Momento teórico I Começamos nosso trabalho pela abordagem do texto A beleza como desigualdade fundamental (p.37-55), primeiro capítulo do livro Belezas imaginárias: antropologia do corpo e do parentesco (2013), do antropólogo P-J Laurent. Nosso propósito, nesse momento inicial, foi explicitar que a discussão sobre a beleza, em especial a beleza humana, como salienta o próprio autor, tem múltiplas vias de acesso, não só pela arte e pela estética (isto é, pela filosofia do belo e do gosto), mas também pelas ciências naturais (biologia) e humanas (antropologia, história). O que revela uma ambivalência da beleza, que pode ser abordada a partir de diversos prismas (como sugerimos no presente GT), e ao mesmo tempo o seu caráter de extrema singularidade, pois essa pluralidade de olhares sobre a beleza parece derivar, justamente, da incapacidade crônica que temos de definir o que ela seja e como aferi-la e/ou mensurá-la. Sem saber propriamente o que é a beleza, se ela é objetiva ou subjetiva, quantificável ou apenas qualitativa, não podemos dizer ao certo quais, ou qual, domínio (s) do saber é (são) aquele (s) que melhor a explica (m) (o que o autor chama de problema epistemológico). Assim, suscitamos já, na discussão, essa incomensurabilidade do belo, tão importante, pensamos nós, para o debate em âmbito ético-racial, pois nos faz pensar que ninguém tem real propriedade sobre o que seja a beleza e, portanto, os padrões de beleza devem ser vistos como relativos e convencionais. Concentrando-nos, mais precisamente, na primeira seção daquele capítulo, intitulada A beleza como exceção (p.37-41), vimos que Laurent mobiliza algumas perspectivas científicas para sua discussão, tais como o continuísmo natureza/cultura, a ecologia comportamental e os defensores da ruptura entre natureza e cultura. O que nos leva a ver que esse debate se move, aqui, entre as ciências naturais (e sua metodologia experimental, quantitativa, sobremaneira factual) e as ciências humanas (com sua metodologia também experimental, mas, de modo geral, qualitativa e levando em consideração as questões do imaginário social). A questão, portanto, como por vezes indica o autor, é se a beleza se traduz em traços físicos verificáveis experimentalmente (ou se há uma beleza natural, ou seja, um padrão de beleza estabelecido pela própria natureza), permitindo assim uma definição objetiva do que é a beleza, ou, se ela é uma construção sociocultural, e assim relativa e variável, mudando de acordo com os padrões vigentes – isto tudo, sem descartar é claro, que o fenômeno da beleza possa abarcar esses dois aspectos. De todo modo, o autor começa dando atenção ao que chama de psicologia cognitiva (ou do conhecimento), afirmando que determinados trabalhos nessa área estipulam uma concepção mensurável da beleza, portanto não-subjetivista, trabalhando principalmente com os traços físicos que comporiam o rosto ideal, para além das variações intra e interculturais (ou seja, o rosto ideal, ou os traços físicos que traduzem com exatidão a beleza são encarados como independentes da etnia do modelo; as características físicas belas podem ser compartilhadas por todas as etnias). Assim, segundo Laurent, a psicologia do conhecimento se aproxima de um naturalismo em termos de beleza, ou de um fisiologismo: “a beleza é de preferência um rosto dotado de tal tipo de traço” (p.38). (Lembrando que esses traços não são oriundos de uma etnia específica, mas acham-se espalhados entre elas). Nesse sentido, não se trata de uma questão de gosto (como o afirma a estética filosófica) e nem de desejo (como o diz a própria psicologia), claro que gosto e desejo estão relacionados com a beleza, mas, para a psicologia do conhecimento, a beleza pode ser pensada em termos de caracteres físicos verificáveis experimentalmente que são, portanto objetivos e, por isso, independentes do gosto e do desejo (pensados aqui como subjetivos): “Esse tipo de análise conduz, no entanto, à seleção de critérios físicos da beleza humana. A atração poderia ser definida objetivamente sobre a base de critérios universais” (p.38). Em contraposição à psicologia cognitiva, Laurent faz referência à convicção de Darwin, a partir de suas viagens, de que não há, do ponto de vista natural, um padrão de beleza