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Cidades imaginárias:
utopia, urbanismo e quadrinhos
Adriana Mattos de Caúla
PRUB/FAU -USP
Introdução
Este trabalho tem por objetivo o estudo das cidades imaginárias, identificando
pressupostos teóricos e possíveis influências na concepção destas através da
análise da corrente de pensamento utópico na história do urbanismo e das
concepções espaciais dos quadrinhos. Não assumimos uma perspectiva única,
procuramos por uma visão múltipla sobre as cidades imaginárias. Ao nos de-
pararmos com estas cidades, o pensamento se ramificava em diversas dire-
ções então, apresentamos análises gráficas, onde este pensamento múltiplo e
inevitável na leitura das cidades imaginárias é mostrado.
O fio condutor do trabalho é o constante exercício sobre o imaginário ur-
bano - apresentado sob a forma de cidades imaginárias - presente na história
do urbanismo desde a Antigüidade, tendo como elemento central as repre-
sentações gráficas destas cidades.
Nossa hipótese é a de que as cidades imaginárias vinham sendo criadas
por arquitetos e urbanistas no desenvolvimento da história do urbanismo como
crítica, desafio intelectual e como contribuição ao planejamento das cidades.
Este exercício crítico veio desaparecendo em prol de uma prática construtiva,
ou seja, a própria crítica desenhada do urbanismo esmorece por volta dos
anos 80 e vem ganhar força fora da disciplina, particularmente através das ci-
dades dos quadrinhos, que já vinham desde o séc. XVIII, desenvolvendo um
papel crítico importante ao apresentar comentários sobre política, sociedade e
a vida nas cidades.
As linhas de abordagem enfatizam a imagem, descrita e/ou desenhada
tendo o percurso histórico como linha de força. Percorremos as cidades imagi-
nárias seguindo uma linha cronológica base, mas esta se torna na verdade
uma linha que de certos pontos partem outras linhas, e a partir destas surgem
outras novas linhas e assim sucessivamente, como reações em cadeia. Associ-
amos ao percurso evolutivo da Arquitetura e Urbanismo e dos Quadrinhos a
ida e vinda de teorias, imagens e idéias que nos fazem andar não apenas na
chamada espiral história ascendente, mas andar por várias espirais e nos
transpor de uma para outra quando estas se tocam.
O enfoque principal está no entendimento de como este exercício crítico
de criação de cidades imaginárias traz grandes contribuições através das análi-
ses, da opção pela mudança, do inconformismo com o estático na condição
humana, das análises críticas que revolucionaram e podem vir a revolucionar
os caminhos do pensamento e do comportamento humano. A idéia principal do
trabalho é explicitar a interpenetração, relações influências de linguagens
Utopia
O termo e o conceito de utopia é múltiplo e ambíguo. Toda a problemática de
definição do termo está diretamente ligada com a etimologia da palavra uto-
pia. Utopia deriva do substantivo grego topos, que significa lugar; e existem
duas possibilidades a serem consideradas com relação ao prefixo. O “u” pode
ser considerado como prefixo grego negativo “ou”, que significa lugar nenhum;
como também pode ser considerado o emprego de outro prefixo grego “eu”,
que significa “boa qualidade”. Assim, utopia significa ao mesmo tempo, o “lu-
gar que é bom”, de certo modo “o lugar da felicidade”, e “o lugar que não
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existe”, “o lugar que não tem lugar”, ou seja sem existência geográfica real.
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Segundo Choay, utopia é o inverso especular de um referente “real” . As
utopias são reflexões, críticas sociais, políticas e espaciais. Segundo B. Baczko,
não há utopia sem uma representação totalizante e irruptiva da alteridade so-
cial. O grau dessa alteridade poderia, de alguma forma, servir de escala para
uma classificação das utopias. A utopia seria a representação global de uma
Cidade Nova em ruptura radical com a sociedade existente, que recusasse
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toda continuidade e imaginasse um recomeço da história a partir do zero .
1
PAQUOT, T. 1998, p.8
2
CHOAY, F. 1980, p.233
3
BACZKO, B. 1978, p.30
modo, podemos dizer que sua espacialidade é múltipla, e é por isso que não ad-
mite sua sobreposição a qualquer suporte espacial restrito e pré-existente.
4
PAQUOT, T. Op.cit. p.91
5
MANNHEIM, K. 1960, p.229
6
WOODS, L. Entrevista disponível na INTERNET via www.columbia.edu. Arquivo consultado em junho de 2001.
7
MUNFORD, L. 1966, p.394
8
Estas soluções são igualmente estudadas na mesma época nas cidades americanas.
9
FÜLLER, B. Apud BANHAM, R. 1979, p.510
10
SOLA-MORALES, Op.cit.
Quadrinhos e Urbanismo
Nas análises gráficas em anexo, mostramos as configurações, os ambientes,
as imagens criadas através de diferentes olhares e diferentes projeções das ci-
dades nos quadrinhos. Através de constante pesquisa e levantamento de ima-
gens, foram selecionadas algumas destas cidades e no anexo que vem logo
em seguida, elaboramos uma série de análises gráficas destas cidades.
A partir da análise de cada imagem, um “universo desconhecido” foi sen-
do revelado. Cada detalhe, cada forma, cada fragmento trazia inúmeras refe-
rências e vestígios de épocas distintas, compondo um espaço repleto de força,
arte, simbolismo e memória, uma inexplicável sensação de dejá vu, percorreu
todo o processo de leitura das cidades.
Planejamento e criação de espaços, cidades e paisagens por não urba-
nistas, ambientes tão densos e complexos que despertam em nós, arquitetos,
urbanistas e planejadores a sensação de vazio pela diminuição, senão desa-
parecimento, do maravilhoso e instigante exercício de elaboração e criação de
cidades utópicas e imaginárias como reflexão sobre o presente de nossas cidades.
Bibliografía
A Arquitetura na História em Quadrinhos. Catálogo da Mostra “A Arquitetura na História em Quadrinhos”.
São Paulo: Martins Fontes, 1985.
ARCHIGRAM 1, mai 1961.
ARCHIGRAM 2, avril 1962.
ARCHIGRAM 3, auôt 1963.
ARCHIGRAM 4, mai 1964.
ARCHIGRAM 5, nov 1964.
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ARCHIGRAM 7, dec 1966.
ARCHIGRAM 8, april 1968.
ARCHIGRAM 9 ½ , sep 1974.
ARCHIGRAM 9, 1970.
BACZKO, B. Lumières de l’utopie. Paris: Payot, 1978.