo Agostinho
secular, como tal, não pode assim jamais tomar-se uma ver
dadeira comunidade, como é o reino de Deus graças à parti
cipação, isenta de ciúme e socialmente eqíiitativa, de cada
um de seus membros na comunhão de Deus. A luta no in
terior mesmo do Estado terrestre e de um Estado terrestre
com out.ro é portanto a manifestação do Estado metafísico
do diabo destruindo-se a si próprio. Querelas internas e
guerras externas nascem da cobiça desviada de Deus. É com
este sentido da transparência da civitas diaboli no Estado
terrestre que Santo Agostinho, em uma passagem em que
leva as coisas ao extTemo (e que não nos autoriza a gene
ralizar), definiu todos os Estados terrestres, na medida em
que tendem constantemente a se enriquecerem às custas dos
outros e a explorarem seus súditos com impostos, como
magna latrocinia, grandes bandos de facínoras.
Mas não é preciso por isso contestar a importância do
Estado, que continua a se manter e é utilizado não só por
todos os homens para garantir sua existência, como também
pela Igreja e pelo próprio Santo Agostinho contra os heréti
cos. Embora seja um Estado secular e, apesar da atividade
de Constantino, ainda um instrumento de poder pagão, o
cristão deve acomodar-se a ele.
A solução desse problema parece em sua forma com a
de Epicuro. Com efeito, de início ele se refere a São Paulo
e à opinião deste de que a autoridade secular, como tudo
o mais, é permitida por Deus e deve portanto ser aceita pela
cristandade tal como é. Mas o Estado não atinge seu obje
tivo, a paz terrestre, senão dificilmente por meio de sua estru
tura social, servindo-se do constrangimento, através das in
justiças de seus tribunais, após um combate incessante den
tro e fora (como através de um armistício provisório). So
mente essa compreensão permite a tolerância (submissa à
vontade de Deus). Diante do reino de Deus no a^m, o
único perfeitamente pacífico e sem violência, diante da caritas
privada ordenada pela Igreja, trata-se já de uma desvalo
rização do Estado, que se realiza ademais na idéia da utili
zação do Estado (uti no sentido definido linhas atrás) pelos
cristãos. O cristão, com efeito, segundo Santo Agostinho,
deve “ utilizar5 a paz terrestre, a pax romana, e a ordem do
Estado, para aí procurar a salvação de sua a!ma, salvação
puramente privada em relação ao Estado e dependendo ape
Sa n t o A g o s t in h o 143
Os Germanos
OS T E MP OS MODERNOS
Premissas
12
178 H is t ó r ia das I d é ia s S o c ia is
Prelúdio Utópico
Maquiavel e Bodin
13
194 H is t ó r ia das I d é ia s S o c ia is
Althusen e Grotius
Hobbes e Spinoza
19
226 H istó ria das I déias S ociais
Locke e Montesquieu
N a restauração de Carlos
a In g la te r r a , (1660) pôs fim
II
momentaneamente à idéia social de Milton. De fato, sua
concepção da liberdade continuava subterraneamente seu ca
minho, exatamente como se mantivera desde a Magna Charta.
Foi então substituída, depois da segunda Revolução, pela
idéia social de Locke. Nesta idéia o indivíduo não possui
mais a substância que era sua na consciência de sua eleição
religiosa: ele não possui mais uma liberdade que seja um
vínculo moral, tomando-o na sociedade co-responsável em
relação, aos outros. Sua própria substância está na proprie
dade já adquirida anteriormente ao Estado por seu trabalho
e pelas vias da economia. A noção de liberdade devia por
isso adquirir uma significação completamente diversa.
John Locke (1632-1704) é, como filósofo, um empirista,
que, no mais, não possuía, como seu compatriota Bacon, uma
confiança ilimitada e utópica na utilidade da experiência e
da técnica e que começava já a perceber os limites do co
nhecimento humano. Ao contrário do modo por que é tra
tado nos manuais de História da Filosofia, sua idéia social
é na verdade mais importante do que sua sistemática, carac
terizada não sem razão por Kant como uma “ fisiologia do
entendimento” . As obras mais importantes representativas
dessa idéia social são os dois Tratados sobre o Governo (Ttvo
Treattees of Government), de início publicados anonimamen
te, e em segundo lugar as Cartas sobre a Tolerância e o
Tratado sobre a Racionalidade do Cristianismo. Qualifica-se
tudo isso habitualmente como obras secundárias. Na verda-
L ocke e M o n t e s q u ie u 2 33
Rousseau
17
258 H istó ria oas I déias S ociais
18
274 H istória das I déias S ociais
A ERA INDUSTRIAL
CAPITULO X X IV
Premissas
13
290 H istó ria das I déias S ociais
Schopenhauer
O Socialismo Pré-Marxista
Karl Marx
Nietzsche
24
370 H istó r ia das I déias S ociais
tária da alma dos filhos por seus pais e seu povo, que Locke
ainda cita de resto, é empurrada para o segundo plano.
Quando, por exemplo, o sociólogo David Riesman distingue
o tipo “ dirigido de dentro” do tipo “ dirigido de fora” , não
chega à conclusão de que essa “direção interna'’ possa re
pousar sobre instintos inatos hereditários; pelo contrário, para
ele aqui se trata de algo “ aprendido” na primeira infância.
(Supostamente, então, Bach ou Mozart apenas tiveram me
lhores lições de música em sua infância do que o Sr. Maier
ou o Sr. Hubert.) Mais uma vez encontramos aqui uma
contrapartida completamente digna no “ legado” , inclusive
espiritual, de que falava a ideologia nacional-socialista. Evi
dentemente, ambas as concepções são unilaterais e equivo
cadas. Contraditada ou passível de sê-lo nenhuma das duas
é ou foi, pois concepções do mundo não são algo que possa
ser contraditado e porque em ambas existe uma essência ver
dadeira, ainda que tão mal compreendida. A concepção ame
ricana, contudo, não deriva de Locke, e sim do puritanismo,
no qual o único elemento decisivo era a relação da alma com
Deus e sua afirmação no mundo, e no qual não se perguntava
sequer pela natureza. Na verdade, a moralidade tem que
ser exigida em grau idêntico de todos os homens, como Kant
já dissera: como imperativo categórico, independentemente de
seu poder, capacidade ou situação. Essa concepção só se
transforma em caricatura ideológica quando a fé em Deus
ou a moralidade caem por terra e essa suposta neutralidade
qualitativa da criança é considerada como simples material
para a educação caseira ou científica.
Assim, para a mãe, trata-se de urna prova para sua pe
dagogia e mesmo seu amor aos filhos o fato de terem eles, ou
não, “ sucesso” na vida. E para os próprios filhos a questão
decisiva também é a de saber se são ou não “ um sucesso” .
Por sua vez, esse sucesso pode ser tanto uma simples ques
tão de vontade como também da escolha dos “ métodos” cer
tos e corrigidos. A crença nesses métodos “ científicos” , sem
pre novos e substituindo-se uns aos outros, para criar os
filhos, desde a alimentação, vestuário e ocupação até a psico
logia e a pedagogia é extremamente difundida e se apresenta
aos não-americanos como ingênua e artificial. Supostamente,
contudo, o sucesso desses métodos já começa a aparecer no
jardim da infância, por meio da popularidade dos pequeni
nos entre seus companheiros e prossegue, da mesma forma,
390 H istó ria das I déias S ociais
ZANA K
125
EDI TORES
A c u ltu ra a se rv iço d o p ro g re s s o s o c ia l