estabelecido no espírito humano; mas ressalta, que a psicologia cognitiva não ignora a variabilidade e flexibilidade do gosto, apenas afirma, como dissemos antes, que para além do que é variável há regras universais da beleza. Em face disso, e saindo um pouco do registro naturalista, Laurent junta à discussão a perspectiva do que chama de ecologia comportamental, afirmando que para essa, seria difícil concordar com Darwin, sobre a variabilidade da beleza, o que a aproximaria do universalismo da psicologia do conhecimento, mas, por outros caminhos. Pois, no que concerne à ecologia comportamental, a beleza apresenta um caráter universal em função dos condicionantes socioculturais, tais como a indústria da beleza e os meios de comunicação “que permitem difundir certos critérios de beleza para além das fronteiras e que poderiam ser responsáveis por certa homogeneização dos critérios de beleza” (p.39). “É inegável que hoje ao mesmo tempo a indústria de cosméticos e os lobbies vinculados à cirurgia estética desempenham um papel estimulador na estandardização da beleza” (p.39). Em suma, o que Laurent nos apresenta, e o que desejamos, por meio de seu texto colocar ao GT, é justamente a questão de que há uma espécie de bifurcação entre os que investigam a beleza, “de um lado, os que julgam que a beleza existe em si e pode ser explicada segundo critérios evidenciados a partir de experiências, e de outro lado, os que defendem que a beleza procede de convenções culturais, ao mesmo tempo negociáveis e evolutivas” (p.40). Acrescentando, ao fim, mas com não menos importância, que na perspectiva nominalista/construtivista (que estaria próxima dos que defendem a subjetividade e convencionalismo da beleza), em oposição aos fisiologistas (ou naturalistas), a beleza, não existe em si mesma, pois é fruto, como tudo na cultura, de convenções e denominações, ainda que por sua força histórica e evolutiva algumas dessas convenções pareçam naturais. “Nessa corrente de pensamento, a beleza que se impusesse resultaria de uma convenção cultural de algum modo naturalizada, isto é, da qual se teria esquecido como resultante de convenções sociais, culturais e artificiais” (p.40/1). Isto é de suma importância, uma vez que o prisma ético- racial nos leva a questionar os padrões de beleza que, muitas vezes, por sua cristalização e hegemonia, são vistos como inquestionáveis e naturais, espontâneos e tudo o que a eles se opõe é artificial e, quando insistente, “teoria da conspiração”: vejam os casos de luta pela representatividade negra, muitas vezes vista como simples reclamação, lamentação e vitimismo, pois não haveria um branco de beleza, mas apenas um padrão (neutro) de beleza, natural e espontâneo. Momento teórico II Aqui, apresentamos de maneira concisa o que filosoficamente se compreende por estética (filosofia do belo e do gosto). Tomada em seu sentido estabelecido por Baumgarten no século XVIII (1750), mas cujos traços são reconhecíveis em outros tempos e autores, assim como os ecos também o são em seus contemporâneos e sucessores, a estética (aisthesis) é concebida como a investigação filosófica acerca da sensibilidade e, mais precisamente, da sensibilidade no que concerne ao belo. A experiência do belo, ou experiência estética, é compreendida como uma experiência fundamental, porque todos somos capazes de tê- la, e, mais ainda, pela força e profundidade dos efeitos que a beleza pode provocar em nós. A questão, aí, é saber como se dá em nós a experiência da beleza, se de maneira objetiva (como uma forma de conhecimento) ou de maneira subjetiva (como uma forma de sensação/sentimento), e por meio de qual faculdade da mente humana. Entre os filósofos, principalmente da Modernidade, há, ao mesmo tempo, uma espécie de disputa entre objetividade e subjetividade e, por outro lado, o reconhecimento de que a beleza possui um caráter subjetivo profundo, essencial (quase incontornável, senão incontornável). Assim, a beleza é discutida em termos de objetividade e subjetividade e o gosto, a faculdade mental por meio da qual somos capazes de distinguir o belo do feio, em termos de universalidade e particularidade (cada um tem seu gosto ou não): a questão é saber se o que determina o gosto é o conhecimento objetivo do objeto que chamamos belo (o gosto como universal, já que o que é objetivo pode ser compartilhado plenamente pelas pessoas), ou se é o sentimento que a sensação desse objeto provoca em nós (o gosto como particular, já que o sentimento, embora comum, nem sempre ocorre com relação aos mesmos objetos e com a mesma intensidade e isso escapa ao controle racional e objetivo). Como ponto de partida mais específico para a discussão, utilizamos o texto Do padrão do gosto (p.91- 113), do filósofo escocês do século XVIII (1757) David Hume, presente na coletânea O belo autônomo: textos clássicos de estética (2013). Esse texto, de modo geral, contempla as duas tendências (objetivista e subjetivista) envolvidas no debate sobre a beleza e o gosto em termos estéticos (filosóficos), pois, de um lado, seu autor reconhece que o gosto e, assim, o julgamento da beleza está muito mais ligado ao sentimento do que ao raciocínio (subjetivismo), mas, por outro, não deixa de reconhecer que como uma faculdade mental o gosto possui uma estrutura universal (compartilhada por todos) o que nos leva a buscar um padrão do mesmo (ainda mais em face de objetos amplamente reconhecidos como belos, [mas nunca unanimemente]), portanto, universal/objetivo. “É natural que se procure encontrar um Padrão do Gosto, uma regra capaz de conciliar as diversas opiniões dos homens, um consenso estabelecido que faça com que uma opinião seja aprovada e outra condenada” (p.94). No entanto, não se pode negligenciar a distinção entre conhecimento e sentimento, posta às claras no que concerne à experiência estética. Segundo Hume, enquanto o primeiro produz informações referentes a um objeto diferente do próprio sujeito, correndo o risco, portanto, que as informações não sejam compatíveis com o objeto (total ou parcialmente); o segundo diz respeito ao próprio sujeito, o sujeito fala de si mesmo, do modo como se sente em relação a um objeto e, portanto, o sentimento está sempre certo, uma vez que somente o próprio sujeito que o sente pode ser o juiz de sua certeza (e, como é ele mesmo quem emite o juízo, ele não pode estar errado sobre o que sente [ainda que não consiga descrever e/ou nomear o sentimento]). No caso do conhecimento, como as informações emitidas dizem respeito a um objeto externo aos sujeitos, as informações têm de ser compatíveis o máximo possível com o objeto (objetividade) e, como esse objeto é independente de nós (exterior), suas características devem ser perceptíveis a todos e, portanto, devemos encontrar um consenso (padrão) com relação ao que dizemos dele. No caso do sentimento, como aquele que sente é o único que sente o que está sentindo, ou seja: como interno a nós, o sentimento diz respeito apenas àquele que o sente e, assim, não pode ser verificado pelos demais; não tenho nem a necessidade real de pensar em um padrão objetivo para falar do que sinto, basta que eu tenha consciência do que sinto para que o sentimento exista e seja verdadeiro. Nesse sentido, nem todas as opiniões sobre um objeto são verdadeiras, pois devem expressar o que objeto é e não o que sentimos em face dele. “Por sua vez, os mil e um sentimentos diferentes despertados pelo mesmo objeto são todos certos, porque nenhum sentimento representa o que realmente está no objeto. Ele se limita a assinalar uma certa conformidade ou relação entre o objeto e os órgãos ou faculdades do espírito, e, se essa conformidade realmente não existisse, o sentimento jamais teria sido despertado” (p.95). Ao falar do que sentimos, não falamos das coisas, mas de nós mesmos, da maneira como estamos em face delas, e como os únicos que podem verificar com exatidão o que sentimos somos nós mesmos, nunca nos enganamos com relação ao que sentimos, justamente porque já estamos sentido e, nesse caso, sentir já é conhecer (não os objetos, mas a nós mesmos). Com relação à beleza, e ao gosto portanto, nosso julgamento é determinado, segundo Hume, pelo sentimento: a beleza não representa, propriamente, uma característica do objeto, mas o modo como nos sentimos diante de um determinado objeto. “A beleza não é uma qualidade das próprias coisas; ela existe apenas no espírito que as contempla, e cada espírito percebe uma beleza diferente” (p.95). Embora as coincidências de gosto, algumas amplamente reconhecidas, no sugiram que pode haver um padrão do gosto, devemos sempre reconhecer que essa busca será sempre limitada pela natureza da própria beleza, a qual, como um sentimento, não pode ser determinada de maneira objetiva. “É possível mesmo que um indivíduo encontre deformidade onde outro só vê beleza, e cada um deve ceder ao seu próprio sentimento, sem a pretensão de controlar o dos outros” (p.95; negrito nosso). A beleza como sentimento nos leva, assim, ao reconhecimento que os padrões de beleza não estão ancorados na própria beleza, não são plenamente universais e nem naturais e, portanto, não se pode ter legitimidade na pretensão de impô-los a quem quer que seja. Embora não diga, Hume nos lança, assim, diretamente ao tema da diversidade, tão caro às relações étnico- raciais, nos projeta ao reconhecimento de que a variedade de gostos se impõe mesmo entre membros da mesma cultura. O que nos remete ao tema da barbárie, citado por Hume no início de seu texto, ao dizer que “Temos propensão a chamar de bárbaro tudo o que se afasta de nosso gosto e de nossas concepções, mas prontamente notamos que esse epíteto ou censura também pode ser aplicado a nós” (p.92). A experiência da beleza ganha relevância aí justamente por ser a abertura, talvez a mais forte abertura, para a compreensão da relatividade de nossos gostos e concepções e, assim, para o reconhecimento da diversidade. Uma vez isso estabelecido, essa impossibilidade natural de estabelecermos um padrão absoluto do gosto, o que Hume chama de princípio da igualdade natural do gosto (igualdade natural porque sendo determinados pelo sentimento todos os gostos são corretos em relação a si mesmos), o filósofo escocês segue um caminho relativamente diverso, ao reconhecer que certas obras artísticas, em que pese a diversidade dos gostos, são capazes de agradar à maioria e assim são reconhecida e amplamente denominadas belas. Com isso, aquela disposição, igualmente natural, de buscarmos um padrão do gosto é, em certa medida legitimada por Hume e discutida por ele, principalmente no que concerne às artes. Embora, ele nunca deixe de reconhecer os limites desse padrão, sempre ligado à experiência, reconhecendo a variedade de gostos e sua legitimidade e, o que nos parece o mais importante, embora a linguagem nos permita definições mais ou menos genéricas do que seja a beleza e o gosto (e de seu funcionamento), não se pode defini-los com precisão nem determinar quais e de que modos os objetos lhes despertarão o sentimento da beleza.
Momento teórico III
Uma vez que a filosofia, no que concerne à estética, busca avançar na compreensão radical e universal do que sejam o belo e como de dá o funcionamento do gosto, ela igualmente, como dissemos acima, não deixa de reconhecer que em termos absolutos não é possível, não de maneira inequívoca ao menos, estabelecermos um padrão da beleza e do gosto. Do ponto de vista dos indivíduos portanto, da mente humana em si mesma, embora haja a disposição natural para tal estabelecimento, há uma impossibilidade também natural de o fazermos. Assim, os padrões de gosto devem ser compreendidos muito mais como produtos socioculturais, em termos de construção e convenção social, estabelecidos e difundidos ao longo da história entre as diversas culturas e sociedades. Para pensarmos esse aspecto da questão filosoficamente, e de maneira mais contemporânea, recorremos ao texto A indústria cultural: o iluminismo como mistificação das massas (p.169- 214), de Adorno e Horkheimer, dois dos mais importantes filósofos da afamada Escola de Frankfurt, presente na coletânea Teoria da cultura de massa (2006). Nesse caso, a relação se dá de maneira um pouco mais complexa, uma vez que a concepção de indústria cultural e cultura de massa envolve a relação entre arte, cultura e o modo de produção capitalista, na qual podemos alocar as questões concernentes ao estabelecimento e propagação dos padrões de beleza. Ao falar sobre o fenômeno da indústria cultural, Adorno e Horkheimer estão se referindo, basicamente, ao processo de incorporação da produção e veiculação de bens culturais por parte do modo de produção capitalista, mais precisamente em sua configuração pós-industrial, então predominante na primeira metade do século XX. Isto significa que a produção e veiculação dos bens culturais passa a estar submetida, em último caso, à obtenção de lucro (objetivo último do sistema capitalista), obedecendo às leis de mercado (relação entre oferta e demanda) e às estratégias de produção industrial. Tendo como pano de fundo a teoria da luta de classes de Marx, um dos principais referenciais teóricos dos frankfurtianos, na concepção de Adorno e Horkheimer, o que está por trás da indústria cultural é a expansão e manutenção do poder por parte das classes dominantes (mais especificamente a burguesia industrial e pós-industrial), dos economicamente mais fortes, sobre o resto da sociedade. Como esse processo de dominação é constituído basicamente por meio da difusão da ideologia e alienação, a cultura de massa serve como um sofisticado e muitas vezes insuspeito veículo para esses mecanismos, uma vez que parece estar ligada apenas os entretenimento, lazer e cultura. Por meio dos produtos da indústria cultural, as classes dominantes fazem com que as demais classes absorvam seus valores e modos de pensar, promovendo a alienação das classes dominadas, cujos indivíduos tornam-se incapazes de reconhecer sua própria realidade e condição social, assim, os economicamente mais fracos tendem a aceitar o modo como a sociedade se encontra e ratificar o poder daqueles que já exercem a dominação. Para que isso seja conseguido, utilizando a racionalidade técnica, a produção e veiculação cultural devem assumir um caráter sistemático, no mais alto nível possível, todos os setores da produção artística e todos os bens culturais devem estar integrados em um projeto unificado, de maneira que nada escape ao controle dos mandatários da cultura, de seus financiadores. O resultado disso é uma produção cultural cujos bens são cada vez mais semelhantes e padronizados, acompanhada por uma igual assimilação e padronização do público; ambas camufladas pela ideia de uma variedade de produtos a serem ofertados a um público igualmente diversificado, o que sugere que todas as tendências culturais seriam contempladas pelo mercado da cultura que, por seu espírito liberal, seria igualmente afeito à diversidade de gostos. Mas, segundo Adorno e Horkheimer isso é um engano, pois mesmo que os produtos culturais sejam revestidos por uma aparência de incontável variedade, eles, na verdade, estão todos articulados por um interesse comum, que é a geração e manutenção do lucro, alicerçado na ideologia e alienação dos explorados. Nesse sentido, o público também vai sendo moldado pelo próprio mercado que, segundo o discurso oficial, é que se molda pelo gosto do público, servindo apenas para atender às suas demandas. Assim, o que se deseja propagar é que a produção de bens culturais atende a uma demanda espontânea da população (como no caso da cultura popular), em escala mundial é verdade, e são os consumidores quem têm o protagonismo dessa relação com o mercado, sendo livres para consumirem, e gostarem, do que quiserem. Entretanto, como os autores salientam, isso é uma ilusão, pois é o próprio mercado quem se encarrega de gerar a demanda e influenciar a formação do público consumidor, mesmo que este seja constituído por diferentes estratos. Nessa perspectiva, os padrões culturais obedecem, no fundo, aos interesses econômicos de determinadas classes, e seu consumo serve, fundamentalmente, como fonte de lucro e mecanismos de ideologia e alienação das classes dominadas. Inserida na produção e veiculação cultural, a questão dos padrões de beleza, segundo o ponto de vista destes frankfurtianos, obedece a mesma lógica de produção e veiculação que o capitalismo impõe às demais manifestações culturais que incorpora. Assim, a formação do gosto estaria igualmente sendo condicionada por meio desse processo, e sua diversidade, naturalmente característica, conforme a estética nos permite observar, seria minimizada (ou mesmo extinta), ou, se valorizada em alguma medida, o seria apenas enquanto fosse útil aos padrões de beleza que os que financiam a produção cultural acham adequado propagar e difundir. Propagandas, filmes, novelas, concursos de beleza e demais formas de entretenimento seriam responsáveis pela veiculação social dos padrões de beleza, estabelecidos de maneira impositiva, hierárquica, dogmática e mesmo ditatorial.